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PROGRAMA DE INCUBAÇÃO COMO FORMA DE ACELERAÇÃO DA INOVAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR

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PROGRAMA DE INCUBAÇÃO COMO FORMA DE ACELERAÇÃO DA

INOVAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR

Wilson José de Araújo

Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, Centro de Educação Aberta e a Distância.

RESUMO: Este trabalho propõe uma explanação sobre um programa de incubação de projetos, buscando uma adaptação do conceito de incubadora de empresas de base tecnológica a uma instituição de ensino superior, como forma pedagógica profissional de acelerar os resultados da prática discente e docente, no caminho da produção científica e inovação tecnológica. O setor público nacional tem assumido importante papel na formação e desenvolvimento de novos profissionais para atender as novas demandas do setor produtivo do país. Há um conjunto de necessidades de inovação do sistema educacional brasileiro que precisam ser atendidas. O conceito de incubadora como instrumento de desenvolvimento regional pode ser aplicado e implementado em instituições de ensino superior. A busca de novas estratégias de crescimento e desenvolvimento pode incrementar um ambiente de inovação a partir de recursos já instalados e disponíveis, favorecendo a consolidação de um programa de incubação.

PALAVRAS-CHAVE:Inovação; Incubação; desenvolvimento.

1. Introdução

O modo de produção capitalista vem passando por um processo de reestruturação tecno-econômica de base microeletrônica, a partir de meados dos anos 1970, quando surgiram as tecnologias de comunicação e informação e as novas formas de produção (CASTELLS, 1986). Toda essa reestruturação que segue a lógica do capitalismo avançado, tem levado os agentes econômicos, firmas e indivíduos, a se relocalizarem no espaço econômico regional na busca de vantagens comparativas. Os agentes econômicos procuram a maximização dos benefícios provenientes de suas localizações atuais, ao mesmo tempo comparando-os aos de uma relocalização futura, para então tomarem a decisão de se relocalizarem no espaço econômico regional (STARRET, 1978).

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competitividade do país para a produção e exportação de produtos de qualidade diversificada e intensivos em conhecimento. A atual posição da capacidade competitiva da economia e a baixa qualificação de grande parte da mão-de-obra nacional, tem dificuldado o desenvolvimento do setor produtivo do país. Os agentes econômicos tem incorporado um nível pequeno de mudanças necessárias para aumentar sua capacidade de inovação e acumulação de conhecimento.

As novas formas de produção, que tem no conhecimento seu insumo principal e cujo insumo não é transportável, tornam as regiões e localidades pontos de criação de conhecimento e aprendizado na era do capitalismo intensivo em conhecimento (DINIZ, 2002). Neste contexto de mudanças estruturais se torna necessário a criação de ambientes propícios à inovação, utilizando formas de aumentar a capacidade inovativa local.

Muitas iniciativas institucionais, de incentivos ao desenvolvimento tecnológico local e regional têm ocorrido através do apoio de entidades públicas e privadas, e surgem como alternativas para o aumento da competitividade nacional nos setores de produção mais intensivos em conhecimento.

Uma das iniciativas é o chamado programa de incubação de empresas, que tem como instrumento, incubadoras de base tecnológica (BAÊTA, 1997). Este instrumento de política industrial tem ganhado destaque no estado de Minas Gerais e todo o país, pois demonstra ser uma alternativa viável para o incentivo ao desenvolvimento tecnológico local e regional. Embora sejam viáveis muitos dos programas de incubação adotam um modelo de estrutura organizacional que atualmente estão se tornando insuficientes para suprir suas necessidades estruturais e de recursos. As incubadoras de base tecnológica têm baseado sua estrutura de fontes de recursos em financiamentos públicos a este tipo de iniciativa local. De acordo com as evidências empíricas, um fator estratégico para a sustentabilidade de um programa de incubação de projetos é a redução do número de parceiros neste tipo de empreendimento, visando uma maior homogeneidade e agilidade nas decisões estratégicas de gestão. Isto abre caminho para uma evolução dos modelos atuais de programas de incubação que devem buscar uma eficiência e eficácia como instrumento de desenvolvimento econômico local/regional, no que tange as relações com os parceiros estratégicos, fontes de recursos e forma de decisão estratégica. A nossa explanação apresenta uma nova forma organizacional que possa estruturar um novo modelo para um programa de incubação em instituição de ensino superior, buscando superar as dificuldades das atuais práticas organizacionais em programas de incubação. Esta nova forma organizacional que propomos, é a de instituir um programa de

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incubação de projetos diretamente dentro de uma instituição de ensino superior. Assim estaremos reduzindo a heterogeneidade dos parceiros estratégicos, uma vez que a incubadora será oriunda da instituição de ensino superior, adotando uma lógica de decisão da empresa capitalista, que tem como fator preponderante o tempo de execução de projetos.

