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ARQUEOLOGIA DO VALE DO RIO PARDO, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL'

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Academic year: 2018

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A R Q U E O L O G IA D O V A L E D O R IO P A R D O ,

R IO G R A N D E D O S U L , B R A S IL '

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PEDRa AUGUSTO MENTZ RIBEIRO"

1 -

IN T R O D U Ç Ã O

o

presente artigo é composto pelos cinco últimos capítulos da tese de doutorado "Arqueologia do Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil", incluindo as referências bibliográficas. Os três primeiros capítulos e parte do

quarto foram publicados na

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Revista do CEPA das então Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul, n.o 21, 1991. Quando estava em edição a

segunda parte da tese, foi esta devolvida pela Editora da Universidade de Santa Cruz do Sul, sob a alegação de que o autor não era mais professor da Instituição. Essa é a razão de somente agora a mesma estar sendo publicada.

O capítulo 5 é estruturado na forma de narrativa, procurando descrever o dia-a-dia de cada cultura pré-colonial que ocupou o Vale do Rio Pardo, "voltar" ao passado e acompanhá-Ia como se estivesse viva. Trata-se do resultado das pesquisas com os "documentos do solo", aliadas a estudos etno-históricos dos diversos povos indígenas e do meio ambiente, principalmente da flora e fauna regional. Nos dois últimos subcapítulos (5.4 e 5.5) são utilizados dados históricos para completar ou enriquecer a narrativa sobre os primeiros habitantes da área enfocada. É uma tentativa inédita, em termos de Brasil, de atingir o objetivo e a própria definição de Arqueologia, ou seja, a de reconstituir as culturas do passado através da análise e interpretação dos seus vestígios materiais.

Segunda parte da Tese de Doutorado defendida na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, ágosto de 1991.

··Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Antropológicas, Dep. de Biblioteconomia e História, Professor Titular das Disciplinas de Arqueologia e Pré-História do DBH-FURG; Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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o

capítulo seguinte refere-se às conclusões finais e sintetizadoras. O sétimo capítulo, também inédito na forma em que foi apresentado, é um exaustivo levantamento de todas as fontes naturais de alimentação disponíveis ao homem: plantas (frutos, tubérculos, raízes, caules, cogumelos), animais (mamíferos, répteis, peixes, moluscos, anfíbios, crustáceos, insetos) e derivados

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(OVOS, mel). Os dados foram obtidos através de fontes

bibliográficas e de entrevistas com vários especialistas e caçadores-pescadores, estes últimos do Vale do Rio Pardo.

O oitavo capítulo apresenta um glossário com termos aplicados na tese. A maioria deles não será encontrada no texto, uma vez que constam da primeira parte, já publicada. No entanto, tem validade porque, em primeiro lugar, não foi publicado anteriormente; em segundo lugar, por sua utilidade; em terceiro lugar, pelas mudanças propostas, incluindo termos inéditos. Trata-se do capítulo senão principal, um dos mais importantes da tese.

Finalmente, as referências bibliográficas, com 442 títulos, trata-se de uma completa fonte de consulta para estudos arqueológicos do sul do Brasil, particularmente das cinco grandes tradições culturais do seu período pré-colonial: Umbu, Vieira, Humaitá, Taquara e Tupiguarani. Além disso, apresenta uma bibliografia de várias ciências complementares à arqueológica, especialmente a histórica, a etno-histórica, a botânica e a zoológica.

5 -

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H IS T Ó R IA D O V A L E

Aqui será realizado um tipo de descrição que pela primeira vez acontece na arqueologia brasileira, ou seja, a reconstituição do processo histórico de ocupação de um vale. É um trabalho original onde será mostrada cada uma das culturas escalonadas no tempo. Além disso, serão abordados os problemas de contemporaneidade, de contatos e relação com o meio ambiente. Enfim, procurar-se-á apresentar cada uma das culturas, como se estivesse presente, atuando, não esquecendo as limitações que os vestígios (materiais) arqueológicos nos impõem.

O rio Pardo corre aproximadamente na direção norte-sul, unindo o planalto à planície, os campos e pinheirais com a Floresta Estacional Decidual e, poucos quilômetros ao sul, com o pampa. Parte de terrenos suaves, ondulados, passando por um relevo acidentado, montanhoso, chegando novamente a terrenos suaves. A paisagem é, portanto, variada. A encosta sul do Planalto Meridional torna-se, em decorrência do acima exposto, um ponto de encontro das culturas típicas de cada uma das duas áreas. Além de oferecer uma maior quantidade nas três fontes de obtenção de alimento diretamente da natureza, ou seja, a caça, a coleta e a pesca, é contígua ao planalto e à planície, proporcionando condições de exploração sem muitas dificuldades. Para os povos agrícolas, ela também ofereceu um mosaico de solos, entre os quais os melhores para o cultivo.

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BIBlOS. Rio Grande. 7:9-87. 1995.

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5 .1 - A s T rad içõ es U m b u e V ieira

Pelos dados de que dispomos, os primeiros povoadores do vale do rio Pardo foram os portadores do material definido como da Tradição Umbu, regionalmente denominada de fase Rio Pardinho. Vieram possivelmente do sudoeste do Estado e, acompanhando a encosta do planalto, alcançaram o vale em estudo. Outro movimento que realizaram foi para o norte (Alto Rio Paraná e afluentes) e para o sul, pelo pampa uruguaio-argentino e Patagônia argentino-chilena. Quando chegaram é uma dúvida que persiste. Acreditamos que a datação máxima obtida de 2920 anos AP. seja muito posterior à ocupação inicial. Se no vale contíguo do rio Taquari, ao leste, e no seguinte, o do rio Caí, a Tradição Umbu apresenta datações mais antigas de 10000 ou

11000 anos AP., além dos 11500 anos AP. da fase Uruguai, no sudoeste do Estado, por que o Vale do Rio Pardo ficaria fora desses períodos mais antigos? Da mesma forma, não foi encontrada uma ocupação anterior à Rio Pardinho, pelo menos na encosta do planalto, que ocasionasse um impedimento à sua penetração. Contra essa nossa hipótese está o fato de não registrarmos a ocorrência das típicas pontas do período 11ou da fase Umbu. As do período 1 poderiam ser confundidas com as do 111,lembrando que as nossas coleções são praticamente todas de locais perturbados pela lavração. Mas o mais provável é que não tenhamos encontrado ainda o local com evidências dos períodos mais antigos da tradição. A continuação das pesquisas na área, particularmente nos abrigos sob rocha e perfis estratigráficos de barrancos do rio Pardo, poderão nos levar à solução desse problema.

Se essa nossa hipótese em recuar a chegada do homem no Vale do Rio Pardo para o 11.0

milênio AP. estiver correta, a paisagem não terá sido a mesma de hoje. As florestas ocupavam uma área mais restrita. Esse fato, ao invés de invalidar, reforça a hipótese, porque a Umbu, pelos vestígios materiais de porte relativamente pequeno, demonstra ser tipicamente de ambiente aberto. Para tanto, veja-se a sua área de dispersão e seu instrumental. Foi, porém, a única tradição que ocupou todos os ambientes: florestas, submata e mata de pinhais, campos e vegetação litorânea. Mas foi a encosta sul do planalto no Rio Grande do Sul uma das áreas onde mais se adaptou, particularmente o vale em estudo, devido à quantidade de sítios e materiais. Não é possível ignorar-se, por outro lado, ter sido um dos vales mais intensamente pesquisados, dentre aqueles onde é detectada a presença da Tradição Umbu.

Escolheram-se as partes mais altas e planas dos locais elevados próximos aos cursos d'água dificilmente atingidos pelas cheias. Além da água, vital para a sua sobrevivência, aí obtinham os seixos, matéria-prima para a confecção dos seus instrumentos, e igualmente outras fontes de

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alimentaç~o, como a pesca e coleta de moluscos fluviais. Foram os únicos, a exemplo do que ocorreu no sudeste do Estado, a ocupar as áreas alagadiças ou os aterros denominados de cerritos. Provavelmente acompanhando esses cursos d'água, subiram ao planalto e assentaram-se junto a pequenos córregos. Os locais de ocupação são de dimensões

relativamente pequenas. Isso estaria a indicar pequenos grupos habitando os locais por muito tempo ou efêmeras ocupações de grandes grupos. Os abrigos sob rocha do vale dos rios Taquari, Caí e Sinos e suas características. dimensionais nos levam a optar pela primeira hipótese. O número poderia girar em torno de 10 famílias ou 30 a 40 indivíduos. Os cerritos poderiam também ser utilizados neste exemplo, não fosse sua proximidade com a área

circundante, mais alta e seca. Isso levaria os homens

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à exploração do banhado, em acampamentos temporários, enquanto permaneciam em um

relativamente fixo na parte alta próxima. Avançando um pouco mais, diríamos que essa exploração do ambiente de área alagadiça deveria ocorrer no verão, por duas razões fundamentais:

1 _ propicia uma melhor coleta de moluscos aquáticos,· de pesca (peixe, tartaruga, cágado) e de caça (rã, cuíca, guaiquica, irara, furão, ariranha e

jacaré);

2 _ No inverno existe uma grande possibilidade de ocorrência de cheias. Mamíferos aquáticos que procriam no verão, como a capivara, ratão-do-banhado, cutia, paca e preá, deveriam ser caçados em outras estações do ano. Sabemos que esse grupo era um caçador generalizado, isto é, além dos citados anteriormente, caçava uma gama bem variada de mamíferos (veado, anta, tatu, porco-do-mato, roedores, marsupiais, etc.), réptil (lagarto), pescavae coletava frutos (coquinho do gerivá), ovos (ema) e moluscos terrestres e aquáticos. Os ovos de ema e as bolas de boleadeira nos mostram que, mesmo quando ocupando ambiente florestal, continuavam a realizar incursões pelos campos.

