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DIREÇÕES NO ENSINO DE AUTOMAÇÃO EM BIBLIOTECAS: A DEFINiÇÃO DE ESTRATEGIAS
PARA UMA ÉPOCA DE MUDANÇA
Cavan Michael McCarthy •
RESUMO
Examina opções e constrangimentos no ensino de Automação em bibliotecas, destacando a neces-sidade de criar cursos adequados
à
situação na-cional.o
bibliotecário sempre adota uma atitude cautelo-sa perante a inovação tecnológica. Em geral nossa pro-fissão considera que seus objetivos primordiais continuam a ser a organização e preservação de conhecimento regis-trado em forma tipográfica. Acredita-se que os procedi-mentos tradicionais são apropriados para estes fins e existe uma relutância de adotar novas metodologias por receio de que alguma modificação poderia vir a prejudicar a tarefa central, de preservação e organização. Por estes motivos, as novidades são bem-vindas somente em doiS casos: quando elas copiam processos existentes, ou* Ph D. Professor Adjunto do Departamento de Biblioteconomia do
Cen-tro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de PernambucO.
Cad. Bibliotecon., Recife (10): 115-133, dez 1988 115
Quando a inovação tecnológica não pode ser inse-rida nas duas categorias citadas, a tendência dos
bibliote-cários é de marginalizá-Ia ou ignorá-Ia. Os meios audio'
visuais implicam no estabelecimento de serviços
signifi-cativamente diferentes dos serviços existentes, e sua
absorção modifica estruturas administrativas
estabeleci-quando elas não impingem sobre atividades estabelecidas. Como exemplo do primeiro caso podemos oferecer a má-quina de escrever: os bibliotecários já tinham
estabeleci-do a prática de escrever fichas catalográficas
manual-mente; a introdução da datilografia foi vista como um
meio de produzir estas fichas com maior legibilidade e
qualidade, e foi rapidamente incorporada ao dia-a-dia das
bibliotecas. Nos Estados Unidos, nos anos setenta, o
processo avançou um degrau. As bibliotecas tratavam a
possibilidade de catálogos computarizados
cautelosamen-te, não querendo destruir a normalização e estética dos
grandes catálogos em fichas, assentados durante décadas.
O surgimento do Sistema OClC ofereceu às bibliotecas
fichas catalográficas produzidas pelo computador, mas
quase idênticas às fichas existentes, também podendo ser produzidas dentro das normas estabelecidas por
bibliote-cas individuais. O desfecho da história já é conhecido;
OClC tinha sido estabelecido como um simples serviço
estadual, mas seus serviços foram tão requisitados que
se tornou uma organização internacional de grande porte. Como exemplo de um serviço que não afeta outras ativi-dades, podemos oferecer a máquina copiadora, tipo Xerox.
Constitui-se numa máquina tipo caixa preta, cuja
opera-ção exige manipulações simples e apertos de botões. Sua instalação tcm pouco impacto sobre a estrutura adminis-trativa ou sistema de processamento d3s bibliotecas. Co-piadoras automáticas já se tornaram não somente comuns, mas também essenciais em bibliotecas, sem terem des-pertado quase nenhum comentário ou controvérsia.
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das. A tendência
é
de deixar estes materiais fora dablioteca, sob os cuidados de centros' audiovisuais. Os bi-bliotecários tentam, quando podem, tratar estes materiais
como se fossem livros; nas escolas de biblioteconomia
é
comum o estudante estudar catalogação de livros um
se-mestre, e catalogação de audiovisuais no semestre
se-guinte. Pessoalmente acredito que nossa profissão
per-deu uma grande oportunidade com suas atitudes negativas perante os meios audiovisuais, mas isso não representa
uma perda de grande porte. Podemos ignorar a área
au-diovisual e ainda funcionar bem dentro da nossa área
tra-dicional, mas de forma alguma podemos passar à margem
da revolução de automação e computação que está explo-dindo ao nosso redor.
O impacto do computador sobre nossa vida diária já
foi analisado exaustivamente em centenas de livros e ar-tigos de periódico e jornal. Não há dúvida de que a absor-ção do poder do computador está sendo a rraior tarefa dos
países industrializados na última metade deste século.
