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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM

EDUCAÇÃO

Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS

Autoria: Maria Aparecida de Oliveira Silva

(2)

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito

Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da

Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Profa: Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck

Revisão de Conteúdo: Graciele Alice Carvalho Adriano Revisão Gramatical: Sandra Pottmeier

Diagramação e Capa:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2017

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

370.193490981

S586p Silva, Maria Aparecida de Oliveira

Políticas públicas e legislação em educação / Maria Aparecida de Oliveira Silva. Indaial : UNIASSELVI, 2017.

146 p. : il

ISBN 978-85-69910-69-5 1.Política e Educação.

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Maria Aparecida de Oliveira Silva

Graduada em Pedagogia/Administração Escolar (1997) e Mestrado em Educação. Tem

experiência na área de Gestão Escolar e Gestão Educacional, Memória da Educação e Formação

Continuada docente, com trabalhos e publicações.

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Sumário

APRESENTAÇÃO ... 01

CAPÍTULO 1

Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX ...09

CAPÍTULO 2

Educação Integral no Sistema Formal de Ensino Brasileiro seu Embasamento Legal e sua Legislação Específica ...53

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5

As Concepções de Infância, Adolescência no Cotidiano da Escola Brasileira, a Partir das Prescrições Legais e

Promoção da Educação Integral ...85

As Políticas Públicas para a Formação de Professores, Desde o Início do Século XX até os Dias Atuais ...103 Educação Democrática de Qualidade, Fundamentada na

Concepção de Educação Integral e Integrada...133

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APRESENTAÇÃO

Prezado(a) Aluno(a)

Neste Livro de Estudo sobre “Políticas públicas e legislação em educação”, que você está iniciando, propomos pensarmos juntos algumas questões relacionadas à temática, numa perspectiva da Educação Integral.

Iniciamos nossa discussão buscando na história, a construção do conceito de Educação Integral que hoje é assumido, apontando as diferentes concepções que foram constituintes neste processo.

Pretendemos neste Livro de Estudo fazer uma retrospectiva histórica, para entendermos a construção do conceito de Educação Integral, apontando que as diferentes concepções fazem parte deste movimento. As diversas experiências e propostas em várias partes do mundo desde o século XVII tinham como objetivo maior: a centralidade do(a) aluno(a) no processo educacional. Essa revisão vai contribuir para entendermos que as idéias e concepções foram sendo historicamente aperfeiçoadas, redimensionadas e influenciaram a construção da educação brasileira.

Assim no Capítulo 1, percorremos os caminhos da implementação das políticas públicas educacionais para a Educação Integral no mundo e no Brasil, as diferentes concepções, momentos históricos e características, relacionando-as com a realidade escolar atual.

As políticas públicas da educação no Brasil foram sedimentadas e fortalecidas pela Constituição Federal Brasileira, de 1988, que definiu as bases para a Lei de Diretrizes e Bases - Lei Nº 9394 de 1996, para o Plano Nacional de Educação - PNE (desde 2001 quando sancionado como Lei) e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (2006) e outros documentos legais que trazem em seu bojo o principio fundamental da formação humana, que é um dos direitos sociais, o direito à Educação Integral. Essas e outras questões abordadas no Capítulo 2, possibilitaram a discussão do currículo na perspectiva da Educação Integral.

No Capítulo 3, para diferenciar os aspectos significativos de infância e adolescência, contidos nos preceitos legais para a concretude da Educação Integral, fez-se imprescindível conhecer os conceitos de infância e adolescência, definidos na legislação brasileira atual, identificando os alunos nas diferentes etapas da educação escolar.

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A formação inicial e continuada docente, desde o início do século XX até os dias atuais, a construção histórica conceitual e as políticas públicas atuais que devem estabelecer as redes conectivas, para a concretização das ações necessárias para a Educação Integral, são discutidas no Capítulo 4 deste Livro de Estudos.

Finalizando, no Capítulo 5, a partir dos conceitos que perpassam a concepção de Educação Integral, entre eles: tempo, espaço, diversidade, currículo integrado, gestão democrática e compartilhada, criatividade, participação, diálogo, etc. apontamos os aspectos positivos, as dificuldades, necessidades e resistência na implementação dessa Proposta.

A discussão deste Livro de Estudos, numa concepção de educação de qualidade, para as escolas públicas no Brasil, possibilitou apresentarmos, além da proposta da Educação Integral, alguns embates, dificuldades, avanços e retrocessos que sempre acontecem quando mudanças são propostas na educação escolar.

A autora.

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C APÍTULO 1

Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas

Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a

Partir do Século XX

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

� Compreender a construção da concepção de Educação para o século XXI, no mundo e no Brasil.

� Demonstrar historicamente a evolução conceitual e as mudanças de concepções dos termos: escola de tempo integral, educação integral e escola em tempo integral.

� Reconhecer, no momento histórico atual, o caminho percorrido das ações e políticas públicas e administrativas, na implementação e organização da educação escolar brasileira.

� Diferenciar as concepções e os momentos históricos da Educação Integral.

� Distinguir as características da Educação Integral e relacioná-las com a realidade escolar.

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

Contextualização

A humanidade, historicamente, percorreu um longo caminho e, a educação vem trilhando junto, acompanhando as mudanças, avanços e retrocessos da sociedade, num emaranhado de ideias, concepções, práticas e modos de viver que refletem a forma como veem e entendem o mundo. Nesta dinâmica social complexa, existem pontos convergentes, mas, na grande maioria há pontos em que divergem as ideias. E são as divergências que as individualizam e fazem a diferença.

Entender, portanto, que dentro de um contexto podem existir diferentes ideias, conceitos e que as práticas estão relacionadas às concepções construídas historicamente é de suma importância, para podermos acompanhar a evolução do conceito da Educação Integral, que iremos discutir neste Livro de Estudos.

A educação integral, discutida há muitos anos, por várias correntes epistemológicas, tendo como ponto central a formação humana plena, não pode ser compreendida somente como um projeto para a educação, pois, ela está diretamente vinculada a um projeto de sociedade.

Prezado(a) aluno(a), neste capítulo vamos retroceder no tempo, revendo as contribuições educacionais, provenientes de diferentes concepções ideológicas, em espaços e tempos diferentes, mas com objetivos e proposições semelhantes.

Essa visão vai contribuir para entendermos que as ideias e concepções construídas historicamente serão aperfeiçoadas, redimensionadas no cotidiano contemporâneo.

Fundamentos para a Educação do Século XXI

Iniciamos nossa discussão buscando na história, a construção do conceito de Educação Integral que hoje é assumido, apontando as diferentes concepções que foram constituintes neste processo.

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Mariana (2011, p. 1), em seu texto - Educação Integral: construção histórica e perspectivas contemporâneas, nos diz que:

As origens do conceito de educação integral residem, portanto, na resistência ativa de trabalhadores contra a alienação do processo produtivo consolidada na Revolução Industrial.