Com seus arcos e flechas, lanças (azagaias), bolas de boleadeira e boleadeiras mamilares, praticavam a caça; com os primeiros instrumentos também pescavam. Ao que tudo indica, esses instrumentos eram produzidos no próprio sítio de habitação. Buscavam a matéria-prima junto aos cursos d'água. Aí mesmo faziam um desbastamento dos seixos, levando o restante para a aldeia. Esse trabalho preparatório era feito através de lascamento por percussão direta. Utilizavam outro seixo, previamente escolhido por suas propriedades (elipsóide, elipsóide alongado e mais ou menos pesado), para esse lascamento. Poderiam ou não apoiar esse núcleo sobre outra pedra no solo e então produzir o golpe para retirar as lascas preparatórias. Em cestos de peles transportavam esses núcleos para a aldeia. Ali completavam o trabalho. Numa segunda etapa utilizariam percutores de madeira ou osso compacto, duros (denominados macios comparativamente aos de pedra),

continuando os lascamentos ainda preparatórios. Muitos se fragmentavam e eram abandonados. Alguns chegavam a ter as formas desejadas, outros não. A última etapa consistia em obter não somente as formas, mas a função da peça. Para isso, retocavam-na com a extremidade distal de um chifre de veado ou em madeira dura com forma similar. Com pressões em uma ou em ambas as faces produziam microlascamentos ou retoques só encontrados nessa tradição cultural no sul do Brasil, nordeste da Argentina e Uruguai. Alguns instrumentos eram completados com matéria-prima obtida na mata. Como exemplo temos a madeira para arcos e lanças; a taquara, cipós e embiras para suas flechas e arcos; taquara ou madeira fina para encabar seus furadores, micro-raspadores ou raspadores pedunculados. A retirada dessa matéria-prima era realizada com talhadores ou machados semipolidos, completada com facas ou lascas. Com estes dois últimos instrumentos mais a pedra com entalhe, preparavam seus arcos, lanças e flechas, dando-Ihes um acabamento e uma melhor simetria. Num processo de adaptação, passaram a produzir alguns machados semipolidos, talhadores e picões, com certa raridade. Com estes conseguiam melhor desempenho no trabalho da madeira ou raIzes em ambiente florestal. Outros seixos eram escolhidos para serem polidos, quer como bolas de boleadeira, quer como lâminas de machado (semipolidas), ou ainda boleadeiras mamilares. Nas suas incursões para o sul, pela zona de campo, poderiam trazer junto rochas ricas em minério de ferro, fonte para as boleadeiras ou boleadeiras mamilares. Deslocavam-se até os paredões nas encostas dos morros, onde conseguiam o arenito para o polimento.

Depois dos preparativos, carregando seu arco, flechas, lança, boleadeira, os homens -partiam para a caça, não sem antes, provavelmente, realizar um ritual. Estesería promovido pelo xamã ou feiticeiro, em local previamente escolhido, distante da aldeia. Em bloco de arenito fixo no solo e com lascas de basalto ou calcedônia, friccionando-as na superfície mais ou menos plana do primeiro, não sabemos se previamente preparadas, produziam signos abstratos, geométricos. O que representam exatamente jamais conseguiremos saber. A exemplo do que acontece no resto do mundo, sua associação é com ritos de magia ou religião. Retiravam desses blocos ou dos paredões plaquetas onde também gravavam signos, antes preparando-as com alisamento. A diferença é que essas pedras gravadas poderiam ser transportadas. O representado, neste último caso, estaria acompanhando os indivíduos.

A caça era praticada durante todo o ano, porém a de mamíferos deveria ocorrer mais no inverno. No outono e inverno caçariam aves, e nas outras duas estações, rãs. A coleta de ovos de ema, devido à distância, seria também uma atividade masculina; a coleta do mel, realizada todo o ano, mas com maior intensidade na primavera, poderia ser praticada tanto pelo homem como pela mulher, dependendo da posição onde se encontrava a colméia.

BIBlOS, Rio Grande, 7:9-87, 1995. BIBLOS, Rio Grande, 7:9-87, 1995. 13

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Retornando da caçada, que poderia levar dias, pois chegavam a alcançar o litoral, iniciavam a preparação dos animais abatidos. Para retirar a pele, utilizavam facas, lascas retocadas ou simples lascas. Depois, coni raspadores, faziam a limpeza, a fim de utilizá-Ia como vestimenta, para construção de habitações (paredes ou coberturas), cestos, etc. Com furadores perfuravam esses couros e peles. Para uni-Ios, deveriam utilizar embiras, cipós ou tiras de couro, também preparadas com facas e lascas de pedra, costuradas com agulhas de osso. Após, retiradas ou não as vísceras, o animal era levado ao fogo. Uma vez em condições, repartiam-no e depois o consumiam. Nessas tarefas novamente utilizavam facas e lascas, preparadas ou não. A refeição poderia ser também um resultado da coleta, sendo esta praticada, normalmente, pelas mulheres e crianças. As fogueiras se caracterizam por pedras dispostas mais ou menos em círculo (só detectadas em abrigos sob rocha).

Com os ossos de alguns animais, especialmente mamíferos e aves, confeccionavam instrumentos como agulhas, retocadores, anzóis e objetos de adorno, como as contas-de-colar. Depois de recortados com lascas, eram alisados em arenito e .perfurados com furadores de pedra. Das conchas retiravam o ápice, alisavam-no da mesma forma que os ossos e o perfuravam. Numa fina tira de couro, embira ou fibra de tucum, introduziam as contas, confeccionando um colar. Também poderiam extrair os dentes de um canídeo ou de um macaco, alisar a raiz estreitando-a e depois perfurá-Ia: era mais uma peça de colar. Da extremidade do chifre de veado obtinham um excelente retocador.

A coleta era intensificada no verão, com frutos e moluscos aquáticos. Nas outras estações, buscariam raízes, tubérculos, gastrópodes terrestres e cogumelos (mais no outono e inverno); na primavera, teriam destaque o mel e ovos. Com seixos escolhidos por sua forma elipsoidal ou circular, utilizando as laterais por percussão, quebravam ou trituravam grãos, sementes, gastrópodes, etc, e com superfícies mais amplas das faces, por pressão, amassavam e moíamo Às vezes colocavam outra pedra, que servia de base para esse trabalho. Esta poderia apresentar uma depressão semiesférica, polida ou picoteada, que, no caso das sementes, facilitaria sua fratura. A pesca, atividade masculina, acontecia com maior ênfase no verão. Utilizavam redes feitas em fibras de tucum, embiras ou cipós e anzóis de osso para peixes; se pescavam lagostim e camarão de água doce, no inverno, necessitariam de redes. Para o preparo desses produtos também utilizavam raspadores, facas e lascas de pedra; na extração das raízes talvez utilizassem um picão ou talhador.

O alimento não deveria ser bem cozido, tanto animal como vegetal. A forte abrasão dentária, registrada em indivíduos encontrados em seus sepultamentos, confirmaria esta hipótese. Seus mortos eram enterrados em pouca profundidade e sem evidentes sinais de oferendas, porém obedecendo a uma posição ritual: flectido e em decúbito lateral.

Antes da chegada do guarani e após a ocupação por grupos de horticultores portadores da cultura material que denominamos de fase Erveiras na área alagadiça da encosta do planalto, isto é, antes de 450 anos AP., são encontrados vestígios da Tradição Vieira. A ocorrência da cerâmica indica que o grupo agora passa também a produzir alimento. Mantém o mesmo modo de vida anteriormente descrito para os caçadores pré-ceramistas, ou seja, a exploração do banhado, principalmente no verão. Por terem sido encontrados seus vestígios junto a uma área alagadiça, podemos inferir que tivessem um mesmo modo de vida de outras fases similares do Estado, particularmente as encontradas na área nuclear do sudeste do Rio Grande do Sul. O acréscimo na dieta alimentar seria obtido com algum tipo de cultivo.

A argila era recolhida do próprio banhado, levada

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à habitação, adicionada uma areia grossa e, pela técnica do acordelado ou do modelado,

a mulher partia para a confecção do vasilhame. Em alguns casos, com uma madeira mais ou menos pontiaguada, fazia duas perfurações na vasilha, uma justaposta à outra. Depois certamente deixava-a secando à sombra.

Finalmente a levava ao fogo feito na superfície do solo. Nas vasilhas com perfuração, introduziam uma tira de embira, cipó ou couro, e transportavam a água para a aldeia. As demais serviriam para o cozimento dos alimentos e algumas como recipientes ou pratos. Para o transporte de água e como recipientes, deveriam usar o couro ou os porongos, antes de adotarem a cerâmica.