O Brasil, um país recém-industrializado, com fortes
liga-gações com as maiores economias do ocidente, tomou 8S
oportunidades com as duas mãos, instalando uma indústria de microcomputadores e exportando computadores. O país já comprovou, nas áreas automobilísticas, aeronáuticas e bélicas, que está inteiramente capaz de montar indústrias
avançados e competir nos mercados de
export~ção.
Nenhuma área que depende da manipulação de inform3-ções, tal como biblioteconomia e documentação, pode pas-sar à margem da automação, porque o computador oferece vantagens irrecusáveis na manipulação de informações co-dificadas. Parece que os próprios profissionais já aceita-ram este fato; poucos anos atrás, era comum agredir o professor da disciplina .. Automação de Bibliotecas" com
reclamações do tipo .. Esta disciplina é inútil, porque eu
nunca vou trabalhar numa biblioteca automatizada".
dantes deste quilate já se calaram, sem dúvida por influên-cia da imprensa ou de irmãos que faziam cursos de Basic, ou tentavam o vestibular de Informática. A própria recla-mação é uma faca de dois gumes, porque se as bibliotecas fossem automatizar-se, os profissionais sem treinamento especializado teriam, realmente, dificuldade em encontrar emprego.
Geralmente os efeitos da automação são bem mais palpáveis; na circulação instala-se terminais, os procedi-mentos de empréstimo e devolução são modificados e os auxiliares precisam de um treinamento egpecial. Depar-tamentos que trabalharam em relativa isolação durante anos enfrentam situações com grande potencial para con-flitos. Os bibliotecários de processos técnicos quase não se interessam pelos dados registrados no sistema de cir-culação da sua biblioteca, enquanto o empréstimo for manual. Se o setor de circulação pretende montar um arquivo computarizado de autores e títulos, para apoiar
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Nossa preocupação primordial deveria ser para a implantação de um ensino eficaz na área da automação de bibliotecas. Tenho bastante experiência neste campo; circulação automatizada, os bibliotecários de processos técnicos certamente vão querer ser envolvidos. O con-ceito, ainda avançado, de um sistema integrado, onde um ónico arquivo é alimentado e utilizado por vários departa-mentos, torna as atuais divisões administrativas obsoletas, com o surgimento de novos problemas em todos os níveis. No caso de utilizar um formato complexo, tipo CALCO, para o arquivo central, será que os dados de aquisição de-verão conformar ao detalhamento de um formato sofisti-cado? No caso positivo, catalogação torna-se um processo de revisão de dados digitados por aquisição?
Se a automação das nossa bibliotecas é inevitável, e vai modificar profundamente nossa vida profissional, deveríamos começar, o mais rápido possível, a nos prepa-rar para o futuro. Existem, aliás, fortes indicações de que a profissão já está tomando medidas apropriadas. Em nível de pós-graduação, temos a contratação pelo PADCT de um curso de especialização em Automação de Serviços de Informação na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. A Universidade Federal de Pernambuco plane-ja oferecer um curso semelhante para o Nordeste. Os pro-fissionais que não têm condições de ausentar-se do traba-lho durante um curso de especialização podem participar de congressos especializados, tais como o Encontro Nacional de Bibliotecas e Informática. O primeiro destes aconteceu em Brasília em 1984, atraindo setecentos par-ticipantes. Em nível de graduação, automação de biblio-tecas já tinha sido ensinado esporadicamente em algumas escolas de biblioteconomia durante os anos setenta, para ser institucionalizada no começo dos anos oitenta no novo currículo mínimo.
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Cad. Bibliotecon., Recife (10) : 115-133, dez. 1988 Ao mesmo tempo, a inevitável introdução da automa-ção em bibliotecas forçosamente levará a modificações bastante profundas nas atividades e estruturas destas ins-tituições. O computador não é uma caixa preta, de opera-ção simples, como uma copiadora. Podemos utilizar o computador para copiar processos existentes, mas somen-te em algumas aplicações, enquanto a própria automação tanto permite, quanto encoraja a adoção de procedimen-tos novos. Nem sempre é conveniente utilizar automação para fazer o que foi feito antes. Conheço uma biblioteca brasileira que conseguiu produzir fichas catalográficas pelo computador, e posteriormente teve a surpresa de ser cri-ticada por um usuário por não ser automatizada. A pre-sença no catálogo de fichas impressas pelo computador não tinha sido percebida como uma comprovação de automação.
ensInei automação no Brasil pela primeira vez em 1977, na UFMG. ofereci esta disciplina várias vezes na UFPB e
UFPE, e também como curso intensivo. Também procedi
a um levantamento total da automação de bibliotecas e
sistemas informac:onais no Brasil, para minha tese de
doutorament02
• Desejo compartilhar esta experiênciJ com
vocês, oferecendo um breve esboço de alguns fatores que deveriam ser considerados na preparação e ensino da dis-ciplina .. Automação em Bibliotecas" .
