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O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO* A EMENDA CONSTITUCIONAL N° 45 E O

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M IN IS T É R IO P Ú B L IC O D O T R A B A L H O *

O tá v i o B r i t o L o p es* *

S U M Á R I O : I n t r o d u ç ã o ; I - A ç õ e s o r i u n d a s d a s r e la ç õ e s d e t r a b a l h o ( a r t i g o 114, i n c i s o I) ; II - A ç õ e s q u e e n v o l v a m e x e r c í c i o d o d i r e i t o d e g r e v e ; III - A s a ç õ e s s o b r e r e p r e s e n t a ç ã o s i n d i c a l , e n t r e s in d i c a t o s , e n t r e s i n d i c a t o s e t r a b a l h a d o r e s e e n t r e s i n d i c a t o s e e m p r e g a d o r e s ; I V - O s m a n d a d o s d e s e g u r a n ç a , h a b e a s c o r p u s e h a b e a s d a ta , q u a n d o o a t o q u e s t i o n a d o e n v o l v e r m a t é r i a s u j e i t a à s u a j u r i s d i ç ã o;

V - O s c o n f l i t o s d e c o m p e t ê n c i a e n t r e ó r g ã o s c o m j u r i s d i ç ã o tr a b a l h i s t a , r e s s a l v a ­ d a a c o m p e t ê n c i a d o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l p a r a p r o c e s s a r e j u l g a r o s c o n f l i ­ to s d e c o m p e t ê n c i a e n t r e o S u p e r i o r T r i b u n a l d e J u s t i ç a e q u a i s q u e r t r i b u n a i s , e n t r e t r i b u n a i s s u p e r i o r e s , o u e n t r e e s te s e q u a l q u e r o u t r o t r i b u n a l ; V I - A s a ç õ e s d e i n d e n i z a ç ã o p o r d a n o m o r a l o u p a t r i m o n i a l d e c o r r e n t e s d a r e l a ç ã o d e tr a b a l h o ; V II - A s a ç õ e s r e l a t i v a s à s p e n a l i d a d e s a d m i n i s t r a t i v a s i m p o s t a s a o s e m p r e g a d o ­ r e s p e l o s ó r g ã o s d e f i s c a l i z a ç ã o d a s r e la ç õ e s d e t r a b a l h o ; V I I I - A e x e c u ç ã o , d e o f ic io , d a s c o n t r i b u i ç õ e s s o c i a i s p r e v i s t a s n o a r tig o 1 9 5 , I, a, e II, e s e u s a c r é s c i ­ m o s le g a is , d e c o r r e n t e s d a s s e n t e n ç a s q u e p r o f e r ir ; I X - O u t r a s c o n t r o v é r s i a s d e ­ c o r r e n t e s d a r e l a ç ã o d e tr a b a l h o , n a f o r m a d a le i; X - O p o d e r n o r m a t i v o ; X I - O M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o T r a b a l h o e a E m e n d a C o n s t i t u c i o n a l n ° 4 5 .

I N T R O D U Ç Ã O

O P o d e r Ju d ic iá rio v e m se n d o a lv o d e significativas m o d ific aç õ es, d e s d e a Constituição cidadã de 1988. A penas para exemplificar, foi criado o Superior Tribunal d e Ju stiç a , e o S u p re m o T rib u n al F e d e ra l fo i tra n s fo rm a d o e m v e r d a d e ir a C o rte C o n s titu c io n a l e te v e d e tal m o d o a m p lia d a s u a c o m p e tê n c ia p a r a o c o n tro le c o n c e n tra d o d e c o n s titu c io n a lid a d e , q u e h o je e m d ia o c o n tro le d ifu s o d e ix o u d e se r a re g ra e se to m o u a e x c e ç ã o .

A J u s tiç a d o T ra b a lh o n ã o fic o u im u n e a e s sa o n d a tra n s fo rm a d o ra . S u a c o m p e tê n c ia foi a m p lia d a p e lo c o n s titu in te o r ig in á rio n o to c a n te a o s d is s íd io s in d iv id u a is (p a s s o u a a b ra n g e r a s r e la ç õ e s d e e m p re g o c o m e n tes d a A d m in is tra ç ã o P ú b lic a d ire ta e in d ire ta e os e n te s d e d ire ito p ú b lic o e x te rn o ), e o p o d e r n o rm a tiv o s o fre u m o d ific a ç õ e s .

M a s as m u d a n ç a s n ã o p a r a ra m e m 1988. A J u s tiç a d o T ra b a lh o a d q u iriu c o m p e tê n c ia p a ra m a té ria trib u tá ria , c o m a E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 2 0 (“ ... e x e ­ c u tar, d e o fício , as c o n trib u iç õ e s s o c ia is p re v is ta s n o art. 1 9 5 , I, a, e II, e se u s a c ré s-

* A p r e s e n t a d o n o s e m i n á r i o A m p l i a ç ã o d a C o m p e t ê n c i a - N o v o s R u m o s p a r a a J u s t i ç a d o T r a b a l h o , r e a l i z a d o p e la A m a t r a III, e m B e l o H o r i z o n t e , n o s d i a s 1 0 e 11 d e m a r ç o d e 2 0 0 5 .

* * V ic e - P r o c u r a d o r - G e r a ld o T ra b a lh o .

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º l , j a n / a b r 2 0 0 5

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c im o s leg ais, d e correntes das sentenças que p ro fe rir” ), e a E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 2 4 e x tin g u iu a rep resentação classista. N ã o se pode d e ix a r de re c o rd a r que e n tre u m a em end a c o n s titu c io n a l e o u tra , chegou-se até m e sm o a se c o g ita r a e xtin ç ã o da Justiça d o T ra b a lh o , id é ia que p e la d im e n sã o de seu ab surd o n ã o p rosp erou.

N o d ia 31 de d ezem b ro de 2 0 0 4 , fo i p u b lic a d a a E m e n d a C o n s titu c io n a l n°

4 5 , p ro m u lg a d a n o d ia 8 de d ezem b ro do m e sm o ano, c o n h e cid a c o m o R e fo rm a d o J u d ic iá r io , a p ó s m a is d e d o ze an o s d e tra m ita ç ã o . A lte ra ç õ e s s ig n ific a tiv a s o c o rre ra m , e, m a is u m a ve z , se p od e perceber, ag ora de fo rm a m u ito m a is acentuada que e m 1988, a tend ê n c ia de a m p lia ç ã o da c o m p e tê n c ia da Justiç a d o T ra b a lh o .

O q u a d ro a b a ixo , c o m p arand o a C a rta de 1988 e a E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 4 5 , d e m o n stra de fo rm a in s o fis m á v e l essa a m p lia ç ã o da c o m p e tê n c ia da Justiça d o T ra b a lh o , s a lv o q u a n to ao p o d e r n o rm a tiv o , que fo i s e n sive lm e n te re d u z id o o u p ra tic a m e n te e x tin to :

C O N S T IT U IÇ Ã O D E 1988 - te x to com as a lte ra ç õ e s d e c o rre n te s das

E m e n d a C o n s titu c io n a is n°s 2 0 e 24

E M E N D A C O N S T IT U C IO N A L N ° 45

A rt. 114. C om pete à Justiça do T rab a lh o c o n c ilia r e ju lg a r os dissídios in d ivid u a is e c o le tivo s entre trabalhado­

res e em pregadores, abrangidos os entes de d ire ito p úb lic o exte rn o e da A d m i­

nistração P ú b lic a d ire ta e ind ireta dos M u n ic íp io s, d o D is trito Federal, dos Estados e da U n iã o , e, na fo rm a da le i, outras controvérsias decorrentes da relação de trab alho, bem com o os lití­

g ios que te nham o rig e m no c um p ri­

m e n to de suas p róprias sentenças, in c lu ­ sive coletivas

A rt. 114 C om pete à Justiça do T ra b a lh o processar e ju lg a r:

I - as ações oriundas da relação de trab alho, abrangidos os entes de d ire ito p úb lic o e xte rn o e da A d m in is tra ­ ção P úb lica d ire ta e in d ire ta da U n iã o , dos Estados, d o D is trito Federal e dos M u n ic íp io s;

I I - as ações que e n vo lva m exer­

cício do d ire ito de greve;

I I I - as ações sobre representação sind ical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e em pregadores;

I V - os m andados de segurança, habeas corp us e habeas d ata, quando o ato questionado e n vo lv e r m a téria sujeita à sua ju risd iç ã o ;

V - os c o n flito s de com petência entre órgãos c o m ju risd iç ã o trabalhista, ressalvado o disposto no art. 1 0 2 ,I , o;

V I - as ações de indenização p o r dano m o ra l o u p a trim o n ia l, decorrentes da relação de trab alho;

V I I - as ações re la tiva s às penalidades ad m in istra tiva s im postas aos em pregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trab alho;

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l . 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 1 7 5

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V I I I - a execução, de o fíc io , das contribuições sociais previstas no art.