Nesse panorama, observamos o aparecimento da escola enquanto instituição moderna que poderia cuidar da disciplina do enorme contingente de trabalhadores recém-usurpados das habilidades requeridas a um grau elevado de autonomia econômica na sociedade.

A partir da Revolução Industrial, a escola começa a exercer importante papel na instituição heterônoma da sociedade. Se as monarquias absolutas européias utilizaram ensino religioso como base pedagógica preponderante para a manutenção de suas estruturas de poder, é a partir do início do processo de urbanização do continente europeu, do mercantilismo e da configuração dos primórdios da industrialização que surgem as novas formulações educacionais, desta vez voltadas para a manutenção do poder da ascendente burguesia.

Outros autores como Cavaliere (2002) e Coelho (2009a, 2009b), apontam o século XVIII, com a Revolução Francesa (1789 -1799), a constituição da escola pública como a concebemos hoje, numa perspectiva de formação humana integral.

Nesta conjuntura, há dois pontos que precisam ser ressaltados:

o primeiro, de que o período constitui a instituição pública de ensino – a escola – como lócus privilegiado desse trabalho educativo; o segundo, de que é evidente que essa completude contém elementos propostos anteriormente, desde a Paidéia, mas também descarta, ou pelo menos olvida outros que o pensamento anarquista, construído ao longo dos séculos 18, 19 e 20, vai trazer à tona e tornar relevantes como, por exemplo, a dimensão estética dessa formação completa (COELHO, 2009a, p. 86).

Assim, a base da educação assumida nas experiências educacionais em várias partes do mundo, trouxeram características e fundamentos da concepção de educação integral entre elas, podemos citar:

“As escolas de vida completa” na Inglaterra;

“Landerzieehungshelm” - Lares de Educação no campo e “As comunidades escolares livres”, na Alemanha;

“As casas das crianças” na Itália com Maria Montessori;

“A casa dos pequenos” criada por Èdouard Claparède e Pierre Bovet em Genebra - Suíça;

“A escola para a vida” de Jean-Ovide Decroly em Bruxelas-Bélgica;

• Na França, temos também, a grande contribuição de Célestin Freinet,

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

MARIA MONTESSORI

Poucos nomes da história da educação são tão difundidos fora dos círculos de especialistas como Montessori. Ele é associado, com razão, à Educação Infantil, ainda que não sejam muitos os que conhecem profundamente esse método ou sua fundadora, a italiana Maria Montessori (1870-1952). Primeira mulher a se formar em medicina em seu país, foi também pioneira no campo pedagógico ao dar mais ênfase à autoeducação do aluno do que ao papel do professor como fonte de conhecimento.

Fonte: Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/459/

medica-valorizou-aluno>. Acesso em: 30 jun. 2017.

Figura 1 - A sala de estudo - La Ruche

Fonte: Disponível em: <https://fr.wikipedia.org/wiki/La_Ruche_

(%C3%A9cole)>. Acesso em: 15 jun. 2017.

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Figura 2 - Célestin Freinet

Fonte: Disponível em:<https://novaescola.org.br/conteudo/1754/celestin- freinet-o-mestre-do-trabalho-e-do-bom-senso>. Acesso em: 20 mai. 2017.

“A democracia de amanhã se prepara na democracia da escola, Se não encontrarmos respostas adequadas a todas as questões sobre educação, continuaremos a forjar almas de escravos em nossos filhos” (Célestin Freinet).

Nos Estados Unidos, o maior representante da Escola Nova foi John Dewey, cujas ideias e concepções, influenciaram educadores brasileiros como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, a pensarem e reorganizarem a educação brasileira.

Outras experiências educacionais com concepções inovadoras e ênfase no aprendizado através da prática se destacaram, conforme Mariana (2011), no viés da pedagogia libertária que apresenta como pilares o ensino integral de Paul Robin (considerado o precursor da pedagogia libertária) e o ensino racional de Francisco Ferrer y Guardia. A partir destas tentativas e da firmação desta ideologia anarquista desde a primeira década do século XX, surgiram práticas pedagógicas, entre elas no Brasil, a Pedagogia Libertadora, de Paulo Freire.

Dentre as experiências mais relevantes e conhecidas, destacamos aquelas embasadas teoricamente na nascente da pedagogia libertária ao final do século XIX, tais como:

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

Orfanato de Cempuis, sob a coordenação de Paul Robin (França);

O instituto educacional “A Colméia”, organizada por Sébastien Faure (França); e a

Escola Racionalista ou Moderna, do educador catalão Francisco Ferrer i Guàrdia (Espanha).

Mariana (2011, p. 6) menciona ainda que:

Outros importantes experimentos educacionais também contribuíram para a conceitu alização da educação integral, como as comunidades escolares (grifo nosso) de Hamburgo, estruturadas na época da República de Weimar; o Jardim de Infância experimental “Solidariedade Internacio nal” (grifo nosso), organizado pela pedagoga e psicanalista russa Vera Schmidt na cidade de Moscou, na década de 20; a escola de Yasnaia Poliana, (grifo nosso) do escritor russo Tolstoi.

Figura 3 - Escritos de Francisco Ferrer Guardia sobre a Escola Moderna (1912)

Fonte: Disponível em: <http://libertariosufpel.blogspot.com.br/2014/02/

sebastien-faure-e-educacao-libertaria.html>. Acesso em: 15 jun. 2017.

Essas experiências, desenvolvidas em várias partes do mundo, apesar das particularidades de cada uma delas, tinham algumas características básicas da Educação Integral, que concebemos para o século XXI, entre elas a formação integral dos (as) alunos (as).

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Particularidades das Propostas Educativas: Maria Montessori apresenta seus materiais concretos; Jean-Ovide Decroly formula sua ideia sobre o interesse; e Célestin Freinet propõe as aulas-passeio ou a imprensa escolar.

Atividade de Estudos:

1) Relendo o texto acima, cite 3 (três) nomes de educadores cujas experiências pedagógicas têm embasamento semelhantes aos da pedagogia libertária ao final do século XIX:

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PAIDÉIA - é um termo do grego antigo, empregado para definir a noção de educação na sociedade. A palavra derivada de paidos (pedós) - criança, se referia inicialmente à educação familiar, aos bons modos e princípios morais e, depois, passou a sintetizar a educação semelhante ao conceito atual.

PEDAGOGIA ESCOLANOVISTA - veio para contrapor a uma educação escolar que atendesse as necessidades da sociedade vigentes da primeira metade do século XX, assumindo uma visão mais social e mais humana em busca da formação integral dos indivíduos.

O aluno era o centro do processo de aprendizagem desde a infância.

Havia uma preocupação de associar e de seguir técnicas para a aquisição dos códigos da escrita e da leitura, considerados capacidades fundamentais no desenvolvimento humano. A metodologia utilizada, em sala de aula, era a do experimento e os alunos eram disciplinados para observarem fatos e objetos para poderem estudá-los. Todos tinham direito à educação e que esta, deveria ser pública e gratuita.