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121 O estudante deveria compreender a posição do com-putador dentro do esforço da humanidade para controlar O tempo dedicado a cada elemento pode ser fixado conforme o nível e conhecimentos anteriores da turma,
disponibilidade de material e exemplos. etc. Os três ele·
mentos, aliás coincidem bem com as três etapas propos-tas por CAVALCANTI para o ensino da informática na for-mação dos bibliotecários, ou seja, despertar interesse, dar
conhecimento e levar a especializaçã01
•
1. INFRA-ESTRUTURA. Desenvolvimento e
funciona-mento do computador; seu Impacto no mundo moder-no e moder-no Brasil.
2 . PROBLEMÁTICA. Dados bibliográficos e seu
proces-sarnento. Automação de bibliotecas em geral.
3. APLICAÇÕES. Automação de processos específicos;
automação no Brasil.
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A automação em bibliotecas deveria ser ensinada, na minha opinião, como um aprofundamento gradual den-tro do assunto, começando a partir da realidade atual do estudante, terminando na automação em bibliotecas hoje
no Brasil. Tal modelo produz uma matéria cor:n três
ele-mentos distintos:
centros de documentação são também úteis. Visto que
tanto o conteúdo, quanto os pré-requisitos das disciplinas são diversos, considero essencial ensiná-los como duas
disciplinas distintas. Considerações práticas também
le-vam ao mesmo resultado; ambos os assuntos oferecem material mais do que suficiente para uma disciplina; com-binando os dois assuntos dentro da mesma disciplina re-sulta numa carga de estudos excessiva, dificultando o en-sino.
\ Cad. Bibliotecon., Recife (10) : 115-133, dez. 1988 Cad. Bibliotecon., Recife (10): 115-133, dez. 1988
Em primeiro lugar, torna-se necessário definir a área
de atuação da disciplina com bastante cuidado. O
biblio-tecário entra em contato com o computador em dois cam-pos bastante largos, a automação de sistemas de proces-samento em bibliotecas e a recuperação de informação através de bases de dados. Observa-se que as duas áreas são distintas; a automação em bibliotecas implica na com-putarização de processos internos, já estabelecidos dentro de instituições em funcionamento, por sistemas montados ou adaptados para bibliotecas específicas. Com bases de dados, DSI, etc., a situação é outra; são basicamente ser-viços novos oferecidos em nível nacional ou internacional,
utilizados para uma variedade de bibliotecas. Podemos
prever que haverá, eventualmente, uma convergência en-tre as dUJS áre3s, mas ainda estamos longe desta situa-ção; as bibliotecas em geral ainda dão prioridade ao pro-cessamento e controle do livro, enquanto as bases de da-dos dão ênfase ao artigo de periódico, re!Dtório, patente, etc. Do ponto de vista do ensino, as distinções continuam. Para estudar a automação de bibliotecas precisa-se estar familiarizado com o funcionamento administrat:vo de uma biblioteca, o interre!acionamento das suas at:vidades e os
objetivos dos seus serviços. Bases de dados e SOl
ba-seiam-se em fundamentos inteiramente diversos; é neces-sário ter noções de recuperação de informação e de
inde-xação pós-coordenada. Conhecimentos de tesauros e
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Uma área fortemente relacionada com a programa-ção, onde
é
essencial que o bibliotecário tenha conheci-mentos próprios, é constituída pelo formato bibliográfico. O estudante precisa entender porque qualquer projeto deUma visão geral da programação será incluída, por-que os estudantes precisam compreender o por-que
é