Nas festas e rituais poderiam pintar-se ou desenhar, utilizando matéria corante extraída de lateritas. A cor fundamental era o vermelho, com tonalidades, seguida de longe pelo amarelo. Extraíam a matéria-prima em forma de pó, friccionando com o bordo fino de uma pedra ou extremidade agUçada de um osso, madeira ou concha. Para fixação da pintura, deveriam adicionar água, gordura vegetal ou animal.

O abandono de um local deveria ocorrer em caso de crise, como uma mudança climática ou a invasão por parte de outro grupo, por exemplo. Caso contrário, permaneceriam indefinidamente, deslocando-se apenas em movimentos sazonais. O número estimado de membros em cada aldeia ou sítio arqueológico permitiria a sobrevivência com aquilo que a natureza Ihes oferecia. Os caçadores-coletores-pescadores, responsáveis pelo material que caracteriza a fase Rio Pardinho, subiram ao planalto e parece terem entrado em contato com o grupo que lá vivia, o da fase Pinhal. Temos indícios de que POderia ter havido um certo comércio, ou seja, a Pinhal obteve instrumental da Rio Pardinho (ponta-de-projétil, bola de boleadeira) e vice-versa (pequenos talhadores bifaciais, picão). Quanto à tecnologia, os caçadores-coletores, Portadores da ergologia da fase Pinhal, não assimilaram o lascamento por pressão nem o uso de percutores macios; como o lascamento por percussão

14 BIBLOS, Rio Grande, 7:9-87, 1995. BIBLOS. Rio Grande. 7:9-87, 1995.

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é condição prévia para o uso da pressão, torna-se praticamente impossível a constatação de um empréstimo tecnológico da Pinhal para a Rio Pardinho. Sabemos também que os pré-ceramistas que confeccionaram os instrumentos da fase Pinhal desceram o planalto, ocupando inclusive locais anteriormente habitados pelos caçadores da fase Rio Pardinho. As datações para esta última fase apontam 2920 e 1425 anos AP. Logo, a Pinhal deve

ter surgido posteriormente

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à última das datas, isto é, em torno de 1400 anos AP. O que acreditamos é que em vários momentos houve contatos entre os

ocupantes das duas áreas.

O que aconteceu com esses caçadores-coletores-pescadores? A sobreposição pelas fases Pinhal, Erveiras e da Tradição Tupiguarani de alguns locais ocupados pela fase Rio Pardinho parece indicar um abandono da área por estes.

Por que e quando abandonaram o vale do rio Pardo? Para onde foram? A gradativa expansão da Tradição Humaitá e principalmente da Taquara parece ser a resposta. Isso ocorreu em outros vales ao leste (Taquari, Caí e Sinos) e o mesmo deve ter acontecido no Pardo. A época seria ao redor dos 1400 anos AP., com a ocupação da encosta do planalto pela fase Pinhal e posteriormente a Erveiras. Possivelmente a fase Rio Pardinho recuou para as zonas de campo, ao sul, onde a História (portugueses e espanhóis) a surpreende com o nome de charruas, minuanos, etc. Com a chegada do guarani, só teríamos, então, em área alagadiça, a Vieira. Esta poderia ter sido contemporânea da Tupiguarani, isto é, ter

alcançado ou se aproximado dos 450 anos AP.

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5 .2 - A s T rad içõ es H u m aitá e T aq u ara

Por volta de 3000 anos AP., fixam-se no alto e médio rio Pardo os caçadores-coletores-pescadores da Tradição Humaitá, regionalmente denominada de fase Pinhal. Acreditamos que essa datação possa ser recuada pelo menos até o "ótimo Climático", ou em torno de 6500 anos AP. Naturalmente, neste caso, a ergologia deverá ser distinta da Pinhal. Essa hipótese baseia-se no que ocorre no nordeste do Rio Grande do Sul, onde a Tradição Humaitá apresenta datações de até 6620 anos AP., fase Antas, e com material litico lascado diferente das fases subseqüentes. No Alto Rio Uruguai, divisa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a Humaitá, no Complexo Alto-paranaense de Itapiranga, possui idades, apesar de não serem muito seguras de pertencer a ele, de 640 a 2020 anos a mais do que aquela anteriormente citada. Com o avanço das formações florestais, esse grupo se expandia, pois já estava adaptado a elas. Realizava expedições à

zona de campo, particularmente quando se encontrava na encosta do planalto. Não sabemos sua origem, mas a área que os portadores do material

16 BIBLOS. Rio Grande. 7:9-87. 1995.

classificado como da Tradição Humaitá ocuparam foi a do planalto sul-brasileiro, incluindo a encosta do planalto e litoral no Rio Grande do Sul, e ainda na direção oeste, até o rio Paraná, divisa da Argentina e Paraguai. Exclusivamente como ceramistas, ocuparam ainda o litoral de Santa Catarina e Paraná.

Os locais preferenciais para habitação foram as partes altas mais ou menos planas ou as encostas, ambas junto a açudes ou pequenos cursos d'água. Essa tendência é observada tanto no momento pré-cerâmico como no cerâmico. A área de alguns sítios, tanto da Pinhal como da Erveiras, é maior do que a dos sítios da fase Rio Pardinho. A forma das habitações, em geral em número de uma ou duas, era circular. O fogo, no seu interior, servia para a preparação de alimentos e aquecimento. Como quase nada é encontrado nessas manchas de terra preta, indicativas das casas, mas sim fora, aí deveriam se desenvolver as outras atividades (confecção da cerâmica, do litico, da cestaria, etc.). Outros sítios são bem menores e com pouco material. Não sabemos se os sítios maiores e menores representam uma sincronia ou diacronia. Isso nos leva a duas hipóteses:

1 - No caso de serem sincrônicos, haveria um local principal, de ocupação relativamente sedentária (sítios maiores), com acampamentos satélites (sítios menores) de coleta, caça e pesca, provavelmente sazonais;

2 - Se diacrônicos, teríamos a evolução de uma pequena para uma maior concentração populacional, em torno de 30 até 100 indivíduos. Para explicar a primeira hipótese, diríamos que um grupo que baseia a subsistência na coleta, caça, pesca e posteriormente na horticultura obriga-se a deslocamentos contínuos. A ocupação de abrigos sob rocha na encosta do planalto no Rio Grande do Sul, principalmente no período cerâmico, reforça essa hipótese. Na segunda hipótese, teria havido uma melhor adaptação ao meio ambiente: aumenta o material litico polido (lâminas de machado, mãos-de-pilão), surge a cerâmica e, por volta de 900 anos AP., um testemunho incontestável do domínio sobre a natureza - as casas subterrâneas.

Não podemos esquecer a hipótese de que alguns sítios pré-cerâmicos sejam contemporâneos ou até posteriores aos cerâmicas. Isso s-e explicaria de duas maneiras:

1 - Alguns sítios pré-cerâmicos terem sido acampamentos de caça, mormente os com pouco material;

2 - Nem toda a fase Pinhal ter adquirido a cerâmica. No último exemplo verificamos inclusive como subtítulo em Mabilde, que: "25.02 - A cerâmica encontrada no Rio Grande do Sul era de botocudos e guaranis - não de coroados" (MABILDE, 1983, p.209). Suas observações, quando prisioneiro dos coroados, em 1836-1838, são feitas no município de Santa Cruz do Sul, portanto dentro da nossa área de pesquisa. Isso viria ao encontro daquela

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hipótese. Não podemos esquecer que o grupo, em períodos históricos e conseqüentemente com o avanço do branco, poderia abandonar a horticultura e a cerâmica devido às suas correrias. Essa crise poderia ter sido provocada pelo próprio contato com o colonizador. Também convém frisar que, por serem grupos já contactados, as observações apresentadas devem ser vistas

com alguma reserva.

A matéria-prima era obtida nos cursos d'água maiores, onde se formam os seixos. Nesse caso, tinham que realizar longas caminhadas e o transporte deveria ser feito em cestos, suportados por embiras ou cipós. Outra fonte eram os afloramentos de basalto diaclasado ou colunar para lascar, e os de arenito para polir. Na aldeia, com outro seixo alongado ou esférico, em lascamentos por percussão, obtinham seus instrumentos lascados, principalmente os talhadores e raspadores. Esses seixos são, na sua maioria, em basalto. Com lascas dos seixos em calcedônia, cortavam e também raspavam. Algumas, ainda, para a mesma função, sofriam um trabalho preparatório de retoques, mas sempre por percussão direta. Como na fase Rio Pardinho, alguns núcleos eram apoiados noutro, no solo, e então sofriam o golpe para a obtenção de lascas ou o preparo da peça. Com as plaquetas de arenito, alisavam ou poliam lâminas de machado, mãos-de-pilão, tembetás. Outros seixos não sofriam trabalho algum e eram assim utilizados. O que se observa é a escolha de formas elipsoidais e circulares para batedores-trituradores.

Na floresta ou na borda da mesma era obtido o complemento dos instrumentos: os cabos de madeira para talhadores, lâminas de machado lascadas e polidas, a madeira para os arcos e as taquaras para as flechas. A extremidade destas era feita de ossos de animais ou madeira, alisada previamente, provavelmente com um arenito. Esta era presa na flecha com alguma fibra de tucum ou embira, as mesmas utilizadas nos arcos. Para obter essa matéria-prima vegetal, os instrumentos seriam os talhadores e lascas.