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

Nos últimos anos, a busca por uma educação, que atendesse as necessidades e especificidades locais, interligadas pelos avanços tecnológicos - globalização, invadiu a agenda de professores, especialistas, diretores, secretários e ministros da Educação. As mudanças sem dúvida são imprescindíveis e muitos debates e estudos têm sido realizados frente à realidade mundial.

Mas, caro(a) aluno(a) você sabe quais as ideias que eles defendem? As teorias e pensamentos se completam ou são contraditórios? Que educação buscamos para o nosso espaço de atuação? E, quando falamos de espaços de educação, nos referimos somente à escola?

Vamos juntos estudar e refletir, a partir das contribuições de alguns pensadores de renome mundial, que com suas ideias, colaboraram para a renovação da educação e da escola para o novo milênio.

a) Relatório Edgar Fauser

A crise na Educação foi detectada, desde a década de 1960 do século passado, como um evento mundial e que está cada vez mais acentuada, principalmente nos países mais pobres ou em desenvolvimento. Essa crise e suas consequeências graves vêm sendo percebidas há muitos anos, o que levou a uma série de ações por parte de órgãos internacionais, para orientar as políticas educacionais dos países, respeitando a diversidade e as diferentes realidades.

Em 1968, Philip Hall Coombs, (ex-diretor do Instituto Internacional de Planejamento da Educação da UNESCO) realizou um estudo sobre a crise mundial da educação e o resultado trouxe bastante preocupação para a UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura que percebendo a dimensão dessa situação, como primeiro esforço sistemático, solicitou um relatório sob a coordenação de Edgar Faure - renomado político francês.

Foi constituída em 1971, para a realização desse trabalho, a "Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação" que concluiu o relatório em 1972. Fizeram parte da comissão além de Faure: Felipe Herrero (Chile), Abdulzak Kaddoura (Síria), Henri Lopez (Congo), Arthur Petrovski (URSS), Majid Rqhnema (Iran) e F. Champion Ward (Estados Unidos da América). Os dados trazidos por este relatório fazem dele, um marco importante, pois geraram diversas ações orientadoras para a educação mundial.

O relatório se deu a partir de reuniões com diferentes segmentos educacionais e especialistas de renome mundial entre eles, segundo Gadotti (2013, p. 15), o educador brasileiro, Paulo Freire. Foram realizadas visitas a várias partes do mundo, para obter dados e trocar experiências, além do estudo de documentos

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

relevantes, que resultaram nos escritos deste relatório. O documento orientou diferentes políticas públicas para a educação no mundo e, certamente, para os encaminhamentos das ações no Brasil, especificamente, relacionada à proposta para a viabilização da Educação Integral e a escola de tempo integral. O relatório foi publicado com o título "Aprender a Ser” organizado por Edgar Faure em 1972.

A UNESCO, segundo Werthein e Cunha (2000, p. 11) "[...] persegue hoje uma cultura de paz, percebe-se logo que a ancora dessa busca é a educação, pois a conquista da paz pressupõe, entre outros o direito à educação". O direito à educação entendido, como direito à formação e ao desenvolvimento humano, como processo de apropriação de saberes, conhecimentos, valores, culturas, ciências, artes etc, resultado do desenvolvimento da humanidade. O direito de acesso ao conhecimento só será atingido, quando todos os indivíduos forem valorizados e respeitados integralmente. Pois, como Cury (2002, p. 260) nos diz:

O acesso à educação é também um meio de abertura que dá ao indivíduo uma chave de autoconstrução e de se reconhecer como capaz de opções. O direito à educação, nesta medida, é uma oportunidade de crescimento cidadão, um caminho de opções diferenciadas e uma chave de crescente estima de si.

Quatro questões de são apontadas por Faure que orientaram todo o trabalho para a realização do relatório, que são:

1) A existência de uma comunidade internacional que, sob a diversidade de nações e de culturas, das opções políticas e dos níveis de desenvolvimento deve buscar solidariedade e a unidade de aspirações;

2) A crença numa democracia concebida como o direito de cada ser humano se realizar plenamente e de participar na edificação de seu próprio futuro;

3) O desenvolvimento que deve ter por objetivo a expansão integral das pessoas em toda a riqueza e a complexidade de suas expressões e compromissos;

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

4) Uma educação formadora das pessoas, cujo advento se torna mais necessário à medida que coações sempre mais duras separam e fragmentam cada ser. Trata-se então de não mais adquirir, de maneira exata, conhecimentos definitivos, mas de preparar para elaborar ao longo de toda a vida, um saber em constante evolução e de aprender a ser.

Fonte: Werthein e Cunha (2000, p. 13).

O Relatório Faure, conforme Werthein e Cunha (2000, p. 14):

[...] chamou a atenção, por exemplo, para a importância das tecnologias educativas que poderiam provocar verdadeira revolução intelectual, facilitando a função libertadora da escola. Além disso, sublinha-se, uma das grandes contribuições desse Relatório refere-se à educação permanente e às cidades educativas.

O relatório fala de maneira atual sobre a necessidade das reformas do ensino e traz propostas, orientando ações para viabilizar a implementação das políticas públicas educacionais e, conforme Gadotti (2013, p.15), introduz [...] a noção de

“cidade educadora” (grifo do autor), chamando a atenção para os novos espaços educacionais da cidade.

Foi com o relatório de Edgard Faure na Primeira Comissão Mundial de Educação publicado pela UNESCO em 1973, com o título Aprender a Ser, que se acolheu a proposta de “cidade educativa” como visão prospectiva da educação nos últimos tempos (AIETA; ZUIN s/d, p. 206).

As questões apontadas pelo Relatório Faure serviram de orientação para a elaboração das políticas educacionais dos países. Os principais postulados apresentados são:

• Todo indivíduo deve ter a possibilidade de aprender por toda a vida;

• Prolongar a educação por todas as idades mediante a ampliação e a diversificação da oferta, aproveitando todos os tipos de instituições existentes, educacionais ou não;

• Permitir a cada um escolher seu caminho mais livremente, optando por métodos convencionais ou pelas diversas formas da autodidaxia;

• O sistema educativo deverá ser global e aberto, para facilitar a mobilidade vertical e horizontal dos alunos;

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

• O conceito de ensino geral deverá ser alargado, de maneira a englobar efetivamente o domínio dos conhecimentos socioeconômicos, técnicos e práticos de ordem geral;

• No que diz respeito à preparação para o trabalho, a educação deve formar não apenas para um ofício, mas também preparar os jovens para se adaptarem a trabalhos diferentes à medida que evoluem as formas de produção. Em outras palavras, a educação deverá facilitar a reconversão profissional;

• A responsabilidade pela formação técnica deverá ser partilhada pelas escolas, empresas e educação extraescolar; promover a diversificação das estruturas e dos conteúdos do ensino superior;

• A alfabetização deverá ser apenas uma etapa da educação de adultos;

• A nova ética da educação valoriza a autodidaxia, especialmente a assistida, de forma a fazer do indivíduo senhor e autor de sua educação;

• O efeito acelerador das novas tecnologias educativas constitui a primeira condição para a realização da maior parte das inovações;

• Cabe ao ensino adaptar-se aos alunos e não o aluno sujeitar-se às regras preestabelecidas (FAURE, 1981, p. 265).

