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Moda também é texto. Todo dia, antes de sair de casa você escolhe a roupa mais adequada ao lugar onde vai, mas não pode se

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Academic year: 2021

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Mariane Cara

Consultora e Pesquisadora de Moda

Foto: Beatriz Scotti

Moda também é texto

Todo dia, antes de sair de casa

você escolhe a roupa mais adequada

ao lugar onde vai, mas não pode se

esquecer que sua linguagem

tam-bém deve ser adequada

Na hora de ir a um evento chique toda mulher pensa 'Será que eu ten-ho uma roupa para usar?', Mas al-guma vez você já se preocupou se tem alguma coisa para falar? O tipo de linguagem que se deve ter em cada evento normalmente está direta-mente ligado com o tipo de roupa em que se usa no local. Por exemplo, se você está em um churrasco na sua própria casa, você normalmente não utiliza roupas formais, veste uma camiseta, um short jeans, e pode falar o que quis-er até mesmo adotar uma linguagem informal como "E ai vai beber o que?" ou " E ai muleque o que vai querer?”. Mas, se você foi convidado para ir

em um coquetel formal onde vão es-tar presentes pessoas importantes, o normal é utilizar uma roupa mais for-mal, como um dos chamados tern-inhos, por exemplo. E na linguagem as gírias já não são aceitas, elas dão espaço para uma linguagem também mais formal e frases como "A sen-hora gostaria de uma taça de cham-panhe?" e "Os senhores já decidiram o que gostariam de pedir?" são normais. Imagine a situação inversa, como por exemplo um diretor de uma empresa vestido de terno e gravata olhar para um de seus funcionários e perguntar “E ai moleque o que vai querer?”. Ou então um rapaz fazendo um churrasco

para os amigos na sua casa perguntar “Os senhores já decidiram o que gos-tariam de pedir?” Nas duas situações a fala fica completamente contrária ao que se espera da pessoa. E se fizéssemos o mesmo com as roupas, imagine o executivo com uma camiseta pendu-rada no ombro, com um bermudão e chinelo de dedo dentro de sua empre-sa, ou o rapaz de terno e gravata rece-bendo seus amigos para um churrasco? A imagem fica tão ou mais destoante quanto na situação da fala. Por isso que podemos dizer que o modo como você está vestido está também liga-do à forma como você deve falar.

Beatriz Scotti

São José dos Campos

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A partir da ligação da moda com a lin-guagem falada podemos começar a no-tar que a moda também é uma forma de linguagem. Uma expressão muito con-hecida diz “O hábito não faz o monge”, se o hábito não faz o monge ele certa-mente o delata, a forma característica com que monge se veste faz com que ele seja identificado como um monge, as-sim a sua roupa comunica, ou fala, par-te de quem a pessoa é, ou o que ela faz. Quando se pensa na moda como uma forma de linguagem pode-se dizer que o jeans e a camiseta representam a guagem informal, ou as gírias da lin-guagem, já os ternos e vestidos longos podem ser considerados as palavras formais, e acessórios como um camafeu seria o equivalente a uma palavra antiga. Segundo a consultora de imagem e jornalista de moda Cris Bedendo as roupas de alfaiataria representam a linguagem formal da moda, o jeans as gírias, ou palavras casuais e relógios e outros acessórios são os adjetivos. "A moda não deve ser pensada apenas como roupas e tendências, ela é

an-tes de tudo comportamento, comuni-cação, pois cada peça representa um símbolo que compõe a imagem que desejamos transmitir", explica Cris. A consultora e pesquisadora de moda Mariane Cara diz que a calça jeans e a camiseta representam uma linguagem informal e ainda ressalta que elas fazem parte do guarda roupa há muito tempo. “Camiseta e calça jeans são uma lingua-gem vestimentar informal. Elas são

atem-poral desde a década de 50”, diz Mariane. Quando se começa a ver a moda como uma forma de linguagem é muito co-mum pensar que as pessoas não a enxergam dessa forma. Uma pesquisa realizada com 35 mulheres mostrou que para 77% delas falar bem é tão im-portante quanto se vestir bem. Não só isso como também conseguem associar tipos de roupas com tipos de lingua-gem, como dizer que a calça jeans e a camiseta são uma linguagem informal.

