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A TERRITORIALIDADE DA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL LAR E SUA DINÂMICA NO ESPAÇO AGRÁRIO DE MEDIANEIRA- PR

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Academic year: 2021

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A TERRITORIALIDADE DA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL LAR E SUA DINÂMICA NO ESPAÇO AGRÁRIO DE MEDIANEIRA- PR

Marilucia Ben UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão. Luciaben15@hotmail.com Marli Terezinha Szumilo Schlosser UNIOESTE - Campus de Marechal Cândido Rondon. marlisch20@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Os resultados do processo de modernização agrícola implementado no Oeste paranaense, particularmente, no município de Medianeira, foram fortemente acompanhados do sistema cooperativista. Os camponeses que viviam na área estudada foram gradativamente sendo introduzidos no mercado, pois foi através da Cooperativa Agroindustrial Lar que agricultores especializaram sua produção e atenderam ao perfil estabelecido pelo Estado, para participar dos programas de desenvolvimento agrícola, que visava atender as necessidades do mercado externo, padronizando a criação de animais e o cultivo de plantas. Em sua maioria, os camponeses estavam ligados ao cultivo de grão, que, claramente, foi um dos fatores responsáveis para os programas de desenvolvimento propostos. Nesse contexto foi sendo introduzida pela cooperativa agroindustrial lar a modernização no campo e a territorialização do capitalismo.

O cooperativismo tem suas origens no século XIX era visto enquanto sistema universal, romanticamente baseado na filosofia da "união faz a força" que incorporam a importância da união de pessoas e respectivas funções como a sua inserção nas relações capitalistas de produção e de trabalho, isso vem sofrendo, nos últimos tempos, um processo de transformação muito forte, a tal ponto que não se tem, em determinadas situações, como separar uma cooperativa de uma empresa privada comum, dados os níveis de aproximação entre os segmentos privado e coletivo.

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Esse sistema se estruturou a serviço do capital. As iniciativas governamentais brasileiras se utilizaram do sistema cooperativista para territorializar o capitalismo no campo e consequentemente a modernização agrícola, com a introdução do uso de tecnologias e com doutrinação dos associados as cooperativas deram lugar ao chamado “Cooperativismo Empresarial”.

OBJETIVOS

Analisar a produção do espaço agrário do Oeste paranaense, em especial no município de Medianeira - PR, a partir de 1970, quando se expandiu o capitalismo no campo brasileiro, através da territorialização da modernização da agricultura e do sistema cooperativista, inserindo o padrão de acumulação e de dominação social.

Busca-se compreender também aspectos desse processo, fazendo-o a partir do conceito de território, seguido da dinâmica territorial da Cooperativa Agroindustrial Lar, na agroindustrialização das propriedades de seus associados, entendo que esta, em parceria com o governo de Estado e multinacionais, desenvolve o papel de mediadora da doutrinação de seus associados aos interesses do capital, pois fomenta a introdução da modernização da agricultura, criando infraestrutura para que esse processo se territorialize.

METODOLOGIA

Para desenvolver essa análise, foram realizadas pesquisa bibliográfica, entrevistas e análise de dados levantados junto à prefeitura, à cooperativa agroindustrial Lar e associados, ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

A AGROINDUSTRIALIZAÇÃO DA COOPERATIVA LAR

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Grande do Sul, (SETTI, 2006) que exploravam a criação de suínos e o plantio de culturas como cereais de subsistências inicialmente. Começa então, a ser estruturado o cooperativismo na região, devido as dificuldades que os produtores tinham para o armazenamento, escoamento da safra e mecanização da lavoura.

Nesse processo a Cooperativa Agroindustrial Lar passou pelas fases do cooperativismo agrário brasileiro. Foi fundada em 1964, por imigrantes vindos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina - em resposta a “Macha para Oeste” criada pelo governo de Getúlio Vargas e também pela influencia da igreja Católica, no município de Missal no Oeste paranaense - surge a COMASIL – Cooperativa Mista Agrícola Sipal Ltda – de início sua função era de recebimento e repasse de matérias primas entregues pelos associados.

