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Maranhão (UFMA) Jullyana Christina A. de Freitas. Graduanda no curso de Licenciara em Ciências Humanas/Sociologia Universidade Federal do

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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: EXPERIÊNCIAS DE PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS REALIZADAS NA COMUNIDADE VIVA DEUS1

GT21 – Juventude e Educação de Jovens e Adultos Juliana Ferreira de Sousa

Graduanda no curso de Licenciara em Ciências Humanas/Sociologia – Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Jullyana Christina A. de Freitas

Graduanda no curso de Licenciara em Ciências Humanas/Sociologia – Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Betânia Barroso Oliveira

Profa. Dra. do curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia – Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

RESUMO

Historicamente o processo educativo brasileiro foi marcado por desigualdades, no que se refere principalmente a uma desproporção entre a classe dominante e a classe trabalhadora no acesso à escolarização. Essa classe desfavorecida as vezes nem conseguia ir para a escola, desencadeando assim um número alarmante de crianças, jovens e adultos analfabetos. Mas com o passar do tempo, aconteceram transformações significativas nesse cenário, a partir de 1946 a 1964, Paulo Freire inicia campanhas nacionais de alfabetização direcionadas a uma educação de jovens e adultos, com uma proposta de uma educação emancipatória, de reafirmação de identidade, partindo de uma prática de ensino conectado com a realidade do sujeito, que resulte em um processo constante de transformação e construção de uma nova realidade social. O presente trabalho é um recorte de experiências de práticas pedagógicas realizadas na comunidade Viva Deus, localizada na Estrada do Arroz na cidade de Imperatriz – MA, advindas do grupo de ensino, pesquisa, extensão, epistemologias e educação – GEPEEE, que desenvolve “O Projeto Escola Comunidade Viva Deus”. Esse projeto desenvolve duas atividades, uma de alfabetização e outra de formação de educadores(as)/formação política. Destacaremos nesse trabalho as experiências de práticas pedagógicas desenvolvidas no grupo de alfabetização para Jovens e Adultos, com base na perspectiva metodológica de Freire (1977), como um diferencial para esse processo de alfabetização que politiza e desenvolve um reconhecimento da identidade dos educandos, enquanto valorização da sua comunidade e de suas experiências de vida.

Palavras-Chaves: Educação de Jovens e Adultos, Alfabetização, Comunidade Vida Deus; INTRODUÇÃO

As ações governamentais que administram a modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA) aparentam ser recentes, entretanto esse tipo de categoria direcionada aos jovens e adultos vem ocorrendo desde o Brasil Colônia. Nessa época, por não ser responsável pela produtividade, a educação de jovens e adultos acabava por acarretar descaso por parte dos dirigentes do país (CUNHA, 1999). No Brasil Império, emergiram reformas educacionais, que preconizavam a necessidade do ensino noturno para jovens e adultos analfabetos.

1 Esse trabalho é produto do grupo de ensino, pesquisa, extensão, epistemologias e educação – GEPEEE, do Curso de

Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de Imperatriz, que desenvolve “O Projeto Escola Comunidade Viva Deus”.

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No início do século XX, com o desenvolvimento industrial, essa modalidade de ensino começa a ganhar um espaço, no sentido de valorização da educação de jovens e adultos. Essa educação de letramento era imposta pelos colonizadores e tinha como objetivo, que os colonos pudessem ler o catecismo e seguir as ordens e instruções da Corte.

Entretanto, é a partir da 2ª Guerra Mundial que o estado passa a administrar essa categoria de ensino EJA. Porém, existem dificuldades nessa administração, pois ainda não era compreendida a diferenciação desse tipo de categoria na e para a educação formal. O sistema de ensino tratava a EJA como uma educação formal, que não levava em consideração os aspectos históricos e culturais dos sujeitos, bem como da sua localidade, ou seja, se era da zona urbana ou rural. Existia uma valorização da educação tradicional e urbana que era desenvolvida sem nenhum tipo de “reorganização” nas escolas de EJA localizadas em zona rural.

Nota-se em todo esse processo histórico sobre a categoria de ensino EJA, uma imposição da educação tradicional e urbana, com um método silábico de aprendizagem, onde os alunos recebiam cartilhas com sílabas e, guiados pelo professor, passavam a tentar juntá-las para formar palavras e frases soltas, que tinham como função a memorização e a repetição.

A Pedagogia Freireana vai contra esse tipo de educação tradicional e urbana, como também, vai se diferenciar desse método silábico de aprendizagem rasa e superficial de saberes construídos. A ideia freireana parte de uma visão mais democrática, tomando-a como uma prática com direitos e deveres iguais no processo formativo, educadores e educandos em uma relação mútua, que ambos possam refletir, socializar e questionar a realidade. Para que se crie uma ideia de que a educação acompanha as transformações da sociedade.

