• Nenhum resultado encontrado

Medicamentos a Partir de Plantas is No Brasil_noPW

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Medicamentos a Partir de Plantas is No Brasil_noPW"

Copied!
133
0
0

Texto

(1)
(2)
(3)

22

MEDICAMENTOS A PARTIR

MEDICAMENTOS A PARTIR

DE

DE

PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL

PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL

Equipe Principal:

Equipe Principal:

Sérgio H. Ferreira (Supervisor)

Sérgio H. Ferreira (Supervisor)

Lauro E. S. Barata (Coordenador)

Lauro E. S. Barata (Coordenador)

Sérgio L. M. Salles Fº

Sérgio L. M. Salles Fº

Sérgio R. R. de Queiroz

Sérgio R. R. de Queiroz

Auxiliares:

Auxiliares:

Rosana Corazza (auxiliar de pesquisa)

Rosana Corazza (auxiliar de pesquisa)

Reus Coutinho Farias (consultor)

Reus Coutinho Farias (consultor)

Projeto financiado pela Academia Brasileira de Ciências e

Projeto financiado pela Academia Brasileira de Ciências e

Ministério da Ciência e Tecnolgia-MCT (1997)

Ministério da Ciência e Tecnolgia-MCT (1997)

Livro Publicado pela Academia Brasileira de Ciências

Livro Publicado pela Academia Brasileira de Ciências

1998

1998

OBS: A edição deste livro está esgotada. Uma nova edição está sendo preparada. Cópias cuja OBS: A edição deste livro está esgotada. Uma nova edição está sendo preparada. Cópias cuja comercialização é proibida, podem ser feitas á partir deste arquivo. É vedado o uso do todo ou de comercialização é proibida, podem ser feitas á partir deste arquivo. É vedado o uso do todo ou de parte desta obra, sem a expressa licença do seu Coordenador (

parte desta obra, sem a expressa licença do seu Coordenador (lbarata@iqm.unicamp.brlbarata@iqm.unicamp.br). Pede-se). Pede-se citar a fonte.

(4)

MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL

MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL

SUMÁRIO SUMÁRIO 1.

1. INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO 11

2.

2. A A INDÚSTINDÚSTRIA RIA FARMAFARMACÊUTICA CÊUTICA E E DE DE FITOTERÁPIFITOTERÁPICOS COS 44 2.1

2.1 As As mudanças mudanças recentes recentes na na indústria indústria farmacêutica farmacêutica mundial mundial 44 2.2

2.2 A A indústria indústria de de fitoterápicos: fitoterápicos: quadro quadro internacional internacional 66 2.3

2.3 A A produção produção brasileira brasileira de de medicamentos medicamentos a a partir partir de de plantas plantas medicinais medicinais 1212 3.

3. A A PESQUISA PESQUISA DE DE MEDICAMMEDICAMENTOS ENTOS A A PARTIR PARTIR DE DE PLANTAS PLANTAS 2222 3.1

3.1 O O processo processo de de desenvolvimdesenvolvimento ento de de novos novos medicamentomedicamentos s 2222 3.2

3.2 A A pesquisa pesquisa científica científica em em plantplantas as medicinais medicinais no no Brasil Brasil 2828 3.3

3.3 Avaliação Avaliação dos dos estudos estudos experimentais experimentais com com plantas plantas medicinais medicinais 3232 4. A AÇÃO GOVERNAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO

4. A AÇÃO GOVERNAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE

DE FITOFÁRMACOS FITOFÁRMACOS 5151

5. ESTRATÉGIAS PARA DESENVOLVER A PRODUÇÃO DE 5. ESTRATÉGIAS PARA DESENVOLVER A PRODUÇÃO DE

MEDICAMENTOS

MEDICAMENTOS A A PARTIR PARTIR DE DE PLANTAPLANTAS S MEDICINAIS MEDICINAIS 6565 5.1

5.1 Quem Quem são são os os atores atores e e como como eles eles interagem interagem 6565 5.2 Vantagens e obstáculos para o desenvolvimento da área de produtos

5.2 Vantagens e obstáculos para o desenvolvimento da área de produtos

naturais 67

naturais 67

5.3 Proposta para uma estratégia para desenvolver a produção de 5.3 Proposta para uma estratégia para desenvolver a produção de

medicamentos

(5)

MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL 1. INTRODUÇÃO

A nossa proposta inicial era de realizar uma análise ampla dos problemas associados ao desenvolvimento de medicamentos no Brasil com o intuito de promover o incentivo desta área. Esta proposta se impunha pelo fato do Brasil, apesar da enorme diferença de poder aquisitivo de suas camadas sociais, encontrar-se, já há alguns anos, entre os dez maiores consumidores de medicamentos do mundo.

Neste estudo, todavia, restringimos nosso enfoque para o desenvolvimento de medicamentos a partir de plantas medicinais. Em parte, porque em análise anteriormente realizada sobre a competitividade da indústria de fármacos brasileira (Coutinho e Ferraz, 1994), ficou demonstrado que o Brasil teria enormes dificuldades de atuar na área de medicamentos sintéticos. Além disso, a recente implantação da lei de patentes enfraqueceu substancialmente as perspectivas da indústria química brasileira.

Grande parte dos medicamentos que estão no mercado originam-se de produtos naturais, em especial, de plantas. Entre as vinte drogas mais vendidas nos EUA em 1988, apenas sete não derivavam diretamente de produtos naturais. Ainda assim, estes participaram em algum momento da história farmacológica dessas drogas. Naturalmente, o Brasil, com a sua enorme biodiversidade, pode contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos produzidos a partir de plantas. O grande problema consiste em saber que parcela desse esforço de desenvolvimento caberá aos cientistas e às empresas brasileiras.

A nação já fez um considerável investimento na formação de investigadores e montagem de laboratórios. Houve um estímulo continuado no estudo de propriedades farmacológicas, na sua maioria, tentando comprovar a validade do uso popular de plantas medicinais. A idéia que presidia estes estudos era de utilizar os produtos naturais como substituição barata à terapia convencional. Embora várias plantas estejam sendo utilizadas com fins terapêuticos (e mesmo comercializadas) a grande maioria não possui dados científicos que comprovem a sua eficácia e seu espectro toxicológico no homem, assim como garantia de qualidade do produto ou de sua produção. Apesar de três ou quatro décadas de estudos, pode-se dizer que até esta data não houve um processo coordenado de todos os atores do processo (indústria, farmacólogos, fitoquímicos, químicos de síntese, toxicólogos, investigadores clínicos, etc) visando o desenvolvimento de drogas a partir de plantas. Permanece a questão: até quando um país com a rica biodiversidade como a do Brasil continuará deixando de explorar este potencial para descoberta de novos medicamentos?

(6)

Estas considerações fizeram com que enfocássemos neste trabalho os aspectos da P&D, produção e ações governamentais relacionadas ao desenvolvimento de medicamentos a partir de plantas medicinais. Espera-se que este estudo possa fornecer a pesquisadores, empresas e policy-makers, entre outros, dados para tomar decisões de investimento em termos de prazos, recursos, projetos e esforços nessa área.

Neste relatório foi levantado um conjunto amplo de dados quantitativos através de pesquisa bibliográfica e consulta a bases de dados informatizadas. Essas informações foram organizadas em um banco de dados bibliográficos, com acesso por assunto ou por autor, cuja estrutura é apresentada no Anexo 1.

Também fez parte da metodologia utilizada no trabalho a aplicação de questionários (vide Anexo 2) dirigidos a empresas, cientistas e órgãos do governo. O objetivo básico destes questionários era obter dados qualitativos a respeito do quadro nacional na produção, na pesquisa e no apoio do governo a atividades na área de plantas medicinais. Esse mesmo objetivo foi também buscado através de entrevistas com empresários, cientistas e agentes governamentais, visando reforçar alguns pontos deste relatório que poderiam vir a ser polemizados.

Uma grande dificuldade que pode ser percebida durante a pesquisa foi a falta de dados estatísticos da área de negócios, bem como problemas para extrair informações de fontes oficiais. As empresas, além de não disporem dos dados, têm uma grande dificuldade de produzi-los quando instadas a fazê-lo.

Com relação à estrutura do trabalho, no capítulo 2 discute-se a indústria de fitoterápicos dentro de seu contexto, a indústria farmacêutica. Primeiramente, são apresentadas algumas das principais transformações mundiais por que vem passando esta última. Em seguida, analisa-se o quadro internacional da indústria de fitoterápicos. Por fim, a análise se volta para o caso brasileiro.

O capítulo 3, também dividido em três seções, analisa a pesquisa de medicamentos a partir de plantas. Na primeira seção, destaca-se o processo de desenvolvimento de novos medicamentos, de modo geral. A segunda trata da pesquisa científica em plantas medicinais no Brasil. Finalmente, é feita uma avaliação de estudos experimentais com plantas medicinais produzidos nas universidades brasileiras.

O capítulo 4 discute as principais ações governamentais para o desenvolvimento de fitofármacos.

