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REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE EX-JOGADOR DE FUTEBOL: SOLIDARIEDADE, LEMBRANÇAS E CONSELHOS

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Academic year: 2021

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REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE EX-JOGADOR DE FUTEBOL:

SOLIDARIEDADE, LEMBRANÇAS E CONSELHOS

SOCIAL REPRESENTATION OF AN EX-SOCCER PLAYER: SOLIDARITY, MEMORIES AND ADVICES

RESUMO

Este artigo é parte de uma pesquisa que tem por objetivo investigar como se constroem as representações sociais dos ex-jogadores de futebol sobre sua prática profissional. Após a realização de uma entrevista com um ex-membro desse grupo, foi possível interpretar que é a experiência, traduzida nos anos dedicados ao esporte, e a solidariedade, para com seus pares do futebol, elementos que primariamente emergem em seu discurso. A partir do relato oral do entrevistado criam-se subsídios de análise sobre os acontecimentos de vida resgatados em sua memória, suas visões de mundo e sua inserção nesse grupo específico.

Palavras-chave: futebol, representação social, educação física.

ABSTRACT

This article is part of a research study that aims at investigating how are built the social representations of ex-soccer players about their professional activity. After performing an interview with an ex-member of this group we managed to identify that the primary factors that emerged from his discourse were the experience he has accumulated during the years he devoted to the sport, as well as the solidarity for his fellow soccer players. Based in the oral testimony we have created subsidies to the analysis of the life events revealed by his memory, his worldview, and his insertion in this specific group.

Key words: soccer, social representation and physical education.

Carlos Henrique de V. Ribeiro

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INTRODUÇÃO

A profissão de atleta pode ser interpretada, de maneira geral, como de curta duração se comparada a outras profissões. Diferente de outras atividades profissionais, que permitem que um indivíduo possa se dedicar a sua área de conhecimento ao longo dos anos, chegando inclusive à possibilidade de trabalho até a terceira idade, a de atleta profissional e no caso abordado a de jogador de futebol, pode ficar compreendida entre trinta e cinco a quarenta anos de idade.

Neste sentido, a idade cronológica ou o envelhecimento tornam-se os fatores que excluem os jogadores da atividade a que se dedicaram, levando-os à aposentadoria, “pendurando” as chuteiras.

Mas, é possível pensar em aposentadoria aos quarenta anos? Qual é o discurso do ex-jogador de futebol para sua reinserção na vida produtiva e cotidiana fora dos gramados?

Helal (1998) considera que um fenômeno de massa como o futebol não é capaz de se sustentar sem seus ídolos, fazendo com que a torcida venha a escolher suas celebridades, na figura agonística do herói. Porém, o ex-jogador de futebol não é mais um guerreiro, ele se encontra fora dessa área de atuação, mas parece ter muito com que contribuir, aproveitando-se de seu carisma e prestígio adquiridos pelos anos na prática do futebol.

Podemos considerar que a “aposentadoria” do jogador de futebol pode não representar o final de uma vida produtiva, ela apenas faz surgirem outras possibilidades: ser técnico, empresário, professor ou político, em uma idade considerada ainda jovem para a maioria dos brasileiros (em torno dos

quarenta anos), mas até certo ponto tardia para o início de uma nova atividade profissional.

Desta forma esses jogadores, pelo menos aqueles que conseguiram prestígio e fama, apresentam-se com possibilidades de continuar uma vida “normal” para si mesmos e também para a sociedade, com um conhecimento que é coletivamente valorizado em um espaço em que, hoje, esses jogadores já não podem mais atuar.

Ex-jogadores como Zico, Roberto Dinamite e Júnior podem ser considerados como exemplos entre aqueles que abandonaram os gramados já há alguns anos e atualmente vêm se dedicando a outras especificidades dentro do futebol: coordenam, patrocinam e criam instituições que desenvolvem projetos esportivos em alguns bairros cariocas, aproveitando-se de sua fama do passado.

O DISCURSO DO EX-ATLETA DE

FUTEBOL

Com vistas a mapear o panorama do quadro esboçado, optamos por entrevistar o ex-jogador de futebol Roberto Dinamite, procurando analisar seu discurso que, cercado de anseios, perspectivas e contradições pode nos revelar pistas sobre a vida profissional da qual se afastou no ano de 1993. Recortamos algumas vozes do entrevistado procurando interpretar como esse ator representa em seu discurso a atividade profissional de jogador de futebol, se colocando muitas vezes no lugar de quem ainda se encontra atuando dentro dos gramados.

