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Espaços áridos da imagem

A fotografia panorâmica de Dimitri Lee

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

2008

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Espaços áridos da imagem

A fotografia panorâmica de Dimitri Lee

Trabalho de mestrado apresentado ao Programa de Mestrado em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC, sob a orientação da Professor Doutor Norval Baitello Jr.

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Fotografia Panorâmica 5

Banca Examinadora

––––––––––––––––––––––––––––––––

––––––––––––––––––––––––––––––––

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Fotografia Panorâmica 7

Agradecimentos

Agradecimentos

Agradeço ao Fotógrafo Dimitri Lee por sua colaboração e por ceder as imagens. Agradeço ao

Professor Sílvio Ferraz pelo incentivo a participar do programa de Semiótica da Puc. Agradeço

ao professor Norval Baitello por sua orientação segura e firme e sua generosidade em

compartilhar seus conhecimentos. Agradeço a todo o corpo docente do programa, pelas aulas e

cursos excelentes. Agradeço ao SESC pela concessão da bolsa de estudos que possibilitou a

realização deste mestrado.

Agradeço à minha família Ruth, Raul, Myrian, Milton, Celso, Helena, Plinio, Léa, Mary aos amigos

Ana Paula, professores de Música do SESC Vila Mariana, João Otta, e aos que estão cuidado de

mim, Daniel, Thais e Regina, pessoas que possibilitaram que este trabalho fosse concluído.

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8 Fotografia Panorâmica

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Fotografia Panorâmica 9

Resumo

Resumo

O presente trabalho tem como objeto a exposição “Templos Politeístas:” são fotografias

panorâmicas do fotógrafo Dimitri Lee que apresenta estádios de futebol como arenas vazias e

distorcidas. Faz parte do objeto um conjunto de depoimentos do fotógrafo, colhidos para um

melhor entendimento de suas intenções na produção destas imagens. O trabalho analítico das

imagens foi feito recorrendo-se à literatura do estudo da imagem fotográfica, da história da

fotografia e da teoria da imagem, considerando conceitos como o conceito de ‘estranhamento’

de Viktor Shklovsky, o conceito do 'fotógrafo como funcionário e jogador 'de Vilém Flusser. A

discussão sobre a presença da imagem é baseada nas reflexões de Hans Belting e Norval Baitello.

Neste processo, apresentamos as imagens com destaque para as características de negação dos

recursos de sedução como opção do autor, levantamos as técnicas utilizadas para a produção

destas imagens, e sugerimos sistemas de classificação, como uma forma de situar estas imagens

em um universo mais amplo, no qual as imagens dialogam entre sí e podem ser avaliadas a partir

de outras imagens.

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10 Fotografia Panorâmica

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Fotografia Panorâmica 11

Resumo

Abstract

The present paper has as its object the "Polytheist Temples" exhibition: they are panoramic

photographs by the photographer Dimitri Lee who presents soccer stadiums as empty and

distorted arenas. It is part of this object a set of statements from the photographer, gathered for a

better understanding of his intentions in the production of these images. The analytical work of

the images was made sourcing from the literature on the study of photographic image, on the

history of photograph and on the theory of image, considering concepts such as the concept of

“enstragement” of Viktor Shklovsky, the concept of the 'photographer as an employee and

player' of Vilém Flusser. The discussion on the image presence is based on Hans Belting´s and

Norval Baitello´s reflections. In this process, we presented the images highlighting their features

of denial of the seduction resources as an option of the author, we surveyed the techniques used

in the making of these images, and we imagined a classification system for images as a way of

placing these images in a wider universe in which the images dialogue among themselves e can

be assessed from other images.

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12 Fotografia Panorâmica

(12)

Fotografia Panorâmica 13

Índice

Índice

Introdução ... 15

Conversas com o fotógrafo ... 23

As fotografias da exposição “Templos Politeístas” ... 35

A exposição ... 36

Informações técnicas: Equipamento, processamento e impressão das Fotografias ...38

Depois de 360º o encontro com o tempo ...40

Estádio do Corinthians Paulista ... 43

A panorâmica apresentada como imagem plana ... 53

Realidade Virtual: Novas técnicas na produção da panorâmica ..60

Panoramas: um formato presente através da história ...61

Classificação de imagens ... 63

Praticidade: uso da classificação alfabética ...65

Classificação Photosig ...66

O método Warburg e a classificação da imagem em sí mesma ...67

Sea Dragon e o recurso da Informática na organização da imagem ...68

O excesso de fotografias que nos devora ...69

Classificação por proporção? ...70

O vazio ...74

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14 Fotografia Panorâmica

Índice

Porque a imagem foi produzida? ... 75

Como a imagem foi produzida? ... 76

Para que a imagem foi produzida? ... 76

Retrato em branco e preto ...77

O que contém a imagem? ... 78

Quem produziu a imagem? ... 79

Quando a imagem foi produzida?/ Onde a imagem foi produzida? .... 80

Conclusões ... 81

Bibliografia ... 85

Anexos ... 89

Três conversas com Dimitri Lee ... 89

Primeira conversa ... 89

Segunda conversa ... 100

Terceira conversa ... 111

Material que acompanhou a publicação das fotografias ... 123

Revista Trip ... 123

OS BAMBAS DE PERNAS BAMBAS ... 124

PERNAMBUQUINHO ... 125

ESTÁDIOS VAZIOS SÃO RUÍNAS SOMBRIAS ... 126

UM SONHO NO ESTÁDIO VAZIO ... 127

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Fotografia Panorâmica 15

Introdução

Introdução

…havia trevas sobre a face do abismo e o espírito de Deus

pairava sobre as águas. Disse Deus: haja luz. E houve luz.

Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as

trevas.

O Gênesis fala de luz: esta energia é a base da nossa visão. A tecnologia da fotografia faz

com que a luz de imagens projetadas sejam fixadas, de forma química ou eletrônica.

Um dos personagens de Kurt Vonnegut tenta explicar o sentido da vida: ser os olhos, os

ouvidos e a consciência do Criador. Ao ser os olhos e consciência do Criador, que

possamos chegar também ao que diz o Gênesis: E viu Deus tudo quanto fizera, e eis

que era muito bom. Um fotógrafo nos mostra o que vê no mundo. Isto torna o que é

uma visão pessoal em um objeto, e permite ao fotógrafo compartilhar sua visão do

mundo.

A fotografia é resultado de caminhos da luz, dos obstáculos onde a luz reflete, refrata,

(15)

16 Fotografia Panorâmica

Introdução

algo para que possamos enxergar: Arlindo Machado, em A Ilusão Especular (p.76—

Apud D’AVILA 1995:64) diz:

Toda fotografia, seja qual for o referente que a motiva, é

sempre um retângulo que recorta o visível. O primeiro papel

da fotografia é selecionar e destacar um campo significante,

limitá-lo pelas bordas do quadro, isolá-lo da zona

circunvizinha que é sua continuidade censurada. O quadro da

câmera é uma espécie de tesoura que recorta aquilo que deve

ser valorizado, que separa o que é importante para os

interesses da enunciação de que é acessório (...)