Moda uma linguagem?

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Uma forma de perceber que a moda é uma linguagem é o fato dela ser ex-tremamente regrada. Quando pensa-mos na língua falada sempre tepensa-mos regras que regem o que pode e o que não pode ser dito. No caso da moda isso também existe, os códi-gos e regras também estão presentes. “A linguagem é totalmente regra-da e a moregra-da também é um código muito regrado, desde as leis sun-tuárias. E agora essas regras voltam na forma dos personal stylists e con-sultores de moda”, explica Mariane. Uma vez aceita a moda como uma linguagem e entendidas as suas

di-visões fica mais fácil escolher suas roupas e adequar a sua vestimenta a cada ocasião, ato que na verdade já é feito por quase todas as pessoas, porém sem a reflexão do que estão fazendo. Na pesquisa a maioria das mulheres de consideraram que falar bem e se vestir bem são importantes da mesma forma, nenhum dos dois é mais importante que o outro. Para elas uma linguagem dife-rente é esperada da pessoa de acordo com a forma com que ela está vestida. “Eu gosto de me vestir bem, e para mim, se alguma mulher que se veste bem e usa gírias não combinada”, diz a estudante de 18 anos Giovanna Egydio.

Lei suntuária ou lei sumptuária (do latim sumptuariae leges) é uma lei que visa regular hábitos de consumo.

São leis que são feitas com o propósito de restringir o luxo e a extravagância, particularmente contra gastos

absurdos quanto a vestes, comida, móveis etc. Tradicionalmente, é uma lei que regulava e reforçava as

hier-arquias sociais e os valores morais através de restrições quanto ao gasto com roupa, alimento e bens de luxo.

Na maioria das épocas e lugares, elas foram ineficazes.

Por toda a história, as sociedades usaram as leis suntuárias para uma variedade de propósitos. Elas tentavam

regular a balança comercial ao limitar o mercado de bens importados caros. Elas também eram um jeito fácil

de identificar o nível social e privilégios, sendo frequentemente usadas para fins de discriminação social.

Isso frequentemente significava prevenir os comuns de imitar a aparência dos aristocratas e às vezes também

estigmatizar grupos desfavorecidos. Na Baixa Idade Média, leis suntuárias foram instituídas como um jeito

de a nobreza refrear o consumismo conspícuo da próspera burguesia das cidades medievais, e elas

continu-aram a ser usadas para esses propósitos no século XVII.

Gramática da Moda

Porém em ambas as linguagens não se pode banir nenhum elemento de uma variação da linguagem para outra, assim como em algumas situações algumas palavras informais, casadas com outras formais podem ser aceitas, na moda o jeans e a camiseta podem ser combina-dos com outros elementos para serem aceitos em um meio não tão informal. “Hoje em dia, tanto a calça jeans quanto a camiseta, se misturados com outros elementos você consegue fi-car semi-formal”, conta Mariane.

Saiba Mais: Lei Suntuária

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Do Informal

Ao Formal

Por obséquio o senhor

poderia me informar as

horas?

Por favor, você poderia

me informar as horas?

Que horas são?

Véi, que horas são?

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Um lugar em que se percebe bem a comparação do jeans e da camise-ta com a linguagem informal, ou as gírias é no ambiente de trabalho. Dentro de um escritório as empre-sas tendem a não liberar esempre-sas peças de roupa para os seus funcionários e também exigem uma linguagem mais formal, ou pelo menos uma menos in-formal que seja considerada mais ad-equada para o ambiente profissional. Porém algumas gírias, alguns tipos de linguagem mais informais en-contram espaço dentro de um am-biente empresarial, desde que apli-cados corretamente, assim como o jeans e a camiseta também podem ser aplicados em um ambiente em-presarial sem que fiquem vulgares. “Nas empresas eles falam em não liber-ar o jeans e a camiseta, por causa da fal-ta de noção das pessoas. Não é que não pode, porque o jeans e a camiseta são feios, na verdade não pode porque a forma como a pessoa usa pode parecer até como um palavrão”, explica Mariane. Então se eles tem um espaço dentro da empresa, porque a maioria delas pref-erem que eles não sejam utilizados? A Mariane Cara explica que eles tem uma forma correta para serem acei-tos dentro do ambiente empresarial. “O jeans e a camiseta em um ambiente de trabalho, principalmente nos mais formais, não funcionam porque pode virar balburdia. Da mesma forma com a gíria. A primeira coisa que a pessoa faz quando vai para o mercado de traba-lho, é cortar a gíria, ela tenta ter uma outra linguagem, é a mes-ma coisa com o jeans e a camiseta, não é que não possa, pode! Jeans e camiseta são legais sim, mas se você

