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Acordam os juízes que compõem a Secção Social deste Tribunal da Relação de Évora:

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 245/13.3TTTMR.E1 Relator: BAPTISTA COELHO Sessão: 30 Março 2016

Votação: UNANIMIDADE Decisão: IMPROCEDENTE

ACIDENTE DE TRABALHO ÓNUS DA PROVA

Sumário

1- Incumbe ao sinistrado, enquanto parte demandante, o ónus de provar a existência do acidente.

2- Não estando provado o acidente, fica prejudicado o conhecimento da medida da reparação dos danos que dele emergiriam, se o mesmo fosse caracterizável como acidente de trabalho.

(Sumário do relator)

Texto Integral

Proc. nº 245/13.3TTTMR.E1

Acordam os juízes que compõem a Secção Social deste Tribunal da Relação de Évora:

No Tribunal do Trabalho de Tomar foi a 6/6/2013 participado acidente de trabalho pela sinistrada B…, identificada nos autos, alegadamente ocorrido a 31/8/2011, quando a participante trabalhava em funções de transporte de doentes para a C…, cuja responsabilidade se encontrava transferida para a D…, Companhia de Seguros, S.A.. Segundo a participante, no referido dia, quando com a ajuda de um colega pegava numa utente, muito pesada, para a colocar dentro duma ambulância, posicionou-se mal e fez uma torção brusca da coluna que a paralisou momentaneamente; por indicação do médico da D…

fez tratamentos de fisioterapia, mas a 25/11/2011 a seguradora deixou de considerar o acidente como acidente de trabalho, nunca lhe tendo dada alta clínica.

Iniciado assim o competente processo emergente de acidente de trabalho, no

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âmbito do mesmo foi a sinistrada submetida a exame médico, que considerou ter estado a mesma afetada de incapacidade temporária absoluta (ITA) de 22/9 a 7/11/2011, de incapacidade temporária parcial (ITP) de 0,25 de 1/9 a

21/9/2011, e de 8/11 a 28/11/2011, e com ITP de 010 de 29/11/2011 a

16/2/2012, passando a ter uma incapacidade permanente parcial (IPP) de 0,02 a partir desta última data.

Na tentativa de conciliação subsequente à perícia realizada não foi porém possível obter acordo das partes, e virtude de a sinistrada não ter aceite os graus de incapacidade atribuídos no exame médico a que se procedera, e por a seguradora declinar qualquer responsabilidade, considerando não ter

existido qualquer acidente, sendo as queixas da trabalhadora decorrentes de um quadro compatível com doença natural.

Patrocinada por advogado constituído, veio então a sinistrada instaurar ação contra a D… e contra a empregadora C…, alegando em síntese ter sofrido o acidente em causa no dia 30/8/2011, ter tido novo ‘episódio’ a 29/3/2012, em que ficou praticamente paralisada e a partir do qual não mais conseguiu regressar ao trabalho; concluiu pelo pedido de condenação solidária das RR.

no pagamento dos valores de € 231,93, de diferenças de indemnizações por ITs, € 19.668,84 de indemnização por ITA correspondente ao período de 30/3/2012 a 16/12/2014, € 20,00 de despesas com transportes, da

indemnização por todas as ITAs que se vencerem após a propositura da ação e até à data da consolidação das lesões, das despesas que a A. tiver que efetuar em virtude das lesões resultantes do acidente, nomeadamente despesas

médicas, medicamentosas, exames, cirurgias, e outras, da pensão pela IPP que vier a ser fixada após aquela consolidação, e ainda da quantia de € 5.000,00 a título de danos não patrimoniais; requereu finalmente a realização de exame por junta médica, formulando para o efeito os respetivos quesitos.

Considerando que só a R. D… poderá responder pelos danos emergentes do acidente, dada a transferência da responsabilidade operada pelo contrato de seguro firmado com a C…, o que tornará inviável o pedido formulado contra a parte empregadora, o Ex.º Juiz indeferiu liminarmente a p.i. no que toca à 2ª R., determinando a citação, apenas, da R. seguradora.

A D… veio então apresentar a sua contestação, reafirmando no essencial a posição que assumira na tentativa de conciliação, afirmando também que a patologia da coluna apresentada pela A. é de origem degenerativa, e não traumática, e daí concluindo pela improcedência da ação e consequente absolvição.

Foi de seguida proferido despacho saneador, que consignou os factos já então assentes, e enunciou os temas da prova, determinando ainda o desdobramento do processo para fixação da incapacidade, nos termos do art.º 132º do Código

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de Processo do Trabalho (C.P.T.).

Aberto o competente apenso, nele foi a A. submetida a perícia por junta médica, finda a qual foi proferido despacho que, secundando a opinião unânime dos Exs.º peritos, declarou não estar provado que a demandante esteja afetada de uma IPP, ou de uma incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual, mas considerando provado ter ela estado afetada de ITA de 22/9 a 7/11/2011, de ITP de 25% de 8/11 a 27/11/2011, e de ITP de 10% de 28/11/2011 a 29/3/2012.

No processo principal procedeu-se depois a audiência de discussão e

julgamento, na sequência do qual foi proferida sentença, que julgou a ação totalmente improcedente, absolvendo a R. seguradora de todos os pedidos formulados.

*

Inconformada com o assim decidido, dessa sentença veio então apelar a A.. Na respetiva alegação de recurso formulou as seguintes conclusões:

A. Da nulidade da Sentença por omissão de pronúncia e fundamentação em oposição com a decisão:

Omissão de pronúncia relativa aos danos não patrimoniais:

1ª - A douta sentença aqui em apreço não se pronunciou quanto aos invocados danos não patrimoniais peticionados pela A. na sua petição inicial;

2ª - Pese embora o tribunal “a quo” considerasse que deveria absolver a R. do pedido no que aos danos não patrimoniais respeita, tal teria que ser aflorado na sentença, o que não aconteceu;

3ª - O que corresponde a uma clara omissão de pronúncia e conduz

necessariamente à nulidade da sentença nos termos do disposto no art.º 615 nº 1 al. d) do CPC aplicável subsidiariamente por força do disposto no art.º 1 do CPT.

Omissão de pronúncia por falta de integração da decisão relativa ao apenso:

4ª - Dispõe o art.º 135 do CPT, que deverá o juiz integrar as decisões proferidas no processo principal e no apenso, cuja parte decisória deve reproduzir na sentença;

5ª - Ora, o Tribunal “a quo” não faz qualquer referência ao apenso criado para a fixação da incapacidade, nem ao resultado que do mesmo adveio, sendo que tal auto de junta médica realizado e ao qual se refere no ponto 2.4 da sentença al. c) como tendo servido de base para os factos dados como provados, deveria salvo melhor opinião, ser reproduzido em sede de sentença.