O capítulo final pretende esboçar uma estratégia para desenvolver a produção de medicamentos a partir de plantas medicinais no Brasil.

(7)

Definições utilizadas neste trabalho:

Plantas medicinais

São plantas que têm atividade biológica, possuindo um ou mais princípios ativos, úteis à saúde humana. Muitas delas são hoje usadas em cosméticos e neste caso se denominam cosmecêuticos (do inglês,cosmetics+ pharmaceuticals).

Fitoterápicos ou Fitomedicamentos

A expressão fitoterapia é atribuída a medicamentos originados exclusivamente de material botânico integral ou seus extratos usados com o propósito de tratamento médico1.

Fitoterápicos são classificados como medicamentos e como suplemento alimentar. Podem ser:

1) Plantas Medicinais - no Brasil são consideradas como produtos não-éticos e tratados em muitos casos como suplemento alimentar. Podem ser adquiridas em Farmácias de Manipulação, Supermercados ou Feiras Livres; são regulamentadas pelo DINAL (Ministério da Saúde); o controle de qualidade é precário ou não existente; não há necessidade de registro no MS ou qualquer outro órgão controlador para o comércio e venda de plantas medicinais, a granel ou embalados como chás em saquinhos. Esta situação deve mudar em janeiro de 2000 com a entrada em vigor da Portaria nº 6, de 31 de janeiro de 1995, da Secretaria de Vigilância Sanitária do MS.

2) Extratos de Plantas - são muitas vezes produzidos por empresas não cadastradas. Produtos técnicos produzidos por empresas respeitadas (ex. Sanofi, Sanrisil) são adquiridas por outras empresas que frequentemente adulteram o produto final ao consumidor.

Fitofármaco

É a substância medicamentosa isolada de extratos de plantas, como a rutina e a pilocarpina, alguns dos raros fitofármacos produzidos no Brasil.

1 Diferentes outras expressões aparecem em jornais e revistas estrangeiros para designar os medicamentos originados de

(8)

2. INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E DE FITOTERÁPICOS 2.1 As mudanças recentes na indústria farmacêutica mundial

A indústria farmacêutica caracteriza-se pela alta tecnologia e rápido crescimento. Nos anos recentes ela tem sofrido intensa pressão por parte dos governos dos países industrializados, preocupados com os custos de seus sistemas de saúde. Em particular, os EUA, cujos gastos com atendimento à saúde chegaram a 14% do PNB em 1994 - 40% a mais que Canadá, Japão ou UE -, vêm forçando uma redução dos preços dos medicamentos. Estes não são, certamente, os únicos responsáveis pelos elevados gastos em saúde, mas podem dar sua contribuição para reduzir os custos na área.

Desse modo, as margens de lucro da indústria farmacêutica - usualmente bastante elevadas - vêm sendo comprimidas. A isto soma-se ainda o aumento dos custos de inovação. O custo médio da P&D de um novo medicamento passou de US$ 1,5-2,0 milhões no período 1956-62 para US$ 20-22 milhões entre 1966 e 1972 (dólar de 1973), segundo Rigoni (1985). Em 1985 o autor estimava esse custo em torno de US$ 100 milhões, valor que no início da década de 90 teria mais do que dobrado2. As despesas em P&D como percentagem do faturamento passaram de algo como 10% nos anos 60 e 70 para um valor acima de 15% nos anos 80. Como se pode ver no Quadro 2.1, a média do gasto em P&D nos principais países atingia quase 16% em 1991, com números significativamente maiores em alguns casos (Reino Unido, Suíça e Suécia).

Quadro 2.1 - Gasto em P&D farmacêutica no mundo em 1991

País Gasto em P&D

(US$ milhões) % das vendas (1)

EUA 9.056 18,39 Japão 4.665 12,11 Alemanha 3.126 16,13 Reino Unido 2.845 28,17 França 2.529 14,82 Suíça 1.644 28,77 Itália 1.545 10,36 Suécia 617 23,23 Países baixos 285 8,60 Bélgica 272 8,32 Dinamarca 262 15,52 Espanha 167 2,80 Total 27.013 15,72

(1) vendas domésticas mais exportação Fonte: Scrip’s Yearbook, 1993.

(9)

O Quadro 2.2 mostra o gasto em P&D por empresa, confirmando os dados apresentados acima.

Quadro 2.2 - As 11 maiores companhias farmacêuticas em gasto em P&D, em 1991-92(1)

Companhia País Vendas Farmacêuticas (US$ milhões) Gasto em P&D (US$ milhões) P&D como % de vendas Merck (2) EUA 7225,1 1100,0 15,2

Glaxo Reino Unido 7247,0 1052,7 14,5

Roche Suíça 4119,9 953,3 23,1

Bristol-Myers Squibb EUA 5908,0 845,0 14,3

Hoechst (3) Alemanha 6263,9 785,8 12,5

Bayer (4) Alemanha 5306,4 688,8 13,0

Ciba-Geigy (5) Suíça 4052,3 677,8 16,7

Sandoz Suíça 4440,7 675,0 15,2

Smithkline Beecham EUA /Reino Unido 4370,1 654,6 15,0

Johnson & Johnson EUA 3795,0 569,0 15,0

Boehringer Ingelheim Alemanha 2534,5 462,8 18,3

(1) Números para ano terminado em dez/91, exceto Glaxo (jun/92) e Johnson&Johnson (jan/92) (2) estimativa

(3) inclui cosméticos (4) inclui diagnósticos (5) somente produtos éticos Fonte: Scrip’s Yearbook, 1993.

O efeito combinado dos gastos crescentes com P&D e aperto nas margens de lucro vêm estimulando uma onda de fusões e incorporações na indústria farmacêutica, iniciada na década de 80 e que prossegue até hoje. O Quadro 2.3 mostra as 15 maiores empresas do setor em 1991. Aparecem nesta lista a terceira (Bristol-Myers Squibb), sétima (SmithKline Beecham) e décima-segunda (Rhône-Poulenc Rorer) como resultado de fusões. Desde então a Glaxo comprou a Welcome, a Ciba-Geigy (quinta da lista) fundiu-se com a Sandoz (sexta) e a Roche comprou a Sintex, para ficar nos maiores negócios apenas.

Quadro 2.3 - As 15 maiores companhias farmacêuticas em vendas no mundo, 1991-92 (1)

Companhia Vendas Farmacêuticas (US$ milhões) % do total de vendas

1 Glaxo (UK) 7.247 100,0

2 Merck (US) 7.225 84,0

3 Bristol-Myers Squibb (US) 5.908 52,9

4 Hoechst (Ger) 5.429 19,1

5 Ciba-Geigy (Sw) 4.612 31,4

6 Sandoz (Sw) 4.441 47,4

7 SmithKline Beecham (UK/US) 4.370 52,7

8 Bayer (Ger) 4.309 16,9

9 Roche (Sw) 4.120 51,6

10 Eli Lilly (US) 4.031 70,4

11 American Home (US) 4.018 56,8

12 Rhône-Poulenc Rorer (Fra/US) 3.824 100,0

13 Johnson & Johnson (US) 3.795 30,5

14 Pfizer (US) 3.771 54,3

15 Abbott (US) 3.512 51,1

(1) Números para ano terminado em dez/91, exceto Glaxo (jun/92) e Johnson&Johnson (jan/92) Fonte: Scrip’s Yearbook, 1993.

(10)

Pode-se afirmar, portanto, que a indústria farmacêutica internacional passa por transformações importantes. As fusões e incorporações estão criando empresas gigantescas, com enorme capacidade de investimento em P&D, tornando ainda mais difícil a participação nesse mercado de países como o Brasil. Conforme apontado em Queiroz (1993), a competitividade da indústria químico-farmacêutica brasileira é praticamente nula no caso dos produtos patenteados. O aumento de escala da P&D deixa ainda mais remota a possibilidade de reverter esse quadro em um horizonte de tempo previsível.

Além disto, as empresas buscam também novas oportunidades de diversificação e, como veremos adiante, o segmento de fitoterápicos tem se mostrado atraente.

2.2 A indústria de fitoterápicos: quadro internacional

 Mercado mundial de fitoterápicos: dimensões

As estimativas de mercado para produtos farmacêuticos derivados de plantas variam consideravelmente em função das distintas definições adotadas em cada análise. Tomando-se, por exemplo, o trabalho de Jörg Grünwald (1995), baseado em dados do IMS e do Herbal Medical Database, o mercado mundial de fitoterápicos (herbal remedies) está avaliado em US$ 12,4 bilhões, divididos segundo o Quadro 2.4. Isto representaria aproximadamente 5% do mercado mundial de produtos farmacêuticos.

