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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE EDUCAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA ALEXANDRE MARTINS SILVA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE EDUCAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

ALEXANDRE MARTINS SILVA

DO QUE AS ESCOLAS PRECISAM PARA CUMPRIR SEU PAPEL? MAIS PEDAGOGOS?

CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

ALEXANDRE MARTINS SILVA

DO QUE AS ESCOLAS PRECISAM PARA CUMPRIR SEU PAPEL? MAIS PEDAGOGOS?

Trabalho apresentado como requisito à obtenção do grau de especialista no Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica, Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná.

Orientador (a): Simoni Vilant de Biasi

CURITIBA 2016

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DO QUE AS ESCOLAS PRECISAM PARA CUMPRIR SEU PAPEL? MAIS PEDAGOGOS?

ALEXANDRE MARTINS SILVA*

RESUMO

O artigo trata sobre a função do pedagogo a partir da literatura, contrapondo com os relatos apresentados pelos alunos do Curso Coordenação Pedagógica, este na modalidade a distância. O objetivo foi demonstrar que os pedagogos aceitam como naturais funções que não são suas e isso acaba comprometendo a sua atuação como pedagogos. A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa do tipo exploratório, pois esta metodologia de pesquisa resulta em conhecimentos que proporcionam avanços no processo ensino-aprendizagem.

O que foi possível detectar é que os pedagogos estão sobrecarregados, porém boa parte de sua rotina é consumida com atividades que não são ligadas diretamente a sua função, ou seja, acabam suprindo as defasagens de outros profissionais e não cumprindo integralmente com sua real função dentro da escola.

Palavras-chave: Pedagogo, educação, função

*Artigo produzido pelo aluno Alexandre Martins Silvado Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica, na modalidade EaD, pela Universidade Federal do Paraná, sob orientação da professora Simoni Vilant de Biasi.

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Esse artigo é resultado de uma inquietação que nasceu das atividades exercidas diariamente por mim como pedagogo e pelos pedagogos das escolas estaduais do Paraná.

O pedagogo é um profissional que tem sob sua responsabilidade os processos educativos da escola, cuida dos métodos e maneiras de ensinar, envolvendo-se na problemática educativa em sua totalidade, o que abrange todo processo educativo, desde os objetivos sociopolíticos e metodológicos. Porém, aliado ao fato de muitos professores não entenderem a função dos pedagogos, há também muitos profissionais que não sabem ao certo qual é o seu real papel na escola. Este estudo busca orientar os profissionais que chegam às escolas e não se situaram quanto a sua real função dentro do estabelecimento de ensino.

É de suma importância o pedagogo saber qual é a sua função dentro do estabelecimento de ensino, porém muitos não estão cientes e isto acaba deturpando o seu fazer diário.

A equipe pedagógica tem um trabalho muito importante dentro da escola, o de articular o fazer pedagógico da instituição, para que os objetivos da escola sejam alcançados, ou seja, que os alunos consigam apreender os conteúdos que são requeridos pela sociedade e para a sua vida. Mas há casos em que o profissional não está ciente do seu real papel e acaba prejudicando o trabalho pedagógico da escola, pois deixa de cumprir sua função para realizar outras atividades que não refletem em benefícios pedagógicos para a escola.

A não percepção do seu papel acaba prejudicando aos demais membros da equipe pedagógica da escola, pois se cria um modelo de “faz tudo” na escola, o que deturpa a visão da comunidade escolar sobre a real função do pedagogo escolar.

O pedagogo e demais profissionais da escola devem estar conscientes da função pedagógica e o exercício da mesma dentro do estabelecimento de ensino. A atuação do pedagogo e da equipe pedagógica é imprescindível para que haja um bom andamento pedagógico no estabelecimento de ensino, e para isso é importante que o trabalho da equipe pedagógica deva possuir intencionalidade e que essa esteja respaldada no projeto político pedagógico da escola.

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O fazer do pedagogo – virtudes e vicissitudes

O curso de pedagogia no Brasil passou por várias reformulações com o objetivo de redefinir a identidade do pedagogo e da Pedagogia e estas reformas atingiram também a própria formação dos demais profissionais da educação. O curso de Pedagogia foi criado no Brasil na década de 1930, quando foi institucionalizada as escolas de formação de docentes para o ensino secundário e normal, porém desde sua criação até os anos 1960 os cursos de níveis superiores para a educação, tiveram mudanças lentas e irregulares.

