Pesquisa e Ação V4 N2: Novembro de 2018 ISSN 2447-0627
LIAN GONG: TERAPIA ALTERNATIVA DENTRO DAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES
Aliene Honorato da Silva1; Lesliê Elini de Paula Silva¹; Washington Luís Evangelista Costa¹; Laila Moussa²2 William Akira Lima Shimizu3
RESUMO
Na Medicina Tradicional Chinesa os exercícios corporais sempre foram muito valorizados pelos chineses, como forma de manter o corpo e a saúde mental em perfeita condições. Assim o Lian Gong tem a funcionalidade de exercitar o corpo. A prática da técnica chinesa fortalece o corpo físico, músculo, tendões e ossos com intuito de torná-lo saudável. OBJETIVO: Realizar uma revisão sobre a influência do Lian Gong como terapia alternativa dentro das práticas integrativas e complementares. RESULTADOS: Os resultados deste estudo detalham a prática dos exercícios para promover a qualidade de vida. CONSIDERAÇOES FINAS: A implantação de políticas públicas e promoção da saúde através de suas práticas possibilitaram o acesso da população a terapias complementares, como por exemplo: Lian Gong visando melhorar a qualidade de vida da mesma.
Palavras-chave: Terapias alternativas, Práticas Integrativas e Complementares. ABSTRACT
INTRODUCTION: In traditional Chinese medicine corporal exercises have always been highly valued by the Chinese as a way to maintain the body and mental health in perfect conditions. Thus Lian Gong has the functionality of exercising the body. The practice of Chinese technique strengthens the physical body, muscle, tendons and bones in order to make you healthy. OBJECTIVE: To perform a review on the influence of Lian Gong as an alternative therapy within integrative and complementary practices. RESULTS: The results of this study detail the practice of exercises to promote quality of life. FINAL CONSIDERATIONS: The implementation of public policies and health promotion through their practices has enabled the population to access complementary therapies, such as: Lian Gong aiming to improve the quality of life of the same.
Keywords: Alternative Therapies, Integrative and Complementary Practices. INTRODUÇÃO
Conhecidos por sua grande preocupação com o corpo saudável, os chineses, segundo a tradição, acreditam que seus corpos são dádiva e, portanto, os veem como obrigações protegê-lo contra doenças¹.
A China é uma das civilizações mais antigas do mundo e possui uma das medicinas mais tradicionais da humanidade, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) caracterizado por um sistema de cuidado integral com intuito de equilíbrio das energias. Na MTC os exercícios corporais sempre foram muito valorizados pelos chineses, como forma de manter o corpo físico e a saúde mental em perfeitas condições¹.
O Nei Jing ou Livro de Medicina do Imperador Amarelo, provavelmente escrito por volta de 300 a.C., descreve a anatomia humana, incluindo a circulação sanguínea.
1 Acadêmicos da Faculdade de Fisioterapia do Centro Universitário Braz Cubas – Mogi das Cruzes – SP 2 Mestre em Ciências do Movimento pela UNG; Docente da Faculdade de Fisioterapia do Centro Universitário Brazcubas – Mogi das Cruzes – SP
3 Mestre em Ciências pela USP; Docente da Faculdade de Fisioterapia do Centro Universitário Brazcubas – Mogi das Cruzes – SP
Grande parte do tratamento chinês baseava-se na filosofia do Yin e Yang. A mais antiga
filosofia de saúde e doença na China (2900 a.C.) baseia-se no Tao, o caminho, o equilíbrio da dualidade da natureza representada pelo princípio masculino, ou Yang – ativo, quente, seco, luminoso e positivo -, e pelo princípio feminino, ou Yin – passivo, frio, úmido, escuro e negativo. Viver segundo o Tao significa ser equânime moderado e
ter conduta apropriada. O texto Clássicos de Medicina Interna dos Imperadores Amarelos, compilado em 200 a.C., descreve as doenças como alterações do equilíbrio entre o Yin e o Yang e apresenta a saúde e a longevidade como consequências do equilíbrio atingido com o seguimento do Tao¹.