1 9 5 ,I , a, e II, e seus acréscim os legais, decorrentes das sentenças que p ro fe rir;

I X - outras controvérsias decor­

rentes da relação de trabalho, na fo rm a da lei.

§ 1° Frustrada a negociação cole­

tiva , as partes poderão eleger árbitros.

§ 1° Frustrada a negociação cole­

tiva , as partes poderão eleger árbitros.

§ 2o Recusando-se q ualquer das partes à negociação ou à arbitragem , é facultad o aos respectivos sindicatos a ju iz a r dissídio c o le tivo , podendo a Justiça do T rab a lh o estabelecer norm as e condições, respeitadas as disposições convencionais e legais m ín im a s de p ro­

teção ao trabalho.

§ 2o Recusando-se qualquer das partes à negociação c o le tiva ou à a rb i­

tragem , é facultado às m esm as, de co­

m u m acordo, a ju iza r dissídio c o le tivo de natureza econôm ica, podendo a Justiça do T rab alho decid ir o c o n flito , respeitadas as disposições m ínim as legais de proteção ao trabalho, bem com o as convencionadas anteriorm ente.

§ 3o C om pete ainda à Justiça do T ra b a lh o executar, de o fíc io , as c o n tri­

buições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscim os legais, decor­

rentes das sentenças que p ro fe rir.

§ 3o E m caso de greve em a tiv i­

dade essencial, com possibilidade de lesão do interesse p úb lico, o M in is té rio P úb lico do Trab a lh o poderá a ju iza r dissídio c o le tivo , com petindo à Justiça do T rab a lh o decidir o c o n flito .

C h am a a atenção, lo g o à p rim e ira v ista , o n ív e l de d e ta lh a m e n to da n o v e l c o m p e tê n c ia m a te ria l da Ju stiç a d o T ra b a lh o , o que d ec o rre , e m p a rte , de sua s ig n ific a tiv a a m p lia ç ã o .

N ã o se pode a firm a r que essa a m p lia ç ã o de com p etência fo i m itig a d a o u com pensada pela red ução d o p o d e r n o rm a tiv o . São coisas to ta lm e n te d is tin ta s as fu n ç õ e s típ ic a s exercid as n o p rocessam ento e ju lg a m e n to de d issíd io s in d iv id u a is , ações c iv is p ú b lic a s, d issíd io s c o le tiv o s de natureza ju ríd ic a etc., e m que o ju lg a d o r a p lic a a n o rm a p re e xiste n te ao caso co n c re to, e as funções atíp icas e xercid as p e lo J u d ic iá rio T ra b a lh is ta , d entre as q uais destaco o e xe rc ício do p o d e r n o rm a tiv o , em que se c ria m , aind a que sob o b a liz a m e n to da leg islação fo rm a l, n o rm as e cond ições de tra b a lh o .

A tend ência e xp a n s io n ista da com p etência da Justiça do T ra b a lh o , n o que tang e a suas funções típ icas, n ã o se re p ro d u z q uanto às suas funções a típ icas, p o is v e m se o b servand o q u a n to ao p o d e r n o rm a tiv o um a tend ência in versa . A p a rtir da C o n s titu iç ã o de 1 9 8 8 , o e x e rc íc io do p o d e r n o rm a tiv o fic o u c o n d ic io n a d o ao e x a u rim e n to da neg ociação d ire ta p elos atores sociais (esse re q u is ito fo i a p lic a d o c o m bastante rig o r p e lo T rib u n a l S u p e rio r do T ra b a lh o ). A g o ra , c o m a E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 4 5 fo i m a is e n fa tiza d a a tend ência de afa sta m e n to d o E sta d o da soluç ã o dos c o n flito s c o le tiv o s de tra b a lh o , que já era observada d e n tro d o p ró p rio J u d ic iá rio T ra b a lh is ta .

176 Rev. TST, Brasília, vol. 71, n º l, jan/abr 2005

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U m a a n á lis e das p r in c ip a is a lte ra ç õ e s im p la n ta d a s p e la E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 45 é p ressuposto in d isp e nsá ve l ao e n fre n ta m e n to d o o b je to desse sin g e lo estudo, que é o n o v o papel do M in is té rio P ú b lic o d o T ra b a lh o d ia n te das novas com p etências d o J u d ic iá rio T ra b a lh is ta .

I - A Ç Õ E S O R IU N D A S D A S R E L A Ç Õ E S D E T R A B A L H O (A R T IG O 114, IN C IS O I)

A te o r da n o va redação do art. 114 da C a rta P o lític a , com p ete à Justiç a d o T ra b a lh o processar e ju lg a r “ as ações o riu n d a s da re la çã o de tra b a lh o , a b rang id os os entes de d ire ito p ú b lic o e xte rn o e da A d m in is tra ç ã o P ú b lic a d ire ta e in d ire ta da U n iã o , dos E stad os, do D is trito F e d e ra l e dos M u n ic íp io s ” .

E stá bastante c la ro , a nosso ver, não ob stante a im p re c isã o do te rm o re la ç ã o de tra b a lh o, que a c o m p e tê n c ia m a te ria l da Ju stiç a do T ra b a lh o fo i a m p lia d a e x tra p o la n d o os lin d e s da re la ç ã o de e m p re g o (d iss íd io s e n tre tra b a lh a d o re s e e m p re g a d o re s) e a lcançand o as re la çõ e s ju ríd ic a s c u jo o b je to p rin c ip a l seja a a tiv id a d e de pessoa físic a que p resta se rviç o s p ara o u tra pessoa físic a o u ju ríd ic a (c o n tra to s de a tivid a d e ), sob v ín c u lo c e le tista ou re g ulad a p e lo d ire ito c o m u m .

Sob os p rism as lite ra l, ló g ic o e te le o ló g ic o , tu d o aponta para u m a am p liação da com p etência m a te ria l da Justiça do T ra b a lh o , isso porq ue a realid ad e do tra b a lh o m u d o u de fo rm a m u ito ra d ic al desde a R e v o lu ç ã o In d u s tria l e os p rim e iro s passos do D ire ito do T rab a lh o . O m und o do trab alho não se resum e m ais à fáb rica, ao em pregado e ao em pregador. A tu a lm e n te “ a n o va fá b ric a se desconcentra, org anizand o-se em rede. P ara isso, articula-se não só c o m outras m enores e h ip e rm o d e rn as, m as tam b ém c o m em presas ta ylo rista s e pequenas o fic in a s de fu n d o de q u in ta l. C o m freq üência, u tiliz a -s e de em pregados in fo rm a is ou em pregados alheios. À s vezes, serve-se até do trab alho escravo. M a s o fenôm eno m ais o rig in a l ta lv e z não seja esse - e sim a u tiliza ç ã o crescente de trabalhadores autônom os, não só os falsos, m as tam b ém reais” .1 A s s im send o, ta n to o em p reg ad o q u a n to o p ro fis s io n a l a u tô n o m o m o d e rn o d ep end em e c o n o m ic a m e n te d o e m p re s a ria d o to m a d o r de s e rv iç o s e são ig u a lm e n te hip o ssu fic ie n te s. A ju ris d iç ã o trab alhista, p o r si só, seja p ela sua celeridad e, seja p o r sua fe iç ã o soc ia l, representa u m a proteção especial p ara q ualq uer trab alhad or, m esm o os a u tô n o m o s. A o fim das contas aqueles trab alhad ores cham ados de a u tô n o m o s p elo m ercado de trab alho já se v a lia m da Justiça do T ra b a lh o quando p retendiam d em onstrar a e xistência de v ín c u lo de em prego e p le ite a r os consectários legais (falsos autônom os).

Q u a n to aos verd ad eiros autônom os, após a Justiça do T ra b a lh o a firm a r a in e xistê n c ia de v ín c u lo de em prego, ainda podem buscar a Justiça c o m um para p le itea r seus d ireitos, m á x im e nos dias atuais em que se sabe que a lin h a d iv is ó ria entre a relação de em prego e o tra b a lh o a u tô n o m o está se atenuando prog ressivam ente.

