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Acordam na 1ª secção Cível do Supremo Tribunal de Justiça:

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Academic year: 2022

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Revista.º 2142/15.9T8CTB.C1.S2

Acordam na 1ª secção Cível do Supremo Tribunal de Justiça:

ª

A Autora Fábricas Lusitana - Produtos Alimentares, S. A. intentou a presente acção, pedindo a condenação da Ré Disal – M. Homem Ferreira & Filhos, L.da a pagar- lhe a quantia de € 835.784,18, actualizada à data do pagamento, com juros desde a citação até integral pagamento, bem como todas as importâncias que decorram de prejuízos causados pelos factos alegados nesta acção e que ainda venham a ocorrer ou a ser conhecidos, seja na instrução do processo, seja em liquidação de sentença, valores também actualizados e sobre os quais devem ser contados juros moratórios à taxa legal, sempre tudo com custas a cargo da R.

Para fundamentar a sua pretensão alegou, em síntese:

- A A. é uma sociedade comercial que tem por objecto a produção e comercialização de produtos alimentares, entre os quais farinhas, sendo titular de marcas como “Branca de Neve” e “Espiga”.

- A R. é uma sociedade comercial que se dedica à importação e exportação de matérias-primas e produtos químicos para a indústria.

- A. e R. têm relações comerciais desde há largos anos, nomeadamente, fornecendo a R. à A. fosfato monocálcico.

- No fabrico industrial da A., como matéria-prima, é incorporado fosfato monocálcico, proveniente do fabricante alemão “B...”, usualmente provindo da fábrica da Alemanha.

- Fosfato monocálcico o qual a A. incorpora no fabrico industrial das farinhas alimentares que comercializa sob as marcas “Branca de Neve Fina”, “Branca de Neve Superfina”, “Branca de Neve Flor” e também no “Preparado em pó para Scones Branca de Neve”.

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- Acontece que a A começou a receber reclamações de que a farinha não estava em condições, cheirava a “ranço”, “arroz”, “mau cheiro” etc, o que veio a ser confirmado pela A através de análise sensorial das amostras dos lotes reclamados.

- A A informou a Ré de tais factos e enviou-lhe amostras para que esta pudesse efectuar análises, tendo sido pedido à Ré que solicitasse à “B...” o envio de técnicos seus para confirmarem as alterações dos odores.

- A “B...” conclui, no entanto, que não havia alteração organoléptica nas farinhas produzidas com fosfato monocálcico produzido na fábrica do México, o que levou a R a querer dar o assunto por encerrado.

- Desde janeiro de 2015, a A solicitou colaboração técnico-científica às mais respeitadas autoridades científicas e laboratórios com actividade em Portugal, no sentido de apurar, com toda a certeza, a origem do problema.

- Todas as conclusões dos referidos testes e análises indicam oxidação lipídica acelerada, a qual surge associada aos produtos nos quais se encontra adicionado o fosfato monocálcico produzido pela fábrica do México da “B...”, vendido pela R à A.

- As marcas da A sofreram com toda esta situação consideráveis prejuízos de reputação e bom nome.

- A A respondeu favoravelmente a todas as reclamações, recolhendo o produto e devolvendo em igual ou maior quantidade, pedindo desculpa, procurando não perder o cliente.

- Os 37.342,70 kg de fosfato monocálcico que tem em armazém valem € 46.678,38, sendo imprestáveis.

- Em consequência, a A retirou do mercado todos os produtos que tinha fabricado com o dito produto ou reteve-o em armazém.

- E teve que suportar os custos emergentes das operações logísticas implicadas na retirada e armazenamento de todos os produtos que já se encontravam distribuídos em todos os pontos de venda do país e os que ficaram retidos na fábrica e que haviam incluído o fosfato monocálcico vendido pela Ré, num prejuízo de € 38.040,82.

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- Para eliminação do produto não conforme a A foi obrigada a desembalar os produtos que já se encontravam prontos para o mercado ou já no mercado, o que causou à A prejuízo de € 27.431,30.

- Nos estudos e análises que a A teve que fazer gastou, até ao momento, a quantia € 10.483,60.

- A A teve custos financeiros no valor de € 12.355,08, decorrentes do financiamento e imobilização do capital.

- A A ainda está a desenvolver estudos e análises de mercado e laboratoriais, com os inerentes custos a suportar pela Ré.

A Ré contestou, deduzindo o incidente de intervenção principal provocada de Chemische Fabrik B... Kg; a excepção da caducidade do direito da Autora e ainda impugnou, a matéria alegada na p. inicial.

A Autora respondeu à excepção de caducidade, defendendo a sua improcedência.

Foi admitida a intervenção de Chemische Fabrik B... Kg, mas como interveniente acessório.

A interveniente apresentou contestação, onde, além do mais, suscitou, também a caducidade do direito invocado pela Autora e impugnou, toda a matéria alegada na p.

inicial.

A Autora respondeu às excepções deduzidas pela interveniente, defendendo a sua improcedência.

No despacho saneador foi julgada improcedente a excepção de incompetência absoluta do Tribunal e relegado para final o conhecimento da excepção da caducidade.

Na audiência de discussão e julgamento a Autora – fls. 719 – requereu a redução do pedido e a ampliação do mesmo, os quais vieram a ser deferidos.

Veio a ser proferida sentença que julgou a acção pela seguinte forma:

“Pelo exposto e nos termos e com os fundamentos de direito supra invocados, decide-se:

1. Julgar parcialmente procedente a presente acção, e, consequentemente, decide-se:

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a) Condenar a Ré, “M. HOMEM FERREIRA E FILHOS, Ld.ª”, a pagar à A,

“FÁBRICAS LUSITANA – PRODUTOS ALIMENTARES, S. A.”, a quantia total de € 646.364,31 (seiscentos e quarenta e seis mil e trezentos e sessenta e quatro euros e trinta e um cêntimos);

b) Condenar a Ré a pagar os respectivos juros de mora, à taxa legal, desde a data da citação até integral pagamento, com ressalva dos juros sobre a quantia de € 60.000,00 (sessenta mil) os quais se vencem apenas a partir da data do trânsito da presente sentença;

c) Absolve-se a Ré do demais peticionado.”

A Ré e a interveniente interpuseram recurso de apelação.

Todavia, ambos os recursos foram julgados improcedentes, confirmando-se a sentença recorrida.

Não se conformaram as apelantes que do acórdão da Relação interpuseram recurso de revista.

A ré Chemische formulou as seguintes conclusões:

“A. Vem o presente recurso de revista excecional interposto, ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 672º do CPC, do douto acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra proferido em 19.12.2018, que julgou as apelações improcedentes, mantendo a decisão da 1.ª Instância, sem fundamentação essencialmente diversa e sem voto de vencido.

B. De acordo com o entendimento perfilhado pelo douto acórdão recorrido, ainda que os prazos de caducidade previstos nos art.ºs 916.º e 917.º do C.C. sejam aplicáveis aos contratos de compra e venda de coisas genéricas, apenas terão aplicabilidade relativamente aos danos e aos prejuízos resultantes da própria existência do defeito, estando dos mesmos excluídos todos os danos reflexos ou colaterais, os quais, no entendimento daquele tribunal, se encontram sujeitos ao prazo geral de prescrição;

C. Mais sustenta o douto acórdão que o envio da uma comunicação escrita [no caso, a carta datada de 06 de abril de 2015] na qual a Recorrida, após a denúncia do defeito, manifestou a sua intenção de ser ressarcida dos prejuízos resultantes do mesmo,

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impediu a caducidade do direito de indemnização, nos termos e para os efeitos previstos no art.º 917.º do C.C., entendimento com o qual e salvo o devido respeito, o Recorrente não se conforma.

D. O entendimento sufragado pelo Tribunal da Relação de Coimbra está em oposição direta e patente com outros arestos já transitados em julgado e proferidos por tribunais superiores, incluindo pelo Supremo Tribunal de Justiça, no domínio da mesma legislação e sobre a(s) mesma(s) questão(ões) de direito, pelo que há fundamento para o cabimento e a procedência do presente recurso de revista excecional, nos termos e para os efeitos do disposto na alínea c) do n.º 1 do art.º 672.º do CPC.

