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ciências humanas Reitora Irmã Jacinta Turolo Garcia Vice-Reitora e Pró-Reitora Comunitária Irmã Marisabel Leite

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Academic year: 2022

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Reitora

Irmã Jacinta Turolo Garcia

Vice-Reitora e Pró-Reitora Comunitária Irmã Marisabel Leite

Pró-Reitora Administrativa Irmã Teresa Ana Sofiatti Pró-Reitora Acadêmica

Sônia Bastos Tentor Conselho Editorial do

Núcleo de Publicações Universitárias Marilene Cabello Di Flora (Presidente)

Carlos Roberto Padovani Hélio Requena da Conceição

Inaie Marchizeli Wenzel Jehud Bortolozzi Léa Sílvia Braga de Castro Sá

Ir. Maria Luiza Luca Osmar Cavassan Renata Tiemi Yamamoto

Valéria Biondo

M r e I M E S I c i ê n c i a s h u m a n a s v i s t a S

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Rua Irmã Arminda, 10-50 CEP 17044-160, Caixa Postal 511 Fone (014) 235-7111 – Fax (014) 235-7219

Bauru - SP - Brasil e-mail: edusc@usc.br Copyright © EDUSC - 1998

Coordenação Editorial Irmã Jacinta Turolo Garcia Assessoria Administrativa Irmã Teresa Ana Sofiatti

Assessoria Comercial Irmã Áurea de Almeida Nascimento

Assistente de Produção Gráfica Luzia Aparecida Bianchi

Capa Olício Pelosi Projeto Gráfico Cássia Letícia Carrara Domiciano

Revisão Equipe NPU - USC

Diagramação Carlos Fendel Impressão

Document Center/ DocuTech 135 (miolo) Gráfica São João (capa)

Publicação Anual - Annual Publication

ISSN 0102-7484 Mimesis: Revista da Área de Ciências Humanas.

Universidade do Sagrado Coração. Bauru - SP - Brasil, 1979 - 1980; 1982

1979-80, 1-2

Publicação interrompida em 1981 1982 - 1998, 3 - 19

Editora da Universidade do Sagrado Coração

EDUSC

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RELAÇÃO DOS ASSESSORES QUE COLABORARAM COM ESTE NÚMERO: MIMESIS V. 19, N. 1, 1998

Ana Maria Martinês Corrêa Antônio Celso Ferreira Beatriz Beluzo B. Cunha Carlos Tadeu dos Santos Dias César Augusto Ramos Ermínio Rodrigues Flávio Ferrari Aragon Inês Amosso Dolci

Márcia Valéria Zamboni Gobbi Marco Antônio de Castro Figueiredo Maria Alice de Campos Rodrigues Maria Cristina Zimmerman Vicente Maria da Graça Chamma Ferraz Maria Elisa de Oliveira

Paulo Fernando de Arruda Mancera Roberto Gomes Camacho

Rony Farto Pereira

Sílvia Helena Alvarez Piazentim Suely Fadul Villibor Flory Tania Gracy Martins do Valle Thomas Bonnici

Revista MIMESIS é indexada por:

Revista MIMESIS is indexed by:

Bibliografia Brasileira de Educação/INEP

LLBA - Linguistics and Language Behavior Abstracts SA - Sociological Abstracts

SODOPA - Social Planning/Policy & Development Abstracts Sumários de Educação/CENP

Sumários Correntes Brasileiros/IBICT

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Introdução ao estudo das literaturas pós-coloniais Introduction to the study of post-colonial literatures Thomas Bonnici

O perfil do profissional de informática na região de Bauru Profile of the computer science professional in the region of Bauru

Ronaldo Martins da Costa; Sidnei Bergamaschi

Informações sobre temas relativos à sexualidade em um grupo de adolescentes de uma escola pública de Bauru - SP

Information about themes of human sexuality in a group of adolescents from a public school of Bauru - SP

Ana Claudia Bortolozzi Maia

Os dois lados de “A Bela e a Fera”: uma leitura dos contos “The Courtiship of Mr. Lyon” e “The Tiger’s Bride” de Angela Carter The two faces of “Beauty and the Beast”: a reading of the short stories “The Courtship of Mr. Lyon” and “The Tiger’s Bride” by Angela Carter

Cleide Antonia Rapucci

A presença do Neoplatonismo nas artes The presence of Neoplatonism on arts Cinthia Maria Ramazzini Remaeh Hélio Requena da Conceição

Uma retrospectiva histórica sobre questões de avaliação matemática

A historical view on mathematics assessment Maria Regina Gomes da Silva

Entre o poder e o silêncio: uma abordagem sociolingüística de Vidas Secas

Between power and silence: a sociolinguistic approach to Vidas Secas

Maurício Silva

Sumário/Contents

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Atuação fonoaudiológica no processo de envelhecimento normal Phonoaudiological action in the natural aging process

Carla Aparecida Soares Leila Gamba Zanoni

Ester Dalva Silvestre Junqueira

Um programa de ensino não convencional para orientar mães de crianças portadoras de paralisia cerebral

A non-conventional teaching program of orientation to mothers of children carrying Cerebral Palsy

Maria de Lourdes M. Tabaquim

Teorias modernista e primitivista: duas perspectivas para a com- preensão do passado greco-romano. Uma introdução ao debate Modernism and primitivism: two perspectives about the romano- greek past: an introduction to discussion

Ana Cláudia Tambara

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Thomas Bonnici*

BONNICI, T. Introdução ao estudo das literaturas pós-coloniais. Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 07-23, 1998.

RESUMO

Durante as últimas três décadas, realizou-se intenso estudo sobre as li- teraturas de povos que experimentaram o colonialismo e este trabalho pretende ser um resumo dessas investigações. Discutiram-se questões sobre as estratégias colonizadoras, o papel do colonizador na formação educacional do colonizado através da língua e da literatura européias, o cânone colonial, a degradação de qualquer expressão cultural indígena e a resposta do colonizado. A crítica sobre os hiatos na literatura colo- nial e o surgimento de literaturas desvinculadas do padrão eurocêntrico começaram a questionar certos pressupostos da Teoria Literária ociden- tal. O resultado destes estudos tem sido a reinterpretação e a reescrita de obras canônicas ocidentais como resposta ao colonizador.

Unitermos: Literatura, pós-colonialismo, metrópole-colônia, descolo- nização, estratégias pós-coloniais.

INTRODUÇÃO

Quando se repara que 185 nações independentes de 193 existentes no mundo integram a ONU, questiona-se a viabilidade dos termos colonia- lismo, pós-colonialismo e crítica pós-colonialista. No período pós-guer- ra, especialmente nos anos 60 e 70, parecia que o colonialismo se torna- ra algo do passado e que os povos das nações independentes haviam en- contrado o caminho para o desenvolvimento político. Uma ilação do campo político para o campo literário poderia ser aceita. Admitir-se-ia, então, que as literaturas dos povos independentes estariam livres de ma- nipulações coloniais que as degradaram e que daqui em diante teriam uma posição estética própria. Sabe-se, todavia, que as raízes do imperia- lismo são muito mais profundas e extensas. Durante o período de domi- nação européia, quando mais de três quartos do mundo estavam sub- metidos a uma complexa rede ideológica de alteridade e inferioridade,

* Departamento de Letras - Universidade Estadual de Maringá - Av. Colombo, 5790 - 87020-900 - Maringá - PR.

