TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE
ACÓRDÃO: 2015305
RECURSO: Agravo Regimental
PROCESSO: 201400729212
RELATOR: RUY PINHEIRO DA SILVA
AGRAVANTE EDELZIO DE GÓIS FEITOSA Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE ELZE BISPO VALIDO Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE ERACLIDES BISPO DA CRUZ Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE ERACLIDES BISPO DA CRUZ FILHO Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE ITAMAR VIEIRA DA COSTA Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE JOATA MATHIAS ATANAZIO Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE LEONARDO ARAUJO VALIDO Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE MANOEL ROMÃO DA SILVA Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE NATÁLIA LUIZA DE GÓIS CRUZ Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVANTE SELMA DE GOIS FEITOSA Advogado: JOSE VIEIRA DA ROCHA AGRAVADO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SERGIPE
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL – AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO – ÁREA OBJETO DA LIDE QUE SE CONFUNDE COM AS TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS
PELA COMUNIDADE
REMANESCENTE DE QUILOMBOS PONTAL DA BARRA – INTERESSE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL NA PROTEÇÃO DOS DIREITOS DAS MINORIAS ÉTNICAS (COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBOLAS) ALI EXISTENTES – INTERESSE DO INCRA (AUTARQUIA FEDERAL) NO
DESLINDE DA AÇÃO –
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 150 DO STJ – RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E PROVIDO PARA ANULAR A SENTENÇA DE 1º GRAU E DETERMINAR A REMESSA DOS AUTOS À JUSTIÇA FEDERAL – PRECEDENTES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SERGIPE AGRAVO REGIMENTAL PLEITEANDO A REFORMA DA DECISÃO AGRAVADA – DESCABIMENTO – MANUTENÇÃO DA DECISÃO – RECURSO IMPROVIDO .
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os integrantes do Pleno do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, por unanimidade de votos, NEGAR PROVIMENTO ao Agravo Regimental, em conformidade com o relatório e voto constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Aracaju/SE, 13 de Janeiro de 2015.
DES. RUY PINHEIRO DA SILVA RELATOR
RELATÓRIO
JUIZ CONVOCADO – JOÃO HORA NETO (RELATOR): Tratase de um Agravo Regimental interposto por Selma de Góis Feitosa e outros, formulando pedido de reconsideração da decisão monocrática (fls. 284/287), que deu provimento à Apelação Cível interposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, anulando a sentença de 1º grau e determinando a remessa dos autos à Justiça Federal.
A decisão fustigada foi resumida na seguinte Ementa:
APELAÇÃO CÍVEL – INTERDITO PROIBITÓRIO – AÇÃO PROPOSTA POR REMANESCENTES DA COMUNIDADE QUILOMBOLA – PROTEÇÃO DE MINORIAS ÉTNICAS INTERESSE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL – INTERESSE DO INCRA NO DESLINDE DA AÇÃO – AUTARQUIA DA UNIÃO COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 150 DO STJ – RECURSO PROVIDO E CONHECIDO – ANULAÇÃO DA SENTENÇA – REMESSA PARA JUSTIÇA FEDERAL – PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS DO TJSE.
Nas suas razões recursais reprisa os argumentos contidos nas contrarrazões do Recurso Apelatório, argüindo a necessidade da reforma do julgado monocrático, destacando que a ação não foi proposta contra “Quilombolas” nem contra “Associação Quilombola”, mas contra vândalos, não se tratando de conflito de terras, mas de defesa do direito à propriedade. No mais, reitera todos os pedidos anteriormente apresentados no apelo.
Aofinal, pugna pelo provimento do Agravo Regimental.
É o que se impende relatar.
VOTO
JUIZ CONVOCADO – JOÃO HORA NETO (RELATOR): Sendo o recurso cabível, adequado e tempestivo, nada infirma seu conhecimento.
Cabeme pronunciamento, nesta quadra destinada a proferir eventual juízo de retratação ou manter a decisão proferida por esta relatoria no apelo.
Não colho razão eficiente à retratação do decisum proferido. Reproduzo aqui os fundamentos embasadores da decisão:
“(...)Na hipótese examinada, como houve pedido, anterior à sentença proferida pela Juíza de piso,
do Ministério Público Federal manifestando a necessidade de intervenção na ação como custus legis, inclusive apontando, em sua peça, a incompetência da Justiça Estadual para apreciar o feito, entendo que a sentença deva ser anulada e o feito deslocado para a Justiça Federal.
Vejamos jurisprudência do STJ:
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA INSTAURADO ENTRE JUÍZOS ESTADUAL E FEDERAL. APELAÇÃO EM AÇÃO POPULAR. MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE DA UNIÃO E INCRA PARA FIGURAR NO PÓLO ATIVO DA DEMANDA FORMULADO APÓS A SENTENÇA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. SÚMULAS 150, 224, 254/STJ. PRECEDENTES DO STJ. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO.
1. Na hipótese examinada, o conflito negativo de competência foi instaurado entre o Tribunal Regional Federal da 1ª Região e o Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia a fim de determinar qual é o juízo competente para julgar apelações interpostas contra sentença proferida em ação popular ajuizada por Sinval Lucena Guedes em face de Jair Miotto (prefeito do Município de Monte Negro/RO) e Outros, em razão do suposto desvio de verbas federais repassadas ao ente municipal mediante convênio. O Tribunal Estadual afirmou que o interesse do ente federal seria evidente, mas não reconheceu a nulidade da sentença, e determinou a remessa dos autos ao Tribunal Federal, o qual determinou a intimação da União e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA para manifestarem interesse na demanda.
