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A APLICAÇÃO DA LEI N. 8.009/90 NA JUSTIÇA DO TRABALHO

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A A P L I C A Ç Ã O D A LEI N. 8.009/90 N A JUSTIÇA D O T R A B A L H O

F R A N C I S C O A L B E R T O D A M O T T A P E I X O T O G I O R D A N P

E m linha d e princípio, ca b e questionar se a Lei n. 8.009, de 29.3.90, é d e ser o u n ã o aplicada n a Justiça d o Trabalho, ou deve ser aplicada, m a s sujeita a u m a interpretação e u m alcance muito restritos.

N a Justiça C o m u m , inegáveis as vantagens sociais q u e traz a indigi- tada lei, contendo a ganância d e alguns (mais poderosos) q u e (impiedosa- mente) tentam tirar vantagens dos mais humildes ( rectius: mais fracos), ou, c o m o diz o preclaro Juiz d o Trabalho Leonardo Dias Borges:

“C o m o nítido objetivo d e proteger a família, abrigando-a d e for­

m a segura contra a incansável ganância das entidades financeiras, d e inescrupulosos agiotas que, n a tentativa inconsequente d e auferir lucros ca d a vez mais eievados, d e forma q u a s e s e m p r e indecorosa, escabrosa, b u s c a m apoderar-se d o patrimônio dos devedores, geral­

m e n t e vítimas d a ignorância s e m senso, exsurgiu o instituto d o b e m d e família.

S e m s o m b r a d e dúvida trata-se d e instituto dos mais relevantes d o direito, posto q u e ressalta, a toda evidência, o sentimento h u m a n i ­ tário e social co.m q u e procurou o Estado preservar a família, garanti­

do-lhe u m lugar para morar, imunizando-a, destarte, d a constrição judicial, salvo a lgumas exceções legais" (in "O M o d e r n o Processo do Trabalho", escrito juntamente c o m Cláudio Armando Couce de Mene­

zes, LTr, 1997, pág. 55).

C o m tão nobres e elevados ideais, natural a tendência para q u e se amplie o conceito de impenhorabilidade do quanto estatuído no art.

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s, §

1

a, d a men c i o n a d a Lei n. 8.009/90, o que tem c o m o cerne a preocupação c o m a existência digna (mais digna ou m i n i mamente digna, conforme o ângulo pelo qual se enxergue a questão) dos q u e p o s s u e m m e n o s (ou quase não pos­

s u e m ) recursos. ( * )

(*) Juiz d o Trabalho Titular d a 1 1 Vara doT r a C a l h o d e Jundiaí.

(2)

A s s i m envoltos nesses sentimentos d e h u m a n i d a d e e preocupação c o m o bem-estar e as necessidades d o próximo, todos b e m c o m p r e e n d e m q u e s e t e n h a m por impenboráveis aparelhos d e televisão d e so m , video­

cassetes, freezer , pianos e outros que, mais d o q u e atender à necessida­

d e s básicas para u m a existência digna, ofereçam t a m b é m , lazer, a q u e m os possui, mas, c o m o já se disse, u m a vida digna passa por m o m e n t o s de Ia

2

er. Daí, h á d e s e ter por acertadas decisões c o m o as seguintes:

"Execução fiscal. E m b a r g o s d o devedor. Pretensão d e impenho- rabilidade de televisor colorido. Admissibilidade. B e m q u e guarnece a residência do devedor. Inteligência dos arts. 1®, parágrafo único, e 2®

d a Lei n. 8.009, de 1990. Recursos improvidos (TJ/SP — 7 a C â m . de Direito Público; Ap. Cível n. 17.981-5-SP, Rei. Des. Jovino d e Sylos, j.

18.8.1997, v. u.}’’. J T J 200/129", in Boletim A A S P , n. 2091, “Pesquisa Monotemática — B e m de Família", pág. 78.