6ª - Assim, também por esta razão deverá a sentença ser considerada nula, nos termos do disposto no art.º 615 n.º 1 al. d). do CPC.

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Fundamentos em oposição com a decisão:

7ª - Decorre da sentença, fls. 7 e 8, que “(…) competia à autora-sinistrada o ónus de alegar e demonstrar que:

c) A lesão foi constatada no local e no tempo de trabalho; ou que, d) A lesão foi consequência do acidente de trabalho.

A primeira situação não é aplicável ao caso dos autos, na medida em que a autora nem sequer alegou que as lesões que fundamentam os pedidos foram constadas no local e no tempo de trabalho (…)”

8ª - Quando a fls. 1 e 2, se referiu “(…) Alegou, em síntese, que, no dia

30/08/2011, a A. encontrava-se ao serviço da C…, para quem desempenhava as funções de tripulante de ambulância de transporte (…) A sua entidade

patronal tinha transferida a responsabilidade civil decorrente dos acidentes de trabalho para a ora 1ª R. (...) Sucede que nesse dia, ao pegar num utente, com a ajuda do seu colega, para a colocar dentro de uma ambulância posicionou-se mal, fazendo uma torção brusca da coluna que a paralisou momentaneamente (…) em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a A. sofreu

lombalgia de esforço (…)”

9ª - Existe assim uma clara contradição entre o alegado pela A. que o próprio juiz “a quo” transcreve na sentença e os argumentos que o mesmo juiz utiliza para não dar razão à A., pelo que deverá a sentença ser declarada nula nos termos do disposto no art.º 615 n.º 1 al. c). do CPC.

B. Do recurso da matéria de facto

10ª - Não se conforma, também, a A. com douta Sentença no que respeita aos factos dados como não provados,

11ª - Não se conforma também com a fundamentação dada pelo Tribunal, mormente por ter desvalorizado por completo as declarações de parte da A., invocando que “dificilmente alguém poderá ser testemunha idónea em causa própria, pelo que tais declarações teriam que evidenciar uma inabalável certeza e convicção – em termos intrínsecos ou por serem acompanhadas de outras provas – o que não sucedeu”;

12ª - Interpretação que para além de violar as normas processuais onde se encontra positivado este meio de prova, é totalmente falsa, porquanto não só as ditas declarações de parte, foram corroboradas pelas testemunhas da A., como o foram também pela testemunha da R. Dr. …, pelo alegado pela R. na sua contestação e por alguns documentos juntos por esta, conforme se demonstrará.

13ª - Deveriam ter sido dados como provados os seguintes factos constantes do tema da prova:

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a) No dia 30/08/2011, pelas 10 horas, a autora B…, pegou numa utente, com a ajuda do seu colega, para a colocar dentro de uma ambulância, na localidade de Andreus, Abrantes;

b) Mas posicionou-se mal, fazendo uma torção brusca da coluna que a paralisou momentaneamente e a obrigou a dirigir-se ao Hospital;

14ª - Com base na conjugação dos elementos de prova produzidos nos autos, nomeadamente das declarações de parte da sinistrada, depoimento da

testemunha da A. …, depoimento da testemunha da A. …, depoimento da testemunha da R. Dr…., parcialmente supra transcritos (na parte considerada relevante para a questão aqui em apreço), documento nº 10 junto com a

Participação do Acidente, feita ao Tribunal pela A., documento este elaborado pela R., onde refere que “(…) Não obstante a sintomatologia dolorosa tenha surgido no tempo e no local de trabalho, não preenche os elementos

qualificadores de um acidente de trabalho (…) sugerimos que a vossa

colaboradora continue a assistência através do serviço nacional de saúde (…)”;

(sublinhado e negrito nosso), documento nº 2 junto com a Participação do Acidente, feita ao Tribunal pela A., documento este elaborado pela Clinica Médica de Reabilitação …, onde refere que a sinistrada “(…) se encontra em tratamento, a partir de 1-9-2011 a 30-9-2011 com Incapacidade temporária absoluta; (sublinhado e negrito nosso), documento nº 3 junto com a

contestação, no qual é feita a descrição do acidente, subscrita pela A. e pela sua entidade patronal, entidade idónea que com ela corroborou todas as informações contidas na participação e da qual consta, entre outras informações, em resposta ao ponto 39, “Colocava uma utente dentro da

ambulância”, sendo no mesmo documento indicada como testemunha o colega da A. “…”; Artigo 3º da contestação que se transcreve: “O alegado acidente dos autos foi participado à Ré, conforme doc. n.º3 que ora se junta e se dá integralmente por reproduzido”.

15ª - Tanto mais que a R. não impugnou os factos supra mencionados na sua contestação, o que se fosse sua intenção teria feito nos termos do art.º 21, no entanto, apenas referiu no seu art.º 15 “(…) que não havendo lesão decorrente do evento, não estamos perante qualquer acidente de trabalho”.

16ª - Deveria ter sido julgado parcialmente provado, o facto que se segue:

a) Em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a autora sofreu lombalgia de esforço que revelou protusões discais difusas em L5-S1, L4-L5 e L3-L4;

17ª - Devendo este ter sido considerado provado, nos termos seguintes:

a) Em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a autora sofreu lombalgia

de esforço, que agravou as protusões discais difusas em L5-S1, L4-L5 e L3-L4,

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constantes da Ressonância Magnética de 12-3-2011, causando-lhe sintomatologia dolorosa que lhe provocou as seguintes incapacidades temporárias: .

ITA (incapacidade temporária absoluta) desde 1-09-2011 a 7-11-2011;

ITP (incapacidade temporária parcial) de 25% de 8-11-2011 a 27-11- 2011; e, ITP (incapacidade temporária parcial) de 10% atribuída a 28-11-2011 até 29/3/2012;

ITA de 30/3/2012, até à data da alta, que ainda não foi proferida.

