r.ONSELHO NACIONAL DE PESQUISAS
INSTITUTO N ACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMíLIO GOELDI
NOVA SÉRIE
BELÉM - PARÁ - BRASIL
ZOOLOGIA N.O 46 AGÕSTO, 5, 1964
CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO G~NERO KLOSSINEMELLA..
COSTA, 1961 - COM DESCRIÇÃO DE UMA NOVA ESP~CIE
(NEMATODA)
*
CLEBER J. R. ALHO Museu Goeldi
Em 1960 Costa descreveu um nôvo gênero da família FALANGOLA
Cobboldinidae Skrjabin, 1948, que denominou de Klossiella. Imprimiu
Em 1961 o mesmo autor estabeleceu, para o mesmo gênero, o nome de Klossinemella, por verificar que o anterior estava ocupado (Protozoa). No presente trabalho, introduzimos algu mas modificações na diagnose do gênero e descrevemos uma es . pécie, considerada nova para a ciência, encontrada em número
muito abundante no estômago de tartaruga da Amazônia -Podocnemis expansa (Shaw.) - por nós autopsiada no Insti tuto Oswaldo Cruz - Rio de J aneiTo - sob o número 18.246.
KlOSSINEMELLA COSTA, 1961
Cyrtosomatinae (?). Corpo fusiforme, cutícula levemente estriada transversalmente. Cauda subulada _ Bôca bilabiada, cada lábio fracamente tetralobado e dois interlábios guarneci . nos, cada um, por uma papila. Tanto os lábios quanto os in terlábios possuem formações quitinisadas, algumas projetando se para o exterior em sua extremidade distaL Esôfago consti tuído por duas partes, contendo um rudimento de bulbo. Ma
( .. ) - Trabalho realizado no Instituto Oswaldo Cruz c,om auxílio do Insti (' tuto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
ALHO, C. J. R. - CONTRIBUIÇÃO AO G~NERO KLOSSINEMELLA
chos com espículos desiguais; gubernáculo presente. Fêmeas
com vulva próxima ao ânus; vivíparas. Parasitos de peixes e t.artarugas.
Espécie-tipo : o K . iheringi (Tr~vassos, Artigas & Pe reira, 1928) .
Outras espécies: K. testudinicola (Baylis, 1933), K. con·
o ciliatus sp. n.
KLOSSINEMELLA CONCIUATUS SP. N.
Comprimento - Machos 4,89 a 7,67 mm; fêmeas 5,64 a 7,67 mm..
Largura - Machos 0,18 a 0,28 mm; fêmeas 0,29 a 0,33 mm. Corpo fusiforme, cutícula estriada transversalmente, mus . culatura do tipo meromiário. Bôca guarnecida por dois lábios,
cada um fracamente tetralobado, e dois interlábios, dotados cada um dêstes, de uma pequena papila. Cada lábio contém duas peças quitinisadas com a porção basal alongada, cada um emitindo 3 projeções em forma de gancho que se exteriorizam
em sua extremidade distaI. Junto à base de cada lábio, em posição sub-lateral, encontra-se uma formação quitinosa peque na, com a extremidade distaI fracamente exteriorizada. Na linha mediana lateral, observa-se uma peça menos quitinisada, alon gada, com a extremidade anterior mais fina, situada aproxima
damente ao nível do meio do comprimento dos processos triden tados. Cada interlábio possui uma peça quitinisada, mais ou menos longa, que termina anteriormente por duas projeções
mais ou menos arredondadas. Esôfago constituido por duas porções: a anterior, muscular, mede 0,23 a 0,26 mm e a pOSo
t~rior, a glandular, 0,50 a 0,59
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de contprimtmto. Na extremidade posterior há um bulbo rudimentar dotado de um ves
. tígio de válvula. O anel nervoso situa-se 0,33 a 0,36 mm da
c;x.tremidade anterior. O poro excretor localiza-se 0,56 a 0,64 mm da mesma extremjdade.
Fêmeas monodelfas, prodelfas, vivíparas, com vulva logo acima do ânus, a cêrca de 0,12 a 0,19 mm de seu uiveI e dis tando 1,41 a 2 2t1. mm do ápice caudal. Ovejetor simples, úte
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BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMlLIO GOELDI; ZOOLOGIA, 46
ro sacciforme contendo larvas; ovário curto, ligeiramente enro lado _ Cauda subulada.
Machos com a extremidade posterior enrolada em espiral,
~presentando 9 pares de papilas, assim distribuídas: 3 pares pré-anais, 1 par ad-anal e 5 pares pós-anais. Testiculo locali
zado aproximadamente no meio do corpo, apresentando uma eurva; canal deferente muito longo, nitidamente distinto do ca nal ejaculador. Espículos desiguais, medindo o o maior 0,541 a 0,594 mm e o menor 0,125 a 0,165 mm de comprimento. Gu bernáculo presente medindo 0,079 a 0,099 mm de comprimento. Cauda subulada. Na região posterior, na face ventral, distin· gue-se uma musculatura muito forte no sentido obliquo.
Habitat - Estômago de Podocnemis expansa (Shaw.) .
Proveniência - Estado do Amazonas, Brasil.
Holótipo macho n.o 29.395 a, alótipo fêmea n.o 29.395 b e parátipos ns. 29.396 a-b, 29.397 a-b, 29 .398 a-b, depositados na Coleção Helrnintológica do Instituto Oswaldo Cruz.
Entre o grande número de nematódeos existentes no con· teúdo estomacal, encontramos larvas de diversos estádiOS e adultos em diferentes fases de desenvolvimento, o que nos leva a acreditar que tais parasitos evoluam dentro do próprio hos· pedeiro. Não temos dados para precisar exatamente o temp0 em que a tartaruga ficou fora de seu habitat natural, sabemos,
lIO entanto, que permaneceu por 2 meses em cativeiro de atmos
fera sêca, o que não possibilitava infestação recente.
Comparativamente, a diferença entre o diâmetro da vagina do nematódeo-mãe e o diâmetro. da larva é desproporcional, portanto, as larvas existentes no útero das fêmeas grávidas pa
rece que se põem em liberdade pela rutura do corpo da mãe.
Discussão - Esta especle mais se aproxima de Klossine
mella iheringi (Travassos, Artigas & Pereira, 1928), Costa,
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