As caçadas, atividade eminentemente masculina, eram realizadas o ano inteiro. A distribuição, ao longo do ano, seria a mesma da fase Rio Pardinho: os mamíferos eram caçados mais no inverno; no outono-inverno seriam as aves, e na primavera-verão, rãs. Para pescar, deveriam realizar deslocamentos para os dois rios principais da região ou para o arroio Francisco Alves. De volta da caçada ou pescaria, iniciavam a preparação do animal ou peixe para sua utilização. Retiravam a pele com uma faca de pedra, preparavam-na, limpando-a com raspadores e lascas. Deveriam utilizá-Ia como agasalho para se cobrirem. Com um talhador, poderiam retalhar o animal e colocá-lo ao fogo. Depois o consumiam, acompanhado ou não de outro alimento ou talvez de uma bebida, ambos produtos da coleta. Com os ossos confeccionavam pontas-de-projétil, agulhas, pontas, etc. Com os dentes de macacos, canídeos, felinos, etc., alisados na raiz e depois

perfurados, obtinham contas-de-colar.

No outono e inverno deveriam conseguir um dos alimentos mais lillportantes, mesmo no período cerâmico: o pinhão. Este era consumido diretamente assado no borralho, cozido ou como farinha, triturado nos pilões com as mãos-de-pilão ou com os batedores-trituradores. Além disso, tinham a caça de mamíferos e aves que também se alimentam da semente da araucária. Em outras áreas, foram encontrados virotes, peças utilizadas na extremidade das flechas com a finalidade de derrubar ou abrir as pinhas. Essa atividade deveria ser masculina, ao passo que as demais formas de coleta seriam das mulheres e das crianças. As raízes eram extraídas com talhadores com pontas e preparadas, no acampamento, com raspadores e facas de pedra. A forma de utilizar os batedores-trituradores no preparo dos alimentos era a seguinte: com as laterais, por percussão, quebravam os grãos, sementes, raízes, etc., e com as duas superfícies mais ou menos planas, por pressão, completavam o trabalho inicial, moendo-os.

Com relação à forma de sepultamento, comparativamente com outras regiões do Estado, sabemos que colocavam o indivíduo no solo, em decúbito dorsal, estendido, braços ao lado do corpo, e o cobriam com terra e pedras. A forte abrasão dentária, observada em sepultamento desse grupo, em outras áreas, indica o consumo de alimentos relativamente duros, mal cozidos.

Os únicos indícios que temos de possíveis rituais prendem-se ao zoólito e ao tembetá. Nas depressões que os zoólitos apresentam, poderiam ser colocados pós narcotizantes ou tinturas ou algum líquido, todos utilizados pelo feiticeiro com finalidade ritual-religiosa. Hipoteticamente, no primeiro caso seria para entrar em contato com o mundo dos espíritos ou realizar curas espirituais e corporais. No exemplo de tintura, extraída das matérias corantes, raspando-as em forma de pó e adicionando água, gordura vegetal ou animal para fixação, o objetivo deveria ser o de pintura corporal. O líquido antes mencionado poderia ser usado para curas (plantas medicinais) ou utilizando plantas (venenosas) específicas para a preparação de instrumentos de caça ou de guerra. A colocação do tembetá era geralmente vinculada a rito de passagem do indivíduo do sexo masculino, de jovem para adulto ou guerreiro.

Outro importante alimento, produto da coleta, era o mel de abelha do mato. Deveria ser transportado para a aldeia em recipientes de cerâmica ou cestos forrados com a própria cera das colméias. A pesca no planalto não deveria se constituir em atividade importante, por falta de local, Isso se modificava quando se deslocassem para a encosta do planalto ou outro ambiente propício.

Eram caçadores generalizados, com uma alimentação relativamente variada de caça, pesca e coleta, praticamente a mesma da Rio Pardinho, no

que se refere às duas primeiras. O que diferenciava as duas tradições do

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planalto da fase Rio Pardinho era o grau de utilização das fontes de alimentação. Enquanto na Rio Pardinho a caça e a coleta de moluscos era a mais importante, para a Pinhal-Erveiras seria a coleta, destacando-se a do pinhão. "A caça e a pesca parece que desempenharam um papel secundário para os índios do planalto" (MABILDE, 1983, p.123 e 125).

Em torno de 1000 anos AP. surge a cerâmica, indicativo da domesticação de plantas. Se já possuíam algum tipo de cultivo antes dessa conquista, fato discutido por alguns pesquisadores, não sabemos. A argila era obtida pelas mulheres, nos banhados junto ou próximo às aldeias, nos açudes ou pequenas várzeas, respectivamente. Depois, trituravam algum seixo de calcedônia ou, mais especificamente, de quartzo, e misturavam com aquela argila. Também poderiam utilizar areia recolhida em alguns arroios. Após, modelando em cestos de fibras de taquara, embira ou cipó, ou ainda usando a técnica do acordelado, confeccionavam suas vasilhas. Na primeira, técnica, complementando-a, faziam placas de argila que eram aplicadas à vasilha modelada que se formava. A inspiração das formas parece que buscaram em porongos ou cabaças. Com a argila ainda úmida e usando estiletes de madeira, produziam vários tipos de decoração ponteada ou incisa; com a extremidade do dedo, unha, beliscando, com uma corda, malha ou extremidade de objeto cilíndrico vazado (vegetal ou osso), ou ainda o modelado no interior de cestos, depois colocado no fogo, obtinham mais formas de ornamentar seus vasilhames. Às vezes a decoração não cobria toda a superfície da vasilha, mas apenas zonas dela. Finalmente, outras não sofriam qualquer tipo de ornamento, apenas alisamento, este com um seixo ou uma lasca de taquara. Depois de deixá-Ias secar, eram colocadas ao fogo. Os movimentos migratórios deveriam ser intensos, uma vez que o solo no planalto era razoavelmente fértil para a horticultura, e a erosão forte.

Na floresta coletavam taquaras, cipós, fibras de folhas de palmáceas (tucum) e embiras. Nas aldeias esses materiais eram preparados e confeccionados cestos, utilizando várias técnicas. Estes deveriam ser os recipientes para o transporte e acondicionamento do produto da coleta de frutos, raizes, do cultivo, etc. A água era trazida para as habitações em vasilhas de cerâmica. Através dos talhadores, machados lascados, polidos e semipolidos, derrubavam árvores e preparavam o terreno para cultivo ou para construir suas aldeias. Nas roças, praticavam um cultivo incipiente de milho, mandioca, abóbora, batata-doce, amendoim, etc., sendo as duas primeiras plantas as mais importantes (Serrano, 1957, p.175).

O material lascado é praticamente o mesmo nos períodos pré-cerâmico e cerâmico, isto é, continuam utilizando a mesma técnica da percussão direta e indireta. Aumenta a tipologia do polido, antes representado provavelmente pelo zoólito e agora pelo' machado e mão-de-pilão.

20 BIBLOS, Rio Grande, 7:9-67,1995.

Não sabemos como procediam com os mortos, na fase Pinhal. Os responsáveis pelo material da fase Erveiras colocavam os mortos estendidos, braços junto ao corpo, em decúbito dorsal e cobertos com terra e pedras.

Como aconteceu em outras áreas do planalto, no vale do rio Pardo os portadores da cerâmica da fase Erveiras, da Tradição Taquara, também constroem casas subterrâneas. Mais ou menos 900 anos AP" com seus toscos instrumentos de pedra e madeira, escavavam o solo argiloso e permeável, em forma de poço. Depois, com troncos, galhos e folhas de palmeira ou capim comprido, faziam a cobertura. As amarrações seriam com cipós ou ernbiras. As casas subterrâneas deveriam ser usadas somente em perlodos de baixas temperaturas, Quando ocorria o contrário, construíam casas com troncos e galhos, preenchidos e cobertos com folhas de palmeira. O material de construção era retirado da floresta, e para obtê-Io utilizavam novamente seus talhadores, machados lascados e polidos e lascas,

Abordamos anteriormente a ignorância sobre a maneira como foram realizados os possíveis contatos da fase Pinhal com a Rio Pardinho. Diríamos que mantiveram, inicialmente, uma convivência pacífica por um largo período. Vestrgios de uma aparecem na área da outra, ao que tudo indica, num momento. O problema pode ter ocorrido quando, por volta de 3000 anos AP., houve uma oscilação climática, marcada por um período seco, Isso ocasionaria uma retração dos ambientes fechados, com uma conseqüente diminuição das fontes de alimentação. Esse fato poderia levar a uma disputa de território. Quando do aumento da umidade-floresta, os portadores da ergologia das fases Pinhal e Erveiras eram beneficiados e provavelmente avançavam; quando ocorria o contrário, os confeccionadores do material da fase Rio Pardinho não se ressentiam, pois os ambientes abertos eram seu habitat. Resumindo: até 6000 anos AP., o predomínio deveria ter sido da fase Rio Pardinho; entre 6000 e 3000 anos AP., a expansão seria dos grupos portadores do material da fase Erveiras, na encosta do planalto. Entre 1500 e 450 anos AP" mais próximo da última data, tivemos uma rápida incursão, na area alagadiça da encosta do planalto, dos responsáveis pelo material atribuído à Tradição Vieira ..

