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PALAVRA DO PRESIDENTE

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Academic year: 2021

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Iniciamos este ano cheios de planos e ambições. Porém, parafraseando Car-los Drummond de Andrade: no meio do caminho surgiu uma pedra. Essa pe-dra recebeu o nome de Covid-19 e já foi responsável pela morte de mais de 115 mil brasileiros. Diante dessa doença, o mun-do inteiro sucumbiu e teve que se reinventar.

Nos laboratórios de pesquisa de todo o mun-do, cientistas e médicos não pararam um só dia – como poderiam, se a cura para a doença está nas mãos deles? Nós aqui do outro lado continua-mos antenados e nos atualizando constantemente para ficarmos a par de todas as novas descobertas sobre o Sars-CoV-2 e como esse vírus pode afetar nossas pacientes.

Por isso, após suspender o Clube da Mama por um período, a diretoria da SBM-GO, fren-te ao “novo normal”, decidiu realizar as reuniões do Clube via Zoom. Assim, voltamos a debater diversos temas de forma multidisciplinar, como “Câncer de Mama na Mulher Jovem”, “Terapia Hormonal”, “Tratamento Local em Pacientes

COVID-19 PODE ADIAR PLANOS, MAS

NÃO REDUZIR NOSSAS AMBIÇÕES

EXPEDIENTE

REALIZAÇÃO

Circulação: Goiânia/GO Tiragem: Digital

Distribuição Gratuita: SBM-GO

DIRETORIA SBM-GO TRIÊNIO 2020/2022

Presidente:

Frank Lane Braga Rodrigues

Vice-Presidente:

Alexandre Marchiori Xavier de Jesus

Secretário Geral:

Deidimar Cássia Batista Abreu

Secretário Adjunto:

Érika Pereira de Sousa e Silva

Tesoureiro Geral:

Célio da Silva Rocha Vidal

Tesoureiro Adjunto:

Luís Fernando Pádua Oliveira

Comissão Científica: Leonardo Ribeiro Soares e Rachel Machado de Oliveira Portela

Diretora: Keila Garcia

Designer Gráfico: Eduardo Costa

Reportagem e Edição: Denyze Nascimento keilagarciapublica@gmail.com Informações: (62) 9 9171-5225

Av. Oeste, nº53, sala 03 - Setor Aeroporto

REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA - REGIONAL GOIÁS Av. Portugal, esquina c/ T-51,

n.º 1052, Setor Marista Goiânia – Goiás. CEP:74150-030

Contato: (62) 3285-4607 contato@sbmgoias.com.br www.sbmgoias.com.br

Opiniões, ideias e conceitos emitidos em matérias e artigos da Revista da SBM-GO são de inteira responsabilidade dos respectivos autores e da SBM-GO.

PUBLICA COMUNICAÇÃO

PALAVRA DO PRESIDENTE

Frank Lane Braga Rodrigues, Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Goiás

Metastáticas, dentre outros - todos os encontros online foram sempre profícuos.

Infelizmente, outros eventos nacionais e re-gionais deste ano, como Brazilian Breast Cancer

Symposium, tiveram que ser adiados. Todavia, a

10ª edição deste simpósio já tem nova data: será realizado no próximo ano de 13 a 15 de maio. Save the date!

Os anseios da nossa diretoria continuam os mesmos. Nossos projetos foram apenas adiados, mas estamos retomando gradualmente. Desse modo, após um hiato de seis meses, voltamos a produzir nossa estimada revista.

Nesta edição, como não poderia deixar de ser, trazemos artigos especiais sobre a Covid-19 es-critos por oncologistas, mastologistas, médicos especialistas em Medicina Nuclear, entre outros. Agradeço a todos que contribuíram comparti-lhando seus conhecimentos.

Como dissemos no começo da nossa gestão, vamos trabalhar com afinco para tornar a SBM--GO cada vez mais sólida e estreitarmos o elo com a sociedade.

Ainda temos uma longa estrada para percorrer, mas tenho certeza que todos chegaremos ao final dessa caminhada mais experientes e capacitados.

Avante!

Tenha uma ótima leitura.

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da para propósitos de realização de imagem ou para fins terapêu-ticos. Um exemplo de meia-vida curta seria um radioisótopo com meia-vida de 110 minutos (flúor-18), o que significa que a cada 110 minutos metade da medicação deixa de ser radioati-va devido ao seu de-caimento.