18ª -

Deviam ter sido considerados provados, os factos seguintes:

a) Também em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a A. sente dores na coluna lombar que lhe afectam a perna esquerda e que se agravam sempre que faz esforços;

b) Tem dormência no pé esquerdo;

c) Tais lesões determinaram para a A. ITAPH para essa profissão;

d) A A. tenha estado com incapacidade temporária noutros períodos de tempo (além dos acima indicados);

e) Os períodos de incapacidade temporária acima indicados sejam

consequência da torção brusca da coluna da autora quando esta se encontrava a trabalhar para a C… (…)”

19ª - Em virtude da conjugação dos seguintes elementos de prova, declarações de parte da A., depoimento da testemunha da A. …, depoimento da

testemunha da A. …, depoimento da testemunha da R. Dr…., parcialmente supra transcritos (na parte considerada relevante para a questão aqui em apreço), documento nº 10 junto com a Participação do Acidente, feita ao

Tribunal pela A., documento este elaborado pela R., onde refere que “(…) Não obstante a sintomatologia dolorosa tenha surgido no tempo e no local de

trabalho (…)”; documento nº 2 junto com a Participação do Acidente, feita ao Tribunal pela A., documento este elaborado pela Clinica Médica de

Reabilitação …, onde refere que a sinistrada “(…) se encontra em tratamento, a partir de 1-9-2011 a 30-9-2011 com Incapacidade temporária absoluta”, documento nº 7 junto com a PI, documento este elaborado pela …, empresa que prestava o serviço de medicina no trabalho à entidade empregadora da A.,

“Ficha de Aptidão” na qual consta que a trabalha está inapta definitivamente e poderá desempenhar outras funções administrativas, documento este, que se encontra assinado pela médica do trabalho, Relatório da Perícia de Avaliação do Dano Corporal em Direito do Trabalho, realizado na fase conciliatória, onde consta que os elementos disponíveis (cópia dos registos da Companhia de Seguros, TAC de 23-9-2011 e RMN de 12-3-2011) “(…) permitem admitir o nexo de causalidade entre o traumatismo e as raquialgias residuais por

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agravamento de patologia anterior (…)” (sublinhado e negrito nosso), artigo 17º da PI, que se transcreve: “A A. manteve-se com incapacidade de 10% até ao dia 29/03/2012, pois apesar da recusa de responsabilidade, não houve mais nenhuma observação clínica, nem lhe foi dada alta (…)”. O conteúdo deste artigo não foi impugnado na Contestação.

20ª - Os elementos de prova supra referidos demonstram também que os períodos de incapacidade temporária mencionados nesta ação, são

consequência da torção brusca da coluna da autora quando esta se encontrava a trabalhar para a C…, nomeadamente as declarações de parte da A.,

corroboradas pelo depoimento da testemunha da R., bem como pelo resultado da perícia de avaliação do dano corporal em direito do trabalho, realizado na fase conciliatória, onde consta que “(…) permitem admitir o nexo de

causalidade entre o traumatismo e as raquialgias residuais por agravamento de patologia anterior (…)” (sublinhado e negrito nosso). Acresce ainda que corrobora esta posição a forma como os Srs. Peritos no apenso A (não se prescindindo da alegada falta de integração da decisão referente a tal apenso na sentença de que ora se recorre) respondem à questão nº 8, onde assumem como verdadeiros os diversos períodos de incapacidade temporária, aceitando claramente que tais períodos de incapacidade resultaram da torsão brusca da coluna e esforço sofridos pela A.. Nenhuma outra interpretação poderia ser dada às respostas dos Srs. peritos, até porque caso tivessem entendimento contrário, teriam respondido “prejudicado” ou “desconhece” como fizeram em resposta a outros quesitos.

21ª - Entende a A., que a conjugação da prova supra mencionada, constante dos autos, demonstra que em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a autora sofreu lombalgia de esforço, que agravou as protusões discais difusas em L5-S1, L4-L5 e L3-L4, constantes da Ressonância Magnética de 12-3-2011, causando-lhe sintomatologia dolorosa que lhe

provocou as seguintes incapacidades temporárias nomeadamente a ITA desde 1-09-2011 a 7-11-2011, mormente por força das declarações de parte da A., corroboradas pelo depoimento das suas testemunhas e da testemunha da R., bem como pelo documento nº 2 junto com a Participação do Acidente, feita ao Tribunal pela A., documento este elaborado pela Clinica Médica de

Reabilitação…, onde refere que a sinistrada “(…) se encontra em tratamento, a partir de 1-9-2011 a 30-9-2011 com Incapacidade temporária absoluta”;

22ª - Deveria ter sido considerado provado o segundo acidente, ocorrido a 30/03/2012, com fundamento nas declarações de parte, que foram

corroboradas pelas declarações das suas testemunhas e pelos atestados médicos Docs. 12 junto com o requerimento inicial e Doc. 7 Junto com a PI, que demonstram a Incapacidade da A. para regressar ao seu trabalho

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habitual.

23ª - Teria forçosamente que se considerar como provado que não foi dada alta à A. no decurso do primeiro acidente, mormente por força do alegado no artigo 17º da PI, cujo conteúdo não foi impugnado pela R., no qual a A. alega

“A A. manteve-se com incapacidade de 10% até ao dia 29/03/2012, pois apesar da recusa de responsabilidade, não houve mais nenhuma observação clínica, nem lhe foi dada alta (…)”. O conteúdo deste artigo não foi impugnado na Contestação.

24ª - Aliás, se a R., considerasse falso o alegado, teria certamente defendido por exceção, invocando a Prescrição e juntando aos autos o boletim de alta clínica, ou outro documento subscrito por um médico que consubstanciasse a dita alta, e muito facilmente obteria a absolvição do pedido, o que não fez.

25º - Pelo contrário, resulta como provado na douta sentença que o fim da ITP de 10% ocorreu a 29/03/2012, o que apenas se poderia aceitar se tivesse ocorrido alta, o que não aconteceu, ou se à A. tivesse sido atribuída a ITA resultante do segundo acidente ocorrido nessa data.

26ª - De outra forma torna-se incompreensível atribuir a data de 29/03/2012 ao términus dos período de ITs, até porque os diversos documentos juntos aos autos são contraditórios entre si, mormente o doc. 4 junto com a contestação pela R. que atribui a data de 16/02/2012 como data de “curado sem

desvalorização”, data essa considerada como a da alta pelo perito na fase conciliatória, o que não coincide com a data do fim das ITS dada pelo peritos na fase contenciosa, os quais consideram ser a data de 29/03/2012.

27ª - Tudo isto conjugado corrobora a posição da A. de que nunca lhe foi dada alta e até lhe dá razão na data até à qual esteve de ITP de10% e que apenas se dirigiu ao serviço nacional de saúde na sequência da recusa da R. em assisti- la, e não porque tenha tido uma doença natural ao invés de um acidente de trabalho.

C. Do recurso da matéria de direito

28ª - A Douta sentença objeto do presente recurso violou o disposto nos artigos 135º do CPT, 615º n.º 1 al. c) e d). do CPC. pelo que como supra se mencionou, se pugna porque seja declarada a sua nulidade.

29ª - Além do exposto violou também o disposto nos artigos 8º, 10º, 11º nº 1 e 2 da Lei 98/2009 de 8/9, pelas razões que se passam a expor.