Quadro 2.4 - Mercado mundial de fitoterápicos

Região US$ milhões

União européia 6.000 Resto da Europa 500 Ásia 2.300 Japão 2.100 EUA 1.500 Total 12.400

Fonte: IMS 1994 e The Herbal Medical Database 1993, apud Jörg Grünwald (1995)

Segundo outras estimativas, este mercado poderia ser bem maior. O Departamento de Comércio americano apresenta, apenas para os EUA, os seguintes dados de vendas demedicinals/botanicals:

(11)

Quadro 2.5 - Mercado americano de produtos farmacêuticos e de fitoterápicos

Item 1987 1988 1989 1990 1991 1992(2) 1993(3) Vendas (1) 35.283 39.532 43.796 47.832 51.880 55.607 58.428 Medicinals & botanicals 4.224 4.948 5.393 5.789 6.647 6.898 7.116 (1) Valor de produtos classificados na indústria farmacêutica produzidos por todas as indústrias. (2) Estimativa, exceto exportações e importações.

(3) Estimativa

Fonte: Bureau of the Census - U.S. Department of Commerce

Estes dados indicam valores quase cinco vezes maiores para o mercado dos EUA em relação aos dados do Quadro 2.4. Pode estar havendo diferenças nas definições empregadas pelo Departamento de Comércio dos EUA (medicinals/botanicals) e por Jörg Grünwald (herbal remedies). Mas a discrepância entre os dados também pode decorrer do fato de que este último autor utiliza dados de venda no varejo (  Retail Sales Price - RSP), que deixam de incluir vendas efetivadas através de outros canais ou vendas dirigidas a outros segmentos da indústria , inclusive exportações. De todo modo, não se pode ignorar as dificuldades na delimitação do mercado de fitoterápicos.

As diferenças entre países são também pronunciadas. A Alemanha é, de longe, o maior mercado mundial de herbal drugs, com vendas de US$ 3 bilhões, isto é, metade do mercado da UE apresentado no Quadro 2.4, e um consumo anual por habitante de US$ 39. A França, com US$ 1,6 bilhões e 26,5% do mercado da UE, vem em segundo.

Em termos do peso desse segmento no conjunto da indústria farmacêutica as variações também são grandes. Na Alemanha, os fitoterápicos representavam aproximadamente 25% do mercado farmacêutico total em 1990. Naquele país, 27% dos medicamentos que não exigiam receita médica (OTC) em 1993 eram produtos de plantas, cabendo aí a divisão entre os que eram receitados e reembolsados pelo sistema de seguridade de saúde (12%) e desse modo modo poderiam ser classificados como “semi-éticos”, e os que eram OTC “puros” (15%).

Crescimento do mercado de fitoterápicos

In 1993, as vendas de medicinals/botanicals nos EUA aumentaram mais de 7%, atingindo US$ 7 bilhões (aumento de 1,8% em dólares constantes). Como aponta o Departamento de Comércio dos EUA (1994), “o mercado americano de herbal products é relativamente novo, tendo iniciado seu crescimento nos anos 60. Desde essa época, a indústria deixou uma posição marginal para se integrar ao mainstream do mercado biomédico. Com o crescente interesse do consumidor em produtos naturais, as companhias estão ampliando a adição de ingredientes botânicos em seus produtos...à medida que a indústria (farmacêutica) continua a procurar meios de conter preços, a participação de mercado dos medicamentos de plantas deverá crescer”.

(12)

Esta é também a posição de Jörg Grünwald acerca do potencial dos fitoterápicos. Na Europa o mercado destes produtos está crescendo a uma taxa mais elevada do que a do mercado farmacêutico como um todo, como mostra o Quadro 2.6.

Quadro 2.6 - Crescimento do mercado de fitoterápicos em países selecionados em 1993 País % Espanha 35 Alemanha 15 Itália 11 Reino Unido 10

Fonte: Nicolas Hall Company (1994)

O Quadro 2.7 mostra que esse crescimento, além de expressivo, é bastante generalizado:

Quadro 2.7 - Taxas de crescimento anual por região (%)

Região Crescimento 1985-1991 Crescimento 1991-1992 Projeção 1993-1998 EUA 10 12 12 União Européia 10 5 8 Resto da Europa 12 8 12 Japão 18 15 15 Sudeste da Ásia 15 12 12 India e Paquistão 12 15 15

Fonte: The Herbal Medical Database 1993, apud Jörg Grünwald (1995)

Um fator importante para explicar esse dinamismo é o aparecimento da “onda verde”. Desde o final dos anos 60, com o movimento hippie, grupos diferenciados da sociedade começaram a buscar modos de vida mais em harmonia com a natureza e processos e produtos mais naturais. Nos anos 80, o mercado de consumo na Europa e EUA absorve esta tendência que leva a sociedade a exigir alimentos sem contaminação de pesticidas e outras substâncias tóxicas. Este movimento da sociedade conhecido como “onda verde” (green wave) está ampliando significativamente o interesse em produtos terapêuticos derivados de plantas como uma alternativa “natural” aos medicamentos sintéticos com sua costumeira lista de efeitos colaterais. Os consumidores típicos dessa medicina complementar, a maior parte deles com níveis educacionais e de renda acima da média (Jörg Grünwald, 1995), crêem que ela pode aumentar a resistência a doenças. Esta “onda” tem levado empresas de distribuição de plantas medicinais na Europa a buscar em toda parte “produtos novos” para atender o mercado em expansão, inclusive para aplicação em cosméticos.

(13)

Características do mercado Características do mercado

A Europa é bastante representativa do mercado global de fitoterápicos, respondendo por A Europa é bastante representativa do mercado global de fitoterápicos, respondendo por aproximadamente metade das vendas registradas no mundo

aproximadamente metade das vendas registradas no mundo33. Naquela região, os medicamentos. Naquela região, os medicamentos originados de plantas distribuem-se pelas principais categorias terapêuticas conforme o Gráfico 2.1.

originados de plantas distribuem-se pelas principais categorias terapêuticas conforme o Gráfico 2.1.

Gráfico 2.1 - Categorias terapêuticas de fitomedicamentos na Europa Gráfico 2.1 - Categorias terapêuticas de fitomedicamentos na Europa

Cardiovascular Cardiovascular 28% 28% Digestivo Digestivo 15% 15% Respiratório Respiratório 15% 15% Uso tópico Uso tópico 7% 7% Hipnótico/sedativo Hipnótico/sedativo 9% 9% Tônicos Tônicos 14% 14% Outros Outros 12% 12% Fonte: Jörg Grünwald (1995) Fonte: Jörg Grünwald (1995)

O mercado é, portanto, razoavelmente bem distribuído entre as classes terapêuticas, analogamente O mercado é, portanto, razoavelmente bem distribuído entre as classes terapêuticas, analogamente ao mercado farmacêutico em geral (o que não significa que as distribuições entre ambos sejam as ao mercado farmacêutico em geral (o que não significa que as distribuições entre ambos sejam as mesmas). A predominância dos produtos com efeito cardiovascular também é coerente com o mesmas). A predominância dos produtos com efeito cardiovascular também é coerente com o quadro nosológico do mundo desenvolvido, onde as doenças crônico-degenerativas ganham quadro nosológico do mundo desenvolvido, onde as doenças crônico-degenerativas ganham importância com o progressivo envelhecimento da população.

importância com o progressivo envelhecimento da população.

Um fato muito importante com relação ao mercado de fitoterápicos é a entrada de novos Um fato muito importante com relação ao mercado de fitoterápicos é a entrada de novos participantes, notadamente grandes empresas farmacêuticas. Isto está associado ao ponto levantado participantes, notadamente grandes empresas farmacêuticas. Isto está associado ao ponto levantado acima acerca da aproximação ao

acima acerca da aproximação ao mainstreammainstream. Na Europa o recurso à medicina complementar está. Na Europa o recurso à medicina complementar está em franco progresso, sendo que os fitomedicamentos bem documentados cientificamente são cada em franco progresso, sendo que os fitomedicamentos bem documentados cientificamente são cada vez mais aceitos e apreciados por pacientes e médicos. Na Alemanha, em particular, mais de 80% vez mais aceitos e apreciados por pacientes e médicos. Na Alemanha, em particular, mais de 80% dos médicos utilizam regularmente medicamentos a base de plantas. O Tebonin (extrato de

dos médicos utilizam regularmente medicamentos a base de plantas. O Tebonin (extrato de GinkgoGinkgo biloba

biloba), da Dr. Schwabe’s, principal produtora alemã de fitoterápicos, é o produto farmacêutico), da Dr. Schwabe’s, principal produtora alemã de fitoterápicos, é o produto farmacêutico mais vendido naquele país.

mais vendido naquele país.