Introdução ao estudo das

literaturas pós-coloniais

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os encontros coloniais deram um golpe duro à cultura indígena, conside- rada sem valor ou de extremo mau gosto diante da suposta superiorida- de da cultura germânica ou greco-romana. Portanto, o desenvolvimento de literaturas dos povos colonizados deu-se como uma imitação servil a padrões europeus, atrelada a uma teoria literária unívoca, essencialista e universalista.

A ruptura operada pela literatura pós-colonial e a apropriação do idioma europeu para desenvolver a expressão imaginativa na ficção aconteceram após investigações e reflexões sobre o mecanismo do uni- verso imperial, o maniqueísmo por ele adotado, a manipulação constan- te do poder e a aplicação do fator desacreditador na cultura do outro. Tal- vez pelo fato de ter sido o mais extenso e o mais estruturado de todos, o império britânico proporcionou ao crítico uma singular ocasião para ele poder analisar a literatura escrita em inglês por povos tão diversos em circunstâncias geográficas e históricas tão diferentes. Nestas últimas três décadas, centenas de livros foram publicados sob a rubrica do pós-colo- nialismo, especialmente pela editora britânica Routledge. Editaram-se várias revistas acadêmicas especializadas em pós-colonialismo para a di- vulgação e a discussão das idéias inerentes ao tema. A editora Heine- mann tem não apenas coleções de obras críticas sobre a experiência lite- rária pós-colonial da África (o conceituado African Literature in the Twentieth Century, de O . R. Dathorne, abrangendo inclusive a literatura africana em português e em francês), mas também publicou, no Reino Unido, a maioria das obras literárias. Por outro lado, os livros seminais de Fanon, Ngugi, Achebe, Memmi, Said e de outros teóricos continuam tendo várias edições, tal é o interesse sobre os temas pós-coloniais.

Referente à literatura de língua inglesa, este fenômeno pode ser apre- ciado sob outro ângulo. Os prêmios literários britânicos mais cobiçados agraciaram a um indiano (Salman Rushdie), um sul-africano (J. M.

Coetzee), um nigeriano (Bem Okri), um japonês (Kazuro Ishiguro) e um cingalês (Michael Ondaatje), enquanto o Prêmio Nobel de Literatura de 1993 foi dado a Derek Walcott, de Santa Lucia, no Caribe. Quando al- gum prêmio literário é recebido por um autor inglês nascido na Inglater- ra, a exceção prova a regra (Iyer, 1993).

Salvo raras exceções (entre as quais os trabalhos de Silviano Santia- go, Lynn Mário T. Menezes de Souza e Flávio Kothe), esta nova estética ainda não informou a literatura brasileira que, de acordo com os princí- pios e definições arrolados mais adiante, neste trabalho, poderia ser con- siderada pós-colonial. Por outro lado, a Editora Ática publicou uma sé- rie de autores africanos e os livros de Jameson, enquanto Heloísa Buar- que de Hollanda organizou a tradução de ensaios de autores como Bhabha e Said. Poucos são os trabalhos sobre a literatura brasileira do período colonial que tentam analisar as estratégias coloniais existentes na literatura e os mecanismos de subversão pelos quais a imaginação poética experimentou a subjetificação. Raríssimas vezes (por exemplo, os trabalhos das feministas brasileiras) foi questionada a formação do câ-

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Introdução ao estu- do das literaturas pós-coloniais.

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none brasileiro em seus privilegiados e excluídos. Tampouco parâmetros pós-coloniais foram adotados para abordar as questões do idioma portu- guês e de sua apropriação na formação da literatura após a independên- cia política e, especialmente, no modernismo e nos anos que o seguem.

Os grandes silêncios e hiatos do indígena e do negro escravo ou foragi- do, como também a dupla colonização da mulher são dignos de serem apreciados no contexto pós-colonial brasileiro.

Este trabalho pretende ser uma contribuição para que se conheçam alguns princípios básicos da teoria pós-colonial referente à literatura.

Sua finalidade é colocar ao crítico e acadêmico brasileiros o que é fun- damental nos conceitos e nas teorias pós-coloniais desenvolvidas nas úl- timas décadas e que se tornaram paradigmas de análise às literaturas oriundas dos povos que experimentaram o sufoco da colonização.

A TEORIA PÓS-COLONIAL

Autores tradicionais, definindo pós-colonialismo, usam o termo “co- lonial” para descrever o período pré-independência e os termos “moder- no” ou “recente” para assinalar o período após a emancipação política.

Embora não haja um consenso sobre o conteúdo do termo “pós-colonia- lismo”, Ashcroft et al. (1991) o usam para descrever a cultura influencia- da pelo processo imperial desde os primórdios da colonização até os dias de hoje. Muitas vezes este termo é ignorado ou não entendido como é descrito acima porque certos grupos que saíram do colonialismo têm como preocupação primária o nacionalismo cultural e econômico e não querem sacrificar a especificidade de suas preocupações ao termo geral

“pós-colonialismo” (Souza, 1986; Adam & Tiffin, 1991)

Outro conceito a ser considerado é o de literatura pós-colonial, que pode ser entendida como toda a produção literária dos povos colonizados pelas potências européias entre o século XV e XX. Portanto, as literatu- ras em língua espanhola nos países latino-americanos e caribenhos; em português no Brasil, Angola, Cabo Verde e Moçambique; em inglês na Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Índia, Malta, Gibraltar, ilhas do Pací- fico e do Caribe, Nigéria, Quênia, África do Sul; em francês na Argélia, Tunísia e vários países da África, são literaturas pós-coloniais. Apesar de todas as suas diferenças, essas literaturas originaram-se da “experiên- cia de colonização, afirmando a tensão com o poder imperial e enfati- zando suas diferenças dos pressupostos do centro imperial” (Ashcroft et al., 1991).

A crítica pós-colonialista é enfocada, no contexto atual, como uma abordagem alternativa para compreender o imperialismo e suas influên- cias, como um fenômeno mundial e, em menor grau, como um fenôme- no localizado. Esta abordagem envolve: um constante questionamento sobre as relações entre a cultura e o imperialismo para a compreensão da política e da cultura na era da descolonização; o auto-questionamento do

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crítico, porque solapa as próprias estruturas do saber, ou seja, a teoria li- terária, a antropologia, a geografia eurocêntricas; engajamento do críti- co, porque sua preocupação deve girar em torno da criação de um con- texto favorável aos marginalizados e aos oprimidos, para a recuperação da história, da voz e para a abertura das discussões acadêmicas para to- dos; uma desconfiança sobre a possível institucionalização da disciplina e a apropriação da mesma pela crítica ocidental, neutralizando a sua mensagem de resistência (Parry, 1987).