30ª - Resulta do documento nº 10 junto com a Participação do Acidente feita ao Tribunal pela A., documento este elaborado pela R., onde refere que “(…) Não obstante a sintomatologia dolorosa tenha surgido no tempo e no local de trabalho (…)” e documento nº 2 junto com a Participação do Acidente, feita ao Tribunal pela A., documento este elaborado pela Clinica Médica de

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Reabilitação…, onde refere que a sinistrada “(…) se encontra em tratamento, a partir de 1-9-2011 a 30-9-2011 com Incapacidade temporária absoluta”

conjugada com as declarações de parte da A., depoimentos das suas

testemunhas, e da própria testemunha da R. que por diversas vezes menciona que do evento decorreram queixas álgicas da A. que lhe provocaram ITA e posteriores ITPs. ter-se-á forçosamente que admitir a existência de lesão corporal, perturbação funcional e doença da qual resultou redução da sua capacidade de trabalho, decorrente do acidente.

31ª - Consequentemente, o facto alegado pela A., preenche o conceito de acidente de trabalho plasmado no art.º 8 da lei 98/2009, mormente porque o facto relatado pela A. provocou lombalgia de esforço, que agravou as

protusões discais difusas em L5-S1, L4-L5 e L3-L4, como mencionado no relatório de perícia médico-legal feito aquando da fase conciliatória.

32ª - As lesões constatadas no local e tempo de trabalho presumem-se

consequência de acidente de trabalho, conforme o disposto no art.º 10 da lei 98/2009, pelo que ao admitir como provado a ITA e as ITPs teria forçosamente que se considerar provada a existência do acidente de trabalho, até porque a R. não fez prova que permitisse afastar a dita presunção, pois recaia sobre ela o ónus de a afastar.

33ª - E nem a predisposição patológica do sinistrado no acidente exclui o direito à reparação integral por força do disposto no art.º 11 do diploma legal aqui em apreço, salvo se tiver sido ocultada, o que não ocorreu. Inclusive como refere o n.º 2 do mesmo artigo quer quando “a lesão ou doença

consecutiva ao acidente for agravada por lesão ou doença anterior, ou quando esta for agravada pelo acidente, a incapacidade avaliar-se-á como se tudo dele resultasse”.

34ª - Parece-nos que a fundamentação apresentada pelo tribunal “a quo” está parcialmente ferida por uma má análise da documentação junta aos autos que claramente induziu em erro o médico da companhia de seguros, testemunha desta nos autos, o qual fez referência, quando inquirido, à existência de um TAC antes do acidente e uma RMN depois do acidente, bem como que a RMN pode trazer outros dados que o TAC muitas vezes não traz, quando, na

verdade, a RMN foi realizada antes do acidente e o TAC depois do acidente.

35ª - Estas palavras levam-nos também a concluir que, a existência das queixas álgicas alegadas pelo referido médico como sofridas pela sinistrada era merecedora de uma nova RMN, esta sim, posterior ao acidente, pois só com tal exame se poderia comprovar a existência ou não de outras novas lesões decorrentes do acidente e geradoras das ditas queixas álgicas.

36ª - Impõe-se ainda fazer algumas breves considerações quanto à douta Sentença recorrida na parte em que fundamenta de direito e realiza a

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respetiva subsunção jurídica, porquanto só partindo dum pressuposto errado se poderá aceitar tais considerações, senão vejamos.

37ª - Refere a douta sentença que competia à sinistrada o ónus de alegar que a lesão foi constatada no local e tempo de trabalho ou que a lesão foi

consequência do acidente de trabalho. Mais refere “A primeira situação não é aplicável a caso dos autos, na medida em que a autora nem sequer alegou que as lesões que fundamentam os pedidos foram constadas no local e tempo de trabalho.” e fundamenta tal posição com o contraditório argumento que “A autora apenas referiu que, ao pegar numa utente, fez uma torção brusca na coluna que a paralisou momentaneamente. Ora a lesão que fundamenta o pedido é de natureza interna (…)”.

38ª - Discorda a A. desta argumentação usada pelo douto tribunal “a quo”, porquanto foi alegado por esta na sua PI nos art.º 6 a 12º, que não foram impugnados, pelo que tacitamente aceites, que no dia e hora invocados pela A., como o dia e hora do sinistro esta se encontrava ao serviço da C…, sua entidade patronal e sofreu um acidente de trabalho, ao pegar numa utente para a colocar dentro de uma ambulância, fazendo uma torção brusca da coluna que a deixou paralisada momentaneamente e a manteve incapacitada por longo período de tempo.

39ª - Ainda que se admitisse que a totalidade das lesões não possam ser constatadas sem qualquer exame médico, não considera correta a visão plasmada na sentença de que a paralisia momentânea que manteve a A.

incapacitada por longo período de tempo decorrente da torsão brusca da coluna, descrita no artº 6 da PI, não consubstancie lesão constatada no tempo e local de trabalho, pelo que por este motivo deveria ter sido aplicada ao caso em apreço o disposto no n.º 1 do Art.º 10 da Lei 98/2009, isto é, a presunção de que tais lesões são consequência do acidente de trabalho.

40ª - Entende ainda a A., que quando o legislador se refere no artigo supra mencionado a “ lesão constatada no local e tempo de trabalho” com isso não pretende restringir a aplicação da presunção contida no mesmo preceito legal às dores ou outras sintomatologias suscetíveis de serem verificadas no

referido local, mas sim a estas sintomatologias e às respetivas lesões que só mediante exames clínicos se poderão apurar.

41ª - Mais estranho ainda se torna a argumentação constante da douta sentença porquanto a própria R. no Doc. 10 junto com a Participação do

acidente refere que “não obstante a sintomatologia dolorosa tenha surgido no tempo e no local de trabalho (…)” o que demonstra claramente a aceitação da existência de lesões constatadas no tempo e no local de trabalho.

42ª - Na verdade, da posição manifestada pela R. na sua contestação,

mormente da conjugação dos seus artigos 14º e 15º, resulta não ter ocorrido o

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acidente de trabalho, por não existirem lesões temporárias ou permanentes decorrentes “(…) por si só (…)” do acidente e não por não existirem lesões, nem pelos factos não terem ocorrido no local e tempo de trabalho.

43ª - Sendo que, foi pretensão da R. eximir-se da sua responsabilidade, no momento em que entendeu que existia uma predisposição patológica para o acidente, o que por aplicação do disposto no artigo 11º nº 1 da Lei 98/2009, não afasta a responsabilidade da R..

44ª - Não pode a A. aceitar que, a Sentença considere provados os períodos de ITP, ainda que não na sua totalidade, mas seguramente com uma incapacidade de 10% entre 28/11/2011 e até 29/3/2012 e depois considere não haver direito a compensação por força dessa incapacidade temporária, por considerar que não ficou provado que tais períodos tenham resultado do invocado sinistro, sendo certo que a própria R. aceita tal facto e os peritos na fase contenciosa, também consideraram provado.