O curso de Pedagogia passa por reformulações, e isto devido à falta de compreensão de sua identidade e de sua atuação, o que ocorria mesmo antes da criação do curso no Brasil e que perdura até nossos dias. O que é preocupante, pois a falta de identidade do curso reflete no exercício profissional do pedagogo (BRZEZINSKI, 2013). Um exemplo disso é a dubiedade sobre o curso, pois originalmente este deveria formar professores primários, o que foi alterado devido ao despreparo dos professores secundários, o que fez o curso voltar-se para estes.

É interessante tocar nesses fatos históricos que refletem na contemporaneidade, como exemplo pode-se citar as distorções que o curso de Pedagogia sofreu ao longo de sua história e que interferem negativamente no seu currículo até hoje. Segundo Brzezinski (2013) até na faculdade há certo preconceito com o curso, tanto que os professores mais graduados não se dedicavam ao curso e que em diversos setores das licenciaturas, a interdisciplinaridade foi descartada, o que levou a uma desvalorização do pedagógico.

Não há como esquecer que no Brasil houve a ditadura militar (1964) e que neste período também o curso de Pedagogia passa por reformas, juntamente com os demais cursos das universidades. Em 1968, devido à reforma universitária, a Educação passou a ser considerada faculdade e isto devido a sua natureza multifuncional, e isto não colabora com o curso de Pedagogia, que fica refém da indefinição de sua identidade (BRZEZINSKI, 2013).

O que fica perceptível é que o curso de Pedagogia formava especialistas sem os conhecimentos requeridos a um professor, o que prejudicada a atuação do pedagogo e leva-o a ter uma visão deturpada do trabalho pedagógico que

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levou ao embate entre especialistas e professores, pois o primeiro não possuía formação apropriada, mas estava numa posição privilegiada na hierarquia escolar.

Esses embates são também reforçados devido a percepções dos cursos de formação de pedagogos, como por exemplo, a visão que se tinha ao formar supervisores escolares e que estes deveriam acompanhar os professores mal formados, o que era perceptível e que gerou conflitos entre os mesmos, pois os professores viam no supervisor um inimigo que inspecionava o seu trabalho, sem entender do conteúdo (BRZEZINSKI, 2013).

Das reformas ocorridas no Brasil e que mais interessa neste momento, é que estas visavam formar um núcleo básico para que o licenciado tivesse noção da educação como um todo e dessa forma superar a dicotomia da teoria e prática. Para isso era ofertada uma formação sólida de fundamentação, com uma formação crítica aliada a competências técnicas e com esta formação visava-se garantir o sucesso escolar dos alunos (BRZEZINSKI, 2013).

Sabe-se que isto não ocorreu e que para que este fato pudesse se tornar realidade era necessário ter a teoria articulada com uma prática concreta e para isto o pedagogo deve ter o domínio e uma base sólida dos conhecimentos de sua área, porém aliado a práticas que o habilitem ao bom desempenho profissional. Uma formação nestes moldes é que resultará num bom trabalho articulado e coeso na escola.

A teoria e a prática devem ser trabalhadas na faculdade, mas ao constatar algumas atuações, parece que muitos pedagogos se formam e não conseguem perceber qual é a sua função dentro da escola e

É impossível definirem-se intenções educativas à margem da prática pedagógica que se faz no interior do próprio curso e que mais significativo que o currículo reformulado é o seu processo de construção como uma ‘obra’ que possibilita a reeducação do educador (...) (BRZEZINSKI, 2013, p.231).

A formação deve dar suporte ao trabalho do pedagogo na escola ao articular suas ações as ações dos demais, o que levará a um trabalho orgânico e coletivo (BRZEZINSKI, 2013). Porém como nos adverte Libâneo que “o pedagógico e o docente são termos inter-relacionados, mas conceitualmente distintos” (2010, p.140).

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Esse detalhe deve ser levado em consideração, pois a atuação do pedagogo deve se pautar em alcançar os objetivos próprios da educação, visando os meios e os métodos de viabilizar os processos formativos. Esta é a atuação que se espera do pedagogo, porém ela é desconhecida dos demais profissionais de outras áreas que atuam na escola e por este motivo a criticam.