progra-mação e qual sua importância. Alguns exemplos, alta-mente simplificados. podem ser dados, mas dificilalta-mente alunos de graduação, dentro das limitações da disciplina .. Automação em bibliotecas", terão tempo e condições para desenvolver programas de computador. Programação é uma tarefa especializada, bastante diferente das ativida-des normais do bibliotecário e exige treinamento específi-co. O bibliotecário engajado no processo de automação precisa saber o que é programação, mas raramente terá que escrever seus próprios programas. De qualquer forma, os programas utilizados em bibliotecas são bastante dife-rentes dos programas utilizados para outros fins. O tra-tamento de dados bibliográficos exige basicamente arqui-vamento, pesquisa e recuperação. Por exemplo, dados catalográficos são armazenados para serem representados no formato utilizado no sistema de catalogação. Nas bases de dados, identifica-se entradas que incluem termos es-pecíficos e estes são apresentados em forma de bibliogra-fia. Os dados são basicamente textuais (nomes, palavras, datas, números de classificação) e tais dados, em geral, não sofrem modificações ou alterações. Mas a grande maioria das atividades desenvolvidas com computadores exige o processamento e a modificação de dados numéri-cos. O programador normalmente considera o proces-samento de dados bibliográficos uma atividade periférica. obtidas em universidades e repartições, torna imprescin-dível uma descrição básica do micro.Cad. Bibliotecon., Recife (10) : 115-133. dez. 1988
seu meio-ambiente. A elaboração de meios auxiliares pa-ra ajudar a contar e calcular constitui uma preocupação constante na nossa história. O computador representa o estado atual deste esforço; não é um bicho-papão que sur-giu de repente, mas o resultado de um demorado proces-so de experimentação e pesquisa. Recentemente o com-putador digital tornou-se um instrumento tão poderoso no processamento de informações codificadas, que veio a ser uma ferramenta de enorme potencial para qualquer pro-fissional que trabalha com estas informações, o que inclui, obviamente, bibliotecários e documentalistas. É fácil ofe-recer exemplos de como o computador afeta a vida diária do brasileiro mediano. Qualquer família ligada às redes de eletricidade e água recebe uma conta computarizada, enquanto os residentes de qualquer cidade de porte razoá-vel entram em contato com o computador. direta ou indi-retamente, várias vezes por dia.
O mecanismo do computador deve ser abordado de modo resumido; o estudante precisa ter algumas informa-ções básicas, mas sem afogar-se em terminologia e siglas de baixa importância. É essencial aprender. em linhas gerais, como o computador funciona, e como as várias partes do computador são interligadas, mas sem descer aos detalhes. Talvez o ponto principal, a ser compreen-dido pelo estudante de graduação, é que a codificação in-terna do computador é inteiramente diversa da nossa co-dificação alfabética. Por este motivo, dados bibliográficos geralmente precisam ser redigitados para entrar no com-putador. Assim fica patente o gargalo da entrada de da-dos que funciona como um freio sobre a automação. so-bretudo no Brasil de hoje. quando as redes e a entrada centralizada de dados ainda funcionam em nível embriã-nico. O êxito do Brasil na produção de microcomputado-res, e a relativa facilidade com a qual estas máquinas são
O exame dos aspectos gerais da automação de
bibliotecas deveria ser focalizado sobre os problemas
comuns e a implantação de projetos. Tanto aqui quanto
na discussão de aplicações específicas, informação prática
pode ser extremamente útil e economizar muito tempo
e esforço no futuro. Antes de embarcar na catalogação
automatizada, o bibliotecário deveria ter alguma
compre-ensão das dificuldades envolvidas na entrada de dados
bibliográficos. Se a saída vai ser em fichas, é bom estar ciente que o esforço investido no sistema terá, talvez,
pouco impacto visível sobre a biblioteca. Se uma
biblio-teca está considerando automatizar o recebimento de
periódicos, convém saber que tais sistemas dificilmente
automação bibliográfica implica na escolha de um formato,
e porque esta escolha é uma decisão tão importante.