"Penhora. TV. Piano. B e m d e família. Lei n. 8.009/90. Art. 649, Vi, d o C P C . A Lei n. 8.009/90 fez impenhoráveis, além do imóvel residen­

cial próprio d a entidade familiar, os equipamentos e móveis q u e o guar­

ne ç a m , excluindo veículos d e transporte, objetos d e arte e adornos suntuosos. O favor c o m p r e e n d e o q u e usualmente se m a n t é m e m u m a residência e n ã o ap e n a s o indispensável para fazê-la habitável, deven­

do, pois, e m regra, ser reputado insuscetível d e penhora aparelho de televisão. In casu, não se verifica exorbitância ou suntuosidade d o ins­

trumento musicai (piano), sendo indispensável a o estudo e futuro tra­

balho das filhas do Embargante (STJ — R E s p 207.762-SP — 3 3 T. — Relator Ministro W a l d e m a r Zveiter — D J U 5.6.2000)” (in “Revista Sínte­

se d e Direito Civil e Processual Civil”, n. 06, jul.-ago./2000, pág. 127).

Então, c o m relação à Justiça Comum, como a Lei n. 8.009 t e m em vista proteger os q u e t ê m m e n o s recursos e/ou condições para ter u m a exis­

tência digna ( e m sentido mais substancial), deve a m e s m a receber u m a in­

terpretação ampliativa ou evolutiva, de m o d o q u e p a s s e m a ser impenhorá­

veis, por exemplo, aparelhos d e televisão, de s o m e videocassete, porque trazem informações e lazer, considerados c o m o relevantes para q u e u m a pe s s o a tenha u m a vida digna.

E m síntese, n a Justiça C o m u m , a Lei n. 8.009 t e m a relevante missão d e proteger os mais fracos, contra seus credores, normalmente grandes empresários, o u poderosas empresas, c o m sobras d e poder econômico.

Agora, o q u e se questiona é se, aplicada na Justiça do Trabalho, atin­

giría a Lei n. 8.009 esses fins sublimes, d e proteção aos econ o m i c a m e n t e mais fracos, ou, pelo contrário, sua aplicação nessa Justiça Especializada, acabaria por distorcer e deturpar seu espírito e finalidade, servindo c o m o fonte d e angústia daqueles cujas preocupações e aflições deveria aliviar.

E isso pelo singelo e inegável motivo d e que, o réu q u e s e quer prote­

ger, n a Justiça C o m u m , corresponde, via d e regra, ao autor n a Justiça do

Trabalho, lá o devedor é fraco, aqui, o autor é q u e é fraco.

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Es s a diferença, q u e não é d e pouca significação, é q u e faz c o m que alguns e n t e n d a m que, n a Justiça do Trabalho, não haveria es p a ç o para aplicação d a Lei n. 8.009, já que, s e aplicada, n ã o se estaria protegendo a parte mais fraca, m a s sim o mais forte, e c o n o m i c a m e n t e falando, sendo claro e irrecusável que, entre o e m p r e g a d o q u e não recebe seu salário e o e m p r e g a d o r q u e não paga, h á de se dispensar tutela àquele e n ã o a este, m e s m o porque, a razão de ser do Direito do Trabalho, c o m evidente reper­

cussão no Processo d o Trabalho, é a proteção a o empregado, e c o n o m i c a ­ m e n t e mais fraco (aqui é grande a tentação para superiativar), atento a que, d o contrário, esse r a m o d o direito poderia perder sua identidade, e c o m ela s u a finalidade ( o q u e vale, desculpando a digressão, ser observa­

d o quanto a a l g u m a s m u d a n ç a s q u e se pretende nas (eis trabalhistas).