Lian Gong significa: treinar (lian) e trabalho persistente (gong). Assim o Lian
Gong tem a funcionalidade de exercitar o corpo. A prática da técnica chinesa fortalece o corpo físico, músculo, tendões e ossos com intuito de torná-lo saudável, sendo composta de 54 exercícios divididos em 3 sequencias. A primeira parte tem como função prevenir e tratar as dores do pescoço, ombros, das costas, região lombares e membros inferiores; a segunda destaca as articulações, os tendões e as disfunções dos órgãos internos; a terceira parte age nos distúrbios das vias respiratórias e cardiovasculares².
O Conselho Nacional e o Conselho de Práticas Corporais de Shangai consideram o Lian Gong como uma das técnicas que mais bem representa a cultura chinesa na área de práticas corporais, dentro e fora da China³.
No Brasil, historicamente e culturalmente, os cuidados em saúde estabelecidos consistem no modelo assistencial e hospitalocêntrico com foco no tratamento e reparação das doenças 4.
A Politica Nacional de Promoção da Saúde (PNPS, 2010) tem como objetivo:
“promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais”.
O intuito é o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) voltadas para o planejamento de ações de promoção à saúde e prevenção dos agravos como sedentarismo, tabagismo, alimentação inadequada que representam um desafio expressivo à saúde pública no mundo4.
Nesse contexto, a criação da Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) propõe a mudança de paradigmas em saúde que consiste no
modelo com foco no tratamento e reparação dos agravos, com intuito de fortalecer a promoção da saúde, um conceito pouco valorizado na nossa sociedade 4.
Uma das estratégias de ação da PNPIC encontra-se a prática corporal da MTC. Tendo em vista a importância da prática da atividade para os aspectos de saúde, o Lian Gong, um recurso com ênfase na prevenção e controle das DCNT, em especial hipertensão arterial e diabetes, tornou-se uma das Práticas Integrativas da MTC da PNPIC do Sistema Único de Saúde (SUS) aprovada pela Portaria 971 de 03 de maio de 2006 4.
Sabendo que a promoção da saúde é um dos pilares para a qualidade de vida e para o envelhecimento saudável, o Lian Gong apresenta-se como uma estratégia de saúde importante para atingir enfrentar e minimizar os desafios das DCNT. Entretanto, além de compor uma política de saúde, torna-se necessário compreender sua efetividade para o SUS e seus benefícios à população.
1. OBJETIVOS Objetivo Geral
Realizar uma revisão sobre a influência do Lian Gong como terapia alternativa dentro das práticas integrativas e complementares.
Objetivo Específico
Analisar o Lian Gong como um recurso de política de saúde;
Identificar a influência do Lian Gong e sua efetividade e seus benefícios à população.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo teórico, com revisão sistemática de literatura, que utilizou as bases de dados da SCIELO, e GOOGLE ACADÊMICO, usando como descritores: “Lian Gong”, “Políticas” e “Saúde”.
Os critérios para inclusão dos trabalhos basearam-se artigos que utilizam como tema a prática corporal chinesa Lian Gong, no período de 2007 a 2018.
Os critérios para exclusão referiram-se à inacessibilidade e disponibilidade do texto na íntegra, permanecendo apenas o resumo, e artigos em língua estrangeira.
3. RESULTADOS
Foram encontrados 7 artigos com a temática proposta. Todos foram considerados elegíveis e descritos as propostas dos estudos na tabela 1.
Tabela 1. Descrição das propostas dos estudos analisados.
Autor/Ano Proposta de Estudo.
Santos, ACC et al. (2012)2
Avaliar a implantação das práticas integrativas de saúde que foram incorporadas aos serviços de saúde, entre elas a ginástica terapêutica chinesa: Lian Gong em 18 terapias, que treina e exercita o corpo por meio de movimentos suaves e firmes.
Moretti, AC et al. (2009)5
Apurar a implantação de Políticas Públicas na Promoção da Saúde, ponderar aspectos que designam o processo saúde-adoecimento.