2. Um Conceito de Incubadora

As incubadoras de base tecnológica são organizações ou programas que quando voltados para a dinâmica tecnológica, são iniciativas cujo principal objetivo é promover o desenvolvimento de projetos centrados em inovações tecnológicas. São ambientes de flexibilidade e encorajadores, nos quais são ofertadas uma série de facilidades para o surgimento e crescimento de novos empreendimentos que incorporem conteúdo técnico e científico.

As organizações e programas de incubação se localizam principalmente próximo ou dentro de universidades e parques tecnológicos ou de ciência. "São caracterizadas por ligações institucionalizadas a fontes de conhecimento, incluindo universidades, agências de transferência de tecnologia, centros de pesquisa, laboratórios nacionais e pessoal com competência para desenvolver atividades de pesquisa e desenvolvimento"(VILLASCHI, 2001). Os programas de incubação de projetos procuram desenvolver um processo de transferência e difusão tecnológica mediante mecanismos, que de modo efetivo, permitam o surgimento de novos projetos e empreendimentos tecnológicos entre pesquisadores, acadêmicos e estudantes universitários. Como se trata de inovação tecnológica, os resultados apresentados devem atender a uma demanda de mercado.

Uma incubadora é um instrumento de desenvolvimento tecnológico regional. Quando tratada como uma organização, se sustenta através da sua relação direta com o setor público, setor privado e centro de pesquisa. Quando for um programa, a incubadora pode estar instalada diretamente num centro de pesquisa, sendo gerido como um programa institucional. Assim estará reduzindo o número de parceiros no projeto de instalação e manutenção, o que facilita sua evolução, dentro do seu papel de desenvolvimento de novos empreendimentos. Neste sentido a incubadora é uma organização capaz de baixar os custos da inovação tecnológica, além de providenciar a aproximação entre os três setores necessários para um

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processo de desenvolvimento socioeconômico - setor público, setor privado e centro de pesquisa.

Medeiros (1992) sugere que um programa de incubação deve também procurar ter um número de parceiros reduzido, mas seguros, para facilitar o processo de gestão, buscando aumentar sua eficiência e eficácia.

A idéia de uma incubadora localizada e gerida por uma instituição de ensino superior apresenta vantagens que podem torná-la mais ágil em suas decisões e indução da demanda de projetos e ainda superar o problema da insuficiência de recursos de alguns modelos organizacionais de incubadoras de base tecnológica. Este tipo de incubadora será gerido por uma lógica privada de decisões, atingindo então uma meta normativa importante dos programas de incubação que é a aceleração da inovação. Medeiros (1992) sugere que no decorrer da evolução de uma incubadora, um dos seus objetivos deve ser o de implementar uma estrutura organizacional que privilegie sua gestão em inovação tecnológica como sendo uma empresa capitalista.

3. Incubadora e o espaço social

As incubadoras são organizações ou programas que dado seu caráter inovador e sua estrutura organizacional, transformam o espaço. O espaço que é a representação social do passado e presente, portanto histórico, é um campo de forças cuja aceleração é desigual (SANTOS, 1992). No espaço, a natureza dos agentes é tomada como relevante pois são diferenciadas, o que causa uma competição permanente, que se rebate através de heranças históricas fortes. O espaço social contém elementos tangíveis e elementos intangíveis. Os elementos intangíveis são o resultado de uma formação social e cultural muitas vezes pouco visíveis, enquanto os tangíveis são mais facilmente visualizados – como por exemplo ruas, avenidas, prédios e outras tantas formas urbano-regionais existentes no espaço. O elemento histórico do espaço aparece como um elemento de rigidez para a transformação e mudança, o que poderá em certas situações ser uma variável desaceleradora da inovação e progresso técnico em uma região ou localidade.