Note-se q u e aludida lei, a o dispor, e m seu art. 3 2, que: “A impenhora- bilidade é oponível e m qualquer processo d e execução civil, fiscal, previ- denciária, trabalhista ou d e outra natureza....", na prática, acaba, aplicada n a Justiça d o Trabalho, transferindo ao empregado, nos casos e m q u e isso se dê, os riscos d o e m preendimento econômico, o qual (ainda) é d e ser suportado pelo emp r e g a d o r (embora fortes ventos, vindos das mais varia­

d a s direções, queiram repassá-los aos obreiros). O culto Magistrado Fran­

cisco Antonio de Oliveira, e m candentes palavras, afirma que:

"... A o impedir-se q u e fosse penhorado b e m do sócio, cuja e m ­ presa desapareceu c o m o fundo d e comércio, estar-se-ia transferin­

d o para o trabalhador o risco d o empreendimento. Q u a n d o o e m p r e e n ­ dimento n ã o d á certo e a e m p r e s a n ã o se mostra idônea financeira e economicamente, pouco importando o motivo ou causa d o insuces­

so, o trabalhador nunca responderá. Isso porque jamais corre os ris­

cos d o empreendimento, porque t a m b é m jamais participou d o lucro d a empresa.

Assim, se se tiver d e levar à praça u m imóvel ou b e m d o sócio cuja e m p r e s a tornou-se insolvente o u desapareceu c o m o fundo de comércio, n ã o se h á d e perquirir se aquele é o único b e m d o sócio. E tudo isso porque o trabalhador, e m sua q u a s e unanimidade, nunca teve ca s a para morar e a expectativa d e u m dia vir a ter é tão remota q u e p e r m a n e c e c o m o sonho. M a s o crédito trabalhista h á d e ser pa g o c o m todas preferências, posto q u e se cuida, não de morar, já q u e muitos m o r a m e m b a i x o d e viadutos, m a s para q u e o trabalhador pos­

sa sobreviver”. In “A Execução n a Justiça do Trabalho", RT, 4 fl ed., págs. 136/7.

N ã o d e s t o a m dessas conclusões, as d a ilustre a d v o g a d a Marli Bar­

bosa da Luz, que, s e m refolhos e c o m a objetividade própria d e q u e m tem certeza d a consistência d o q u e fala, sustenta que, verbis:

“O princípio básico d a atividade comercial é o risco, q u e deve

ser as s u m i d o e suportado pelo detentor d o negócio. S e o fundo d e

comércio desaparece por qualquer problema, n ã o é justo q u e ao

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e m p r e g a d o sejam transferidas suas consequências. Daí conciuir-se n ã o haver isonomia iegal, já q u e a n o r m a favorece o executado que d e t é m maior poder que, o exeqüente. Daquele n ã o se poderá penho- rar o b e m imóvel. Contudo, do exeqüente, que na quase maioria dos casos n e m imóvel possui, será n e g a d o o alimento." In “Revista Nacio­

nal d e Direito d o Trabalho", vol. 06, pág. 19.

N ã o será de m a i s recorrer, mais u m a vez, ao ilustrado Leonardo Dias Borges, para lembrar seus ensinamentos, no sentido de que:

“É consabido q u e toda interpretação d e n o r m a q u e c o n d u z a a situações injustas m e r e c e m ser afastadas. Assim, a restrição ao di­

reito do credor trabalhista é situação que deve ser posta d e lado, e m face d a ineqüidade que daí e xsurge . . . .

Sic, se a intenção d o legislador é criar a n o r m a de forma a m a n ­ ter a isonomia, tratando, pois, d e maneira desigual os desiguais para se alcançar a igualdade, deve, portanto, a lei ser interpretada e m fa­

vor do mais fraco. Assim, aplicar a Lei n. 8.009/90 na Justiça Especia­

lizada é desconsiderar os princípios q u e norteiam o direito do traba- iho, justamente porque se assim o for, n ã o se estará fazendo Justiça a o s mais fracos", In obra citada, pág. 57.