Nagai, SC et al. (2011)6
Analisar as condições, os problemas e os obstáculos na implementação dessas práticas nos serviços de saúde, a partir de uma pesquisa metodológica qualitativa.
Galvanese, ATC et al. (2017)7
Averiguar as práticas corporais, suas contribuições e seus desafios na rede pública. Foi realizada pesquisa qualitativa, desenvolvida em 16 unidades de saúde do Município de São Paulo, Brasil. Como há precariedade na inclusão dessas práticas com outras propostas nos serviços de saúde.
Nunes, MES et al. (2009)8
Apresentar os benefícios que as atividades físicas regulares proporcionam para a população idosa, focando na Caminhada, Hidroginástica e no Lian Gong.
Bobbo, VCD et al. (2016)9
Exemplificar o Lian Gong, que é uma técnica enriquecedora das práticas integrativas desenvolvidas no sistema público de saúde, contribuindo para a qualidade de vida, sobretudo dos idosos, em comparação com idosos sedentários.
Silva, RA et al. (2012)10
Expor a importância da inserção do Lian Gong associado com a educação nutricional, e os benefícios que trazem à saúde.
4. DISCUSSÃO
A implantação de PNPS tem como finalidade organizar, facilitar o planejamento, realização, análise e avaliação do trabalho em saúde, visando promover a qualidade na assistência à saúde da população.
Através da Organização Mundial de Saúde e o SUS foram implantadas ações na rede básica de saúde, de aconselhamento, divulgação e ações sociais, procurando diferentes formas de gerar saúde, constituir relações sociais e consequentemente, melhorar a condição de saúde da população. Com esse intuito, foram introduzidas práticas de medicinas alternativas e complementares, como a MTC, na cidade de São Paulo e na rede básica do município de Campinas. Há profissionais da saúde que
apoiam esse tipo de projeto que compreende programas de promoção à prática de atividade física, acessível à população brasileira, que se enquadra na PNPS5,6.
Essas iniciativas fomentaram Galvanese et al. (2017) que efetuaram ações de políticas públicas em duas regiões administrativas de uma Coordenadoria Regional de Saúde do Município de São Paulo realizando um levantamento sobre 31 práticas corporais, incluindo o Lian Gong e outras práticas como e Tai Chi, Qi Gong, Yoga, Capoeira, Danças, Meditação, Relaxamento, Consciência e Percepção Corporal em grupo por meio de entrevistas semiestruturadas com profissionais da saúde e usuários praticantes, abordando promoção e cuidados terapêuticos e incentivos culturais7. O Lian
Gong tem uma prática corporal com exercícios simples e objetivos, lentos e com amplitude que exigem força, flexibilidade, concentração e atenção, trazendo benefícios à saúde8. De acordo com as práticas realizadas, confirmou-se os benefícios sobre a
redução das dores articulares, melhora sobre a mobilidade, equilíbrio, memória, redução dos sintomas de depressão e ansiedade; colaborando para melhor qualidade do sono, independentemente da faixa etária7.
Corroborando tais achados, Silva et al. (2012) associaram a intervenção em usuários hipertensos praticantes de Lian Gong de uma Unidade Básica de Saúde de Belo Horizonte, Minas Gerais com encontros que continham atividades físicas, oficinas educativas e avaliação da intervenção10.
Notou-se que a intervenção promoveu alterações favoráveis no consumo alimentar habitual após o acompanhamento resultando em redução significativa em correlação de excesso de peso e de gordura abdominal com diferenças dos distúrbios antropométricos e de níveis pressóricos em ambos os sexos. As alterações tenham ocorrido por conta da intervenção nutricional educativa associada com a prática do Lian Gong. Os resultados deste estudo revelam uma tendência em favor da modificação da dieta em decorrência desta ação além da referida melhoria na condição de saúde dos indivíduos e, consequentemente, repercutindo em hábito de vida com mais qualidade9.
O excesso de peso associado à dor pode limitar as execuções de atividades de vida diária e prática, reduzindo a participação social, a interação entre as pessoas, reforçando as DCNT como lesão de esforço repetitivo, fibromialgia, depressão, hipertensão e labirintite2.