E. As questões de direito primordialmente suscitadas no presente recurso, bem como as razões de identidade que lhes subjazem (e que são resolvidas de modo oposto pelo acórdão recorrido e pelos acórdãos fundamento invocados, respetivamente), são as seguintes:

a) O regime jurídico da compra e venda de coisas defeituosas, constante dos artigos 913.º e seguintes do C.C., mormente dos artigos 916.º e 917.º do referido Código, é aplicável à compra e venda de coisas genéricas?

b) O artigo 917.º do C.C. e, consequentemente, o prazo de caducidade aí previsto, é aplicável às ações em que são formulados pedidos de indemnização com fundamento em vícios da coisa vendida, sendo por isso aplicável quer às ações de anulação, quer às ações que visem o pagamento de indemnização por violação contratual?

c) O envio de uma comunicação escrita, exigindo o ressarcimento de todos os prejuízos resultantes do defeito do produto fornecido ao abrigo de um contrato de compra e venda de coisas genéricas é o meio idóneo e apto a impedir a verificação do prazo de caducidade previsto no artigo 917.º do C.C.?

F. Os acórdãos fundamento indicados pelo Recorrente para cada um das questões identificadas – e que se pronunciaram em sentido oposto ao que foi adotado pelo acórdão recorrido e transitaram em julgado – são:

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i) Relativamente às questões a) e b) supra – o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, de 06.10.2016, tirado no âmbito do processo n.º 6637/13.0TBMAI.A.P1.S2;

ii) Relativamente à questão c) supra - o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, de 13.10.2011, tirado no âmbito do processo n.º 1127/07.3TCSNT.C1.S1;

G. A propósito das questões a) e b), o acórdão fundamento indicado, assim como a maioria da doutrina e da jurisprudência quer dos Tribunais da Relação, quer do Supremo Tribunal de Justiça, consideram que art.ºs 916.º e 917.º do C.C. são aplicáveis aos casos de compra e venda de coisas genéricas e que, por interpretação extensiva e em observância ao princípio da unidade do sistema jurídico, deverão também aplicar-se quer à ação de anulação, quer às ações que visem o pagamento de indemnização por violação contratual baseada no cumprimento defeituoso da prestação.

H. Nas normas legais em apreço não é feita qualquer referência ou distinção entre vícios ocultos e vícios aparentes ou reconhecíveis, pelo que, conforme entendimento veiculado de forma expressa no mencionado acórdão fundamento, deverão relevar uns e outros, desde que se integrem numa das categorias de vícios previstos no citado art. 913.º, n.º 1 do C.C., como sucede no caso concreto.

I. Todos os prejuízos reclamados pela Recorrida e alegadamente indemnizáveis tiveram origem no vício do produto fornecido, entroncando a causa de pedir diretamente nos defeitos e/ou vícios do mesmo.

J. As pretensões da Recorrida são fundadas em violação contratual, que tem na sua origem os defeitos da coisa que integra a prestação do vendedor e cujos danos resultam desses vícios, rectius, da mesma causa de pedir, pelo que não poderão deixar de se lhe aplicar as normas legais em análise (art.ºs 916.º e 917.º do C.C.).

K. A este propósito, o entendimento do acórdão-fundamento Supremo Tribunal de Justiça, de 06.10.2016, tirado no âmbito do processo n.º 6637/13.0TBMAI.A.P1.S2, é muito claro:

“O comprador de coisa defeituosa nos termos do art. 913.º, n.º 1, do CC, pode, em alternativa aos direitos descritos nos arts. 905.º a 912.º e ainda no art. 914.º do

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mesmo Código, escolher exercer autonomamente a acção de responsabilidade civil pelo interesse contratual positivo decorrente do cumprimento defeituoso ou inexacto, presumidamente imputável ao vendedor (arts. 798.º, 799.º e 801.º, n.º 1, do CC).”

“Sendo a causa de pedir – o vício da coisa –, comum a todas as correspondentes acções (de anulação, indemnização pelo interesse contratual negativo,…), em homenagem ao princípio da unidade do sistema jurídico, deve aplicar-se, por interpretação extensiva, a esta acção de indemnização pelo interesse contratual positivo, decorrente de cumprimento defeituoso do contrato de compra e venda comercial, por vício da coisa vendida – no caso, farinha imprópria para consumo humano –, o prazo de caducidade de seis meses previsto no art. 917.º do CC e não o prazo geral de prescrição ordinária de 20 anos, previsto no art. 309.º do mesmo Código.”.

L. Assim, andou mal o douto acórdão recorrido ao decidir diversamente e em oposição direta com o acórdão fundamento (alínea c) do n.º 1 do artigo 672º do CPC).

M. Por sua vez, no que concerne à questão identificada sob a alínea c) supra e conforme decorre do acórdão fundamento indicado especificamente para esta questão em concreto, a reclamação dos danos não poderá deixar de ser efetuada, necessariamente, através da interposição da ação judicial correspondente, nos termos e em obediência do prazo de caducidade previsto no art.º 917.º do C.C, estatuindo claramente que “O prazo de um ano fixado naquele artigo 917º para o comprador reagir após ter denunciado um defeito da coisa vendida, não diz respeito a qualquer reacção, mesmo extrajudicial, mas apenas respeito à instauração de uma acção judicial.”, e ainda também que “Um comprador não pode pedir judicialmente a reparação dos defeitos da coisa vendida depois de decorrido aquele prazo de um ano após a denúncia.”.

N. Assim, o envio de uma comunicação escrita (no caso, datada de 06 de abril de 2015), através da qual a Recorrida manifestou a sua intenção de ser ressarcida dos prejuízos resultantes dos defeitos não impediu a caducidade do direito de indemnização por si peticionado, não se encontrando igualmente preenchidos os pressupostos previstos no art.º 331.º do C.C, ao contrário do que decidiu o douto acórdão recorrido.

O. No caso concreto, o produto foi fornecido pela Ré em 19 de setembro de 2014, a denúncia dos defeitos ocorreu em 26 de janeiro de 2015, confirmada por carta

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de 11 de fevereiro de 2015 e a ação judicial foi apresentada apenas em 11 de dezembro de 2015, pelo que à data da propositura da ação já haviam decorrido mais do que 6 (seis) meses desde a data da denúncia do defeito, verificando-se assim a exceção de caducidade do direito de indemnização peticionado em juízo pela Recorrida.

P. Em face do exposto e salvo melhor opinião, entende o Recorrente que os argumentos utilizados pelo Tribunal a quo no acórdão recorrido, para julgar a apelação improcedente, confirmando a decisão da 1ª Instância, são manifestamente insuficientes, impondo-se a sua substituição por outra decisão que julgue verificada a exceção de caducidade do direito de indemnização peticionado pela Recorrida por cumprimento defeituoso do contrato e que, no interesse do Recorrente, absolva Ré do pedido, nos termos previstos no art.º 576.º n.º 3 do CPC, fazendo-se assim a devida e acostumada justiça.

Q. Conforme demonstrado supra, o entendimento sufragado no acórdão recorrido pela Relação de Coimbra está em contradição com outros, já transitados em julgado, proferidos por Tribunais da Relação e pelo Supremo Tribunal de Justiça, no domínio da mesma legislação e sobre as mesmas questões fundamentais de direito, encontrando-se assim motivo para a admissão e procedência do presente recurso de revista excecional, nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 672.º do CPC.

R. A par da oposição de julgados acima enunciados, estamos igualmente perante uma questão cuja apreciação, pela sua relevância jurídica, é claramente necessária para uma melhor aplicação do direito (cfr. alínea a) do n.º 1 do artigo 672.º do CPC).

S. De facto, o dissenso jurisprudencial descrito verificado ao nível dos tribunais superiores justifica e determina que o Supremo Tribunal de Justiça se pronuncie no sentido da melhor aplicação do direito nas respostas às questões a), b) e c) supra que são suscitadas.