A partir do surgimento do material da fase Botucaraí da Tradição Tupiguarani, na encosta do planalto (450 anos AP.), os detentores da ergologia da fase Erveiras passam a ficar restritos ao planalto. Pouco mais de 100 anos depois, por razões ainda ignoradas, os portadores do material da fase Botucaraí ascendem ao planalto e entram num processo de aculturação com a Erveiras. O grupo responsável pelos instrumentos desta última, no planalto, mantém-se isolado por mais tempo do que os demais _ o guarani na encosta, bem como a fase Umbu, no campo - dos euro-brasileiros colonizadores. A razão é simples: sua área foi a última a ser oCupada. À medida que a colonização alienígena vai avançando, eles vão

BIBlOS, Rio Grande, 7:9-67, 1995.

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(8)

sendo exterminados, caçados como animais

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1. Os sobreviventes afastam-se

cada vez mais na direção do noroeste do Estado. A criação do então Serviço de Proteção ao Indio (SPI), no início do século, faz com que este grupo sé mantenha até hoje com o nome de Kaigang, nas reservas ou toldo do Alto Uruguai.

5.3 -

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A T rad ição T u p ig u aran i

Aproximadamente na época do descobrimento do Brasil, surgem no Médio Rio Pardo os portadores do material da fase Botucaraí, da Tradição Tupiguarani ou Subtradição Guarani. Vieram provavelmente do médio Jacuí. Sua origem parece ter sido a Amazônia, vindo pela bacia do Madeira-Guaporé, atingindo o rio Paraquai e daí o alto rio Paraná. Nesta última área existem datações em torno do nascimento de Cristo; no Rio Grande do Sul, incluindo o vale do Jacuí, elas margeiam os 400 anos D.C. Os sítios estiveram assentados inicialmente na várzea do rio. Após foram para os locais mais elevados da mesopotâmia dos rios Pardo e Pardinho; em movimentos ou deslocamentos, seguiram até o Jacuí, próximo à cidade de Rio Pardo, subiram o Pardinho até a altura de Santa Cruz do Sul e finalmente subiram o rio Pardo até o planalto. Na várzea do rio deveriam permanecer por um período relativamente mais extenso, porque, além da fertilidade do solo (Vila), não há problemas de erosão. O contrário acontece quando passaram a ocupar os outros solos, menos férteis e suscetíveis de (forte) erosão. Isso significa que no primeiro caso os movimentos migratórios eram demorados, e no segundo deveria acontecer maior rapidez nas mudanças de habitação. Neste último momento ou bem próximo a ele, entraram em contato com os jesuítas espanhóis, em 1633-1634: são as missões de São Joaquim, Jesus Maria e São Cristóvão. Não sabemos se a primeira delas foi composta por um grupo de guaranis. Por volta de 1600 da nossa era, outro grupo guarani ocupa o médio rio Pardinho, sendo o responsável pela ergologia da Trombudo. Ficaram restritos ao vale, com movimentos da calha do rio para os morros mais próximos e vice-versa. Mantiveram também contatos com os jesuítas espanhóis, porém não chegaram a ser aldeados. Parece que no final

dirigiram-se ao Alto Rio Pardinho.

Excetuando a ocupação da fase Botucaraí, no final do seu período, no planalto, ambiente da submata de pinhais, a Tupiguarani se caracterizou pelo ambiente da Floresta Estacional Decidual da encosta do planalto. Quando vieram para a região, a paisagem era a mesma de hoje.

1Veja depoimento em Mentz Ribeiro & Silveira, 1979, p.41.

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O que aconteceu com os guaranis, aos quais a Etno-história denomina de Tape? Com a invasão do bandeirante paulista, alguns foram levados como escravos, outros acompanharam os padres na direção do Médio Rio Uruguai, outros ainda foram mortos nos combates que se travaram e os demais devem ter se dispersado.

Os locais escolhidos pelo grupo que confeccionou os instrumentos da fase Botucaraí, num primeiro momento, eram passíveis de serem atingidos pelas cheias de inverno. Mas a fertilidade e disposição do solo, a proximidade da principal fonte de matéria-prima, da pesca e coleta de moluscos aquáticos deveriam compensar aquele problema. Os responsáveis pelo material atribuído à fase Trombudo, com exceção de um sítio na várzea, ocupam lugares inatingíveis pelas enchentes, quando se aproximam do rio. O comportamento é idêntico ao do grupo portador do instrumental da fase Botucaraí. Com os seixos rolados, confeccionavam a grande maioria dos seus instrumentos, polidos (lâminas de machado, placas peitorais, bola de boleadeira - os tembetás de cristal de rocha ou quartzo leitoso obteriam mais facilmente nos patamares fluviais no ou próximo ao alto rio), lascados (talhadores, lascas utilizadas como facas ou raspadores) e utilizados (batedores-trituradores, alisadores). Excepcionalmente, com um seixo apropriado, confeccionariam alguma mão-de-pilão. A laterita ou matéria corante de origem mineral não apresenta um local determinado, podendo ocorrer em qualquer parte, rolada, proveniente do médio e baixo rio (encosta do planalto) - em outras palavras, locais de grande lixiviação. Buscavam os arenitos na encosta e parte inferior dos morros que circundam as várzeas dos cursos d'água mais importantes. Transportavam todo esse material em cestos ou sacolas de pele para suas habitações ou aldeias, e aí preparavam seus impternentos. O arenito servia para poli-Ios ou alisá-Ios, deixando superfícies planas ou levemente côncavas. Já as pontas-de-projétil, furadores, agulhas e os tembetás deixavam uma canaleta em forma de "U". Para perfurar as placas peitorais de basalto utilizariam arenitos com a extremidade aguçada e movimentos de rotação. Talvez adicionassem um pouco de áqua para facilitar as tarefas. Para lascar, utilizavam tão-somente a técnica por percussão. Com outro seixo, realizavam escassos lascamentos, para produzir seus taihadores toscos, provavelmente nas fontes de matéria-prima e não nas aldeias. As lascas, que iriam servir para cortar, raspar, perfurar, eram obtidas na própria aldeia. Junto ao curso d'água escolhiam um ou vários núcleos de calcedônia, colocavam-nos num cesto de pele ou tecido, ou ainda numa sacola, e os transportavam à habitação. Aí, com o núcleo apoiado ou não em outro, por percussão direta, conseguiam as lascas necessárias para as suas tarefas. Foram os mais atrasados na tecnologia do lascamento. Buscavam a argila para a confecção dos seus vasilhames e cachimbos em locais afastados do rio, distantes em torno de um quilômetro. Essas fontes,

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compostas de tabatingas apropriadas para recipientes impermeáveis (atualmente usadas para telhas), estão nas baixadas, entre os morros ou nas suas encostas. Encontram-se a uns 50cm abaixo do solo negro, húmico, de deposição recente, e chegam a ter em média dois metros de espessura; sob a argila ocorrem os cascalhos ou seixos. A argila existente junto ao rio apresenta muitas impurezas (areia, vegetais em decomposição), e não é impermeável, sendo atualmente própria para tijolos. Em outros locais mais afastados dos cursos d'água, a argila mais superficial é a que, contendo mais impurezas, é utilizada para a obtenção de tijolos; a mais profunda, composta quase que exclusivamente de argila, é a usada para vasilhames e telhas.

Na aldeia, as mulheres iniciavam a preparação da pasta para a confecção dos vasilhames (panelas, tigelas, pratos e urnas). Buscavam um pouco de areia junto ao rio ou arroio, misturando-a com a argila. Depois faziam roletes, antes preparando uma base circular. A partir desta iam sobrepondo roletes, um sobre o outro ou em espiral, até concluir a vasilha. Simultaneamente deveriam realizar pressões com os dedos para unir melhor os roletes. Após, davam um banho de argila úmida e, com um seixo ou lado externo de um fragmento de taquara, iam alisando a superfície. Em caso de decoração plástica, aplicavam-na imediatamente sobre a superfície ainda úmida do vasilhame. Essa decoração poderia ser com pressões rítmicas com a extremidade do dedo no sentido vertical, ou com a extremidade de unha, em geral na vertical com um sabugo de milho (somente na Trombudo), etc. Depois deixavam a vasilha secando na sombra. Em alguns casos também a pintavam antes de levar ao fogo. Buscavam alguns moluscos, retiravam sua casca, triturando-a, moendo-a, transformando-a em pó ou quase, obtendo então a cor branca. Conseguiam fragmentos de laterita e, friccionando-os ou raspando-os com uma lasca de basalto ou calcedênia, ou ainda moendo-os, transformavam-nos também em pó, conseguindo a cor vermelho-amarelada. Colocada cada vasilha em uma cabaça ou recipiente de cerâmica, era adicionada água ou alguma gordura animal ou vegetal. Primeiramente aplicavam o branco, externa ou internamente (raramente em ambas as faces), em forma de um engobo; após a secagem, com um estilete de taquara, a extremidade da pena de uma ave ou outra qualquer, faziam os desenhos geométricos. Às vezes aplicavam o vermelho diretamente sobre a superfície cerâmica. As faixas pintadas mais largas do lábio, das dobras, poderiam aplicar com os dedos. Ocorrem alguns casos em que a artesã deixava a marca dos seus dedos na superfície da vasilha, propositadamente, em traços mais ou menos alongados.