45ª - Parece que toda esta decisão desvalorizou por completo as lesões sofridas pela A., no local e tempo de trabalho, que lhe provocaram a

paralisação momentânea que a impediu de continuar a trabalhar, originando as ITs, pelo facto de considerar que tais lesões não resultaram exclusivamente do evento supra descrito, bem como desvalorizou a existência de um segundo episódio que originou a ITA deste derivada e IPP consequente e o facto dos médicos da companhia de seguros, ora R., não terem até à presente data dado alta à A..

46ª - A corroborar a posição assumida pela A., supra transcreveu-se

parcialmente o Acórdão da Relação do Porto proferido no âmbito do Processo 1454/13.0TTPNF.P1 a 8/7/2015 no qual se pode ler que a causa do acidente pode não ser unicamente externa podendo, eventualmente, ter origem do próprio organismo do trabalhador, como é o caso do surgimento de lombalgia, determinando a alteração do equilíbrio anatomicofisiologico do trabalhador, pelo que a causa do acidente pode ser exterior ou intrínseca ao organismo do trabalhador.

Concluiu a recorrente pedindo que se declare nula a sentença recorrida, ou se assim não se entender devendo alterar-se a decisão proferida sobre a matéria de facto e de direito, revogando-se a decisão proferida em 1ª instância e julgando-se a ação totalmente procedente e provada, condenando-se a R.

conforme peticionado.

*

Notificada da interposição do recurso, a R. veio contra-alegar, aí formulando as seguintes conclusões:

1 – A resposta dada à matéria de facto pelo Tribunal a quo não merece qualquer censura, antes correspondendo na íntegra à prova testemunhal

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produzida em audiência (vide depoimentos das testemunhas …(minuto 2:21 a 2:50) e (minuto 3:42 a 4:45), … (minuto 3:30 a 3:50) e Dr. … (minuto 0:30 a 1:00) e (minuto 2:00 a 2:55).

2 – As declarações de parte da sinistrada, desacompanhadas de qualquer prova testemunhal ou documental que as corroborem, não podem ter a

virtualidade de demonstrar a existência do acidente, ainda para mais quando há documentação clínica (documentos de fls. 21 e 48 e auto de junta médica constante do apenso, conjugado com o relatório médico de fls. 80 e 81) que demonstra a existência de lesões pré-existentes sobreponíveis, isto é, iguais, às lesões posteriormente verificadas.

3 – De igual modo, nenhuma prova foi feita no sentido de que ainda não foi dada alta à Recorrente ou de que esta ficou afectada de uma IPP de 10% com IPATH. Os exames médicos constantes dos autos, bem como o auto de junta médica demonstram precisamente o contrário. Foi proferida decisão no apenso, com base no citado auto de junta médica e da mesma, não foi interposto recurso.

4 – Quanto às incapacidades temporárias, as mesmas resultaram provadas nos exactos termos constantes da sentença. Simplesmente, não se tendo

demonstrado a existência de qualquer acidente no tempo e no local de

trabalho, nenhuma prova foi feita de que tais incapacidades resultam de um acidente de trabalho.

5 – A sentença recorrida está bem fundamentada e corresponde à prova produzida.

6 – A sentença recorrida não padece da invocada nulidade por omissão de pronúncia, pura e simplesmente porque não pode haver condenação em danos morais por parte da seguradora, com a causa de pedir apresentada pela

Recorrente. Não há pois qualquer violação do preceituado no artigo 615º, nº 1, al. d) do CPC;

7 – A sentença recorrida não padece igualmente da invocada omissão de

pronúncia por falta de integração da decisão relativa ao apenso, na medida em que a mesma transcreve, na matéria de facto dada como provada, as

incapacidades temporárias que foram fixadas em tal apenso em conformidade com o auto de junta médica. Improcede assim a alegada violação do

preceituado no artigo 135º do CPT com a consequência mencionada no artigo 615º, nº 1, al. d) do CPC;

8 – Não existe finalmente nulidade da sentença por oposição entre os fundamentos e a decisão, prevista no artigo 615º, nº 1, al. c) do CPC. O Tribunal a quo proferiu decisão em exacta consonância com os fundamentos explanados na douta sentença recorrida;

9 – Sendo de manter a sentença quanto à decisão sobre matéria de facto,

(13)

atenta a prova produzida, necessariamente terá que ser mantido o

enquadramento jurídico adoptado, pelo que improcede naturalmente o recurso sobre matéria de direito.

*

Admitido o recurso, e subidos os autos a esta Relação, a Ex.ª Procuradora- Geral Adjunta emitiu douto parecer, pronunciando-se no sentido da

improcedência do recurso, e da extemporaneidade da arguição de nulidades da sentença, em face do que dispõe o art.º 77º, nº 1, do C.P.T..

A tal parecer veio ainda responder a recorrente, para afirmar a validade daquela arguição, e a procedência do mérito da apelação.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

*

De acordo com as conclusões da alegação da recorrente, que como é sabido delimitam o objeto de um recurso (cfr. arts.º 635º, nº 4, e 639º, nº 1, do

Código de Processo Civil – C.P.C.), são fundamentalmente três as questões que vêm por ela suscitadas, a saber:

- nulidades da sentença;

- impugnação da decisão de facto;

- direito da A. à reparação dos danos emergentes do acidente alegadamente sofrido.

*

Antes porém de nos pronunciarmos sobre tais questões, recordemos a matéria de facto dada como provada na sentença recorrida, que foi a seguinte:

A) A autora B… nasceu no dia 25/1/1990;

B) No dia 30/08/2011, a A. encontrava-se ao serviço da C…, Delegação de Abrantes;

C) Para quem desempenhava as funções de tripulante de ambulância de transporte, obedecendo às suas ordens, direcção e fiscalização;

D) Auferindo a remuneração mensal de 600,00€ acrescida de 6,25€ de subsídio de almoço e subsídios de férias e natal, o que corresponde a uma retribuição anual global de 9.912,50€;

E) A sua entidade patronal tinha transferida a responsabilidade civil decorrente dos acidentes de trabalho para a ora 1ª R., pela apólice n.º

…, até ao indicado montante da retribuição anual;

F) A sinistrada sofreu as seguintes incapacidades temporárias:

- ITA (incapacidade temporária absoluta) desde 22-09-2011 a 7-11-2011;

- ITP (incapacidade temporária parcial) de 25% de 8-11-2011 a 27-11-2011; e,

- ITP (incapacidade temporária parcial) de 10% atribuída a 28-11-2011

(14)

até 29/3/2012;

G) A A. já evidenciava lesões no exame de TAC realizado no dia 23/9/2011, com o esclarecimento que tais lesões eram relacionadas com alterações detectadas na RM realizada no dia 12 de Março de 2011;

H) A A. evidencia lesões de natureza degenerativa e não traumática;

I) A A. suportou despesas com 4 viagens realizadas da sua residência em … para o Tribunal de Tomar e para o G.M.L. de Tomar, no valor total de € 20.