A especialidade da Medicina Nuclear está intrinsecamente ligada à Mastologia pois pode ser utili-zada para procedi-mentos cirúrgicos de nódulos mamários, tais como a locali-zação radioguiada

de nódulos não palpáveis (conhecido pelo termo “ROLL”), a pesquisa de linfonodo sentinela (que pode ser realizada solitária ou em conjunto à reti-rada do nódulo mamário – procedimento conhe-cido pelo termo “SNOLL”); marcação de lesões neoplásicas antes da quimioterapia para posterior abordagem cirúrgica; estadiamento ou investiga-ção da suspeita de metástases em pacientes on-cológicos (com exames de cintilografia óssea e PET/CT, por exemplo).

Desde a sua emergência no fim do ano de 2019, a Covid-19 tem afetado profundamen-te todos os setores da sociedade no mundo, em especial o setor de cuidados da saúde. Nenhum aspecto da prática médica foi deixado intocado e cada especialidade tem considerações únicas e es-pecíficas relacionadas a sua área atuação.

A especialidade de Medicina Nuclear faz uso de insumos radioativos essenciais chamados

“ra-MEDICINA NUCLEAR

E O IMPACTO DA COVID-19

Medicina Nuclear

é a especialidade que lida com estudos de cintilografia, PET/ CT, procedimentos de cirurgia radio-guiada e terapias es-peciais (por exemplo, radioiodoterapia para tratamento de câncer metastático da ti-reoide). Nesta espe-cialidade avalia-se a expressão de diferen-tes vias metabólicas das doenças, utili-zando-se para isso os “radiofármacos”, mo-léculas criadas em laboratório e que são utilizadas em vias metabólicas específi-cas. Estas moléculas são marcadas com isótopos radioativos geralmen-te de meia-vida curta e cuja radiação é

utiliza-Larissa Fernanda Medeiros Vieira, graduação em Medicina na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), residên-cia médica em Medicina Nucle-ar pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), título de Especia-lista em Medicina Nuclear, pós-graduação em Ultrassono-grafia Geral na Cetrus, médica nuclear no Instituto de Medici-na Nuclear (IMEN), membro docente da Faculdade de Medi-cina Alfredo Nasser, Unifan

Monick Junho do Amaral Evan-gelista, graduação em Farmácia e Habilitação em Análises Clínicas (Bioquímica) na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), aperfeiçoamento em Radiofarmácia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Me-dicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), mestrado em Oncologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), farmacêu-tica com atuação em Radiofar-mácia no setor de Medicina Nu-clear do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp)

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dioisótopos”, sendo o Tecnécio (99mTc) o prin-cipal deles, o qual é utilizado para o preparado de “radiofármacos” utilizados em cintilografias e cirurgias radioguiadas. O tecnécio-99m é obtido através do decaimento de outro “radioisótopo” – o Molibdênio-99, que é produzido em reatores nucleares de centros de alta tecnologia no exte-rior (Canadá, Rússia, África do Sul e Argentina) e exportado para o resto do mundo, sendo este um procedimento que exige uma extensa logís-tica de transporte aéreo. À medida que o vírus SARS-CoV-2 se espalhou mundialmente e fez--se a obrigação de parar ou drasticamente reduzir o transporte aéreo internacional, a especialidade passou (e ainda passa) por um momento de grande tensão devido à interrupção da cadeia logística de distribuição de materiais e ao risco de desabaste-cimento deste insumo extremamente necessário.

A restrição do transporte aéreo nacional tam-bém foi um fator de impacto importante, uma vez que no Brasil há somente um centro, de autarquia federal, responsável pela manufatura do Molib-dênio-99 e sua distribuição nacional na forma de sistemas geradores de tecnécio-99m e todos os demais centros produtores produzem insumos de meia-vida curta (como é o exemplo do 18F-FDG, utilizado no exame de PET/CT). Este fator era relativamente contornado pelo transporte aéreo

rápido e, à medida que tais viagens foram severa-mente restritas, os serviços se viram obrigados a se adaptar ao transporte rodoviário (o que adicio-na custos e exige uma reorganização da logística de transporte dos insumos).