Como constata Wernek (s/d, s/p):

É, de certa forma, incrível constatar que este relatório fala de maneira tão atual sobre reformas do ensino, propondo a cidade educativa. Aproximação da escola à vida das pessoas e à necessidade de se compreender o mundo nas suas múltiplas formas de oferecer oportunidades de conhecimento, fazem parte das considerações preliminares do próprio relatório.

Assim, [...] o Relatório Faure, por sua visão prospectiva, coloca-se historicamente como um importante ponto de mudança (WERTHEIN; CUNHA 2000, p. 14).

Autodidaxia: Busca individual do saber através de diversos meios como: Material impresso (livros, revistas etc) e as Tecnologias de Informação e Comunicação (sites da Web, equipamentos de informática (hardware e software), telefonia e balcões de serviços automatizados.

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

Tendo Jacques Delors presidindo a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, fizeram parte dela:

In’am Al Mufti (Jordânia), Isao Amagi (Japão),

Roberto Carneiro (Portugal), Fay Chung (Zimbábue) Bronislaw Geremek (Polônia), William Gorham (Estados Unidos), Aleksandra Kornhauser (Eslovênia), Michael Manley (Jamaica),

Marisela Padrón Quero (Venezuela),

Esse documento, perto de completar 50 anos, traz no seu bojo, conceitos e orientações que ainda são significativas na elaboração das políticas públicas para a educação. Esses encaminhamentos e concepções serviram de base para outros relatórios entre eles, o Relatório Jacques Delors, como veremos a seguir.

b) Jacques Dellors

Com o passar dos anos, desde a publicação do Relatório Faure em 1972 muitas mudanças ocorreram, quer pelos progressos econômicos e científicos. Nos avanços tecnológicos possibilitou o processo de globalização e, acontecimentos históricos, como a decadência dos países socialistas e a queda do muro de Berlim em 1989 - este último que representou o fim do socialismo. Na educação mundial, houve a expansão das matrículas nas instituições de ensino e a introdução de novas metodologias pedagógicas nos várias etapas escolares, em muitos países.

Mas, como nos dizem Werthein e Cunha (2000, p. 18) "[...] apesar desse progresso, a “geografia da ignorância” a que se referia Edgar Faure no preâmbulo de seu Relatório, continuava a vitimar boa parte da população mundial". Além disso, o "fosso" entre ricos e pobres continuava aumentando; os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Assim, diante do novo cenário que se desenhava, a UNESCO, seguindo sua tradição prospectiva e percebendo as implicações educacionais das mudanças sem precedentes que aconteciam "[...] (WERTHEIN; CUNHA, 2000, p. 18) institui a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, em 1993, que tem como objetivo, levantar dados e apontar as tendências da educação frente às mudanças provocadas pelo processo de globalização mundial".

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Marie-Angélique Savané (Senegal) Karan Singh (Índia),

Rodolfo Stavenhagen (México), Myong Won Suhr (Coréia do Sul), Zhou Nanzhao (China).

A Comissão Delors, trilhou o mesmo caminho da Comissão Faure, mas de maneira mais atual, aperfeiçoando o modelo anterior de trabalho. De março de 1993 até janeiro de 1996, foram realizadas pesquisas e estudos por especialistas que deram suporte à Comissão, além dos encontros de estudo realizados em várias partes do mundo como: Dacar, Paris, Vancouver, Santiago, Túnis e Nova Deli.

Após análise dos trabalhos realizados, a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, concluiu seus trabalhos definindo 4 (quatro) princípios para a educação do próximo milênio:

Aprender a Conhecer

A concepção de aprendizagem proposta pela comissão, salienta que todas as pessoas precisam descobrir como aprendem (metodologia de aprendizagem),

"descobrir reanimar e fortalecer o seu potencial criativo" (Delors, 1998, p. 90).

Isso, possibilita o domínio, a seleção dos conhecimentos. Os conhecimentos da humanidade são múltiplos e evoluem rapidamente, tornando impossível conhecermos tudo. Contudo, é preciso ter uma cultura geral ampla que permita o aprofundamento dos estudos em determinado(s) assunto(s). Saber como cada um aprende e ter um conhecimento cultural amplo é a base e o impulso que deve ser desenvolvida nos primeiros anos de educação das crianças, para que continuem querendo aprender por toda a sua vida. "Aprender para conhecer supõe, antes tudo, aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento"

(DELORS, 1998, p. 92).

Aprender a Fazer

Essa segunda aprendizagem está diretamente ligada a primeira - aprender a aprender e a formação profissional de cada um. Mas segundo, Werthein e Cunha (2000, p. 23) "Além da competência técnica e profissional, a disposição para o trabalho em equipe, o gosto pelo risco e a capacidade de tomar iniciativas constituem fatores importantes no mundo do trabalho". Ou seja, deverá aprender

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

Aprender a Viver Juntos

A competição e a busca do sucesso individual levam as pessoas a estarem supervalorizando as suas qualidades individuais e as do seu grupo em detrimento dos outros. Por isso, o Relatório Delors aponta que, aprender a conviver no grupo é um dos maiores desafios da educação do século XXI. Isso só será possível se existirem objetivos e projetos comuns, diminuindo desta maneira a competitividade e desenvolvendo a cumplicidade e solidariedade.

A educação formal deve, pois, reservar tempo e ocasiões suficientes em seus programas para iniciar os jovens em projetos de cooperação, logo desde a infância, no campo das atividades desportivas e culturais, evidentemente, mas também estimulando a sua participação em atividades sociais: renovação de bairros, ajuda aos mais desfavorecidos, ações humanitárias, serviços de solidariedade entre gerações [...] (DELORS, 1998, p. 99).

Aprender a Ser

Reafirmando o que Edgar Faure e a Comissão apontaram anteriormente, Delors (1998, p. 99), expressa "o temor da desumanização do mundo relacionada com a evolução técnica". Assim, muito mais que preparar a criança e o jovem para o mundo do trabalho, a educação precisa propiciar que conheçam e interajam com os outros, com a natureza, com os seus sentimentos, imaginação e criatividade.

Dessa maneira, perceberão a totalidade humana e não apenas parte das suas possibilidades. Esse processo de aprendizagem, não tem idade definida, ele ocorre desde o nascimento das pessoas e se estende por toda a vida.

Sugestão de leitura: Delors, Jacques. “EDUCAÇÃO UM TESOURO A DESCOBRIR”. Disponível em: <http://ftp.infoeuropa.

eurocid.pt/database/000046001-000047000/000046258.pdf>.

Os Pilares da Educação, parte do Relatório Delors, que estabelece as bases da educação deste milênio, foi motivo de discussões e debates e ainda faz parte quando falamos sobre aprendizagens fundamentais.