33 Vale observar que boa parte do comércio de fitoterápicos nos países periféricos não é formalizado. ConsiderandoVale observar que boa parte do comércio de fitoterápicos nos países periféricos não é formalizado. Considerando

ainda que esses países devem consumir proporcionalmente mais fitoterápicos que os países desenvolvidos, pode-se ainda que esses países devem consumir proporcionalmente mais fitoterápicos que os países desenvolvidos, pode-se concluir que o valor das

(14)

Nos EUA, apesar de o próprio Departamento de Comércio ter observado que desde os anos 60 a Nos EUA, apesar de o próprio Departamento de Comércio ter observado que desde os anos 60 a indústria de

indústria de herbal productsherbal products vem deixando sua posição marginal, a situação ainda difere bastante. Avem deixando sua posição marginal, a situação ainda difere bastante. A medicina complementar e a medicina convencional continuam pertencendo a mundos distintos. medicina complementar e a medicina convencional continuam pertencendo a mundos distintos. Mas, como aponta Jörg Grünwald (1995), essa situação deve mudar rapidamente à medida que as Mas, como aponta Jörg Grünwald (1995), essa situação deve mudar rapidamente à medida que as autoridades de saúde daquele país vão se apercebendo da crescente demanda da população por autoridades de saúde daquele país vão se apercebendo da crescente demanda da população por alternativas seguras de tratamento médico. As diferenças que ainda permanecem podem ser alternativas seguras de tratamento médico. As diferenças que ainda permanecem podem ser ilustradas pela Figura 2.1.

ilustradas pela Figura 2.1.

Figur

Figura 2.1 - Medicinas convencional e complementar a 2.1 - Medicinas convencional e complementar nos EUA nos EUA e Europae Europa

EUA EUA

Medicina

Medicina convencional convencional Fito Fito MedicMedicininaa medicamentos complementar medicamentos complementar

Europa Europa

Medicina

Medicina convencional convencional Fito Fito MedicinaMedicina

medicamentos complementar

medicamentos complementar

Fonte: Jörg Grünwald (1995) Fonte: Jörg Grünwald (1995)

Como sugere o esquema acima para o caso europeu, “fitomedicamentos podem ser vistos como Como sugere o esquema acima para o caso europeu, “fitomedicamentos podem ser vistos como fechando a brecha entre a medicina complementar de base tradicional e a medicina convencional fechando a brecha entre a medicina complementar de base tradicional e a medicina convencional altamente científica” (Jörg Grünwald, 1995). Como mostra a Figura 2.1 esta ligação é melhor altamente científica” (Jörg Grünwald, 1995). Como mostra a Figura 2.1 esta ligação é melhor estabelecida no sistema de saúde europeu. Na Alemanha, por exemplo, 80% dos médicos estabelecida no sistema de saúde europeu. Na Alemanha, por exemplo, 80% dos médicos prescrevem regularmente preparações fitoterápicas. Na Europa a fitoterapia vem crescendo prescrevem regularmente preparações fitoterápicas. Na Europa a fitoterapia vem crescendo significativamente, como mostrado no Quadro 2.7, revelando uma aceitação cada vez maior não só significativamente, como mostrado no Quadro 2.7, revelando uma aceitação cada vez maior não só dos pacientes mas também dos médicos. Já nos EUA a situação da medicina convencional e da dos pacientes mas também dos médicos. Já nos EUA a situação da medicina convencional e da fitoterápica é de flagrante separação, sendo esta última compreendida como uma medicina à parte, fitoterápica é de flagrante separação, sendo esta última compreendida como uma medicina à parte,

(15)

apenas complementar. Esta situação de confronto tem raízes históricas e na desinformação por parte apenas complementar. Esta situação de confronto tem raízes históricas e na desinformação por parte dos médicos americanos.

dos médicos americanos.

 Mudanças na estrutura da

 Mudanças na estrutura da indústria de fitoterápicoindústria de fitoterápicoss

A aproximação entre as duas práticas médicas acima mencionada é uma das razões principais para o A aproximação entre as duas práticas médicas acima mencionada é uma das razões principais para o movimento que se observa desde a década passada das grandes multinacionais farmacêuticas movimento que se observa desde a década passada das grandes multinacionais farmacêuticas adquirindo empresas produtoras de fitoterápicos. O Quadro 2.8 mostra as recentes incorporações adquirindo empresas produtoras de fitoterápicos. O Quadro 2.8 mostra as recentes incorporações destas últimas por companhias do setor farmacêutico.

destas últimas por companhias do setor farmacêutico.

Quadro 2.8 - Aquisições recentes de empresas de fitoterápicos por Quadro 2.8 - Aquisições recentes de empresas de fitoterápicos por

multinacionais farmacêuticas multinacionais farmacêuticas

Multinacional

Multinacional farmacêutica farmacêutica Empresa Empresa prodprodutora utora de de fitoterápfitoterápicosicos American

American Home Home Products Products Dr. Dr. Much Much (Alemanha)(Alemanha) Boehringer

Boehringer Ingelheim Ingelheim Pharmaton Pharmaton (Suíça)(Suíça) Quest (Canadá) Quest (Canadá) Boo

Boots ts Kanoldt Kanoldt (Alemanha)(Alemanha) Bausch

Bausch and and Lomb Lomb Dr. Dr. Mann Mann (Alemanha)(Alemanha) Ciba-Geigy

Ciba-Geigy Valverde Valverde (Suíça)(Suíça) D

Deegguussssaa AAsstta a MMeeddiicca a ((AAlleemmaannhhaa)) Ferrosan

Ferrosan Healthcrafts Healthcrafts (Reino (Reino Unido)Unido) Nature’s Best (Reino Unido) Nature’s Best (Reino Unido) FFuujjiissaawwaa KKlliinngge e PPhhaarrmma a ((AAlleemmaannhhaa)) Hoechst

Hoechst Iberica Iberica S.A. S.A. LaboratLaboratórios órios VeteriVeterin n S. S. A.A. Johnson

Johnson & & Johnson/Merck Johnson/Merck Woelm Woelm PharmPharma a (Alem(Alemanha)anha) Merck

Merck & & Co. Co. Britcair Britcair Ltd. Ltd. (Reino (Reino Unido)Unido) Pfizer

Pfizer Mack Mack (Alemanha)(Alemanha) Rhôn

Rhône-Poe-Poulenc ulenc Rorer Rorer Nattermann Nattermann (Alemanha)(Alemanha) San

Sandoz doz Dietisa Dietisa S. S. A. A. (Espanha)(Espanha) Sanofi

Sanofi Plantorgan Plantorgan (Alemanha)(Alemanha) Searle

Searle Heumann (Alemanha)Heumann (Alemanha) SmithKline

SmithKline Beecham Beecham Fink Fink (Alemanha)(Alemanha) Solva

Solvay y Kali Kali Chemie Chemie (C)(C)

Fontes: Jörg Grünwald (1995) e McAlpine, Thorpe & Warrier (1992) Fontes: Jörg Grünwald (1995) e McAlpine, Thorpe & Warrier (1992)

Um grande número de multinacionais farmacêuticas já vendia medicamentos de plantas, como se Um grande número de multinacionais farmacêuticas já vendia medicamentos de plantas, como se pode ver no Quadro 2.9:

pode ver no Quadro 2.9:

Quadro 2.9 - Vendas de fitoterápicos de empresas Quadro 2.9 - Vendas de fitoterápicos de empresas

farmacêuticas selecionadas farmacêuticas selecionadas

Empresa

Empresa farmacêutfarmacêutica ica Vendas Vendas de de fitoterápicosfitoterápicos em 1990 (US$ milhões) em 1990 (US$ milhões) Rhôn

Rhône-Poe-Poulenc ulenc Rorer Rorer 5252 Johnson

Johnson & & Johnson Johnson 25-3025-30

FFuujjiissaawwaa 2222 Fisons 22 Fisons 22 SSaannooffii//SStteerrlliinngg 2211 Sandoz 9 Sandoz 9

Fonte: Scrip, nº 1756, set/92 Fonte: Scrip, nº 1756, set/92

(16)

A novidade está no maior envolvimento dessas empresas com a indústria de fitomedicamentos, expandindo a atuação nessa direção e/ou adquirindo empresas já existentes.

Não menos importante é o efeito dessa entrada das multinacionais farmacêuticas em termos de revolucionar as técnicas de marketing e distribuição do setor de medicamentos de plantas. Muitas empresas desse segmento adquiriram sofisticada capacitação tecnológica mas não dispõem de capital para comercializar seus produtos em nível mundial. Surge então uma oportunidade vislumbrada pelas companhias farmacêuticas que compram essas empresas, rebatizam seus produtos e fazem seu marketing e comercialização através da enorme rede de que já dispõem.

O resultado esperado é, portanto, uma maior profissionalização da área de produtos naturais, reforçada pela abordagem crescentemente científica que vem recebendo. Diversos desses produtos começam a ser licenciados para venda no mercado ético, que exige prescrição médica, a partir de estudos científicos. Por exemplo, o “Efamol” (óleo de Evening Primrose), para tratamento de eczema, a partir de pesquisas da equipe de Sir James Black (Prêmio Nobel por suas pesquisas com beta-bloqueadores na ICI). É também o caso do “Kwai Garlic”, para manutenção da circulação das artérias coronárias, cuja validade foi sustentada por mais de vinte testes clínicos na Europa.