As críticas acarretam que “hoje em dia, muitos pedagogos parecem estar se escondendo de sua profissão ou, ao menos, precisando justificar cotidianamente seu trabalho” (LIBÂNEO, 2010, p.29). Isso demonstra as ideias que estão no senso comum e contra as quais uma atuação profissional que alie a teoria e a prática pode superar facilmente.

O pedagogo deve se ocupar dos processos educativos, dos modos de ensinar, mas sua atuação vai muito além, deve envolver a problemática educativa e sua historicidade e servir como orientadora da ação educativa, o que implica objetivos sociopolíticos e a partir destes estabelecer sua organização e métodos a serem aplicados com uma direção explícita (LIBÂNEO, 2010).

A problemática educativa é um terreno de investigação específico da Pedagogia e para solucioná-la é necessário a intencionalidade, que deve ser consciente e organizada, isto é, pegar o conhecimento das demais ciências e organizar em parâmetros pedagógico-didáticos na docência da disciplina, ou seja, converter em matéria de ensino, dando sequência aos conteúdos para que a aprendizagem ocorra de forma mais eficaz.

Dessa forma a atuação do pedagogo envolve o aluno, sujeito do processo de aprendizagem e socialização, os agentes responsáveis por este processo que são a escola e os professores, as situações concretas em que ocorrerão esses processos de ensino, tendo o saber como objetivo da transmissão/assimilação e o contexto social das instituições que envolvem a escola e salas de aula.A atuação do pedagogo deve envolver todos os fatos, os contextos, estrutura e situações que envolvam a prática educativa em suas várias instâncias, com vistas à compreensão global e intencional dos problemas educativos (LIBÂNEO, 2010).

A presença do pedagogo escolar é prevista nos sistemas de ensino e o que deve ficar bem explícito e demonstrado por Libâneo é que:

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Quando se atribuem ao pedagogo as tarefas de coordenar e prestar assistência pedagógico-didática ao professor, não está se supondo que ele deva ter domínio dos conteúdos-métodos de todas as matérias. Sua contribuição vem dos campos do conhecimento implicados no processo educativo-docente, operando uma intersecção entre a teoria pedagógica e os conteúdos-métodos específicos de cada matéria de ensino, entre o conhecimento pedagógico e a sala de aula (LIBÂNEO, 2010, p.64)

O pedagogo é requerido quando ocorrem situações em que extrapola a área de atuação dos professores e específico em cada disciplina e que adentra em sua área de atuação: auxiliar na definição de objetivos, observar as influências psicológicas, culturais e sociais no ensino, o que está ocorrendo no processo de ensino e aprendizagem, análise das avaliações, técnicas e recursos didáticos, análise de planejamentos e planos de ensino, articulação dos conteúdos, concelho de classe, composição das turmas, reuniões de estudo, enfim, em todas as atividades referentes a organização do trabalho pedagógico.

O que deve ficar claro, é que os professores e pedagogos possuem suas competências, especificidades e experiências profissionais, e que o professor não está sob o controle do pedagogo, mas que deve haver um respeito mútuo, sem imposições de métodos e principalmente sem esquecer os modos requeridos pela boa educação.

Realidade escolar

A percepção da realidade é muito importante ao se trabalhar com pesquisa educacional. Para isso analisamos os relatos apresentados pelo Coordenadores Pedagógicos de escolas públicas do Paraná no Ambiente Virtual de Aprendizagem, pois esse apresenta muitas informações que propicia fazer uma análise da temática a partir dos sujeitos envolvidos.

O curso analisado é o de Especialização Lato Sensu em Coordenação Pedagógica, oferecido pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) em convênio com a Universidade Federal do Paraná. O que procuramos observar é a percepção dos alunos, que são coordenadores pedagógicos, com relação a sua atividade profissional, contrapondo com o que a literatura traz acerca da função desses profissionais.

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O que se percebe é que os pedagogos ao assumirem suas funções nas escolas se deparam com uma realidade diferente da qual foram preparados pela graduação:

“(...) Realmente muitos saberes só se aprendem na prática, lembro meu primeiro dia de atuação na escola púbica e como fiquei frustrada com as funções que me eram repassadas e que não tinham a ver com o que aprendi na faculdade e com a função de pedagoga (Pedagoga E).”