Os cachimbos eram produzidos a partir da técnica do modelado. Utilizando um objeto de madeira mais ou menos cilíndrico e pontiagudo, faziam o orifício de penetração da taquara que funcionaria como porta-boquilha. Alguns modelos, cênicos, dispensavam a taquara, pois seu próprio formato os completava.

24

BIBLOS, Rio Grande, 7:9-87, 1995.

Na mata, com machados e lascas de pedra, os homens conseguiam a madeira, taquara, cipó e embira para confeccionar seus arcos e flechas, cabos dos, machados e outros instrumentos. Estes eram trabalhados na aldeia: com lascas alisavam os arcos e as taquaras, cortavam os ossos e a madeira para as pontas das flechas, furadores, agulhas; as embiras serviam para prender as lâminas dos machados nos cabos e as pontas nas taquaras. Com embira ou fibra de tucum, preparavam a corda do arco. Com estas mesmas lascas, cortavam e perfuravam as contas-de-colar de concha e alisavam-nas com plaquetas de arenito. Não temos certeza se, com as bolas de boleadeira, incursionaram pelos campos além do Jacuí para caçar, utilizando-as como os caçadores da Rio Pardinho.

O material arqueológico das diversas fases da Tradição Tupiguarani sugere que os grupos que o fabricavam eram caçadores, coletores, pescadores e horticultores. A caça, a exemplo das tradições anteriores, era generalizada: cervídeos, suídeos, capivaras, antas, ratões-do-banhado, gatos-da-mato, bugios, lagartos, tatus, jacarés, etc. No inverno, os homens

caçariam mamíferos; no outono-inverno, aves, incluindo incursões

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à zona de campo utilizando boleadeiras; no verão, pescariam, além de peixe, tartaruga,

lagostim e camarão de água doce. Para estas últimas tarefas, poderiam utilizar redes confeccionadas com fios de algodão, cipós, fibras de palmeiras ou embiras. O algodão era resultado das suas plantações. Preparado, fiado e tecido pelas mulheres, poderia ser pintado ou não, utilizando tinturas vegetais ou minerais, normalmente em vermelho. Para pescar, usariam caniços de taquara, fio de algodão e, na extremidade, anzol de osso. Também pescavam com flechas e lanças especiais, em madeira farpada. Através da Etno-história sabemos que os tupis e guaranis utilizavam ainda outras técnicas para a apreensão de peixes, como cestos cênicos que funcionam como armadilhas, ou por meio de represas, etc.

A coleta de mel e a caça à rã, dependendo da posição da colméia e da extensão e características do banhado, tanto poderiam ser atividades masculinas como femininas. O transporte de mel seria feito em vasilhames de cerâmica ou cestos impermeabilizados com a própria cera da colméia, ou ainda em cabaças. Aliás, o transporte do produto da caça, pesca e especialmente da coleta e do cultivo se daria em cestos de casca de taquara, cipó ou fibra de palmeira.

As mulheres, no verão, coletariam frutos e moluscos aquáticos; na primavera, ovos, e durante todo o ano, raízes, tubérculos, gastrópodes terrestres e cogumelos. Para extrair as raízes e tubérculos, teriam à di~~oSição os talhadores ou os machados. O transporte do resultado dessa atividade também deveria ser feito em cestos.

. Todo o grupo ou apenas os homens se deslocariam em canoas feitas de troncos ou cascas de árvores, até o litoral. De lá traziam conchas

BIBLOS, Rio Grande, 7:9-87, 1995.

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para serem usadas basicamente como enfeite (conta-de-colar ou pingente). Estas canoas seriam trabalhadas quase que exclusivamente com machados. Alguns, se colocada a parte mais larga da lâmina perpendicularmente ao cabo, funcionariam como enxó, instrumento de melhor utilidade para a tarefa de desbastar a madeira. Os remos eram obtidos na mata, de uma madeira que deveria ser especial, cortada com machados e alisada-raspada com lasca de calcedônia ou arenito metamorfizado.

Os guaranis do vale do rio Pardo também produziam alimento em suas roças. Com machados derrubavam árvores e preparavam o terreno. Plantavam milho, mandioca, amendoim, feijão, abóboras (cucurbitáceas), batata-doce, fumo, etc. (dados etno-históricos, exceto quanto ao fumo). As formas cônicas das vasilhas indicariam o preparo dos alimentos e bebidas a partir do milho.

Com a finalidade de triturar, moer os grãos, sementes ou raizes, utilizavam os batedores-trituradores ou as mãos-de-pilão. Estas últimas eram, na quase totalidade das vezes, de madeira, assim como o pilão. O milho e a mandioca, seus principais alimentos cultivados, transformados em farinha, serviam para a confecção de pães, bolos ou bebidas. O alimento em si era consumido cru ou mal cozido. Para cozinhar, consumir e guardar o alimento ou a água, utilizavam vasilhames cerâmicos específicos: panelas e pratos, respectivamente, para a primeira e segunda tarefa, e tigelas e urnas ou talhas para a terceira. Praticavam também o canibalismo com finalidade ritual. O prisioneiro poderia ser um indivíduo portador do material da fase Efveiras ou da Vieira. Acontece que o sítio com ossos humanos associados com os de outros animais encontra-se entre os mais antigos do grupo responsável pelo material da fase Botucaraí, no vale, e os fabricantes dos implementos daquelas duas fases eram os únicos que poderiam estar na área, naquele momento.

Nas grandes vasilhas ou urnas, além de as utilizarem para sepultamentos preparavam suas bebidas fermentadas. Quando morria um indivíduo, nas fases Botucaraí e Trombudo, enterravam-no diretamente no solo, deixando que se decompusesse. Após um certo tempo, retiravam os ossos (ou alguns ossos), colocavam-nos nessa talha ou urna, cobriam-na com outra e então a enterravam. É o denominado enterramento secundário, isto é, não sepultavam diretamente nas urnas, o que seria enterro do tipo primário. Não sabemos como procediam com os mortos os portadores da cerâmica classificada como Canhadão.

Os cachimbos poderiam ser usados não só para fumar, mas também e· principalmente em rituais ou em magia. Sabe-se que os pajés ainda utilizavam a fumaça dos seus cachimbos ou folhas de tabaco enroladas, especialmente nos rituais de cura de enfermidades corporais e espirituais.

26 BIBLOS, Rio Grande, 7:9-87, 1995.

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BIBliOTECA

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Humanas e EdlJc~

da UFA".

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Suas casas tinham a forma circular ou elíptica. Deveriam ser construídas com troncos e galhos e preenchidos os espaços e o telhado com folhas de palmeiras ou um capim alto do tipo "santa-fé" ou "cola-de-burro". No seu interior, cozinhaVa/li e consumiam os alimentos. Quando se deslocavam, abandonavam quase todos os seus pertences dentro das casas. Ao contrário do grupo que responde pelo material das fases Pinhal e Erveiras, na Subtradição Guarani a grande maioria dos vestígios encontra-se no interior das casas. Quanto aos portadores da cerâmica da fase Trombudo, vestígios encontrados indicam que o tamanho do grupo se mantém estável, e com os responsáveis pela ergologia da Canhadão parece que acontece o mesmo. Já na Botucaraí assiste'-se a uma diminuição 'das áreas de ocupação habitacional. A aldeia dessa fase poderia ter, nos momentos iniciais,' entre 200 e 300 indivíduos. No final, quando da chegada do jesuíta espanhol, o número diminuiria para 30 ou 50.

O que se observa na fase Botucaraí, dos períodos mais antigos para os mais recentes, é uma decadêneia tecnológica' na cerâmica (mau tratamento de superfície) e o quase desaparecimento do lítico polido de melhor confecção (tembetás, placas peitorais). A Trombudo, quando chegou

à região, já apresentava esse retrocesso da tecnologia.

As incursões dos bandeirantes de São Paulo, em busca de escravos para as lavouras do sudeste enordests do país, fizeram com que alguns indígenas fossem levados para essa finalidade; outros acompanharam os padres na direção do rio Uruguai; uns foram mortos nos combates que se travaram e um outro grupo teria se dispersado. A fase Canhadão poderia representar:

1 - Estes indígenas aldeados pelos padres que'teriam se dispersado durante o ataque bandeirante;

2 - Aqueles que não foram aldeados e que retornaram à região após o ataque;

3 - Indígenas vindos de outra região.

'Em qualquer uma das hipóteses, o início dessa fase seria em meados do século XVII e o final na metade do XIX, época da chegada dos ~rimeiros imigrantes alemães na área. A disputa da terra faria com que os membros da Canhadão tivessem sido exterminados ou tivessem abàndonado a região.

O modo de vida seria idêntico ao das fases anteriores da mesma tradição. A Ocupação de vales em "V" dificultaria o cultivo indicando uma relativa diminuição da horticultura. Esse fato, aliado ao tipo de habitação e à fra?a densidade populacional, deveria ter aumentado a mobilidade do grupo. O Incremento do nomadismo deve ser um fator preponderante para a sua decadência tecnológica. Isso ocorre basicamente com a cerâmica (péssimo tratamento de superfície, além do baixo percentual de decorado). O perigo

BIBLOS, Rio Grande, 7:9-87, 1995.