Uma familiaridade com os dois tipos básicos de formato, fixo e variável, é essencial, e alguma compreensão das vantagens e desvantagens de cada tipo deveria ser
trans-mitida. Esta área de formatos, aliás, me parece a
ativi-dade, dentro da biblioteconomia, que mais ~e assemelha à
programação e constitui uma área onde o bibliotecário é forçado a agir, porque analistas de sistemas são
raramen-te
familiarizados com o tratamento de dados bibliográficos.Um curso em nível de graduação não é um lugar adequado para treinamento em profundidade na utilização de forma-tos sofisticados, sobretudo quando tais formaforma-tos são da acesso difícil, e não existe consenso sobre sua utilização. Mas o estudante precisa estar familiarizado com a estru-tura básica de um formato sofisticado, tal como CALCO,
com sua terminologia especializada (subcampos,
indica-dores, etc) e com os procedimentos a serem adotados na entrada de dados. Desta forma, o aluno que, futuramente, vier a utilizar um formato sofisticado, terá pouca
dificulda-de em absorver as instruções específicas contidas nos
manuais especializados.
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funcionam com eficiência em lote, mas que são muito
apropriados à utilização de um microcomputador. O biblio-tecário que dispõe de informações práticas desta natureza pode poupar centenas de horas de frustração e desperdício a sua biblioteca; o problema é que este tipo de
informa-ção é de acesso difícil, raramente sendo publicado ou
organizado. Trabalhos que aparecem em periódicos
pro-fissionais geralmente evitam comentar os problemas e
fracassos no processo de automação. Por motivos
intei-'ramente compreensíveis, divulga-se somente o lado
po-sitivo e os êxitos na aplicação do computador.
No decorrer da disciplina, exemplos brasileiros
deveriam ser oferecidos, quando possível. Não é
somen-te o caso de garantir que o ensino seja relevansomen-te
à
situa-ção brasileira, mas temos que enfrentar o fato de que o
estado de desenvolvimento da automação, na América
do Norte e Europa, é inteiramente diferente do que no
Brasil. Nos países industrializados, automação
constitui-se basicamente numa série de escolhas: seleção do
sis-tema mais adequado para circulação, produção de
catá-logos, etc.; identificação do melhor meio de conseguir
dados bibliográficos; escolha do provedor de bases de
dados mais relevante para as necessidades dos usuários da biblioteca; identificação do equipamento mais
adequa-do. No Brasil, não existem empresas especializadas que
se dedicam à instalação de sistemas automatizados;
é
quase impossível comprar dados bibliográficos em forma legível por máquina; há pouca escolha na compra de equi-pamento especializado e somente uma ou duas redes
pe-quenas, ambas em estado ainda embrionário. Um projeto
de automação no Brasil geralmente implica na formação de uma equipe mista de bibliotecários e analistas, defini-ção de necessidades e constrangimentos, programadefini-ção, teste e entrada de dados. Tais projetos são bastante pe-sados, mesmo para bibliotecas de médio porte, exigindo
uma interação intensa da parte do bibliotecário. Antes de entrar neste processo, o profissional precisa saber quais são as principais bibliotecas automatizadas do seu país e região, quais os processos automatizados com maior fre-qüência e a metodologia geralmente adotada. ~ neces-sário ter alguns conhecimentos sobre o tipo de biblioteca que pode ser automatizado com maiores chances de êxito, sobre a adoção de formatos dos vários tipos e sobre as vantagens e desvantagens das redes atualmente instala-das no país. Um esboço de informação deste tipo pode ser comunicado em nível de graduação e torna-se essencial no sentido de preparar o estudante para enfrentar a realidade nacional.
Nota-se de imediato que informação sistemática so-bre o estado atual da automação no Brasil, do tipo citado no parágrafo anterior, não está facilmente disponível. Eu tive uma experiência pessoal bastante relevante neste sentido; publiquei um trabalho sobre este assunto no ex-terior, sem dificuldade3
• A versão brasileira foi
apresen-tada em congresso nacional, mas os anais deste congres-so ainda não foram publicados4
• Tenho notado mais
inte-resse na publicação da minha tese, sobre automação de bibliotecas e sistemas bibliográficos no Brasil, no exte-rior do que no BrasiF. Dispomos de uma boa bibliografia para a área5
, mas esta precisa ser atualizada. O
levanta-mento de ROBREDO é ainda útil para a área universitária1 •
A grande lacuna é constituída pela de um livro texto para o campo; ao mesmo tempo precisamos reconhecer que existe forte dificuldade para a elaboração de um livro desta natureza. A situação brasileira é exatamente fluida, sujeita a modificações que poderiam tornar um livro tex-to desatualizado em pouco tempo. O quadro universitá-rio, com sua ênfase sobre pesquisa, ensino e administra-ção, não encoraja a elaboração de livros didáticos. Talvez o caminho mais adequado, no momento, fosse fazer
levan-tamentos e pesquisas sobre o estado atual da automação; os resultados mereceriam uma larga divulgação.