Em primeiro lugar, até hoje, há dois livros importantes que traçam a história dos pressupostos filosóficos da crítica pós-colonial, ou seja, The Empire Writes Back: Theory and Practice in Post-Colonial Literatures (1989), de Bill Ashcroft, Gareth Griffiths e Helen Tiffin e White Mythologies: Writing History and the West (1990), de Robert Young. O primeiro analisa os pressupostos filosóficos, a teoria literária européia, a hegemonia da língua inglesa e as estratégias políticas do império britâni- co. Os autores chegam a vários princípios e questões que fundamentam o conceito de literatura pós-colonial. Partindo de certas linhas filosóficas de Hegel e de Sartre, o segundo livro aprecia a contribuição de críticos de renome mundial como Spivak e Bhabha (Benson & Conolly, 1994), em- bora sempre os considere criticamente, de modo especial, na detecção de seus resquícios europeus (Slemon, 1995). Em segundo lugar, Orientalis- mo (1978) e Cultura e imperialismo (1993), de Edward Said, In Other Worlds (1987) e The Post-Colonial Critic (1990), de Gayatri Spivak, como também Nation and Narration (1990), de Homi Bhabha, mudaram o eixo da questão referente à crítica exclusivamente eurocêntrica, formu- laram teorias para a análise do relacionamento imperialismo/cultura e mostraram os caminhos para uma literatura e estudos literários pós-colo- niais autônomos. Não se pode negar, todavia, que a metodologia desses autores tem muito a ver com o pós-estruturalismo e o desconstrucionis- mo muito em voga recentemente na crítica literária européia.

Sem dúvida, muitas questões ainda não foram resolvidas, como: a re- lação da língua européia trazida pelos colonizadores e as línguas indíge- nas; a conveniência das traduções; a influência cultural híbrida dentro de uma mesma cultura e fora dela; a paridade da oratura (narrativas orais) com a literatura; os padrões de valores estéticos; a importância das ins- tituições (como as universidades) para a produção literária e crítica; a re- visão do cânone literário.

Desde a sua sistematização nos anos 70, a crítica pós-colonial se preocupou com a preservação e documentação da literatura produzida pelos povos degradados como “selvagens”, “primitivos” e “incultos”

pelo imperialismo; a recuperação das fontes alternativas da força cultu- ral de povos colonizados; o reconhecimento das distorções produzidas pelo imperialismo e ainda mantidas pelo sistema capitalista atual.

Vários autores percebem que, pelo menos no caso do inglês, o estu- do dos idiomas europeus como disciplinas acadêmicas e o desenvolvi- mento dos impérios no século 19 partiram de uma única fonte ideológi-

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ca. Ambos funcionaram como fatores utilitários de propaganda e de con- solidação de valores. No último caso, os valores, o estilo e os parâmetros inculcados nos acadêmicos confirmaram a superioridade da civilização européia, com a conseqüente degradação e total rejeição de qualquer ma- nifestação cultural nativa, considerada inferior, primitiva e selvagem, digna de ser extirpada. The Tempest e Robinson Crusoe testemunham tais fatos, como será discutido adiante. A língua européia, estudada em seu padrão culto, não admitia concorrências e, portanto, rejeitava as “dis- torções não-canônicas” oriundas da periferia e da margem. A sedução era tanta que muitos nativos começaram a mergulhar nessa cultura im- portada e, negando as suas origens, a escrever na língua padrão européia e a imitar os clássicos de sua literatura. “Os administradores coloniais britânicos, instigados pelos missionários e pelo medo das insubordina- ções nativas, descobriram um aliado na literatura inglesa para os apoiar em seu controle dos nativos sob um pretexto de educação liberal” (Vis- wanathan, 1987). A neutralização deste arcabouço conspiratório entre língua, literatura e cultura não é fácil de ser realizada. No que diz respei- to à África, Ngugi (1972) analisa este estado de coisas em “On the Abo- lition of the English Department”, enquanto Docker (1978) em “The Neocolonial Assumption in the University Teaching of English”, discur- sa sobre o Commonwealth em geral. Ngugi organizou um programa em que o Departamento de Língua Inglesa fosse abolido e substituído por um Departamento de Literatura e Língua Africanas, relativizando as fon- tes literárias européias e insistindo sobre a tradição oral ou oratura como

“nossa raiz primordial”. Docker admite que pouca descolonização acon- teceu nas nações pós-coloniais, ou seja, o status canônico das literaturas européias ainda está firme. “O perigo enfrentado pelo estudo literário pós-colonial é que ele pode ser descartado apenas como uma opção in- teressante. O desafio da literatura pós-colonial está de fato em que, des- mascarando e atacando pressupostos anglocêntricos diretamente, pode substituir a literatura inglesa pela literatura mundial em língua inglesa”

(Docker, 1978). Embora haja muita resistência, os questionamentos so- bre os pressupostos em que o estudo da língua e da literatura européias estavam fundamentados já surtiram efeitos consideráveis.

DESENVOLVIMENTO DAS LITERATURAS PÓS-COLONIAIS A emergência e o desenvolvimento de literaturas pós-coloniais depen- dem de dois fatores importantes: (1) as etapas de conscientização nacio- nal e (2) a asserção de serem diferentes da literatura do centro imperial.

A primeira etapa envolve textos literários que foram produzidos por representantes do poder colonizador (viajantes, administradores, solda- dos e esposas de administradores coloniais). Tais textos e reportagens com detalhes sobre costumes, fauna, flora e língua dão ênfase à metró- pole em detrimento da colônia; privilegiam o centro em detrimento da

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periferia. A pretensão de objetividade e a atomização dos objetos descri- tos escondem o discurso imperial (Mello e Souza, 1993).

A segunda etapa envolve textos literários escritos sob supervisão im- perial por nativos que receberam sua educação na metrópole e que se sentiam gratificados em poder escrever na língua do europeu (não há consciência de ela ser também do colonizador). A classe alta da Índia, os missionários africanos e, às vezes, prisioneiros degredados na Austrália sentiram-se privilegiados em pertencer à classe dominante, ou serem por ela protegidos, e produziram volumes de poemas e romances. A Proso- popéia, de Bento Teixeira, é um exemplo clássico na literatura brasileira (Bosi, 1983).

Embora muitos dos temas (cultura mais antiga do que a européia, a brutalidade do sistema colonial, a riqueza de seus costumes, leis, cantos e provérbios) abordados por esses autores estivessem carregados de sub- versão, sem dúvida não podiam e não queriam perceber esta potenciali- dade. Além disso, a manutenção da ordem e as restrições impostas pela potência imperial não permitiam qualquer manifestação que pudesse in- dicar algo diferente dos critérios canônicos ou políticos.

A terceira etapa envolve uma gama de textos, a partir de certo grau de diferenciação até uma total ruptura com os padrões emanados pela metrópole. Evidentemente, essas literaturas dependiam da ab-rogação do poder restritivo e da apropriação da linguagem/escrita para fins diferen- tes daqueles pelo quais outrora foram usados. Quando o nigeriano Amos Tutuola escreveu The Palm-Wine Drinkard (1952), Dylan Thomas e ou- tros críticos ingleses estranharam a linguagem e o estilo deste novo ro- mance africano (Benson & Conolly, 1994; Sampson, 1979; Phelps, 1984) . Os críticos ingleses logo perceberam o nascimento do romance pós-colonial em Things Fall Apart (1958), no qual Chinua Achebe ridi- culariza o administrador colonial que deseja escrever um livro sobre os costumes primitivos dos selvagens do alto Rio Niger quando o autor já havia exposto a complexidade de costumes, religião, hierarquia, legisla- ção e provérbios da tribo dos Igbos em Umuofia.

Deslocamento e linguagem

Uma das características da sociedade colonizada é o deslocamento.