Na fotografia panorâmica a situação difere: não vemos o que uma lanterna ilumina,

vemos o que uma lâmpada iluminaria. Da mesma forma que toda a circunferência pode

ser iluminada pela lâmpada, toda a circunferência pode ser registrada na fotografia

panorâmica. Esta é uma situação especial, desafiadora. Fotografias de paisagens que

mostram um espaço amplo são desafiadoras:

De todas as variedades de fotografia, a paisagem, acredita

Adams, é o teste supremo do fotógrafo. Ele precisa “pegar” a

combinação feliz de terra, céu e nuvem — não pode

contrapô-las ou colocá-contrapô-las em posição nem ajuda muito mudar o

próprio ponto de vista. Quando se fotografam objetos

(16)

Fotografia Panorâmica 17

Introdução câmera alguns centímetros; quando se fotografa paisagens

pode-se, com freqüência andar cem metros, oitocentos metros

e pouco ganhar. E há o problema de nebulosidade, baixa

saturação de cores, escala (...) E, por fim, há a necessidade de

captar o momento quando a luz é mais eloqüente, e fotografar

antes que o momento passe. 1

Se a fotografia de paisagem é assim exigente, a fotografia panorâmica de 360º representa

uma exigência extrema. Foi o desafio enfrentado nas fotografias da exposição “Templos

Politeístas.” São fotografias de estádios de futebol apresentados como paisagem, e que só

podem ser vistas em instalações. Na exposição, as fotografias foram reproduzidas em

tamanho grande (6 metros de comprimento) exigindo local e iluminação especiais.

O meu desafio ao interpretar estas imagens é de atribuir significados. Campos de futebol,

templos em praças esportivas modernas, construções que mostram anseios de uma

sociedade. Competição esportiva que envolve muitas pessoas e muita emoção. Aqui o

espaço do futebol aparece nas imagens das sedes de cinco clubes paulistas, que são

apresentados vazios.

Para meu entendimento, procurei primeiro a classificação de imagens, e isto foi de

grande ajuda para uma orientação quanto `as possibilidades de entendimento das

(17)

18 Fotografia Panorâmica

Introdução

imagens. As classificações, quando lidam com o que a imagem contém, pode não

reconhecer o que é transcendente na imagem. Especialmente quando o que é principal

na imagem não pode pode ser descrito em palavras.

O autor das fotografias, Dimitri Lee, é um fotógrafo que pesquisa a fotografia e seus

recursos, e que generosamente acompanhou este trabalho e respondeu a todas as

minhas perguntas. Falou de sua técnica, e como e quanto a técnica é desconhecida pelo

receptor da imagem, a imagem resultante se torna mágica, e como é necessária a

convivência com a técnica para que a imagem se torne banal, afastando a idéia de

mágica. Sem a ilusão da mágica, a imagem técnica serve melhor como linguagem,

produzindo sentidos que ultrapassem o deslumbramento pela técnica. Como

espectadores podemos perceber a técnica, e ultrapassado seu fascínio, entrar nesta

comunicação.

As fotografias panorâmicas dos estádios da exposição Templos Politeistas falam sobre a

técnica, sobre o fotógrafo, e também sobre a solidão e a riqueza do vazio. O local da

comunhão de torcedores e jogadores, juízes, bola e desejo de ganhar a partida, é

apresentado como um local de culto e mostrado em seu momento solitário. Sempre pelo

ponto de vista da bola.

Este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto de imagens panorâmicas ou da

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Fotografia Panorâmica 19

Introdução

técnica da produção destas imagens em 360º, e apresentar caminhos que podem ser

explorados a partir do que foi encontrando nesta pesquisa, documentando este momento

da obra e pensamento do fotógrafo Dimitri Lee. Este trabalho está dividido em três

partes:

1 A apresentação do fotógrafo e suas imagens

2 A descrição das técnicas para se produzir tais imagens

3 Considerações sobre sistemas de classificação de imagens e a inserção das imagens

vistas nestes sistemas

Na primeira parte, apresentamos o fotógrafo Dimitri Lee e suas idéias, e as fotografias da

exposição Templos Politeístas, que são imagens de estádios em 360º. Em anexo, temos os

textos criados para acompanhar a publicação destas imagens. Citamos as novas séries

fotográficas, caminhos por onde está se dirigindo o trabalho do fotógrafo Dimitri Lee: as

fotografias que ultrapassam 360º e contam histórias e as fotografias de deserto, que

mostram o vazio de uma forma mais incisiva que as fotografias dos estádios, e as que

mostram a passagem do tempo com a decadência de construções que deixaram de servir

(19)

20 Fotografia Panorâmica

Introdução

Na segunda parte, descrevemos as técnicas usadas na produção de imagens

panorâmicas. Esta parte apresenta os recursos disponíveis para a produção deste tipo de

imagem. Diversas abordagens são possíveis, cada uma com suas vantagens e

desvantagens. Citamos também as técnicas de QuickTime VR, uma tecnologia

desenvolvida pela Apple, e que tem criado um mercado próprio e incentivado o

desenvolvimento de novos equipamentos, e isto colabora para que a fotografia 360º se

torne mais banal: a recepção das imagens VR exigem equipamento especial para a

visualização; e a fotografia, sendo impressa em papel, e não precisa destes equipamentos

especiais.

A terceira parte, apresenta as opções de classificação de imagens. A classificação foi a

forma encontrada para me localizar com relação à esta linguagem, e tentar um

entendimento das imagens da exposição.

Na conclusão discutimos a idéia do fotógrafo, como a idéia de que o formato panorâmico

de 360º precisar estar mais presentes no dia a dia, mais banalizado, para poder se tornar

uma linguagem e permitir uma comunicação efetiva, superando a fascinação da técnica,

e o resultado “mágico” produzido, que impede que tenhamos uma visão clara do que é

produzido, diminuindo a possibilidade de crítica sobre a imagem. Nesta trajetória,

concluímos que, a cada escolha, o fotógrafo deixa de lado os recursos de sedução ao

(20)

Fotografia Panorâmica 21

Introdução

Ao longo do texto, além das notas de rodapé, usamos caixas (“box multimídia”) para

discorrer sobre assuntos correlatos que não pertencem ao eixo principal, e não podem

ser desenvolvidos adequadamente neste momento: são ganchos para estudos futuros,

(21)

22 Fotografia Panorâmica

(22)

Fotografia Panorâmica 23

Conversas com o fotógrafo

Conversas com o fotógrafo

1

No seu trabalho pessoal, o fotógrafo usa técnicas que produzem resultados lentamente.

Usa preferencialmente imagem em branco e preto, e segue postulados do manifesto

ƒ/642 (que busca o máximo em profundidade de campo, foco e equilíbrio de

iluminação). A grande admiração pelo trabalho de Ansel Adams é um norteador do seu

trabalho, e ele adere às idéias deste grupo:

O grupo f/64 começa a pensar a fotografia de uma forma

estruturada, e dura pouco enquanto grupo. Mas acho que se

mantém enquanto conceito até hoje, esta necessidade de criar

a própria linguagem. Isto pode ser estranho, mas para mim

isto é muito normal. Eu acho que a gente ainda precisa pensar

e amadurecer esta linguagem, a fotografia ainda precisa se

definir. A iniciativa deste grupo é muito importante.

1. A integra destas conversas está no apêndice.

(23)

24 Fotografia Panorâmica

Conversas com o fotógrafo

Nesta busca da linguagem própria da fotografia, evita alterações na imagens e limita os

efeitos criados por equipamento ou processamentos posteriores, estas fotografias

também não tem deformação de imagens por movimento da câmera ou do objeto, e

procura-se o máximo de foco e o máximo de profundidade de campo. A imagem

resultante é uma fotografia sem movimento, sugestiva de natureza morta, de paisagens.

Nesta fotografia, a máxima definição é muito valorizada.