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Os alunos da disciplina MAutomação em
Bibliote-cas" vão pressionar o professor para organizar uma visita ao Centro de Processamento de Dados da Universidade. Visitas dessa natureza são fáceis de organizar e úteis pa-ra a aprendizagem; é aconselhável mostpa-rar ilustpa-rações ou slides com antecedência, de forma que os estudantes pos-sam identificar os vários equipamentos facilmente. A disciplina deveria incluir visitas a sistemas automatizados apropriados, quando possível. A maioria das grandes ci-dades brasileiras conta com, pelo menos, uma biblioteca com sistema automatizado. É aconselhável levar os estu-dantes prioritariamente para sistemas de um certo nível, que demonstram princípios comunicados na sala de aula. Certos sistemas atualmente em funcionamento no Brasil foram montados vários anos atrás, nunca sofreram modi-ficações e parecem, até certo ponto, primitivos em compa-ração com os padrões atuais. Há pouca vantagem em le-var estudantes para sistemas deste tipo. A montagem de simulações de sistemas automatizados para bibliotecas tampouco parece um caminho muito promissor. Sem dú-vida seria possível montar pequenos sistemas em micro-computador, para simular operações de aquisição, catalo-gação e controle de circulaçao em bibliotecas, mas é difí-cil acreditar que tais sistemas poderiam trazer benefícios significativos. Seria mais útil montar sistemas verdadei-ros em bibliotecas reais. Uma atividade viável seria a si-mulação da entrada de dados num sistema de catalogação. Neste caso, o computador mantém uma pequena base de dados; sua utililade já foi amplamente comprovada para simulações com bases de dados6
•
Os estudantes precisam ter noções gerais sobre microcomputadores, mas ainda não podemos avaliar com
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segurança até que ponto treinamento com estas máquinas pode ser incorporado ao curso de graduação em Bibliote-conomia. As pessoas que desejam ter conhecimentos só-lidos nesta área submetem-se a cursos introdutórios, pro-gramação em Basic, Pascal, etc., treinamento na utilização do DBase II e outros pacotes de software, tais como
Visi-calc, dependendo das suas necessidades pessoais. Este
processo exige muito tempo e dedicação. As horas
pas-sadas em frente do vídeo combinam mal com a rotina da aulas de cinqüenta minutos, com a qual nossos estudan-tes estão acostumados. Ao mesmo tempo, uma turma de trinta alunos teria que ser dividida, por exemplo, em
cin-co grupos de seis alunos. Dificilmente teremos
condi-ções de oferecer cinco micros semelhantes, mas o horá-rio terá que ser muito comprido para comportar os cinco
grupos seqüencialmente. Mesmo se houvesse
micro-computadores disponíveis, ainda não é claro qual utiliza-ção do microcomputador traria maiores benefícios aos
es-tudantes. A situação é quase idêntica à das simulações;
o processamento interno de uma biblioteca oferece possi-bilidades limitadas para sistemas simples que estudantes
podem montar ou manejar com proveito. Bases de dados
de pequeno porte seriam a solução; com um treinamento mínimo um grupo de alunos de graduação poderia fazer buscas numa pequena base de dados, e também
alimen-tar o arquivo com entradas novas. Neste caso a base
te-ria sido montada anteriormente por um professor ou
espe-cialista. Tal procedimento poupa aos estudantes a
defi-nição e o dimensionamento de campos. e a necessidade de entrar material suficiente para poder testar o sistema. Também nota-se um pequeno inconveniente, ou seja, que
atividades deste tipo seriam incorporadas,
prioritaria-mente, à disciplina" Recuperação de Informação" e não a
"Automação de Bibliotecas". Na área de automação de
processos bibliotecários um projeto semelhante poderia
simular a alimentação de uma base de dados para a cata-logação de livros.