*

Na sentença recorrida consignou-se ainda não terem ficado provados

quaisquer outros factos com interesse para a decisão, nomeadamente que:

- No dia 30/08/2011, pelas 10 horas, a autora B…, pegou numa utente, com a ajuda do seu colega, para a colocar dentro de uma ambulância, na localidade de Andreus, Abrantes;

- Mas posicionou-se mal, fazendo uma torção brusca da coluna que a paralisou momentaneamente e a obrigou a dirigir-se ao Hospital;

- Em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a autora sofreu lombalgia de esforço que revelou protusões discais difusas em L5-S1, L4-L5 e L3-L4;

- Que lhe determinaram uma I.P.P. de 10%;

- Também em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a A.

sente dores na coluna lombar que lhe afectam a perna esquerda e que se agravam sempre que faz esforços;

- Tem dormência no pé esquerdo;

- Tais lesões determinaram para a A. ITAPH para essa profissão;

- A A. tenha estado com incapacidade temporária noutros períodos de tempo (além

dos acima indicados);

R) Os períodos de incapacidade temporária acima indicados sejam consequência da torção brusca da coluna da autora quando esta se encontrava a trabalhar para a Cruz Vermelha Portuguesa.

*

Como se referiu, a primeira das questões suscitadas pela apelante prende-se com a alegada nulidade da sentença recorrida. Na tese do recurso, seriam três os fundamentos que ditariam semelhante vício:

- omissão de pronúncia relativa aos danos não patrimoniais cuja reparação fora reclamada;

- omissão de pronúncia por falta de integração da decisão relativa ao apenso para fixação da incapacidade;

(15)

- fundamentos em oposição com a decisão, na parte em que o Ex.º Juiz considerou não ter a A. sequer alegado que as lesões que fundamentam os pedidos foram constatadas no local e no tempo de trabalho.

Nos dois primeiros casos, estariam verificadas as nulidades como tal qualificadas pelo art.º 615º, nº 1, al. d), do C.P.C.; no terceiro, a falta teria cabimento na al. c) do mesmo art.º, e nº 1.

Ora, é sabido que em processo do trabalho ocorre um regime específico de arguição de nulidades duma sentença, quando dela seja interposto recurso, que é o que consta do art.º 77º, nº 1, do C.P.T.: a arguição é feita expressa e separadamente no requerimento de interposição de recurso. E por este só pode naturalmente entender-se o requerimento a que alude o art.º 637º, nº 1, do C.P.C., quando refere que ‘os recursos interpõem-se por meio de

requerimento dirigido ao tribunal que proferiu a decisão recorrida, no qual se indica a espécie, o efeito e o modo de subida do recurso interposto’.

O certo é que nada disso se mostra observado na hipótese dos autos, como aliás a recorrente não deixou de admitir na resposta ao parecer que a Ex.ª Magistrada do MºPº emitiu nos termos do art.º 87º, nº 3, do C.P.T..

Com efeito, a questão da suposta nulidade da sentença não é referida no requerimento dirigido ao Ex.º Juiz a quo, a fls. 186v., que veio interpor o recurso, surgindo apenas inserida nas alegações dirigidas a esta Relação, como segmento das mesmas, e como fundamento, a par de outros, para

impugnação da sentença recorrida. Como tal, e como é entendimento pacífico na jurisprudência, o tribunal de recurso está impedido de conhecer das

nulidades invocadas (cfr., entre muitos outros, Ac. STJ de 28/1/2016 e de 1/10/2015[2]).

É certo que, no despacho que admitiu o recurso, o Ex.º Juiz a quo pronunciou- se também, ainda que sucintamente, sobre as nulidades invocadas, para

considerar que as mesmas improcediam. Foi aliás por assim ter sucedido que a recorrente veio igualmente defender, na citada resposta ao parecer do MºPº, que mesmo a ter existido estaria agora sanada uma hipotética irregularidade na arguição das nulidades, e por isso a Relação não poderia deixar de delas conhecer.

Ainda que neste particular não se afigure dever ter-se a falta por corrigida, porque é uma omissão da parte que está em causa, e porque também o

tribunal superior não está vinculado ao entendimento da 1ª instância, sempre adiantaremos que, em qualquer hipótese, também não parece assistir razão à recorrente quanto ao mérito da arguição das nulidades.

Por um lado, e no que respeita à alegada omissão de pronúncia, na decisão recorrida, da questão relativa ao pedido de danos não patrimoniais, mostra-se evidente que se trata de matéria cuja abordagem ficou prejudicada com a

(16)

solução de fundo acolhida na sentença. Considerando-se não estar provado o evento, acidente de trabalho, que seria gerador de danos passíveis de

reparação, não há sequer que discutir um dos segmentos que supostamente determinariam o montante da indemnização a atribuir.

Quanto à não integração da decisão proferida no apenso de fixação da incapacidade para o trabalho, nos termos exigidos pelo art.º 135º do C.P.T., também não colhe a pretensão da recorrente. A parte útil daquela decisão foi reproduzida no ponto F) da factualidade dada como provada na sentença recorrida, que acima se reproduziu, e nada mais seria nesse âmbito relevante para a consideração do mérito da causa.

Dir-se-á finalmente que também não se vislumbra onde poderá nulidade da sentença recorrida, por alegada oposição entre a decisão e os respetivos fundamentos, e designadamente quando nela se refere que a A. nem sequer alegou que as lesões que fundamentam os pedidos foram constatadas no local e no tempo de trabalho. A temática que está subjacente a tal arguição é

manifestamente uma questão de fundo, cujo tratamento cabe sim no âmbito do mérito do recurso.

*

Mostrando-se a propósito observados os requisitos formais exigidos pelo art.º 640º do C.P.C., abordemos então aquele que é o argumento nuclear da

apelante na impugnação que deduziu à sentença recorrida, e com a lógica argumentativa que aí foi expendida. Prende-se ele, no essencial, com a

discordância manifestada relativamente à matéria de facto que na sentença foi julgada como provada e como não provada.

