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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE VOTORANTIM

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE VOTORANTIM

"Quando vou a um país, não examino se há leis boas, mas se as que lá existem são executadas, pois leis boas há por toda parte.”

Montesquieu (1689-1755)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, através da 3ª Promotoria de Justiça de Votorantim, pela Promotora de Justiça que abaixo subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, para, nos termos dos artigos 129, inciso III, 208, inciso III e 227, § 1º, inciso II da Constituição Federal; 25, inciso IV, a, da Lei 8.625/93; 103, inciso VIII, da Lei Complementar Estadual 734/93; 5º da Lei 7.347/85 e 11, §§ 1º, 2º; 54, inciso III e 201, inciso V, da Lei 8.069/90 e artigo 3º da Lei 7.853/89, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE TUTELA

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ANTECIPADA em face do MUNICÍPIO DE VOTORANTIM, pessoa jurídica de direito público interno, nesta cidade e comarca, representado pelo Prefeito Municipal, Sr. Carlos Augusto Pivetta e da FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, consoante as razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

I - DOS FATOS:

1.MILENA BELLI RAMOS (nascida em 11 de janeiro de 1999), filha de Aparecido Ramos e de Marinalva Almeida Belli é portadora de deficiência (rebaixamento intelectual para as atividades), motivo pelo qual não consegue acompanhar as aulas, pois tem dificuldade de

aprendizado, conforme documentos de fls. 13/4.

Desta forma, segundo orientação médica e da APAE necessita de cuidados específicos. A genitora da referida criança que é hipossuficiente, matriculou-a na Escola Izabel Fernandes Pedroso (fls.13) visando ao desenvolvimento das habilidades físicas e intelectuais desta criança. A criança, todavia, não evoluiu nada na referida escola, pois não há profissionais capacitados nem infra-estrutura para inclusão social no referido local.

2.PAULO RICARDO

MENDES filho de Raquel Mendes, documento de fls.361. O

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adolescente não fala e não escuta, sendo que do mesmo modo que a criança acima mencionada, foi matriculado em escola da rede pública Municipal, mas não vem recebendo os cuidados adequados, pela ausência de professor intérprete de libras.

A presente ação civil pública tem como fundamento as inúmeras reclamações recebidas diariamente na Promotoria de Justiça acerca da omissão dos poderes públicos em relação ao atendimento integral às crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais. Em razão das reclamações, devidamente documentadas nos autos, foram realizadas diversas diligências no Inquérito Civil 14/2007. Desde o ano de 2007 o Ministério Público vem expedindo ofícios às autoridades Municipais, Estaduais e entidades locais para a inclusão das crianças e adolescentes de Votorantim em locais com ensino adequado a sua situação especial, todavia, conforme se depreende da documentação em anexo (fls.15/23) com ofícios expedidos ao Presidente do Conselho Municipal de Educação, Conselho Tutelar de Votorantim, Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, Secretaria de Educação do Município de Votorantim, Diretoria da Apae de Votorantim, não logrou êxito. A Promotoria de Justiça foi procurada também por pais de alunos especiais, como o Sr. Noel Araújo dos Santos (fls.

183). Foi ouvida em declarações a Supervisora de Ensino

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representando a Dirigente Regional de Ensino (fls.259/260).

Foi expedido ofício a Secretaria Estadual de Educação, tendo sido obtida a resposta de fls.276. Foi tentado, ainda, o contato telefônico com os responsáveis, mas também não se obteve resultados positivos.

Assim não resta outra saída que não o ajuizamento da presente ação para garantir os direitos constitucionais das crianças e adolescentes portadores de deficiências residentes em Votorantim. Em face do exposto, como a situação retratada afronta o estabelecido na lei quanto ao direito ao acesso irrestrito à educação das pessoas com deficiência e diante da demora pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo na contratação de profissionais adequados, resta somente a possibilidade de se buscar, no Poder Judiciário, através da propositura da presente ação judicial, a efetivação do direito estabelecido.

É certo que houve avanços na tramitação de referido processo, conforme se verifica pelas informações prestadas pela Secretaria de Estado da Educação (doc. Anexos, fls. 366/7), mas até o presente momento, ainda não houve sua conclusão, não havendo data prevista para a contratação do profissional “cuidador” e de “professor de libras”.