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Também considero apropriado identificar certos en-foques que deveriam ser evitados. Automação de biblio-tecas não deveria ser confundida com uma introdução
ge-rai ao computador. Centros de Processamento de Dados
ou Departamentos de Informática normalmente oferecem
cursos do tipo "Introdução ao Computador"; tais cursos
têm seu valor próprio, mas não podem substituir um trei-namento específico em automação de bibliotecas, para
es-tudantes de b\blioteconomia. As introduções gerais ao
computador geralmente versam sobre as aplicações
nu-méricas deste equipamento, não tocando nos problemas específicos da biblioteca, e freqüentemente são sobrecar-regados de termos técnicos e uma linguagem
especializa-da, dificultando a compreensão do estudante. O segundo
enfoque a ser evitado é o da catalogação. Nas escolas
de biblioteconomia brasileiras existe uma certa tendência a reduzir ativ:dades aos seus elementos catalográficoS. Por exemplo, "Materiais Audio-Visuais" torna-se uma ex-plicação de como catalogar discos, filmes. etc., enquanto "Elaboração de Trabalhos Monográficos" centraliza-se so-bre a maneira correta de preparar referências
bibliográfi-cas. Tais tendências são bem menos marcadas hoje do
que há vários anos atrás. mas ainda existe um certo
peri-go de que o ensino de automação de bibliotecas possa
concentrar-se sobre treinamento no preenchimento de
for-mulárlos para o CALCO ou sistemas semelhantes.
Con-sidero tal caminho altamente prejudicial para a área, por-que enfatiza os elementos burocráticos do processo auto-matizado, reduzindo o bibliotecário ao papel de quem ali-menta um sistema sobre o qual ele não exerce nenhum
controle. Nesta fase transitória, precisamos de
profis-sionais que compreendam o impacto do computador nas
SU3S bibliotecas, e que possam avaliar as alternativas
di-Cad. Bibliotecon., Recife (10) : 115-133, dez. 1988
ferentes oferecidas pelo novo equipamento. De qualquer forma, até agora era difícil dar aos estudantes um treina-mento sólido no CALCO, porque havia várias edições, ge-ralmente em tiragens limitadíssimas, com exemplos e
ins-truções de compreensão intricada, em alguns casos. As
próprias instituições limitavam o acesso ao texto do CAL-CO; fui informado de casos nos quais uma rede não per-mitia que sua versão de CALCO fosse fotocopiada. Tenho Informação de que o CALCO vai ser uniformizado e que o IBICT vai colocar os manuais à disposição de todos os in-teressados; isso seria uma vantagem para a profissão em geral, mas, mesmo assim, o preenchimento do CALCO
de-veria ter um papel subsidiário na disciplina .. Automação
em Bibliotecas" .
Em nível de graduação, o estudante precisa estar ciente do projeto de automação, mas a elaboração de pro-Jetos constitui-se uma área tão complexa que dificilmente
pode ser examinada em profundidade. Um projeto
técni-co de automação é o produto de um grupo de trabalho
misto. de bibliotecários e analistas, e pretende solucionar
problemas na automação de determinada instituição. A
sua elaboração exige conhecimentos das possibilidades e das dificuldades da automação, compreensão dos proces-sos, objetivos e constrangimentos de uma biblioteca espe-cífica e familiarização com o funcionamento e capacidade de computadores e periféricos. O grupo de trabalho deve-ria reunir os chefes dos setores da biblioteca envolvidos nas mudanças, os analistas de sistemas e programadores que pretendem montar o novo sistema, junto com um
con-sultor com experiência no campo. A atividade central do
processo de elaboração de um projeto técnico de automa-ção consiste justamente na interaautoma-ção e tomada de
deci-sões deste grupo. Estaria fora de cogitação tentar
repro-duzir tal processo na sala de aula, ou reunir tais qualida-des num grupo de estudantes de graduação.
