CONTRIBUIÇÃO INICIAL AO ESTUDO DO TEMA DA INDIVIDUAÇÃO NO CONTRIBUIÇÃO INICIAL AO ESTUDO DO TEMA DA INDIVIDUAÇÃO NO
PENSAMENTO DE JUNG PENSAMENTO DE JUNG AGOSTINHO, Márcio Roberto AGOSTINHO, Márcio Roberto
Mestre em Ciências da Religião – MACKENZIE – SÃO PAULO/SP – BRASIL Mestre em Ciências da Religião – MACKENZIE – SÃO PAULO/SP – BRASIL Coordenador do Curso de Psicologia
Coordenador do Curso de Psicologia - FASU/ACEG – GARÇA/SP – BRASIL- FASU/ACEG – GARÇA/SP – BRASIL
e-mail:
e-mail: casteloagostinho@yahoo.com.brcasteloagostinho@yahoo.com.br RESUMO
RESUMO
O presente artigo é o resultado de uma investigação bibliográfica, visando a O presente artigo é o resultado de uma investigação bibliográfica, visando a sistematizar as bases sobre o tema da individuação dentro dos postulados da Psicologia sistematizar as bases sobre o tema da individuação dentro dos postulados da Psicologia junguiana. Oferece ao público
junguiana. Oferece ao público profissional e estudantes profissional e estudantes de Psicologia, de Psicologia, filósofos e, porque não,filósofos e, porque não, religiosos, um texto sucinto e didático como porta de entrada para os interessados no religiosos, um texto sucinto e didático como porta de entrada para os interessados no aprofundamento da presente pesquisa.Introduz sucintamente o assunto, expõe o objetivo e a aprofundamento da presente pesquisa.Introduz sucintamente o assunto, expõe o objetivo e a metodologia empregada. Examina o termo “individuação”, quanto ao surgimento e utilização, metodologia empregada. Examina o termo “individuação”, quanto ao surgimento e utilização, procede às conceituações necessárias à compreensão da individuação como processo. procede às conceituações necessárias à compreensão da individuação como processo. Focaliza a importância dos sonhos no processo, efetuando a síntese consciente/inconsciente, Focaliza a importância dos sonhos no processo, efetuando a síntese consciente/inconsciente, necessária à transformação da psique, conceituá-lo e demonstrá-lo como um processo necessária à transformação da psique, conceituá-lo e demonstrá-lo como um processo psicológico de transformação da psique.
psicológico de transformação da psique.
PALAVRAS-CHAVE
PALAVRAS-CHAVE:: Individuação ,processo de transformação, desenvolvimento pleno.Individuação ,processo de transformação, desenvolvimento pleno.
ABSTRACT ABSTRACT
This current article is the resolt of a bibliographical investigation, pointing to systematize This current article is the resolt of a bibliographical investigation, pointing to systematize the basis over the subject of the individuation inside the postulates of the Junguian Psychology. the basis over the subject of the individuation inside the postulates of the Junguian Psychology. Offers to the psychology’s professional and scholar public, filosophers and, why not, religious, a Offers to the psychology’s professional and scholar public, filosophers and, why not, religious, a succinct and didactic text as an entry door for the interested ones in deepening of the current succinct and didactic text as an entry door for the interested ones in deepening of the current researche. Introduces briefly the subject, exposes the objective and the used methodology. researche. Introduces briefly the subject, exposes the objective and the used methodology. Examines the term “individuation”, as much as the emergence and utilization, proceeds the Examines the term “individuation”, as much as the emergence and utilization, proceeds the necessary conception and understanding of individuation as process. Focus the importancy of necessary conception and understanding of individuation as process. Focus the importancy of dreams in the process, efetuating a syntesis conscient/unconscient, necessary for the dreams in the process, efetuating a syntesis conscient/unconscient, necessary for the transformation of psyche, concepting it and showing as a psychological process of transformation of psyche, concepting it and showing as a psychological process of transformation of the psyche.
transformation of the psyche.
KEYWORDS
KEYWORDS:: individuation, process of transformation, full development.individuation, process of transformation, full development.
1. INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO
Até certo ponto, as concepções junguianas identificam-se com as de Até certo ponto, as concepções junguianas identificam-se com as de Freud, mas delas divergem ou se distanciam em diversos pontos importantes. Freud, mas delas divergem ou se distanciam em diversos pontos importantes. Discípulo de Freud, de cujo ensino foi nutrido, Jung tomou muitas noções Discípulo de Freud, de cujo ensino foi nutrido, Jung tomou muitas noções freudianas básicas, que, muitas vezes, reformulou, procurando apresentar um freudianas básicas, que, muitas vezes, reformulou, procurando apresentar um sistema racional e coerente, principalmente, porque, ao contrário de Freud, sistema racional e coerente, principalmente, porque, ao contrário de Freud, Jung é espiritualista e foi muito atraído pela Filosofia e Metafísica, refletidas em Jung é espiritualista e foi muito atraído pela Filosofia e Metafísica, refletidas em suas obras. Dentro desta perspectiva, situa-se o foco deste artigo – o processo suas obras. Dentro desta perspectiva, situa-se o foco deste artigo – o processo de individuação. O processo de individuação é apresentado neste artigo, com de individuação. O processo de individuação é apresentado neste artigo, com base na teoria psicológica de Jung (1875-1961), de maneira sucinta e didática, base na teoria psicológica de Jung (1875-1961), de maneira sucinta e didática, de modo a iniciar os neófitos em seu estudo; e, ao mesmo tempo, como de modo a iniciar os neófitos em seu estudo; e, ao mesmo tempo, como abertura a pesquisas congêneres ou ao aprofundamento desta, por pessoas abertura a pesquisas congêneres ou ao aprofundamento desta, por pessoas interessadas nas teorias junguiana.
interessadas nas teorias junguiana.
A coleta de dados informativos, em nível teórico, foi efetuada através da A coleta de dados informativos, em nível teórico, foi efetuada através da consulta bibliográfica; inicialmente efetuada junto ao acervo da Biblioteca consulta bibliográfica; inicialmente efetuada junto ao acervo da Biblioteca Central da FAEF, a partir do levantamento de fontes. Os materiais foram Central da FAEF, a partir do levantamento de fontes. Os materiais foram selecionados com base nos seguintes critérios: pertinência ao assunto; selecionados com base nos seguintes critérios: pertinência ao assunto; confiabilidade da fonte e adequação ao objetivo da pesquisa. Efetuei, a seguir, confiabilidade da fonte e adequação ao objetivo da pesquisa. Efetuei, a seguir, a etapa da leitura e fichamento dos textos pertinentes ao objetivo da pesquisa e a etapa da leitura e fichamento dos textos pertinentes ao objetivo da pesquisa e a descrição compreensiva dos achados que resultou na redação final deste a descrição compreensiva dos achados que resultou na redação final deste artigo.
artigo.
2. A CONCEPÇÃO JUNGUIANA DE
2. A CONCEPÇÃO JUNGUIANA DE INDIVIDUAÇÃO.INDIVIDUAÇÃO.
Visando ao exposto no objetivo, pretendo neste tópico, explorar algumas Visando ao exposto no objetivo, pretendo neste tópico, explorar algumas possibilidades literárias, conceituais e processuais no que se refere à possibilidades literárias, conceituais e processuais no que se refere à individuação.
individuação.
2.1. Exame do Termo 2.1. Exame do Termo
O termo “individuação” não foi criado por Jung, embora ele sempre O termo “individuação” não foi criado por Jung, embora ele sempre tenha levado em consideração o aspecto da individualidade da alma. Parece tenha levado em consideração o aspecto da individualidade da alma. Parece ter buscado esse termo na Filosofia e depois ter constatado o uso do mesmo ter buscado esse termo na Filosofia e depois ter constatado o uso do mesmo
por um alquimista. Conforme o
por um alquimista. Conforme o Dicionário crítico de análise junguiana Dicionário crítico de análise junguiana o termoo termo
‘individuação’ foi adotado por Jung, através do filósofo Shopenhauer, porém ‘individuação’ foi adotado por Jung, através do filósofo Shopenhauer, porém reporta-se a Gerard Dorn, um alquimista do século XVI. Ambos falam do reporta-se a Gerard Dorn, um alquimista do século XVI. Ambos falam do principium individuation
principium individuationis” is” (SAMUELS; SHORTE(SAMUELS; SHORTER; PLAUT, 198R; PLAUT, 1988, p.108).8, p.108).
Mesmo não tendo sido criado por ele, a aplicação do termo significando Mesmo não tendo sido criado por ele, a aplicação do termo significando o processo de transformação da personalidade, é exclusivo de Jung. Essa o processo de transformação da personalidade, é exclusivo de Jung. Essa significação está marcada pela idéia de transformação, cuja origem significação está marcada pela idéia de transformação, cuja origem encontra-se na Alquimia
se na Alquimia..