Sem dúvida, o Relatório Delors foi muito feliz ao estabelecer os quatro pilares da educação contemporânea. Aprender a ser, a fazer, a viver juntos e a conhecer constituem aprendizagens indispensáveis que devem ser perseguidas de forma permanente pela política educacional de todos os países (WERTHEIN;

CUNHA, 2000, p. 12).

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Assim, para ampliar e avançar nas propostas para a educação do século XXI, a UNESCO em 1999, solicitou a Edgar Morin sua relevante contribuição para a educação, como veremos a seguir.

Figura 4 - Edgar Morin

Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/

search?q=foto+edgar+morin&rlz>. Acesso em: 12 jun. 2017.

c) Edgar Morin

Edgar Morim é antropólogo, sociólogo e filósofo francês e é considerado o pai da "Teoria da Complexidade" contidos numa minuciosa explicação nos 4 (quatro) livros da série O Método. O pensador defende que, atualmente, a maior necessidade em educação é reformar o pensamento, reelaborando uma nova concepção de conhecimento.

Morin (2000) defende a interligação de todos os conhecimentos, e combate o reducionismo da humanidade, valorizando a complexidade, combatendo a simplificação. Isso pode nos parecer estranho, mas segundo Morin (2000, p.

37). "[...] a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade. A partir da incorporação das situações problemática do cotidiano ao currículo escolar, interligando saberes, aceitando e buscando compreender as mudanças que ocorrem, a multiplicidade de saberes, diversidade de culturas, ânimos, sentimentos e eventos, incertezas, aprendendo a convivendo com elas". O pensador, não condena a especialização, mas refuta a perda da visão geral, a perspectiva global

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

Trata-se de favorecer a aptidão natural do espírito humano a contextualizar e a globalizar, isto é, relacionar cada informação e cada conhecimento a seu contexto e conjunto. Trata-se de fortificar a aptidão para integrar o saber particular em sua própria vida e não somente a um contexto global, a aptidão para colocar a si mesmo os problemas fundamentais de sua própria condição e de seu tempo (MORIN, 2010, p. 21).

Dando continuidade as discussões sobre a Educação do Século XXI, em 1999 a UNESCO, solicita a Edgar Morin, a sistematização das principais reflexões, que pudessem servir para repensar a educação do século XXI, o qual apresenta as suas ideias no livro intitulado "Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.".

Há sete saberes “fundamentais” que a educação do futuro deveria tratar em toda sociedade e em toda cultura, sem exclusividade nem rejeição, segundo modelos e regras próprias a cada sociedade e a cada cultura (MORIN, 2000, p. 13).

Para saber mais ver, acesse: <https://bioetica.catedraunesco.

unb.br/wp-content/uploads/2016/04/Edgar-Morin.-Sete-Saberes.pdf>.

No Brasil, como veremos a seguir, "Historicamente, os ideais e as práticas educacionais reformadoras, reunidos sob a denominação de Escola Nova, fizeram uso, com variados sentidos, da noção de educação integral"

(CAVALIERE, 2002, p. 251).

Esses movimentos educacionais, de diferentes tendências políticas e sociais e propostas teóricas, desde a primeira metade do século XX, defendiam a Educação Integral, mesmo com suas divergências epistemológicas.

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Cavaliere (2002) reafirma a visão desse período histórico (final do século XIX e início do século XX) quando diz:

Do ponto de vista político-social, as novas idéias eram uma resposta à generalização e laicização da educação escolar alcançada, na Europa e nos Estados Unidos, em fins do século XIX. O ideal da educação para todos ganha concretude, e esta concretude põe em xeque as tradições escolares.

Já do ponto de vista do conhecimento científico, as novas idéias eram uma conseqüência dos avanços da biologia e da psicologia, que embasavam uma nova visão da criança, da aprendizagem, da educação em geral e da educação escolar (CAVALIERI, 2002, p. 252).

Assim, os católicos, os integralistas e outros grupos tidos como políticos conservadores têm como fundamento na proposta de educação: uma disciplina rígida, com atividades intelectuais, físicas, artísticas e religiosas para desenvolver o nacionalismo cívico e a espiritualidade. Já, para os anarquistas e os liberais a ênfase maior era na igualdade de condições para todos os indivíduos, na autonomia e na liberdade, determinada pela opção política emancipatória.

Conforme os escritos de Cavaliere (2002, p. 251): "O movimento reformador, do início do século XX, refletia a necessidade de se reencontrar a vocação da escola na sociedade urbana de massas, industrializada e democrática".

A partir dos anos 1930 até os anos 1960, do século passado, a educação brasileira intensificando a proposta da Escola Nova, com a discussão e atuação de educadores entre eles, Anísio Teixeira, lutou pela implantação de um Sistema Público de Ensino nacional, de qualidade e que atendesse as peculiaridades regionais. Juntamente com outros 25 intelectuais, escreveu o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932). O Manifesto é um documento que tem como finalidade oferecer diretrizes para uma política de educação nacional. Tendo como proposta, renovar o ensino tradicional, aponta para uma educação pública, laica, gratuita, obrigatória e como um direito de todo cidadão brasileiro.

Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova

Intelectuais que participaram da elaboração do documento Fernando de Azevedo, Afrânio Peixoto A. de Sampaio Doria, Anísio Spinola Teixeira, M. Bergstrom Lourenço Filho, Roquette Pinto, J. G. Frota Pessôa, Júlio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mario

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Capítulo 1

Lima, Attílio Vivacqua, Francisco Venancio Filho, Paulo Maranhão, Cecília Meirelles, Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Álvaro Alberto, Garcia de Rezende, Nobrega da Cunha, Paschoal Lemme e Raul Gomes.

Leia o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/70Anos/Manifesto_dos_

Pioneiros_Educacao_Nova.pdf>.

John Dewey refuta, nas suas discussões e escritos, a educação escolar como atividade preparatória para a vida. Ele defendia que a escola deve priorizar e valorizar as atividades e as práticas cotidianas da realidade dos(as) alunos(as).

Anísio Teixeira, enquanto estudante na Universidade de Colúmbia (Estados Unidos), teve acesso as propostas educacionais, de dois expoentes americanos da Escola Nova: John Dewey e William Heard Kilpatrick. Com as ideias e os conceitos adquiridos, buscou incansavelmente contribuir para a reforma da educação brasileira.

Anísio Teixeira defendia a ideia de uma escola pública, que além do currículo escolar, atendia crianças, jovens e adolescentes de classes menos privilegiadas da população brasileira, deveria possibilitar uma educação que oferecesse subsídios reais, instrumentalizando os alunos, para viverem e atuarem social e economicamente, na sociedade. Ele apostava, portanto, numa educação voltada para a democracia e na igualdade de oportunidades e foi um dos principais nomes do escolanovismo brasileiro.

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

A concepção de escola de Anísio Teixeira pode ser materializada, quando então foi Secretário Estadual de Educação e Saúde da Bahia, no governo de Otávio Mangabeira. Assim, em 1953 é implantada a primeira escola de educação integral, em Salvador, que continua em funcionamento atualmente com o nome de Centro Educacional Carneiro Ribeiro. A estrutura inicial era assim organizada, conforme denominação de Anísio Teixeira de "Escolas Classes" com atividades historicamente entendidas como escolares, e a Escola Parque onde no contraturno escolar, os alunos realizavam diversas atividades.