Em suma, a indústria internacional de fitoterápicos está passando por um processo de transformação importante. Além da expansão do mercado de seus produtos, está havendo uma aproximação das práticas das empresas farmacêuticas tanto no que diz respeito a atividades técnicas e científicas como nas de produção e marketing. Aliás, em diversos casos essa aproximação tem sido causada simplesmente pela absorção de empresas tradicionais de fitoterápicos por grandes multinacionais do setor farmacêutico.

A principal lição que parece ficar desse processo é a de que a fase do “amadorismo” na área dos produtos naturais está sendo deixada para trás rapidamente. É bastante provável que as empresas que não promoverem mudanças no sentido apontado enfrentem dificuldades de sobreviver no futuro ou, na melhor das hipóteses, deixem de usufruir do dinamismo que deverá continuar caracterizando o mercado de fitomedicamentos pelos próximos anos.

2.3 A produção brasileira de medicamentos a partir de plantas medicinais

Cabe agora mostrar o quadro nacional na área de fitoterápicos e fitofármacos. Inicialmente, vamos apresentar alguns dados básicos a respeito de faturamento, comércio exterior, principais produtos e produtores. Ao final, buscaremos avaliar como esse quadro pode ser impactado pelas mudanças internacionais discutidas acima.

(17)

Em 1994 as vendas de medicamentos em farmácia somaram US$ 3.831 milhões, dos quais US$ 212 milhões, em torno de 5,5% daquele valor, correspondiam a produtos contendo exclusivamente princípios ativos de origem vegetal (ver Anexo 3). Tomando como base esse percentual e considerando um mercado global de produtos farmacêuticos de US$ 6.410 milhões naquele ano4, chega-se a US$ 355 milhões como estimativa do mercado de medicamentos produzidos a partir de plantas no Brasil. Se incluirmos ainda os medicamentos com princípios ativos de origem vegetal associados a princípios ativos de outra natureza podemos concluir que o mercado é ainda maior do que esta estimativa5.

Como mostra o Quadro 2.10, os 25 principais medicamentos contendo apenas princípios ativos de origem vegetal venderam em farmácias US$ 145 milhões (representando 68% do total de vendas desse tipo de produto).

4 A diferença de US$ 2.579 milhões entre o mercado global de US$ 6.410 e os US$ 3.831 milhões vendidos em

farmácia corresponde a consumo em hospitais e postos de saúde, distribuição governamental, etc.

5 As vendas de medicamentos associados somadas às vendas dos não-associados chega a 15,6% do total, o que

representaria vendas globais de US$ 999 milhões. Mas esse número significaria uma estimativa exagerada do mercado de produtos obtidos a partir de plantas já que nos medicamentos associados estes podem ter uma participação marginal.

(18)

Quadro 2.10 - Medicamentos com princípios ativos de origem vegetal vendidos em farmácias

PRODUTO LABORATORIO US$ mil (*)

VICK VAPORUB LEP.M BIOLAB/SEARLE 14.742

HYDERGINE SANDOZ 14.374

FLORATIL MERCK S.A. 11.560

DIGOXINA WELLCOME ZENECA 10.459

TEBONIN BYK QUIMICA E FARM 8.399

VENOCUR TRIPLEX KNOLL 8.391

TAMARINE BARRENNE 7.379

TANAKAN KNOLL 6.136

TRANSPULMIN ASTA MEDICA 5.766

VALDA CANONNE 5.687

EPAREMA BYK QUIMICA E FARM 5.662

NATURETTI MERRELL/LEPETIT 5.050 PASSIFLORINE MILLET-ROUX 5.043 GIAMEBIL HEBRON 3.823 METAMUCIL BIOLAB/SEARLE 3.544 NICOTINELL TTS BIOGALENICA 3.424 TANAKAN F KNOLL 3.334 CHOPHYTOL MILLET-ROUX 3.314

BUSCOPAN BOEHRINGER ANGELI 3.195

LEGALON BYK QUIMICA E FARM 3.110

POLYTAR STIEFEL 2.753

PASALIX MARJAN 2.421

AGIOLAX BYK QUIMICA E FARM 2.409

PROSTEM PLUS BALDACCI 2.396

HYDROCARE ALLERGAN-LOK 2.336

Total 144.707

(*) Vendas em farmácia de medicamento contendo um ou mais princípios ativos de origem vegetal exclusivamente

Fonte: IMS, 1994.

Com respeito ao comércio exterior, como se pode observar no Quadro 2.11, as exportações brasileiras de produtos naturais em 1995 e 1996 foram de US$ 47,8 milhões e US$ 53,9 milhões, respectivamente.

Essas vendas ao exterior estão fortemente concentradas em apenas dois fitofármacos - pilocarpina e rutina -, que respondiam por 57% do total em 1995 e 48% em 1996 (vide Anexo 4). Se considerarmos que o Grupo Merck é o grande exportador de rutina e pilocarpina, podemos inferir que a concentração também é alta em termos do número de exportadores (um único grupo industrial responde por grande parcela do total exportado de produtos naturais).

(19)

Quadro 2.11 - Exportações de produtos de origem vegetal aplicados a medicamentos

CAPÍTULO NBM 1995

US$FOB US$FOB1996 CAP. 12 – SEMENTES E FRUTOS OLEAGINOSOS; GRÃOS SEMENTES E

FRUTOS DIVERSOS; PLANTAS INDUSTRIAIS OU MEDICINAIS; PALHAS E FORRAGENS

5.757.699 5.855.260 CAP. 13 - GOMAS RESINAS E OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS 3.647.512 7.490.165

CAP. 29 - PRODUTOS QUÍMICOS ORGÂNICOS 30.789.912 34.082.718

CAP. 30 - PRODUTOS FARMACÊUTICOS 7.205.023 6.331.910

CAP. 35 - MATÉRIAS ALBUMINÓIDES, PRODUTOS À BASE DE AMIDOS OU DE FÉCULAS MODIFICADAS; COLAS; ENZIMAS

433.963 104.395

Total 47.834.109 53.864.448

Fonte: Secex

Como mostra o Quadro 2.12, as importações brasileiras de produtos naturais foram de US$ 193,3 milhões em 1995 e US$ 178,0 milhões em jan-out/1996.

Essas importações estão melhor distribuídas por diversos produtos. O único item que ultrapassa 10% do total nos dois anos é o Acetato de ciproterona (vide Anexo 4).

Quadro 2.12 - Importações de produtos de origem vegetal aplicados a medicamentos

CAPÍTULO NBM 1995

US$FOB

1996 (Jan-Out) US$FOB CAP. 12 - SEMENTES E FRUTOS OLEAGINOSOS; GRÃOS SEMENTES E

FRUTOS DIVERSOS; PLANTAS INDUSTRIAIS OU MEDICINAIS; PALHAS E FORRAGENS

4.401.979 3.827.216 CAP. 13 - GOMAS RESINAS E OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS 19.461.961 18.122.378

CAP. 29 - PRODUTOS QUÍMICOS ORGÂNICOS 160.700.015 147.398.934

CAP. 30 - PRODUTOS FARMACÊUTICOS 7.671.632 8.434.958

CAP. 35 - MATÉRIAS ALBUMINÓIDES, PRODUTOS À BASE DE AMIDOS OU DE FÉCULAS MODIFICADAS; COLAS; ENZIMAS

1.040.674 242.935

Total 193.276.261 178.026.421

Fonte: Secex

Chama a atenção a disparidade entre os níveis de exportação e importação registrados nos Quadros 2.11 e 2.12. O Quadro 2.13, com o balanço comercial, mostra o déficit existente em quatro dos cinco capítulos da NBM selecionados, com destaque para o capítulo 29 (Produtos Químicos Orgânicos).

(20)

Quadro 2.13 - Balanço do comércio exterior para as categorias de produtos de origem vegetal aplicados a medicamentos

CAPÍTULO NBM 1995

US$FOB 1996 (estimativa)US$FOB CAP. 12 - SEMENTES E FRUTOS OLEAGINOSOS; GRÃOS SEMENTES E

FRUTOS DIVERSOS; PLANTAS INDUSTRIAIS OU MEDICINAIS; PALHAS E FORRAGENS

1.355.720 1.262.601 CAP. 13 - GOMAS RESINAS E OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS (15.814.449) (14.256.689) CAP. 29 - PRODUTOS QUÍMICOS ORGÂNICOS (129.910.103) (142.796.003)

CAP. 30 - PRODUTOS FARMACÊUTICOS (466.609) (3.790.040)

CAP. 35 - MATÉRIAS ALBUMINÓIDES, PRODUTOS À BASE DE AMIDOS OU DE FÉCULAS MODIFICADAS; COLAS; ENZIMAS

(606.711) (187.127)

Total (145.442.152) (159.767.257)

Fonte: Secex

O Quadro 2.14 mostra as 25 maiores empresas por faturamento em medic amentos contendo exclusivamente princípios ativos de origem vegetal.