Pretende a apelante, nesta parte do recurso que interpôs, que seja designadamente considerado como provado que:

- No dia 30/08/2011, pelas 10 horas, a autora B…, pegou numa utente, com a ajuda do seu colega, para a colocar dentro de uma ambulância, na localidade de Andreus, Abrantes;

- Mas posicionou-se mal, fazendo uma torção brusca da coluna que a paralisou momentaneamente e a obrigou a dirigir-se ao Hospital;

E bem assim que:

- Em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a autora sofreu lombalgia

de esforço, que agravou as protusões discais difusas em L5-S1, L4-L5 e L3-L4, constantes da Ressonância Magnética de 12-3-2011, causando-lhe

sintomatologia dolorosa que lhe provocou as seguintes incapacidades temporárias:

ITA (incapacidade temporária absoluta) desde 1-09-2011 a 7-11-2011;

ITP (incapacidade temporária parcial) de 25% de 8-11-2011 a 27-11- 2011; e,

(17)

ITP (incapacidade temporária parcial) de 10% atribuída a 28-11-2011 até 29/3/2012;

ITA de 30/3/2012, até à data da alta, que ainda não foi proferida.

- Também em resultado dessa torção brusca da coluna e esforço, a A. sente dores na coluna lombar que lhe afectam a perna esquerda e que se agravam sempre que faz esforços;

- Tem dormência no pé esquerdo;

- Tais lesões determinaram para a A. ITAPH para essa profissão;

- A A. tenha estado com incapacidade temporária noutros períodos de tempo (além dos acima indicados);

- Os períodos de incapacidade temporária acima indicados sejam consequência da torção brusca da coluna da autora quando esta se encontrava a trabalhar para a C….

Para fundamentar esta sua pretensão, a recorrente estriba-se no conjunto da prova produzida, e em parte nas declarações de parte por ela produzidas, nos depoimentos das suas testemunhas …, e …, no depoimento da testemunha da R. Dr. …, em diversa prova documental junta aos autos, e ainda nos arts.º 3º e 15º da contestação.

Antes porém de fazermos qualquer reapreciação da prova que possa agora ter lugar, importa sublinhar que a sentença recorrida não ignora que a recorrente apresenta lesões, e que as mesmas foram geradoras de períodos de

incapacidade para o trabalho. Todavia, o que antes de mais há que definir é se tais lesões podem ser imputadas, ainda que indiretamente, a um acidente que tenha ocorrido no tempo e local de trabalho, e que portanto seja

caracterizável como acidente de trabalho, por forma a que os danos dele alegadamente decorrentes podem ser reparados no quadro jurídico correspondente.

Ou seja: há que em primeira linha decidir se deve considerar-se estar provado que a recorrente sofreu um acidente no dia 30/8/2011; na hipótese afirmativa, há que depois avançar para os factos que possam interessar à caracterização desse acidente como de trabalho, e finalmente para a questão do nexo de causalidade entre o acidente, as lesões apresentadas, e os danos sofridos.

Na sentença recorrida a questão da existência do acidente ficou desde logo decidida pela negativa. O tribunal a quo, com efeito, julgou não estarem provados, precisamente, os dois primeiros factos que a recorrente, na

impugnação que deduziu quanto à decisão de facto, pretende que a Relação considere agora em sentido contrário.

Recordemos qual foi, neste particular, a motivação do Ex.º Juiz a quo:

‘As principais questões de facto reconduzem-se à demonstração do invocado acidente e do nexo causal entre esse acidente e as lesões que a autora

(18)

evidenciou quando foi submetida a exame e a junta médica.

Nenhuma prova foi oferecida quanto às circunstâncias do acidente, salvo as declarações finais da própria autora, visto que as testemunhas que esta apresentou são a sua mãe e uma sua cunhada (que não presenciaram o invocado acidente). Estas testemunhas limitaram-se a relatar a situação pessoal da autora e suas queixas. Não há dúvida que a autora evidencia medicamente lesões na sua coluna e que estas repercutem os seus efeitos na vida da B….

Porém, impunha-se que a autora demonstrasse a existência de um nexo causal entre tais lesões e um evento (trauma) ocorrido no exercício da sua profissão ao serviço da C….

Relativamente às declarações da própria autora, repetem-se as recentes considerações da sentença proferida no processo n.º 481/15.8T8TMR em que a aqui autora também é parte: o Tribunal não as considerou porque

dificilmente alguém poderá ser testemunha idónea em causa própria, pelo que tais declarações teriam que evidenciar uma inabalável certeza e convicção – em termos intrínsecos ou por serem acompanhadas de outras provas – o que não sucedeu. Apesar de se saudar a opção legislativa de permitir a prova por declarações de parte, ao permitir aos interessados relatarem factos que frequentemente só eles podem contar, nota-se que este meio de prova deverá estar sempre sujeito a um apertadíssimo juízo crítico, sob pena de aviltamento da administração da justiça. Um célebre aforismo judiciário diz que os juízes vão para o inferno a cavalo das testemunhas, o que constituirá um alerta para a aceitação acrítica de tudo aquilo que é dito num julgamento. No caso das declarações das partes as cautelas terão que ser reforçadas, pelo que o juiz terá que perguntar se este é o meio idóneo para se demonstrarem

determinados factos, se a parte não disporá de outros e melhores meios para demonstrar os factos, se não lhe era exigível a demonstração desses factos por outros meios mais convincentes, qual a motivação do declarante, o grau de segurança, de credibilidade ou a concordância com o que resulta de outros meios de prova produzidos.

No caso dos autos, constata-se que a autora também não soube explicar convincentemente um conjunto de factos instrumentais, tais como:

- As razões pelas quais realizou em data anterior ao invocado sinistro uma RM (ressonância magnética) à coluna;

- A ausência de pronta participação formal do sinistro à entidade patronal ou à seguradora, sendo que as descritas circunstâncias (teve logo que procurar ajuda hospitalar; não pode continuar a jornada de trabalho) logo teriam evidenciado a gravidade da situação; ou,

- A ausência de registo formal de tratamento hospitalar, pois referiu que foi

(19)

assistida por umas enfermeiras que conhecia no hospital que lhe deram uma injecção para as

dores (e muito se estranha a informalidade desse tratamento, isto é que as enfermeiras lhe tenham dado a injecção sem que tenham realizado qualquer registo

hospitalar).

Por outro lado, a autora também não apresentou qualquer testemunha que pudesse corroborar o acidente, sendo que, pelas suas próprias palavras, não se encontraria sozinha e que a situação logo a impediu de continuar a

trabalhar.

Por conseguinte, as declarações da autora não são por si só ou conjugadas com outros elementos meios bastantes em termos de exigibilidade probatória para formular um juízo seguro e consciencioso quanto aos factos que a mesma invocou.