Acresça-se q u e questiona-se até a constitucionalidade d a Lei n. 8.009, no q u e tange a s u a aplicação nessa Justiça Especializada; o ilustrado Juiz Bolívar Viégas Peixoto, e m substancioso artigo intitulado "A Impenhorabili- d a d e d o B e m de Família e o Processo d o Trabalho”, e m u m a d e suas c o n ­ clusões, já afirmou que:

"O b e m de família, por conseqüência, n ã o t e m lugar na Justiça d o Trabalho. Primeiro, porque a s u a instituição não atende aos objeti­

vos a q u e se destina, q u e é o de evitar o abuso d e direito do credor contra o devedor hipossuficiente. Segundo, porque, m e s m o n ã o se considerando as suas finalidades sociais, existe flagrante inconstitu- cionalidade d a Lei n. 8.009/90, relativamente aos direitos dos traba­

lhadores, todos assegurados pela Constituição d a República, inclusi­

ve e especialmente a execução d a sentença q u e lhe é favorável. In

"Boletim Doutrina e Jurisprudência", d o T R T - 3 a Região, v. 17 — n. 01, jan-mar/1996, pág. 05.

O já m e n c i o n a d o juslaborista Francisco Antonio de Oliveira, t a m b é m

salientou que: “T e m o s para nós, t a m b é m , q u e referida lei ao investir contra

o crédito trabalhista desrespeita m a n d a m e n t o constitucional, q u e premia os

créditos d e natureza alimentícia (art.

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) aí incluído o crédito trabalhista

e m sua inteireza, não s o m e n t e aquele d o trabalhador n a residência” (ob

cit., pág.136).

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C o m o é b e m de ver, vozes autorizadas, c o m arg u m e n t o s d e peso, s ã o contrárias à aplicação d a Lei n. 8.009, n a Justiça Obreira; haverá, por certo, q u e m sustente q u e tão abalizadas posições, e m q u e p e s e o c o n h e ­ cimento d e q u e m a s emite, n ã o t ê m c o m o vingar, pois inconsistentes p e ­ rante o direito positivo, já q u e o art. 3 9, da referida lei, e x p r e ssamente se refere à impenhorabilidade e m s e d e trabalhista, porém, esses são, justa­

mente, o s arg u m e n t o s q u e n ã o e m p o l g a m , a u m a , já q u e a própria cons- titucionalidade d a Lei n. 8.009 é alvo d e controvérsia, c o m o salientado já, e a duas, porque, entrando e m outra disputa, haverá de fixar o alcance do direito positivo.

Evidentemente, n ã o é aqui o c a m p o a d e q u a d o para s e esgrimir acer­

ca d o atual prestígio do positivismo jurídico, m a s n ã o d á para deixar de observar que, c o m o notado, h á já a l g u m tempo, entre outros, pelo Profes­

sor Eduardo Correia: "O positivismo legal está hoje e m crise”, a o q u e acres­

centa: "o direito n ã o p o d e ser válido se s e desprende d o ingrediente da justiça" (apud Vassanta Porobo Tambá, “A Jurisprudência — seu sentido e limites", Livraria Almedina-Coimbra, 1971, pág. 31).

Aliás, era d e s e esperar q u e isso acontecesse, t a m b é m entre nós, o que, igualmente, n ã o é d e hoje, tantas, são as leis feitas s e m preocupação c o m o bem-estar geral d a sociedade (e n ã o para atender a interesses s e m ­ pre d e fácil justificação, d e parcela, apenas, d a sociedade e, frise-se, b e m reduzida — rectius: os detentores d o poder econômico) e d e justiça, ah!

D e s s a n e m se fale. L e m b r a João Batista Herkenhoff, q u e "... afinal o objeti­

vo d o Direito é a Justiça e o bem-estar social. N e n h u m a n o r m a que, e m seu resultado prático, se afaste dessa finalidade p o d e ter justificada sua exis­

tência" (in “C o m o Aplicar o Direito”, Forense, 4 a ed., pág. 62).