Quadro 2.14 - 25 maiores empresas por vendas em farmácia de medicamentos contendo exclusivamente princípios ativos de origem vegetal

Empresa Vendas Totais US$ mil

Vendas de m.o.v. (*) US$ mil

% das Vendas Totais

BYK QUIMICA E FARM 102.076 21.132 21

BIOLAB/SEARLE 87.123 19.570 22 KNOLL 80.673 17.861 22 SANDOZ 99.358 14.671 15 MERCK S.A. 72.999 12.770 17 WELLCOME ZENECA 82.475 11.137 13 MILLET-ROUX 16.018 9.386 59 BARRENNE 8.371 8.371 100 STIEFEL 33.544 6.574 20 ASTA MEDICA 75.986 6.043 8 CANONNE 5.687 5.687 100 MERRELL/LEPETIT 132.672 5.050 4 FRUMTOST 35.549 4.011 11 HEBRON 10.209 3.968 39 INFABRA 4.822 3.733 77 VIRTUS 21.083 3.536 17 BIOGALENICA 220.445 3.424 2 BALDACCI 16.355 3.353 20 CATARINENSE 10.854 3.339 31 BOEHRINGER ANGELI 132.284 3.195 2 MARJAN 19.155 3.017 16 ALLERGAN-LOK 16.425 2.695 16

BRISTOL MEYERS SQUIBB 252.847 2.530 1

LUITPOLD 9.778 2.386 24

FONTOVIT 3.287 2.229 68

Total Geral 1.550.075 179.668

(*) Medicamento contendo um ou mais princípios ativos de origem vegetal exclusivamente Fonte: IMS, 1994.

(21)

A partir do Quadro 2.14, podemos montar os Quadros 2.15 e 2.16. No Quadro 2.15 estão 11 empresas que figuram entre as 25 maiores empresas farmacêuticas por faturamento total (Quadro 2.17), indicando que as grandes empresas têm forte presença no mercado de medicamentos obtidos a partir de plantas, com vendas variando entre 2,5 e 21 US$ milhões. Pode-se notar também que a participação desses medicamentos no total de vendas é pequena (máximo de 22%; 9% em média).

O Quadro 2.16 é composto pelos 7 laboratórios cujas vendas de m.o.v. representam mais de 30% das vendas totais, isto é, por aqueles que estão mais fortemente direcionados para fitomedicamentos. Como se pode notar, são empresas farmacêuticas de menor porte, nenhuma das 7 aparecendo na lista das 25 maiores.

Quadro 2.15 - Empresas do Quadro 2.14 com vendas em farmácia superiores a US$ 70 milhões

Empresa Vendas Totais US$ mil

Vendas de m.o.v. (*) US$ mil

% das Vendas Totais

BRISTOL MEYERS SQUIBB 252.847 2.530 1

BIOGALENICA 220.445 3.424 2

MERRELL/LEPETIT 132.672 5.050 4

BOEHRINGER ANGELI 132.284 3.195 2

BYK QUIMICA E FARM 102.076 21.132 21

SANDOZ 99.358 14.671 15 BIOLAB/SEARLE 87.123 19.570 22 WELLCOME ZENECA 82.475 11.137 13 KNOLL 80.673 17.861 22 ASTA MEDICA 75.986 6.043 8 MERCK S.A. 72.999 12.770 17

(*) Medicamento contendo um ou mais princípios ativos de origem vegetal exclusivamente Fonte: IMS, 1994.

Quadro 2.16 - Empresas do Quadro 2.14 com participação de m.o.v. nas vendas em farmácia superior a 30%

Empresa Vendas Totais

US$ mil Vendas de m.o.v. (*)US$ mil % das VendasTotais

BARRENNE 8.371 8.371 100 CANONNE 5.687 5.687 100 INFABRA 4.822 3.733 77 FONTOVIT 3.287 2.229 68 MILLET-ROUX 16.018 9.386 59 HEBRON 10.209 3.968 39 CATARINENSE 10.854 3.339 31

(*) Medicamento contendo um ou mais princípios ativos de origem vegetal exclusivamente Fonte: IMS

(22)

Quadro 2.17 - 25 maiores empresas farmacêuticas em vendas em farmácia

EMPRESA US$ mil

BRISTOL MEYERS SQUIBB 252.847

ACHE 237.700 BIOGALENICA 220.445 ROCHE 198.229 WYETH 153.832 MERRELL/LEPETIT 132.672 BOEHRINGER ANGELI 132.284 PRODOME 128.261 LILLY 113.575 SCHERING PLOUGH 105.493 SANOFI WINTHROP 102.669

BYK QUIMICA E FARM 102.076

RHODIA 101.174

SANDOZ 99.358

HOECHST 94.648

MERCK SHARP DOHME 88.483

BIOLAB/SEARLE 87.123 WELLCOME ZENECA 82.475 KNOLL 80.673 ASTA MEDICA 75.986 MERCK S.A. 72.999 CILAG FARM.LTDA 72.709 ORGANON 67.697 ABBOTT 65.777 FARMASA 57.414 Total 2.926.599 Fonte: IMS

Os Quadros acima sugerem a existência de pelo menos dois grupos distintos de empresas entre as maiores fabricantes de medicamentos de origem vegetal no Brasil. De um lado, grandes empresas farmacêuticas, cujo peso nesse mercado específico na verdade reflete seu porte e atuação no conjunto da indústria farmacêutica. A maior parte de suas vendas (na média, mais de 90%) concentra-se em produtos sintéticos e a pequena parcela dos medicamentos de origem vegetal é composta principalmente de produtos cujos princípios ativos são obtidos por extração (fitofármacos). De outro lado, estão os laboratórios menores, com produção direcionada mais fortemente para medicamentos de origem vegetal, entre os quais, possivelmente, seja maior a participação de fitoterápicos em relação a fitofármacos.

As do segundo grupo são, de modo geral, pequenas e médias empresas familiares. Dentre estas, apenas algumas poucas se destacam pelo profissionalismo e seriedade com que atuam na área de produtos naturais. Por exemplo, uma das empresas entrevistadas possui uma área de P&D estruturada, com 8 farmacêuticos, 2 químicos, 1 engenheiro químico e 3 técnicos, em grande

(23)

medida voltada para pesquisa em produtos naturais6. Seu faturamento está na casa dos US$ 17 milhões (1994), dos quais aproximadamente 65% correspondem a produtos naturais puros ou associados (percentagem que vem crescendo continuamente desde 1990, quando atingia 45%). Essa empresa mantém acordos de cooperação com universidades, basicamente voltados para a realização de pesquisas pré-clínicas e clínicas com o objetivo de comprovar a eficácia terapêutica dos produtos e garantir sua qualidade e segurança desde o cultivo da planta até a extração dos princípios ativos. De todo modo, o exemplo acima deve ser encarado antes como a exceção do que a regra entre as empresas desse primeiro grupo.

As do primeiro grupo não se distinguem de outras empresas farmacêuticas que trabalham unicamente com produtos sintéticos. Costumam especializar-se em determinadas classes terapêuticas que, em certos casos, pode implicar um maior número de produtos de origem natural, sem restringir necessariamente o uso de moléculas obtidas por outros meios - síntese química ou biotecnologia. As principais empresas desse tipo são multinacionais que preferem privilegiar um modelo que, sem descartar os fitofármacos, tem apreço relativamente pequeno pelos fitoterápicos. A principal restrição decorre da dificuldade de lidar com produtos que contenham uma grande quantidade de componentes, alguns dos quais, além de inefetivos, podem ser perigosos. Habituadas a um ambiente onde são severamente fiscalizadas pelas autoridades sanitárias, muitas empresas internacionais preferem a segurança de trabalhar com substâncias isoladas, descartando os fitoterápicos.

O exemplo da Merck é ilustrativo. A empresa, uma das mais importantes em produtos naturais do país, possui plantações próprias de jaborandi e de fava d’anta para extração da pilocarpina e rutina, que comercializa como substâncias puras, principalmente no mercado externo7. Entretanto, os

produtos naturais representam pouco mais de 20% das vendas da empresa, os sintéticos somando quase 80%, segundo dados da empresa8.

Esse ponto deve ser destacado na análise das dificuldades para desenvolver a produção de medicamentos a partir de produtos naturais. As firmas, de modo geral, encaram esse segmento 6 As atividades incluem otimização dos processos de extração, processos de separação, isolamento, identificação e

doseamento dos princípios ativos das plantas e do produto acabado, busca de comprovação científica das atividades terapêuticas e segurança do produto, entre outras.

7 Vale registrar a balança comercial positiva da Merck, atestada no Quadro 4, fato pouco usual na indústria farmacêutica

brasileira.

(24)

como marginal e concentram-se fundamentalmente na produção de sintéticos. Uma grande empresa farmacêutica nacional, apesar de revelar um grande interesse na área de produtos naturais, acompanhando os desenvolvimentos internacionais, realiza menos de 3% de suas vendas com esses produtos.