1 V I A N A , M á r c i o T ú l io . In : N o v a c o m p e tê n c ia d a j u s t i ç a d o tr a b a lh o . O b r a c o l e t i v a c o o r d e n a d a p o r G r i j a l b o F e r n a n d e s C o u t i n h o e M a r c o s N e v e s F a v a . S ã o P a u lo : L T r /A n a m a tr a , 2 0 0 5 , p . 2 6 1 .

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 1 7 7

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N ã o existe a nosso v e r risco de a Justiça do T ra b a lh o p erd er sua especialização p o r ju lg a r dem andas regulad as p e lo D ire ito C iv il. A fo rm a ç ã o d o ju iz do tra b a lh o c o n d u z irá a u m a v is ã o m u ito m a is s o c ia l e h u m a n a d o D ir e ito C iv il, sem c o n ta m in a ç ã o de seus valo re s.

N ã o se pode c o n fu n d ir a relação de tra b a lh o , que te m repercussões ju ríd ic a s p ró p ria s e específicas, com a relação de consum o, regulad a p o r le g isla ç ão p ró p ria e que pode e n v o lv e r prestação de serviços. N ã o se c o n fu n d e m as relações ju ríd ic a s fo rm a d a s a p a rtir de u m d e te rm in a d o fa to , a prestação pessoal e re m unerad a de serviç o s, entre o p re stad o r e o to m a d o r de serviç o s. D e riv a m do m e sm o fa to d ire ito s e ob rig ações p ró p rio s do c o n tra to esp ecífico de p restação de serviç o s, bem com o d ire ito e obrigações p ró p rio s da relação de consum o, regulad a p elo C ó d ig o de D efesa do C o nsu m id o r. A com p etência da Justiça do T ra b a lh o não abrange as ações re la tiv a s aos d ire ito s reg ulad os na le g isla ç ão de defesa do c o n su m id o r.

T a m b é m não v islu m b ra m o s, c o m espeque no in c is o I d o a rt. 114 da C F , a p o s s ib ilid a d e de a Ju s tiç a d o T ra b a lh o p ro c e ssa r e ju lg a r os c rim e s c o n tra a o rg anização do tra b a lh o . N ã o se pode p rete n d e r que o c rim e d ecorra de u m a relação ju ríd ic a de tra b a lh o . A rig o r, o p rim e iro é a negação dos e fe ito s re g ulare s da segunda e não sua conseq üência. O sim p le s fa to de u m d e te rm in a d o tip o p e n a l c o n te m p la r a e xistê n c ia de u m c o n tra to de tra b a lh o n ã o s ig n ific a que a ação p e n a l corresp ond ente seja o riu n d a da re lação de tra b a lh o . Se fosse assim , te ría m o s que a d m itir que as ações p e n a is p o r a d u lté rio o u b ig a m ia são o riu n d a s o u d e c o rre m d o v ín c u lo m a trim o n ia l, o que n ã o é verdade.

I I - A Ç Õ E S Q U E E N V O L V A M E X E R C ÍC IO D O D IR E IT O D E G R E V E O d ire ito de g reve está assegurado aos trab alhad ores n o art. 9 o e p arág rafos da C o n s titu iç ã o F e d e ra l, nos seguintes te rm o s: “ É assegurado o d ire ito de g reve, c o m p e tin d o aos tra b a lh a d o re s d e c id ir sobre a o p o rtu n id a d e de e xe rc ê -lo e sobre os interesses que d e va m p o r m e io dele defender. A le i d e fin irá os serviç o s o u ativid a d e s essenciais e d isp orá sobre o ate n d im e n to das necessidades in a d iá ve is da com unidade.

O s abusos c o m e tid o s s u je ita m os resp onsáveis às penas da le i” .

C onsid e ra -se le g ítim o e xe rc íc io do d ire ito de g reve a suspensão c o le tiv a , te m p o rá ria e p a c ífic a to ta l ou p a rc ia l, de prestação pessoal de serviços a em p reg ad or (a rt. 2 o da L e i n° 7 .7 8 3 , de 2 8 .0 6 .1 9 8 9 ). A s s im sendo, as ações possessórias, tão com uns d urante os m o v im e n to s g re vista s, em caso de turb ação, e sb u lh o o u am eaça de turb ação o u e sb u lh o (ações de m anutenção e re in te g raç ã o de posse e in te rd ito p ro ib itó rio ), p raticad as p o r trab alhad ores em g reve, são de c o m p etência da Justiça d o T ra b a lh o , v is to que o d e fe rim e n to , o u não, da m ed id a, pressupõe a nálise que e n v o lv e o exercício do d ire ito de greve, já que é d ire ito dos trabalhadores em pregar todos os m eios pacíficos ao seu alcance tendentes a persuadir ou a lic ia r os trabalhadores a ad erirem à greve, desde que não im peçam o acesso ao trab alho nem causem ameaça o u dano à propriedade ou pessoa (art. 6o, I e § 3o, da L e i n° 7.783/89).

A concessão de in te rd ito s p r o ib itó r io p e la Ju s tiç a c o m u m , d u ra n te os m o v im e n to s g re vista s, sem a te n ta r para as p e c u lia rid a d es do m o v im e n to n e m para

1 7 8 R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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o seu d is c ip lin a m e n to le g a l, em v e z de p ro te g e re m a posse de e m p re sá rio s sob re as instalações de suas em presas te m s e rv id o e m g rand e p arte dos casos p ara fru s tra r o m o v im e n to g re vista e im p e d ir o e xe rc íc io do d ire ito de d ivu lg a ç ã o , p ersuasão e a lic ia m e n to dos tra b a lh a d o re s que a in d a n ã o a d e rira m à g reve. C o m a c o m p e tê n c ia da J u s tiç a d o T ra b a lh o , m e lh o r a fe ita às q u e stõ e s s o c ia is e aos d ire ito s dos trab alhad ores, e m esp ecial àq uelas que d iz e m re sp e ito ao e x e rc íc io d o d ire ito de g re ve p e la classe tra b a lh a d o ra , te n h o c e rte za de q ue a q u e stã o d os in te rd ito s p ro ib itó rio s será m e lh o r equacionad a.

S e g u in d o essa lin h a de ra c io c ín io , n ã o se p od e c o n sid e ra r que a p rá tic a de q ualq uer c rim e , c om o dano, lesão c o rp o ra l o u h o m ic íd io culp oso, e n vo lva m exe rc ício d o d ire ito de g re ve , o que a fa sta a c o m p e tê n c ia d a Justiç a d o T ra b a lh o p ara o p rocessam ento e ju lg a m e n to de c rim e s o c o rrid o s d u ran te m o v im e n to p ared ista e praticad os p o r tra b a lh a d o re s e m g re ve o u p o r p atrões a tin g id o s p e lo m o v im e n to .

O d is p o s itiv o em questão abrange apenas os d issíd io s in d iv id u a is d ecorrentes d o e xe rc íc io d o d ire ito de g reve, já que a c o m p etência para o d is síd io c o le tiv o de n a tu re za e c o n ô m ic a está re g ulad a n o s §§ 2 o e 3 o d o a rt. 114 e só c o n te m p la a p o ssib ilid a d e d o seu m a n e jo n o s casos de g re ve e m a tiv id a d e essencial. N a s greves em ativid a d e s n ão consideradas essenciais, o d issíd io c o le tiv o só poderá ser u tiliz a d o em caso de anuência das p artes e n v o lv id a s n o c o n flito .

I I I - A S A Ç Õ E S S O B R E R E P R E S E N T A Ç Ã O S IN D IC A L , E N T R E

S IN D IC A T O S , E N T R E S IN D IC A T O S E T R A B A L H A D O R E S E E N T R E S IN D IC A T O S E E M P R E G A D O R E S

A nosso ver, é u m ab surd o que só a g ora estas questões passem a ser ju lg a d a s em sua to ta lid a d e p ela Justiça d o T ra b a lh o .

A com petência em re le vo e n vo lve as ações cautelares e de conhecim ento nas quais se discute a representação de categorias p ro fissio n a is o u econôm icas, as diversas disputas entre sindicatos, as lides entre os trabalhadores e seus respectivos sindicatos, de q ualquer espécie, in c lu sive envo lve n d o questões e le ito ra is e reg im entais, e entre os sindicatos patronais e os associados (em pregadores) e entre em pregadores e sindicatos de trabalhadores. C re io que as possibilidades são bastante am plas, dando destaque, ainda, aos m andados de segurança contra atos de autoridades do M in is té rio do T rab a lh o e E m p reg o que e n vo lva m re g istro sind ical, p ois e n vo lve m disputas p o r representação, exceção feita, apenas, aos m andados de segurança contra ato do M in is tro do Trab alho, quando então a com petência será do S u p e rio r T rib u n a l de Justiça, ex v i da no rm a contida no art. 1 0 5 ,I , b, da C onstituição Federal.