T. Adicionalmente, os interesses subjacentes em disputa são da maior relevância social; em suma, estando em jogo a definição do modo típico do exercício conforme dos direitos decorrentes da compra e venda comercial de coisas genéricas com defeito, a unidade do sistema jurídico e a segurança comercial, os interesses em presença revestem-se de particular relevância socioeconómica, designadamente pelas

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elevadíssimas repercussões económicas e empresariais que lhe subjazem e que são transversais às relações comerciais de fornecimento que todos os dias ocorrem no mercado entre múltiplos agentes económicos (cfr. alínea b) do n.º 1 do artigo 672.º do CPC).

Termos em que deve o presente recurso ser considerado procedente por provado e revogado o douto acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, determinando-se, no interesse do Recorrente, a caducidade do direito da Recorrida e absolvendo-se a Ré do pedido.

A Disal-M. Homem Ferreira e Filhos, Ldª formulou as seguintes conclusões:

“A. O presente recurso vem interposto do douto Acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de Coimbra, cuja apreciação recaiu sobre a sentença proferida pelo Juízo Central Cível (Juiz 2) do Tribunal Judicial da Comarca de Castelo Branco, a qual julgou parcialmente provada a acção proposta pela A. “FÁBRICAS LUSITANA – Produtos Alimentares, S.A.” contra a R. “M. Homem Ferreira & Filhos, Lda.”, condenando a R. a pagar à A. a quantia total de € 646.364,31 (seiscentos e quarenta e seis mil trezentos e sessenta e quatro euros e trinta e um cêntimos), acrescida de juros de mora, à taxa legal, desde a data da citação até, integral pagamento, com ressalva dos juros sobre a quantia de € 60.000,00 (sessenta mil euros), os quais se vencem a partir da data do trânsito em julgado da sentença, absolvendo a R. do demais peticionado.

B. Tendo Tribunal da Relação de Coimbra confirmado a decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª Instância, pronunciando-se pela improcedência dos recursos interpostos pela R. e pela Interveniente Acidental.

C. A Recorrente não se conforma com tal decisão, em especial, por considerar que, no caso concreto, o direito da A. a propor a presente acção contra a R. havia caducado, nos termos dos artigos 916.º n.ºs 1 e 2 e 917.º do Código Civil, uma vez que passaram mais de seis meses entre a denúncia do defeito e a interposição da acção.

D. No caso em apreço, veio o Tribunal da Relação de Coimbra confirmar sem voto de vencido a decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª Instância, fundamentando, no entanto, de forma essencialmente diferente a sua decisão, em especial, quanto aos

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fundamentos para considerar improcedente a excepção peremptória da caducidade do direito de acção invocada pela R. e pela Interveniente Acidental.

E. O Acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de Coimbra, apesar de confirmar a sentença proferida pelo Tribunal de 1.ª Instância, sem voto de vencido, contém argumentação que, para além de substancialmente mais extensa, é em tudo diversa da aduzida pelo Tribunal de 1.ª Instância, nomeadamente, quanto ao enquadramento jurídico efectuado num e noutro aresto, admitindo o Tribunal da Relação de Coimbra a existência de uma contrato de fornecimento, de natureza comercial, ao qual são aplicáveis os prazos de caducidade para proposição de acção, de 6 meses, para obter indemnização pelo incumprimento da obrigação de entrega, pela existência de defeito na coisa vendida (aplicável por força da conjugação dos art.ºs 1.º, 2.º e 230.º n.º 2 do Código Comercial e 918.º, 916.º e 917.º do Código Civil ex vi dos art.ºs 3.º do Código Comercial e 939.º do Código Civil), enquanto o Tribunal de 1.ª Instância entendia estar em causa um contrato de compra e venda de coisa genérica sendo aplicável o prazo de prescrição do direito de 20 anos quanto ao direito de indemnização pelo não cumprimento da obrigação (aplicável por força da conjugação dos art.ºs 918.º, 798.º e 309.º do Código Civil).

F. Verifica-se assim o requisito previsto no n.º 3 do art.º 671.º do Código de Processo Civil, da fundamentação essencialmente diferente empregue pelo Tribunal da Relação de Coimbra relativamente à decisão da 1.ª instância, por forma a afastar a verificação da “dupla conforme”, pelo que deve ser admitido o presente recurso de Revista.

G. Conforme referido, a Recorrente não se consegue conformar com a decisão proferida pelo Tribunal a quo, o qual confirmou a decisão da 1.ª instância e considerou procedente a pretensão da A., e improcedente a excepção peremptória invocada pela R.

e pela Interveniente Acidental, por entender que o direito da A. a propor a presente acção contra a R. havia caducado, nos termos dos artigos 916.º n.ºs 1 e 2 e 917.º do Código Civil, uma vez que passaram mais de seis meses entre a denúncia do defeito e a proposição da acção judicial.

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H. Com relevância para a boa decisão da causa, e no que concerne ao presente recurso, ficaram provados, entre outros os seguintes factos: ⎯ A A. é uma sociedade comercial que tem por objecto a produção e comercialização de produtos alimentares, entre os quais farinhas, sendo titular de marcas como “Branca de Neve” e “Espiga”

(Ponto 1. da Matéria de Facto Provada). ⎯ A R. é uma sociedade comercial que se dedica à importação e exportação de matérias-primas e produtos químicos para a indústria (Ponto 2. da Matéria de Facto Provada). ⎯ A e R. têm relações comerciais desde há largos anos, nomeadamente, fornecendo a R. à A. fosfato monocálcico (Ponto 3. da Matéria de Facto Provada). ⎯ No fabrico industrial da A., como matéria-prima, é incorporado fosfato monocálcico, proveniente do fabricante alemão “B...”, usualmente provindo da fábrica da Alemanha (Ponto 4. da Matéria de Facto Provada). ⎯ A A.

solicitou à R. o envio de amostra de 500 gramas, e o envio da ficha técnica e de segurança, fazendo depender dos resultados dos testes que iria realizar, a aceitação da proposta de fornecimento do fosfato monocálcico monohidratado Levall Ca 100, conforme email de 23 de Abril de 2014 (Ponto 110. da Matéria de Facto Provada). ⎯ Tendo a R. solicitado à “B...” o envio à A. da amostra pretendida, a qual aprovou o produto, após ter realizado os testes que pretendeu (Ponto 111. da Matéria de Facto Provada). ⎯ Assim, em 19 de Setembro de 2014, a R. forneceu à A., para a mesma finalidade industrial e comercial, 23 toneladas de fosfato monocálcico, proveniente de uma fábrica mexicana do fabricante alemão “B...” (Ponto 6. da Matéria de Facto Provada). ⎯ No dia 9 de Janeiro de 2015, surgiu a primeira reclamação de uma consumidora, feita via telefónica, relativamente à farinha “Branca de Neve Fina”, lote 014475, tendo a cliente afirmado que “a farinha cheira e sabe a arroz” (Ponto 11. da Matéria de Facto Provada). ⎯ Em reunião havida a 26Jan15, na qual estiveram presentes pela A. AA, BB e CC e pela R., DD e EE, foram a esta informados os factos até então decorridos (Ponto 43. da Matéria de Facto Provada). ⎯ A presente acção foi distribuída no dia 11 de Dezembro de 2015.

I. Contrariamente ao considerado pelo Tribunal de 1.ª instância, e em linha com o entendimento do Tribunal da Relação de Coimbra, entende a Recorrente que o contrato celebrado entre A. e R. é um contrato de compra e venda comercial, o qual se

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encontra estabelecido no art.º 874.º do Código Civil e nos art.ºs 463.º e seguintes do Código Comercial, e que se prende com a noção de actos de comércio constante do art.º 2.º do mesmo diploma.

J. O regime do contrato de compra e venda comercial, uma vez que o Código Comercial contém várias lacunas, deve ser interpretado em conjunto com as regras da compra e venda de Direito Civil, remetendo algumas normas do Código Comercial para estas, nomeadamente, art.º 3.º do Código Comercial e art.º 939.º do Código Civil.

K. O regime da compra e venda comercial não é completamente vazio de conteúdo, considerando a Recorrente que no mesmo se encontra estabelecido o regime particular da compra e venda sobre amostra, o qual consubstancia uma venda sob condição, devendo o comprador examinar a coisa comprada no acto da entrega, e se for caso disso reclamar no prazo de oito dias, conforme art.ºs 469.º e 471.º do Código Comercial.