Relacionando linguagem e deslocamento, distinguem-se três categorias de sociedades pós-coloniais:

“Settler colonies”: Na América espanhola, no Brasil, nos Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, a terra foi ocupa- da por colonos europeus que conquistaram e deslocaram as populações indígenas. Uma certa modalidade de civilização européia foi transplan- tada e os descendentes de europeus, mesmo após a independência políti- ca, mantinham o idioma não-indígena. Se no início os colonos inquestio-

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navelmente consideravam que o seu idioma era apropriado para expres- sar a complexa realidade do lugar ocupado, os escritores mais recentes iniciaram uma série de questionamentos a este respeito.

“Sociedades invadidas”: Na América Central, na Índia e na África com suas civilizações díspares em vários estágios de desenvolvimento, as populações foram colonizadas em sua terra. Portanto, os escritores na- tivos já possuíam suas respostas milenares e seu modo de ver, embora es- tes fossem marginalizados pelos colonizadores. Às vezes, o idioma eu- ropeu substituiu o idioma do escritor; às vezes, ofereceu-lhe uma opor- tunidade para que seus escritos fossem melhor divulgados e lidos. Em ambos os casos, o idioma europeu causa uma certa ambigüidade no tex- to escrito.

“Sociedades duplamente invadidas”: As sociedades primordiais dos indígenas das ilhas do Caribe foram completamente exterminadas nos primeiros cem anos do descobrimento. A população atual das Índias Ocidentais veio da África, Índia, Ásia, Oriente Médio e da Europa atra- vés do deslocamento, do exílio ou da escravidão. De todas as sociedades colonizadas, talvez a sociedade caribenha seja a que mais sofreu os efei- tos devastadores do processo colonizador, onde o idioma e a cultura do- minantes foram impostos e as culturas de povos tão diversos aniquiladas.

COLONIALISMO E FEMINISMO

Há uma estreita relação entre os estudos pós-coloniais e o feminis- mo. Em primeiro lugar, há uma analogia entre patriarcalismo / feminis- mo e metrópole / colônia ou colonizador / colonizado. “Uma mulher da colônia é uma metáfora da mulher como colônia” (Du Plessis, 1985). Em segundo lugar, se o homem foi colonizado, a mulher, nas sociedades pós- coloniais, foi duplamente colonizada. Os romances de Jean Rhys, Doris Lessing, Toni Morrison e Margaret Atwood testemunham esta dialética.

Portanto, o objetivo dos discursos pós-coloniais e do feminismo é a inte- gração da mulher marginalizada à sociedade. De modo semelhante ao que aconteceu nas reflexões do discurso pós-colonial, no primeiro perío- do do discurso feminista, a preocupação consistia na substituição das es- truturas de dominação. Esta posição simplista evoluiu para um questio- namento sobre as formas e modos literários e o desmascaramento dos fundamentos masculinos do cânone. Nestes debates, o feminismo trouxe à luz muitas questões que o pós-colonialismo havia deixado obscuras;

outrossim, o pós-colonialismo ajudou o feminismo a precaver-se de pres- supostos ocidentais do discurso feminista.

Peterson (1995) fala que em muitos países do Terceiro Mundo há o dilema sobre o que é necessário empreender primeiro: a igualdade femi- nina ou a luta contra o imperialismo presente na cultura ocidental. Em

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Things Fall Apart, o personagem Okonkwo é castigado não porque bateu em sua esposa, mas por ter batido nela numa semana considerada sagra- da. Peterson resolve a questão com uma citação de Ngugi: “Nenhuma li- bertação cultural sem a libertação feminina”. A opinião de Buchi Eme- cheta é oposta à de Achebe. A força literária da autora nigeriana consis- te em sua “autêntica perspectiva feminista, sua focalização na explora- ção da mulher e a luta dela pela libertação” (Benson & Conolly, 1994).

Efetivamente, a dupla colonização causou a objetificação da mulher pela problemática da classe e da raça, da repetição de contos de fada europeus e da legislação falocêntrica apoiada por potências ocidentais. Entre ou- tras, a mais eficaz estratégia de descolonização feminina concentra-se no uso da linguagem (experiência de Sistren) e da experimentação lingüís- tica (Ashcroft et al., 1991; Bonnici1, 1998 no prelo).

A DICOTOMIA SUJEITO-OBJETO

A opressão, o silêncio e a repressão das sociedades pós-coloniais de- correm de uma ideologia do sujeito. Sartre discursa sobre a construção da pessoa como Sujeito em relação ao Outro e, portanto, enfatiza a ca- racterística da reciprocidade. Através da percepção do próprio Ser-obje- to para o Outro deve-se compreender a presença do Ser-sujeito dele, afir- ma Sartre (1997). Esta reciprocidade permite as relações mútuas entre a pessoa e o outro. Ambos podem voluntariamente ter a função de objeto para o Outro. Nas sociedades pós-coloniais, porém, o sujeito e o objeto pertencem inexoravelmente a uma hierarquia em que o oprimido é fixa- do pela superioridade moral do dominador. É a dialética do Sujeito e do Outro, do dominador e do subalterno. A língua cortada do personagem Friday no romance Foe (1986), de J. M. Coetzee, é o símbolo do coloni- zado mudo por ato voluntário do colonizador.

Os críticos tentam expor os processos que transformam o coloniza- do numa pessoa muda e as estratégias dele para sair desta posição.

Spivak discursa sobre a mudez do sujeito colonial e, conseqüentemen- te, da mulher subalterna. “O sujeito subalterno não tem nenhum espaço a partir do qual ele possa falar”, sentencia Spivak (1985). Bhabha (1984) afirma que o subalterno pode falar e a voz do nativo pode ser re- cuperada através da paródia, da mímica e de tática chamada ‘sly civi- lity’, que ameaçam a autoridade colonial. Por outro lado, a validade da posição destas teorias foi questionada por Benita Parry (1987), alegan- do que poderiam ser uma máscara para a dominação neo-colonial, uma das “forma[s] metamorfoseada[s] do imperialismo”. A autora comparti- lha a mesma opinião de Fanon (1990) e Ngugi (1986), que provaram como “o colonizado pode ser reescrito na história”. Se a descolonização sempre é um fenômeno violento (Fanon, 1990), o colonizado fala quan- do se transforma num ser politicamente consciente que enfrenta o opressor com antagonismo sem cessar.

BONNICI, T.

Introdução ao estu- do das literaturas pós-coloniais.

Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 07-23, 1998.

1 BONNICI, T.

Tendências do fe- minismo no contex- to pós-colonial. In:

SEMINÁRIO NACIONAL MU- LHER E LITERA- TURA, 7. 1997, Niterói. Anais...

Niterói: UFF, 1998 (no prelo)

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Há três teorias sobre a reversão do colonizado-objeto em sujeito dono de sua história e da sua capacidade de reescrever sua história.

Janmohammed (1988) afirma que o autor da literatura pós-colonial deve dedicar-se à produção de estereótipos negativos do colonizador e de ima- gens autênticas do colonizado. Deste modo, criará um mecanismo que foi produzido inversa mas eficazmente na era colonial. Bhabha (1983) recusa a polaridade colonizador-colonizado e reconhece que a alteridade é “a sombra amarrada” do sujeito porque ambos se construíram. Este hiato entre o sujeito e o objeto, o território da incerteza, é aproveitado pelo autor pós-colonial para reconstruir seus personagens pós-coloniais.