usar errado já era”, conta Mariane. Por isso em muitos lugares a lin-guagem informal, tanto vestimen-tar, quanto falada são proibidas. “Tem pessoas que sabem usar e não pa-rece uma coisa muito chula, mas imagi-nem em uma empresa você falar para todo mundo que liberou o palavrão, ai vira uma confusão”, diz Mariane. A dica é saber usar e combinar sua linguagem. E se na linguagem falada,

Gírias no Mercado de Trabalho

quando temos dúvida procuramos pro-fessores de português e a moda tam-bém é uma linguagem regrada, então na hora que não souber o que usar a dica é fazer o mesmo que fazemos com a fala, procurar um especialista, nesse caso os consultores de moda.

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Palavras formais, antigas e adjetivos

Palavras formais

Não é preciso pensar muito para sa-ber qual será a linguagem formal da roupa, basta lembrar dos convites de casamentos que vem com a indicação de traje como “traje formal”. Nessas ocasiões é normal encontrar as mul-heres com vestidos longos e os homens de terno e gravata, portanto ai está o traje formal. E se a pessoa está ves-tida de modo formal não pode falar “Mano, rola uma carona na ‘caranga’ ai até a festa?” , não é mesmo? A fala destoa do modo como a pessoa está fa-lando, fica fora de harmonia, por isso a roupa formal está ligada à fala formal. A Giovanna diz que para ela a roupa for-mal pede uma linguagem mais forfor-mal.

Adjetivos

Quanto aos adjetivos também é fácil encontrar suas ligações, o acessório pode valorizar ou estragar um visual, assim como o adjetivo pode valorizar ou menosprezar algo em uma frase. Um belo colar, vai melhorar um belo visual, assim como uma pulseira vulgar e espalhafatosa vai depreciar um visual. “Adjetivos com certeza na lin-guagem da moda são os acessórios“, comenta Giovanna.

Palavras antigas

Pense no estereótipo da vovozinha. O xale preso com um camafeu, sentada na cadeira de balanço tricotando e contan-do histórias para os netinhos. Pois então o xale e o camafeu dão o toque vintage no visual. Não são peças para serem uti-lizadas apenas pelas vovós, podem ser utilizados por todos, é utilizar o vintage na hora de montar um visual mais retrô. “Palavras antigas são carregadas de experiências e acho que com as roup-as acontece o mesmo, o xale, o cama-feu e o broche dão uma aparência de mais experiente”, diz Giovanna.

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Foto: Beatriz Scotti

“Roupas formais carecem de um fa-lar mais requintado”, diz Giovanna. Voltando para a situação apresen-tada no começo da reportagem, não combina uma pessoa em um co-quetel chique com pessoas consid-eradas importantes na sociedade e apresentar um linguajar chulo.

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“O jeans e camiseta são exatamente isso: uma

lin-guagem vestimentar informal!”

Mariane Cara

Consultora e Pesquisadora de Moda

“O que vestimos e usamos podem falar muito mais

sobre nossa personalidade do que pensamos. Estilo

vem de dentro! E como disse Coco Chanel: ‘A moda

sai de moda, o estilo jamais’. ”

Giovanna Amaral

Estudante

Aspas

“A própria palavra ‘personalidade’“, como nós fomos lembrados por autores recentes,

implica uma máscara, o que é um artigo de vestuário”

J. C. Flügel em seu livro - Psicologia das Roupas

Foto: Beatriz Scotti

Foto: Arquivo Pessoal

Referências

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