I V - O S M A N D A D O S D E S E G U R A N Ç A , H A B E A S C O R P U S E H A B E A S D A T A , Q U A N D O O A T O Q U E S T IO N A D O E N V O L V E R M A T É R IA S U J E IT A À S U A J U R IS D IÇ Ã O

C o m a E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 4 5 , a com p e tê n c ia da Justiça do T ra b a lh o não se restring e m ais ao ju lg a m e n to dos m andados de segurança c ontra atos ju d ic ia is ,

R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1 , j a n / a b r 2 0 0 5

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a lc a n ç a nd o to d o s o s a to s a d m in is tra tiv o s que e n v o lv a m m a té ria s u je ita à sua ju ris d iç ã o , v.g., os m a n d a m u s c o n tra atos da fisc a liz a ç ã o d o tra b a lh o e dos órgãos encarregados d o re g is tro s in d ic a l, s a lvo q uand o p ra tic a d o s p e lo p ró p rio M in is tro d o T ra b a lh o e E m p re g o .

Q u a n to ao hab eas d a ta , a q uestão fo i e x p lic ita d a n o te x to c o n stitu c io n a l, p o is, a nosso v e r, já era p o ssíve l o seu m a n e jo p e lo em preg ad o c o n tra o em pregador.

V a le o b se rva r que, h o je em d ia, c o m o a c o m p etência da Justiça d o T ra b a lh o n ã o se lim ita aos e m p reg ad os, to d o s os tra b a lh a d o re s s u je ito s à ju ris d iç ã o tra b a lh is ta p od erão im p e tra r hab eas d a ta perante a Justiça d o T ra b a lh o , desde que c o n tra o re sp e c tiv o to m a d o r de serviç o s.

A in c lu sã o d o habeas corp us nos lind es da com p etência da Justiça d o T ra b a lh o rep resenta o re c o n h e c im e n to de sua c o m p e tê n c ia p enal. T ra ta -se de u m e m b riã o que, a nosso ver, o te m p o e o tra b a lh o de to d o s aqueles que d efend em a com p etência da Justiça d o T ra b a lh o para o ju lg a m e n to dos c rim e s c o n tra a org anização d o tra b a lh o e o u tro s re la c io n a d o s c o m o tra b a lh a d o r, irã o se encarreg ar de fa z e r crescer, sob o p á lio de re fo rm a le g is la tiv a específica.

V - O S C O N F L IT O S D E C O M P E T Ê N C IA E N T R E Ó R G Ã O S C O M

J U R IS D IÇ Ã O T R A B A L H IS T A , R E S S A L V A D A A C O M P E T Ê N C IA D O S U P R E M O T R IB U N A L F E D E R A L P A R A P R O C E S S A R E J U L G A R O S C O N F L IT O S D E C O M P E T Ê N C IA E N T R E O S U P E R IO R T R IB U N A L D E J U S T IÇ A E Q U A IS Q U E R T R IB U N A IS , E N T R E T R IB U N A IS

S U P E R IO R E S , O U E N T R E E S T E S E Q U A L Q U E R O U T R O T R IB U N A L Essa c o m p e tê n c ia n ã o é n o vid a d e , já era e xe rc id a a n te rio rm e n te . A n o vid a d e fo i a sua in serção de fo rm a expressa n o te x to c o n stitu c io n a l.

V I - A S A Ç Õ E S D E IN D E N IZ A Ç Ã O P O R D A N O M O R A L O U P A T R IM O N IA L D E C O R R E N T E S D A R E L A Ç Ã O D E T R A B A L H O

A ju ris p ru d ê n c ia c a p itanead a p e lo S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l, já v in h a reconhecend o a co m p e tê n c ia da Justiça do T ra b a lh o para o ju lg a m e n to das causas e n v o lv e n d o p e d id o de ind e n iza ç ã o p o r dano m o ra l o u p a trim o n ia l d ecorrentes da relação de em prego. A E m e n d a n 0 45 a m p lio u a com petência para abranger as relações de tra b a lh o e se p u lto u de ve z q u a lq u e r p o ssib ilid a d e de retrocesso ju ris p ru d e n c ia l.

A g o ra n ã o re sta m d ú vid a s q u a n to à c o m p e tê n c ia da Justiç a d o T ra b a lh o p ara p rocessar e ju lg a r as lid e s d ecorrentes de atos ilíc ito s c iv is decorrentes das relações de tra b a lh o .

A questão m a is c o n tro ve rtid a acerca das ações de ind enização p o r dano m o ra l o u p a trim o n ia l d ecorre dos acid entes de tra b a lh o . A S ú m u la n° 15 do S u p e rio r T rib u n a l de Justiça p revê a com p etência da Justiça E sta d u a l para processar e ju lg a r os litíg io s d ecorrentes de acid ente de tra b a lh o . A ju ris p ru d ê n c ia a n te rio r à E m end a C o n s titu c io n a l n° 4 5 re c o n h e c ia a c o m p e tê n c ia da Justiç a d o T ra b a lh o p ara o

1 8 0 R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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ju lg a m e n to de causas e n v o lv e n d o o d ano m o ra l, m as n ã o a re c o n h e c ia m caso derivasse de acid ente de tra b a lh o .

C o m p e te à Justiça F e d e ra l o ju lg a m e n to das causas e m que fig u re m c o m o in te re ss a d a s n a c o n d iç ã o de a u to ra s , ré s , a s s is te n te s o u o p o n e n te s . E s tã o excepcionadas dessa reg ra as ações de fa lê n c ia , as de acid entes de tra b a lh o e as sujeitas à Justiça E le ito ra l e à Justiça do T ra b a lh o . Parece c la ro que as ações de acidente d o tra b a lh o re fe rid a s são aquelas em que o ente a u tá rq u ic o IN S S fig u re com o p arte, ou seja, as ações a c id e n tá ria s e n vo lv e n d o b e n e fic io o u in d enizações devid as e m ra zã o de re la ç ã o ju ríd ic a de n a tu re za p re v id e n c iá ria . A s ações de in d e n iza ç ã o p o r d anos m a te ria is e m o ra is d ec o rre n te s de a c id e n te d o tra b a lh o , decorrentes de re sp o n sa b ilid a d e c iv il, eram ju lg a d a s p ela Justiça c o m u m p o r fa lta de n o rm a expressa p re ve n d o a c o m p etência da Justiça esp ecializad a.

H o je em d ia, a p a rtir da E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 4 5 , a c o m p e tê n c ia para tais ações fo i outo rg a d a à Justiç a d o T ra b a lh o de fo rm a expressa.

N ã o obstante, recentem ente, o S up re m o T rib u n a l F e d e ra l, ao ju lg a r o R ecurso E x tra o rd in á rio n° 4 3 8 .6 3 9 -9 /M G , d e c id iu que com p ete à Justiça dos E stad os e do D is trito F e d e ra l o ju lg a m e n to das ações de in d e n iza ç ã o p o r danos m o ra is re su ltan te s de acid ente de tra b a lh o . A nosso ver, não é a m e lh o r soluç ã o , p o is n ã o se pode desconhecer que os acidentes de tra b a lh o d ec o rre m d ire ta m e n te d o d e sc u m p rim e n to, culp oso o u d o lo so , de ob rig ações decorrentes d o c o n tra to de tra b a lh o , m e sm o p orq ue com p ete aos em p reg ad ores “ c u m p rir e fa z e r c u m p rir as n o rm a s de seg urança e m e d ic in a do tra b a lh o , in s tru ir os em pregados, a través de o rd ens de s e rv iç o , q u a n to às p recauções a to m a r n o s e n tid o de e v ita r a c id e n te s d o tra b a lh o o u d oenças oc u p a c io na is, a d o ta r as m ed id as que lhes sejam d ete rm in a d a s p e lo ó rg ão re g io n a l com p etente, fa c ilita r o e xe rc íc io da fisc a lizaç ã o p ela a uto rid a d e com p etente, fo rn e c e r eq u ip a m e n to s de p ro te ç ã o in d iv id u a l etc.” (a rts. 1 5 7 , I, II , I I I e IV , e 166 da C L T ).