Outro fator que afetou a especialidade foi a flutuação cambial do dólar, visto que os insumos são em sua maioria importados e, portanto, co-tados em dólar. O importante aumento do dólar levou a dificuldades de compra de insumos, visto que o valor dos procedimentos pagos pelo SUS e convênios médicos são tabelados e não levam em conta a flutuação cambial (o que força os centros produtores e, por conseguinte, os serviços de Me-dicina Nuclear a absorver o impacto financeiro do aumento de custo dos insumos).

A maioria dos procedimentos em Medicina Nuclear não pode ser postergada, pois é conside-rada essencial ou de urgência (como, por exem-plo, é o caso do estadiamento de neoplasias com exames de PET/CT ou as cirurgias para trata-mento do câncer de mama, que ainda assim ti-veram sua demanda reduzida). Houve, portanto, a necessidade da urgente adaptação dos serviços de Medicina Nuclear ao contexto do distancia-mento social e às novas exigências dos órgãos de fiscalização em saúde de maneira a minimizar o risco de exposição viral de pacientes e colabora-dores (exemplo: o treinamento dos colaboracolabora-dores, afastamento de colaboradores do grupo de risco, compra de novos equipamentos de proteção indi-vidual e o ajuste das agendas de exames e proce-dimentos para evitar a aglomeração desnecessária de pessoas). Esta situação foi enfrentada de

ma-neira semelhante nos serviços de saúde das demais especialidades.

No aspecto geral, a pandemia da Co-vid-19 afetou profundamente o setor de Me-dicina Nuclear e exigiu uma rápida e intensa

reorganização da logística de fornecimento de insumos da especialidade e da logística de funcionamento das clínicas. Estes desa-fios vêm sendo enfrentados com perseve-rança e muita responsabilidade para que os

pacientes não sejam prejudicados.

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rastreamento alterados e priorizados para investiga-ção diagnóstica, bem como a confirmainvestiga-ção dos casos suspeitos de câncer. Nos casos de sinais e sintomas sugestivos de neoplasia, um profissional ou serviço de saúde deve ser consultado imediatamente com prioridade em relação às consultas.

Os cuidados com a Covid-19 devem ser intensifi-cados. Sempre que possível, realizar agendamentos por horário. Durante a confirmação do mesmo, caso haja algum sintoma gripal, a consulta deverá ser remarcada. O distanciamento físico deve ser estimulado e moni-torado por algum colaborador do estabelecimento. A higienização constante das superfícies e uso de equipa-mentos de proteção individual pelo médico e equipe de atendimento também devem ser priorizados.

Em relação à rotina médica do mastologista, quando falamos do tratamento propriamente dito, também houve modificação devido à pandemia. Para um melhor entendimento desta fase, foi realizado um estudo através da aplicação de um questionário, avaliando se houve alguma alteração na conduta dos mastologistas do nosso país. Um total de 1462 médi-cos mastologistas responderam sobre diversos aspec-tos do diagnóstico e tratamento entre os dias 30 de abril e 11 de maio. Foram observados aspectos de-mográficos, mudanças na gestão do câncer de mama em estágios iniciais, tanto no início quanto durante a pandemia, e o manejo destes casos. Optou-se por avaliar estágios iniciais do câncer devido a conduta inicial ser normalmente a cirurgia primariamente.

O estudo concluiu que 57% dos médicos não mudaram sua conduta nos casos de câncer de mama inicial durante a fase inicial da pandemia, modifi-cando para 70% com alguma modificação durante o transcorrer dela. Outro ponto importante mostrou uma maior tendência a indicação de terapia endócri-na neoadjuvante em casos com receptores hormoendócri-nais positivos e um receio em indicar quimioterapia neo-adjuvante pela associação a uma piora clínica quando o paciente oncológico estava em uso de quimioterapia.

Mesmo em um momento desafiador para a huma-nidade, não podemos deixar de nos cuidar. Ganhamos mais um cuidado para as nossas vidas e para com os nossos pacientes. É hora de voltar a cuidar da saúde das mamas, pois o câncer não espera e não faz quarentena.

OS DESAFIOS DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

DO CÂNCER DE MAMA EM ÉPOCA DE PANDEMIA

Os tempos atuais têm sido desafiadores para pacientes com diagnóstico de câncer de mama, para aqueles que ainda buscam um diagnóstico e para os profissionais de saúde que ganharam mais um obstáculo na luta contra o câncer: a pan-demia de Covid-19.