O tema da individuação tem uma enorme importância dentro da teoria O tema da individuação tem uma enorme importância dentro da teoria psicológica de Jung e ele mesmo
psicológica de Jung e ele mesmo confirma isso:confirma isso:
Mediante o estudo das evoluções individuais e coletivas, e mediante Mediante o estudo das evoluções individuais e coletivas, e mediante a compreensão da simbologia alquimista cheguei ao conceito básico a compreensão da simbologia alquimista cheguei ao conceito básico de toda a minha psicologia, o “processo de individuação” (1963, de toda a minha psicologia, o “processo de individuação” (1963, p.184).
p.184).
Vale dizer que o tema da individuação está presente, de forma direta ou Vale dizer que o tema da individuação está presente, de forma direta ou indireta, em todos os livros consultados para esta pesquisa. A importância que indireta, em todos os livros consultados para esta pesquisa. A importância que Jung atribui à individuação esta exposta em seu livro biográfico “Memórias, Jung atribui à individuação esta exposta em seu livro biográfico “Memórias, Sonhos e reflexões” no qual deixa claro que sua teoria nasceu da avaliação Sonhos e reflexões” no qual deixa claro que sua teoria nasceu da avaliação pessoal de seu próprio processo de
pessoal de seu próprio processo de descoberta e crescimento. Não somente osdescoberta e crescimento. Não somente os livros, mas a própria construção de sua casa – a Torre de Bollengen - possuía livros, mas a própria construção de sua casa – a Torre de Bollengen - possuía um simbolismo que representava o processo da
um simbolismo que representava o processo da individuação.individuação. Para ele, a individuaçã
Para ele, a individuação é o caminho pso é o caminho psíquico de desenvíquico de desenvolvimento olvimento queque toda personalidade, cada uma a seu modo, tende a buscar e experimentar. toda personalidade, cada uma a seu modo, tende a buscar e experimentar. Stein (1998, p.167), evidencia a importância desse tema na Psicologia Stein (1998, p.167), evidencia a importância desse tema na Psicologia Analítica, afirmando:
O tema da individuação está presente em suas obras escritas desde O tema da individuação está presente em suas obras escritas desde 1910 em diante. É uma preocupação constante que se aprofunda à 1910 em diante. É uma preocupação constante que se aprofunda à medida que avança em suas investigações sobre a estrutura e medida que avança em suas investigações sobre a estrutura e dinâmica da psique. Ela ainda está presente em seu próprio espírito dinâmica da psique. Ela ainda está presente em seu próprio espírito no ensaio “uma visão psicológica da consciência”, publicado em no ensaio “uma visão psicológica da consciência”, publicado em 1958, três anos antes de sua morte aos oitenta e seis anos de idade. 1958, três anos antes de sua morte aos oitenta e seis anos de idade. Quase tudo o que ele escreveu toca, de um modo ou de outro, no Quase tudo o que ele escreveu toca, de um modo ou de outro, no tema da individuação.
tema da individuação.
Segundo Jung, a individuação acompanha todo o crescimento Segundo Jung, a individuação acompanha todo o crescimento humano, referindo-se, sempre, ao processo de tornar-se uma pessoa inteira. humano, referindo-se, sempre, ao processo de tornar-se uma pessoa inteira. Uma compreensão maior e mais detalhada da individuação como
Uma compreensão maior e mais detalhada da individuação como processoprocesso requer, obrigatoriamente, a leitura do livro “O Eu e o Inconsciente” (1978), no requer, obrigatoriamente, a leitura do livro “O Eu e o Inconsciente” (1978), no qual Jung faz uma descrição de tal processo saindo do Eu, passando pela qual Jung faz uma descrição de tal processo saindo do Eu, passando pela
persona
persona , anima/animus, até chegar à personalidade, anima/animus, até chegar à personalidade mana mana - entendida como o- entendida como o Self
Self de cada um. Este livro é um dos mais importantes na de cada um. Este livro é um dos mais importantes na obra de Jung, pois foiobra de Jung, pois foi
fruto de mais
fruto de mais de 28 anos de 28 anos de experiência de experiência psicológica e psicológica e psiquiátrica, psiquiátrica, conformeconforme informação testemunhada pelo próprio Jung no prefácio desse livro
informação testemunhada pelo próprio Jung no prefácio desse livro (p.VIII).(p.VIII). Após dizer que o tema é recorrente nos escritos junguianos e que Após dizer que o tema é recorrente nos escritos junguianos e que possui a maior importância no contexto da obra de Jung, cumpre agora fazer possui a maior importância no contexto da obra de Jung, cumpre agora fazer algumas conceituaçõ
algumas conceituações sobre qual a idéia que está enves sobre qual a idéia que está envolta olta nesse processo.nesse processo. 2.2. A conceituação Necessária
2.2. A conceituação Necessária
Literamente, pode-se entender que a individuação, para Jung, se refere Literamente, pode-se entender que a individuação, para Jung, se refere a um processo pelo qual uma pessoa se torna um indivíduo, uma unidade a um processo pelo qual uma pessoa se torna um indivíduo, uma unidade consciente. Em outras palavras, é um processo que visa a levar a pessoa a ser consciente. Em outras palavras, é um processo que visa a levar a pessoa a ser humana. Nesse processo, toda realidade interior, ou seja, os arquétipos, quase humana. Nesse processo, toda realidade interior, ou seja, os arquétipos, quase sempre
sempre separados separados e, e, até até mesmo, mesmo, muitas muitas vezes, vezes, dissociados dissociados pelapela inconsciência, são orientados
direção ao centro
direção ao centro numinoso numinoso e regulador – o arquétipo doe regulador – o arquétipo do Self Self . Este visa, em. Este visa, em
seu desenvolvimento psíquico, a tornar o indivíduo mais modesto e mais seu desenvolvimento psíquico, a tornar o indivíduo mais modesto e mais humano.