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II - DO DIREITO

O artigo 5º, caput, da Constituição Federal estabelece que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

Para que haja a verdadeira igualdade, o princípio da isonomia estabelecido neste artigo da Carta Magna deve ser corretamente interpretado.

Segundo leciona Luiz Alberto David Araújo:

A igualdade formal deve ser quebrada diante de situações que, logicamente,

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autorizem tal ruptura. Assim, é razoável entender-se que a pessoa portadora de deficiência tem, pela sua própria condição, direito à quebra da igualdade, em situação das quais participe com pessoas sem deficiência. Assim sendo, o princípio da igualdade incidirá, permitindo a quebra da isonomia e protegendo a pessoa portadora de deficiência, desde que a situação logicamente o autorize. Seria, portanto, lógico afirmar que a pessoa portadora de deficiência tem direito a um tratamento especial dos serviços de saúde ou à criação de uma escola especial ou, ainda a um local de trabalho protegido.

(A proteção Constitucional das Pessoas Portadoras de Deficiência, Brasília, Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1994, p.

52)

No mesmo sentido vale ressaltar a lição de Paulo Afonso Garrido de Paula e Liliana Mercadante Mortari que afirmam:

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...seus direitos fundamentais ligados à vida, saúde, educação, liberdade e locomoção, convivência familiar e comunitária, segurança, trabalho, lazer, respeito etc. devem ser disciplinados à luz dos obrigados (Família, Sociedade e Estado), de modo que a subordinação aos seus direitos não seja considerada concessão ou condescendência, mas imperativos de um Estado Democrático de Direito que percebe seus integrantes com as peculiaridades que lhe são próprias. Complementa tal idéia a necessidade de reconhecimento de direitos especiais, como a acessibilidade, inclusão, garantia ao trabalho, habilitação e reabilitação, profissionalização, atendimento educacional especializado, renda mínima, esportes e lazer adequados à sua condição etc, de modo a eliminar ou reduzir os obstáculos que impeçam o exercício da própria cidadania. (Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, 1º edição, São Paulo, editora Max Limonad, 1997, p. 131)

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O legislador percebeu que certos grupos da sociedade - dentre os quais, as pessoas com deficiência - necessitam, por sua própria condição, de uma proteção específica e indispensável para que possam se integrar à sociedade, dela participando em condições de igualdade.

Assim, o princípio da igualdade funciona como regra mestra e deve ser invocado para garantir o direito à integração social e educacional da pessoa com deficiência. É certo, porém, que um dos grandes obstáculos ao direito à integração e inclusão do aluno com deficiência motora e neurológica é a ausência de profissional “cuidador” que o auxilie nos seus cuidados básicos de alimentação e higiene pessoal. Este profissional, segundo define a própria Secretaria de Estado da Educação é aquele que oferece suporte aos alunos com deficiência que apresentam limitações motoras graves. Sua atribuição é auxiliar no cotidiano escolar, o aluno que não consegue realizar com independência as atividades de alimentação, utilização do banheiro, higiene bucal e higiene íntima, locomoção e administração de medicamentos que necessita de auxilio constante para realizá-las. O profissional professor de libras também deve estar apto a atender as crianças e adolescentes surdos-mudos.

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No momento em que se nega estes profissionais de apoio aos alunos com deficiência, privam-lhes também a sua integração social, e consequentemente, o exercício da cidadania, já que lhes impedem de frequentar o ambiente escolar. E mais tais crianças são expostas às mais graves violações de seus direitos humanos. Note-se, por exemplo, que MILENA informou que “os amigos tiram sarro; chamam de boba...” (vide estudo social fls.8). Tal exposição não é um caso isolado, mas uma forma de comportamento em locais inadequados e despreparados para receber estes jovens.

Reforçando o princípio do reconhecimento da dignidade humana e de seus direitos inalienáveis como o direito à igualdade e à liberdade, previstos e consagrados na Carta das Nações Unidas, de 1945, bem como, com o objetivo de proteger a infância e promover a assistência especial à criança, nos termos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, com a finalidade de sua formação plena como cidadão responsável, foi assinada a Convenção sobre os Direitos da Criança, adotado pela Resolução n. L 44 (XLIV) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989, sendo e ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990. O Brasil obrigou-se, nos termos do artigo 2º da referida Convenção a respeitar “...os direitos enunciados na

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presente Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional, étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus representantes legais.” (grifos nossos).