L. Conforme resulta da matéria de facto provada, nas negociações prévias à celebração do contrato de compra e venda em análise, a proposta de venda de fosfato monocálcico proveniente da Fábrica da “B...” México ficou condicionada ao envio de amostra e aprovação da mesma pela A.. Tendo a referida amostra ficado à disposição da A., em 30 de Abril de 2014, para que esta efectuasse as análises que entendesse necessárias para avaliar a aptidão do produto para o fim para que seria utilizado, e sido aprovada e feita a encomenda, em 19 de Setembro de 2014.

M. Razão pela qual entende a Recorrente que ao caso não é de aplicar o regime da compra e venda de coisa genérica, uma vez que a coisa comprada se encontrava definida entre as partes, quanto ao género, quantidade (23 toneladas), e quanto às características, tudo devidamente aprovado e acordado com referência à amostra, boletim de análises e ficha técnica e de segurança, previamente enviados pela Recorrente à A..

N. Não tendo sido invocada pela A. qualquer desconformidade entre a amostra remetida antes da celebração do contrato de compra e venda, e os lotes de fosfato monocálcico recebidos com a entrega do produto, nem tendo sido efectuada qualquer denúncia de desconformidade do produto no prazo de oito dias contado da entrega do

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produto nas instalações da A., conforme estatuí o art.º 471.º do Código Comercial, entendendo a Recorrente que não foi respeitado o prazo de denúncia da alegada desconformidade da coisa vendida.

O. Ainda que assim não se considere, sempre se dirá que, por via de remissão, ao contrato de compra e venda comercial é aplicável o Código Civil, no âmbito do não cumprimento das obrigações emergentes do contrato, estabelecidas no art.º 798.º e seguintes do Código Civil, bem como o regime especial estabelecido no domínio da compra e venda relativamente ao não cumprimento das prestações que impendem sobre as partes, nomeadamente, no que ora importa, quanto à obrigação de entrega da coisa, o regime da compra e venda de coisas defeituosas, previsto nos art.º 913.º e seguintes do Código Civil.

P. Independentemente de se qualificar o contrato de compra e venda dos autos como um contrato de compra e venda de coisa genérica, certo é que, tanto no caso de a coisa ser determinada ou indeterminada, os atributos de qualidade fazem parte da prestação devida, e, por outro lado, a obrigação genérica transforma-se em específica com a concentração e esta verifica-se no momento do cumprimento (art.º 541.º do Código Civil), pelo que o defeito da prestação só se pode reportar a uma coisa específica, como defende Pedro Romano Martinez. Pelo que, o regime do cumprimento defeituoso, previsto nos art.º 913.º e seguintes do Código Civil se destina também a regular os casos de venda de coisa indeterminada, após a transferência da propriedade ou do risco.

Q. Para haver responsabilidade pelo cumprimento defeituoso, é necessário que previamente seja feita a denúncia do defeito, nos termos do art.º 916.º do Código Civil, a qual constitui um ónus que impende sobre o comprador, de comunicar ao vendedor o facto de a coisa entregue padecer de um determinado defeito, ou seja, que comporta vícios ou não corresponde à qualidade acordada.

R. Não sendo considerado o curto prazo de 8 dias previsto para a compra e venda comercial, deverá a denúncia ser efectuada no prazo de 30 dias subsequentes ao do conhecimento do defeito por parte do comprador, e dentro de seis meses após a entrega da coisa, nos termos do n.º 2 do art.º 916.º do Código Civil.

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S. Pelo que, tendo a entrega do produto nas instalações da A. ocorrido no dia 19 de Setembro de 2014, o prazo de denúncia do defeito terminaria, no limite, no dia 18 de Março de 2015. Tendo a A. recebido a primeira reclamação em 9 de Janeiro de 2015, e comunicado à R., em reunião havida no dia 26 de Janeiro de 2015 as reclamações existentes, ainda sem total certeza de que o fosfato monocálcico padecia de qualquer desconformidade. Tendo efectuado formalmente a denúncia, por cartas enviadas à R.

em 11 de Fevereiro e 6 de Abril de 2015.

T. Após a denúncia do defeito, a A. dispunha de um prazo de seis meses para intentar a acção judicial competente, contabilizado desde a data da denúncia, pelo que, terminou no dia 10 de Agosto de 2015, ou, no limite, no dia 5 de Outubro de 2015.

U. Sendo certo que, o limite máximo de garantia resultante da conjugação dos dois limites máximos dos prazos para denúncia e para interpor acção judicial, é de um ano a contar da entrega da coisa, e sempre terminaria no dia 18 de Setembro de 2015.

V. Razão pela qual pugna a Recorrente pela verificação da excepção peremptória da caducidade da acção, por ter sido ultrapassado prazo que é de caducidade (art.º 298.º n.º 2 do Código Civil), de seis meses após a denúncia, para intentar a acção, a qual apenas veio a ser distribuída em 11 de Dezembro de 2015.

W. A Recorrente discorda ainda do enquadramento jurídico efectuado pelo Tribunal da Relação de Coimbra, ao distinguir entre indemnização devida pela anulação do negócio, em sentido estrito, ou seja, a devolução do preço pago, e os “danos reflexos”, aqueles que resultaram da existência do defeito, considerando os Venerandos Desembargadores que estes últimos não estariam sujeitos aos prazos de caducidade, previstos nos art.º 916.º e 917.º do Código Civil.

X. A A. intentou acção que se destina a obter indemnização pelo não cumprimento da obrigação de entrega da coisa, por esta padecer de desconformidade causadora de danos, tendo fundamentado o pedido na responsabilidade civil da R. pelo interesse contratual positivo no cumprimento defeituoso, e tendo os prejuízos indemnizáveis todos origem no alegado defeito da coisa, deve a mesma obedecer aos prazos previstos especialmente para a venda de coisa defeituosa.

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Y. Apesar de, no art.º 917.º do Código Civil, ser apenas mencionada a acção de anulação, entendemos, em harmonia com a doutrina e jurisprudência dominante que, o mesmo deve estender-se às acções para exercício dos demais direitos, que tenham como causa de pedir o defeito da coisa, nomeadamente, às acções de indemnização pelo interesse contratual positivo.

Z. Sendo a causa de pedir a mesma (o defeito da coisa), mantém-se a ratio da existência do prazo curto de caducidade da denúncia do defeito e para intentar acção judicial, que se justifica por forma a evitar a “pendência por período dilatado de um estado de incerteza sobre o destino do contrato ou cadeia negocial e as dificuldades de prova (e contraprova) dos vícios anteriores ou contemporâneos à entrega da coisa com o provável entorpecimento do giro comercial”, conforme decidido no douto Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 06 de Outubro de 2016, proc. n.º 6637/13.0TBMAI- A.P1.S2, publicado em www.dgsi.pt .

AA. Não se compreendendo os argumentos do Tribunal da Relação de Coimbra de que, quanto aos danos colaterais ou reflexos, não podem estes estar sujeitos aos prazos do art.º 916.º e 917.º do Código Civil, pois, por um lado, sendo a causa de pedir a mesma, não podem deixar de existir os mesmos fundamentos que impõem a existência de prazos curtos, para qualquer indemnização reparadora do dano causado pelo defeito da coisa vendida. Por outro lado, apesar dos curtos prazos de denúncia e interposição da acção (um ano no máximo), pode o comprador, em todo o caso, lançar mão sobre os diversos institutos processuais existentes como o incidente da liquidação em execução de sentença, ampliação do pedido ou articulados supervenientes.

BB. Não se coadunando com as práticas comerciais e com a necessidade de segurança e certeza nas transacções comerciais, a existência de prazos diferentes para a obtenção de ressarcimento de danos cuja causa de pedir é a mesma, o defeito da coisa vendida.

CC. Atento o exposto, deveria ter sido proferida decisão no sentido de ser aplicável o regime do cumprimento defeituoso da prestação a todas as acções que visem o ressarcimento pelos danos causados pelo defeito da coisa, por forma a colocar o

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comprador na situação em que se encontraria se o contrato fosse exactamente cumprido (interesse contratual positivo).