humano.
Individuação,
Individuação, portanto, portanto, é é transformação; transformação; significa significa tornar-se tornar-se um um serser único, na medida em que por ‘individualidade’ entendemos nossa singularidade único, na medida em que por ‘individualidade’ entendemos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando que nos tornamos o nosso mais íntima, última e incomparável, significando que nos tornamos o nosso próprio
próprio si-mesmo” si-mesmo” (JUNG, 1978, p(JUNG, 1978, p. 49). . 49). Para se cPara se chegar a eshegar a esse si-mesmo, se si-mesmo, àà
totalidade da pessoa, que é o mundo mais primitivo e inconsciente do homem, totalidade da pessoa, que é o mundo mais primitivo e inconsciente do homem, se
se faz necessário qfaz necessário que os arquétipos sue os arquétipos sejam unidos e integrados ejam unidos e integrados à consciência,à consciência, criando aquilo que Jung chamava de
criando aquilo que Jung chamava de ampliação da consciênciaampliação da consciência..
Essa conscientização consiste na união dos opostos, consciente e Essa conscientização consiste na união dos opostos, consciente e inconsciente, que é um processo com as seguintes fases: a diferenciação do inconsciente, que é um processo com as seguintes fases: a diferenciação do eu com a
eu com a persona persona , depois com a sombra, com a anima/animus e, por último,, depois com a sombra, com a anima/animus e, por último,
com o
com o Self Self . . Como Como a a proposta proposta do do presente presente artigo artigo é é realizar realizar brevesbreves
considerações sobre a individuação, tais fases de diferenciação não serão considerações sobre a individuação, tais fases de diferenciação não serão analisadas, ficando tal tarefa reservada para uma próxima pesquisa. analisadas, ficando tal tarefa reservada para uma próxima pesquisa. Concederemos espaço para compreender o papel dos sonhos no processo de Concederemos espaço para compreender o papel dos sonhos no processo de crescimento psíquico, pois eles viabilizam e favorecem, quando levados a crescimento psíquico, pois eles viabilizam e favorecem, quando levados a sério, a ampliação da consciência.
sério, a ampliação da consciência. 2.3.
2.3. O papel dos sonhos no processo de O papel dos sonhos no processo de individuaçãoindividuação
De que forma essa união do consciente e inconsciente pode ser De que forma essa união do consciente e inconsciente pode ser realizada? Jung criou algumas técnicas para que essa união dos opostos fosse realizada? Jung criou algumas técnicas para que essa união dos opostos fosse possível. Entre elas estão a imaginação ativa, o desenho como forma de dar possível. Entre elas estão a imaginação ativa, o desenho como forma de dar
expressão ao inconsciente e as artes em geral. Mas, uma das mais importantes expressão ao inconsciente e as artes em geral. Mas, uma das mais importantes técnicas para a apreensão dos conteúdos inconscientes são os sonhos.
técnicas para a apreensão dos conteúdos inconscientes são os sonhos.
Os sonhos se estudados atentamente, revelam um conjunto que parece Os sonhos se estudados atentamente, revelam um conjunto que parece obedecer
obedecer a um esquea um esquema que sempma que sempre visa à tomare visa à tomada de consda de consciência que ociência que o indivíduo pode fazer de si mesmo. Nesse sentido, é que se entende o porquê indivíduo pode fazer de si mesmo. Nesse sentido, é que se entende o porquê da Psicologia Analítica dar tanta importância aos sonhos no processo da Psicologia Analítica dar tanta importância aos sonhos no processo psicoterapêutico.
psicoterapêutico.