É preciso lembrar, c o m o o fez Plauto Faraco de Azevedo, citando Elias Dias, que "... se o direito é para o jurista algo que lhe v e m dado, positum, posto..., tão s omente e m certa me d i d a s e encontra feito" (in “Crítica à D o g m á ­ tica e Hermenêutica Jurídica”, Sérgio Antônio Fabris Editor, 1989, pág. 30).

Há, ainda, q u e referir, no particular, que, c o m o realçado pelo Prof.

Luiz Guilherme Marinoni: ‘T o d a a teoria q u e ne g a a sua causa distancia-se dos seus verdadeiros fins" (in “N o v a s Linhas d o Processo Civil", Malheiros Editores, 3 a ed., pág. 18).

Destarte, a conclusão q u e se impõe é a de que, não ape n a s por constar d o art. 3®, d a Lei n. 8.009/90, expressa m e n ç ã o à impenhorabilidade e m processo trabalhista, não se poderá discutir se aplicável ou não, n a Justiça d o Trabalho, porquanto e m b o r a isso n ã o agrade a certos setores, toda nor­

m a de v e ser investigada e b e m interpretada, para ver de s u a aplicação a u m caso concreto, na d a d e receber algo c o m o pronto e acabado; e m b o r a se referindo aos estudantes, ca b e a todos o s operadores d o direito, o c o n ­ selho d o Prof. Roberlo Lyra Filho, a saber:

“N ã o p e n s e m q u e é fácil, q u e é c ô m o d o abordar a ciência.

N ã o e s p e r e m q u e a verdade vá surgir, d e u m e s q u e m i n h a ‘sim­

ples' e 'claro’.

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N e n h u m acervo científico é d o m i n a d o s e m esforço metódico, demorado, persistente — tanto ‘mais necessário’, quanto se trata de abrir caminho, quebrar as rotinas e inovar.

O b o m estudante n ã o é borboleta, é incansável pica-pau, capaz d e perfurar a rija madeira dos conceitos e teorias" (in “Introdução Crí­

tica ao Direito — série O Direito A c h a d o na Rua" — vol. 01, vários artigos, pág. 26).

S e m dúvida, difícil rebater os argumentos apresentados pelos q u e n ã o aceitam a aplicação d a multicitada Lei n. 8.009, n a Justiça Especializa­

da, pois, por mais q u e se ofereçam contra-argumentos, aqueles p e r m a n e ­ c e m e c o a n d o n a a l m a d e q u e m deles t o m o u conhecimento, pedindo con­

sistente explicação para o fato d e que, qual a razão para o obreiro, n u m País tão desigual c o m o o nosso, ser privado do recebimento de seu crédito para conservar, para aquele q u e se beneficiou c o m o seu trabalho, be n s q u e ele próprio n ã o possui e, n ã o raro, jamais possuirá, e q u e talvez tenha sido adquirido c o m o produto do suor do seu trabalho, enquanto o fantas­

m a d o desemprego, de n ã o ter meios ü e prover ao sustento de sua família, fique flagelando-o, tornando-o t o m a d o de receios; o n d e a Justiça?

Evidentemente, o argumento d e q u e alguns e m p r e g a d o r e s enfren­

tam, t a m b é m , problemas econômicos e financeiros dos mais sérios, não e m ­ polgará, n e m fará c o m q u e aquele que trabalhou, honestamente, e não rece­

b e u seus parcos salários, se conforme e aceite, c o m o justa, essa situação, pois, ainda e obviamente q u e não e m termos jurídicos, ele s a b e — e mais, sente — q u e n ã o a ssumiu o s riscos do negócio, não quis — o u não tinha c o m o — ser empresário, quis tão-somente u m emprego, para, b e m o u mal, manter s u a família. O trabalhador n ã o m o n t a u m a empresa, p e q u e n a ou não, e diz alea jacta est, n ã o lhe cabendo, por conseguinte, suportar a m á sorte, q u a n d o esta for o resultado d e haver tentado atravessar o m u n d o dos negócios.