Esta postura é usada para seu trabalho trabalho pessoal, e não existem tais limitações de

aplicação de recursos técnicos, quando se trata de trabalho comercial. Considera o

trabalho comercial como o resultado de uma cadeia de eventos e necessidades, que

produz a “encomenda” de um produto, que já vem definido, não requer a participação

do fotógrafo como criador, mas como técnico, o fotógrafo tem menos liberdade de

decisões, e produz imagens que são resultantes do desejo de um cliente:

Na fotografia comercial você não decide nada, quem decide é

o mercado, e segue-se a estética universal sem muito direito a

variações pessoais. Isto é o que mais incomoda na

propaganda. A fotografia tem que ser adequada, a

individualidade tem que ser deixada de lado, o objetivo é

apenas agradar o maior público, jogar para a torcida. ...Você

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Fotografia Panorâmica 25

Conversas com o fotógrafo

Dimitri começou na fotografia aos 15 anos, estagiando na revista Veja e, na época, foi

atraído pela idéia de usar a fotografia como instrumento de denúncia. Neste momento,

pela sua idade, ficou no laboratório. A convivência com o material fotográfico mudou as

suas prioridades, levando-o a desejar trabalhar com a linguagem intrínseca da fotografia.

E deixou de lado a idéia de usar a fotografia como instrumento político ou como uma

ferramenta a serviço de outras linguagens.

Comecei a fotografar por volta dos 15 anos, e me

profissionalizei rapidamente. ... não havia uma formação

adequada para fotógrafos3, nem em curso livre, e a única

maneira de adquirir conhecimento sobre fotografia era o

mercado de trabalho. Eu queria fazer fotojornalismo porque

achava, naquele momento do Brasil da década de 70, que a

fotografia era um veículo a mais para se denunciar as coisas;

e fui para o estúdio, porque eu era menor....E lá mudou tudo.

Comecei a me envolver com a técnica, com a linguagem

intrínseca da fotografia, não me interessava mais falar da

política, não interessava mais usar a fotografia para falar de

outra coisa que não fosse ela mesma.

3. Na realidade, já existiam algumas escolas livres, como a escola “Enfoco” (68 a

76) e a escola “ImagemAção” que teve início em 1972; a escola “Focus Escola

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26 Fotografia Panorâmica

Conversas com o fotógrafo

Desenvolveu durante muitos anos o trabalho em publicidade, e considera a publicidade

um local onde a técnica é muito exigida. Este trabalho possibilita a exploração e

desenvolvimento técnico a partir dos resultados observados em fotografias recebidas de

todos os lugares do mundo, o que exigia a interpretação da técnica a partir de resultados,

e a recriação de técnicas visando produzir resultados semelhantes:

Naquele momento da fotografia de publicidade, e ainda hoje,

você era obrigado a copiar tendências que vêm de fora. Você

é bom quando consegue reproduzir. E copiar é uma

engenharia reversa, muito divertida para quem quer aprender.

Você parte do produto pronto e você tem que, de alguma

forma, decompor. E esta decomposição, para o aprendizado, é

muito enriquecedora: você tem que entender como aquela luz

foi feita para ter aquele efeito, este tipo de coisa. Valeu muito

para mim naquele momento.

O trabalho com publicidade é sentido pelo Dimitri como a uma atividade sem vínculo

com a linguagem, sem objetivo pessoal comunicativo, mas útil como um incentivo ao

desenvolvimento da técnica:

A publicidade é como uma academia de ginástica, como fazer

(26)

Fotografia Panorâmica 27

Conversas com o fotógrafo no esporte, mas a sua forma física fica adequada, se um dia

você quiser fazer esporte.

Em sua interpretação, a publicidade busca um resultado imediato, a sedução instantânea,

a reação de quem recebe a imagem sem a participação da razão:

...(Na publicidade) a imagem dura a passagem a 120Km/hora

pelo outdoor.

Ao fazer fotografias pessoais, busca o oposto do que propõe a publicidade, e se percebe

na suas escolhas o abandono da sedução pela imagem:

eu queria uma vida mais longa (para a imagem), que é mais

difícil, mais complicada. Eu não estou fazendo um juizo de

valor, estou falando de uma preferência.

As condições de trabalho fotográfico, na sua produção pessoal, são escolhas auto

impostas, um contraponto com o que é usual (e mais sedutor como resultado) na

técnica fotográfica. No trabalho pessoal, não usa atalhos para reduzir o trabalho

necessário para a obtenção da imagem, não faz concessões para a obtenção do

resultado, seguindo critérios éticos.

Eu evito fazer isto [o tratamento digital da imagem]. Pode

(27)

28 Fotografia Panorâmica

Conversas com o fotógrafo

ter a fotografia correta. ... Eu não gosto de criar

digitalmente...

Sua análise da facilidade da fotografia digital, manipulação digital, e as conseqüências

desta facilidade está alterando a postura dos fotógrafos, concluindo que se está tirando o

tempo da reflexão, e que a limitação no número de chapas em cada saída para fotografar

que obrigava a esta reflexão é desejável:

...eu não gosto da possibilidade de ter um número

indeterminado de chapas para fazer. ... Eu gosto de ter custo.

... coisas que eu julgava que me incomodavam antes da

fotografia eletrônica, descobri que não posso viver sem elas.

Eu gosto que a fotografia tenha um custo. O custo do clique.

... se a fotografia não tem um custo direto... tem o risco da

fotografia não valer nada. Quando eu pude fazer quantas

fotografias quisesse, perdi a reflexão de quando não

fotografar. A possibilidade de escolher quando não fazer uma

fotografia. Na minha forma de trabalhar, eu gosto de ter a

responsabilidade com o clique. Responsabilidade concreta,

seja em dinheiro, seja em saídas. Eu saio e tenho 10 chapas.

Eu tenho que escolher, em função do que eu estou fazendo,

quais são as melhores 10 chapas. Eu já deixei de fazer

fotografia por não ter mais chapas, e deixei de fazer

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Fotografia Panorâmica 29

Conversas com o fotógrafo perdi boas fotografias. Mas a longo prazo, isto gera uma

reflexão que eu perco se não uso este roteiro. Eu gostava, até

na publicidade, de fazer uma produção cara e não saber se o

resultado era bom antes da revelação. Se tinha dado certo. Eu

achava que isto era terrível, e agora eu gosto disso.

A fotografia panorâmica da exposição “Templos Politeístas” aparece como um desafio de

linguagem, como um exercício mental que surge a partir da distorção que é produzida

com esta técnica e como esta distorção pode levar a resultados inversos do que são

normalmente produzidos: Normalmente, ao fotografar retas em panoramas estas se

transformam em curvas. O que foi procurado foi uma curva, que fotografada a partir do

centro, produza retas:

...eu não gostava das panorâmicas de arquitetura. Elas tem

um abaulamento típico. ...se faz um giro em uma coisa reta. Se

eu fizesse o giro em uma coisa circular, eu poderia ter uma

reta. ...eu percebi que o estádio é curvo, e que eu posso ficar

no centro. E consegui as minhas retas. Foi um caminho

inverso, foi conceitual.

As fotografias panorâmicas são também um desafio para o desenvolvimento da

imaginação do fotografo, para a construção de uma imagem mental que precisa ser

(29)

30 Fotografia Panorâmica

Conversas com o fotógrafo

ser fotografado, mas do ambiente como um todo, seus traços e a decisão de qual vai ser

o centro da imagem para o ambiente fotografado.

A visão do panorama... ...é sempre uma visão mental, nunca

física. Você escolhe a imagem de forma diferente. ...É uma

imagem que você precisa montar na cabeça, nunca no olho. É

preciso usar a memória.