Embora extensa, vale a pena citar uma passagem do livro
Embora extensa, vale a pena citar uma passagem do livro O homem e O homem e seus símbolos,
seus símbolos, no qual Jung explica melhor sobre a importância dos sonhos nono qual Jung explica melhor sobre a importância dos sonhos no
processo de crescimento psíquico – a individuação. processo de crescimento psíquico – a individuação.
Observando um grande número de pessoas e estudando os seus Observando um grande número de pessoas e estudando os seus sonhos (calculava ter interpretado ao menos uns 80.000 sonhos), sonhos (calculava ter interpretado ao menos uns 80.000 sonhos), Jung descobriu não apenas que os sonhos dizem respeito, em grau Jung descobriu não apenas que os sonhos dizem respeito, em grau variado, à vida de quem sonha mas que também são partes de uma variado, à vida de quem sonha mas que também são partes de uma única e grande teia de fatores psicológicos. Descobriu também que, única e grande teia de fatores psicológicos. Descobriu também que, no conjunto, parecem
no conjunto, parecem obedecer a uma obedecer a uma determinada configuração determinada configuração ouou esquema. A este esquema Jung chamou “o processo de esquema. A este esquema Jung chamou “o processo de individuação”. Desde que os sonhos produzem, a cada noite individuação”. Desde que os sonhos produzem, a cada noite diferentes cenas e imagens, as pessoas pouco observadoras não se diferentes cenas e imagens, as pessoas pouco observadoras não se darão conta de qualquer esquema. Mas se estudarmos os nossos darão conta de qualquer esquema. Mas se estudarmos os nossos próprios sonhos e sua seqüência inteira durante alguns anos, próprios sonhos e sua seqüência inteira durante alguns anos, verificaremos que certos conteúdos emergem, desaparecem e depois verificaremos que certos conteúdos emergem, desaparecem e depois retornam. Muitas pessoas sonham repetidamente com as mesmas retornam. Muitas pessoas sonham repetidamente com as mesmas figuras, paisagens ou situações; se examinarmos a série total destes figuras, paisagens ou situações; se examinarmos a série total destes sonhos observaremos que sofrem mudanças lentas, mas sonhos observaremos que sofrem mudanças lentas, mas perceptíveis. (...)
perceptíveis. (...) Assim, a Assim, a nossa vida nossa vida onírica cria onírica cria um esquemaum esquema sinuoso (em meandros) em que temas ou tendências aparecem, sinuoso (em meandros) em que temas ou tendências aparecem, desvanecem-se e tornam a aparecer. Se observarmos este desenho desvanecem-se e tornam a aparecer. Se observarmos este desenho sinuoso durante um longo período vamos perceber a ação de uma sinuoso durante um longo período vamos perceber a ação de uma espécie de tendência reguladora ou direcional oculta, gerando um espécie de tendência reguladora ou direcional oculta, gerando um processo lento e imperceptível de crescimento psíquico – o processo processo lento e imperceptível de crescimento psíquico – o processo de individuação
de individuação (JUNG, 2002, (JUNG, 2002, p.161).p.161).
Desse excerto, depreende-se que o inconsciente, visto superficialmente, Desse excerto, depreende-se que o inconsciente, visto superficialmente, parece ser um processo natural, sem objetivo; mas, se analisado seriamente parece ser um processo natural, sem objetivo; mas, se analisado seriamente (observação, parte ativa nas fantasias), mostrará, por outro lado, um (observação, parte ativa nas fantasias), mostrará, por outro lado, um
endereçamento potencial. Quando a consciência desempenha uma endereçamento potencial. Quando a consciência desempenha uma participação
participação ativa em perceber as mudanças oferecidas nos sonhos ela acabaativa em perceber as mudanças oferecidas nos sonhos ela acaba por experimentar, a cada estágio do processo, significativas mudanças; sempre por experimentar, a cada estágio do processo, significativas mudanças; sempre na direção ou num estágio superior, constituindo assim a finalidade da meta: a na direção ou num estágio superior, constituindo assim a finalidade da meta: a união dos opostos. A ampliação da consciência, que significa estar ativa, união dos opostos. A ampliação da consciência, que significa estar ativa, enfrentar a fantasia ou, no
enfrentar a fantasia ou, no dizer de Jung, “confrondizer de Jung, “confrontar o inconsciente” tar o inconsciente” levando alevando a sério as situações que emergem, produz o surgimento de uma nova sério as situações que emergem, produz o surgimento de uma nova consciência. Essa nova consciência é a transformação da personalidade, a consciência. Essa nova consciência é a transformação da personalidade, a individuação da pessoa. Ou seja, caminha-se para alcançar o seu ponto individuação da pessoa. Ou seja, caminha-se para alcançar o seu ponto central: o
central: oSelf Self . Neste sentido, Jung acrescenta:. Neste sentido, Jung acrescenta:
A contínua conscientização das fantasias( sem o que, permaneceriam A contínua conscientização das fantasias( sem o que, permaneceriam inconscientes), com a participação ativa nos acontecimentos que se inconscientes), com a participação ativa nos acontecimentos que se desenrolam no plano fantástico, tem várias conseqüências, como se desenrolam no plano fantástico, tem várias conseqüências, como se pode observar num grande número de casos. Em primeiro lugar, há pode observar num grande número de casos. Em primeiro lugar, há uma ampliação da consciência, pois inúmeros conteúdos uma ampliação da consciência, pois inúmeros conteúdos inconscientes são trazidos à consciência. Em segundo lugar, há uma inconscientes são trazidos à consciência. Em segundo lugar, há uma diminuição gradual da influência dominante do inconsciente; em diminuição gradual da influência dominante do inconsciente; em terceiro lugar, verifica-se uma
terceiro lugar, verifica-se uma transformação da personalidade transformação da personalidade (JUNG, 1978, p. 95).