O hibridismo pós-colonial com sua subversão da autoridade e a implo- são do centro imperial constrói o novo sujeito pós-colonial. O guianen- se Wilson Harris (1973) fala do sujeito colonizado como alguém que possui muitas facetas, o eu e o outro. A procura deste eu composto é a nova identidade pós-colonial. A violência (o desmembramento do sujei- to) é seguida pela fragmentação e pela reconstrução do vazio a partir do qual as culturas são liberadas da dialética destrutiva da história. A chave de tudo isso é a imaginação, o único e antigo refúgio de pessoas oprimi- das pela política de dominação e de subserviência (Souza, 1994).

Com exceção da teoria simplista de JanMohammed, as outras duas tentam mostrar a possibilidade de ser do sujeito pós-colonial, porque ra- dical e internamente subverte a noção de eurocentrismo e constrói a al- teridade como sujeito.

AB-ROGAÇÃO E APROPRIAÇÃO

Na era colonial, a literatura na colônia estava sob o controle direto da classe dominante, que emitia parecer sobre a forma literária e controla- va a publicação e distribuição do texto. Portanto, tais textos surgiram dentro do contexto do poder restritivo e limitador, testemunhando este fato. Conseqüentemente, a existência de literaturas fora do eixo eurocên- trico dependia da ab-rogação deste poder restritivo, como também da apropriação da escrita para usos distintamente novos. A ab-rogação é a recusa das categorias da cultura imperial, de sua estética, de seu padrão normativo e de uso correto, bem como de sua exigência de fixar o signi- ficado das palavras. É um momento da descolonização do idioma euro- peu. A apropriação é um “processo pelo qual o idioma é apropriado e obrigado a carregar o peso da experiência da cultura marginalizada”

(Ashcroft et al., 1991). Como o idioma é um instrumento ideologicamen- te carregado, o autor pós-colonial sempre se encontra numa verdadeira tensão entre os pólos da ab-rogação do idioma castiço recebido da me- trópole e da apropriação que submete o idioma a uma versão popular, atrelado ao lugar e às circunstâncias históricas. Seja em sociedades mo- noglotas (Argentina), ou em diglotas (Índia, África, populações indíge- nas no Brasil) ou em poliglotas (ilhas do Caribe), o autor pós-colonial emprega as duas estratégias. Ele “arrebata o idioma, o recoloca numa si-

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tuação cultural específica e ainda mantém a integridade daquela alteri- dade (a escrita) que historicamente foi empregada para manter o homem pós-colonial nas periferias do poder, da autenticidade e mesmo da reali- dade”. (Ashcroft et al., 1991)

O CÂNONE COLONIAL

A desmistificação da formação e da constituição do cânone ociden- tal é algo recente e, em parte, deve-se ao desenvolvimento das literaturas pós-coloniais. A excelência do idioma e a complexidade da obra literária produzida e consagrada pelo centro começam a ceder às investigações sociais e políticas que privilegiaram certas obras e certos autores en- quanto descartaram outros (obras e autores). Não somente a ligação en- tre o cânone literário e o poder é um fato indiscutível, mas também sua utilização para fixar a superioridade do colonizador, degradar o “primi- tivismo” do colonizado e relegar à periferia qualquer manifestação cul- tural e literária oriunda da colônia. “A tentação dos públicos metropoli- tanos em geral tem sido decretar que esses livros, e outros similares, não passam de exemplos de uma literatura nativa escrita por ‘informantes na- tivos’, em vez de contribuições contemporâneas ao saber. A [sua] autori- dade tem sido marginalizada porque, para os estudiosos profissionais ocidentais, parecem escritas de fora para dentro” (Said, 1995). A nudez dos povos indígenas descrita em todos os documentos coloniais é meto- nímica da suposta incapacidade dos povos pós-coloniais de emergir com sua literatura e produzir obras de arte iguais às européias. Com estes pressupostos, a literatura européia fixa-se como essencial, indiscutível, influenciando e impondo estilos e padrões literários. Por outro lado, a li- teratura pós-colonial é fixada como tributária, dependente, imitativa.

Max Dorsinville apud Hutcheon (1995) diz que o relacionamento en- tre sociedades dominantes e dominadas produz a configuração do câno- ne literário. Na Austrália, a literatura dos aborígenes é considerada peri- férica diante da literatura australiana em inglês, que, por sua parte, já foi considerada periférica no contexto da literatura inglesa. A pouca reper- cussão da literatura brasileira no contexto mundial é devida à sua supos- ta derivação da literatura portuguesa que, por sua parte, sempre foi con- siderada tributária da francesa. Embora o Canadá atual não possa ser considerado um país em desenvolvimento, houve um tempo em que a ca- nonicidade de sua literatura foi nula devido à alegada dependência do modelo britânico e, depois, estadunidense. Apesar disso e no que concer- ne a estas duas literaturas, pode-se afirmar com Margaret Laurence que os autores pós-coloniais tiveram o grande trabalho “de descobrir suas vozes e escrever o que realmente pertence a eles mesmo enfrentando o imperialismo cultural esmagador” (Dorsinville apud Hutcheon, 1995).

É interessante mencionar a situação da literatura dos Estados Unidos da América para analisar melhor o modelo dominante-dominado de Dor- sinville. A literatura estadunidense foi considerada uma literatura tribu-

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tária até o século XIX. A transformação do país nos séculos XIX e XX, de uma posição política periférica para a de dominante, contribuiu para a assimilação de parâmetros europeus. Conseqüência disso foi a produ- ção de obras canônicas e o exercício de grande influência nas outras li- teraturas. O crescente poderio político dos Estados Unidos e sua capaci- dade de dominação influenciaram a seleção das obras canônicas e as co- locaram a par do cânone literário europeu.

DESCOLONIZAÇÃO

Em Les damnés de la terre (1961), de Frantz Fanon (1925-1961), e em Portrait du Colonisé précédé du Portrait du Colonisateur (1957), de Albert Memmi (1920 - ), analisa-se o relacionamento entre colonizador e colonizado dentro do contexto dialético império-colônia. Os autores concluem que qualquer texto oriundo desta dialética é produto do con- trole político exercido em todo o período pós-colonial. Segue-se que a existência de um conjunto de textos diferenciados da literatura metropo- litana e caracterizados pela cultura existente depende da descolonização.

Para certos autores, o termo descolonização significa a recuperação dos idiomas e culturas pré-coloniais. Ngugi (1986) e Huggan (1995) consi- deram o colonialismo como uma fase histórica e que o renascimento da cultura indígena outrora florescente anulará todos os malefícios que in- formaram a cultura no período pós-colonial. Por outro lado, Williams (1969) afirma que os traços da história jamais podem ser apagados ou ig- norados. A cultura híbrida e sincrética dos povos pós-coloniais é fator positivo e uma vantagem da qual recebe a sua identidade e força.