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grupos, e é na explicabilidade de suas ações cotidianas e comunicações lingüisticas que podemos compreender as ações dos indivíduos na sociedade.

Ao falar sobre o futebol, o ex-jogador se reconhece em um discurso de dupla face: já foi, presenciou, viveu e se envolveu com o “mundo do futebol”, portanto se identifica e se familiariza com os atuais jogadores, seus problemas, suas alegrias e frustrações, bem como compartilha de um vocabulário próprio, contingente que é formulado a partir de uma prática esportiva específica, que faz os jogadores de futebol se auto identificarem como um grupo específico dentro de tantos outros no espaço esportivo, mas que carrega consigo a profissão esportiva mais cobiçada e bem remunerada do país.

Castells (1999), em suas investigações sobre as identidades urbanas, considera que os atores sociais produzem significados para as atividades nas quais se encontram inseridos, formando seus grupos a partir da habilidade de uma determinada atividade. No caso dos jogadores de futebol, estrutura-se uma identidade em que é possível considerar para o entrevistado o seu ex-clube, sua geração, seus companheiros de equipe e sua história de vida.

A DESPEDIDA: O PIOR MOMENTO

DA VIDA

Para o entrevistado, sua ex-profissão carrega dois momentos distintos que particularizam não somente sua vida, mas a de todos aqueles que pertencem ao futebol: o antes e o depois de encerrar a carreira. “Pendurar” as chuteiras, “largar” a bola na hora certa e descobrir que não dá mais, parecem demonstrar a preocupação do entrevistado em afirmar que é no caráter de

brevidade da profissão que muitos jogadores não compreendem que o seu tempo já passou. O entrevistado afirma que

“...é difícil você falar assim: ‘ah,

vou parar!’(...) é uma barra, é uma coisa, mas você tem que, tem que ter consciência que vai chegar esse momento, e acho que, é assim, é a coisa mais desagradável (...) seja pro atleta, seja pra qualquer pessoa, e o cara chega nas tuas costas, não dá mais, nós não queremos mais você sabe, eu acho que o cara tem que ter consciência disso, no momento que ele chegou numa fase da vida dele...” (voz embargada ao

final da fala)

Perceber esse momento difícil, doloroso, “mais desagradável”, faz parte de toda e qualquer carreira, mas é possível acrescentar, que salvo jogadores que deixaram o esporte prematuramente por problemas físicos, os atletas que se encontram em atividade parecem obter na interação cotidiana com os demais colegas, técnicos e dirigentes a opinião de que está no seu momento de deixar a profissão de jogador de futebol. Fatores como a idade e o desempenho físico é que parecem ser determinantes para sua despedida dos gramados, mas essa decadência física é acompanhada de tristeza, sofrimento e frustração, afinal é o jogador que “tem que ter

consciência disso”, pois já não é possível

acompanhar seus companheiros.

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inovadores, corajosos, mais preparados fisicamente.

“a gente no Brasil tinha uma, uma

situação de que o jogador chegava aos trinta anos, ele tava velho né (...) e a minha geração acho que contribuiu sim, muito para isso, pro jogador como eu, Zico, Júnior, Dirceu, Cerezo, muitos jogadores chegaram, eu joguei até os trinta e oito anos entendeu, então quebrou essa coisa de trinta anos jogador brasileiro tá velho e tal, e acho que isso foi importante prá, prá essa geração, tá aí o Romário, já tá falando que ia parar com vinte e nove a cinco, seis anos atrás, ele falou que ia parar com vinte e nove, hoje ele já tem trinta e três, ele falou que vai jogar no mínimo mais dois, três anos, entendeu...”

O entrevistado compreende que é a partir de “sua” geração que as modificações no âmbito da idade começaram a ser possíveis, e que, se os jogadores contemporâneas são capazes de, nos dias atuais, se manterem ativos por um período maior se comparados com os atletas do passado, sua geração contribuiu para esse fato.

Neste sentido, a representação da despedida é compreendida como a pior possível, mas que está acompanhada de marcas em um tempo passado que foi glorioso e que acrescenta aos “novos” perspectivas melhores na vida de jogador. Bosi (1994) considera que a memória e sua substância social – a matéria lembrada – fazem parte de uma atividade de personificação do indivíduo: o que lembra e como lembra fazem surgir os significados de sua ação no passado,

possibilitando a recriação de sentidos que se atualizam no presente para o ator social.