(JUNG, 1978, p. 95).
A esta mudança essencial obtida através do confronto e união dos A esta mudança essencial obtida através do confronto e união dos opostos, Jung deu o nome de função transcendente, “(...) através da qual o opostos, Jung deu o nome de função transcendente, “(...) através da qual o homem pode alcançar sua mais elevada finalidade: a plena realização das homem pode alcançar sua mais elevada finalidade: a plena realização das potencialidades do seu self( ou ser)”
potencialidades do seu self( ou ser)” (JUNG, 2002, (JUNG, 2002, p. 151). p. 151). A pessA pessoa mergulhaoa mergulha nos processos inconscientes até certo ponto abandonando-se a eles, nos processos inconscientes até certo ponto abandonando-se a eles, posteriormente compreendendo-os e, em alguns casos, até dominando-os; posteriormente compreendendo-os e, em alguns casos, até dominando-os; nasce a ligação do consciente e inconsciente.
nasce a ligação do consciente e inconsciente.
Todo este processo é chamado de “função transcendente”. Trata-se, Todo este processo é chamado de “função transcendente”. Trata-se, ao mesmo tempo, de um processo e de um método. A produção de ao mesmo tempo, de um processo e de um método. A produção de
compensações inconscientes é um processo espontâneo, ao passo compensações inconscientes é um processo espontâneo, ao passo que a realização consciente é um método. A função é chamada que a realização consciente é um método. A função é chamada “transcendente” porque favorece a passagem de uma constituição “transcendente” porque favorece a passagem de uma constituição psíquica para a outra, mediante a mútua confrontação dos opostos psíquica para a outra, mediante a mútua confrontação dos opostos (JUNG, 1991, p. 15).
(JUNG, 1991, p. 15).
Quero sublinhar apenas o fato de que se trata de uma mudança Quero sublinhar apenas o fato de que se trata de uma mudança essencial. Dei o nome de
essencial. Dei o nome de função transcendente função transcendente a esta mudança obtida atravésa esta mudança obtida através
do confronto com o inconsciente. A singular capacidade de transformação da do confronto com o inconsciente. A singular capacidade de transformação da alma humana, que se exprime na função transcendente, é o objeto principal da alma humana, que se exprime na função transcendente, é o objeto principal da filosofia alquimista
filosofia alquimista da baixda baixa Idade a Idade Média. (...) Média. (...) Seu segSeu segredo é redo é a “funçãoa “função transcendente” e a transformação da personalidade através da mistura e fusão transcendente” e a transformação da personalidade através da mistura e fusão de elementos nobres e vulgares, das funções diferenciadas e inferiores do de elementos nobres e vulgares, das funções diferenciadas e inferiores do consciente e inconsciente” (JUNG, 1978, p. 95 e 96). No seu livro
consciente e inconsciente” (JUNG, 1978, p. 95 e 96). No seu livro Memórias,Memórias, Sonhos e Reflexões
Sonhos e Reflexões , ele diz que “só descobrindo a alquimia compreendi, ele diz que “só descobrindo a alquimia compreendi
claramente que o inconsciente é um processo e que as relações do ego com os claramente que o inconsciente é um processo e que as relações do ego com os conteúdos do inconsciente desencadeiam um desenvolvimento ou uma conteúdos do inconsciente desencadeiam um desenvolvimento ou uma verdadeira metamorfose da psique” (1963, p. 184).