Realmente, a Índia e a África têm possibilidades de desenvolver uma cultura e uma literatura com moldes pré-coloniais. Após 1970, o quenia- no Ngugi escreve exclusivamente no idioma Gikuyu e os romances dos nigerianos Achebe e Tutuola são exemplos típicos de oratura (a tradição oral africana), embora escritos em inglês. Movimentos semelhantes sur- giram na Austrália e na Nova Zelândia. Parece, porém, que há um equí- voco quando se identifica a descolonização com a reconstituição da cul- tura pré-colonial. Por outro lado, a cultura eurocêntrica é tão profunda que a produção de um romance em língua indígena ainda constitui um texto culturalmente sincrético. Nos anos 70, houve um debate entre estas duas correntes, especialmente referente à África e ao Caribe. Chinweizu, em Towards the Decolonization of African Literature (1983) e Brathwai- te condenavam a subserviência a técnicas literárias ocidentais e defen- diam a volta a raízes africanas como o fator mais importante da identi- dade; por outro lado, o nigeriano Soyinka e os caribenhos Harris e Walcott foram favoráveis ao sincretismo e à pluralidade cultural (Benson

& Conolly, 1994). Os trabalhos de Todorov (1991) e Said (1995), anali- sando os encontros coloniais literários referentes ao Europeu e ao Outro e os estudos de Jameson, Bhabha e Spivak (Benson & Conolly, 1994) so-

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bre o impacto da ideologia na formação do sujeito colonial, debatem for- mas pelas quais a subjetificação do colonizado poderá se tornar realida- de. Jamais se pode esquecer que a descolonização é o processo oposi- cionista contra a dominação, “uma verdadeira criação de homens novos ... não se originando de algum poder sobrenatural, porque o objeto que foi colonizado torna-se pessoa durante o mesmo processo em que se li- berta” (Fanon, 1990).

A REINTERPRETAÇÃO E A REESCRITA

Até certo ponto, todas as literaturas nacionais desenvolveram o se- guinte esquema para chegarem a ser consideradas como tal: (1) a imita- ção de um padrão dominante e sua assimilação ou internalização; (2) a rebelião, onde tudo o que foi excluído pelo padrão dominante começa a ser valorizado. Embora haja crítica a este modelo (Tiffin, 1988), pode-se dizer que a formação e a consolidação das literaturas pós-coloniais se dão na subversão, ou seja, a resposta ao centro, formulada na famosa fra- se de Rushdie “the Empire writes back to the centre”. A estratégia das li- teraturas dominadas é dupla: (1) uma tomada de posição nacionalista, quando a literatura pós-colonial assegura a si mesma uma posição deter- minante e central e (2) quando questiona a visão européia e eurocêntrica do mundo, desafiando a sistematização de pólos antagônicos (domina- dor-dominado) para regulamentar a realidade.

A primeira estratégia consiste na reinterpretação de obras do cânone europeu. O exemplo de The Tempest (1623) é muito significativo. Embora desde meados do século XIX houvesse indícios de uma interpretação pós- colonial desta peça de Shakespeare (Ashcroft, 1991), a apropriação deu-se principalmente com os caribenhos George Lamming (em seus romances Natives of My Person e Water with Berries, ambos de 1971 e a coleção de ensaios The Pleasures of Exile, 1960), Aimé Césaire (Une tempête:

d’après La Tempête de Shakespeare – Adaptation pour un théatre négre) e outros (Brydon, 1984). A relação entre Próspero e Calibã é considerada o paradigma das relações centro-margem ou a realidade pós-colonial. En- quanto a dominação da realidade, a linguagem, a arrogância e a posse de território alheio executadas por Próspero são metáforas do domínio colo- nizador, a submissão forçada, o castigo, a rebeldia e o uso da linguagem para amaldiçoar pertencem ao colonizado Calibã (Bonnici, 1993).

No mesmo viés, encontra-se o romance aparentemente inócuo Mansfield Park (1814), de Jane Austen, que, através de uma estratégia de leitura pós-colonial, poderá revelar certos fatores outrora ocultos. As bases econômicas das famílias abastadas e da sociedade afluente inglesa, mudas e envoltas em silêncio, são fatores denunciantes do tráfico de escravos e do lucro auferido do trabalho escravo em Antígua, engendrados por Sir Thomas Bertram, o tio da protagonista Fanny. A afirmação de Yasmine Gooneratne em seu discurso “Historical ‘truths’ and Literary ‘fictions’’’

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(apud Ashcroft et al., 1991) de que a leitura e reinterpretação pós-coloniais do romance poderão privilegiar estes silêncios e torná-los os anúncios mais importantes do texto, realmente abre caminhos novos. Além de mencionar o silêncio de Austen, Said (1995) faz semelhante crítica no caso de Camus.

No caso da literatura brasileira, Anchieta, na peça Na Festa de São Louren- ço (1587), transfere o weltanschaung europeu sobre demonologia, alterida- de e marginalização ao indígena brasileiro, polariza a dicotomia coloniza- dor-colonizado e justifica a objetificação do nativo (Bonnici, 1996).

A segunda estratégia refere-se à reescrita, ou seja, “a retomada de obras literárias do cânone ... para a reestruturação das ‘realidades’ euro- péias em termos pós-coloniais. A finalidade não é a reversão da ordem hie- rárquica, mas interrogar os pressupostos filosóficos sobre os quais tal or- dem estava baseada” (Ashcroft, 1991). Exemplos clássicos da reescrita são os romances Wide Sargasso Sea (1966), da escritora dominicana Jean Rhys (1890-1979) a partir de Jane Eyre (1847), de Charlotte Brontë (1816- 1855), e Foe (1986), do escritor sul-africano J. M. Coetzee (1940- ), a par- tir de Robinson Crusoé, de Daniel Defoe (1719). Wide Sargasso Sea de- senvolve os eventos do romance de Brontë sobre a esposa “creola” de Mr.

Rochester trancada no sótão. Antoinette narra sua história de espoliação praticada pelo seu marido inglês na fazenda dela no Caribe. A gradual de- gradação e submissão forçada de Antoinette por seu esposo, até sua depor- tação para Thornfield Hall, tornam-se o fator emblemático de encontros coloniais. O incêndio da mansão mostra a resposta da mulher “coloniza- da” diante da arrogância e domínio do europeu (Bonnici, 1994). Em Foe, o narrador não é mais o inventivo e prático Robinson Crusoé, mas uma mulher inglesa chamada Susan Barton. Desterrada numa ilha, ela encon- tra um pacato e desanimado Cruso e seu escravo, o africano Friday. Cruso morre durante a viagem de volta à Inglaterra. Na metrópole, Susan tem dois problemas: transmitir a sua narração da estada na ilha a um elusivo escritor Mr. Foe e arrancar do mudo Friday a sua história. Ambas as tare- fas tornam-se quase impossíveis: a primeira por causa da pretendida ma- nipulação da história por Mr Foe e a segunda pela incompreensão do eu- ropeu diante de singulares manifestações “literárias” empreendidas por Friday. O romance avança na problemática posta pelo romance original e discute o silêncio do colonizado, a possibilidade de fala após uma história de brutalidades cometidas pelos europeus, o relacionamento entre o colo- nizador e o colonizado, as modalidades não-canônicas de fala e escrita, a manipulação da história pelo europeu e a subversão gentil (o conceito de

‘sly civility’, discutido por Bhabha) do subalterno (Bonnici, 1995).