Segundo estima-tivas das Sociedades Brasileiras de Pato-logia e de Cirurgia Oncológica, 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com algum tipo de câncer. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) também vê com preocupação a queda vertiginosa nos atendimentos ocorridos re-lacionados ao câncer de mama.

Com a pandemia de Covid-19 houve necessida-de necessida-de priorização dos atendimentos ao vírus, gerando medo na população pela contaminação, desencadeando cancelamentos de procedimentos diagnósticos, suspen-são de consultas ambulatoriais e até mesmo cirurgias eletivas. Alguns estudos iniciais durante o surto no continente Europeu avaliaram também a possibilidade de um risco maior para os pacientes já em tratamento de câncer terem um desfecho pior para Covid, trazendo ainda mais incertezas para pacientes e profissionais de saúde sobre o que fazer em tempos de pandemia.

A retomada dos exames de rotina através da mamografia é importante. O diagnóstico precoce é sabidamente capaz de reduzir o risco de morte por câncer. Quando diagnosticado em estágios mais avançados, leva a piora do prognóstico, abordagens mais agressivas e aumento das taxas de mortalidade.

A Sociedade Brasileira de Mastologia elaborou, então, uma cartilha de orientações para a retoma-da do rastreamento de câncer. Inicialmente, deve-se realizar uma busca ativa de pacientes com testes de

Wellington Martins de Souza, graduação em Medicina pela Uni-versidade Federal de Mato Grosso (UFMT), residência médica em Gi-necologia e Obstetrícia pelo Hospital Materno Infantil, Goiânia-GO, re-sidência médica em Mastologia pelo Hospital da Mulher e Maternidade Dona Iris, Mastologista no Centro de Oncologia do Instituto de Hemo-terapia de Goiânia, Mastologista no Centro de Especialidades médicas de Aparecida de Goiânia

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com câncer como “vulneráveis à Covid-19” provavel-mente não é razoável nem informativo.

Uma consequência do rótulo genérico dado aos pa-cientes com câncer (de qualquer idade, sexo ou subtipo e estágio tumoral) como sendo de alto risco de doença para Covid-19 foram mudanças radicais no tratamen-to para tratamen-todos os tipos de câncer nos últimos meses, incluindo o câncer de mama, com abreviação da radio-terapia (hipofracionamento), mudança de esquemas de quimioterapia (de intravenosa para oral) e tentativas de se evitar imunoterapia.(5,6,7).

Até agora, a maioria das pessoas temia um diagnós-tico com a temida “palavra C” – câncer – devido às suas dificuldades físicas, emocionais e financeiras associadas, bem como ao seu estigma social. No entanto, a rápida progressão da Covid-19 de um problema local da região chinesa de Wuhan para uma pandemia global, transfor-mou-a num sério competidor pelo título de doença mais temida (e com razão, dada a pressão intensa que está colocando sobre nós individualmente e como sociedade em todos os níveis).

Algumas estimativas conservadoras sugerem que se 30% da população contrair a doença e tiver uma taxa de mortalidade de 0,5%, a Covid-19 ficaria atrás ape-nas das doenças cardiovasculares e do câncer como as principais causas de morte no país.(8) Portanto, é ine-vitável que muitas de nossas pacientes com câncer de mama sejam afetadas pela Covid-19. Isso gerou grande preocupação entre oncologistas clínicos, mastologistas, rádio-oncologistas e pacientes com câncer sobre quais seriam as medidas de proteção ideais a ser tomadas.

Enfrentar a incerteza de um diagnóstico de câncer de mama é certamente um dos momentos mais difíceis na vida de uma mulher. Para mulheres com diagnóstico de câncer de mama, a Covid-19 provavelmente traz de volta a memória de serem confrontadas com sua própria morta-lidade. E, durante esses tempos de distanciamento social, o medo se tornou predominante não apenas no coração de nossas pacientes oncológicas, mas também em toda a equipe de profissionais de saúde (médicos inclusive).