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que representava a aproximação ao rio Pardo, na época, deveria diminuir a atividade de pesca. Ora, com a redução da horticultura e da pesca, deve ter havido um incremento nas atividades de caça e coleta. Com respeito ao número de indivíduos, estes deveriam representar em torno de 20 ou 30. As dimensões do local ocupado como habitação, além dos relativamente escassos indícios, levam-nos a essa conclusão.

Faltam muitos elementos ou traços culturais materiais da fase Canhadão, o que prejudica a nossa tarefa de reconstituição do seu dia-a-dia. Por outro lado, nada foi registrado que indicasse um processo de aculturação, tanto na cerâmica (técnica de fabricação, tipos de decoração, formas) como no material associado - por exemplo, louça, contas-de-colar de vidro, peças de metal, etc. Obtinham o alimento da mesma forma: caçavam, coletavam, pescavam e tinham suas pequenas roças. As moradias agora passam a ser também os abrigos sob rocha. Para os enterramentos secundários, são utilizadas pequenas reentrâncias nos paredões rochosos. Não sabemos se

continuaram também a enterrar as urnas, como fizeram outras fases.

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5 .4 - A Fase R ed u çõ es

A região do Vale do Rio Pardo pertenceu inicialmente

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à Espanha, pelo Tratado de Tordesilhas. Esteve esquecida no século XVI. O governador

espanhol Hernando Arias de Saavedra, mais conhecido por Hernandarias, sugeriu a Felipe 111que fosse solicitada a ajuda dos jesuítas para a conquista da região próxima e além dos rios Uruguai e Paraná, uma vez que militarmente isso seria impossível. A Companhia de Jesus aceitou a incumbência e, em 1588, iniciou o trabalho de catequese no Paraquai e adjacências. Em 1607 foi criada oficialmente a Província Jesuítica do Paraquai, desmembrada da Província do Peru. A ela pertenciam, também, atuais terras do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A primeira tentativa, no que é hoje solo brasileiro, ocorreu no Paraná a partir de 1610, nas chamadas reduções do Guaíra ou Guairá.

Expulsos daquela região, entre 1629 e 1631, muitos vieram ao Rio Grande do Sul. Antes mesmo da destruição de Guaíra, eram iniciadas as bases para a formação das reduções do Uruguai e Tape (1626 em diante). Até 1634 foram fundadas 18 reduções, sendo as mais avançadas as do Vale do Rio Pardo (margem direita): São Joaquim, Jesus Maria e São Cristóvão. Tiveram efêmera duração: aproximadamente três anos cada uma. Antõnio Raposo Tavares, bandeirante paulista, atacou-as em fins de 1636 (São Joaquim teria sido abandonada antes de ser invadida).

Em Jesus Maria, continuaram com quase o mesmo modo de vida praticado no período pré-contato. As alterações observadas foram na utilização de tecnologia paralela. Na alimentação, deveria ter ocorrido um

28

BIBlOS. Rio Grande. 7:9-87. 1995.

incremento da horticultura, inclusive com plantas exóticas, como o trigo, por exemplo. A domesticação e consumo de animais introduzidos (bovinos, suínos e ovinos) não chegou a se tornar uma prática. As raras peças de cerâmica, com sinais do uso de torno e forno, poderiam até ter sido trazidas de outra redução. Se produzidas no local, também não apresentaram uma influência razoável. O hábito de fumar não foi abolido. Às construções (paredes) foi aplicada a técnica de utilizar, entre os galhos e troncos, barro socado (pau-a-pique ou taipa). Não sabemos se essa técnica foi aplicada somente na Igreja. Pode ter sido usada na casa dos padres ou ainda em todas as demais. Da mesma forma, não concluímos se a luz dos cas tiçais iluminava todas ou somente uma ou outra habitação. A cobertura continuou sendo de folhas de palmeiras ou outro sucedâneo. De barro socado também foi construída uma parede em forma de "L", inclinada, com a finalidade de defesa do local. Também com a mesma finalidade foram confeccionadas pontas de ferro e os itaizás ou machados circulares de pedra. A louça, representada por pratos, pires e xícaras, deveria ser exclusivamente dos padres. Já as contas-de-colar de vidro pertenciam aos índios, doadas por aqueles.

Em síntese, o processo aculturativo verificado nas reduções jesuíticas espanholas, no Vale do Rio Pardo, representou muito pouco. A

razão é o abandono da área, em virtude do ataque bandeirante, e a conseqüente interrupção daquele processo iniciado.

5.5 - A T rad ição Ib ero in d íg en a

A colonização do Vale do Rio Pardo propriamente dita iniciou com a vinda de imigrantes portugueses, que se estabeleceram na zona de campo, ao sul, na primeira metade do século XVIII. Rio Pardo surge em meados desse século. Com o Tratado de Madrid (1750) e a necessidade de demarcação das terras entre Portugal e Espanha, o general português

Gomes Freire de Andrade (Conde de Bobadela) escolheu

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Rio Pardo como depósito de víveres, para

cujo fim construíram-se vastos armazéns.

Data também daí - 1752 - o levantamento

do forte, construído numa eminência, depois

chamada Alto da Fortaleza, e que mais tarde

recebeu o designativo de Jesus, Maria,

José, ... (Porto, 1957, p. 63).

De Rio Pardo partiu Gomes Freire para a demarcação.

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De volta da demarcação, Gomes Freire

manda aldear

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em São Nicolau do Rio Pardo

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e

Botucaraí, de Cachoeira (1757), os índios

que fez transportar de Missões,

o

que deu

origem a essas duas aldeias ... (Porto, idem,

p.64).

Quase no final de sua obra, Aurélio Porto novamente escreve sobre

o assunto:

Quando

o

exército de Gomes Freire deixa

o

Povo de Santo Ângelo, com destino

a

Rio

Pardo, forma

a

cauda do mesmo um outro

exército de famílias missioneiras que.

acompanham com móveis

e

semoventes

a

retirada dos portugueses. ~ um largo êxodo

de gente de todas as doutrinas que se vem

reunir a seus parentes e amigos, que

transmigram para os domínios portugueses

(Porto, 1954, p. 416).

Gomes Freire seguia as instruções do Marquês de Pombal de 1750, ou seja, a de tratar bem aos índios porque seriam então despovoadas as Missões. Dessa forma, sua conquista e o povoamento do extremo sul dos domínios portugueses poderiam ser efetivados, pois Portugal não dispunha numericamente de gente para tal tarefa (Bruxel, 1965). O número de índios que seguiam Gomes Freire seria mais ou menos 3000, ou 700 famílias (Bruxel, idem, p. 27; Teschauer, 1918, in: Porto, 1954, p. 416).

Quer a Aldeia dos Anjos, como as aldeias

de São Nicolau do Rio Pardo e São Nicolau

de Cachoeira, recebiam continuamente levas

de famílias missioneiras que fugiam dos

Povos e ali vinham engrossar as populações

primitivas, intercâmbio esse que perdurou

até a Conquista das Missões (Porto, 1954,

p.423).

Em 1780, Rio Pardo era a segunda freguesia do Estado em número de índios: 438 (Porto, id, p. 428). Bettamio escreve que nesse mesmo ano seriam quatrocentas almas, pouco mais ou menos (Bettamio, 1858, p. 244).

30 BIBLOS, Rio Grande, 7:9·87, 1995.

Em 2 de outubro de 1784, no Relatório apresentado ao governo de Lisboa pelo Vice-Rei do Brasil, Luiz de Vasconcellos e Souza, encontramos: "Nesta (São Nicolau) se achão Aldeados 400 índios pouco mais, ou menos da Nasam Quarain, ..." (RE:II;sta do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, 1929, p. 33); em 1815 continuavam os 400 índios ("Diário de uma viagem pastoral ao RS"), conforme o bispo D. José Caetano da Silva Coutinho, do Rio de Janeiro (ARQUIVO DA ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO, folha 28, verso).

No Relatório do Vice-Presidente da Província, em 1852, registramos, além do dado demográfico, outros que julgamos interessantes:

1.aAldêa de S. Nicolau. ~ a mais antiga da

Província. Situada a pouca distância da

Cidade de Rio Pardo, e reduzida a 273

individuos de origem guarani (o grifo é

nosso), acha-se na maior decadência.

No Relatório do Presidente da Província, em 1854, é apresentado o seguinte mapa ("Mapa geral dos índios da Província"):

S. Nicolau

1 a 8 anos - 47 masculinos e 35 femininos 9 a 20 anos - 20 masculinos e 34 femininos 21 a 40 anos - 10 masculinos e 31 femininos 41 a 60 anos - 21 masculinos e 31 femininos 61 a 80 anos - 8 masculinos e 17 femininos Total: 254

Na pesquisa nos arquivos da Cúria Metropolitana, em Porto Alegre, no Livro de Batismos e Casamentos da cidade de Rio Pardo, observamos um processo de miscigenação. De março a junho de 1781, de 8 batizados, 6 são de pai incógnito; entre dezembro do mesmo ano e abril de 1782, de 12 batizados, 9 são de pai incógnito e, em ambos os exemplos, a mãe era indígena. O mesmo encontramos em vários outros anos a partir de 1757. Num levantamento exaustivo que fizemos nos livros de Casamentos de Rio Pardo, entre 1759 e '1832, inclusive, constatamos 18 casamentos de índia com branco, 10 de índia com preto, 4 de índio com preta e 4 de índio com branca.