Outrossim, e m n a d a contribuirá para aumentar e/ou ratificar a c o n ­ fiança dos trabalhadores do Poder Judiciário o expressivo fato de, ap ó s u m processo, difícil e demorado, ter reconhecidos judicialmente seus direitos e n ã o receber nada, porque seu ex-empregador t e m u m imóvel e o q u e nele se contém, q u e n ã o p o d e m ser penhorados, salvo as exceções legais — e q u e e xceção mais justificada q u e o crédito d o obreiro? — ....

Entretanto, será possível encontrar posição intermediária, tendo

c o m o aplicável a Lei n. 8.009, n a Justiça d o Trabalho, d e s d e q u e tenha ou

seja objeto d e u m a interpretação restritiva, d e u m alcance restrito, de

m o d o a reduzir s e u raio d e ação, alcançando a p e n a s o p e q u e n o e m p r e ­

gador e ainda assim, proibindo-se a penhora exclusivamente quanto aos

b e n s absolutamente indispensáveis à sobrevivência d a família d o de v e ­

dor ( c o m o geladeira e fogão), permitindo-se a penhora sobre outros que,

n ã o absolutamente indispensáveis à sobrevivência da família, a p e n a s lhe

propiciem bem-estar.

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N e s s e sentido, p o d e m ser elencadas exemplificativamente, as seguin­

tes ementas:

"Lei n. 8.009. A impenhorabilidade dos móveis q u e g u a r n e c e m a casa — art. 1a, parágrafo único, d a Lei n. 8.009/90 é d e interpreta­

ção restritiva, pois refere-se, apenas, àqueles necessários à habitua- lidade d o lar. T R T — 1a Região — A P n. 03009-97. — Julgado e m 26.11.97, por unanimidade — Publicação: D O R J , pág. 3, d e 27.1.98

— Relator: Juíza D o n a s e Xavier Bezerra — Turma: 7a", in "Ciência Jurídica do Trabalho", A n o I, n. 04, abril/98, pág. 161.

“O s b e n s imóveis impenhoráveis e m face d a Lei n. 8.009/90 são aqueles considerados indispensáveis à consecução d as condições básicas d e habitabilidade, considerando-se supérfluos, m e s m o que g u a r n e ç a m o único imóvel da famíiia, equipamentos c o m o íreezer, videocassete, televisores, m á q u i n a d e lavar roupa e forno d e micro­

o n d a s . T R T 2 fl R egião. — 8 4 T. — R O 2 0 0 0 0 1 0 1 1 1 1 — Ac.

2 0 0 0 0 4 2 1 9 5 7 — Rei. Juíza W i l m a Nogueira d e Araújo V a z d a Silva — D O E 12.09.00 — pág. 39", in “Revista Nacional d e Direito d o Traba­

lho”, vol. 32, pág. 47.

" B e m d e família. O s b e n s q u e foram objeto d e penhora n ã o se e n q u a d r a m no parágrafo único d o artigo 1s da Lei n. 8.009/90, por s e r e m b e n s indispensáveis à vida d a família. Televisor, m á q u i n a de lavar louça, aparelho d e so m , videocassete e microondas, e m b o r a facilitem a vida d a família, n ã o são considerados be n s fundamentais para a sua subsistência, c o m o ocorre c o m a geladeira. S u a falta não c h e g a a c o m p rometer a vida normal d a pessoa. T R T / S P 0 2 9 9 0 2 0 5 5 7 2

— Ac. 3 3 T. 1 9 9 9 0 3 4 5 1 9 0 — D O E 20.7.99, Rei. Sérgio Pinto Martins", in "Synthesis", Revista Semestral, n. 30/00, pág. 231.

“N a impenhorabilidade estabelecida pela Lei n. 8.009/90 incluem- se ape n a s os objetos essenciais q u e g u a r n e c e m o b e m d e famíiia n ã o s e incluindo be n s voluptuários e d e lazer. Agravo a q u e s e nega provimento. Ac. 34100/99 — Proc. 12.304/99. D O E 23.11.99, pág. 102.