Mas, embora a maioria de nossos pacientes possa optar por ficar em casa com sua família, esperando a tempestade passar, nada parece muito diferente na rotina do oncolo-gista durante a pandemia. Continuamos a ver pacientes

COVID-19 E CÂNCER DE MAMA:

AS MAIS TEMIDAS PALAVRAS COM “C”

O curso da

doen-ça em indivíduos que contraem o novo coro-navírus (Sars-CoV-2) é fenotipicamente diverso. A maioria dos pacientes parece manifestar ape-nas sintomas leves e está se tornando cada vez mais evidente, a partir dos dados de anticorpos, que muitos indivíduos infectados não apresen-tam nenhum sintoma (mas podem carregar e transmitir ativamente a infecção). No entanto, na outra extremidade do espectro, alguns indivíduos desenvolvem sintomas muito graves e podem seguir um fenótipo extremo com o desenvolvimento de insuficiência respiratória, sín-drome de liberação de citocinas e falência de múltiplos órgãos.(1) Foram identificados subgrupos de pacientes com Covid-19 (doença provocada pelo novo coronaví-rus) que parecem estar em maior risco de morbidade e mortalidade extremas, incluindo pacientes com idade avançada, sexo masculino (versus feminino) e aqueles com comorbidades, principalmente hipertensão, doença pulmonar crônica, diabetes e câncer.(1).

Desde que a Covid-19 começou a se espalhar por todo o mundo, no início de 2020, os pacientes com cân-cer foram taxados como um subgrupo particularmente vulnerável da população. Foi postulado que pacientes com câncer não só correriam risco aumentado de con-trair infecção por Sars-CoV-2, mas também de ter um curso de doença mais grave, com uma proporção maior exigindo cuidados intensivos, apresentando uma doen-ça de evolução mais rápida e com risco aumentado de morte.(2,3,4).

No entanto, o termo “câncer” abrange uma miríade de doenças, com uma variedade de subtipos e estágios, afetando um grupo heterogêneo de pacientes de todas as idades, os quais resultam em prognósticos de câncer muito diferentes. Portanto, rotular todos os pacientes

Dr. Uirá M. Resende (CRM-GO 13.056),

MD, Médico Oncologista Clínico, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Diretor Clínico do Hospital Hemolabor em Goiânia, Principal da URSO (União de Recursos e Serviços em Oncologia)

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todos os dias, tanto no consultório como internados, e a dar continuidade as nossas demais atividades (lecionan-do à distância e atenden(lecionan-do um volume cada vez maior de mensagens de WhatsApp em nossos celulares, inclusive).

Precisamos ter em mente que quando uma de nos-sas pacientes testa positivo para Covid-19, mesmo aque-las que não estão em tratamento ativo (aqueaque-las que hoje rotulamos como “sobreviventes”), devido ao seu históri-co de câncer, não podem deixar de se perguntar se seu sistema imunológico voltou ao normal após o tratamen-to e se ela será capaz de resistir a esta infecção sem com-plicações graves.

A apreensão do que as próximas semanas podem trazer é enervante e assustadora: haverá dificuldade para respirar? Precisarei ser internada no hospital? Vão me colocar numa UTI? A quimioterapia prévia afetará o que vai acontecer comigo?

Como oncologista, também me preocupo com to-dos os pacientes sob meus cuidato-dos. Pedir a uma pessoa comum que “#FiqueEmCasa” e coloque sua vida em pausa por algumas semanas a meses pode parecer uma medida razoável a tomar para conter essa pandemia. Porém, essa não é uma opção viável para muitas pacien-tes com câncer de mama que recebem terapia ativa para tentar prolongar sua vida. Portanto, essas pacientes são forçadas a batalhar todos os dias, não só contra o câncer, mas também enfrentando a Covid-19! Cada ida à sala de quimioterapia para estender sua vida tem o potencial de abruptamente encurtá-la.

No momento em que escrevo isto, parece que che-gamos ao ápice da disseminação da Covid-19 aqui no Brasil... A pandemia, embora trágica e destrutiva, uniu o mundo de várias maneiras e nos tornou parte de uma comunidade maior, onde as diferenças parecem insig-nificantes e temos uma apreciação mais profunda dos outros. Como médicos, estamos fazendo o nosso me-lhor para proteger nossa pequena comunidade de câncer da Covid-19, de modo que esse grupo demográfico (de diagnósticos que iniciam com “C”) se cruze minima-mente (ou, idealminima-mente, nem um pouco).