“(...) Assim como você também acredito que muitos de nossos saberes não são adquirimos no decorrer do curso de graduação, mas sim em nossa prática do dia a dia (Pedagoga C)”.

Após este primeiro contato com a realidade, em que lhes é demonstrado que a teoria não condiz com a prática que se apresenta, a realidade pode ainda ser mais frustrante para o pedagogo ao iniciar suas atividades em uma escola, pois há modelos que estão sendo postos em prática há anos e com os quais é difícil a quebra de paradigmas:

“(...) Agora na segunda aula fui correndo na coordenação onde não conhecia nada e perguntei se teria como uma professora de Geografia para subir a aula, a mesma falou que podia e a colega falou não, nesse colégio quem dá as aulas são as coordenadoras e tem que ser o conteúdo, você trouxe as aulas preparadas?Respondi que não, pois no outro colégio além de não faltar professor a coordenadora não ia para a sala, a colega ficou assustada, pois já trabalhava nessa escola há muito tempo e o regime foi sempre esse.

Já domino varias disciplinas, respondeu (Professora M)”.

“(...) Essa situação realmente assusta e demonstra quanto o papel do pedagogo é interpretado de forma totalmente errônea.É necessário, urgentemente, mudar esta visão equivocada de que o pedagogo é

"quebra-galho de professor" e de outras funções que lhe são delegadas, sem qualquer relação com o verdadeiro objetivo pedagógico que lhe cabe (Professora N)”.

Vários fatores podem contribuir para que o pedagogo não se oponha a esta realidade que se apresenta e mesmo a achando estranha, não busque mudar a sua realidade, porém há casos em que o próprio profissional percebe que está atuando de forma não condizente do que se espera, mas acaba incorporando essa função como sua:

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“(...) Trabalho num Colégio Agrícola cuja rotina é bem diferente das outras escolas. As aulas acontecem em período integral e quase todos os alunos moram nos alojamentos dentro da escola. Lá, além de todas as atividades de pedagoga, a gente se acostuma a usar também a nossa experiência como mãe, enfermeira, quebra galho, psicóloga. Fico impressionada com a capacidade que a gente desenvolve de atender sempre a tudo e a todos, de alguma forma.

Às vezes, não importa muito se aquilo faz parte da nossa descrição de função. Em muitos casos faz parte apenas do ser solidário, do ouvir, do ajudar (Pedagoga A)”.

O que se percebe é que em várias escolas os pedagogos estão trabalhando além de sua função, ficam esgotados, mas ao descreverem suas atividades, fica nítido que muitos estão atuando além do que é o requerido. Há atribuições que são de outras instâncias, mas que acabam realizando, por desconhecimento ou por já ter incorporado no seu dia a dia, tais como acompanhar a entrega de notas, fechar e atender o portão, assumir funções para as quais não está devidamente preparado (psicóloga, terapeuta, enfermeira), abrir salas de aula, organizar o horário de aula e hora atividade, organizar festas, coordenador de recreio, organizar as filas do lanche, servir café, entrar em sala de aula devido à falta professores, ajudar na secretaria, atender a biblioteca e fazer cópias (Xerox):

“(...) E a gente precisa ser paciente e cortês, mesmo após a décima cobrança. Antes do final do trimestre, é preciso distribuir as fichas de pré-conselho e rezar para que sejam devolvidas a tempo de serem tabuladas para o dia da reunião. Na maioria das vezes, sei que vou ficar acordada até tarde na véspera, tabulando os dados dos retardatários, sorrindo. O mesmo vale para o fechamento e entrega de notas (Pedagoga A)”.

“(...)Enquanto estes alunos são atendidos, a professora da Sala de Recursos sinaliza que deseja conversar sobre a situação de um aluno. Dá o segundo sinal, sinal de entrada, a professora pedagoga se dirige até o portão, para fechá-lo (Pedagoga J)”.