O fotógrafo fez uso de um ambiente conhecido do público, e imagina que o público de

futebol pode usar suas fotografias como “mapas” durante a descrição de eventos e

histórias pessoais. A fotografia dos estádios de futebol aproveita a ligação do público de

futebol, esperando que este público queira ver estas imagens:

O torcedor tem muitas memórias do campo... ...imaginava o

torcedor dizendo: -Eu ví o Pelé entrar por aqui... ....a briga foi

ali…

Existe sempre a intenção de usar a fotografia como linguagem de leitura lenta, que exige

dedicação de quem quer ver, que procura algo novo, a fotografia não deve ser usada

como uma janela para mostrar algo conhecido, deve ser algo diferente, ao mesmo tempo

(30)

Fotografia Panorâmica 31

Conversas com o fotógrafo Eu queria que você parasse e ficasse procurando detalhes. [A

fotografia] não tem intenção de ser prática. Tem a intenção de

ser lenta. ... Eu queria que você não visse através da

fotografia, o que se quer vender, ver através do vidro, mas

visse o vidro, o discurso da fotografia.

A busca da leitura lenta destas imagens, em contraponto à leitura imediata da

publicidade, e sua relação com as imagens, com o que poderia ser usado para cobrir a

parede de sua caverna, é comentado:

Eu sempre tive dificuldade de conviver com imagens. Eu gosto

de uma fotografia e ponho na parede do quarto. Eu acordo

todo dia e vejo a mesma fotografia. Depois eu fico cego, deixo

de ver a imagem. ... ela começa a me irritar muito, e eu tiro a

fotografia da parede, e gosto da parede branca.

A sua busca é de uma imagem sobre coisas conhecidas, mas que possam ser vistas de

uma outra forma que se tornou novidade pela linguagem da fotografia.

Eu queria fazer uma coisa que levasse a uma digestão mais

longa... ...Isto vem da minha convivência pessoal com a

imagem. ...Procurar uma imagem para a qual não se fique

cego tão rápido. ...as fotografias panorâmicas se prestam a

(31)

32 Fotografia Panorâmica

Conversas com o fotógrafo

complexidade, não fica cego tão rápido. Você tem a demora

da reconstrução do espaço.

Esta postura, é análoga à idéia da escola estruturalistas na literatura russa, como

podemos encontrar descrito em ‘Theory Of Prose’ de Viktor Shklovsky que nos fala sobre

o “estranhamento,” a idéia de mostrar o que já é conhecido de uma forma simples e

nova ao mesmo tempo, de uma perspectiva nunca antes experimentada. Dimitri faz a

comparação das imagens que quer produzir com as músicas que valem a pena ouvir

muitas vezes.

...músicas que me dizem coisas novas a cada vez que escuto,

eu posso escutar a música a vida inteira ... .... músicas com

muitos planos e não um plano só. Um plano só é o gingle.

Músicas de convivência tem outro propósito, não são

didáticas, tem a melodia, a harmonia, várias camadas, coisas

para serem descobertas, outras interpretações, outras

referências. Música assim tem uma vida longa, e do ponto de

vista de quem faz, é gratificante; o trabalho sobrevive por

mais tempo.

As fotografias, de grande formato,4 e sem as proporções de uma fotografia comum, não

se prestam facilmente à exposições ou à publicação, nem podem ser transportadas

(32)

Conversas com o fotógrafo

uma vantagem. As fotografias não são os objetos descartáveis que estamos acostumados,

são painéis que permanecem por muito tempo onde estiverem colocados, como um

convite à convivência. Eu, que já ví estas fotos reproduzidas em diversos tamanhos, sinto

cada tamanho como uma imagem diferente, exigindo uma forma de ver diferente. Na

idéia do autor, a maior impressão é a mais desejável.

Norval Baitello (BAITELLO 2005: 46) nos fala da progressão da exteriorização da

imagem, desde o sonho, devaneios, pinturas em cavernas até a imagem móvel que vai

para a luz. A fotografia panorâmica plana, é uma forma não móvel, que deve ser

permanecer na caverna onde fica fixa e ser objeto de convivência. Dimitri comenta sobre

a portabilidade destas imagens:

4. O conceito de fotografia de grande formato implica em muito mais que apenas o

tamanho da fotografia. O grande formato se refere a máquinas que usam grandes

negativos montados em chassis, e esta é uma forma de trabalho diferente em

relação ao uso de filme em rolo. A forma de trabalho de quem usa o grande

for-mato reduz o número de fotografias possíveis em um dia, e a apresentação da

fotografia adequadamente solicita um suporte maior. O grande formato então se

destaca pela forma de trabalho e pelo produto resultante, pela maior quantidade

de informação disponível. Nas fotos dos estádios, o negativo é equivalente a 6 x

(33)

Conversas com o fotógrafo

Se eu estivesse preocupado com a documentação do meu

tempo, documentar a política, eu tinha que pensar na

praticidade. ... Eu gosto de pensar na fotografia como um

objeto. Que você prega na parede .... para convivência. Até em

uma exposição, você não tem tempo hábil para degustar uma

fotografia destas. Você tem que levar a imagem para casa...

Eu queria fazer uma fotografia que não fosse suporte. Eu

queria a exploração de um discurso fotográfico. (o) público

precisa parar, ter tempo. Não 20 segundos, 2 segundos, tempo

de outdoor que você passa em alta velocidade. Eu queria

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As fotografias da exposição “Templos Politeístas”

As fotografias da exposição “Templos Politeístas”

A exposição consistiu de cinco fotografias, cinco estádios paulistas, mais uma fotografia

maior, do Maracanã colocada sobre os painéis das fotografias destes cinco estádios,

ocupando o teto da cinemateca.

Morumbi

Juventus

Parque Antártica

Parque São Jorge

(35)

A exposição

A exposição

A exposição “Templos Politeístas” do fotógrafo Dimitri E. Lee é o resultado de estudo e

reflexão sobre a fotografia panorâmica de 360º. Para fugir das curvas geradas em

fotografias panorâmicas, ele imaginou fotografar um local circular, que pudesse resultar

em retas. Este trabalho foi desenvolvido nos anos de 2004, 2005 e 2006, e participou da

exposição do Coletivo Fotográfico no MIS, uma exposição que congregou diversos

fotógrafos e suas pesquisas com imagens panorâmicas, foi publicado na revista Trip, em

uma matéria em que foi solicitado a diversos escritores um texto para acompanhar as

fotografias.5 Esta exposição do MIS depois foi levada para diversas capitais pelo Banco

do Brasil. Depois, durante a copa do mundo de 2006, foi feita a exposição na Cinemateca

com fotografias dos estádios do São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Santos e Juventus, e

painéis traziam o texto das crônicas que foram publicadas com as fotografias na revista

Trip. Acima da exposição das 5 fotografias, uma fotografia enorme do estádio Maracanã.

Junto com a exposição das fotografias, houve a exposição de pinturas, esculturas e filmes

em que o futebol era o assunto, em outras salas da Cinemateca.

(36)

A exposição

O nome “Templos Politeístas” foi usado para indicar estes estádios pela pluralidade de

heróis (Deuses), neste palco de 22 jogadores e local de devoção dos torcedores:

jogadores e técnicos mudam, mas o templo permanece. A abertura foi em 28 de Julho a

de 2006. As fotografias foram impressas e montadas no tamanho correspondente à

distância entre as colunas da cinemateca. A cinemateca tem 10 colunas, cinco de cada

lado. Nestes espaços foram colocados as imagens dos 5 estádios. Sobre estas montagens,

uma fotografia ainda maior do Maracanã. Toda a iluminação foi de responsabilidade de

(37)

A exposição

Lúcio Kodato, o que contribuiu muito para a boa visualização das fotografias. No ano

2007 as fotografias foram novamente publicadas na revista Podium.