DD. Discorda ainda a Recorrente do entendimento vertido no Acórdão da Relação de Coimbra que considerou que o prazo de caducidade em curso havia sido interrompido pelo envio de uma missiva à R., em 6 de Abril de 2015.

EE. O prazo de propositura da acção é um prazo de natureza substantiva, sujeito ao regime da caducidade, atento o disposto no n.º 2 do art.º 298.º do Código Civil como referimos, e, como tal, insusceptível de suspensão ou interrupção, salvo nos casos em que a lei o determine (cfr. art.º 328.º do CC).

FF. Acresce que, na carta enviada pela A. à Recorrente em 6 de Abril de 2015, não é mencionado o recurso aos tribunais judiciais com vista à proposição de acção judicial ou outro qualquer mecanismo, limitando-se a referida carta a, salvo melhor opinião, denunciar a existência de defeito, e não a exercer qualquer direito de acção.

Sendo certo que só 8 meses depois, veio a A. a intentar a presente acção para exercício do direito, não se compreendendo como poderia a A. através do envio da referida carta impedir o decurso do prazo de caducidade para intentar acção judicial.

GG. Entendendo a Recorrente que o momento relevante para impedir a caducidade do direito, quando este tem de ser exercido através de uma acção judicial a propor dentro de certo prazo, é o momento da propositura da acção, e não o envio de qualquer carta, de cariz meramente informativo.

HH. Atento o exposto, também aqui andou mal o Acórdão recorrido, devendo ser proferida decisão no sentido de se concluir pelo decurso de mais de seis meses desde a data da denúncia do defeito até à propositura da acção, concluindo-se pela verificação da excepção peremptória de caducidade do direito de indemnização por cumprimento defeituoso do contrato, decorrente do vício da coisa vendida, pelo interesse contratual positivo, conforme o peticionado pela A.. Excepção peremptória que foi tempestiva e validamente invocada pela R. e pela Interveniente Acidental, e que importa a absolvição total do pedido, nos termos do art.º 917.º do Código Civil e n.º 3 do art.º 576.º do Código de Processo Civil.

(17)

Pede, igualmente, a revogação do acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, determinando-se, no interesse da Recorrente, a caducidade do direito da Recorrida e absolvendo-se a Ré do pedido.

A autora respondeu às alegações pugnando pela improcedência dos recursos, pedindo ainda a ampliação do objecto do recurso relativamente à qualificação do contrato.

Cumpre decidir:

Os factos dados como provados são os seguintes:

“1. A A. é uma sociedade comercial que tem por objecto a produção e comercialização de produtos alimentares, entre os quais farinhas, sendo titular de marcas como “Branca de Neve” e “Espiga”.

2. A R. é uma sociedade comercial que se dedica à importação e exportação de matérias-primas e produtos químicos para a indústria.

3. A. e R. têm relações comerciais desde há largos anos, nomeadamente, fornecendo a R. à A. fosfato monocálcico.

4. No fabrico industrial da A., como matéria-prima, é incorporado fosfato monocálcico, proveniente do fabricante alemão “B...”, usualmente provindo da fábrica da Alemanha.

5. Fosfato monocálcico o qual a A. incorpora no fabrico industrial das farinhas alimentares que comercializa sob as marcas “Branca de Neve Fina”, “Branca de Neve Superfina”, “Branca de Neve Flor” e também no “Preparado em pó para Scones Branca de Neve”.

6. Assim, em 19 de Setembro de 2014, a R. forneceu à A., para a mesma finalidade industrial e comercial, 23 toneladas de fosfato monocálcico, proveniente de uma fábrica mexicana do fabricante alemão “B...”.

7. A partir do dia 24 de Outubro de 2014, a A. passou a usar o lote de fosfato monocálcico fornecido pela R. identificado em 6., na produção da sua farinha alimentar

“Branca de Neve Fina”.

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8. A 24 de Outubro de 2014, a A. passou a usar o lote de fosfato monocálcico fornecido pela R. identificado em 6., na produção do seu “Preparado em pó para Scones Branca de Neve”.

9. A partir do dia 6 de Novembro de 2014, a A. passou a usar o lote de fosfato monocálcico fornecido pela R. identificado em 6., na produção da sua farinha alimentar

“Branca de Neve Superfina”.

10.A 10 de Dezembro de 2014, a A. passou a usar o lote de fosfato monocálcico fornecido pela R. identificado em 6., na produção da sua farinha alimentar “Branca de Neve Flor”.

11.No dia 9 de Janeiro de 2015, surgiu a primeira reclamação de uma consumidora, feita via telefónica, relativamente à farinha “Branca de Neve Fina”, lote 014475, tendo a cliente afirmado que “a farinha cheira e sabe a arroz”.

12.No dia 13 de Janeiro de 2015, a A. recebeu uma segunda reclamação, via email, do cliente “S...”, proveniente de um consumidor que adquirira “Branca de Neve Fina” no

“C…” da Amadora.

13.Na reclamação é apontado que o consumidor reclamou de “mau cheiro” e

“sabor a ranço”, num pacote de farinha “Branca de Neve Fina”, 1 kg, lote 014474.

14.No dia 14 de Janeiro de 2015, a A. foi alertada, via email, de reclamação do cliente “J...”, do facto de, na loja “P...” do Porto Alto, vários consumidores terem identificado “coloração amarelada” e “cheiro a mofo” na farinha “Branca de Neve Fina”, lote 014502.

15.O cliente supra referido reclamou a mesma situação do produto com o mesmo lote existente na loja, num total de vinte unidades.

16.Em 20 de Janeiro de 2015, surgiu nova reclamação, via telefónica, de uma consumidora que afirmou que a farinha tinha um “cheiro estranho”, tendo comprado 15 pacotes de farinha do lote 014453.

17.No dia 21 de Janeiro de 2015, chegou à A. nova reclamação, através do

“Facebook”, de uma consumidora que afirmou haver “alteração do sabor da farinha”, a qual tinha sabor “a velho”, tendo usado três pacotes diferentes, dos lotes 014481, 014482 e 014483.

(19)

18.Em 27 de Janeiro de 2015, surgiu outra reclamação, através de contacto directo do cliente AA, colaborador da A., o qual questionou o Departamento da Qualidade desta sobre, “o cheiro estranho” da última farinha “Branca de Neve Superfina” que comprara.

19.A mulher do cliente atrás mencionado, confeccionou pastéis de carne para venda e notou de imediato, ao preparar a massa, a alteração do cheiro.

20.Comprou três maços de “Branca de Neve Superfina”, ou seja, 30 pacotes, lote 014465.

21.Em 6 de Fevereiro de 2015, ocorreu outra reclamação, via email, proveniente do cliente “S...”, relativa a “mau cheiro” em pacote farinha “Branca de Neve Fina” do lote 014492, identificado por consumidor que participou a ocorrência na loja “C…” de Oliveira de Azeméis.

22.Em 9 de Fevereiro de 2015, surgiu nova reclamação, via telefónica, de uma consumidora que comprou pacotes de farinha “Branca de Neve Superfina” com o lote 014465, afirmando que, quando os abriu, “cheiravam bastante a azedo”.

23.Em 13 de Fevereiro de 2015, apareceu mais uma reclamação, via telefónica, de uma consumidora que trabalha na “Misericórdia ...” e que consome entre 80 kg e 100 kg de farinha por semana.

24.A cliente reclamou do “cheiro a ranço” da farinha e do “mau sabor” da mesma e afirmou que já tinha comprado no “Jumbo”, “M...” e “P...” e que todos os pacotes estavam nas mesmas condições, restando-lhe ainda 12 kg, dos lotes 014463 e 014464.

25.A cliente supra referida afirmou ainda que a última farinha que comprou em boas condições, fora em Setembro de 2014.

26.Em 18 de Fevereiro de 2015, surgiu outra reclamação, via telefónica, de uma consumidora de há muitos anos, a qual afirmou que, o cheiro da farinha “Branca de Neve Fina” com o lote 014483 e o sabor do bolo depois de feito, eram muito

“estranhos”.