As dores crônicas são amenizadas por meio de exercícios físicos realizados de maneira simples, mas que tenham influência sobre a flexibilidade e o equilíbrio, com a prática do Lian Gong, sendo benéfico para a saúde física e mental2.
A prática do Lian Gong requer mobilidade com a movimentação adequada de músculos, fáscias, ligamentos, tendões, aumentando a amplitude de movimento das articulações e, assim contribuindo para diminuição álgica. Além disso, a atividade em grupo é um recurso que favorece a interação entre as pessoas e que, consequentemente, repercutirá na realização mais frequente das atividades físicas.
Essas práticas, no seu contexto não apenas de execução, mas social e de integração, favorece a uma percepção mais positiva sobre sua saúde9. Assim os idosos ativos
quantos aos sedentários relatam presença de dor equiparada em quantidade, os indivíduos ativos houve menor consumo de medicamentos, e uma percepção mais positiva da sua própria saúde, com destaque para a menor limitação de movimentos na realização de atividades de vida diária.
Porém, a precariedade na integração entre essas práticas nos serviços de saúde, destaca a necessidade de se promover parcerias entre os geradores de cuidado, em benefício da saúde de todos os usuários e, especialmente, daqueles que possuem condições crônicas.
5. CONSIDERAÇÃO FINAL
O Lian Gong é uma prática da MTC e que integra as PNPIC do Ministério da Saúde com uma medida da PNPS. Nota-se que há poucos estudos que se refiram à implementação da prática no contexto da saúde pública e atenção básica, entretanto, as evidências de melhoria na condição de saúde da população é significativa principalmente sobre a mobilidade, flexibilidade, interação e socialização, entre outros.
Mais inciativas governamentais poderiam introduzir o Lian Gong na rotina diária dos centros de saúde por se apresentar como uma ferramenta acessível, não invasiva e não farmacológica, de caráter integrativo e complementar à saúde da população.
6. REFERÊNCIAS
1. Papaléo, MN Tratado de Gerontologia. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2007.
2. SANTOS, ACC. et al. Percepção dos usuários de um centro de saúde acerca de sua participação no grupo de ginástica chinesa lian gong: uma análise compreensiva. Mineira de enfermagem, Minas gerais, v. V.18, n. 1, p. 94-99, jan./mar. 2014.
3. Moreira, MRA et al. Lian Gong em 18 terapias: uma proposta para prevenir os transtornos traumáticos cumulativos. Enfermagem em Foco. V.4, n.1, p.33-36. 2013.
4. Ministério da Saúde, Portaria nº 971, 03 de maio de 2006 e Saúde e Sociedade, v. 18, supl. 1, 2009.
5. MORETTI, AC. et al. Práticas corporais/atividade física e políticas públicas de promoção da saúde. Saude soc., São Paulo, v. 18, n. 2, p. 346-354, June 2009. 6. NAGAI, SC. et al. Medicina complementar e alternativa na rede básica de
serviços de saúde: uma aproximação qualitativa. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, p. 1793-1800, Mar. 2011.
7. GALVANESE, ATC. et al. Contribuições e desafios das práticas corporais e meditativas à promoção da saúde na rede pública de atenção primária do Município de São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 33, n. 12, e00122016, 2017
8. NUNES, MES. et al. Avaliação funcional de idosos em três programas de atividade física: caminhada, hidroginástica e Lian Gong. Rev. Port. Cien. Desp., Porto, v. 9, n. 2-3, p. 150-159, 2009 .
9. BOBBO, VCD. et al . Saúde, dor e atividades de vida diária entre idosos praticantes de Lian Gong e sedentários. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 4, p. 1151-1158, Apr. 2018.
10. SILVA, ; (2012), RA Et Al.. INTERVENÇÃO NUTRICIONAL INTEGRADA À PRÁTICA DE LIAN GONG EM USUÁRIOS HIPERTENSOS DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS. Rev APS. 2012 jul/set; 15(3): 356-363, Minas Gerais, v. 15, n. 3, p. 356-363, jul./set. 2012.