Uma incubadora tecnológica de projetos de empreendimentos lida diretamente com os elementos do espaço, buscando inovação a partir destes elementos. A estrutura organizacional bastante flexível da incubadora é ideal para ambientes turbulentos e imprevisíveis, o que é

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uma característica necessária para organizações que atuam na fronteira da inovação. A estrutura organizacional busca transformar o resultado da formação social do espaço em capacidades tecnológicas para a inovação, atuando como mediadora na relação entre setor produtivo, centro de pesquisa e setor público. Um programa de incubação visa reduzir os custos para a inovação e o desenvolvimento sócio-econômico, dado que seu caráter inovador e sua estrutura organizacional flexível, tornam-na mais ágil em suas decisões e implementação de novas metas. O maior benefício que uma incubadora pode trazer a uma localidade/região é o aumento da capacidade inovativa local dos três setores do tripé em que se baseia - setor privado, centro de pesquisa e setor público - no sentido de produzir inovações e desenvolvimento socioeconômico. Os três setores pilares são heterogêneos e possuem características próprias sobre as quais a incubadora inova, apresentando também uma característica própria que se distingue de cada um dos três setores.

No esforço para a inovação, quando os parceiros estratégicos do tripé agem isoladamente, percebem um custo muito alto para inovar, enquanto que um programa de incubação de projetos se torna um elemento homogeneizador e tradutor dos interesses do setor privado, centro de pesquisa e setor público, o que reduz os custos da inovação tecnológica numa localidade/região.

4. Rede de inovação: atores heterogêneos

A criação e transformação do conhecimento, em um processo de inovação de um programa de incubação, envolve uma rede formada por atores heterogêneos. Como mecanismo de transferência de tecnologia, um programa de incubação busca a comunicação e interação entre atores em redes heterogêneas, envolvidos com processo de inovação.

A inovação surge de um processo de interação entre diversos atores heterogêneos, como pesquisadores, técnicos, usuários, laboratórios, investidores e mercado. Cada ator possui uma linguagem própria, modelos mentais, visões de mundo, interesses e outras características que lhes são peculiares, que dificultam a comunicação e a compreensão mútua entre eles. Para que esses atores possam se comunicar e trabalhar juntos, são necessárias muitas traduções que são complexas e trabalhosas. Para tornar eficiente a comunicação na rede heterogênea, é necessário um processo de homogeneização (coordenação e alinhamento) da linguagem dos atores para que as traduções se tornem mais simples e imediatas, de modo a

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facilitar a comunicação e o trabalho conjunto no desenvolvimento de projetos e comercialização de produtos, processos e serviços inovadores.

Callon (1994) introduz um conceito de rede tecnoeconômica, a qual é formada por um conjunto de atores heterogêneos, que coletivamente participam do processo de concepção, desenvolvimento, produção e distribuição de novos produtos e serviços.

Na concepção de Callon (1994), o ator é qualquer entidade capaz de transformar e criar (através de combinações, socialização, misturas) um conjunto de intermediários.

O intermediário será qualquer elemento que passa de um ator para outro e se constitui na forma e na substância da relação criada entre esses atores. Pode-se classificar o elemento intermediário em quatro tipos: textos; artefatos técnicos (instrumentos científicos, máquinas, bens de consumo); habilidades ou capacidades incorporadas em seres humanos; recursos financeiros.

No conceito de Callon (1994), na rede tecnoeconômica, o ator tem um papel ativo enquanto o intermediário tem um papel passivo. E a rede tecnoeconômica é formada por três pólos principais, que podemos considerar como atores heterogêneos. Estes pólos são:

 Pólo científico: constituído de universidades e outros centros de pesquisa independentes (públicos ou privados).

 Pólo tecnológico: desenvolve ou transforma artefatos destinados a servir propósitos específicos, como modelos, projetos-piloto, protótipos, testes, patentes e padrões. Os membros deste pólo são laboratórios de empresas, centros de pesquisa cooperativos e plantas-piloto.

 Pólo de mercado: constituído de usuários, consumidores.

Um programa de incubação procura homogeneizar as linguagens desses três pólos, proporcionando interação entre os atores através do processo de coordenação e alinhamento. As trocas e interações entre os pólos envolvem atividades de intermediação e tradução.

O processo de homogeneização procura estabelecer as ligações sociais entre os atores, de modo que um ator A possa traduzir um ator B (ou A define B) através de um elemento intermediário, concebendo existência e consistência nas relações.

Na rede tecnoeconômica, devido à sua heterogeneidade, cada ator participante (pesquisadores científicos, técnicos, vendedores, usuários, consumidores) tem a sua linguagem própria. E para que essa rede possa ser efetiva, os atores precisam se comunicar e trocar conhecimentos, o que denota uma necessidade de tradução. Quanto maior for a

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interação entre os atores, melhor será a compreensão mútua e haverá uma tradução eficiente, do ponto de vista da inovação. A tradução eficiente gera mais informações corretas a serem intercambiadas entre os atores que vão auferir mais benefícios provenientes das suas interações e ligações, fortalecendo a rede que será mais convergente.