V I I - A S A Ç Õ E S R E L A T IV A S À S P E N A L ID A D E S A D M IN IS T R A T IV A S IM P O S T A S A O S E M P R E G A D O R E S P E L O S Ó R G Ã O S D E

F IS C A L IZ A Ç Ã O D A S R E L A Ç Õ E S D E T R A B A L H O

A insp eção d o tra b a lh o é o rg anizad a, m a n tid a e executad a p e la U n iã o (a rt.

2 1 , X X I V , da C F ), c o m o escopo de fis c a liz a r o fie l c u m p rim e n to das n o rm a s de p roteção a o tra b a lh o (a rt. 6 2 6 da C L T ).

E m sua fa in a d iá ria , o a u d ito r fis c a l d o tra b a lh o é u m in té rp re te da le g isla ç ã o tra b a lh ista . Seus atos, e n tre ta n to , e ram q u estionad os p erante a Ju stiç a F e d e ra l, seja p e la v ia d o m and ad o de segurança, seja em em b arg os à execução fis c a l, seja em ações d e c la ra tó ria s d e in e x ig ib ilid a d e de d é b ito . O a c o lh im e n to o u n ã o das im p u g n a ç õ e s c o n tra as m u lta s e d e m a is p enalid ad es a p licad as nec e ssa ria m e n te e n v o lv ia discussão acerca da in te rp re ta ç ã o da le g isla ç ão tra b a lh is ta .

A s s im , e x is tia m d o is ó rg ã o s ju r is d ic io n a is d ife re n te s in te rp re ta n d o a le g isla ç ã o tra b a lh is ta e, e m alg uns casos, até de m a n e ira d ive rsa : a Justiç a F e d e ra l,

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l . 7 1 , n º 1 , j a n / a b r 2 0 0 5 18 1

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a a n a lis a r a le g a lid a d e das m u lta s im p o sta s aos em p reg ad ores p elos órg ãos da fisc a liz a ç ã o do tra b a lh o , e a Justiça do T ra b a lh o , a ju lg a r as re ivin d ic a ç õ e s dos tra b a lh a d o re s c o n tra esses m esm os em preg ad ores, o que causava u m tu m u lto e u m c lim a de insegurança ju ríd ic a to ta lm e n te c o n trá rio s à estabilidade das relações sociais.

E m boa h o ra essa q uestão fo i re s o lv id a p e lo te x to c o n stitu c io n a l.

V I I I - A E X E C U Ç Ã O , D E O F ÍC IO , D A S C O N T R IB U IÇ Õ E S S O C IA IS P R E V IS T A S N O A R T IG O 1 9 5 ,I , a, E II, E S E U S A C R É S C IM O S L E G A IS , D E C O R R E N T E S D A S S E N T E N Ç A S Q U E P R O F E R IR

C o m p e tê n c ia acrescida p ela E m end a C o n s titu c io n a l n ° 2 0 , de 15 de d ezem b ro de 1998, e m a n tid a p ela E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 4 5 , de 31 de d e ze m b ro de 2 0 0 3 . N ã o é n o vid a d e , m as é de grand e im p o rtâ n c ia para o J u d ic iá rio T ra b a lh is ta . I X - O U T R A S C O N T R O V É R S IA S D E C O R R E N T E S D A R E L A Ç Ã O D E

T R A B A L H O , N A F O R M A D A L E I

N ã o é ta re fa fá c il in te rp re ta r o in c is o I X do art. 114 da C o n s titu iç ã o Fed e ra l.

Se, p o r fo rç a do in c is o I d o a rt. 114, com p ete à Justiça d o T ra b a lh o processar e ju lg a r todas as causas o riu nd a s da rela çã o de tra b a lh o , fic a re alm e nte d ifíc il im a g in a r que o u tra s c o n tro vé rsia s d ecorrentes da re lação de tra b a lh o não e sta ria m ab rang id as p e la re g ra g e ral e p re c isa ria m de in te rm e d ia ç ã o d o le g is la d o r in fra c o n s titu c io n a l p a ra in te g ra r o r o l d aq uelas apreciadas p ela Justiç a esp ecializad a.

X - O P O D E R N O R M A T IV O

A E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 4 5 a m p lio u s ig n ific a tiv a m e n te , n o g e ra l, a c o m p e tê n c ia da Justiç a d o T ra b a lh o , n ã o ob stante tê -la lim ita d o , a nosso v e r, n o to c a n te ao P o d e r N o rm a tiv o , o que já era u m a te n d ê n c ia o b servad a n o p ró p rio J u d ic iá rio T ra b a lh is ta .

N o to c a n te ao p o d e r n o rm a tiv o , os §§ 2 o e 3 o d o a rt. 114 fic a ra m assim re d ig id o s :

“ § 2 ° R ecusand o-se q u a lq u e r das p artes à neg ociação o u à a rb itra g e m , é fa c u lta d o às m esm as, de c o m u m acordo, a ju iz a r d issíd io c o le tiv o de natureza e c o n ô m ic a , p od end o a Justiça d o T ra b a lh o d e c id ir o c o n flito , resp eitad as as d is p o s iç õ e s m ín im a s le g a is d e p ro te ç ã o a o tra b a lh o , b e m c o m o as conve n c io n a d a s a n te rio rm e n te .

§ 3° E m caso de g re ve e m a tiv id a d e essencial, c o m p o ss ib ilid a d e de lesão d o interesse p ú b lic o , o M in is té rio P ú b lic o d o T ra b a lh o p od erá a ju iz a r d is síd io c o le tiv o , c o m p e tin d o à Justiç a d o T ra b a lh o d e c id ir o c o n flito .”

N a d a m u d o u , a n o sso v e r, q u a n to à p o siçã o p riv ile g ia d a d a neg o c ia ç ão c o le tiv a c o m o p rin c ip a l fo rm a de com p o siç ã o dos c o n flito s c o le tiv o s de tra b a lh o . A s s im , a Justiç a la b o ra l c o n tín u a só p od erá ser acionad a após o e x a u rim e n to da v ia

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l . 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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n e g o c ia l . A d ecisão p ro fe rid a p ara c o m p o r o litíg io c o n tin u a rá re sp e ita n d o as disp osições leg ais m ín im a s e as a n te rio rm e n te conven c io n a d a s.

A alteração s ig n ific a tiv a , a nosso ver, é que, a n te rio rm e n te , o d issíd io c o le tiv o era a ju iz a d o p o r u m dos litig a n te s para p le ite a r a soluç ã o d o c o n flito c o le tiv o de tra b a lh o m ed ia n te a in s titu iç ã o de n o rm as e cond ições de tra b a lh o . A g o ra , o d issíd io c o le tiv o d everá ser in sta u ra d o p o r am bos os c o n tend ores, de c o m u m acord o. A in d a recentem ente, a C onfe d e ra ç ã o N a c io n a l das P ro fis sõ e s L ib e ra is (C N P L ) a ju iz o u ação d ire ta de in c o n stitu c io n a lid a d e ( A D In 3 3 9 2 ) c o n tra a p arte d o § 2 o d o a rt. 114 da C F, que e xig e o c o m u m a c ord o e n tre as p artes para a in sta u ra ç ã o d o d issíd io c o le tiv o perante a Justiça do T ra b a lh o . O a rg um e nto p rin c ip a l é o de que a e xig ê n c ia fere o p rin c íp io do liv re acesso ao J u d ic iá rio .

O u tra a lteração que não pode passar desapercebida é a p re vis ã o expressa apenas d o d is s íd io de n a tu re z a e c o n ô m ic a , o q ue, a p a re n te m e n te , a fa s ta da c o m p e tê n c ia da J u s tiç a d o T ra b a lh o o d is s íd io c o le tiv o de n a tu re z a ju ríd ic a , instaurad o para d e c id ir c o n flito a resp eito de in te rp re ta ç ã o de c lá u su la c o n ve n c io n a l.

X . 1 A n a tu re za ju r íd ic a d o p o d e r n o r m a tiv o a p ó s a E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 4 5 e s u a c o n s titu c io n a lid a d e

A n te s de u m p o s ic io n a m e n to acerca da c o n s titu c io n a lid a d e o u n ã o da e xig ê n c ia de c o m u m aco rd o p ara o a ju iz a m e n to d o d is s íd io c o le tiv o , é p re c iso pesq uisar a n a tu re za ju ríd ic a do “ p o d e r n o rm a tiv o ” após a m o d ific a ç ã o in tro d u z id a pela E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 45.