27.No mesmo dia deu-se mais outra reclamação, via email, de uma consumidora, a qual afirmou que, o cheiro e paladar da farinha “Branca de Neve Superfina” estavam

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“estranhos”, mais informando ser consumidora “há muitos anos” e que sempre estivera satisfeita até então.

28.Em 20 de Fevereiro de 2015, ocorreu mais uma reclamação, via email, do cliente “ITMP Alimentar”, comunicando que um consumidor da loja “I...” da Azambuja identificara um pacote de farinha “Branca de Neve Fina 1kg”, lote 014482, com “odor a ranço”.

29.Em 12 de Março de 2015, surgiu nova reclamação, via telefónica, de uma consumidora de há 26 anos, a qual afirmou que, dos pacotes da farinha “Branca de Neve Superfina”, lote 014465, vinha um cheiro a “azedo”, originando alteração no sabor do creme dos rissóis.

30.Em 13 de Março de 2015 surgiu nova reclamação, através da loja “I...” da Guarda, reportando cheiro a ranço.

31.Em 18 de Março de 2015, chegou à A. outra reclamação, via telefónica, de uma consumidora a afirmar que o pacote da farinha “Branca de Neve Superfina”, lote 6 014471, possuía um cheiro a “azedo” tendo provocado alteração no sabor do bolo com ela confeccionado.

32.A 15 de Abril de 2015, surgiu mais uma reclamação, via email, de uma consumidora que afirmou que dos produtos confeccionados com pacotes da farinha

“Branca de Neve Fina”, lotes 014455, 014473 e 014494 vinha um sabor estranho, como que a “bafio”.

33.Em 28 de Abril de 2015, ocorreu outra reclamação, via email, proveniente do cliente “S...”, indicando que dois consumidores reclamaram cheiro e sabor a “mofo” em pacotes farinha “Branca de Neve Fina”, do lote 014492, tendo a loja “Modelo” de Oliveira de Azeméis decidido retirar o lote do linear de venda, num total de 134 pacotes de 1 kg.

34.Em 26 de Maio de 2015, mais uma reclamação foi recepcionada via email, proveniente do cliente “S...”, indicando que um consumidor reclamara cheiro a “mofo”

em farinha “Branca de Neve Fina”, do lote 014492, na loja “M…” de Oliveira de Azeméis.

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35.A 30 de Junho de 2015, chegou à A. outra reclamação, via telefónica, de uma consumidora a afirmar que a farinha “Branca de Neve Fina” do lote 014492, cheirava a

“bafio” e que as pataniscas com ela confeccionadas não sabiam bem.

36.A 11 de Agosto de 2015 surgiu nova reclamação, via telefónica, de uma consumidora a afirmar que a farinha “Branca de Neve Fina” (2 pacotes com validade de Novembro de 2015) e farinha “Branca de Neve Superfina”.

37.Dia 26 de Outubro de 2015, surgiu outra reclamação, da consumidora BB, encaminhada pelo “Aldi” de Benavente, com “cheiro activo/azedo”.

38.A A. tratou de recolher os produtos objecto de reclamação.

39.Todas as reclamações foram tratadas pela A.

40.Adicionalmente a A. ressarciu todos os seus consumidores reclamantes, com produto, sempre em quantidade superior à reclamada ou, no caso de reclamações de clientes empresariais (“S...”, “J...” e “ITMP”) efectuou o crédito do produto e quantidades reclamadas.

41.Todas as moendas correspondentes aos pacotes de farinha, alvo de reclamação, datam do período compreendido entre 30 de Outubro de 2014 e 11 de Dezembro de 2014.

42.Os factos acima alegados, objecto das várias reclamações, foram confirmados através de análise sensorial das amostras dos lotes reclamados.

43.Em reunião havida a 26 Jan 2015, na qual estiveram presentes pela A. AA, BB e CC e pela R., DD e EE, foram a esta informados os factos até então decorridos.

44.Em 15 de Janeiro de 2015, para se poder chegar a conclusões mais precisas sobre as causas da alteração organoléptica constatada - ranço e mofo – foi efectuada internamente, na A., uma análise sensorial pormenorizada às amostras testemunho dos lotes produzidos nos últimos 4 meses.

45.Por cada moenda, a A. mantém amostras testemunho da farinha produzida antes e depois da adição do levedante químico - mistura de fosfato monocálcico, bicarbonato de sódio e farinha de trigo, como excipiente - internamente designado como

“Prémix”.

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46.Da referida análise concluiu-se que, a presença do cheiro a ranço se manifesta a partir da moenda 2014156 com “Prémix”, realizada dia 24 de Outubro de 2014, da qual resultaram 44.830 kg de farinha “Branca de Neve Fina”.

47.Foi também constatado que todas as amostras das moendas sem adição de

“Prémix”, não apresentavam qualquer alteração sensorial ao nível do cheiro, sendo este idêntico nas moendas anteriores e posteriores à moenda 2014156, realizada dia 24 de Outubro de 2014.

48.As amostras das moendas com “Prémix”, anteriores ao primeiro uso do produto referido em 6. supra, não apresentam qualquer alteração de cheiro.

49.A moenda 2014156 é o início do consumo de fosfato monocálcico vendido pela R. à A., proveniente da fábrica da “B...” no México.

50.A análise sensorial - avaliação de cheiro - foi alargada a toda a gama de produtos produzidos pela A., tendo-se constatado que, a alteração organoléptica apenas ocorreu nos quatro produtos, nos quais o fosfato monocálcio é utilizado como ingrediente, a saber: “Farinha Branca de Neve Fina”, “Farinha Branca de Neve Superfina”, “Farinha Branca de Neve Flor” e “Preparado em pó para Scones Branca de Neve”.

51.A avaliação foi também realizada às várias matérias-primas isoladamente, não tendo sido identificada qualquer alteração no cheiro das mesmas, nem mesmo nos quatro lotes de fosfato monocálcico provenientes da fábrica da “B...” no México.

52.Existindo muitos outros produtos em que, tendo sido fabricados a partir de lotes de farinha de trigo, farinha de arroz e bicarbonato de sódio comuns aos utilizados na produção dos produtos não conformes, não se identificou qualquer alteração organoléptica ao nível do cheiro, com excepção dos produtos nos quais se utilizou o fosfato monocálcico proveniente da fábrica da “B...” no México.

53.Também se verifica que a intensidade da alteração do cheiro, não sendo totalmente homogénea, era proporcional ao tempo decorrido após a produção do produto.

54. Por esta razão, a A. não conseguiu identificar a alteração do cheiro durante o controlo do processo produtivo, apenas o conseguindo fazer no controlo organoléptico

(23)

das amostras testemunho de lotes de produto produzido depois de alertada para o problema.

55.Antes de passar a usar fosfato monocálcico proveniente da fábrica da “B...”

no México, a A. realizou um exame laboratorial.

56.Contudo, este exame só incidiu sobre a granulometria do produto, por ser requisito interno da A., tendo excluído a análise de parâmetros químicos porque a R.

informou que as especificações técnicas eram exactamente as mesmas entre o produto fornecido a partir da fábrica do México e da fábrica da Alemanha.

57.Desde 1996 que a A. possui implementado um “Sistema de Gestão da Qualidade” de acordo com a norma NP EN ISO 9001, devidamente certificado no âmbito da “Produção de Farinhas de Trigo para Usos Domésticos e Industriais e de Preparados em Pó para Usos Culinários (…)”.

58.De acordo com os requisitos da norma internacional implementada, a A.

possui um completo e credível sistema de registos dos dados do processo produtivo bem como da rastreabilidade de todos os materiais e produtos recepcionados, transformados e expedidos.

59.Anualmente, a A. é alvo de auditorias internas e externas ao seu “Sistema de Gestão da Qualidade” bem como ao seu sistema de rastreabilidade.

60.O fosfato monocálcico é uma substância química produzida para uso industrial, frequentemente utilizado na indústria alimentar como agente levedante.

61.O uso deste componente em associação com o bicarbonato de sódio nas farinhas autolevedantes, é responsável pela incorporação e produção de compostos gasosos nas massas hidratadas e cozinhadas, tornando-as mais leves, macias e elásticas.

62.O uso desta substância é comum neste tipo de produtos alimentares provindo, quando fornecido pela R. antes do fornecimento em causa na presente acção, da Alemanha.