Além do atendimento à Educação Fundamental na Bahia, a Escola-Parque representou um espaço privilegiado para o desenvolvimento de atividades culturais por parte da comunidade do entorno. O que significa dizer que ela abrigou o desenvolvimento de projetos de dança, teatro, dentre outros, em horários alternativos aos destinados ao atendimento dos alunos regularmente matriculados. Nesse sentido, além de educação formal, a Escola-Parque abrigava e estimulava as atividades culturais locais e de outros bairros e subúrbios mais distantes (MARTINS, 2006, p. 149).

Historicamente entendidas como escolares, e a Escola

Parque onde no contraturno escolar, os alunos realizavam

diversas atividades.

“Foi desenhado um projeto arquitetônico para abrigar as atividades pensadas para esse projeto de educação integral e de atendimento em tempo integral. Havia quatro escolas-classe de ensino primário, para um total de 1.000 alunos cada, em dois turnos de 500, além de uma Escola-Parque, com sete pavilhões que se destinavam às chamadas práticas educativas, que eram como os alunos completavam, em horário diverso, sua educação, além de receberem alimentação e atendimento médico-odontológico.

Projetou-se também uma residência para jovens considerados sem lar, que não chegou a ser construída. Na Escola-Parque, os alunos não eram agrupados só pela idade; mas, sobretudo, pelas suas preferências. Em sua área de 42 mil metros quadrados, foram construídos um pavilhão de trabalho, um ginásio de esportes, um pavilhão de atividades sociais, um teatro com 560 lugares, uma biblioteca, um restaurante, além de lavanderia, padaria e banco. As atividades eram oferecidas por diferentes setores:

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Capítulo 1

1) Setor de Trabalho

Artes aplicadas, industriais e plásticas;

2) Setor de Educação Física e Recreação Jogos, ginástica, recreação etc.;

3) Setor Socializante

Grêmio, jornal, rádio-escola, banco e loja;

4) Setor Artístico

Música instrumental, canto, dança, teatro;

5) Setor de Extensão Cultural e Biblioteca Leitura, estudo, pesquisa etc.”.

Fonte: Ernica (2006, p. 18).

Essa estrutura educacional foi reconhecida pela UNESCO como modelo, pois "Escola Parque" não é apenas uma denominação para uma estrutura física, mas a concretização de uma filosofia de Educação Integral e de atendimento em tempo integral.

Em 1957, o INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, recebeu do Presidente Juscelino Kubitscheck a solicitação de que fosse elaborado o Plano de Sistema Escolar Público de Brasília. Juntamente com vários educadores, entre eles, Darcy Ribeiro, sob a coordenação de Anísio Teixeira, então diretor do INEP, foi organizado o Sistema Educacional da capital brasileira.

Assim, tendo como base a experiência de Salvador (BA) de Educação Integral,o ensino fundamental de Brasília (na época educação elementar), foi organizada em Centros de Educação Elementar, "[...] que eram formados por uma “rede” de escolas, interligadas entre si, organizadas, do ponto de vista espacial, de acordo com o planejamento urbanístico da cidade" (MARTINS, 2006, p. 150).

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Figura 5 - Núcleo de Artes do Centro Educacional Carneiro Ribeiro - Foto: S.E Cultural Material Escolar

Fonte: Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/2011/02/anisio- texeira-o-inventor-da-escola.html>. Acesso em: 14 jun. 2017.

Em Brasília, as primeiras quatro superquadras, onde hoje está situado o centro histórico da cidade, receberam, cada uma, uma “Escola-Classe” e Jardins de Infância. Na superquadra 308 Sul foi construída a “Escola-Parque” destinada a receber os alunos das “Escolas-Classe”, no turno complementar, para o desenvolvimento de atividades físicas, esportivas, artísticas e culturais. Todas as escolas citadas foram projetadas por Niemeyer e tinham a capacidade de atender os cerca de 30.000 habitantes, residentes nas quatro superquadras iniciais (MOLL, 2009, p. 17).

Com a ditadura militar instaurada no País (1964), Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e muitos outros com ideias contrárias ao regime militar, têm seus direitos políticos cassados e a proposta de Educação Integral, enquanto concepção filosófica é neutralizada e esquecida, por mais de 20 anos. Mas, na década de 1980, no Rio de Janeiro ela volta ao palco de discussões com a criação dos CIEPs - Centros Integrados de Educação Pública.

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

A partir das experiências da "Escola Parque", proposta de Anísio Teixeira, na Bahia e no Distrito Federal, Darcy Ribeiro criou, com a assinatura de Oscar Niemeyer (arquiteto) no Rio de Janeiro, as escolas denominadas: "Escola Integral em horário integral”, como eram chamadas. Os projetos foram realizados através do Programa Especial de Educação (I PEE, de 1983 a 1986, e II PEE, de 1991 a 1994). E segundo Maurício (2004, p. 42):

O Programa Especial de Educação (PEE), que implantou o horário integral em escolas públicas do Rio de Janeiro, foi gestado no período de retomada da democracia no Brasil (grifo nosso). Época de intensa agitação política, com reorganização de entidades representativas da sociedade civil, por um lado, e atentados da direita, por outro: entre 1978 e 1982, fim da censura pré- via e do AI-5; Lei da Anistia e retorno dos exilados; destruição da sede da UNE e atentado do Riocentro; eleição direta para governadores, após 18 anos. Na área da educação, houve greve de professores da rede pública de ensino fundamental nos grandes estados brasileiros.

Foram criados a Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação (ANPEd), o Centro de Estudos de Educação e Sociedade (CEDES) e a Associação Nacional de Educação (ANDE), que realizaram a I Conferência Brasileira de Educação (CBE), em 1980, em São Paulo, com mil e quatrocentos participantes. Nesse ano, a reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no Rio de Janeiro, teve como tema Ciência e educação na sociedade democrática.

Em 1981 foi aprovada emenda constitucional que garantiu ao professor aposentadoria aos 25 anos de serviço; em 1982, a II CBE reuniu 2 mil participantes em Belo Horizonte, onde discutiram Educação: perspectiva na democratização da sociedade.

Após a anistia Darcy Ribeiro é eleito como vice-governador do Rio de Janeiro na primeira gestão de Leonel Brizola (1983-1986).

A implantação e a continuidade dos 300 (trezentos) CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) construídos, geraram muita discussão na sociedade e, principalmente, entre os educadores.

A construção destas novas escolas foi fortemente contestada, gerando uma forte polêmica que envolveu diferentes segmentos.

Do debate participaram professores, partidos políticos, intelectuais, artistas, empresários, entidades de classe, associações de moradores e profissionais liberais (MINGON, 1989, p. 45).