A in s titu iç ã o , p o r órg ão d o P o d e r J u d ic iá rio , de n o rm a s e c o n d iç õ e s de tra b a lh o , a in d a q u e b a liz a d a p e lo p rin c íp io da le g a lid a d e , n ã o se c o n s titu i p ro p ria m e n te e m e xe rc íc io de ju ris d iç ã o (so lu ç ã o de c o n flito s p e la a p lic a ç ã o de n o rm a p re e xiste n te ao caso c o n c re to ). T ra ta -se , in e g a ve lm e n te , de fu n ç ã o a típ ic a do P o d e r J u d ic iá rio , de n a tu re za n o rm a tiv a q u a n to ao o b je to (n o rm a c o le tiv a ).

E n tre ta n to , a n o rm a assim p ro d u zid a te m p o r in v ó lu c ro in s tru m e n to tip ic a m e n te ju d ic ia l (sentença) e d ecorre de processo ju d ic ia l, n o que se d ife re n c ia das le is em se n tid o fo rm a l, que são p ro d u zid a s m e d ia n te p rocesso le g is la tiv o .

N ã o se pode o lv id a r que n e m só da fu n ç ã o ju ris d ic io n a l se ocupa o J u d ic iá rio . A lé m do p o d e r n o rm a tiv o , podem os c ita r a cham ada ju ris d iç ã o v o lu n tá ria , que a rig o r n e m é ju ris d iç ã o , p o is n o seu e xe rc íc io o ju iz não te m p o r fu n ç ã o d e c id ir litíg io , m as apenas fis c a liz a r e in te g ra r d e te rm in a d o n e g ó c io ju ríd ic o de n a tu re za p riv a d a , tu d o e m n o m e d o interesse p ú b lic o . N ã o há n e m lid e o u p artes, m as interessad os e interesse.

A tu a lm e n te , c o m o a d vento da E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 4 5 , n e n h u m a das p artes e n v o lv id a s n o c o n flito c o le tiv o de tra b a lh o p ode, sem a anuência da o u tra , s o lic ita r a soluç ã o d o d issíd io c o le tiv o p e lo J u d ic iá rio T ra b a lh is ta . D essa fo rm a , agora c o m m a is ra zã o , não se pode c o n sid e ra r o p o d e r n o rm a tiv o c o m o a tiv id a d e ju ris d ic io n a l típ ic a . Sua n a tureza é de a rb itra g e m ju d ic ia l v o lu n tá ria .

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 1 8 3

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O B ra s il, com a E m end a C o n s titu c io n a l n° 4 5 , dando continuid ad e ao processo de afastam ento do E s ta d o -ju iz da solução dos c o n flito s c o le tiv o s de tra b a lh o , iniciad a a p a rtir da C o n stitu iç ã o de 1988, e buscando p riv ile g ia r as form as de autocom posição, e v o lu iu d o p od er n o rm a tiv o c o m o m is to de a tiv id a d e le g ife ra n te e ju ris d ic io n a l p ara a a rb itra g e m ju d ic ia l v o lu n tá ria , ina u g u ra d a a p a rtir da em enda c o n stitu c io n a l sob análise.

A o se c o n sid e ra r o p od er n o rm a tiv o c o m o a tivid a d e ju ris d ic io n a l, não se p o d erá d e ix a r de recon h e c e r que a e xig ê n c ia d o m ú tu o c o n se n tim e n to dos atores soc ia is para a sua d eflag ração se c o n fig u ra e m ve rd a d e iro cerceam ento do acesso a m p lo ao J u d ic iá rio , o que seria in a d m is síve l.

E m se tra ta n d o , e n tre ta n to , de a rb itra g e m ju d ic ia l v o lu n tá ria , c o m o a nosso v e r é a h ip ótese, não há que se fa la r em ta l in c o n stitu c io n a lid a d e , m e sm o p o rq u e a a rb itra g e m v o lu n tá ria é de nossa tra d iç ã o e d ecorre de nosso o rd en a m e n to ju ríd ic o ( L e i n° 9 .3 0 7 , de 23 de setem b ro de 1 9 9 6 ), h a ja v is ta que o B ra s il não ad ota a a rb itra g e m c o m p u lsó ria . A L e i n° 9 .3 0 7 , de 1996, q uand o d is c ip lin a a c lá u su la c o m p ro m is s ó ria e afasta a ju ris d iç ã o para a solução de c o n flito s , é c o n s titu c io n a l e n ã o afeta o p rin c íp io d o liv re acesso ao J u d ic iá rio , c o n fo rm e já d eclarado p e lo P le n o d o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l.2

O c o n s titu in te d e riva d o , v o lta m o s a in s is tir, nad a m a is fe z que a b o lir a in te rve n ç ã o d o E s ta d o -ju iz na soluç ã o dos c o n flito s c o le tiv o s de tra b a lh o m e d ia n te a im p o siç ã o de n orm as e cond ições de tra b a lh o . T a l in te rven ç ã o só tin h a a fo rm a ju ris d ic io n a l, m as na essência tra ta va -se de v e rd a d e iro p o d e r le g ife ra n te e xe rc id o nos te rm o s da le i. A p ró p ria e xtin ç ã o d o p o d e r n o rm a tiv o c om o u m to d o fo i v e n tila d a d urante a tra m ita çã o do P ro je to de E m e n d a C o n s titu c io n a l que deu o rig e m à E m e n d a n° 4 5 , o que não seria de m o d o a lg u m in c o n s titu c io n a l, v is to que im p lic a ria m e ra e xc lu sã o de a tiv id a d e a n ô m a la d o J u d ic iá rio tra b a lh ista , e não de ju ris d iç ã o .

N ã o se pode p re te n d e r que a m anu te n ç ã o do p od er n o rm a tiv o , ag ora c o m n o v a ro up a g e m (a rb itra g e m ju d ic ia l), seja in c o n s titu c io n a l, p o r lim ita r o u im p e d ir o acesso à ju ris d iç ã o , v is to que, e m sua essência, nunca teve n a tureza ju ris d ic io n a l.

M e s m o antes da E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 4 5 , n e m tod as as q uestões e disputas entre os sind icatos de em pregados e em pregadores que im p licassem a criação de n o rm a s e cond ições de tra b a lh o p ara soluç ã o do c o n flito estavam abarcadas p e lo p o d e r n o rm a tiv o da Justiç a d o T ra b a lh o . É o caso, v.g., da p a rtic ip a ç ã o nos lu c ros, d o a v is o p ré v io p ro p o rc io n a l ao te m p o de se rviç o e de outras tantas questões que, segundo o S u p re m o T rib u n a l, careciam de resp ald o le g a l para que fossem in stitu íd a s p ela Justiça d o T ra b a lh o . E m o u tra s p a la vra s, o p od er n o rm a tiv o nunca fo i re m é d io p ara todas as re ivin d ic a ç õ e s c u ja satisfação im p lic a sse necessariam ente a c ria ç ão de n o rm as. A s s im , não se pode a d m itir que a fa lta d o p o d e r n o rm a tiv o o u a sua tra n sfo rm aç ã o em a rb itra g e m ju d ic ia l fa c u lta tiv a v io le m o liv re acesso ao J u d ic iá rio .

2 P r o c e s s o S E 5 2 0 6 A g R g / E P , E s p a n h a , T r i b u n a l P l e n o , R e l . M i n . S e p ú l v e d a P e r t e n c e , D J U 3 0 . 0 4 .2 0 0 4 , p . 2 9 .

1 8 4 R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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A E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 45 a d ic io n o u à a rb itra g e m p riv a d a (já p re vista pela C o n s titu iç ã o de 1 9 8 8 ) a a rb itra g e m p ú b lic o -ju d ic ia l, afastand o a in te rve n ç ã o do E s ta d o -ju iz na solução dos c o n flito s c o le tiv o s de tra b a lh o . O p re stíg io do in s titu to da a rb itra g e m fo i in e g á ve l e re fle te o s e n tim e n to m a jo ritá rio dos que m ilita m neste cam po do d ire ito , n o sen tid o de que “ não e xiste m a is lug ar, n o a tu a l estág io sin d ic a l que v iv e m o s , para se fa la r em a rb itra g e m o b rig a tó ria e m u ito m enos re a liza d a p ela Justiça do T ra b a lh o o u p e lo P o d e r J u d ic iá rio ” .3

S ob esse p rism a , não é adequado tra ta r m e ra a rb itra g e m ju d ic ia l v o lu n tá ria c om o p o d e r n o rm a tiv o . A s s im , a nosso v e r não se a d m itirá m a is re curso c o n tra as sentenças a rb itra is p ro la ta d a s p e la Ju stiç a d o T ra b a lh o a te n d e n d o p e d id o dos interessados, sa lvo os em bargos d e c la ra tó rio s ou as im p ug nações que d ig a m re sp eito a e ve n tu a l n u lid a d e da decisão.