Na rede tecnoeconômica, a idéia de convergência significa um alto grau de alinhamento e de coordenação. O alinhamento é a fidelidade na tradução, é o caso em que a definição do elemento intermediário é amplamente aceita pelos atores e, portanto, não sofrerá contestações. Se a tradução é perfeitamente alinhada, temos uma situação na qual o ator A vai definir A, I (intermediário) e B, da mesma forma que B definirá A, I e B. Nessa situação, ocorre equivalência total na comunicação e não surgem ambigüidades, havendo alinhamento nas interações entre os atores.

A coordenação é um conjunto de regras e convenções que regulam, restringem e codificam as traduções. A coordenação como processo possui variados graus de durabilidade, restrições, abertura para mudanças, abrangência e aceitação. A coordenação de uma rede é forte quando as suas regras e procedimentos tornam-se convenções amplamente aceitas e, portanto, conseguem restringir o universo de traduções possíveis, melhorando a comunicação entre os atores e o fortalecimento das ligações dentro da rede. Quando a coordenação for fraca, o universo de traduções será mais amplo e a rede pode se desenvolver de maneiras imprevisíveis, criando outras associações que podem não ser as esperadas pela coordenação.

O grau de convergência de uma rede é o resultado do seu grau de alinhamento e de coordenação. Quanto mais convergente é uma rede, mais os seus atores trabalham juntos em empreendimentos comuns, sem ambigüidades na comunicação, possibilitando retirar a máxima eficiência de cada ator. Podemos entender que o alinhamento e a coordenação da rede promovem a homogeneização da linguagem dos atores, pois possibilitam que eles se comuniquem e troquem conhecimentos.

Contudo, estes conceitos dizem respeito à criação de uma linguagem comum e ao estabelecimento da comunicação eficiente, porém, não fazem referência à necessidade da confiança entre os atores - para que possam trabalhar juntos e cooperar. A confiança é um elemento fundamental no estabelecimento das redes, pois, sem esse valor, os atores vão tentar se proteger do comportamento oportunista uns dos outros e irão reter conhecimentos e informações para si, impossibilitando a troca de conhecimentos e os ganhos mútuos.

Nesse sentido, o conceito de redes convergentes pode ser associado e complementado por um conceito de capital social, o que implica desenvolvimento da confiança entre parceiros

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sendo o estoque de confiança ou boa vontade mútua resultante de relações de cooperação, e que podem ser acessados pelos participantes de uma rede para garantir recursos e resultados desejados. Altos níveis de capital social significam que os participantes estão interagindo com maior confiança, o que poderá reduzir os custos de transação e melhoria da eficiência da interação (Kingsley e Melkers, 1999).

De acordo com Davenport e Prusak (1998), as trocas e as transferências de conhecimento são essencialmente uma relação de mercado. As pessoas dividem ou transferem conhecimentos por três motivos:

(i) reciprocidade (esperam algo em troca);

(ii) reputação (auferir status de detentor de certo tipo de conhecimento, know-how);

(iii) altruísmo (não se espera nada em troca).

Em redes convergentes, nas quais os atores estão dispostos a trabalhar juntos, em cooperação, a reciprocidade é um elemento chave e necessariamente presente na base de sustentação das relações dos atores, pois a cooperação não é uma decisão individual e independente, tornando-se uma atitude conjunta - o indivíduo coopera desde que os demais também cooperem. Os atores começam a participar de redes tendo como objetivo incorporarem, receberem, enfim adquirirem algo (conhecimentos, recursos financeiros, contatos importantes, informações estratégicas) ou porque não são capazes ou não têm disposição para realizar algum empreendimento individualmente; então buscam parceiros, pois percebem que os benefícios serão maiores com custos menores. E a rede só será efetiva e terá uma vida longa se os participantes estiverem satisfeitos com os ganhos obtidos nessa cooperação. Nesse caso, eles vão se sentir motivados à transferir os seus conhecimentos, pois percebem que a troca é vantajosa (há reciprocidade). Caso os participantes não se sintam recompensados pela cooperação, então deixarão de transferir os seus conhecimentos e sairão da rede. Se não houver satisfação e recompensa mútua entre os atores, a rede se desfaz.

A reciprocidade é fundamental para a confiança; para confiar é preciso saber que se pode compartilhar o conhecimento com o outro, pois ele está cumprindo a parte dele. Se não houver reciprocidade, não haverá confiança e nem criação de capital social.