CONCLUSÃO

A análise da obra literária sob o enfoque da teoria pós-colonialista pode ser uma tarefa difícil porque implica uma metanóia no leitor e no crítico. Pode inclusive subverter noções importantes da Teoria Literária e

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criar um mal-estar quando se faz a comparação tipicamente ocidental (porque hierárquica) entre a literatura de uma ex-colônia e as principais literaturas européias. Vivendo num país cuja literatura não tem quase projeção alguma na literatura mundial porque sempre foi considerada tri- butária (Kothe, 1997) e, no caso específico do autor deste trabalho, en- sinando as literaturas de nações colonizadoras no idioma do colonizador, a análise pós-colonialista pode privilegiar uma prática estratégica. Ela favorece a escolha de textos de origem pós-colonial, escritos por autores que experimentaram a degradação e, às vezes, o aniquilamento de sua cultura pelo colonialismo, para investigar a resposta de cada um diante da arrogância colonial ainda existente. Oferece também a oportunidade de resgatar textos que o poder colonial suprimia e fazia sumir porque subvertiam a ordem colonial por ele estabelecida, de analisar textos sob uma nova perspectiva e recuperar aspectos satíricos e irônicos pelos quais os autores, superando conveniências laudatórias, mostram a infâ- mia da colonização e da alteridade.

A investigação literária pós-colonialista abre novas perspectivas para literaturas que, embora nitidamente pós-coloniais, têm dificuldade em aceitar esta situação. São literaturas já maduras, como a brasileira, mas relegadas à posição tributária e cujos autores não aparecem na lista ‘ca- nônica’ de The Western Canon, de Harold Bloom. Como o africano Friday no romance Foe, de Coetzee, elas possuem métodos próprios para falar e contar a sua história. O mergulho à nau naufragada reproduz a volta às profundezas da história para que o sujeito pós-colonial represen- tado na literatura recupere a voz e assim possa narrar e anunciar as suas experiências como o Outro.

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ABSTRACT

During the last three decades intense research work has been done on the literatures of peoples who had been colonized in various forms. This paper is a summary of the achievements. Investigations on colonizing strategies, the colonizer’s role in the educational formation of the natives through the European language and literature, the colonial literary canon, the marginalization of all native cultural expressions and the colonized people’s answer have been discussed. Criticism on the silences in colonial literature and the birth of literatures free of Eurocentric standards questioned certain bases of traditional Literary Theory. Among other results reinterpretation and rewriting of Western canonical works have had an important role in the answer of post-colonial peoples.

Key Words: Literature, post-colonialism, metropolitan center-colony, decolonization, post-colonial strategies.

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O perfil do profissional de informática na região de Bauru

* Departamento de Ciências Exatas, Centro de Ciências Exatas Universidade do Sagrado Coração - Rua Irmã Arminda, 10-50 - 17044-160 - Bauru-SP.

Ronaldo Martins da Costa*

Sidnei Bergamaschi*

COSTA, Ronaldo M., BERGAMASCHI, Sidnei. O perfil do profissional de informática na região de Bauru. Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 25-40, 1998.

RESUMO

O rápido avanço das tecnologias ligadas à área de informática, além de exigir dos profissionais da área uma contínua e rápida atualização, pro- voca nos cursos universitários uma grande defasagem entre os seus cur- rículos e as necessidades apresentadas pelos profissionais.

Em razão dessas dificuldades, e pela pequena existência de dados sobre os profissionais da área de informática, esse projeto busca levantar o perfil desses profissionais, identificando suas necessidades em relação ao uso das tecnologias de informática, bem como a adequação dos cur- rículos dos cursos de informática a esse perfil.

O projeto focaliza a região geográfica de Bauru que, além de possuir quatro cursos universitários e dois cursos técnicos na área de informáti- ca, possui também um razoável contingente de profissionais atuando na área. O projeto analisa, ainda, em relação às necessidades desses profis- sionais, os currículos de alguns dos cursos de informática da região.

Os resultados obtidos demonstraram características particulares desse mercado profissional, com uma população jovem envolvida num am- biente altamente voltado para a tecnologia. Verificou-se ainda o uso de grande variedade de tecnologias e o distanciamento entre algumas dis- ciplinas consideradas clássicas pelas universidades e pouco utilizadas.

Conclui-se então que: a grande variedade de tecnologias existentes na área de informática, as diferentes formas de adoção destas pelas empre- sas e a grande velocidade com que a indústria cria novas tecnologias são obstáculos para uma maior adequação dos currículos dos cursos universitários às necessidades do mercado. Sendo assim, os cursos de informática devem buscar uma flexibilização e adequação dos conteú- dos de suas disciplinas para acompanharem as novas tecnologias e tam- bém evoluir com as mesmas.

Unitermos: Informática, profissionais de informática

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INTRODUÇÃO

A cada dia que passa, a informática se faz mais presente em nossas vidas, seja por um terminal bancário que operamos, ou mesmo através de um “game” com o qual nos divertimos. Ela ganha espaço rapidamente, tornando-se um instrumento quase indispensável.

A evolução deste fenômeno ocorre de maneira impressionante. O que nos anos 70 eram apenas grandes equipamentos restritos a grandes instituições, nos anos 80 invadiram nossos lares. Hoje é possível comprar eletrodomésticos, obter um extrato bancário ou mesmo ter acesso a in- formações de outros continentes, por uma rede de comunicação conhe- cida como Internet, conectada a um pequeno microcomputador. Torna-se cada dia mais difícil mensurar para onde tal avanço nos conduzirá.

Nicholas Negroponte, diretor do Laboratório de Mídia de Massachusetts, que costumava ser ouvido como um profeta, recentemen- te deixou de anunciar o futuro, pois este já chegou. Segundo ele, cada época possui um grupo de inovações que marca o ritmo da sociedade.

Nos anos 80, foi a prestação de serviços e os anos 90 estão entregues à indústria da informação e de transformação digital. Segundo Nicholas (Euripedes, 1995): Nossa época está sendo marcada pela transformação do átomo em bit (a unidade menor em linguagem de computadores).

Este avanço tecnológico tem encantado muitas pessoas, como admi- nistradores de empresas, engenheiros, médicos, estudantes ou mesmo crianças. E, dentre todos os interessados, destacamos os estudantes.

Aqueles que têm demonstrado seu interesse nas fichas de inscrições para o concurso vestibular, quando escolhem a informática como futura pro- fissão.

O Problema de Pesquisa

O encanto desta ciência gera então um crescente número de cursos em nível técnico, de graduação e de aperfeiçoamento.

Também podemos observar este fato nos vestibulares das universida- des de Bauru. A procura tem aumentado, em média 15% ao ano. Anali- sando os vestibulares da Universidade do Sagrado Coração (USC), As- sociação Bauruense de Ensino Superior e Cultura (ABESC) (dados co- letados pelos autores) e Universidade Estadual Paulista - Júlio de Mes- quita Filho (UNESP) (GUIAS do vestibulando UNESP. 1991, 1992, 1993, 1994) que possuem cursos específicos em informática, constatou- se um aumento de 24,6% de 1990 para 1993 e um aumento de 91,5% na procura pelos cursos de informática de 1990 para 1995. (FIGURA 1).

COSTA, Ronaldo M., BERGA- MASCHI, Sidnei. O perfil do profissio- nal de informática na região de Bauru.

Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 25-40, 1998.

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FIGURA 1: Gráfico demonstrativo da procura por cursos de Informáti- ca (nível superior) na região de Bauru.