N e m p o d e ria ser de o u tra fo rm a , p o is seria iló g ic o que as partes liv re m e n te elegessem u m á rb itro (a in d a que ju d ic ia l) para s o lu c io n a r seu c o n flito e, após, se in surg isse m c o n tra a re sp e c tiva decisão.

A opção p o lític o -le g is la tiv a p re vis ta na E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 45 já era p rop ug nad a p o r p a rte c o n sid e rá ve l da d o u trin a tra b a lh is ta . O m estre R u sso m a n o , tecendo c rític a s ao p od er n o rm a tiv o em sua versã o a n te rio r a d ezem b ro de 2 0 0 4 , e n fa tiz a v a que “ e n q u a n to o D ire ito C o m p a ra d o nos in d ic a que cada v e z m a is se a m p lia o sistem a da n eg ociação c o le tiv a , são p oucos os antecedentes le g is la tiv o s de aceitação das sentenças n o rm a tiv a s , sob re tu d o q u a n to à soluç ã o ju ris d ic io n a l dos c o n flito s de n a tu re za e c o n ô m ic a ” .4

O p le n o d e s e n v o lv im e n to d a n e g o c ia ç ã o c o le tiv a n o B r a s il p a ssa , necessariam ente, p o r u m a re fo rm a s in d ic a l que c o n te m p le a p lu ra lid a d e , afaste o E sta d o das questões sin d ic a is e e rra d iq u e a soluç ã o ju ris d ic io n a l c o m p u lsó ria dos c o n flito s c o le tiv o s d o tra b a lh o . N e ste s e n tid o o e s c ó lio de R u s so m a n o : “ ... a neg o c ia ç ão c o le tiv a n ã o e n c o n tro u , fa c ilm e n te , n o B ra s il, u m d e s e n v o lv im e n to h is tó ric o ap rec iá ve l, p orq ue, em lu g a r de ir à m esa de debates, as partes (os sind icatos o p e rá rio s so b re tu d o ) p re fe re m a ju iz a r ações de d is síd io c o le tiv o , o b tend o - de um a Justiça d o T ra b a lh o reconhecidam ente generosa n o uso de sua com p etência n o rm a tiv a - d e c isã o c o m fo rç a de r e s iu d ic a ta , a sse g u ra d o ra às re s p e c tiv a s c a te g o ria s p ro fis s io n a is das m e lh o re s cond ições de tra b a lh o p o ssíve is” .5

X .2 O d is s íd io c o le tiv o em c a so d e g r e v e em a tiv id a d e e s s e n c ia l

A situação será to ta lm e n te d ive rsa do o b je to de nossa a nálise até aq ui, na h ip ó te se p re vis ta n o § 3 o do art. 114, que a ssim estabelece: “ E m caso de g reve em

3 C f . S O U Z A , Z o r a i d e A m a r a l d e . In : R e v is ta L T r, v. 6 8 , n. 9 , set. 2 0 0 4 .

4 R U S S O M A N O , M o z a r t V ic to r. P r in c íp i o s g e r a is d e d ir e ito s in d ic a l. R i o d e J a n e ir o : F o r e n s e , 1 9 9 8 , p . 2 9 1 .

5 I d e m , ib id e m , p. 2 9 2 .

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1 , j a n / a b r 2 0 0 5 1 8 5

(13)

a tiv id a d e essencial, c o m p o ssib ilid a d e de lesão do interesse p ú b lic o , o M in is té rio P ú b lic o d o T ra b a lh o p o d erá a ju iz a r d is síd io c o le tiv o , c o m p e tin d o à Ju s tiç a d o T ra b a lh o d e c id ir o c o n flito ” .

E m caso de g reve em a tivid a d e essencial e havend o lesão o u am eaça de le são a o interesse p ú b lic o - aq ui e n te n d id o c o m o o interesse da sociedade e não o d o E sta d o o M in is té rio P ú b lic o a ju iz a rá o d issíd io c o le tiv o , c o m p e tin d o à Justiça d o T ra b a lh o d e c id ir o c o n flito .

N e sta hip ótese já não estarem os m a is nos d efro n ta n d o com o in s titu to p re vis to n o § d o a rt. 114 (a rb itra g e m ju d ic ia l fa c u lta tiv a ), m as c o m o p o d e r n o rm a tiv o c o m o e x is tia antes da E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 4 5 , p e lo m enos em p arte, já que só abarca a h ip ótese de seu e xe rc íc io a p ed id o do M in is té rio P ú b lic o do T ra b a lh o , sem necessid ad e de a n u ê n cia dos a to re s so c ia is c o n flitu o s o s e, e x c lu s iv a m e n te , na o c o rrê n c ia de g reve em a tiv id a d e essencial quand o h o u v e r lesão o u am eaça de lesão a inte re sse p ú b lic o .

O que ju s tific a a in te rve n ç ã o do E s ta d o -ju iz para d irim ir o c o n flito e im p o r a so lu ç ã o às p artes e n v o lv id a s é o interesse da sociedade p rejud icad a. N e ste caso, o M in is té rio P ú b lic o age em n o m e da sociedade com o o b je tiv o c la ro de p re se rva r seus d ire ito s , restab e le c e n d o os se rv iç o s essenciais, p ond o fim ao m o v im e n to , m e d ia n te a im p o siç ã o de u m a solução.

X .3 O c a b im e n to d o d is s íd io c o le tiv o d e n a tu re za ju r íd ic a

O u tra questão que p recisa ser d irim id a é a d o c a b im e n to o u n ã o d o d is s íd io c o le tiv o de n a tureza ju ríd ic a , h a ja v is ta que o n o v o te x to c o n stitu c io n a l só fa z a lu sã o de fo rm a expressa ao d is síd io c o le tiv o de n a tu re za econôm ica.

D iss íd io c o le tiv o de n a tu re za ju ríd ic a é aquele in sta u ra d o “ v isa n d o n ã o à fix a ç ã o de n o rm a s e cond ições de tra b a lh o , m as à d e lim ita ç ã o exata das já existe n te s, n o se n tid o de in te rp re ta r as le is, acord os c o le tiv o s , convenções c o le tiv a s e sentenças n o rm a tiv a s in c id e n te s sob re as re lações de tra b a lh o de u m a dada c a te g o ria ” .6

A n a lis a n d o -s e o o b je to d o d is síd io c o le tiv o de n a tureza ju ríd ic a , v e rific a -s e , sem m a io re s d ific u ld a d e s , que se tra ta de in s titu to to ta lm e n te d is tin to d o d is s íd io c o le tiv o de n a tu re za e c o n ô m ic a , c u jo o b je to é a c riação de n o rm a s e cond iç õ e s de tra b a lh o .

N ã o é sem ra zã o o m a g is té rio de Iv e s G and ra M a rtin s F ilh o q u and o a firm a que “ n o d is síd io c o le tiv o de n a tu re za ju ríd ic a as C o rte s L a b o ra is fu n c io n a m na a tiv id a d e p ró p ria d o P o d e r J u d ic iá rio , que é a da inte rp re ta ç ã o da n o rm a e xiste n te , a in d a que de fo rm a g e n é ric a , c o m o o c o rre na ação d ire ta de in c o n stitu c io n a lid a d e , n o m and ad o de segurança c o le tiv o e na ação c iv il p ú b lic a , abrangente da c a te g o ria o u g ru p o de interesse a tin g id o p ela n o rm a a ser inte rp re ta d a ” .7

6 M A R T I N S F I L H O , I v e s G a n d r a . P r o c e s s o c o le tiv o d o tr a b a lh o . 2 . e d . S ã o P a u lo : L T r, 1 9 9 6 , p . 5 5 . 7 I d e m , ib i d e m , p . 5 7 - 5 8 .

186 R e v . T S T , B r a s i í i a , v o l. 7 1 ,n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

(14)

D e sta rte , o d is síd io c o le tiv o de natureza ju ríd ic a , p o r não ser expressão do p o d e r n o rm a tiv o da Justiça do T ra b a lh o , m as a tivid a d e ju ris d ic io n a l típ ic a (ap licação de n o rm a p re e xiste n te a caso c o n creto para solução de lid e ), está c o n tid o na reg ra de com p e tê n c ia o rd in á ria d o in c is o I do art. 114 da C F , na redação c o n fe rid a pela E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 4 5 : “ as ações o riu nd a s da re lação de tra b a lh o , ab rang id os os entes de d ire ito p ú b lic o e xte rn o e da A d m in is tra ç ã o P ú b lic a d ire ta e in d ire ta da U n iã o , d o s E s ta d o s , d o D is t r it o F e d e ra l e d o s M u n ic í p io s ” . N o p la n o in fra c o n s titu c io n a l, o d issíd io c o le tiv o de n a tu re za ju ríd ic a te m d o m ic ílio na L e i n°

7 .7 0 1 , de 21 de d ezem b ro de 1988 (a rts. 2°, II, a, e 10).