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Além disso, vale ressaltar as condições e consequências do momento histórico no Brasil, que Ernica (2006, p. 20) aponta:

[...] partir da segunda metade do século XX, ocorreram dois processos simultâneos. A população atendida pelo sistema escolar foi ampliada e o sistema escolar se voltou às grandes massas. Ao mesmo tempo, os setores de classe média que antes ocupavam a escola pública foram migrando para o crescente mercado de escolas particulares. Nas escolas públicas, a sua expansão se fez acompanhar da deterioração das condições de atendimento, o que se

nota na degradação do espaço físico, na multiplicação de turnos, na sobreposição de propostas pedagógicas, na redução progressiva dos salários, dentre tantos outros fatores. Um dos resultados é que, além de não ter se voltado com eficiência às novas populações que passaram a atender, nas décadas de 1970, 80 e 90 o ensino público viveu uma progressiva redução de sua qualidade e um aumento contínuo de seu desprestígio.

Figura 6 - Escola Parque (1970) Rio de Janeiro

Fonte: Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/2011/02/anisio- texeira-o-inventor-da-escola.html>. Acesso em: 14 jun. 2017.

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

Muitas outras Propostas de Educação Integral, foram implementadas no Brasil, nos anos 1980 (oitenta) do século passado, com maior ou menor repercussão, entre elas:

• PROFIC – Programa de Formação Integral da Criança, (1986-1993), no estado de São Paulo, que foi criticado pelo caráter assistencialista e por não apresentar articulação com a proposta pedagógica das Escolas.

• Os Centros Educacionais Unificados (CEUs), em São Paulo (2000-2004),

"[...] se faz presente no debate, mesmo que não pretendesse o tempo integral. Sua importância pode ser reconhecida com base nos estudos de Santos (2004), ao destacar a persecução de articular os atendimentos de creche, educação infantil e fundamental, o desenvolvimento de atividades educacionais, recreativas e culturais, em um mesmo espaço físico, com a perspectiva de que os centros se constituíssem em experiências de convivência comunitária" (BRASIL, 2009, p. 17).

• Em Belo Horizonte (MG), O Programa Escola Integrada, por exemplo, foi criado em 2006, pela Prefeitura, ampliando a educação escolar para 09 (nove) horas diárias tendo como objetivo, a formação integral dos alunos de 06 (seis) a 14 (catorze) e 15 (quinze) anos do Ensino Fundamental, ofertando atividades diversificadas, além da curricular, articuladas com o PPP (Proposta Político Pedagógico) de cada escola.

Essas e outras propostas, buscando ampliar essa concepção de educação, surgiram em diversos programas educacionais de governos estaduais e municipais. Elas contribuíram com a construção do conceito de Educação Integral, que tem como base a constituindo socialmente, culturalmente e historicamente, numa tessitura complexa e dinâmica de múltiplas dimensões, a partir do contexto, da realidade dos indivíduos. Paulo Freire (1995, p. 15) nos seus escritos já nos dizia que:

[...] o que temos a fazer é repor o ser humano que atua, que pensa, que fala, que sonha, que ama, que odeia, que cria e recria, que sabe e ignora, que se afirma e que se nega, que constrói e destrói, que tanto o que herda quanto o que adquire, no centro de nossas preocupações.

O grande desafio posto no século XXI é o de garantir a todas as pessoas o direito à educação. Esse direito universal, individual e coletivo, voltado para uma educação de qualidade social, deve capacitar os indivíduos para exercerem os seus direitos civis e políticos como cidadãos, para conviverem na sociedade. E é preciso termos consciência de que o processo educativo de socialização de saberes, conhecimentos e valores, não acontece somente no espaço e no tempo escolar.

(34)

POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Atividade de Estudos:

1) Assinale a alternativa correta:

a) ( ) O grande desafio do XXI é apenas garantir o acesso à escola.

b) ( ) O grande desafio do XXI é garantir as pessoas dos centros urbanos o direito universal a educação de qualidade social capacitando-os para exercerem seus direitos civis e políticos para viverem em sociedade.

c) ( ) O grande desafio do XXI é garantir a todas as pessoas, o direito universal à educação de qualidade social capacitando- os para exercerem seus direitos civis e políticos para viverem em sociedade.

Conceito de Educação Integral: uma Proposta em Construção

"Apesar de ter sido considerado, tantas vezes, jeca-tatu, carvão para nosso processo produtivo, joão-ninguém, o povo brasileiro nunca perdeu sua auto-estima e o encantamento do mundo. Talvez seja esta visão encantada do mundo uma das maiores contribuições que nós brasileiros podemos dar à cultura mundial emergente, tão pouco mágica e tão pouco sensível ao jogo, ao humor e à convivência dos contrários".

Leonardo Boff

Prezado(a) aluno(a)! As discussões anteriores nos levam a refletir sobre o conceito e concepção de educação integral pensados para os(as) alunos(as) e concretizados nos espaços de educação escolar.

Quando falamos em educação integral temos todos uma mesma representação ou existem correntes ideológicas e concepções diferentes, que reconhecem como ponto essencial

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

Reafirmando a contribuição dos pensadores citados anteriormente, Moll (s/d, s/p) nos diz:

O que se caracteriza como uma educação integral, mediante o legado desses pensadores e as mudanças dos contextos históricos, é o reconhecimento da necessidade de ampliar e qualificar o tempo escolar, superando o caráter parcial e limitado que as poucas horas diárias proporcionam, em estreita associação com o reconhecimento das múltiplas dimensões que caracterizam os seres (MOLL, s/d, s/p).

Sabemos que historicamente, as concepções ideológicas e sociais se reconceituam, a partir das necessidades sociais. Por isso são criadas novas legislações e implementadas políticas públicas para acompanhar as demandas da população.

Assim, quando pensamos sobre o conceito de Educação Integral, é imprescindível entendermos, que diferentes concepções e suas práticas educativas se constituíram e vem se construindo ao longo da história da educação.

As divergentes visões sociais de mundo, as representações, crenças, hábitos etc. tanto nos espaços da escola como em outros espaços sociais configuram a educação. Como nos diz Ernica (2006, p. 14):

Nas sociedades modernas e fortemente influenciadas pela vida urbana, a escola é, por excelência, o ambiente que se dedica à atividade educacional. Mas mesmo nessas sociedades a escola não é o único ambiente do qual a educação é parte integrante. Os saberes que a escola seleciona são uma parte do patrimônio valorizado que é considerado necessário aos novos membros de uma

sociedade, mas não esgota o conjunto dos saberes socialmente valorizados e que devem ser ensinados. Há muitos outros saberes que são importantes para a reprodução da vida cultural e que são ensinados ao se participar de determinadas atividades sociais ao longo da vida.

Perceber isso, nos possibilita compreender os avanços e recuos das práticas da educação integral e assumir o conceito de uma educação de qualidade, como um direito das crianças, jovens e adolescentes que não se limita aos espaços e tempos da Escola.

A aprendizagem acontece desde o nascimento e continua ao longo de toda a vida. Ocorre em diferentes contextos: na família inicial, com os pais; com os pares, na nova família, na escola; em espaços formais e informais. Nesse sentido, a educação escolar precisa ser repensada, de modo a considerar as crianças e os adolescentes sujeitos inteiros, levando em conta todas as suas vivências, aprendizagens (GONÇALVES, 2006, p. 131).