Foi exatamente para garantir este direito à igualdade que o legislador estabeleceu no artigo 227, parágrafos 1º da CF:

Parágrafo 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não governamentais e obedecendo aos seguintes preceitos:

II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial e mental, bem como de

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integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.

Já no capítulo Da Educação, da Cultura e do Desporto, no artigo 208, a mesma Carta dispõe que:

Art. 208 – O dever de Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

...

III. atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

(...)

Sobre o mesmo assunto, mas em sede de Constituição Estadual, temos que:

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Art. 239 - O Poder Público organizará o Sistema Estadual de Ensino, abrangendo todos os níveis e modalidades, incluindo a especial, estabelecendo normas gerais de funcionamento para as escolas públicas estaduais e municipais, bem como para as particulares.

(...)

§ 2º - O Poder Público oferecerá atendimento especializado aos portadores de deficiências, preferencialmente na rede regular de ensino.

Desta forma, visando à existência de uma sociedade inclusiva, bem como alcançar à verdadeira igualdade estabelecida na Constituição, a legislação infra- constitucional normatizou alguns direitos aos portadores de deficiência, entre eles, o acesso igualitário a educação.

A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, visando à integração social do portador de deficiência, dispôs que:

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Art. 2º. Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Parágrafo único - Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos objeto desta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

Na área da educação

a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade

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educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais, com currículos, etapas e exigências de diplomação próprios.

Já o decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamentou a Lei n. 7853/89, dispondo sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, estabeleceu:

Art. 24. Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta responsáveis pela educação dispensarão tratamento prioritário e adequado aos assuntos objetos deste Decreto, viabilizando, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

(...)

Parágrafo 1º - Entende-se por educação especial, para os efeitos deste Decreto, a modalidade de educação escolar oferecida

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preferencialmente na rede regular de ensino para educando com necessidades educacionais especiais, entre eles o portador de deficiência.

(...)

Parágrafo 4º - A educação especial contará com equipe multiprofissional, com a adequada especialização, e adotará orientações pedagógicas individualizadas.

Art. 29. As escolas e instituições de educação profissional oferecerão, se necessário, serviços de apoio especializado para atender às peculiaridades da pessoa portadora de deficiência, tais como:

(...)

II - capacitação dos recursos humanos:

professores, instrutores e profissionais especializados;

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Seguindo as mesmas diretrizes da educação inclusiva, o Brasil em agosto deste ano, sancionou a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ocorrida em 30 de março de 2007 em Nova York.

Esta convenção adentrou o ordenamento jurídico nacional através do Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009. Estabelece que:

Artigo 3. Princípios Gerais.

Os princípios da presente Convenção são:

(...)

c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade;

(...)

d) A igualdade de oportunidades;

Artigo 24. Educação

1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Para efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes assegurarão sistema educacional inclusivo em todos os níveis,

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bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, com os seguintes objetivos:

(...)

c) A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre.

2. Para realização desse direito, os Estados Partes assegurarão que:

(...)

b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem;

c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais sejam providenciadas;

d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação;

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e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena.

4. A fim de contribuir para o exercício desse direito, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para empregar professores, inclusive professores com deficiência, habilitados para o ensino da língua de sinais e/ou do braile, e para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os níveis de ensino. Essa capacitação incorporará a conscientização da deficiência e a utilização de modos, meios e formatos apropriados de comunicação aumentativa e alternativa, e técnicas e materiais pedagógicos, como apoios para pessoas com deficiência.

A Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, aprovou o Plano Nacional de Educação, cujo objetivo,

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entre outros, é o de promover a melhoria da qualidade de ensino, democratizá-lo e reduzir as desigualdades sociais.

Por fim, vale registrar que a Resolução CNE\CEB n. 02/2001 que institui diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica estabelece no artigo 8, IV a necessidade de apoio pedagógico especializado realizado nas classes comuns aos alunos com deficiência, apontando para o

“cuidador” como um desses apoios. No mesmo sentido se apresenta a Deliberação CEE nº 68/2007 do Conselho Estadual de Educação de São Paulo.

Conforme se observa, a legislação nacional, em muito tem se preocupado com este segmento da sociedade, prevendo normas para a adaptação dos prédios públicos e condições de acesso aos serviços públicos às pessoas com deficiência.

O problema é que tal legislação não está sendo cumprida, a ponto do poder público reconhecer a sua necessidade e somente dar cumprimento quanto instado judicialmente.