X I - O M IN IS T É R IO P Ú B L IC O D O T R A B A L H O E A E M E N D A C O N S T IT U C IO N A L N ° 45

A E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 4 5 abrangeu, c o m o n ã o p o d e ria d e ix a r de ser, em u m a re fo rm a d o J u d ic iá rio , o M in is té rio P ú b lic o ; e n tre ta n to , va m o s lim ita r esse b re ve estud o aos seus re fle x o s nas a trib u iç õ e s do M in is té rio P ú b lic o d o T ra b a lh o .

O M in is té r io P ú b lic o n o B ra s il tê m suas a trib u iç õ e s e c o m p e tê n c ia s v in c u la d a s aos órg ãos ju ris d ic io n a is perante os q uais o fic ie m , re sp e c tiva m e n te . A s s im , o M in is té rio P ú b lic o nos E stad os te m suas com p etências v in c u la d a s à Justiça c o m u m , e o M in is té rio P ú b lic o da U n iã o , aos órgãos ju ris d ic io n a is org an iza d o s e m a n tid o s p e la U n iã o F e d e ra l (Justiça do T ra b a lh o , Justiç a F e d e ra l, Justiça M ilita r e Justiç a do D is trito F e d e ra l e T e rritó rio s ).

D esse m o d o , a a m p lia ç ã o ou redução da c o m p e tê n c ia de u m d e te rm in a d o ra m o d o J u d ic iá rio a fe ta d ire ta e p ro p o rc io n a lm e n te o M in is té rio P ú b lic o em sua le g itim a ç ã o e c o m p etência.

N ã o se pod e n eg ar que o M in is té rio P ú b lic o do T ra b a lh o , m á x im e após a C o n s titu iç ã o de 1988, v e m atuand o c o m o ve rd a d e iro b an d e iran te , d esb ravand o e ala rg an d o os lin d e s da com p etência da Justiça d o T ra b a lh o .

P ara e x e m p lific a r esse papel do P a r q u e t la b o ra l, tra ze m o s à lu m e as ações visa n d o tu te la r os interesses c o le tiv o s e d ifu so s, após a p ro m u lg a ç ão da C o n s titu iç ã o de 1988 (a rt. 128, I I I) , o que se in te n s ific o u c o m a ed ição da L e i C o m p le m e n ta r n°

7 5 /9 3 , que passou a reconhecer expressam ente a c o m p etência da Justiça do T ra b a lh o p ara p rocessar e ju lg a r ações c iv is p úb licas (a rt. 8 3 , III) .

A Justiç a do T ra b a lh o sem pre fo i acusada de ju s t iç a d o s d e s e m p re g a d o s ,

p o is os tra b a lh a d o re s, de fa to , p o r re ce io de d em issão, só p ro c u ra m q u a lq u e r tip o de rep aração ju d ic ia l após o ro m p im e n to d o v ín c u lo e m p re g a tíc io e q uand o já p erp etrad a p e lo em p re g a d or a lesão aos seus d ire ito s . A ação c iv il p ú b lic a , p ela p rim e ira v ez, p o s s ib ilito u a reversão dessa ló g ic a absurda e c rue l, já que p o s s ib ilito u , c o m p ed id os de c u m p rim e n to de ob rig ação de fa ze r o u de não fa ze r, a tu te la dos d ire ito s sociais de trab alhad ores ainda em pregados, sem c o n ta r que tam b ém a m p lio u , de fa to , a c o m p e tê n c ia da Justiça d o T ra b a lh o para as questões e n vo lv e n d o fu tu ro s em p reg ad os o u tra b a lh a d o re s em p o te n c ia l.

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 1 8 7

(15)

C o m a ação c iv il p úb lica, a Justiça do T ra b a lh o vem a cada d ia se c o nsolid and o c o m o u m a Justiça da cid ad ania, sem se lim ita r às ações de cobrança de verbas re sc isó ria s e horas e xtras, que ta m b é m são im p o rta n te s , m as não e xa u re m o papel da Justiç a esp ecializad a.

A p e sa r de algum as resistências aind a p o ntuais, é ju s to reconhecer que a tu te la dos interesses c o le tiv o s e d ifu so s na Justiça do T ra b a lh o e v o lu iu s ig n ific a tiv a m e n te em c u rto p e río d o de te m p o . A in d a h á m u ito que se fa z e r, m as a m a g is tra tu ra tra b a lh is ta p ercebeu a im p o rtâ n c ia da ação c iv il p ú b lic a e do M in is té rio P ú b lic o na c o n so lid a ç ã o da d em ocracia, da cid ad ania e dos d ire ito s fu n d a m e n tais. A ação c iv il p ú b lic a n ã o te m n a tu re za m e ra m e n te p rocessual, m as de g a ran tia c o n s titu c io n a l e c o m o ta l te m que ser encarada e aplicada.

O u tro a vanço s ig n ific a tiv o fo i o re c o n h e c im e n to da ação c iv il c o le tiv a , para tu te la dos interesses in d iv id u a is hom og êneos e sua a p licação na Justiça d o T ra b a lh o , v a le n d o le m b ra r que, desde a sua u tiliz a ç ã o p io n e ira , n o caso dos 2 .0 0 0 em p regados d e m itid o s p e la V A S P , m u ito já se avançou.

A s ord ens ju d ic ia is para prestação p elos g re vista s dos serviç o s essenciais à sociedade ta m b é m d e c o rre ram , p io n e ira m e n te , de um a ação d o M in is té rio P ú b lic o do T ra b a lh o .

O M in is té rio P ú b lic o d o T ra b a lh o já v in h a atuand o, m esm o antes da E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 4 5 , em questões que n ã o se a m o ld a va m ao lim ite s da c o m p e tê n c ia da Ju stiç a do T ra b a lh o , c o m o é o caso d o tra b a lh o de c rianças e m lix õ e s e da p ro s titu iç ã o in fa n til.

H o je em d ia, outras categorias de trabalhadores, que não os c eletistas, p od erão ser d e s tin a tá ria s das ações d o M in is té r io P ú b lic o do T ra b a lh o . É o caso dos tra b a lh a d o re s sem v ín c u lo de e m p re g o (e s ta g iá rio s , tra b a lh a d o re s a u tô n o m o s , e ve n tu ais, rep resentantes c o m e rc ia is e tc.), exceção fe ita aos esta tu tário s. S ó o te m p o e o d e s e n v o lv im e n to n a tu ra l das relações de tra b a lh o , ag ora sob as vista s de u m a Justiç a e de u m M in is té rio P ú b lic o a fe ito s às questões soc ia is, p od erão d e sc o rtin a r as d iversas fo rm a s de atuação d o P a rq u e t.

O u tra situação que dem and ará atuação do M in is té rio P ú b lic o , até m e sm o de fo rm a a m p lia d a , é a das greves em a tivid a d e s essenciais, já que, ag ora, é o ú n ic o le g itim a d o para, isolad am ente, p le ite a r u m a solução pelos órgãos ju ris d ic io n a is p ara p ô r fim ao c o n flito . N a re alid a d e , é a ú n ic a h ip ótese em que o p o d e r n o rm a tiv o p erm anece in c ó lu m e .

N ã o se a d m ite m a is, m e sm o em caso de g reve e m a tivid a d e s essenciais, o a ju iz a m e n to de d issíd io c o le tiv o p elos a tores sociais, já que a in te rven ç ã o d o E sta d o - ju iz , c o m a E m e n d a n° 4 5 , só está a u to riza d a p ara defesa do interesse p ú b lic o . O que pode o c o rre r é a so lu ç ã o p e la Ju s tiç a d o T ra b a lh o a p e d id o de a m b os os p ro ta g o n ista s d o m o v im e n to , na fo rm a d o § 2 o do art. 114 da C F, h ip ó te se e m que n ã o se ju s tific a de fo rm a a lg u m a a g reve, que é até in c o m p a tív e l c o m o p e d id o de soluç ã o p o r u m á rb itro estatal.

1 8 8 R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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