63.No dia 28 de Janeiro de 2015, a A. mandou à R. amostras, para que esta pudesse efectuar análises.

64.Após, a A. mandou à R. mais amostras, para proceder a mais testes, à semelhança do que já tinha sido feito anteriormente.

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65.Foi igualmente solicitado à R, para que, por sua vez, solicitasse à “B...” que fizesse deslocar às instalações da A., técnico qualificado por si designado, para confirmar, em presença, a situação da alteração dos odores.

66.A A., ao solicitar à R. a deslocação do referido técnico, explicou pretender ainda que, face aos resultados obtidos na sequência dos testes e análises efectuados, o mesmo contribuísse para o completo esclarecimento das causas que originaram o problema e que tomasse consciência, de modo directo e presencial, das reais proporções do mesmo.

67.A R. enviou as amostras acima mencionadas à “B...”, para que esta efectuasse testes e análises.

68.A “B...” referiu não haver alteração organoléptica nas farinhas produzidas com fosfato monocálcico produzido na fábrica do México.

69.O que levou a R. a querer dar o assunto por encerrado.

70. Desde Janeiro de 2015, a A. solicitou colaboração técnico-científica de autoridades científicas e laboratórios com actividade em Portugal, no sentido de apurar, com toda a certeza, a origem do problema.

71. As conclusões dos referidos testes e análises indicam uma oxidação lipídica acelerada, a qual surge associada aos produtos nos quais se encontra adicionado fosfato monocálcico produzido pela fábrica do México da “B...”, na origem do cheiro e sabor a ranço.

72.A causa da alteração do cheiro tem origem no fosfato monocálcico produzido pela fábrica do México da “B...”, vendido pela R. à A.

73.Em todas as outras vezes em que a A. comprou à R. fosfato monocálcico produzido pela fábrica da Alemanha da “B...”, nunca houve qualquer alteração, de cheiro, sabor ou qualidade, ao invés do que aconteceu neste caso.

74.O que é ainda mais evidente no caso dos “Scones”, cuja receita implica a incorporação de mais cerca de 15% de fosfato monocálcico.

75.Sempre que o fosfato monocálcico produzido pela fábrica do México da

“B...” é introduzido nas receitas da A., há alterações de cheiro ou sabor.

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76.Sempre que, em iguais circunstâncias, é usado outro fosfato monocálcico produzido pela fábrica da Alemanha da “B...” ou de qualquer outro fornecedor aprovado, não há alterações de cheiro ou sabor.

77.Todas as produções da A. anteriores ao fornecimento aludido em 6. supra foram isentas de problemas.

78.O mesmo tendo acontecido com as produções posteriores à utilização de fosfato monocálcico produzido pela fábrica do México da “B...”.

79.Desde que, em 1954, a A. começou a usar fosfato monocálcico nas suas receitas, há precisamente 61 anos, nunca acontecera problema semelhante.

80.Na sequência do ocorrido, investigada e detectada a causa, a A. deixou de usar o referido fosfato e bloqueou todos os produtos não conformes nos seus armazéns, suspendendo a produção de novo produto com o fosfato monocálcico produzido pela fábrica do México da B....

81.Para retomar a produção e evitar mais prejuízo, a A. passou a incorporar fosfato monocálcico produzido pela fábrica da Alemanha da “B...” ou de outros fornecedores aprovados.

82.A A. ainda tem armazenados 37.342,7 kg do fosfato monocálcico produzido pela fábrica do México da “B...” que lhe foi vendido pela R. ao abrigo da encomenda de 6. supra, o qual na íntegra pagou.

83.A A. procurou devolver à Ré o produto, mas a R., tendo começado por sugerir tal solução, agora não aceita.

84. Em email datado de 22 de Abril de 2014, data em que se iniciaram as negociações entre a A. e a R. para comercialização deste produto proveniente da fábrica da “B...” no México, a R. assegurou à A. que o mesmo, é exatamente igual ao da fábrica da Alemanha, e que as especificações técnicas eram as mesmas, disponibilizando-se para o envio de amostra.

85.Os produtos das marcas “Branca de Neve” da A. têm um reconhecimento ímpar no mercado, sendo as farinhas da marca “Branca de Neve” as mais conhecidas e reputadas no mercado nacional.

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86.As marcas da A. são premiadas, nacional e internacionalmente (capas

“Superbrand” dos últimos 5 anos).

87.Comparando, é impossível que os seus clientes aceitem menos que a excelência dos produtos que, mais caros, compram por superior qualidade, fiabilidade e segurança.

88.Falha ou menor qualidade que se tolera a produto da concorrência é intolerável para os clientes e consumidores dos produtos da A., dadas as superiores características e preço destes.

89.Relativamente aos produtos que a A. produz e comercializa, sob marcas e gamas unificadas em termos de designação, aparência, estrutura e rede distribuidora, há ainda um facto agravante para o seu prestígio e bom nome.

90.Dado que, tratando-se de produtos que vendidos em unidades custam escassas dezenas de cêntimos de euro, são de difusão muito alargada, por vasto público consumidor, o qual, perante uma deficiência ou avaria, dificilmente reclama.

91.Nos meses em que andou a tentar descobrir e depois resolver o que se passou com o produto vendido pela R., a A. recebeu mais 500% de reclamações do que usualmente.

92.A A. a todas respondeu favoravelmente, recolhendo o produto e devolvendo em igual ou maior quantidade, pedindo desculpa, procurando não perder o cliente.

93.Nos casos em que as reclamações chegaram ao seu conhecimento, a A.

minorou o prejuízo, actuando na relação com o cliente, explicando e ressarcindo, o que não pôde fazer relativamente aos casos ignotos.

94.Os 37.342,70 kg de fosfato monocálcico que tem em armazém, parte do que lhe foi vendido pela R., valem € 46.678,38.

95.A A retirou do mercado todos os produtos que tinha fabricado com o dito produto ou reteve-os em armazém, para impedir que alcançassem o mercado e ainda aumentasse o dano.

96.Factos que causaram à A. prejuízo de € 405.549,00, valor correspondente aos produtos que foram fabricados com o referido fosfato e que a A., na íntegra, retirou do

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mercado ou reteve em armazém, para impedir que alcançassem o mercado e ainda aumentasse o dano.

97.Suplementarmente a A. teve que suportar os custos emergentes das operações logísticas implicadas na retirada e armazenamento de todos os produtos que já se encontravam distribuídos em todos os pontos de venda do país e os que ficaram retidos na fábrica e que haviam incluído o fosfato monocálcico vendido pela R., no que despendeu € 56.537,00.

98.Para eliminação do produto não conforme, a A. foi obrigada a desembalar os produtos que já se encontravam prontos para o mercado ou já no mercado, no que despendeu € 27.431,30, por não serem passíveis de ser manuseados nas embalagens e porque tal operação seria funesta para a imagem da A.

99.Só por causa da ocorrência dos factos supra alegados é que a A. teve de realizar todos os estudos e análises documentados, no que gastou, até ao momento, a quantia de € 10.483,60.

100.A A. tem até ao dia 15 de Outubro de 2015, prejuízo de € 39.685,03, correspondente aos custos financeiros decorrentes dos pagamentos a fornecedores, não cobertos por força da não comercialização dos produtos afectados.

101.No dia 22 de Novembro de 2015, pelas 14:48, a consumidora CC, informou ter comprado um pacote de farinha Branca de Neve Fina, do lote 014473 20:17 e que, quando fez o bolo, ter sentido “cheiro muito estranho no ar e a massa ter feito umas bolhas estranha”.

102. Mais referiu a queixosa que, meteu o bolo “ao forno e o cheiro intensificou- se, parecia soja! Não cresceu muito e ficou duro. Como vi que não estava em condições de o vender parti uma fatia e provei e tinha um gosto intenso a soja. Horrível mesmo.”

103.No dia 26 de Novembro de 2015, a A. recebeu “do CATAA os resultados relativos à determinação de Hexanal, efectuados aos 4 meses de empacotamento à farinha BN produzida a partir de 3 fosfatos distintos: B... Alemanha (BNF ALE015303), B... México (BNF MX 22015303 e Jinghang China (BNF CHN015303).