“(...) O trabalho pedagógico não difere de uma escola para outra, a realidade quase é a mesmo no contexto escolar: procurar manter um ambiente de trabalho para que haja harmonia entre todas as partes envolvidas no processo ensino/aprendizagem, acompanhar a implantação e o desenvolvimento da Proposta Pedagógica do Estabelecimento, orientar alunos para o seu desenvolvimento educacional, ser psicólogo, terapeuta, enfermeiro, pai e mãe e entre outras, abrir sala de aulas, reuniões: pais, docentes, equipe pedagógica, direção, conselho tutelar, etc., organizar o horário de aula e hora atividade, verificar os livros registros dos docentes, acompanhar alunos e professores nas atividades extraclasses, organizar festas promovidas pela instituição, pré-conselho de classe e conselho de classes, subir aula na falta de professores

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quando são vários, dialogar com os discentes em sala, encaminhar alunos sem uniformes e carteirinhas para o cumprimentos das normas pautada no Regimento Escolar e P.P.P.,entregas de boletins, projetos de Mais Educação, sala de apoio, sala de recurso, etc., baixo rendimento dos alunos comunicar os pais, convocação para os pais quando solicitados pelos professores, trabalhos entregues pelos alunos registrar, coordenador do recreio, organizar as filas do lanches, buscar alunos que não permanece em sala, rever anualmente o Projeto Político Pedagógica, o que tanto certo ou não, professores novos orientá-los... Enfim, o trabalho do pedagogo diariamente, mil e uma utilidade, ainda esta longe de chegar ao senso comum. Errando e aprendendo todos os dias, na troca de experiência, opinião, coletividade (Pedagoga L)”.

“(...) O dia de trabalho inicia com a recepção das crianças e famílias no portão, depois auxiliar na entrega do café para as crianças e atender o portão no caso de crianças atrasadas. Depois verificar se não haverá faltas de professores, realizar a formação com os professores, acompanhar os planejamentos, verificar algum documento que o núcleo de educação solicita, preencher encaminhamento médicos e ligar para a família no caso de crianças com febre ou doentes, organizar a sala de permanência, planejar estudos para a formação das equipes. Falta horário, principalmente porque faltam professores e por vezes preciso entrar em sala (Pedagoga O)”.

“(...) Somos seis coordenadores pedagógicos e cada um é responsável por inúmeras tarefas, das quais tivemos certa liberdade para escolher, que vai desde atendimento aos alunos, atendimento aos pais, responsável pelo livro ponto, pelos livros de registro de classe, responsável pela caixa de e-mail, orientação e recebimento dos PTD´s , orientação pedagógica aos professores, coordenador dos projetos da escola, equipe multidisciplinar, organização dos horários, orientação para as avaliações, organização e revisão dos documentos da escola , e ainda, outras tarefas que fazemos todos os dias que não são função especifica do coordenador pedagógico, mas ajudamos outros setores da instituição que tiveram redução no número de funcionários como: secretaria, biblioteca e Xerox (Pedagoga D)”.

Muitas das atribuições que não são pertinentes aos pedagogos, são facilmente assumidas por Agentes Educacionais (administrativos e serviços gerais) e que fizeram concurso para esta área.

Felizmente há pedagogos que estão conscientes que estão desenvolvendo atividades que não condizem com sua função, mas que apesar de conscientes acabam aceitando ao que está imposto:

“(...) Sua rotina é um dos exemplos nos quais muitas de nos encaixamos. Você, assim como a maioria de nós, também desempenha mil e uma funções uteis (Pedagoga B)”.

“(...) Realmente muitas atividades da escola são delegadas a nós porque tanto os professores quanto os alunos esperam que possamos atendê-los sempre. Estas questões quanto à função do

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Coordenador Pedagógico deve ser colocado ao coletivo escolar para melhor compreensão e organização do trabalho. Mas vejo que podemos contribuir com ações que promovam educação de qualidade com a força do respaldo pedagógico no trabalho escolar (Pedagoga D)”.

“(...) A impressão que tenho é que as ações desenvolvidas pelos que compõem a equipe de coordenação das escolas recaem sobre uma mesma prática: emergencial e pouco satisfatória no que se refere a resultados efetivos no processo de ensino-aprendizagem.

O atendimento a situações disciplinares acaba sendo uma rotina...

e quando é possível se executa o verdadeiro papel de coordenador pedagógico (Pedagoga G)”.