Quando uma mulher tem câncer, ela pode se sentir muito apoiada e conectada à família e aos entes queri-dos, mas também pode se sentir muito isolada ao mes-mo tempo. Algumas vezes pode parecer a ela que é a única com aquele diagnóstico de “palavra com C”, sozi-nha nessa jornada...

Por outro lado, com a Covid-19, embora as pesso-as precisem se distanciar fisicamente e ter um contato humano mínimo, eu suspeito que elas se sentem menos sozinhas ou socialmente desconectadas sabendo que nós, como sociedade, país e mundo, estamos unidos

em nossa luta contra a doença. Embora minha família e amigos vivam em todo o mundo, estamos todos lidando com os mesmos problemas de uma vida paralisada de-vido à Covid-19. Que possamos emergir do outro lado com o mínimo de danos do efeito combinado de ambas as “palavras com C”!!!

Referências:

1) Report of the WHO-China Joint Mission on Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) [cited 2020 Aug 29]. Available from:

https://www.who.int/publications- detail/report-of-the-who-chi-na-joint-mission-on444 coronavirus-disease-2019-(covid-19).

2) Liang W, Guan W, Chen R, Wang W, Jianfu Li, Xu K, et al. Cancer patients in SARS-CoV-2 infection: a 446 nationwide analysis in China. Lancet Oncol. 2020 Mar 1;21(3):335–7. 3) Yu J, Ouyang W, Chua MLK, Xie C. SARS-CoV-2 Trans-mission in Patients With Cancer at a Tertiary Care Hospital in Wuhan, China. JAMA Oncol [Internet]. 2020 Mar 25 [cited 2020 Aug 29]; https://jamanetwork.com/journals/jamaoncology/ fullarticle/2763673.

4) Miyashita H, Mikami T, Chopra N, Yamada T, Chernyavsky S, Rizk D, et al. Do Patients with Cancer Have a Poorer Progno-sis of COVID-19? An Experience in New York City. Ann Oncol [Internet]. 2020 Apr 21 [cited 2020 Aug 29];0(0). Available from:

https://www.annalsofoncology.org/article/S0923-7534(20)39 303- 4530/abstract.

5) ESMO. Cancer Patient Management During the COVID-19 Pandemic [Internet].[cited 2020 Aug 29]. Available from: https:// www.esmo.org/guidelines/cancer- patient-management-during--the-covid-19-pandemic.

6) Anil I, Arnold R, Benkwitz-Beford S, Branford S, Campton N, Cazier J-B, et al. The UK Coronavirus Cancer Monitoring Project: protecting patients with cancer in the era of COVID-19. Lancet Oncol [Internet]. 2020 Apr 460 15 [cited 2020 Aug 29];0(0). Available from: https://www.thelancet.com/journals/ lanonc/article/PIIS1470- 461 2045(20)30230-8/abstract.

7) Kuderer NM, Choueiri TK, Shah DP et al. Clinical impact of COVID-19 on patients with cancer (CCC19): a cohort study. Lancet. 2020 May 28:S0140-6736(20)31187-9.

8) Katz J, Sanger-Katz M, Quealy K. Could coronavirus cause as many deaths as cancer in the US? Putting estimates in context. New York Times. March 16, 2020. Accessed April 27, 2020. ht- tps://www.nytimes.com/interactive/2020/03/16/upshot/corona-virus-best-worst-death-toll-scenario.html.

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Essas análises são preliminares, pois não considera outros tipos de câncer. Pacientes com câncer também são mais vulneráveis ao Sars-CoV-2(3). Além do impacto clínico, a Covid-19 também tem causado uma ruptura nas pesquisas sobre o câncer. As consequências são marcantes e abrangem não só os casos de câncer, mas tantas outras patologias.

Paralelo a todo esse cenário, inúmeras outras pesquisas estão surgindo a cada dia no mundo todo, como o uso da inteligência artificial para o diagnóstico precoce da Covid-19 através dos mé-todos de imagem, especificamente a tomografia computadorizada do tórax. Já em fevereiro de 2020, algumas publicações médicas de relevân-cia salientaram que a tomografia do tórax tinha baixa taxa de perda (3,9%) de casos de Covid-19 e que poderia ser um método standard para o seu diagnóstico. Por outro lado, também surgiram muitos casos de falsos positivos.