104.As amostras alemã e chinesa apresentam resultados “não detectado”, o que significa resultado inferior a 1 μg/g (Limite de Detecção - LD).

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105.No caso do fosfato mexicano que a R. vendeu à A., referido em 6. supra, os

“resultados encontram-se acima do Limite de Quantificação (Limite de Quantificação – LOQ).

106.A A. havia sujeito a aprovação prévia a encomenda do produto, tendo para o efeito sido enviada amostra do mesmo, lote n.º 80000000060.

107.A R., não obstante considerar que não tinha qualquer responsabilidade no ocorrido, disponibilizou-se de imediato para encontrar uma resposta para o mesmo, tendo para o efeito solicitado à A. amostras das farinhas em causa, para enviar à “B...”, para esta analisar, atendendo a que esta, como fabricante do produto, tem a capacidade necessária para realizar todos os exames necessários, detendo laboratórios acreditados para o efeito.

108.Tendo a “B...” ficado muito apreensiva com o ocorrido, pois nunca teve qualquer reclamação do fosfato monocálcico que produz.

109. A Interveniente realizou testes às amostras que a R. lhe enviou usando a fórmula constante na embalagem, e não a fornecida pela A, não tendo detectado nada de anormal, designadamente qualquer alteração de odor/cheiro, encontrando-se todos os lotes analisados dentro das especificações técnicas, resultados que a R. transmitiu à A.

110.A A. solicitou à R. o envio de amostra de 500 gramas, e o envio da ficha técnica e de segurança, fazendo depender dos resultados dos testes que iria realizar, a aceitação da proposta de fornecimento do fosfato monocálcico monohidratado Levall Ca 100, conforme email de 23 de Abril de 2014.

111.Tendo a R. solicitado à “B...” o envio à A. da amostra pretendida, a qual aprovou o produto, após ter realizado os testes que pretendeu.

112. A Autora, com data de 11 de Fevereiro de 2015 enviou uma carta à Ré com o seguinte conteúdo

Assunto: Alteração de cheiro de farinhas Exmos. Senhores,

Foram sendo V. Exas postas ao corrente da situação com que, em meados de Janeiro, nos confrontámos, com uma alteração de cheiro nas nossas farinhas Branca de Neve Fina e Preparados para Scones, bem como dos exaustivos testes e análises a

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que procedemos e de que incumbimos as mais respeitadas autoridades científicas e laboratórios nacionais.

Tal como vos informámos, todas as evidências apontam para que a causa da alteração do cheiro tenha a sua origem no fosfato monocálcico monohidratado produzido pela B... (México).

Para vossa indicação enviámos na passada sexta-feira mais amostras, solicitadas, para testes, na sequência de um email da B... que nos reencaminharam e que nos deixou perplexos: - das amostras recebidas não seria detectável qualquer alteração anormal no odor.

É para nós indiscutível a presença do mesmo, nomeadamente nos scones, lote 014435. A mesma, já foi confirmada por diferentes técnicos e laboratórios.

Perante esta situação – e independentemente dos testes e análises que a B... está a levar a cabo – parece-nos que tanto por uma relação comercial de décadas como pela justificada notoriedade que ambas as sociedades souberam conquistar pelo rigor e qualidade das suas prestações se impõe que uma situação como esta seja acompanhada da forma mais estreita e cooperante possível entre as duas entidades.

Nesse sentido consideramos que se justificará que a B... faça deslocar às nossas instalações fabris um técnico qualificado para, por um lado, poder confirmar “in loco”

a situação de alteração de odores por nós descrita e, por outro, à luz dos testes, análises e conclusões obtidos até ao momento, contribuir para o completo esclarecimento das causas que o originaram.

Quererão V. Exas. dirigir à B... esta nossa sugestão, sublinhando a importância que a ela atribuímos?

113. No dia 6 de Abril de 2015 a Autora enviou uma carta à Ré com o seguinte conteúdo:

No passado dia 14 de Janeiro, fomos alertados por reclamação de Clientes da presença de um cheiro a ranço na nossa farinha Branca de Neve Fina, facto que foi por nós confirmado através da análise sensorial das nossas amostras testemunho dos lotes reclamados.

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No sentido de apurar as causas de tal alteração organoléptica, efectuámos uma análise pormenorizada quer à sequência de amostras testemunho associadas a todos os lotes de produto produzido (independentemente do tipo de farinha produzida), quer à rastreabilidade das matérias primas utilizadas em cada lote de produção

Concluímos que as amostras anteriores à moenda de 24-10-2014 não apresentam qualquer alteração de cheiro. A moenda 2014156, realizada a 24-10-2014, da qual resultaram 44.830kg de Farinha Branca de Neve Fina, foi a primeira moenda na qual identificámos a presença do cheiro a ranço. A partir dessa data, todas as moendas de Farinha Branca de Neve Fina ou Superfina, apresentam alteração organoléptica ao nível do odor. A intensidade do odor não é constante, sendo mais suave nas moendas recentemente produzidas.

A moenda 2014156, realizada a 24-10-2014, coincide com início do consumo do Fosfato Monocálcico proveniente da B... - México, tendo-se mantido o consumo dessa mesma proveniência, embora de lotes distintos, até à moenda 2015007 de 14-01-2015...

O resultado da avaliação das amostras testemunho relativas às matérias primas e às moendas foi o seguinte:

Todas as amostras testemunho das várias matérias primas (trigo, farinha de arroz, fosfato monocálcico e bicarbonato de sódio) não apresentam alteração de cheiro;

As amostras testemunho das moendas de Farinha T45, T55 e T65 não apresentam alteração de cheiro;

As amostras testemunho das moendas de Farinha BN Fina e BN Superfina produzidas entre 24-10-2014 e 14-01-2015, apresentam alteração de cheiro;

As amostras testemunho sem prémix (fosfato monocálcico e bicarbonato de sódio) das moendas de Farinha BN Fina e BN Superfina, produzidas entre 24-10-2014 e 14- 01-2015, não apresentam alteração de cheiro;

As amostras testemunho, com e sem prémix, das moendas de Farinha BN Fina e BN Superfina anteriores a 24-10-2014 e posteriores a 14-01-2015, não apresentam alteração de cheiro.

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Foram também analisadas as amostras testemunho de Farinha BN Flor e do Preparado para Scones, que utilizam Fosfato Monocálcíco na sua formulação. A presença de cheiro a ranço coincidiu com os lotes produzidos a partir do Fosfato Monocálcico proveniente da B... - México. O cheiro e sabor a ranço são particularmente intensos no lote 014435 do Preparado para Scones, razão pela qual solicitámos a recolha deste produto do mercado.

A totalidade do Fosfato Monocálcico proveniente da B... - México por nós recepcionado apresenta os seguintes dados:

Bloqueámos a actualização do stock remanescente do Fosfato Monocálcico proveniente da B... - México até resolução do problema.

Adicionalmente temos bloqueados:

Cerca de 64.060 maços (640.600kg) de Farinha Branca de Neve Fina; 379 Boxes-palete (137.956kg) de Farinha Branca de Neve Fina; Cerca de 260 maços (130kg) de Farinha Branca de Neve Flor;

Cerca de 438 ex. (788,4kg) de Preparado para Scones Branca de Neve; Cerca de 10.340 maços (103.400kg) de Farinha Branca de Neve Superfina; 77 Boxes-palete (28.028kg) de Farinha Branca de Neve Superfina;

2 silos com cerca de 40.000kg cada com parte da moenda 2015007 (farinha Branca de Neve Fina por empacotar).

A situação é ainda desconhecida nos seus contornos definidos e evolui a cada momento, dadas as análises laboratoriais em curso, bem como as sucessivas reclamações que temos vindo a receber e o facto do prazo de validade dos produtos no mercado ser ainda dilatado (aproximadamente terminará cerca de Dezembro de 2015).

Data

Recepção

Lote

Fornecedor

Lote

Lusitana

Quantidade (Kg.)

Validade

Stock actual

19.9.2014

8000000020 LMP- 004130

20.000 16.1.2017 0

8000000060 LMP- 3.000 31.1.2017 0

Referências

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