Assim foi sendo inserida a modernização agrícola no Paraná. O cultivo da soja contribuiu para a criação de cooperativas, principalmente, nas áreas de ocupação mais recente, no Oeste do Estado, pois esse produto de exportação, acrescido da falta de infra-estrutura de armazenamento da produção e até dificuldades de escoamento da safra foram sendo introduzidos.

Na década 1970 com a atuação do Projeto Iguaçu de Cooperativismo – PIC, cujo objetivo era formar uma rede de cooperativas integrando e articulando o território com a criação de cooperativas centrais, inicia-se a “seleção” para analisar quais cooperativas seriam estruturais com suas respectivas áreas de abrangência, acontecem então a fusão entre elas. Portanto, a apropriação de um espaço, a territorialização como resultado da ação conduzida por atores coletivos, resulta no fato de que o Estado, a empresa ou outras organizações organizam o território através da implantação de novos recortes e ligações de acordo com Raffestin (1993).

Com influência do PIC a Comasil deixa de existir em 1973, surgindo em seu lugar a Cooperativa Agropecuária Três Fronteiras Ltda. – Cotrefal, agora ela se torna uma unidade de transformação e industrialização das mesmas matérias-primas, repassando ao mercado consumidor, (in) diretamente, não mais matérias primas, mas produtos elaborados, se instalam armazéns graneleiros em Medianeira (nova sede da Cooperativa), posteriormente a construção de silos para armazenar grão, resposta a introdução e consolidação da cultura soja e milho, na região Oeste paranaense.

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conseguiram se estruturar como empresa capitalista, atuando a nível de igualdade com grandes empresas nacionais e internacionais, no mesmo segmento econômico.

Nessa lógica, as cooperativas do Oeste paranaense se transformaram em “poderosos” instrumentos do governo de Estado no processo de implantação do “novo modelo agrícola”, servindo de fomento para introdução da modernização agrícola nas propriedades dos seus associados, mudando sua vida cotidiana, prática agrícola e de consumo, o espaço geográfico, territorializando novos atores sociais no espaço rural. Os atores sociais "produzem o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há, portanto um 'processo' do território quando se manifestam todas as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes e centralidades" (Raffestin,1993, p. 7-8). O dinheiro vem sendo gerador de poder (MARX, 1978, p. 31), que resulta nas transformações espaciais, como a modernização da agricultura, a divisão do trabalho, o êxodo rural, etc. E as relações sociais aqui presentes são imbricadas entre camponeses, empresas e governo de Estado.

Outro projeto de integração da região Oeste e Sudoeste foi à criação da Ocepar – Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, criada para o fortalecimento do cooperativismo no estado, através de estudos para o seu desenvolvimento. Segundo Fajardo (2006) a economia paranaense teve na agroindústria seu mais importante eixo de industrialização, pois os projetos de integração permitiram a participação mais efetiva das cooperativas na economia do estado.

Os projetos de integração definidos e implantados pelo governo de Estado na década de 1970 promoveram uma reestruturação econômica e filosófica, nas cooperativas agropecuárias paranaenses direcionando os investimentos para a agroindustrialização.

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que abastecem as propriedades, e a vida cotidiana das pessoas que vivem no campo se tornam cada vez mais consumidoras dos produtos industrializados.

É importante salientar que se configuram na agricultura dois tipos de indústrias, como mostra a Figura 01, sendo a fornecedora de insumos e equipamentos e a processadora dos produtos agropecuários. Em resumo, sendo: indústria para agricultura (insumos) e indústria da agricultura (produtos alimentícios).

Figura 01. Tipos de indústrias agrícolas.

Esse sistema resultou na chamada “Modernização da Agricultura”, que direciona o consumo das propriedades rurais ao mercado e especializa sua produção de acordo com as necessidades da indústria, que, por sua vez, implanta os conhecidos “Pacotes tecnológicos”. A indústria a montante é a fornecedora de bens de capital e insumos e a indústria a jusante é a processadora de matérias-primas agrícolas representadas pelas agroindústrias.