“(...) Muitas e muitas vezes também me sinto como inspetora e não como pedagoga. As funções que desempenhamos são em virtude de não termos pessoas contratadas para exercer a função que nós exercemos. Enquanto nós fizermos tarefas que não são de nossa competência o Estado não fará as contratações necessárias (Pedagoga C)”.

“(...) Essas atividades são rotineiras, mas há dias que ocorrem atividades diferenciadas a qual temos que nos adequar, mas infelizmente sinto que o tempo e o atendimento a situações que o professor poderia atender na sala de aula sem encaminhar a coordenação, faz com que não possamos exercer de forma prática nossas reais funções como pedagoga. A maior parte do tempo a função é exercida como inspetora (Pedagoga I)”.

“(...) Nas atividades que realizamos diariamente, várias delas não fazem parte do trabalho do Pedagogo, como por exemplo, os atendimentos de questões de saúde que podem ser realizados por outro profissional. Levantamento de alunos reprovados e aprovados por conselho pode ser realizado por um profissional da secretaria, pois consiste em elaborar uma planilha com os dados do ano anterior. Porém, a análise desta planilha junto aos professores é tarefa do pedagogo (Pedagoga Q)”.

“(...) A maior dificuldade que percebo é a falta de pessoal na área de segurança e para atuarem nos atendimentos que não são de responsabilidade dos pedagogos, mas que por inúmeras vezes desempenhamos por não ter profissionais capacitados e em número suficiente para realizar os atendimentos. Realizamos atendimentos de primeiros socorros, atrasos de alunos, uso do uniforme, etc. Estes atendimentos são tão corriqueiros que são encarnados por nós no dia a dia da escola.A direção procura nos auxiliar, mas por vezes também está atribulada com fazeres burocráticos que não lhes resta muito tempo para o pedagógico.Há de se repensar com urgência as funções a cada um delegadas. O Estado precisa realizar a contratação de pessoas para a realização de tarefas que não são de responsabilidade do pedagogo (Pedagoga C)”.

“(...) Nem sempre conseguimos realizar o que planejamos e no final do dia temos a sensação de que não fizemos nada. Percebi que isso é muito recorrente por aqui, estamos sempre tentando apagar os incêndios e muitas vezes não realizamos o nosso serviço como queríamos. Mas, acredito que se há um trabalho de equipe eficiente na escola, entre direção e coordenação, muito se resolve (Pedagoga A)”.

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Assumir funções não previstas para o cargo é um grande problema, pois as cobranças recaem em quem as assumiu e estas são incorporadas a suas atribuições oficiais, ou seja, há sobrecarga, o que acaba gerando desconforto e até mesmo afastamentos médicos:

“(...) Nas diferentes escolas que atuei, é atribuído ao pedagogo funções que não são de sua responsabilidade e as que lhe cabem são muitas vezes ‘cobradas’ não havendo tempo e estrutura suficientes para o cumprimento das mesmas (Pedagoga E)”.

“(...) Na escola que atuo no período da tarde, e que estou desde quando entrei na rede municipal, atuo como pedagoga dos Anos Iniciais, e com o tempo, acabei assumindo muitas atribuições, talvez por eu ser muito perfeccionista ou por querer resolver na hora o que tinha que ser feito, e isso acabou por me deixar muito esgotada.

Hoje em dia, entendo que práticas coletivas são necessárias, mas que não devemos querer abraçar tudo, e sim respeitar o tempo de cada um e as diversas maneiras de se fazer uma mesma tarefa.

Mas, infelizmente não consigo deixar de realizar as muitas tarefas que fui assumindo, algumas até que não fazem parte da minha função. Como resolver essa situação que acabei criando e hoje, de certa maneira sou cobrada por elas? (Pedagoga A)”.

Foi possível perceber que os pedagogos devido aos desvios de função, não desenvolvem com tanta ênfase a atividade para a qual foram designados.

Esta realidade está posta em várias instâncias (municipal e estadual).

As mudanças só poderão ocorrer se os profissionais assumirem somente ao que é pertinente a sua função e cobrem da direção para que utilizem os recursos humanos da escola da melhor maneira, para que estes exerçam as funções (administrativas e de apoio) atuando efetivamente.