Informações técnicas: Equipamento, processamento e impressão das Fotografias

Todas as fotografias foram feitas a partir de um modelo desenvolvido no início da série. Foi usada uma máquina Noblex com filme Plus X

125 asa. Revelador D76. Foram 5 fotografias para cada montagem. As fotografias de cada estádio foram escaneadas scanner Icon 8000 e

montadas com o programa Sticher, em um computador Macintosh G4.

O negativo de cada fotografia tem 6x 15 cm, e na montagem, isto significa aproximadamente 6 x 60 cm. A qualidade foi prejudicada por

limitações dos softwares utilizados

Sticher e Photoshop, que não

trabalham com imagens de 2 G, que seriam produzidas. Por isso, cada imagem tem aproximadamente 500

megabites, o que foi considerado suficiente pelo autor.

A fotografia do Maracanã foi impressa com 25 x3 metros, em lona, sem emendas, impressora de jato de tinta. As fotografias dos clubes paulistas

(38)

A exposição

Nos textos apresentados na exposição, se destaca a mudança da forma de fotografar,

escolhendo um centro em vez de escolher o objeto a ser fotografado, aqui é tomado uma

oposição à postura de “caça” da fotografia tradicional, como mostra a terminologia de

“mirar” e “disparar.” Os textos sugerem também que, por serem politeístas, a diluição de

valores religiosos diminui a propensão para a guerra...

As imagens de formato alongado, sem cor, sem pessoas, sem movimento. Não seria

interessante se esta fotografia tivesse cor? Não seria interessante um estádio lotado? A

intenção não é, como na publicidade, contentar os anseios, nem mesmo agradar à

primeira vista, mas poder mostrar coisas que vemos todos os dia como algo novo.

Fugindo de qualquer forma de sedução.

Depois dos estádios, o fotógrafo vem produzindo novas série: uma delas tem como tema

o registro da passagem do tempo.

Dimitri na exposição “Templos Politeístas.” Atrás,

(39)

A exposição

Outra com imagens do deserto de sal, e uma série que deverá se chamar “2ª Lei da termo

dinâmica” em que aparece a decadência das construções humanas, com a passagem do

tempo.

Depois de 360º o encontro com o tempo

Depois dos estádios, o fotógrafo faz

um estudo do tempo em fotos que ultrapassam 360º. Uma fotografia panorâmica com mais de uma volta contém o tempo, sem o quadro a

quadro do cinema, com a captação de momentos consecutivos. Não é cinema, não tem movimento, exige uma leitura, como se fosse uma

história em quadrinhos. Deste caminho de continuidade, várias fotografias contam histórias. A

primeira, uma corrida do Jokey Club,

em que os cavalos aparecem na largada, na passagem e na chegada. Mostrar começo, meio e fim em uma única imagem sugeriu criar fotografias

de eventos irreversíveis. Nascimento e

morte por exemplo.

Neste trabalho o fotógrafo se

aproxima do que é feito para o cinema, e começa a conviver com novas situações, onde é necessário direção de ator, ajuste de sincronismo

entre os acontecimentos e o

movimento da camera, uma produção de cinema, diferente do trabalho de fotógrafo, que é mais solitário:

O trabalho em equipe de cinema exige outras competências, e a

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Estádio do Corinthians Paulista

Estádio do Corinthians Paulista

O Parque São Jorge, tem nome oficial de Alfredo Schurig, também chamado de Fazendinha. Com

capacidade para 15.000 torcedores, endereço na Rua São Jorge, 777 - Pq. São Jorge - São Paulo

(SP), foi inaugurado em 22/07/1928, tem como área de gramado 105m x 75m e pertence ao

Sport Club Corinthians Paulista.

As imagens deste capítulo poderiam ser o resultado de uma visita fotográfica a este estádio. Não

são. Estas imagens são todas retiradas de uma única fotografia panorâmica, e mostram detalhes,

a minha visão pessoal com exemplos do que pode ser encontrado nesta panorâmica. Como um

jogo: “escolha suas fotografias dentro da panorâmica.” As imagens estão todas lá, e podem ser

destacadas, criar significados, neste caminho curioso, em que a fotografia mostra o todo, e os

detalhes ficam por conta do receptor, que faz seus próprios recortes.

A escolha pelo estádio do Corinthians foi aleatória. Qualquer uma das cinco imagens da

exposição “Templos Politeístas” pode receber a mesma atenção, tendo a mesma riqueza de

detalhes, situações resultante de acasos, possibilidades de enquadramento. Em todas as imagens,

as laterais são repetidas: na esquerda e na direita, a imagem termina um pouco depois da linha

do meio de campo, que aparece também no centro da imagem, onde está a tribuna de honra.

Nos meus recortes, mostro também imagem de fora do estádio. O que se vê por trás das

arquibancadas aparece em detalhes. E os detalhes que fazem a diferença entre as imagem dos

estádios. Existem elementos definitivos de estádio, gols, linhas do campo, arquibancadas e

tribuna de honra, e existem as particularidades de cada estádio.

Nos primeiros recortes mostrados, uma linha liga a posição da imagem destacada na fotografia

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Estádio do Corinthians Paulista

Esta cadeira isolada pode ser a cadeira do César, que ao final decide o destino dos gladiadores,

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Estádio do Corinthians Paulista

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A panorâmica apresentada como imagem plana

A panorâmica apresentada como

imagem plana

Este capítulo apresenta as técnicas usadas para produção de imagens panorâmicas,

discutindo as diferenças entre as técnicas.

Nosso campo visual é a sobreposição incompleta da visão de cada um dos nossos olhos.

Na área central da nossa visão, podemos avaliar distâncias. A paralaxe, o deslocamento

da imagem dos objetos entre um e outro olho, permite avaliação de distância. Na visão

periférica, apenas um olho forma a imagem, e a avaliação de distância apenas é possível

em movimento, com a mudança da posição relativa entre os objetos. Nossa visão tem um

campo visual restrito, que não alcança 180º. Imagens com 360º, produzida

artificialmente, criam um campo visual artificial. Com a fotografia panorâmica são

produzidas imagens que não são possíveis à nossa visão desarmada. Diversas técnicas

são usadas para a construção de imagens panorâmicas, e criam diferentes tipos de

imagens, mostrando o mundo tridimensional na representação bidimensional tradicional

da fotografia, mas agora com um espaço que inclui uma amplitude a que não estamos

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A panorâmica apresentada como imagem plana

Philippe Dubois, em seu texto “A fotografia panorâmica ou quando a imagem fixa faz sua

encenação” (DUBOIS 2005) faz uma classificação técnica das formas de produção da

imagem panorâmica por tipos:

...os panoramas no sentido estrito (tipo I), isto é, oferecendo

uma vista panorâmica numa única imagem (realizado numa

só tomada); de um lado, e os panoramas no sentido amplo -se

assim se pode falar - (tipo II), isto é, obtidos pelo meio de

montagem de várias vistas...

...O “verdadeiro” panorama (tipo I) seria para a fotografia o

que é o plano seqüência no cinema.

Este tipo I, produzido em uma única tomada, ele vai dividir em três subgrupos. Eu incluo

outras possibilidades, a quarta possibilidade, a da imagem de “calota” e a quinta

possibilidade, a imagem da câmera “omniscópica.”