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consumo no campo, pois necessitavam da propaganda para vender seus produtos agroindustrializados.

Atualmente a cooperativa agroindustrial Lar conta com rede de supermercado, unidades industriais de vegetais, leitões, aves, pintainhos, ração, mandioca, empacotados, soja, supermercados, posto de combustível, isso à torna “poderosa” financeiramente no mercado do Oeste paranaense. Essa estrutura modificou o espaço geográfico em especial do oeste paranaense, bem como a vida cotidiana de seus associados, com a introdução de tecnologias e produtos que visam o mercado.

O novo modelo agrícola viabiliza o surgimento de um novo padrão de cooperativa no Brasil o chamado “Cooperativismo Empresarial” integrando o campo e a cidade. De maneira geral, até o surgimento do novo padrão, as cooperativas eram recebedores e repassadores de matérias-primas produzidas pelos associados, colocavam-se bem próximas dos associados e se identificavam mais com as propostas e as teorias que deram origem ao sistema. No chamado Cooperativismo Empresarial, ao se consolidarem como grandes empresas acabaram se distanciando de suas bases sociais, territorializando o capital no campo, inserindo o consumo e estreitando a relação cidade-campo.

Os espaços rurais e urbanos têm passado por rápidas e intensas transformações, as quais têm refletido, de forma direta, uma reorganização do espaço, redefinindo relações e construindo novas territorialidades, que se exemplificam a partir da mecanização. Muitostrabalhadores desse do espaço rural perderam seus postos de trabalho, resultando em um grande fluxo de trabalhadores rurais para as cidades, em busca detrabalhonas indústrias, fenômeno denominado de êxodo rural.

Sendo assim, as concentrações populacionais acompanhadas dos meios de produção sinalizam uma tendência da coletividade urbana, que resulta da urbanização quase que completa da sociedade, com a transformação radical das antigas formas urbanas e rurais, e dos antigos modos de vida.

O tecido urbano prolifera, estende-se, corrói os resíduos da vida agrária. Estas palavras, ‘o tecido urbano’, não designam, de maneira restrita, o domínio edificado nas cidades, mas o conjunto das manifestações do predomínio da cidade sobre o campo.” (LEFEBVRE, 1999, p. 17, grifos do autor).

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de vida das pessoas a partir da industrialização e da modernização da agricultura e ainda sua subordinação à cidade. O “Cooperativismo Empresarial” serve de mediador desse processo, pois, doutrina seus associados aos modos de vida urbanos, introduzindo o consumo de produtos industrializados.

Nesse contexto podemos identificar que a cooperativa agroindustrial Lar, abrange novos territórios gradativamente com a concentração de capital, imprimindo novas articulações de poder, comandadas por forças locais, nacionais e internacionais. Entendendo o território como relações sociais e exercício de poder, Raffestin (1993, p. 144), afirma que “o território é a prisão que os homens constroem para si”.

RESULTADOS PRELIMINARES

Diante do processo de modernização da agricultura, modernização subsidiada pelo governo de Estado através de créditos agrícolas e da ação da Cooperativa Agroindustrial Lar, os produtores de Medianeira modificaram seu modo de vida e de cultivar a terra. Atualmente não possuem liberdade de escolha na hora da compra de mercadorias e da venda da sua produção, pois os associados têm que cumprir a “fidelidade”, que determina que todos comercializem apenas com a cooperativa, que determina preços e tipos de produção ou criação de animais de forma padronizada. Assim, portanto, apesar de os lugares apresentarem particularidades, estão articulados aos interesses do capital, que, ao se reproduzir globalmente, produz novas territorialidades a nível local e regional, condicionando os modos de vida diária de seus associados, seja na cidade ou no campo. Nessa imbricada relação, a dinâmica da pequena propriedade dos associados da Cooperativa Agroindustrial Lar, mediante a agroindustrialização, transformou os pequenos produtores comerciais em vendedores e consumidores de produtos industrializados.