O pedagogo não pode ser substituto de professor, serviços gerais e administrativos, pois a organização administrativa da escola cabe à Direção do estabelecimento e neste ponto devemos ter cuidado com a forma como é posta em prática a participação de todos e a Gestão Democrática, para que esta não seja deturpada.

A organização da escola é coletiva, mas para isso há necessidade de especialistas que atuem coletivamente, sem esquecer que há atividades para as quais os pedagogos são responsabilizados, como nos lembra Pimenta (1993):

Coordenar e subsidiar a elaboração dos diagnósticos da realidade escolar nos vários níveis;

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Coordenar e subsidiar a elaboração, execução e avaliação do planejamento: plano da Escola; planos de cursos, de turmas, de ensino, etc.;

Incentivar e prover condições para a elaboração de projetos de alfabetização, leitura, visitas, estudo de apoio, orientação profissional, saúde e higiene, informática, ética etc.;

Compor turmas e horários, com critérios que favoreçam o ensino e a aprendizagem;

Capacitar em serviço;

Fornecer assistência didático-pedagógica constante;

Assegurar horários para reuniões coletivas, planejá-las, coordená- las, avaliá-las etc.;

Definir claramente, quanto às reuniões com pais, em que a presença destes é importante na construção do projeto político- pedagógico, traduzindo essa participação;

Promover a articulação orgânica das disciplinas;

Acompanhar o rendimento escolar dos alunos;

Prever formas de suprir possível defasagem no rendimento escolar do aluno;

Propiciar trabalho conjunto por áreas, por séries etc., para analisar, discutir, estudar, atualizar, aperfeiçoar as questões pertinentes às áreas, às séries e ao processo ensino-aprendizagem;

Promover a integração de professores novos na Escola;

Pesquisar causas de evasão, repetência e outras.

Essa lista é interessante, pois os pedagogos que são desviados de suas funções não conseguem realizar nem metade do que lhes é solicitado por suas mantenedoras3, o que demonstra a importância de um pedagogo atuante, pois a escola existe para atender aos alunos e para estes adquiram os conhecimentos necessários para a vida em sociedade.

A equipe pedagógica “precisa demarcar melhor seu espaço na escola, sob pena de ficar sujeito às contingências do cotidiano escolar (SANTOS, s.d., p.9). É necessário questionar também a formação do pedagogo, será que este está preparado para exercer a Coordenação Pedagógica da escola? Qual motivo leva o pedagogo da escola pública a não exercer corretamente suas funções, está relacionado às suas condições trabalho ou a sua formação? (SANTOS, s.d.).

O motivo dessas indagações é devido ao fato da necessidade de uma liderança pedagógica na escola, porém de qualidade e que esta não fique restrita as condições físicas e materiais para exercer as suas atividades de pedagogo.

3 Funcionários de entidades públicas podem consultar os editais do concurso na descrição das atividades do cargo, pois para estas funções é que foram contratados.

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Considerações Finais

A partir da análise dos relatos ficou evidenciado que o curso de Pedagogia deveria formar um profissional que tivesse noção de Educação como um todo e desse modo este deveria superar a dicotomia entre teoria e prática, porém o que ocorre é que durante a formação não há uma boa articulação entre as duas, pois muitos realizam estágios em escolas em que a Equipe Pedagógica muitas vezes não lhes dá atenção e os modelos que estes presenciam, são os que constatamos como inadequados e ineficazes.

Os pedagogos devem se envolver com a problemática educativa, isto é, articular as demais áreas das ciências e organizá-las em parâmetros pedagógico-didáticos para os docentes das disciplinas, e dessa forma convertê- las em matérias de ensino para que a aprendizagem realmente ocorra, enfim deve auxiliar quando ocorrem situações que extrapolem a área de atuação dos professores.

Mas o que constatamos é que os pedagogos estão envoltos a várias atividades que não são de sua responsabilidade, como por exemplo: fechar portão, cuidar de problemas de saúde dos alunos, abrir salas de aula, organizar os horários dos professores, organizar festas, “coordenador” de recreio, organizar filas dos lanches, servir café, dar aula devido à falta dos professores, serviços administrativos, entre outras.