2. Efetivamente, é incontroverso que a manifestação da União e do INCRA ocorreu após a sentença proferida pelo Juízo Estadual em primeiro grau de jurisdição, depois da intimação determinada pelo Desembargador Relator dos recursos de apelação no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
3. Tal premissa permite afirmar que no momento da sentença o Juízo Estadual era compete para decidir a demanda, o que afasta a necessidade de reconhecer eventual nulidade do julgado. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça em hipóteses similares é no sentido de que o pedido de intervenção de ente federal após a sentença proferida pelo Juízo Estadual desloca a competência para o julgamento da apelação ao Tribunal Regional Federal.
4. Nesse sentido, os seguintes precedentes: AgRg no CC 38.531/RS, 2ª Seção, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ de 15.3.2007; CC 38.790/RS, 1ª Seção, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. p/
acórdão Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 27.8.2003; CC 27.007/RR, 2ª Seção, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ de 14.2.2001).
5. Por outro lado, o eventual interesse da União e do INCRA para figurar no pólo ativo da lide deverá ser analisado pelo Juízo Federal, nos termos da Súmula 150/STJ ("Compete a Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas publicas."), o que deverá ser apreciado, preliminarmente ao julgamento das apelações, pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
6. Assim, sendo reconhecido pelo Juízo Federal o interesse dos entes públicos federais, a competência para julgar os recursos de apelação será do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em razão do art. 109, I, da Constituição Federal. Em caso negativo, em decisão que vincula o Juízo Estadual, nos termos das Súmulas 224 e 254/STJ (respectivamente,"Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito";"A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual"), os recursos de apelação deverão ser julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia.
7. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Processo CC 110869/ DF 2010/00400517 Ministro Relator: Mauro Campbell Marques. Data do Julgamento: 11/09/2013
Ante o exposto, conheço do recurso para lhe dar provimento, no sentido de reconhecer a incompetência desta Justiça e, por conseguinte, anular a sentença prolatada pela Juíza Monocrática, com a remessa dos autos à Justiça Federal – seção Judiciária de Sergipe.
Publiquese e intimemse. Dêse baixa na distribuição.”
Tenho como subsistentes os fundamentos declinados.
Em análise dos autos, impõese a manutenção da decisão monocrática, uma vez que a agravante não trouxe argumentos capazes de alterar o entendimento inicial exarado por esta relatoria.
A agravante tenta tão somente rediscutir a matéria já abordada em sede de Contrarrazões ao Recurso de Apelação, afirmando que não se trata de questão de terras, mas de defesa do direito à propriedade e que a ação de interdito proibitório não foi intentada contra representantes da comunidade Quilombola, mas sim contra praticantes de vandalismo, os quais são moradores da invasão do Pontal da Ilha, antiga Ilha do Rato.
Ocorre que a área sobre a qual recai o interdito proibitório, palco das supostas ações de vandalismo ventiladas pelo agravante, se confunde com as terras tradicionalmente ocupadas pela comunidade Remanescente de Quilombos Pontal da Barra. Diante disso e, visando à proteção do direito das minorias étnicas ali existentes, o Ministério Público Federal manifestou interesse na ação, o que impõe o deslocamento do feito para uma Vara federal.
Somese a este fato, a existência de petição do INCRA, autarquia federal, manifestando interesse no deslinde da causa. O INCRA, inclusive, já elaborou RTID relativo à comunidade Pontal da Barra, como consta dos autos.
Acerca do interesse do INCRA, autarquia federal, em figurar como assistente de uma das partes, cito a seguinte jurisprudência do STJ:
EMENTA. CONFLITO DE COMPETENCIA. AÇÃO POSSESSORIA. INTERESSE DE AUTARQUIA FEDERAL.
COMPETE AO JUIZO FEDERAL DECIDIR SOBRE O INTERESSE MANIFESTADO POR AUTARQUIA FEDERAL, NO SENTIDO DE FIGURAR COMO ASSISTENTE DE UMA DAS PARTES EM LITIGIO. (CC 2311/GO. Rel.:
Min. Dias Trindade. 2ª Seção. DJ. 21.9.1992)
Assim, o fato de haver interesse do Ministério Público Federal e do Incra atraem para a Justiça Federal a competência para apreciar e julgar a causa em questão.
Reitero o que diz a Constituição Federal a respeito da competência da Justiça Federal:
“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autores, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. (Grifado)
III – as causas fundadas em tratados ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional..”
Reitero, de igual forma, o que diz a Súmula nº 150 do STJ:
“compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.”
Ante o exposto, não vislumbro razões a ensejar a retratação da decisão vergastada, razão pela qual ratificoa integralmente, mantendo a anulação da sentença prolatada pela Juíza de piso, determinando a remessa dos autos à justiça Federal. Portanto, NEGO PROVIMENTO ao Agravo Regimental.
É como voto.
Aracaju/SE, 16 de Janeiro de 2015.
DES. RUY PINHEIRO DA SILVA RELATOR