As inovações tecnológicas deram novos direcionamentos às atividades produtivas do Brasil, passaram a incorporar novas técnicas e equipamentos produtivos implantados por multinacionais. A industrialização se expandiu rapidamente e passou a exigir uma reestruturação no campo.

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máquinas. Esse processo se consolidou pelo resultado, de um lado, da ação do Estado, a partir das políticas agrícolas e agrárias adotadas, e de outro, pela atuação das instituições e organizações.

A territorialização do capitalismo no campo implica em uma série de transformações sociais, culturais, econômicas e produtivas. O cooperativsmo é resultado desse processo que e se transforma em “Cooperativsmo Empresaria” agora a serviço do capital e não mais com as bases filosófica da "união faz a força", visando a ajuda mutua. Introduz-se no campo um novo modo de vida que aproxima cada vez mais o urbano do rural, para manter a subordinação da agricultura à indústria e o aumento do consumo de produtos industrializados.

O “Cooperativismo Empresarial” faz a ligação entre a indústria para a agricultura, onde à torna consumidora de insumos e equipamentos e a indústria processadora, introduzindo novos modos de produção no campo e nesse caso a agricultura se torna fornecedora de matéria prima para ser processada, para novamente ser consumida pela população rural, mantendo a relação: consumidor – vendedor – consumidor - de produtos industrializados. A indústria se consolidou a jusante a montante da agricultura, subordinando e explorando grande parte das propriedades rurais, mudando social, cultural e economicamente a estrutura rural.

O Paraná seguiu as três fases do cooperativismo em primeiro lugar as cooperativas desenvolviam a função de receber e repassar matérias primas entregues pelos associados; segundo lugar com influência do PIC construção de silos para armazenar grão, resposta a introdução e consolidação da cultura soja e milho, já agregando valor ao produto; em terceiro com a implantação do Projeto da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná – Ocepar - promoveram uma reestruturação econômica e filosófica, nas cooperativas agropecuárias paranaenses direcionando os investimentos para a agroindustrialização. A Cooperativa Agroindústria Lar segui essas fases se modificando de acordo com o desenvolvimento dos planos do governo de Estado respectivamente como COMASIL – Cooperativa Mista Agrícola Sipal Ltda -, COTREFAL - Cooperativa Agropecuária Três Fronteiras Ltda. –, e LAR Cooperativa Agroindustrial Lar, seguindo a lógica do capital.

INDICAÇÃO DO ESTÁGIO DA PESQUISA

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REFERENCIAS

BOESCHE Leonardo. Fidelidade cooperativa: uma abordagem prática. Curitiba: Sescoop/PR, 2005. 96p.

GRAZIANO DA SILVA, José. A modernização dolorosa: estrutura agrária, fronteira agrícola e trabalhadores rurais no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

LIMA, Marcos Augusto Teixeira de Freitas Carvalho. O Cooperativismo Paranaense: Bases Históricas na sua Relação Teoria-Prática, 1988. 74 p. Monografia (Curso de Especialização em Administração de Empresas) - Universidade Federal do Paraná.

FAJARDO, Sérgio. O novo Padrão de Desenvolvimento Agroindustrial e a Atuação das

Cooperativas Agropecuárias no Paraná. Revista on-line Caminhos da Geografia.

www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html. Novembro/2005. páginas 31 a 47.

GRAZIANO NETO, Francisco. Questão Agrária e Ecologia: Crítica da Agricultura

Moderna, São Paulo: Brasiliense, 1985.

MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. Tradução de José Carlos Bruni et alii. In: Os pensadores. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

SERRA, Elpídio. Contribuição ao estudo do cooperativismo na agricultura do Paraná: o caso da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá. Dissertação de Mestrado apresentada à UNESP, campus de Rio Claro, São Paulo. 1986.

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