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III – DA JURISPRUDÊNCIA:

Diante desta situação, várias ações já foram propostas para garantir o pleno acesso do aluno com deficiência à escola, com decisão favorável, e confirmação pelos Tribunais. E o Egrégio Superior Tribunal de Justiça já decidiu que:

A Carta Magna de 1988, bem como toda a legislação regulamentadora da proteção ao deficiente físico, são claras e contundentes em fixar condições obrigatórias a serem desenvolvidas pelo Poder Público e pela sociedade para a integração dessas pessoas aos fenômenos vivenciados pela sociedade, pelo que há de se construírem espaços acessíveis a elas, eliminando barreiras físicas, naturais ou de comunicação, em qualquer ambiente, edifício ou mobiliário, especialmente nas Casas Legislativas. (MS nº 9.613, São Paulo, 1ª c.cív., rel. Ministro José Delgado, j.

11.05.99)

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Por sua vez, posicionou-se o Egrégio Tribunal de Justiça em caso semelhante, referente à contratação de profissional habilitado ao ensino de LIBRAS:

LEI - Norma constitucional - Aplicabilidade imediata - Emenda dispondo sobre a construção de acessos a deficientes físicos em edifícios e logradouros públicos - Estabelecimento de comando certo e definido e presença de todos os elementos necessários à sua aplicabilidade, e não simples enunciado de princípios e programas a serem desenvolvidos - Eficácia plena, independentemente de regulamentação anterior (RT 636/93).

É inegável, portanto, que todo este panorama normativo tem como escopo garantir o amplo acesso à educação aos portadores de deficiências, entre as quais a auditiva. Para tal mister, a presença de professores devidamente habilitados ao ensino de LIBRAS, bem como à sua interpretação, é medida que se impõe.. (

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Agravo de Instrumento nº 835.659-5/9-00, Comarca de São Bernardo do Campo, Rel.

Des. Prado Pereira, TJSP)

Vale destacar os ensinamentos do Des.

Relator Milton Gordo (LEX – 209/20):

É indisputável o direito do deficiente físico assegurado na Constituição federal de 1988, garantindo-lhe a livre circulação em imóvel de uso comum, como o que dos autos se cuida, sobressaindo desse, ademais, a condição de escola pública, que deve, acima de tudo, facilitar o quanto se pode o acesso ao ensino, que nela se desenvolve, sem discriminação. Recolhe ao Estado os tributos em igualdade de condições e da mesma forma deve ser atendido. Não é razoável que se estabeleça obstáculo ao deficiente físico, impedindo-o de freqüentar escola pública, que se destina a todos os cidadãos.

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Assim, para garantir este direito das pessoas com deficiência, o Estado deve fornecer não só uma escola adaptada, mas também os serviços de apoio necessários para a sua inclusão, o que implica, no caso em tela, no oferecimento de profissional “cuidador” e de “professor leitor de libras”.

Registro que não é o caso de discricionariedade da administração, uma vez que se trata de atividade vinculada à lei. Em outras palavras, o fornecimento de condições iguais de ensino está amplamente previsto em lei, não cabendo ao Poder Público decidir de forma discricionária sobre o seu cumprimento, pois está subordinado aos ditames legais aplicáveis à espécie, bem como aos pronunciamentos judiciais que revelam o direito aplicável ao caso concreto (LEX 301/477).

Diante do exposto, imprescindível o cumprimento do comando legal por parte do Poder Público Estadual e Municipal, com a contratação dos profissionais

“cuidador” e “professor de libras” para as escolas que tem alunos com deficiência matriculados, que necessitam de cuidados especiais.

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IV. DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Em face do disposto nos art. 129, inciso III, da Constituição Federal, incumbe ao Ministério Público

“promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.

A Lei nº 7.347/85 em seu artigo 1º, inciso IV, instituiu caber a ação civil pública a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

De forma específica, a Lei n. 7853 de 24 de outubro de 1989, estabeleceu taxativamente:

Art. 3º - As ações civis públicas destinadas à proteção de interesses coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal, por associação

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constituída há mais de ano, nos termos da lei civil, autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção das pessoas portadoras de deficiência.

Logo compete ao Ministério Público no âmbito de sua atuação funcional promover a competente ação judicial para a defesa dos direitos das pessoas com deficiência.

V. DA TUTELA ANTECIPATÓRIA

Dispõe o art. 273 do Código de Processo Civil, em sua nova redação, que:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:

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I - haja fundado de receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II - fique caracterizado o abuso de direito ou de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.