Diante de tais evidências, surgiram trabalhos críticos com revisões sistemáticas dos achados da doença, estudos comparativos da Covid-19 e pneumonia pelo vírus da influenza, por exemplo. Vários trabalhos focados nas manifestações clí-nicas e achados de imagem em diferentes grupos de pacientes como os pediátricos, pacientes com pneumopatias prévias, gestantes, oncológicos e outros cronicamente doentes. Outras pesquisas comparam o valor da tomografia computadoriza-da nos pacientes com os testes de RT-PCR posi-tivos ou negaposi-tivos.

Nesse novo cenário imediato, o foco médico tem atenção especial na urgência para os casos suspei-tos de Covid-19, sendo que o teste de RT-PCR e a tomografia computadorizada do tórax estão em evi-dência e se complementam, considerando a sensibi-lidade e especificidade como métodos diagnósticos para a Covid-19. A sensibilidade e especificidade da tomografia do tórax varia amplamente (60-98% e 25-53%, respectivamente). O valor preditivo po-sitivo (VPP) e valor preditivo negativo(VPN) são

NOVO CENÁRIO IMPOSTO PELA COVID-19

NA MEDICINA DIAGNÓSTICA

Com a

dissemi-nação da Covid-19, inúmeros países insti-tuíram o “lockdown” – esta decisão teve grandes repercussões, além do impacto so-bre a economia. O impacto sobre a saúde também está sendo substancial. O medo de contrair o coro-navírus nos serviços de saúde tem deses-timulado as pessoas ao rastreamento, ao diagnóstico e trata-mento para outras doenças além da Covid-19. Entre outras doenças, as consequências para o prognóstico dos casos de câncer, por exemplo, podem ser significativas.

O câncer compõe um cenário complexo de do-enças cujo prognóstico é influenciado pelo momen-to do seu diagnóstico e intervenção, sendo decisivo para o melhor resultado com redução da morbidade e mortalidade. O número de diagnósticos de cân-cer tem diminuído durante a pandemia, apesar da prevalência da doença, conhecida até o momento, continuar a mesma. Os casos de câncer não diag-nosticados agora, durante a pandemia, virão à tona, eventualmente em estágios mais avançados e, por-tanto, com prognóstico pior.

Outro fator importante é que a Covid-19 está cau-sando retardo no tratamento, ou mesmo tratamentos subótimos para pacientes oncológicos. Nos USA há uma previsão de que o impacto da Covid-19, no ras-treamento e tratamento dos casos de câncer de mama e colorretal, aumente cerca de 10.000 casos de morte, ao longo da próxima década, somente para este tipo de tumor, no período que já se espera cerca de 1.000.000 de mortes para este grupo especificamente e o pico de morte ainda deverá acontecer nos próximos dois anos.

Dr. Valério Ribeiro de Oliveira, membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR)

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estimados em 92% e 42%, respectivamente. Devido ao VPN relativamente baixo, o Colégio Brasilei-ro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, bem como várias entidades internacionais, recomendam que TC do tórax não seja usada como método de rastreamento para Covid-19(1). Entretanto, em um contexto clínico, seu uso está justificado e em asso-ciação com RT-PCR para pacientes com sintomas potenciais de Covid-19(2). Fica os nossos questio-namentos para os cuidados com a Covid-19 que avança, mas também para as outras doenças.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

1. Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Recomendações de uso de métodos de imagem para pacientes suspeitos de infecção

pelo COVID-19. Versão 3. [cited 2020 Jun 23]. Available from: https://cbr.org.br/wp-content/ uploads/2020/03/CBR_Recomendações-de-uso--de- -métodosuploads/2020/03/CBR_Recomendações-de-uso--de-imagem.pdf.

2. Simpson S, Kay FU, Abbara S, et al. Radiolo-gical Society of North America expert consensus statement on reporting chest CT findings rela-ted to COVID-19. Endorsed by the Society of Thoracic Radiology, the American College of Radiology, and RSNA – Secondary publication. J Thoracic Imaging 2020; 35:219-27.

3. Dai M, Liu D, Liu M, et al. Patients with can-cer appear more vulnerable to SARS-CoV-2: a multicenter study during the COVID-19 outbre-ak. Cancer Discov. 2020;10:783–91.

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Referências

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