Por outro lado, os laboratórios que concentram suas vendas (acima de 30%) em produtos naturais são, quase sempre, pequenos e com baixa capacidade de investir no desenvolvimento da área. Não por acaso, a Portaria 123 de 1º de outubro de 1994 do Ministério da Saúde, regulamentando a comercialização de fitoterápicos, encontra forte resistência entre as empresas - com exceção de uma única, já mencionada acima como caso raro de empresa que investe em P&D e mantém acordos de cooperação com universidades.

O principal argumento utilizado pelas empresas questionando a Portaria é a dificuldade inerente ao processo de caracterização química e farmacológica dos princípios ativos contidos nos materiais vegetais, o que exige tempo e recursos apreciáveis. Na verdade, essa reclamação atesta a incapacidade técnica e econômica dessas empresas para se enquadrar em um ambiente de maiores níveis de exigência, exagerados para os atuais padrões brasileiros, mas adequados ao quadro internacional.

Em síntese, vários problemas dificultam a atuação das empresas farmacêuticas brasileiras na área de produtos naturais:

1) O elevado grau de internacionalização da indústria farmacêutica (algo como 70% das vendas pertencem a empresas estrangeiras) define uma orientação dada pelas matrizes dessas grandes multinacionais. Como vimos acima, de modo geral, essa orientação privilegia as substâncias isoladas e obtidas por síntese. Embora, como apontado na seção anterior, essas grandes firmas revelem um interesse crescente pelos produtos naturais, os efeitos das mudanças em curso (como as aquisições do Quadro 2.8) ainda levarão algum tempo para repercutir no Brasil.

2) São diminutos os investimentos em P&D. Isto também decorre, em parte, da orientação dada pelas grandes firmas internacionais. Estas tendem a concentrar suas atividades de P&D nas matrizes, diversificando no máximo para um segundo centro (em geral na Europa, quando se trata de firmas americanas, e nos EUA, quando são firmas européias). As firmas nacionais, que tenderiam a fazer pesquisa no país, simplesmente não têm porte suficiente para realizar os investimentos necessários (porte esse que, como apontado no capítulo 2, é cada vez mais expressivo). Tudo isto acaba favorecendo a aquisição de pacotes tecnológicos prontos.

(25)

3) Os baixos investimentos em P&D limitam drasticamente a interação universidade-empresa. Não existem mecanismos de comunicação eficientes entre essas instituições, a exemplo do que ocorre nos países desenvolvidos. Tecnologias simples, muitas vezes disponíveis na universidade, acabam não se tornando acessíveis a empresas que teriam a possibilidade de explorá-las.

4) É baixa a qualificação dos recursos humanos. A oferta de pessoal técnico de bom nível é muito restrita e a disponibilidade de recursos das empresas para treinamento é limitada.

5) Existem dificuldades no suprimento, armazenamento, padronização e cumprimento de prazos de entrega de matérias-primas. Os produtores de plantas medicinais não estão organizados e não mantêm um controle botânico de qualidade adequado. Além disto, o extrativismo destrutivo compromete o abastecimento futuro e leva a adulterações frequentes.

Concluindo, a indústria nacional necessita realizar um grande esforço para atingir os padrões de qualidade que estão sendo exigidos mundialmente e até mesmo no país, a partir de medidas como a Portaria 123. Em um primeiro momento as empresas podem considerar impossível o atendimento de todas as exigências da Portaria, mas o fato é que se não caminharem rapidamente na direção por ela sinalizada estarão na contra-mão das tendências internacionais.

A partir daí, pode-se imaginar alguns desdobramentos possíveis. Caso os investimentos das empresas em pesquisa, melhor controle de qualidade, etc, não venham a ocorrer, a defasagem em relação às empresas de fitoterápicos de outros países irá se ampliar. Como estas empresas estão se internacionalizando, eventualmente associadas ou incorporadas a multinacionais do setor farmacêutico, é razoável supor que o futuro da produção brasileira de fitomedicamentos dependerá diretamente das estratégias das grandes empresas. A exemplo do que já ocorreu no segmento de medicamentos sintéticos, tenderá a haver uma internacionalização da produção, com a atuação das empresas nacionais restrita a nichos de mercado e com participação marginal.

(26)

3. A PESQUISA DE MEDICAMENTOS A PARTIR DE PLANTAS 3.1 O processo de desenvolvimento de novos medicamentos

Plantas medicinais para pesquisa de novas drogas

O rápido desenvolvimento da biotecnologia e da biologia molecular a partir da década de 70 parecia tornar obsoleto o método tradicional de pesquisa de novos medicamentos através do screening de extratos de plantas. A compreensão dos mecanismos causadores das enfermidades em nível molecular e a capacidade de desenhar proteínas, com auxílio de novas ferramentas computacionais que também se desenvolviam rapidamente, abria a perspectiva de sintetizar novas drogas com muito maior eficácia, partindo apenas do saber científico acumulado. Por conta disto, diversas empresas farmacêuticas redirecionaram seus esforços de pesquisa, assignando um papel secundário ao

screening.

Essa percepção do screening como método ultrapassado, ou em vias de obsolescência, vêm se revelando precipitada nos anos recentes. Observa-se uma retomada por parte das empresas das pesquisas que partem de plantas medicinais, até mesmo em função das novas técnicas disponíveis. Novos ensaios biológicos, ditos robotizados, (  High trougthput screening) permitem escrutinar dezenas de milhares de compostos por ano com esforço muito menor do que o despendido nos testes tradicionais.

Esse movimento de “volta às raízes” (Scientific American, jan/1993) também decorre da comprensão de que a biotecnologia ainda não está em condições de competir com a natureza na formulação de moléculas com atividade terapêutica:

“Nós ainda não atingimos o avanço científico que permita desenhar drogas rotineiramente a partir de princípios básicos, sem quaisquer pistas” (Lynn Caporale, diretor de avaliação científica da Merck, citado em Science, vol. 256, 22/5/1992).

As empresas internacionais não esperam “descobrir” novos compostos de uso terapêutico a partir de plantas medicinais, ainda que isto tenha uma pequena chance de ocorrer. Elas procuram, na verdade, modelos na natureza (templates) que lhes permitam utilizar como ponto de partida para o desenho de drogas. Trata-se, portanto, de uma combinação de técnicas novas com o screening, e não a sua substituição.

A SmithKline Beecham acaba de lançar no mercado um medicamento derivado de planta, o topotecam, para tratamento de câncer no ovário (FSP, jun/96). Essa droga é um análogo do

(27)

camptotecin, um composto extraído de árvores na China e na India (Camptotheca acuminata), descoberto nos anos 60 pelo Instituto Nacional do Câncer e considerado muito tóxico para tratar pacientes de câncer. A SmithKline e a Rhône-Poulenc criaram a partir da C. acuminata produtos similares, solúveis em água, e menos tóxicos.

A Glaxo também está estudando análogos do camptotecin e está pesquisando novas plantas medicinais como parte de um consórcio de pesquisa com a Universidade de Illinois, Chicago, um dos mais importantes centros acadêmicos na área.

O enfoque dessas grandes empresas farmacêuticas está na identificação de princípios ativos, e não na utilização direta de plantas medicinais. Estas podem eventualmente ser a matéria-prima para extração das substâncias puras (fitofármacos), embora as empresas naturalmente busquem desenvolver métodos de síntese. Mas o que deve ser sublinhado aqui é a importância renovada das plantas medicinais na descoberta desses novos princípios ativos, seja por utilização direta, hemi-síntese ou hemi-síntese.

Das 250.000 espécies de plantas no mundo, menos de 10% foram exaustivamente investigadas com vistas ao descobrimento de propriedades terapêuticas (Scientific American, jan/93 - segundo outras estimativas, o número de plantas investigadas é muito menor, inferior a 0,5%). A pesquisa desse enorme acervo, longe de ser relegada a segundo plano, ganha impulso com as novas técnicas biotecnológicas.

Em um trabalho que busca estimar o valor de fármacos ainda não descobertos nas florestas tropicais, onde se encontram metade das plantas do mundo, Mendelsohn e Balick (1995) calculam em 375 o número potencial de drogas existentes naquelas florestas. Desse total, 47 já teriam sido descobertas, como a vincristina, vinblastina, curare, quinino, codeína e pilocarpina.

Esta seguramente é uma das razões para que 125 das maiores empresas farmacêuticas mundiais, que não tinham qualquer projeto com plantas medicinais há cerca de 15 anos, estejam agora empenhadas em pesquisas nessa área.

O desenvolvimento de novos medicamentos e as competências requeridas

A Figura 3.1 mostra esquematicamente como são pesquisados, desenvolvidos, testados, produzidos e formulados medicamentos, incluindo o estudo de marketing. O esquema pode ser aplicado ao estudo integral de plantas medicinais visando novos medicamentos.

Os conjuntos A e B existem eventualmente nas universidades, o conjunto C na indústria química e o conjunto D na indústria farmacêutica. Em nenhuma empresa, instituto de pesquisa ou universidade

(28)

estão presentes todos os quatro conjuntos, o que sublinha a necessidade de articulação e integração entre esses distintos elementos.