Observam-se as tentativas para a integração do indígena com os portugueses ou brasileiros na "Instrução" do Governador José Marcelino de Figueredo para o Capitão Antônio Pinto Carneiro (folhas 4 e 5 do Livro de Instruções para os Povos dos índios, S. João Batista e N. S. dos Anjos), em 29.12.1769:

(13)

Registrar

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os índios que se alugarem desses

povos... e lançarem com apelidos

portugueses cada família e se

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

h á de pôr o

maior cuidado em que falem a nossa

lingua e se esqueçam da guarani e de

muitos dos seus ritos

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e

superstições... (os

grifos são nossos)

apresenta, inicialmente, uma característica de vida muito parecida com a das missões jesuíticas da segunda fase no Rio Grande do Sul, incluindo a religião e os sepultamentos. A própria planta do povoado obedecia a de uma missão: a igreja no centro de um dos quatro lados das construções voltadas para a praça, o cemitério contíguo à igreja, as casas dispostas em linha reta e paralelas às laterais da praça. Outros aspectos semelhantes: a casa não apresenta divisão interna com paredes de alvenaria; na cerâmica, a forma das vasilhas não se modifica, os pratos cerámicos são substituídos, após certo tempo, pelos de louça faiança e faiança fina e as tigelas pela cerâmica colonial; um dos jogos missioneiros (telho ?); o hábito de tomar mate e fumar. As habitações poderiam ter sido construfdas em pau-a-pique

e,

mais tarde, substituídas por alicerces de pedras irregulares, vigas, portas e janelas de madeira presas com cravos, dobradiças, e as paredes. rebocadas. Não dispunham de olaria para fabricação de telhas e tijolos. As primeiras foram utilizadas em São Nicolau, talvez num segundo momento, e adquiridas possivelmente em Rio Pardo. As lixeiras eram posicionadas próximo e nos fundos das casas. Quase ao lado delas, porém mais junto das casas, em fogueiras ao ar livre, assavam carne bovina.

Uma das características modificadas foi a posição do núcleo habitacional. Enquanto nos Sete Povos das Missões procuraram locais elevados e distantes de rios, exceto São Borja, São Nicolau fixou-se numa encosta e, ainda, voltada para o sul. O mais provável é ter havido uma imposição por parte do governo. Se houve escolha, a proximidade dos dois rios deve ter pesado.

A cerâmica era produzida domesticamente, retornando às práticas e técnicas anteriores ao aldeamento nas missões. As mulheres buscavam a argila nas encostas contíguas às várzeas, tanto do Jacuí como do Pardo. Na aldeia, utilizando o acordelado ou, em alguns casos, o modelado, confeccionavam suas vasilhas, pratos, tigelas, castiçais e cachimbos. O cozimento era feito com a queima de lenha, ao ar livre. O que se observa é uma decadência tecnológica na cerâmica. Em primeiro lugar, porque perderam a tecnologia de que dispunham nas missões, ou seja, o torno e o forno. Em segundo lugar porque, nas missões, havia um ceramista produzindo para toda a comunidade não sendo mais tarefa feminina, doméstica, portanto. Logo, haviam perdido a prática. Em terceiro lugar, em virtude do abandono ou substituição paulatina da cerâmica pela louça, ocasionando a diminuição da sua prática.

A carne era obtida do governo, através de duas ou três doações semanais. No início chegaram a caçar, com pouca intensidade, e depois abandonaram o hábito. Para essa atividade poderiam ter utilizado arma de fogo de pedra, arco e flecha ou armadilhas.

Apesar da "Instrução", no Livro de Batismo

n."

22, de Rio Pardo, encontramos um registro de índia nascida em 01 de novembro de 1879. Registramos também um batismo de 1875, em que aparece um pai ainda com um sobrenome indígena: Guaracy.

O Governador José Marcelino de Figueredo, secundando o alvará régio, publicou, em 31 de julho de 1773, um edital sobre a repartição de terras aos moradores da Capitania, no qual ordenou:

Toda pessoa militar, ou particular de bom

procedimento

e

de sangue limpo, que casar

com alguma índia que tenha as mesmas

circunstâncias, será preferido nestas mesmas

datas de terra e se lhe dará ferramenta pará

cultura e dote eserá em iguais circunstâncias

preferido para todos os empregos e cargos

nobres na forma das Reais Ordens de EI-Rei

Nosso Senhor, para cuja execução todos

devemos concorrer ...(In: Neis, 1975, p. 55)

Isto em parte modificou a mentalidade,

havendo alguns casamentos de açorianos

com índios, mas não a ponto de se poder

dizer que houvesse muitos casamentos

entre eles. Houve sempre, isto sim, muitos

filhos naturais. (Neis, 1975, p.55)

A quase totalidade das populações dessas aldeias indígenas do Rio Grande do Sul, incluindo naturalmente a aldeia de São Nicolau, eram compostas de índios guaranis. Excepcionalmente encontramos outros grupos, como por exemplo, índios pampeanos (charruas e minuanos). Estes são localizados na região da vila do Rio Grande. Encontramos o registro de um batismo, em São Nicolau, datado de janeiro de 1778, onde a mãe, com o nome de Vicência, era minuana.

Os portadores do material que representa a fase Pardo da Tradição Iberoindígena foram localizados na aldeia de São Nicolau, Rio Pardo. Esta

BIBlOS. Rio Grande. 7:9-87, 1995. 33

(14)

A NOS PLAN íCI E - ENCOSTA PLANALTO

D.C.

A.C.

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1900

-1800

~

PARDO

EUROPEU ~

1---EUROPEU

--:---

-r--•

••

CANHADÃO

••

1700

1600

1500

1000

500

1000

-

2000-

4000-6000

-

8000-10000 O

REDUCÕES

·

-

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-BOTUC.ARAí T RO~BUOO

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--I ERVE.IRAS

I I I I I I I I I

-

---.

I I PINHAL

I I I

--+

VIEIRA

-.-- -.--

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FIGURA 1 - Cronograma das várias tradições e fases arqueológicas do Vale do Rio Pardo.

34

..---RIO PARDINHO

I

~

?

?

LEGENDA

} PRÉ-CERÂMICAS

As roças, preparadas com a técnica que herdaram do período pré-histórico, forneciam plantas já conhecidas: milho, mandioca, feijão, amendoim, 'abóbora, fumo, etc., acrescidas de uma planta cujo cultivo foi intensificado nas missões, a erva-mate. O algodão provavelmente não plàntaram, pois não encontramos provas de terem tecido no local. Remendos e costuras foram feitos na aldeia.

Para o transporte, utilizaram com certeza o cavalo.

No início, o governo procurou suprir os habitantes das suas necessidades. Com o passar do tempo, empregando a sua força de trabalho, tanto homens como mulheres, principalmente os primeiros, foram sendo remunerados. Esse dinheiro Ihes possibilitava a aquisição de tecido, ferramenta, talher, louça, etc. Seguramente, o material citado não era produzido no local.

Encerrada esta narrativa, a partir dos dados obtidos, passaremos às considerações ou conclusões finais.

6-CONCLusões

O Vale do Rio Pardo percorre duas áreas distintas: o planalto, com baixas temperaturas no inverno, matas de pinheiros, campos e lavas basálticas; a planície, com altas temperaturas no verão, a Floresta Estacional Decidual, os aluviões e arenitos. A região é bem drenada pelos principais cursos d'água, o próprio rio Pardo, o Pardinho e o Francisco Alves, além de dezenas de arroios e sangas. O clima e a paisagem no pleistoceno e as modificações ocorridas na transição entre o pleistoceno e holoceno, especialmente na vegetação, não apresentam, no presente estudo, alto significado, porque não temos certeza se o homem já havia chegado ao vale naqueles períodos. A diversidade de paisagem oferecia ao homem, que buscava alimentos na natureza, excelentes condições para sobrevivência, tanto na flora quanto na fauna. Quando horticultor, também encontrou, em ambas as áreas, solos favoráveis para o desenvolvimento das suas plantas domesticadas. Para confeccionar seus instrumentos de pedra, de cerâmica, de osso, de concha, sem falar nos perecíveis de madeira e de fibras, dispunha também de uma quantidade e variedade relativamente grande de fontes de matéria-prima, além da facilidade na sua obtenção.

Os primeiros povoadores da região, particularmente na encosta do planalto, foram os caçadores-coletores-pescadores, portadores do material definido como da fase Rio Pardinho, Tradição Umbu. Há pelo menos 3000 anos AP, esse grupo já se encontrava no Vale do Rio Pardo, com reais Possibilidades de essa data recuar para o início do holoceno, isto é, em torno de 10000 anos AP. Preferiam os locais mais altos e planos e próximos aos

BIBLOS. Rio Grande.7:9-87. 1995. 35

TRADiÇÕES

UMBU

HUMAITÁ

TAQUARA } CERÂMICAS

TUPIGUARANI

IBEROINDIGENA

•••

o O O O O

Referências

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