Em uma rede convergente, qualquer ator pertencente a ela consegue identificar e mobilizar todas as qualificações dessa rede sem ter custos de adaptação, tradução ou decodificação. Quanto mais convergente é uma rede e quanto maior o seu estoque de capital

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social, maior é a sua irreversibilidade, pois mais fortes e duradouras serão as ligações entre os atores que a constituem.

É possível perceber que existe uma forte relação entre a rede convergente e o

know-who dos atores. Essa habilidade significa que o indivíduo é capaz de acessar pessoas que

possuam o conhecimento de que ele precisa e que estejam dispostas a ajudá-lo, ou seja, possuir know-who significa participar de uma ou várias redes convergentes. Se um ator participa de uma rede com baixo grau de convergência, ele terá dificuldade em acessar e se beneficiar do conhecimento dos outros participantes; isso significa que este ator não desenvolveu o know-who ou não possui capacitação relacional.

Em redes tecnoeconômicas, o conhecimento pode ser entendido como um intermediário - assim como os projetos de produtos, processos e serviços que expressam o conhecimento de uma forma codificada - , pois é o principal elemento trocado entre as pessoas que participam de uma rede. Os atores combinam várias formas de conhecimento, como idéias, informações e capacitações, e os transformam em novos intermediários (produtos, artigos, habilidades, processos e serviços). A tradução transforma conhecimentos tácitos em codificados ou codificados em outros codificados, de maneira que todos os atores compreendam a linguagem, e o alinhamento e a coordenação possibilitam o processo de homogeneização da linguagem.

Em Nonaka e Takeuchi (1997), a cultura organizacional pode ser vista como um conjunto de crenças e conhecimentos compartilhados pelos membros da organização. Os indivíduos de culturas diferentes levam tempo para compartilhar os seus conhecimentos tácitos, por isso é necessário uma fase prolongada de socialização e externalização entre eles, para promover os ajustes necessários e também para desenvolver a confiança. Nessa fase da socialização, o tipo de conhecimento tácito compartilhado é o cognitivo, o quadro referencial interpretativo, ou seja, são as visões de mundo, maneiras de pensar, que vão se tornando claras durante o diálogo informal e a convivência. É o contato informal e a externalização do tácito cognitivo que possibilitam a um ator conhecer, compreender e confiar no outro. Então, para promover a homogeneização da linguagem de diferentes organizações e possibilitar a comunicação e a troca de conhecimentos, é necessária alguma convivência e troca de experiências. O alinhamento, a coordenação e a criação da confiança se dariam através da convivência e da socialização.

Então, dentro das redes de inovação, as quais envolvem atores heterogêneos, são necessárias muitas traduções, interações, socialização, compartilhamento de experiências e

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conhecimentos efetivamente. A coordenação e o alinhamento são elementos importantes na homogeneização da rede heterogênea

5. Os Parceiros estratégicos

Um programa de incubação localizado numa instituição de ensino superior deve, como qualquer outro programa, contar com parceiros estratégicos para sua sustentação como incubadora. Estes parceiros são também beneficiados pelos resultados apresentados por uma incubadora. Os benefícios que a instituição de ensino pode auferir, provém da incubação de projetos oriundos de seus cursos de formação superior e pessoal acadêmico, buscando qualificar mão-de-obra com capacidade empreendedora que possa fazer frente às mudanças estruturais da economia nacional em termos técnicos e científicos.

Na economia nacional, uma mudança estrutural é o novo papel que as instituições de ensino superior desempenharão na produção científica e tecnológica da sociedade brasileira, principalmente a partir das mudanças no sistema educacional do país e implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) e da Lei federal de inovação (Lei 10.973).

O programa de incubação de projetos localizado em instituição de ensino superior, pode ser gerido pela própria instituição como sendo um de seus programas acadêmicos. A

Centro de

Pesquisa Privado Setor

Setor Público

Programa de Incubação

Instituição de ensino superior

(Gestora)

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gestão do programa deve estabelecer uma relação entre as áreas de pesquisa e ensino da instituição e com os outros parceiros estratégicos do programa de incubação.

6. Demanda e resultados de projetos para incubação

Os projetos para a incubadora podem ser captados dentro da instituição, junto ao corpo discente e docente, através de um programa induzido de projetos divulgados ao público alvo, sendo que este pode ser também a comunidade como um todo, o que dependerá do planejamento estratégico da gestora do programa de incubação.