Existem inúmeras dificuldades no percurso que vai da idéia de um medicamento até o mercado: tempo longo, custo alto, necessidade de domínio de tecnologias avançadas e de equipes bem treinadas e multidisciplinares. Isto faz com que apenas empresas grandes, competentes e com grande disponibilidade de recursos para investimento desenvolvam medicamentos.

(29)

Tomemos como exemplo as metodologias de P&D de medicamentos (que podem ser aplicáveis à P&D de qualquer outro produto derivado do metabolismo secundário de plantas, sejam inseticidas, cosméticos, corantes, etc.). Desde a idéia inicial até o produto ser colocado no mercado, consome-se entre 7 a 20 anos. A média dos últimos anos (McChesney, 1993) atingiu 12,6 anos nos EUA e segundo outras fontes o valor pode chegar a US$ 600 milhões/medicamento, aí incluídos os custos com marketing, e demorados estudos biológicos, conforme já apontado na seção 2.1. Esses

Figura 3.1 - a produção de novos medicamentos: da idéia ao mercado

Idéia

A

 Pesquisa em laboratório   Screening

B

P&D  

C

Ensaios pré-clínicos Produção piloto Ensaios clínicos   Produção industrial  Formulação

D

 marketing Mercado

(30)

números indicam que essa atividade é restrita a poucas e grandes empresas multinacionais farmacêuticas.

Vários pesquisadores afirmam que quando um medicamento é originado de plantas medicinais o custo pode ser bem menor. McChesney (1993) mostra que um produto desenvolvido na University of Mississipi, Research Institute of Pharmaceutical Sciences custou US$ 35 milhões.

Os 4 conjuntos A, B, C e D (Figura 3.1) raramente são executados pelo mesmo organismo mesmo na área empresarial. Na China há informações de que isto é algumas vezes realizado com base em decisões políticas de governo.

No Brasil a P&D e produção piloto (conjunto C) raramente são realizadas, exceções feitas a algumas cópias de medicamentos sintéticos comerciais, desenvolvidas no passado pela Codetec e algumas poucas empresas brasileiras.

A multidisciplinaridade e a interinstitucionalidade são fatores exigidos se se pretende desenvolver medicamentos à base de plantas, principalmente fitofármacos.

Existe uma razoável capacitação técnica, mas a interação entre os atores principais é muito deficiente.

 Joint-venture para a descoberta de fitofármacos

Nos anos 90 as companhias farmacêuticas se lançaram fortemente nas cooperações para a descoberta de novos produtos farmacêuticos ( Drug Discovery Alliance).

Empresas médias fizeram aquisições, fusões, mas sobretudo joint-ventures e acordos de cooperação para conseguir seus objetivos e metas.

 Metodologia para a descoberta de fitofármacos

Vários métodos são usados por empresas internacionais farmacêuticas para a pesquisa de medicamentos de plantas medicinais:

• Etnofarmacologia • Triagem e Erro

• Estudos Micromoleculares • Busca em Banco de Dados

(31)

A etnofarmacologia é uma ciência ainda mal desenvolvida e mal compreendida no Brasil, onde há poucos profissionais que se definem como etnofarmacólogos e a disciplina praticamente não existe nos cursos de pós-graduação. Além isso é pouco acreditada por amplos setores da ciência oficial. No entanto a etnofarmacologia é um elemento metodológico hoje fundamental para empresas dos EUA e Europa buscar medicamentos de plantas nos trópicos.

A empresa inglesa Hutton Molecular Development e a Shaman Pharmaceuticals dos EUA, adotam a etnofarmacologia para a sua estratégia de pesquisar medicamentos. O NIH nos anos 90 publicou um edital internacional o seu interesse de pesquisar plantas medicinais das áreas tropicais para AIDS e Câncer .O mais interessante é que o edital exigia a pesquisa de informações diretamente com curandeiros e outros profissionais não reconhecidos pela ciência ortodoxa.

Com relação aos estudos micromoleculares, são quase sempre estudos de fitoquímica clássica: extração, isolamento, purificação e identificação de substâncias naturais de plantas. São também chamados, “estudos de substâncias do metabolismo secundário”, como os alcalóides, glicosídeos, esteróides, terpenos, flavonóides, e outras moléculas de baixo peso molecular (< 1000), e que frequentemente são os princípios ativos das plantas medicinais.

Os estudos micromoleculares aliados a botânica algumas vezes são advogados (Gottlieb, 1993) como uma metodologia alternativa para a busca de fitofármacos. No entanto, não foi demonstrado, até agora, que esta metodologia possa substituir os meios ortodoxos como a etnofarmacologia e etnobiologia aliada à busca on-lineem banco de dados.

Banco de dados bem organizados e acessíveis como o NAPRALERT da Univ. de Illinois (Prof. N. Farnsworth), tem sido usados por importantes empresas estrangeiras na área de Produtos Naturais, para a descoberta (drug discovery) de novos medicamentos (Seidl, 1993)

Triagem e erro e estudos micromoleculares têm sido usados em pequena escala por empresas farmacêuticas usando medicamentos naturais.

No Simpósio Brasileiro de Plantas Medicinais, sediado em Florianópolis, em setembro de 1996, o Dr. Michael Tempesta, da empresa Farmacêutica LAREX (EUA), informou que sua empresa está fazendo um amplo estudo fitoquímico de plantas farmacologicamente ativas. Larex desenvolveu um processo quimio-mecânico que permite o isolamento e a separação em larga escala (tons de plantas/hora) de 200 até 500.000 diferentes moleculas de baixo peso molecular(<1000amu). De cada planta é possivel retirar 100 diferentes moleculas que serão oferecidas a empresas farmacêuticas para o desenvolvimento de ensaios biológicos. Este é um exemplo de empresa que

(32)

poderia proliferar no Brasil, já que, como veremos, não falta ao país competência científica, mas objetivos e metas.

3.2 A pesquisa científica em plantas medicinais no Brasil

 Infraestrutura

O Brasil possui a maior base universitária e técnica das Américas, excluindo os EUA. Nossos cientistas publicam nas melhores revistas internacionais. O sistema de pós-graduação tem bom nível, com 36.000 bolsas de estudos no país e 4.000 no exterior (Barreto de Castro, 1993).

Há uma inegável capacitação científica, nas áreas de química de produtos naturais (pelo menor 900 profissionais) e farmacologia (pelo menos 1500 outros), que permite o desenvolvimento de fitofármacos. As outras áreas afins como medicina, botânica, farmácia e engenharias, estão igualmente bem qualificadas e em número adequado.

São aproximadamente 70 os grupos lidando com a pesquisa de produtos naturais no Brasil, especializados em química e farmacologia. Alguns destes grupos estudam especificamente plantas medicinais.

 Recursos

Embora regrados, nos últimos anos os recursos para a pesquisa de plantas medicinais existem, como se pode observar pelo que foi dispendido pela CEME-MS desde a sua criação.

Em 1995 o MCT teve um orçamento de US$ 1 bilhão, sendo US$ 550 milhões atribuídos ao CNPq.

Outros recursos para a pesquisa científica foram fornecidos pelas FAP’s, FINEP, CAPES, FIPEC, PADCT, e outros internacionais. No capítulo 4 estão indicados os valores destinados à área de produtos naturais e afins. Infelizmente, não foi possível destacar desse total quanto foi alocado para a pesquisa de plantas medicinais.

O parque de equipamentos analíticos nas universidades brasileiras é, em alguns casos, equivalente aos das melhores universidades estrangeiras.

Apesar dessa razoável base científica, a distância necessária para realizar P&D de compostos bio-ativos é ainda muito grande. Conforme apontado acima, os custos de desenvolvimento são muito altos, o tempo é longo e são exigidas equipes multidisciplinares e competentes para a tarefa específica. Devido à complexidade e custo para colocar um novo medicamento no mercado, quase sempre são as multinacionais as que conseguem desenvolver novos produtos farmacêuticos. O fator

Referências

Documentos relacionados

• Emite o Auto de Infração com a penalidade de multa, assinado pelo agente fiscal e pelo Secretário municipal de Meio Ambiente, em 4 (quatro) vias: a primeira integrará o processo

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

É sobre este documento 3 , que inclui sugestões de leitura orientada para a sala de aula por ano de escolaridade, bem como propostas de operacionalização subjacentes às

Com a investigação propusemo-nos conhecer o alcance real da tipologia dos conflitos, onde ocorrem com maior frequência, como é que os alunos resolvem esses conflitos, a

Assim, as empresas necessitam das pessoas para atingir seus objetivos, do mesmo modo que as pessoas necessitam das empresas para satisfazer os seus, advindo daí um conflito

After this matching phase, the displacements field between the two contours is simulated using the dynamic equilibrium equation that bal- ances the internal

Aborda questões como disfunção sexual, sida, sexo seguro, sexo desprotegido, fatores de risco, satisfação sexual, sexualidade juvenil, relação entre sexo e outras questões