A ideia de alfabetização freireana contrapõe a simples reprodução de ideias impostas, sendo assim, a alfabetização deve ser sinônimo de democracia, reflexão, argumentação, criticidade e politização. Partindo de uma ruptura de fórmulas dadas e prontas a fim de ressaltar os saberes populares, como diz Freire (1977, p.102): “sempre confiáramos no povo. Sempre rejeitáramos

fórmulas doadas. Sempre acreditáramos que tínhamos algo a permutar com ele, nunca

exclusivamente aoferecer-lhe”.

Nesse sentido, esse trabalho pretende reafirmar toda essa concepção freireana de uma alfabetização de jovens e adultos diferenciada, no que diz respeito a esse processo democrático e de valorização de experiências de vida e da comunidade, feita através de um recorte de experiências

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pedagógicas vivenciadas por meio de uma primeira etapa do “Projeto Escola Comunidade Viva Deus”. Resgatando todo o processo vivido e as mudanças significativas, nesse processo democrático da educação.

DESENVOLVIMENTO

Esse “Projeto Escola Comunidade Viva Deus” foi formulado logo após uma procura da Comunidade Viva Deus, que ocupa uma área rural em processo de assentamento na estrada do arroz em Imperatriz – MA. Essa comunidade foi até a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de Imperatriz – MA, e destacou a necessidade de Educação. Essa demandada consiste, principalmente, em desenvolver um pólo formador de educadores(as)/formação política para alfabetização dos jovens e adultos da comunidade, que passaram pela escola, mas não concluíram. E também para aqueles que nunca foram a escola. A partir dessa demanda, iniciou-se o processo de constituição do “Projeto Escola Comunidade Viva Deus”.

A teoria norteadora desse projeto, é a freireana. Que direciona em um primeiro momento um contato informal com a comunidade, para se ter uma noção da realidade dos sujeitos e da sua dinâmica social. Em seguida junto a toda comunidade passasse para a próxima etapa, que é o ciclo de cultura, que para Freire (1977) a partir dessa prática instituíramos debates de grupo, ora em

busca do aclaramento de situações, ora em busca de ação mesma, decorrente do aclaramento das

situações.

É nesse círculo de cultura que a comunidade se identifica em um primeiro momento, com uma apresentação de seus nomes, se foi à escola ou não (?). E logo depois, expressa também, as necessidades e problemas frequentes, ou seja, as situações-problema-desafio, que são levantadas nos ciclos de cultura. Pois esse método permite que se trabalhe de forma dialógica, sobre os saberes e questões cotidianas, levantadas e escolhidas pelos próprios sujeitos da comunidade para o processo de formação.

O primeiro ciclo de cultura na comunidade Viva Deus, aconteceu no dia primeiro de novembro de 2016, onde estava presente o Antônio, que nunca frequentou a escola; a Tereza que cursou o primeiro ano do ensino fundamental; e, o Raimundo que também não frequentou a escola. Todos eles não sabiam ler e nem escrever. Já o José Pedro estudou até a quarta série do ensino fundamental, e o Sílvio Sousa que tem ensino médio e técnico completos sabem ler e escrever. Esse

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primeiro momento girou em torno de apresentações, tanto dos membros da comunidade como também das professoras extensionistas da UFMA.

Na segunda visita à comunidade, que ocorreu no dia oito de novembro de 2016, começou-se o questionamento sobre as necessidades e problemas frequentes que a comunidade enfrenta. Eles destacaram como problemáticas o conflito com a empresa Suzano papel e celulose; a necessidade da plantação para a fixação da terra e da renda a partir dela. Além disso, a necessidade de ter energia, água encanada e uma escola para a comunidade.

A partir do ciclo de cultura e também das situações-problema-desafio levantadas e debatidas, iniciou-se a execução de outro instrumento que auxilia o processo formativo dos futuros educadores(as), em formação, e dos alfabetizandos, que é a produção do texto coletivo, o qual funciona como material didático para o processo da aprendizagem da leitura e da escrita. Esse texto coletivo, é elaborado, em uma primeira etapa de forma oral e depois escrita, sobre uma temática levantada pela comunidade. Nesse sentido, o texto é trabalhado para o processo de alfabetização e é a principal referência, para a exercitação da sonoridade das palavras, o reconhecimento de letras, sílabas, a formação de palavras e frases.

Após as várias problemáticas levantadas pela comunidade Viva Deus, dividimo-nos em dois grupos para elaboração dos textos coletivos com uma temática que eles achassem mais relevante. O grupo dos alfabetizandos, elaboraram o texto com o título de “Plantação”, que diz o seguinte:

Plantar para que haja a produção de feijão, macaxeira, batata, mamão, tomate, cebola, chuchu, cheiro verde, milho, banana, amendoim, cana para caldo, cupu, quiabo, pimenta malagueta, alface, pimentão, cenoura, beterraba, jiló, batata doce, melancia, fava e a cultura, que é o caju. E o fumo que é vendável também. Coco da praia e o maracujá.