Fonte: Guia do Vestibulando UNESP e coleta de dados pelos autores

Transferindo os percentuais para números de candidatos nos concur- sos vestibulares, em 1990 houve 1467 candidatos, em 1993 foram 1946 candidatos e em 1995 somaram 2809.

O interesse por estes cursos também é alto nas escolas de nível téc- nico, Colégio Técnico Industrial - Prof. Isaac Portal Roldan, Liceu No- roeste e Prevê Objetivo onde, nos últimos 3 anos (1993 a 1995), o au- mento foi de 40%, ou seja, 1299 candidatos em 1993 e 1822 candidatos em 1995 (dados coletados pelos autores).

A região de Bauru foi apontada como a região com melhores condi- ções de desenvolvimento industrial e comercial, segundo pesquisa publi- cada pela revista Exame

Por sua localização, condições de acesso, infra-estrutura, qualidade de mão-de-obra e outras características, a microrregião comandada por Bauru sagrou-se a grande campeã numa pesquisa realizada pela Simo- sem Associados. (Camargo & Wilner, 1993).

Hoje Bauru tem uma boa estrutura a fim de atender a esta procura pelos cursos de informática. Possui quatro instituições de ensino de ní- vel superior com cursos de computação, análise de sistemas e tecnologia em processamentos de dados, e três instituições de ensino de nível técni- co com cursos de processamento de dados.

Verifica-se, porém, uma grande transformação a que serão submeti- dos os profissionais de informática nos próximos anos e a necessidade do especialista de software do século XXI ser, além de técnico em infor- mação, uma combinação de homem de negócios, psicólogo, designer e arquiteto (Genesini, 1995).

Concentraremos, então, esforços no sentido de caracterizar o perfil do profissional que hoje atua no mercado de trabalho e aquele que está se graduando nas instituições de ensino, obtendo assim parâmetros de comparação, para fornecermos subsídios à comunidade científica e às empresas que se utilizarão desses profissionais na região de Bauru nos próximos anos.

COSTA, Ronaldo M., BERGA- MASCHI, Sidnei. O perfil do profissio- nal de informática na região de Bauru.

Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 25-40, 1998.

3000 2500 2000 1500 1000 500 0

1990 1991 1992 1993 1994 1995

1467

1778 1646 1946 1981

2809

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Revisão Bibliográfica

A implementação da filosofia CIO (Chief Information Officer) de- penderá da percepção que os empresários e os profissionais de análise de sistemas terão em utilizar a informática para alavancar os negócios.

(Saviani, 1993). O analista de sistemas do futuro deve acompanhar as tendências atuais da economia, onde empresas buscam maior lucro e es- pecialização em suas atividades. Os softwares desenvolvidos devem acompanhar estas mudanças, caso contrário, jamais poderão ser implan- tados com sucesso.

Outra deficiência existente é a formação profissional ortodoxa que os analistas recebem nas universidades, cujos currículos não conseguem acompanhar as mudanças existentes.

Conhecer as tecnologias disponíveis, manter-se atualizado, ter boa ca- pacidade de comunicação, saber ouvir e ter poder de negociar são ca- racterísticas do analista de negócios. (Antunes, 1992).

O “mundo” da informática vem sofrendo grandes transformações. A área de hardware avançou rapidamente, partiu de grandes computadores com pequena capacidade de memória para mainframes portáteis, as workstations. As linguagens saíram do assembler ou linguagens de má- quina para linguagens de quarta geração que aproximam o analista do usuário final.

Resta agora, ao profissional, avançar, partindo do atual analista de sistemas para o analista de negócios, tornando-se uma pessoa capaz de conhecer as tecnologias disponíveis.

É possível que o cargo que você ocupa agora ou mesmo sua profissão ou a empresa em que você trabalha hoje sejam obsoletos, ou em via de sê- lo, dentro de dez anos. (Bernardi, 1994)

Uma formação escolar de boa qualidade, hoje, exige instrumentos mo- dernos da tecnologia. É essencial que os estudantes tenham liberdade de raciocínio, desenvolvimento de sua criatividade e iniciativa própria. Desta forma, muitos colégios têm adotado o uso de computadores no ensino.

Ao aproximarmo-nos do novo milênio, a economia e o mercado pos- suirão a chamada globalização, que visa a unir cada vez mais o mundo, sendo o público-alvo todos os povos. Nesta nova economia, grandes em- presas para se trabalhar serão aquelas com alto capital intelectual e bai- xo capital físico.

Nesse novo mercado de trabalho, os profissionais enfrentarão uma nova maneira de trabalho, em que as pequenas empresas mais eficazes vão superar as grandes empresas menos eficazes. O objetivo será adqui- rir mais agilidade nos negócios.

COSTA, Ronaldo M., BERGA- MASCHI, Sidnei. O perfil do profissio- nal de informática na região de Bauru.

Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 25-40, 1998.

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METODOLOGIA

Definição do Escopo

Como primeira etapa deste trabalho, identificou-se a região geográ- fica a ser pesquisada, definindo como sendo a cidade de Bauru e suas ci- dades vizinhas. A distância máxima permitida foi 150km, para manter o caráter regional da pesquisa.

Após este processo, na segunda etapa do trabalho, caracterizaram-se os profissionais ou profissões a serem abordadas durante a pesquisa. O profissional em questão, trata-se de um grupo de pessoas ligadas a de- senvolvimento de software, treinamento, supervisão, coordenação, ana- listas em geral e técnicos em informática. Nesta categoria, não foram abordados outros profissionais ligados à informática, tais como: empre- sários, digitadores, operadores, técnicos de manutenção, vendedores etc.

Tal categoria de profissionais foi filtrada na etapa de coleta de dados.

Definição da População

Definida a região geográfica e os profissionais desejados, procurou- se levantar um banco de dados para um futuro contato. Devido à área de informática não possuir profissão regulamentada por lei e por não haver um órgão controlador, tal como o Conselho Regional de Farmácia (CRF) ou Conselho Regional de Odontologia (CRO), ao qual fosse possível re- correr para obter tais informações, foram feitos contatos com entidades ligadas à área que pudessem fornecer tais dados. Foram contatados o Sindicato de Processamento de Dados (SINDPD) e a Associação de Usuários de Informática (SUCESU) na intenção de obter um banco de dados.

Verificou-se um pequeno número de profissionais associados ao SINDPD e estes não constituíam os de interesse da pesquisa. Junto à SU- CESU obteve-se um total de 931 nomes que, após uma filtragem, foram reduzidos a um terço do número inicial. Na tentativa de utilizar tal lista de nomes, constatou-se que os dados eram muito antigos e pouco confiá- veis, sendo impossível a utilização dos mesmos.

Devido à dificuldade em conseguir dados confiáveis, e não havendo na região empresa ou organização capaz de fornecer dados desta catego- ria de profissionais, optou-se por uma amostra não probabilítica e inten- cional.

Iniciou-se um levantamento dos profissionais, através de fontes infor- mais, contato por telefone e contato pessoal. Desta forma, conseguiu-se le- vantar uma amostra confiável para futuramente realizar a coleta dos dados.

COSTA, Ronaldo M., BERGA- MASCHI, Sidnei. O perfil do profissio- nal de informática na região de Bauru.

Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 25-40, 1998.

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