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Um estudo que um bibliotecário está apto a produ-zir, e que está ao alcance de um grupo de estudantes em nível de graduação, é uma descrição detalhada das ativi-dades atuais de uma determinada biblioteca. Uma análise dos sistemas manuais é de inestimável valor à equipe de
analistas e bibliotecários, na elaboração de um sistema
automatizado, para verificar que o sistema novo realmente desempenhará todas as atividades do artigo. O problema de que a preparação de descrições de sistemas manuais
dificilmente pode ser vista como atividade apropriada
dentro da disciplina .. Automação em Bibliotecas", sendo
mais adequada à área de planejamento em geral. Da mes-ma formes-ma. projetos financeiros na área da automes-mação de Projetos simplificados e padronizados são fáceis de
produzir; no mais simples, prepara-se duas colunas, uma
com uma Iista das atividades a serem automatizadas, a ou-tra com prazos em meses para a automatização destas ati-vidades. Tais projetos são fáceis de ensinar, mas extrema-mente perigosos, porque eles oferecem uma visão
total-mente falsa do processo de introdução do computador.
Minha solução pessoal é de dar menos E.tenção ao projeto técnico em si, e mais atenção às atividades gerais que de-veriam ser desempenhadas durante a implantação de um
sistema automatizado. O estudante termina a disciplina
sabendo que este processo deveria comportar estudos
atualizados sobre a automação de instituições semelhan-tes, na região e no país, formação de um grupo de trabalho de bibliotecários e analistas, participação de um consul-tor com experiência apropriada, levantamento da situação atual da biblioteca, planejamento cuidadoso. pré-teste com dados reais, manutenção do sistema manual até que o
sis-tema novo seja inteiramente implantado, etc. Desta
for-ma, o projeto técnico é visto dentro do contexto da implan-tação de um processo aperfeiçoado, tornando-se um docu-mento que reflete determinados objetivos.
bibliotecas, ou seja, projetos que visam conseguir recur-sos de instituições financeiras, são, em geral, fora do
al-cance da disciplina. Finalmente, temos que reconhecer
que a própria natureza do projeto de automação está
su-jeita a modificações. Computadores de grande ou médio
porte são compartilhados por vários departamentos da
mesma instituição, e os custos da sua utilização são tão altos que um planejamento racional, através da aprovação
de projetos, torna-se necessário. No microcomputador,
aliás, a situação é totalmente diferente. Tipicamente, só
existe um usuário ou atividade por micro e planejamento prévio torna-se menos importante, porque é possível mon-tar um sistema simples e fazer uma série de testes e de-senvolvimentos práticos. até chegar a um sistema satisfa-tório. Nestes casos, também, o projeto detalhado torna-se
dispensável. Certos sistemas de grande porte podem,
hoje em dia, ser programados desta forma.
As dificuldades existem, mas deveríamos nos
es-forçar para formar recursos humanos adequados para a
automação das nossas bibliotecas. Já temos na nossa
frente o exemplo das bases de dados bibliográficos, uma área que deveria ter sido incorporada à nossa profissão, mas que ficou dominada por pessoas da área de
compu-tação. Em outros países, bibliotecários rotineiramente
conduzem buscas em bases de dados; no Brasil, analistas ou pessoas da área da informática freqüentemente assu-mem estas tarefas, e cria-se um clima no qual o bibliote-cário não é considerado um elemento essencial no
proces-so de pesquisa. Sistemas de Disseminação Seletiva de
Informação já podem funcionar através de contatos dire-tos entre o sistema e o usuário, sem envolver a biblioteca. Certas pessoas da área da computação acreditam que o
usuário deveria sentar no terminal e fazer suas próprias
busca nas bases de dados. Existe um perigo de que, no
futuro, o bibliotecário terá que aceitar as bases de dados
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•..Cad. Bibliotecon., Recife (10) : 115-133, dez, 1988
BIBLIOGRAFIA ABSTRACT
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Options and constraints in the teaching of
library automation are examined, and the necessity
to teach courses relevant to Brazilian ,ealities is stressed.
bibliográficos que o pessoal da área de informática
deci-de montar. Na área de automação de bibliotecas, nós
deveríamos tomar cuidado para evitar o surgimento de
uma situação semelhante. É essencial que o bibliotecário
participe plenamente da implantação de sistemas automa· tizados em bibliotecas. Caso contrário, os sistemas serão
pouco adequados às nossas necessidades e será criado
mais um obstáculo ao desenvolvimento dos nossos servi·
ços. É nosso dever profissional evitar tal situação, e
pa-ra estes fins precisamos de bibliotecários com
conheci-mentos apropriados na área de automação de bibliotecas.