No caso em debate, flagrante a ilegalidade do Estado de São Paulo, ante a inércia de promover contratação de professor “cuidador” e “professor leitor de libras”

para as escolas em favor dos alunos com deficiência - mesmo porque, não se trata de discricionariedade do Estado - impondo- se a concessão da tutela antecipatória como forma de se evitar o exercício abusivo do poder de cercear o direito das pessoas com deficiência.

Digno de registro é que o inquérito civil instaurado na Promotoria e pedido de providências ocorreu também por provocação de algumas escolas para que os alunos não sejam excluídos do sistema educacional em face da ausência do citado “cuidador” e “professor de libras”. E quanto mais demorar na contratação do referido profissional, mais prejuízo acarretará aos mesmos e a outros alunos em igual situação.

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A jurisprudência, sobre a concessão de medida liminar, vale aqui analogamente à tutela antecipatória, inclusive em ação civil pública, tem se manifestado em termos seguintes:

Na decisão liminar o juiz valoriza situações a fatos, sem ficar equidistante dos reais sentimentos de justiça correntes na sociedade procurando uma interpretação amoldada àqueles sentimentos, dando maior utilidade aos provimentos jurisdicionais. O periculum in mora, desprendendo-se de vinculação privada, pode estar sob a vigiliatura do interesse público, favorecendo a atividade criadora pela convicção do juiz, sob o signo da provisoriedade, adiantando solução acautelatória. (STJ, Ag.Reg. 209-93- DF, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJU 07.03.94, p. 3606)

Ademais, já se decidiu que os comandos dos artigos 273 e 475, II do CPC, não afastam a possibilidade de concessão da tutela antecipada em face da Fazenda Pública (RESp n. 171.258/SP, Rel. Ministro Anselmo Santiago, DJU

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18.12.98, p. 425). A tutela ora pleiteada apresenta-se indispensável, em razão da necessidade de inclusão dos alunos que se encontram fora do sistema regular de ensino.

VI. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

a) a concessão de antecipação da tutela, a concessão da tutela antecipada, em face dos fatos já apontados e do periculum in mora a que estão sujeitos os alunos com deficiência, tomando as providências administrativas necessárias para que no prazo de 10 dias, seja contratado ao menos 1 profissional ”cuidador” e um

“professor de linguagem” para atender a demanda de ao menos uma escola do Município, em especial das para atender, os alunos com deficiência e que necessitem de cuidados especiais (conforme relação de fls.340), como os requerentes; sob pena de multa diária pelo não cumprimento do determinado. Requer-se ainda, especificamente inaudita altera pars, que sejam reconhecidos os direito das crianças MILENA BELLI RAMOS e PAULO RICARDO MENDES consistente em receber o atendimento educacional e médico especializado, na forma determinada pela Constituição Federal e legislação correlata,

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condenando as requeridas a providenciá-lo de imediato, de forma regular e ininterrupta, sem prejuízo de medidas outras que visem o resultado prático equivalente para a manutenção do referido atendimento especializado, também sob pena de multa diária, intimando-se os genitores das crianças acerca de eventual r. decisão;

b) a fixação de multa diária no valor de R$ 1000 ( mil reais), ou outra que vier a ser arbitrada por Vossa Excelência, pelo descumprimento das determinações judiciais, sem prejuízo de outras medidas cabíveis;

c) a citação dos requeridos para que tomem ciência dos termos da presente, contestando-a, se assim por bem houver, sob pena de revelia, prosseguindo-se no feito até final julgamento, quando a ação será julgada procedente, tornando definitivos os provimentos pleiteados no item "a", bem como o requerido no item “d”;

d) ao final, a procedência da presente ação, com a condenação dos requeridos na obrigação de fazer consistente na contratação de profissional “cuidador” e “professor de linguagem” para todos os alunos com deficiência matriculados na rede pública de ensino Municipal e Estadual, garantindo-lhes a integral inclusão, sob pena de pagamento de multa diária, a ser fixada por este Juízo, pelo seu não cumprimento;

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e) a condenação dos réus nos ônus da sucumbência, como custas processuais e honorários.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, especialmente depoimento pessoal, oitiva de testemunhas, juntada de documentos e perícia.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

Votorantim, 11 de agosto de 2011.

FABIANA DAL´MAS ROCHA PAES 3ª Promotora de Justiça de Votorantim

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