Por último, acresce em sentido contrário à pretensão da autora a notícia de lesões prévias na coluna, nomeadamente em face da RM de 12/3/2011 e do TAC de 23/9/2011 (este pouco tempo depois do alegado acidente).’

Referiu também o Ex.º Juiz o seguinte, a propósito do depoimento prestado em audiência pelo Dr. …, médico ortopedista e testemunha arrolada pela

seguradora:

‘… muito embora não tenha observado a autora presencialmente, revelou conhecer os exames que esta realizou e testemunhou que tais elementos clínicos permitem razoavelmente concluir, através das regras da ciência médica, que a B… já antes da data do invocado acidente evidenciava

alterações degenerativas da coluna, a qual foi considerada convincente pelo conhecimento e habilitações que revelou, além de se revelar concordante com a opinião emergente da Junta Médica realizada no processo apenso e pela isenção que patenteou.’

*

Feita a reapreciação da prova produzida, não podemos deixar de manifestar a nossa concordância com as judiciosas considerações neste âmbito explanadas pelo Ex.º Juiz, que a nosso ver justificam cabalmente a convicção pelo mesmo adquirida quanto à problemática da existência do acidente, e que se afigura corresponderem plenamente às exigências do art.º 607º, nsº 4 e 5, do C.P.C..

Não será demais sublinhar que, no domínio da prova testemunhal, a regra é ainda a da livre apreciação (cfr. art.º 396º do Código Civil), e que a ‘prudente convicção’ do juiz também não está condicionada por uma consideração

meramente quantitativa dos depoimentos prestados sobre determinado facto.

Se poderá ser relevante o maior ou menor número de testemunhas que corroborem uma particular versão da realidade das coisas, não será menos

(20)

importante o distanciamento do litígio, a isenção, no fundo a credibilidade, que essas mesmas testemunhas possam demonstrar em juízo sobre a matéria de facto controvertida.

Tendo presente que o ónus de provar o acidente incumbia à recorrente,

importa referir que, na hipótese dos autos, as testemunhas apresentadas pela A. na audiência de julgamento foram a mãe e uma cunhada. Ambas afirmaram que a recorrente sofreu um acidente em Agosto de 2011; a primeira referiu-se a ‘… talvez um peso mais pesado que lhe causou uma lesão na coluna, a partir daí fez fisioterapia’, afirmando por sua vez a segunda que o acidente

aconteceu ‘ao pegar numa doente, deu um mau jeito nas costas, ficou imobilizada, portanto não conseguiu mexer-se no momento’. Mas nenhuma delas presenciou os factos, de que necessariamente terão tido conhecimento através da própria demandante.

E não parece que esta estivesse de todo impossibilitada de requerer outros meios probatórios, porventura mais credíveis, relativamente a um facto que é decisivo na ação. O colega da A. membro da tripulação da ambulância da C…

onde a mesma trabalhava naquele dia 30/8/2011, a própria doente que a A.

alegadamente transportava, ou até as enfermeiras conhecidas que, segundo as declarações da mesma, nesse dia 30 lhe terão prestado assistência e dado medicação para as dores, à margem de qualquer registo hospitalar, seriam testemunhas provavelmente bem mais posicionadas para comprovar em juízo o acidente em causa na ação.

Por outro lado, importa também notar que uma hipotética prova do acidente em nada decorrerá quer da prova documental junta aos autos, quer da posição assumida pela R. na contestação.

Se é certo que há no processo documentos clínicos, ou de natureza administrativa, que se reportam a um acidente, nenhum deles tem força probatória bastante para demonstrar a existência desse sinistro, enquanto configurando um evento naturalístico. Mais: nos docs. 3 e 10, juntos com a participação feita ao MºPº junto do tribunal a quo, e bem assim no doc. nº 3 junto com a contestação, esse acidente vem referenciado a 31/8/2011, quando naquela mesma participação, na petição inicial da fase contenciosa do

processo, e agora nas alegações de recurso, se insiste que o acidente ocorreu, sim, no dia 30…

A posição assumida pela R. na contestação também não parece de alguma forma poder aproveitar à tese da recorrente.

Ainda que tal articulado se reporte àqueles documentos, nele se alude sempre ao ‘alegado acidente’, não deixando a defesa da R., considerada no seu

conjunto, quaisquer dúvidas quanto à impugnação da existência do sinistro.

E há ainda um aspeto, que agora não interessa aprofundar, mas que em nada

(21)

clarifica o que na realidade terá sucedido com a A..

No art. º 20º da p.i. a demandante refere que ‘a 29/03/2012 teve novo episódio em que ficou praticamente paralisada e a partir do qual não mais conseguiu regressar ao trabalho’; em sede de alegações de recurso esta mesma

expressão é inteiramente reproduzida (cfr. fls. 188), para depois, na conclusão 22ª dessas mesmas alegações, se afirmar que deveria ter sido considerado provado o segundo acidente, ocorrido a 30/03/2012…’.

Na participação do acidente a juízo feita a 6/6/2013, nenhuma referência é feita a esse segundo acidente. Na petição inicial, que seria o local próprio para alegação dos factos que fundamentavam a ação, também nada se esclarece sobre aquilo em que teria consistido esse ‘segundo episódio’. Apenas das declarações da A., prestadas em audiência, se fica a saber que em Março de 2012, ‘também ao levantar uma doente, a mesma terá ficado completamente paralisada’.

*

Em face das vicissitudes processuais que se descreveram, não podemos deixar de secundar a decisão recorrida, na parte em que julgou não estar provado que:

- No dia 30/08/2011, pelas 10 horas, a autora B…, pegou numa utente, com a ajuda do seu colega, para a colocar dentro de uma ambulância, na localidade de Andreus, Abrantes;

- Mas posicionou-se mal, fazendo uma torção brusca da coluna que a paralisou momentaneamente e a obrigou a dirigir-se ao Hospital.

Não estando portanto provada a própria existência do acidente, fica

necessariamente prejudicado, nos termos dos arts.º 663º, nº 2, e 608º, nº 2, ambos do C.P.C., o conhecimento das demais questões suscitadas pela

recorrente, designadamente aquelas que se prendiam com a medida da reparação dos danos resultantes do alegado acidente de trabalho.

Improcedem pois, e em suma, todas as conclusões da alegação da apelante.

*

Nesta conformidade, acordam os juízes desta Secção Social em julgar a

apelação improcedente, assim confirmando, na íntegra, a sentença recorrida.

Custas pela recorrente.

Évora, 30-03-2016

Alexandre Ferreira Baptista Coelho (relator) José António Santos Feteira (adjunto)

Moisés Pereira da Silva (adjunto)

__________________________________________________

(22)

[1] (...)

[2] In www.dgsi.pt

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