A divulgação de uma cultura empreendedora em nível institucional e nos cursos de nível superior oferecidos pela instituição, favorece o aumento da demanda de projetos para a incubadora e contribui para a consolidação do programa de incubação na forma de estímulo a inovação tecnológica e desenvolvimento da visão empreendedora.

Um programa de incubação pode atender a estudantes dos cursos de nível superior através de projetos de pesquisa, empresa júnior e outros demandantes. O programa de incubação transforma as demandas de projeto e idéias em inovação tecnológica, produtos, serviços e processos ou ainda em artigos e documentos de produção científica. A incubadora de projetos, pelo seu caráter inovador na forma organizacional, atua também na formação e qualificação de mão-de-obra empreendedora e aumento da competitividade dos projetos demandantes. Os resultados de um programa de incubação atendem às metas da política de desenvolvimento socioeconômico proposta pelo Ministério de Ciência e Tecnologia do país (MEDEIROS, 1992).

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7. Conclusão

As incubadoras brasileiras ainda estão em transformação, não tendo exatamente uma forma organizativa definida como sendo a mais eficiente, bem como uma estrutura organizacional consolidada que seja vista como uma instituição. O conceito de incubação de projetos pode ser aplicado em situações e ambientes diversos, tendo como ponto crítico do processo a criação, implementação e manutenção do programa de incubação, que deve contar com um programa de empreendedorismo que possa aumentar a demanda por projetos para a incubadora.

Um programa de incubação nasce de uma demanda local que justifique sua implementação. Neste sentido muitas cidades brasileiras em regiões metropolitanas e do interior, com oportunidades de serviços e pequenos negócios inovadores, apresentam especificidades locais que justificam o surgimento e implementação de um programa de incubação que atenda as demandas regionais, tanto de mão-de-obra qualificada e treinada em ambientes de inovação, quanto de projetos de caráter inovador. Essas cidades contam com um apoio tanto privado quanto público aos programas de incubação que visem o desenvolvimento regional. Podemos ainda incluir como apoio aos programas de incubação, a capacidade empresarial dos municípios, que favorece o surgimento de programas no âmbito das instituições de ensino superior que incrementam a gestão de uma incubadora sob a lógica empresarial.

Incubadora: demanda e resultados

Estudantes Projetos de Pesquisa Empresa Júnior OUTROS DEMANDANTES Aceleração da inovação Tecnológica Produção Científica e aumento da competitividade FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE EMPREENDEDORES

Demandantes da Incubação Resultado do programa de Incubação

Programa de Incubação

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Referências:

BAÊTA, Adelaide Maria Coelho (1997). As incubadoras de Empresas de Base Tecnológica: uma nova prática organizacional para a inovação (Rio de Janeiro). 217f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE.

CALLON, M. (1994) “The dynamics of techno-economic networks”. in Coombs, R., Saviotti, P. e Walsh, V. (ed.), Technological change and company strategies: Economic and sociological perspectives.

CASTELLS, M.(1986) - Mudança Tecnológica, Reestruturação Econômica e a Nova Divisão Espacial do Trabalho. Espaço e Debates, 17, p.5-23.

DAVENPORT, T. H. & PRUSAK, L. (1998) “Working knowledge: how organizations manage what they know”, Harvard Business School Press, Boston, Massachusetts

DINIZ, C. C.(2002) - Repensando a Questão Regional Brasileira: Tendências, Desafios e Caminhos. Painel "Distribuição de Renda - Redução das Disparidades Regionais", série de Paineis sobre o Desenvolvimento Brasileiro, patrocínio do BNDES, Rio de Janeiro 23-9-2002.

KINGSLEY, G. & MELKERS, J. (1999) “Value mapping social capital outcomes in state research and development programs”, in Research Evaluation, vol. 8, n. 3, dezembro.

MEDEIROS, J. A (1992). Pólos, parques e incubadoras: a busca da modernização e competitividade. Brasília: CNPq, IBICT, SENAI.

NONAKA, I. e TAKEUCHI, H. (1997) “Criação de conhecimento na empresa – Como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação”, Editora Campus, 2ª Ed

SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1992, cap. 1,2 e 6.

STARRET, D. (1978) - "Market Allocations of Location Choice in a Model with Free Mobility". Journal of Economic Theory 17, 21-37.

VILLASCHI Filho, A. (2001). Incubação em Arranjos e Sistemas de MPME - NT1.4. Disponível em <www.ie.ufrj.br/redesit>.

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