verdadeira metamorfose da psique” (1963, p. 184). A consciência - sentindo o
A consciência - sentindo o si-mesmo si-mesmo como como algo algo irracional, irracional, indefinível,indefinível,
de constituição transcendente, que escapa à compreensão passa a não se de constituição transcendente, que escapa à compreensão passa a não se opor, nem
opor, nem a se submeter, mas tãa se submeter, mas tão somente se ligano somente se ligando a ele: chega-se, endo a ele: chega-se, então,tão, à meta da individuação. Os sonhos, portanto, desempenham um importante à meta da individuação. Os sonhos, portanto, desempenham um importante papel na condução do eu à caminho do
papel na condução do eu à caminho do Self Self , pois, segundo Jung: o sonho é, pois, segundo Jung: o sonho é
testemunha de uma atividade inconsciente; escapa a qualquer regra racional, e testemunha de uma atividade inconsciente; escapa a qualquer regra racional, e às dimensões do espaço e do tempo; permite ao indivíduo libertar-se de suas às dimensões do espaço e do tempo; permite ao indivíduo libertar-se de suas
tendências egocêntricas inconscientes e evitar o acúmulo de tensões. tendências egocêntricas inconscientes e evitar o acúmulo de tensões. Entretanto, os elementos do sonho são tomados de fatos conscientes como Entretanto, os elementos do sonho são tomados de fatos conscientes como inconscientes, que se mesclam, sem ordem nem lógica, em composição inconscientes, que se mesclam, sem ordem nem lógica, em composição heterogênea. Por isso, é tão importante quanto difícil penetrar no significado heterogênea. Por isso, é tão importante quanto difícil penetrar no significado oculto dos seus símbolos. Este é outro ponto em que Jung se aparta de Freud. oculto dos seus símbolos. Este é outro ponto em que Jung se aparta de Freud. Cabe dizer aqui que a expressão “meta da Individuação” utilizada Cabe dizer aqui que a expressão “meta da Individuação” utilizada por Jung e por seus discípulos, é somente no sentido de que o psiquismo por Jung e por seus discípulos, é somente no sentido de que o psiquismo humano tende a caminhar na direção de se tornar aquilo que deve ser; neste humano tende a caminhar na direção de se tornar aquilo que deve ser; neste caso, de fato, há uma meta a se seguir. Porém, essa meta não deve ser caso, de fato, há uma meta a se seguir. Porém, essa meta não deve ser entendida como
entendida como um alvo quum alvo que se alcançe se alcança, pois o procea, pois o processo de indivsso de individuação iduação éé muito mais um caminho a ser percorrido que um alvo a ser alcançado. “A muito mais um caminho a ser percorrido que um alvo a ser alcançado. “A individuação não é senão um objetivo em potencial cuja idealização é mais individuação não é senão um objetivo em potencial cuja idealização é mais fácilfácil que sua realização” (SAMUELS; SHORTER; PLAUT,1988, p.110).
que sua realização” (SAMUELS; SHORTER; PLAUT,1988, p.110).
Esta é a razão porque Jung sempre se refere a essa configuração de Esta é a razão porque Jung sempre se refere a essa configuração de crescimento psíquico como um processo. A individuação não é um estado de crescimento psíquico como um processo. A individuação não é um estado de ser, mas um processo para se tornar um ser, à medida que se existe com essa ser, mas um processo para se tornar um ser, à medida que se existe com essa meta. Andrew Samuels e
meta. Andrew Samuels em um outro livro m um outro livro diz: “é um processodiz: “é um processo, não um estado;, não um estado; a não ser pela possibilidade de se considerar a morte como um objetivo final, a a não ser pela possibilidade de se considerar a morte como um objetivo final, a individuação jamais é completa e permanece um conceito ideal”
individuação jamais é completa e permanece um conceito ideal” (1989, p. 127).(1989, p. 127). Desse modo, desde que se nasce até à morte estará acontecendo o processo Desse modo, desde que se nasce até à morte estará acontecendo o processo de individuação; isto é, nossa consciência, nosso ego estará lidando com os de individuação; isto é, nossa consciência, nosso ego estará lidando com os arquétipos. A meta não é tornar-se perfeito, mas familiarizar-se com os arquétipos. A meta não é tornar-se perfeito, mas familiarizar-se com os conteúdos inconscientes. Até porque, nunca se chegará ao pleno conteúdos inconscientes. Até porque, nunca se chegará ao pleno
conhecimento do
conhecimento do self self , pois embora possa aproximar-se dele, esta aproximação, pois embora possa aproximar-se dele, esta aproximação
nunca chegará ao fim. nunca chegará ao fim.