...tipo (IA), onde nada se mexe (nem a objetiva, nem o

aparelho, nem o suporte sensível...

...tipo (IB) - ...- é a objetiva que, à frente da caixa, opera um

movimento giratório de rastreamento... ...inscrevendo a

imagem sobre um suporte fixo (geralmente curvado

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A panorâmica apresentada como imagem plana ...tipo (IC) - desta vez o panorama “total” - a objetiva

permanece fixa, mas é o aparelho inteiro que gira sobre ele

mesmo.

A quarta possibilidade, fora da lista de Dubois, é a imagem formada em uma calota que é

colocada no centro do panorama que se desejar, e esta calota é fotografada a partir de

seu eixo com a máquina montada em uma distância fixa (ver figura), depois a imagem é

reconstruida digitalmente. Na imagem abaixo, a câmera é fixada junto com a calota e

elementos ópticos, dirigida para cima, apontando para a calota.1

A quinta possibilidade é a “pinhole” 360º, chamada de “Omniscope” em que se despreza

a imagem direta produzida pelo que está à frente, e capta-se apenas a imagem periférica.

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A panorâmica apresentada como imagem plana

É a forma de panorâmica que produz as distorções radicais.2 Esta máquina, é uma

“pinhole,” em que o filme, em vez de ficar na face oposta da abertura, fica na parede

circular, registrando não o raio direto mas apenas os periféricos, tangentes à abertura.

Imagens bastante distorcidas são produzidas, e a visualização da imagem a ser produzida

(tarefa do fotógrafo) e a interpretação da imagem (tarefa de quem vê a fotografia) é

especialmente trabalhosa.

2. http://www.abelsonscopeworks.com/ (acesso em 18 de fevereiro de 2008)

Uma abertura (pin hole) sob a tampa permite expor o filme, que fica ao longo da parede cilíndrica. Um lado tem o rolo do filme, que pode ser avançado a cada exposição, permitindo fazer diversas tomadas. (http:// www.abelsonscopeworks.com/)

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A panorâmica apresentada como imagem plana

As fotografias panorâmicas, quando usadas para reconstrução virtual do espaço,

colocam o observador inserido em um círculo: A imagem fica em torno de um centro, e

o observador fica neste centro, em uma situação em que o espaço fotografado é

reconstruido virtualmente.

Quando a imagem panorâmica é colocada no plano, não acontece este reconhecimento

imediato ou a reconstrução do ambiente fotografado. O espaço aparece distorcido na

imagem, os círculos se tornam retas, e as retas se tornam círculos; e lado a lado, na

mesma imagem ficam posições do espaço que normalmente se opõe: as oposições

deixam de existir e coisas que no ambiente ficam frente a frente aparecem na imagem

lado a lado. Vemos, por exemplo, lado a lado a sombra e a luz que produz a sombra.

É nesta apresentação plana que a imagem 360º mostra novas perspectivas, produz

imagens que exigem tempo para serem compreendida, e em que a leitura das imagens

não pode ser feita da forma que estamos acostumados. Philippe Dubois destaca quatro

pontos para caracterizar esteticamente esta forma de representação, chamando-os de

quatro paradoxos: (1) a ausência de extra-campo, na presença de um quadro, (2) a

imagem achatada com um dado de profundidade, (3) a tomada única, mas com uma

multiplicação de perspectivas, e (4) a tomada única com inscrição no tempo (DUBOIS,

2005:216). Além destes paradoxos, acrescento o (5) paradoxo da luz, que, a cada ponto,

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A panorâmica apresentada como imagem plana

Revendo os paradoxos:

(1) Na imagem 360º você tem a fotografia dentro de um quadro, mas não há recorte,

tudo é mostrado. O quadro permite a montagem mental, unindo as pontas, a leitura da

imagem permite refazer a continuidade espacial.

(2) A tomada achatada com dado de profundidade é um paradoxo tradicional da

fotografia, que a panorâmica radicaliza. Esta perda de dimensão na imagem plana está

descrito nas idéias de Flusser, como escalada da abstração. Três planos (ou quatro, ao

incluir o tempo) estão representados em uma superfície, com apenas 2 planos.

(3) A multiplicação de perspectivas. O ponto de fuga descrito a partir do renascimento, é

infinitamente modificado, e é imaginado por Dubois em pelo menos três posições, uma

para o centro, uma na esquerda e outra na direita. Em vez de pensar em ponto de fuga,

imagino um ponto de convergência, um ponto que está sempre sobre o observador. Ao

me mover olhando para a fotografia, eu percebo esta convergência, uma ilusão de ótica,

as linhas do campo acompanham o movimento que realizo na frente da imagem.

(4) A tomada única com inserção no tempo, (que pode até mostrar o mesmo lugar

várias vezes), uma fatia maior de tempo que a fatia que normalmente está presente na

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A panorâmica apresentada como imagem plana

entre o lado esquerdo e direito da tomada, quando a imagem de um determinado ponto

fica registrado duas vezes.

(5) O paradoxo da luz pode ser ao mesmo tempo sutil e grosseiro. As sombras, os locais

onde a iluminação não chega por inteiro, trazem a informação sobre onde está a luz.

Nestas imagens, a sombra e luz fazem uma dança de roda. Em um lado está a luz, do

outro está a sombra. Ao longo da imagem, sombra e luz rodam, uma em torno a outra,

até voltar a estar onde estavam originalmente, 360º adiante de onde começaram.

A realidade virtual em computadores, um sistema de montagem de fotografias para

simulação 3D em computadores, de espaços ou objetos, tem sido desenvolvida pela

Apple, com equipamentos, softwares e seminários entre os usuários de computadores

Macintosh. Isto tem facilitado o conhecimento e acesso a equipamentos e tecnologias

que permitem também a produção de imagens panorâmicas. A imagem de panoramas

também pode ser produzida com desenhos ou pinturas. É o que comentamos no último

quadro, sobre uma presença de panoramas que pode ser observada desde o século XI na

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A panorâmica apresentada como imagem plana

Realidade Virtual: Novas técnicas na produção da panorâmica

Em 1995, com o programa Quick Time VR, a Apple apresenta uma nova forma de uso das imagens panorâmicas. Em vez da impressão, a imagem, montada em um cilindro, servia de base para a navegação deste espaço na tela de um computador. Eventualmente estas imagens evoluíram para construções cúbicas, em que, a partir de um ponto fixo, se pode olhar para qualquer lugar de um ambiente, 360º em volta, assim como para baixo e para cima

permitindo também aproximar ou afastar a imagem.

Em seguida foi criada a navegação por nós: pontos da imagem espacial podem ser clicados e passa-se a navegar a partir de um novo centro. Isto permite mudar posição dentro de um ambiente ou passar de um ambiente para outro.

Ao lado dos espaços virtuais, foram criados os objetos virtuais. Neste caso, um objeto é fotografado em toda a volta (e eventualmente em cima e em baixo) e com uma forma de navegação semelhante ao ambiente, o objeto pode ser visto de qualquer ângulo, com a aproximação ou afastamento que o programa permitir.

No passo seguinte a tecnologia produziu filmes em que se podia navegar e mudar o ponto de vista. A técnica para se produzir a imagem 360º a partir de várias tomadas usa

programas de computador, e exige que a captura de imagens seja feita com auxílio de tripés com bases especiais, que permitem o ajuste do ponto nodal da lente sobre o eixo do giro, evitando a ocorrência de deslocamento da paralaxe, e sobreposição da imagem entre as fotografias de 30 a 50% da área entre duas fotografias

consecutivas.