O profissional deve chegar à escola ciente da função que assumiu, não aceitando as funções que são repassadas e que não lhe dizem respeito, e neste momento espera-se que ocorra a práxis, mas não é isto que pudemos constatar, pois os pedagogos não conseguem se impor frente a modelos e práticas viciadas que se apresentam.

Como indagado por Santos (s.d.), o que leva um pedagogo da escola pública a não exercer corretamente suas funções, são as condições de trabalho ou sua formação? Há profissionais que se indagam sobre isso, percebem que a teoria não é compatível com a prática, porém mesmo assim a aceitam do modo como são impostas.

Há caso em que o pedagogo percebe que errou ao assumir outras funções, mas não consegue mais largá-las e indaga como resolver a situação que se envolveu. Infelizmente muitos esquecem que para toda ação há uma

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reação e no caso dos pedagogos, estes acabam esgotados devido a estar assumindo outras funções e desse modo ficam sobrecarregados, e o agravante dessa situação é que sua atribuição oficial é realizada em casa, além do seu expediente normal e toda essa sobrecarga gera afastamentos médicos.

A atuação do pedagogo deve se pautar em atingir os objetivos próprios da educação, mas muitos aceitam outras atividades que o acabam tirando do foco principal, o que leva a crer, como nos lembra Libâneo (2010), que muitos pedagogos parecem estar se escondendo de sua profissão.

O pedagogo deve ter em mente que a organização do trabalho pedagógico é sua responsabilidade e que por este será cobrado, porém dentro da escola há atividades que não estão ligadas ao fazer pedagógico e que devem ser realizadas por outros profissionais.

Percebemos também e como nos alerta Santos (s.d.) que o pedagogo precisa demarcar melhor o seu espaço e dessa forma não se sujeitar as imposições do cotidiano da escola, ele deve ser uma liderança pedagógica e que saiba lidar com as dificuldades diárias de sua função. Essa postura do Pedagogo é muito importante, pois a luta pela sua valorização como profissional vai além dos muros escolares, ela deve chegar à sociedade, para demonstrar também para esta a sua importância como profissional influente para a educação.

Se não for desta forma, ficará cada vez mais difícil rebater reportagens como as apresentadas pelo jornal da Gazeta do Povo, intitulada “Qualidade dos novos professores no Brasil é cada vez pior, revela estudo”4, na qual mencionam que os estudantes de Pedagogia têm baixo desempenho no Enem e no Enade na prova de conhecimentos gerais e que por este motivo, as próximas gerações terão uma educação precária, que reproduzirá a pobreza por causa da baixa qualidade dos novos professores.

REFERÊNCIAS

BRZEZINSKI,Iria. Pedagogia, pedagogos e formação de professores: busca e movimento. 9ª ed. Campinas: Papirus, 2013.

4 Para ler a reportagem acesse:< http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/qualidade-dos-novos- professores-no-brasil-e-cada-vez-pior-revela-estudo-evksfhq93siys9entwu7uuel4>.

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DRECHSEL, Denise. Qualidade dos novos professores no Brasil é cada vez pior, revela estudo. Gazeta do Povo, Curitiba, Caderno Educação, 05 de maio de 2016. Disponível em: < http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/qualidade- dos-novos-professores-no-brasil-e-cada-vez-pior-revela-estudo-

evksfhq93siys9entwu7uuel4>. Acesso em: 04 de junho de 2016.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo:

Cortez, 2010.

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Elisa Dalmazo Afonso de. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

PIMENTA, Selma Garrido. Questões sobre a organização do trabalho na escola. Idéias, São Paulo, v.16, p. 78-83, 1993. Disponível em:<coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/ufpr/file.php/23/moddata/data/114 6/1280/8424/3-Questoes_sobre_a_organizacao_do_trabalho_na_escola.pdf>.

Acesso: 04/06/2016.

SANTOS, Lucíola Licínio de Castro Paixão; OLIVEIRA, Nilza Helena de. O coordenador pedagógico no contexto de gestãodemocrática da escola.

Disponível

em:<coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/ufpr/file.php/23/moddata/data/114 6/1280/8428/7-O-coordenador-pedagogico-no-contexto-de-gestao-democratica- da-escola.pdf>. Acesso: 19/04/2015.

Referências

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