CONSELHOS: A VOZ DE QUEM

SABE

“...o que eu tenho a dizer é isso,

não como, até como lição né, de vida, da, do meu dia-dia, às vezes eu costumo dizer pros jogadores que estão hoje no Vasco e tal: ‘pô, é ótimo viver esse momento aí, mas melhor ainda é saber administrar bem a coisa prá que no futuro vocês tenham uma vida mais tranqüila né, os filhos de vocês possam estar melhor direcionados’, então eu acho que é nesse sentido que eu coloco essas coisas...”

O entrevistado se coloca no papel social de quem tem algo importante a dizer. Sua fala procura mostrar o caminho produtivo para os jogadores, levando em consideração a sua experiência sobre o passado, servindo de exemplo e modelo a ser seguido pelos demais que estão começando em uma área na qual o entrevistado pode se considerar experiente, maduro, detentor de conhecimento.

Cohen (1999) ao abordar as questões que reforçam o conhecimento prático dos indivíduos em uma abordagem sobre a práxis social, considera que a produção da condutas sociais se demonstram a partir do desempenho qualificado dos atores nas interações cotidianas, contingentes e imediatas, reforçada pela habilidade lingüística do saber fazer e agir.

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considerados relevantes para ser ensinado para os demais ex-colegas da profissão.

“Então minha mensagem é

essa: ‘que saibam administrar, aproveitar bem a oportunidade, conviver com a fama, com o sucesso, com o dinheiro, mas ter uma vida regrada’, prá que ele possa no futuro desfrutar do sucesso, da fama e possa dar com o dinheiro que conquistou a grande fortuna que é a educação pros seus filhos, que possa servir do seu lado...”

Existe uma mensagem a ser deixada aos jogadores e esta se encerra de modo socialmente aceito e reforçado nos ideais de uma vida regrada, correta, socialmente desejável e irrepreensível. Neste sentido o entrevistado se reveste no papel de conselheiro e professor, na medida que passou e viveu por momentos que se aproximam da realidade atual dos jogadores que se encontram em atividade. O entrevistado considera que nem todas as pessoas poderão alcançar o estágio dentro do futebol que ele mesmo conseguiu, portanto parece existir a necessidade de ajudar seus companheiros por estarem também fora dos campos. A figura do ironista liberal defendida por Rorty (1989) considera que somos conduzidos em nossa cultura a manter um vocabulário contingente de ajuda ao semelhante. Ao nos tornarmos “bons” reafirmamos nossa vida em sociedade. O jogador de futebol que alcança notoriedade e sucesso, parece reafirmar a necessidade de se fazer alguma coisa pelo próximo em uma profissão desejada por muitos, mas que poucos podem realmente alcançar o topo.

CONCLUSÃO

O discurso do ex-atleta revela-nos alguns elementos de discussão sobre o que fazem os ex-jogadores de futebol. Lembranças, conselhos e ajuda aos pares significam formas encontradas por nosso entrevistado de manter contato com sua ex-profissão.

Neste sentido o ex-jogador se reveste de um conhecimento adquirido na prática de sua profissão e pelo sucesso que conseguiu alcançar. Ao falar de futebol, o ex-jogador nos mostrar como pode ser difícil a vida de que deixa o gramado, não somente pelo lado econômico, mas também pelo lado social e afetivo. O papel social que ainda pode lhe restar está representado na lembrança e nos conselhos ao jogadores mais novos, criando espaços em que possa reviver desta forma, as emoções do futebol.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOSI, E. (1995). Memória e sociedade: lembrança de velhos. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras.

CASTELLS, M. (1999). O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra.

COHEN, I. J. (1999). Teoria da estruturação e práxis social. In: GIDDENS, A. & TURNER, J. (1999). Teoria Social Hoje. São Paulo: UNESP. p. 393- 446.

GUARESCHI, P. A. & JOVCHELOVITCH, S. (1995). Textos

em representações sociais. Petrópolis: Vozes.

HERITAGE, J. C. (1999). Etnometodologia. In: GIDDENS, A. & TURNER, J. (1999). Teoria Social Hoje. São Paulo: UNESP. p. 321- 392.

RORTY, R. (1989). Contingency, irony, and solidarity. Cambridge University Press.

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