Podem ser feitas várias camadas para a produção de uma imagem de maior qualidade na navegação vertical. Quatro técnicas principais são usadas: Sticher (agrupar fotografias tiradas em seqüência com sobreposição de área), máquina com rotação sobre um eixo, rotação da lente, ou fotografia gerada a partir de imagem em calota espelhada. A fotografia pode ser analógica ou digital. Quando produzida em arquivo VR, a imagem é representada como um cubo. A técnica também de construção de objetos VR, e vídeos VR é semelhante.

Assim como o slide, o filme e outras formas visuais que exigem um equipamento para a visualização, o acesso da imagem VR é limitado a quem está em frente ao computador. A fotografia impressa ainda é mais eficiente, por não ter a necessidade de equipamentos especiais para a

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A panorâmica apresentada como imagem plana

Panoramas: um formato presente através da história

O formato de paisagem com tamanho desproporcional, que se estende além da visão normal, com amplitude horizontal que chega a ultrapassar dez vezes a altura da imagem está presente desde o século XI na China1. Existe a possibilidade que esta forma de apresentação de imagens tenha sido levada para o Japão, e depois tenha chegado à Portugal por volta do século XV. O que sugere isto são as imagens do Brasil colonial que podem ser vistas no livro Vilas e Cidades do Brasil Colonial, (Nestor Goulart Reis et al. EDUSP, 2000). Estas imagens

portuguesas são sugestivas de imagem de inteligência militar, uma alternativa para mapas, descrevendo ambientes como portos e cidades a partir de uma perspectiva ampla, imagens que estão no museu da marinha portuguesa. Estas imagens são chamadas de prospecto pelos portugueses. Permite conhecer um local em detalhes, com todas as construções à volta de um ponto. Estas imagens podem ser enroladas, podem ser colocadas ao longo das paredes, reconstruindo locais. É o que acontece na torre da Basílica de Nossa Senhora Aparecida,

em Aparecida , SP. Nesta torre, as paredes estão cobertas por fotografias com a vista das janelas que ficam abaixo das fotografias. Você pode ver na fotografia o que vai confirmar pela janela. A imagem panorâmica

continuou a ser produzida quando surgiu a fotografia. A história registra o uso desta forma de apresentação, e opções misturando desenho e fotografia, na propaganda para a conquista do oeste americano, em que fotografias e pinturas tentavam criar um ambiente de imersão para mostrar como eram as terras a serem

colonizadas, ou dos Diadoramas das feiras universais do fim do século XIX em Paris. No registro de panorâmicas em fotografia existe, por exemplo, partes de uma imagem da cidade de São Francisco, de 1851. Esta imagem foi construida a partir com 11

dagerreótipos, dos quais restam apenas 5. Estas fotografias estão na Biblioteca do Congresso Americano, e podem ser vistas na internet2.

1. http://en.wikipedia.org/wiki/ Zhang_Zeduan (acesso em 24 de março de 2008)

(61)

A panorâmica apresentada como imagem plana

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Classificação de imagens

Classificação de imagens

Este capítulo discute a dificuldade de organizar as imagens. As imagens panorâmicas do

fotógrafo Dimitri Lee não se encaixam nos grupos mais comuns de organização de

imagem, como seriam por exemplo: o retrato, a flora, a fauna, o momento decisivo... A

reflexão abaixo, com possibilidades de classificação foi o caminho para perceber esta

situação especial. Foi preciso colocar as fotografias panorâmicas de lado, e pensar como

enfrentar pela primeira vez uma imagem qualquer que não conhecemos.

A discussão sobre classificação tem o significado de permitir a localização da fotografia

panorâmica dentro no universo de imagens fotográficas.

Porque classificar? O esforço de classificação é uma arbitrariedade, como diz Olga

Pombo (POMBO, 1998); mesmo assim, ela afirma a necessidade da classificação, apesar

dos problemas que encontraremos: “[sobre a classificação:] Do seu inacabamento é

certo. Mas também da sua inexorável abertura à promessa de um saber em

(63)

Classificação de imagens

Olga Pombo comenta sobre as novas possibilidades tecnológicas a serviço da

organização dos materiais culturais, e a necessidade de tempo para seus resultados:

Ora, esta mutação, resultante da introdução das novas

tecnologias no campo de trabalho da documentação, vem

como que sublinhar ainda mais o caráter pragmático da

classificação documental: a transferência para o computador

das tarefas de conservação, inventariação e catalogação

(disco óptico, memória holográfica), gestão (base de dados),

recepção e emissão (edição eletrônica, fibra óptica, difusão

telemática) de documentos, vai exigir um reforço imenso das

capacidades pragmáticas da classificação, nomeadamente no

que diz respeito a uma determinação conceptual cada vez

mais rigorosa e à definição cada vez mais fina de uma

linguagem codificada universal.

A classificação de imagens pode ser comparada à classificação de animais imaginada de

uma forma delirante por Borges, e citada por Foucault (FOUCAULT, 1999:IX)

“taxonomia de animais em uma certa enciclopédia chinesa,”

que entre outras categorias apresenta, por exemplo: a)

pertencente ao imperador e m) que acabaram de quebrar a

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Classificação de imagens ...nos é indicado como o encanto exótico de um outro

pensamento, é o limite do nosso: a impossibilidade patente de

pensar isso.

Esta situação classificatória é comentada por Pombo (POMBO, 1998):

“Nós não discutimos as classificações a partir das quais o

nosso próprio discurso se constrói. "Anteriores às palavras,

às percepções e aos gestos" (Foucault), essas (nossas)

classificações primordiais aparecem-nos como óbvias e

inquestionáveis. Elas são, como diz Foucault, os "códigos

ordenadores" da nossa cultura.

Qualquer classificação tem aspectos pessoais e inconscientes. Independente de ter

consciência de que a classificação foi feita, não nos colocamos frente a uma imagem sem

automaticamente classificar.

Praticidade: uso da classificação alfabética

Classificações alfabéticas, como em um dicionário, são usadas comercialmente, para imagens de estoques de fotografias, são usadas em classificações para discussão

fotográfica, como no site “PhotoSIG.”1 e usado pela Biblioteca do Congresso Americano. A lista em ordem alfabética, em que cada item de texto pode corresponder a apenas uma fotografia está presente até nos arquivos Warburg, para referência das imagens existentes.

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Classificação de imagens

Classificação Photosig

O site PhotoSIG, um site de fotógrafos para fotógrafos, é um site em que os

participantes apresentam fotografias, e criticam fotografias dos outros fotógrafos. Ao apresentar uma fotografia, é solicitado

que a mesma seja classificada pelo fotógrafo, a partir de uma lista

classificatória. A classificação pode ser feita em até 3 itens da lista apresentada:

Esta lista parece ter sido feita para caber em uma única página. A partir destas possibilidades de classificação cheguei às perguntas (porque, como, para que, e o que) que me ajudaram na classificação. A fotografia começa a ser definida antes de ser feita: a motivação para a realização da fotografia ( o PhotoSIG tem as categorias Trips and meetups” ou “Class Assgnments” que estão aqui como motivos para

produção de uma fotografia), o porque; a fotografia também pode ser definida

durante a sua produção pelas técnicas utilizadas, o “como” da fotografia (como no grupo “Pinhole” do Photosig). E é claro, a fotografia pode ser definida pelo que está contido na imagem, “o que” (como por exemplo no caso de “Cityscape”). E, finalmente, a fotografia pode ser definida em relação à sua utilidade final, o “para que” (como nos grupos “Publicity” ou “Stock”).