Na visão junguiana, ninguém será jamais completamente individuado. A Na visão junguiana, ninguém será jamais completamente individuado. A meta é a totalidade, o processo é o caminhar em direção a ela. Jung assim se meta é a totalidade, o processo é o caminhar em direção a ela. Jung assim se refere a essa questão:
refere a essa questão:
Quanto ao problema da perfeição – lutar por ela é um ideal elevado. Quanto ao problema da perfeição – lutar por ela é um ideal elevado. “Leve a termo aquilo que está dentro de suas capacidades ao invés “Leve a termo aquilo que está dentro de suas capacidades ao invés de correr atrás daquilo que jamais será alcançado”. Ninguém é de correr atrás daquilo que jamais será alcançado”. Ninguém é perfeito. Lembre-se da frase: “Ninguém
perfeito. Lembre-se da frase: “Ninguém é bom, somente Deus”. Eé bom, somente Deus”. E ninguém poderá sê-lo. Podemos modestamente lutar para nos ninguém poderá sê-lo. Podemos modestamente lutar para nos completarmos, para sermos seres humanos tão plenos quanto completarmos, para sermos seres humanos tão plenos quanto possível. O que já nos trará trabalho suficiente (1991, p. 124).
possível. O que já nos trará trabalho suficiente (1991, p. 124).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo procurou tecer breves considerações sobre o tema da O presente artigo procurou tecer breves considerações sobre o tema da individuação a partir do exame do uso do termo, passando à conceituação do individuação a partir do exame do uso do termo, passando à conceituação do mesmo e apontando na importância dos sonhos no
mesmo e apontando na importância dos sonhos no processo.processo.
Considerando a literatura examinada, ficou evidente que a individuação Considerando a literatura examinada, ficou evidente que a individuação não se refere a uma idéia abstrata, um termo meramente teórico; ao contrário, não se refere a uma idéia abstrata, um termo meramente teórico; ao contrário, refere-se a uma mudança na vida da pessoa na direção de ela se tornar mais refere-se a uma mudança na vida da pessoa na direção de ela se tornar mais humana, mais plena e mais consciente de si mesma. Porém, a individuação humana, mais plena e mais consciente de si mesma. Porém, a individuação não pode ser compreendida como algo que se possa alcançar. Ela é um não pode ser compreendida como algo que se possa alcançar. Ela é um processo lento, árduo, que exige muito esforço da pessoa e que demandará processo lento, árduo, que exige muito esforço da pessoa e que demandará todo o tempo da
todo o tempo da existência terrena sem, contudo, chegar ao alvo existência terrena sem, contudo, chegar ao alvo proposto.proposto. Assim, a individuação é muito
Assim, a individuação é muito mais um caminho psicológico e existencialmais um caminho psicológico e existencial a ser trilhado, do que um alvo a ser conquistado; é mais uma proposta de vida a ser trilhado, do que um alvo a ser conquistado; é mais uma proposta de vida transformadora do que um estado de
Nestes dias, em que muito se fala e se vive sob o clima da globalização, Nestes dias, em que muito se fala e se vive sob o clima da globalização, em que o grupal é maior que o pessoal, em que as vozes das massas em que o grupal é maior que o pessoal, em que as vozes das massas silenciam o grito dos indivíduos, resultando na despersonalização da vida silenciam o grito dos indivíduos, resultando na despersonalização da vida humana; o assunto deste artigo é oportuno, sinalizando que o caminho para humana; o assunto deste artigo é oportuno, sinalizando que o caminho para uma existência digna e mais significativa, é o homem encontrar-se consigo uma existência digna e mais significativa, é o homem encontrar-se consigo mesmo ao transformar-se como pessoa.
mesmo ao transformar-se como pessoa.
Para terminar, quero ressaltar uma frase do próprio Jung, referida no Para terminar, quero ressaltar uma frase do próprio Jung, referida no texto, pertinente à luta pela perfeição, como um ideal elevado, ao mesmo texto, pertinente à luta pela perfeição, como um ideal elevado, ao mesmo tempo que ele nos lembrou dos nossos limites humanos: “podemos tempo que ele nos lembrou dos nossos limites humanos: “podemos modestamente lutar para nos completarmos, para sermos seres humanos tão modestamente lutar para nos completarmos, para sermos seres humanos tão plenos quanto possível. O que já nos trará trabalho suficiente”(1991, p.124). plenos quanto possível. O que já nos trará trabalho suficiente”(1991, p.124).
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