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

A escola é o ponto de partida da Educação Integral, mas é imprescindível estabelecermos redes - internas e externamente com a educação formal - escolar. Com uma proposta, que possibilite fortalecer as redes de ação integrada e desenvolver as capacidades de cada uma das pessoas envolvidas irá provocar mudanças significativas no processo educacional "[...] como uma ação das muitas forças sociais que podem articular-se para reinventar a escola [..]" (MOLL, 2012, p. 30).

Também, quando se fala da questão da Educação Integral, não nos referimos apenas em relação a ampliação da jornada na escola, mas discutimos uma concepção de educação num universo mais amplo. Com essa concepção, iremos possibilitar a formação dos(as) alunos (as) de modo a desenvolverem as diversas habilidades, competências e conhecimentos individuais para poderem conviver na sociedade contemporânea, porque,

Só faz sentido pensar na ampliação da jornada escolar, ou seja, na implantação de escolas de tempo integral, se considerarmos uma concepção de educação integral com a perspectiva de que o horário expandido represente uma ampliação de oportunidades e situações que promovam aprendizagens significativas e emancipadoras (GONÇALVES, 2006, p. 131).

Mas, mesmo com essas questões levantadas, conforme nos diz Ernica (2006, p. 16) "[...] reconhecemos que, desde que esteja associada à dimensão qualitativa à qual nos referimos, a jornada integral pode favorecer uma reorganização da atividade educacional em direção à educação integral".

Caro estudante, com essas discussões, apresentamos algumas contribuições para fundamentar e ampliar sua visão sobre a educação integral. Vamos continuar com mais alguns conceitos e reflexões de teóricos, que consideramos relevantes.

Iniciamos, trazendo a definição contida no documento “Educação Integral:

texto referência para o debate nacional” (BRASIL, 2009a), publicado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do Ministério da Educação (MEC), que sinaliza a concepção hoje, de educação integral, que permeiam as políticas publicas

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Caminhos Percorridos para a Implementação das Políticas Públicas Educacionais da Educação Integral no Mundo e no Brasil a Partir do Século XX

Capítulo 1

[...] a Educação Integral se caracteriza pela idéia de uma formação “mais completa possível” para o ser humano, embora não haja consenso sobre o que se convenciona chamar de “formação completa” e, muito menos, sobre quais pressupostos e metodologias a constituiriam.

Apesar dessa ausência de consenso, é possível afirmar que as concepções de Educação Integral, circulantes até o momento, fundamentam-se em princípios político- ideológicos diversos, porém, mantêm naturezas semelhantes, em termos de atividades educativas (BRASIL, 2009a, p. 16).

Entretanto, como alerta Arroyo (2012), há uma questão cristalizada pela grande maioria da sociedade de que educação integral é sinônimo de educação de tempo integral. Esse equívoco precisamos superar porque

Uma forma de perder o significado político será limitar-nos a oferecer mais tempo da mesma escola, ou mais um turno extra--, ou mais educação do mesmo tipo de educação. Uma dose a mais para garantir a visão tradicional do direito à escolarização (ARROYO, 2012, p. 33).

Moacir Gadotti (2013) reafirma esse pensamento quando diz que educação integral é uma concepção e não apenas uma proposta a ser cumprida. Para ele:

A educação integral não pode se constituir apenas num “projeto especial” de tempo integral, mas numa política pública, para todos, entendendo-a como um princípio orientador do projeto eco-político-pedagógico de todas as escolas o que implica conectividade, intersetorialidade, intertransculturalidade, intertransdisciplinaridade, sustentabilidade e informalidade.

Enfim, educação integral é uma concepção geral da educação que não se confunde com o horário integral, o tempo integral ou a jornada integral (GADOTTI, 2013, p. 3).

Castro, (2006) define educação integral apontando a importância de buscarmos uma qualidade nesse processo.

[...] um conceito relacionado ao desenvolvimento das capacidades substantivas das pessoas para promover maior grau de eqüidade e justiça social. Distingue-se da idéia de escola de tempo integral, mas supõe educação de qualidade para todos e articulação das políticas públicas nas áreas de saúde, assistência social, cultura, esportes; enfim, o conjunto de políticas indispensáveis para formar cidadãos efetivos e incentivar formas de coesão social, que são a base de uma sociedade mais solidária, pluralista e democrática (CASTRO, 2006, p. 81).

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO EM EDUCAÇÃO

A qualidade na educação, com a participação efetiva da comunidade escolar no processo de aprendizagem, é um dos elementos básicos, para a implementação da Educação Integral. Gadotti (2013, p. 11) nos diz que:

A educação é de boa qualidade quando ela forma pessoas para pensar e agir com autonomia. E isso deve começar na primeira educação, na creche, na pré-escola, na educação infantil e deve continuar ao longo da vida. Isso depende fundamentalmente do professor. Ele é a referência ética- política e estratégica dessa qualidade.

Entendemos que o conceito de qualidade que buscamos para a Educação Integral, não é estanque e não está pronto. É uma construção histórica, que se modifica no tempo e no espaço e como nos fala Mariana (2011, p. 7): "Nesse sentido, as perspectivas contemporâneas de educação integral trabalham o vínculo entre educação e complexidade apoiado na dimensão poética, ou seja, na manifestação da criatividade, novidade e temporalidade .

Sabemos que hoje, trabalhar coletivamente, é fundamental para que ocorram avanços na área do conhecimento e novas reorganizações da sociedade. É imprescindível, neste processo, a atuação da gestão escolar e a construção e implementação de políticas públicas multisetoriais, que deem consistência e suporte a proposta de Educação Integral.

Muito mais que propostas ideológicas, a educação integral, exige um trabalho coletivo da comunidade escolar, com norte definido no Projeto Político Pedagógico da escola, onde a formação contínua dos professores e participantes da proposta, é fator preponderante. Além disso, é preciso propiciar as condições de infraestrutura e subsidiar meios para sua implantação pois,

Ela será o resultado dessas condições de partida e daquilo que for criado e construído em cada escola, em cada rede de ensino, com a participação dos educadores, educandos e das comunidades que podem e devem contribuir para ampliar os tempos e os espaços de formação de nossas crianças, adolescentes e jovens na perspectiva de que o acesso a educação pública seja complementado pelos processos de permanência e aprendizagem (BRASIL, 2009a, p.10).

A proposta e o conceito de educação integral tem estado presente na legislação e no ideário dos educadores resultando em projetos e propostas de grande riqueza há muitos anos, desde o inicio do anos 1920 do século passado. Contudo, quase sempre isolados e transitórios. Para possibilitar que a Muito mais

que propostas ideológicas, a educação integral, exige um

trabalho coletivo da comunidade escolar, com norte definido no Projeto Político Pedagógico

da escola, onde a formação contínua dos professores e participantes da

proposta, é fator preponderante.

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