A indicação da fotografia em 3 opções se justifica.

Abstract Humorous Rural

Aerial Industrial Sea and Sand

Animal Interior Sky

Architecture Journalism Snapshot

Astrophotography Landscape Sports

Black and White Lomo Still Life

Cityscape Macro Stock

Class Assignments Nature Street Photography

Decisive Moment Panoramas/Mosaics Suburban

Documentary Performance Swimsuit

Emotive PhotoSIG trips and meetups Tourist

Erotic Pinhole Travel

Expression Portrait Underwater

Family Product Urban

Fashion Publicity Vehicle

Fine Art Random Vintage

Food Recycled Art Weather

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Classificação de imagens

A opção de uma imagem sendo associada a outras imagens, como apresenta Antônio

Gerreiro, comentando o método Warburg, no texto “Aby Warburg e os Arquivos da

Memória” é uma opção que nos desafia, e exige uma outra forma de se colocar frente ao

universo de imagens.

Outro projeto para organizar e associar imagens, usa tecnologia digital. É o projeto Sea

Dragon, que permite associar imagens espacialmente, como em um plano infinito, com

grande versatilidade a partir análise eletrônica de informações semânticas.

O método Warburg e a classificação da imagem em sí mesma

Aby Warburg, nascido em Hamburgo em 1866 abriu mão da direção do banco da família para se dedicar aos estudos de imagens. A técnica de organização de Warburg é independente dos sistemas verbais, como ordem alfabética ou do texto da descrição da imagem. A classificação de imagens (e também de livros em sua biblioteca) exige que cada item seja colocado de acordo com a lei da “boa vizinhança.” Com isto “o material visual reunido deveria produzir um efeito de conhecimento visual, capaz de “mudar a nossa imagem do mundo numa medida ainda imprevisível”, dispensando o

recurso ao texto, às palavras.”1 Warburg nos mostra a função da imagem como expressão de necessidades e expectativas sociais, e meio de comunicação religiosa e política.

O método de organização de imagens de Warburg está sendo novamente estudado como possibilidade de organização de imagens.

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Classificação de imagens

O método Warburg e o programa Sea Dragon pretendem organizar imagens de uma

forma que não dependa do texto que as descreve. Nesta construção de conhecimentos, os

encadeamentos de imagens geram contextos e compreensão de significados.

Sea Dragon e o recurso da Informática na organização da imagem

O projeto Sea Dragon tem similaridades com o método Warburg. Imagens semelhantes são associadas

automaticamente em um computador. Este programa, que estava sendo desenvolvido de forma independente, foi adquirido pela Microsoft, e agora faz parte do “Microsoft Live Labs” e associado ao sistema

“Photosynth Technology Preview” em que imagens são analisadas pelo computador, que localiza similaridades, e apresenta-as permitindo a reconstrução de espaços virtuais simulando uma

tridimensionalidade, e mostrando relações entre as imagens fornecidas.1 É uma tentativa de criar arranjos espaciais da imagem baseados em informações semânticas.

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Classificação de imagens

Classificação quando à necessidade da imagem: A imagem (esta imagem) é necessária?

O excesso de fotografias que nos devora

O tempo gasto para se ver uma imagem talvez devesse ser proporcional ao tempo e trabalho necessário para a produção da imagem. A viagem de férias que produz 8000 fotografias, sugere que estas fotografias possam ser vistas em alguns minutos. Ficaremos com as imagens que nos marcam. No padrão atual da

tecnologia, que permite produção superior a 200 fotografias por dia, faz com que o trabalho de fazer uma boa fotografia seja trocado pelo trabalho da procura entre as fotografias prontas, entre milhares de fotografias que estão à disposição. Esta profusão de imagens é problemática. Cláudio de Moura Casto, no texto Sociedade Interativa (CASTRO, 2007), compara como era feita a fotografia por Marc Ferrez no fim do século XIX, sobre chapas de vidro, e a situação atual em que 200 fotografias/dia/fotógrafo é uma situação normal. Para Cláudio de Moura Castro, a vida toda não é mais reflexão e escolha, e passa a ser uma questão de tentativa e erro.

Substituímos pela iteração (ou seja, pela ação reiterada de tentativa e erro) uma busca rigorosa e reflexiva da solução técnica ou estética. Tentamos até acertar. Não pensamos muito, vamos fazendo profusamente, na esperança de topar com alguma coisa boa. É a "arte lotérica".Se não der certo, tenta-se novamente. Sempre houve busca iterativa e nem tudo hoje em nossa sociedade é feito por esse método (e bendito seja o computador em que

escrevo!). Mas os avanços tecnológicos e o

espírito dos tempos tiveram como efeito aumentar a busca de soluções por esse caminho, substituindo-se o foco, o raciocínio, a concentração e a elaboração intelectual.

Ao lado disso, o excesso de imagens a que nos associamos, leva à iconofagia impura que nos fala o Professor Norval Baitello. Segundo Baitello, na iconofagia, devoramos as imagens. Na iconofagia impura, são as imagens que nos devoram. Ao devorar as imagens, se não somos capazes de digestão, de incorporar a imagem, nós e que nos transformamos na imagem. (BAITELLO, 2005:97).

Esta “Iconofagia” leva à perda de nós mesmos junto com a perda de significado das imagens, que se esgotam e nos esgotam. Esta situação exige, e ao mesmo tempo impede, uma organização. E a organização poderia servir até para esconder a imagem, dentro de um arquivo organizado, para que ela não esteja sempre presente. De forma semelhante ao que era feito com as imagens de devoção, nas igrejas (BELTING, 1996:183), em que se guardavam as imagens para serem

(69)

Classificação de imagens

Classificação por tamanho:

Nas fotografias digitais e nos equipamentos eletrônicos é usada a quantidade de dados

por imagem, seja por pixels, ou o tamanho, em pontos da imagem 480 x 640, seja por

bits: tamanhos de 1, 2, 4, ou12 megabits são bastante comuns.

Não podemos ignorar o que ensina Boris Kossoy: que o que está ausente na imagem tem

igual importância, indicando a postura do fotógrafo frente à sua época. Kossoy considera

que tem imagens que o fotógrafo deseja mostrar, e outras imagens que prefere excluir da

fotografia (KOSSOY 2007:158).

Classificação por proporção?

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Classificação de imagens

Minha classificação:

Elaborei questões como um guia para interpretação de imagens. Estas questões

abrangem o antes, o durante e o depois da produção da imagem, e o que está presente

na imagem. Finalmente, um grupo especial, para reconhecer a presença do vazio na

imagem.

1— Porque a imagem foi produzida?

2— Como a imagem foi produzida?

3— Para que a imagem foi produzida?

4— O que contém a imagem?

5— Quem produziu a imagem?

6— Quando a imagem foi produzida?

7— Onde a imagem foi produzida?

A resposta para estas questões pode ser automática ou resultado de uma reflexão. Pode

ser consciente ou inconsciente. Mas acredito que esta classificação ocorra, de uma

forma ou de outra. A imagem perde valor estando em uma propaganda. Se a imagem é

interpretada como tal, passa a merecer algum desprezo. A resposta da pergunta “3—

Para que a imagem foi produzida?” se carrega a resposta “Para nos levar a consumir”

reduz nossa aceitação da imagem. Por isso, quem produz imagens para alterar opiniões,

procura se esquivar desta pergunta, evitando esta avaliação negativa da imagem. Boris

Referências

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