O segundo texto coletivo foi formulado pelo grupo de formação de

educadores(as)/formação política, e tem como título “Plantar com Coragem”, é composto da seguinte forma:

O povo tem vontade de trabalhar, mas a empresa Suzano põe na cabeça do povo que se plantar vão ser expulsos da terra. É importante conscientizar a educação para o plantio. E o povo perde o medo.

Logo após a construção desses textos, ficou evidente a principal problemática da comunidade. Eles entraram em um consenso de que plantar é a principal necessidade da comunidade. Assim, depois dos processos, ciclo de cultura, situação-problema-desafio e a construção do texto coletivo, trabalhamos outro momento do método freireano que é a descoberta

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da palavra geradora, fruto desse processo coletivo e dialógico. Nesse caso, a palavra geradora foi definida como, PLANTAR.

Todo esse procedimento é significativo para que ocorra a alfabetização dos membros da comunidade que não são alfabetizados. É a partir dessa palavra que o grupo dos não alfabetizados vão resgatar um dicionário vocabular próprio, por meio de suas experiências na comunidade e também experiências de vida. E essa palavra vai ser norteadora nesse processo de ensino.

A palavra PLANTAR foi dividida P-L-A-N-T-A-R, pois para Freire (1977, p.116):

Imediatamente à visualização dos “pedaços” e fugindo-se a uma ortodoxia analítico-sintética, parte-se para o reconhecimento das famílias fonêmicas. A partir da primeira sílaba (...), motiva-se o grupo a conhecer toda a família fonêmica, resultante da combinação da consoante inicial com as demais vogais. Em seguida o grupo conhecerá a segunda família, através da visualização (...), para, finalmente, chegar ao conhecimento da terceira.

Começa-se a partir desse método o processo de alfabetização do grupo dos alfabetizandos, através da palavra geradora. A nossa palavra geradora é PLANTAR, começa-se com a apresentação das sílabas e vogais, seguindo a sequência das letras da palavra. No caso utilizou-se no encontro do dia vinte e dois de novembro de 2016, a letra P e através dela formaram-se as silabas pa, pe, pi, po, pu e as vogais a, e, i, o, u. Logo depois da apresentação dessas sílabas e vogais, a professora Betânia pediu que os alunos do grupo falassem palavras que iniciassem com a letra P.

Os alunos montaram um dicionário de palavras com a letra P. As palavras apresentadas por eles foram as seguintes: peixe, pimenta, pimentão, panela, pipoca, pirulito, paçoca, Pedro, porco, Paulo, pescador, procurar, panelada, plantas, plano, parede, poeira, palmeira, povo, pau, popular, planilho, pote, prato, pato, pia, piano, piscina, pinto, pilão, pintura. A professora pediu que eles identificassem as sílabas no dicionário acima, começando por pa, depois pe, e assim por diante. Eles identificaram, repetiram e pronunciaram as palavras e depois associaram essas palavras com a palavra geradora.

Esse um recorte do que se vem trabalhando no grupo dos alfabetizandos, que parte de uma metodologia freireana, dialógica, democrática, emancipatória e que ajuda reafirmar a identidade dos membros da comunidade Viva Deus. Conforme ressalta Freire (1977, p. 107): “como ajudá-lo a

criar, se analfabeto, sua montagem de sinais gráficos? Como ajudá-lo a inserir-se? A resposta nos

parecia estar:a) num método ativo, dialogal, crítico e criticizador; b) na modificação do conteúdo

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CONCLUSÃO

Percebe-se nesse modo diferenciado de alfabetização, que esse procedimento não gira em torno do saber ler e saber escrever, isso é importante, mais não é a centralidade, vai para além disso.

Como Freire (1977, p.107) nos apresenta, e se já pensávamos em método ativo que fossecapaz de

criticizar o homem através do debate de situações desafiadoras, postas diante do grupo, estas

situações teriam de ser existenciais para os grupos. Foradisso, estaríamos repetindo os erros de uma

educaçãoalienada, por isso instrumental.

“O Projeto Comunidade Viva Deus” já certificou quatro alunos que conseguiram ler, o Raimundo, o Antônio, a Tereza e a Virginia. Mas essa comunidade não cresceu só na aprendizagem da leitura e da escrita, mas também, em politização e criticidade, pois a metodologia freireana, fez com que eles se tornassem ainda mais ativos no sentido de luta, principalmente pela terra, com a iniciativa de plantar, já que eles, ainda, são somente acampados e não assentados. Essa característica de luta, já era presente na comunidade, porém se tornou mais forte com a chegada do Projeto. Essas são algumas mudanças significativas que aconteceram por meio do “Projeto Escola Comunidade Viva Deus”.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Conceição Maria da. Introdução: discutindo conceitos básicos. In: Salto para o Futuro: educação de jovens e adultos. Brasília: SEED – MEC, 1999.

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