Rei. J o s é Pedro de C a m a r g o Rodrigues d e Souza, SE", in"Revista do Tribunal Regional d o Trabalho d a D é c i m a Quinta Região", vol.

10

, LTr, p á g . 315.

T u d o considerado, o mais correto parece ser o posicionamento d o u ­ trinário e jurisprudencial q u e não aceita a aplicação d a Lei n. 8.009/90 na Justiça do Trabalho, porquanto, aiém d e sua inconstitucionalidade, por afron­

ta a dispositivos constitucionais, ainda provocaria distorções, q u e acabari­

a m por eclipsar os elevados fins q u e referida lei tem, q u a n d o aplicada na Justiça C o m u m .

Todavia, se se entender muito forte e m e s m o exagerado ter por in­

constitucional a Lei n. 8.009, crendo-se, a o reverso, ser a m e s m a constitu­

cional, ainda q u a n d o aplicada n a Justiça Obreira, o qual, salvo engano,

parece ser o entendimento prevalecente, caberá, então, a o men o s , dar-lhe

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interpretação restritiva para que, desenganadamente, tenha u m alcance restrito, d e m o d o a reduzir o seu raio de ação, proibindo-se a penhora, exclusivamente, quanto aos b e n s absolutamente indispensáveis à sobrevi­

vência digna d a família d o devedor, c o m o geladeira e fogão, m a s permitin- do-se a penhora sobre outros, não absolutamente indispensáveis à sobre­

vivência d a família, ainda q u e úteis, muito úteis, c o m o televisão, videocas­

sete, freezer, piano.

Enfim, enquanto que, na Justiça C o m u m , a lei n. 8.009 deve receber u m a interpretação ampliativa, evolutiva, na Justiça do Trabalho, deve sofrer interpretação restritiva, p e n a d e restar absoluta e irremediavelmente dis­

torcida s u a finalidade; muito afinada c o m esse posicionamento, a e m e n t a infratranscrita:

“En q u a n t o n a execução civil, via de regra, o devedor é a parte e c o n o m i c a m e n t e mais fraca, n o processo d o trabalho a situação se inverte, n a m e d i d a e m q u e o credor d a obrigação a ser executada é o hipossuficiente. Assim, a Lei n. 8.009/90, q u e estabeleceu a impe- nhorabilidade do imóvel residencial próprio do casal o u da entidade familiar e das benfeitorias e dos equipamentos ou móveis q u e o guar­

ne c e m , n ã o po d e ser aplicada à execução trabalhista d e forma a b e ­ neficiar o s proprietários de be n s suntuários q u e n ã o sejam e ssen­

ciais à vida e a o bem-estar de seu núcleo familiar. N ã o po d e e m c o n ­ sequência o art. 2 S, daquela norma, q u e estabelece as exceções à regra d a impenhorabilidade, ser interpretado d e forma literal restriti­

va, inviabilizando a satisfação dos créditos trabalhistas do reclaman­

te. Ag. 1.534/98 — 3 a T. — T R T 3 a Região — j. 11.11.98 — Rei. Juiz Jo s é Roberto Freire Pimenta”, in “Revista d e Direito do Trabalho", n.

26, RT, págs. 209/10.

É interessante frisar b e m que, q u a n d o da aplicação d a Lei n. 8.009, na Justiça do Trabalho, h á de se entender por suntuoso tudo o q u e n ã o seja absolutamente necessário, e aí, entram até os televisores, m e s m o porque n ã o é razoável q u e u m devedor fique sentado à frente d o seu aparelho de televisão, assistindo a u m a emocionante partida d e futebol, e nquanto o obreiro, seu credor, não tenha c o m o q u e alimentar seus filhos, e n ã o servi­

rá d e atenuante e/ou justificativa a circunstância de a partida transmitida

ser d o glorioso S ã o Paulo Futebol Clube.

Referências

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