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POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA IMPLEMENTAÇÃO RELATÓRIO DO SEMINÁRIO

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POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO

SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA:

DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA

IMPLEMENTAÇÃO

RELATÓRIO DO SEMINÁRIO

Salvador

2015

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SEMINÁRIO: POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA IMPLEMENTAÇÃO| 1

REALIZAÇÃO

Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento (MAASA) Escola Politécnica/Universidade Federal da Bahia

Ministério Público do Estado da Bahia

Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental/Seção Bahia (ABES/BA)

Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado da Bahia (SINDAE)

Empresa Júnior de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFBA (ESA Jr.)

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SEMINÁRIO: POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA IMPLEMENTAÇÃO| 2

Comissão Organizadora

Luiz Roberto Santos Moraes (Coord.) Danilo Gonçalves dos Santos Sobrinho

Eratóstenes de Almeida Fraga Lima Fernando de Almeida Dultra

Francisco Chagas Filho

Gabriela Vieira de Toledo Lisboa Ataíde Patrícia Campos Borja

Rogério Santos Saad Sérgio Luiz Gomes Tereza Rosana Orrico Batista

Relatoria

Patrícia Campos Borja (Coord.) Ângela Patrícia Deiró Damasceno

Francisco Chagas Filho

Maria Teresa Chenaud Sá de Oliveira

Apoio

Albert Tiago Porto Gomes Carlos Alberto Santos Lima Filho

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SEMINÁRIO: POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA IMPLEMENTAÇÃO| 3

Sumário

Resumo Executivo ... 1

1. Introdução ... 3

2. Conferência de Abertura - Exclusão e Desigualdade do Acesso ao Saneamento Básico na Bahia ... 4

3. Mesa Redonda 1 - Estado, Política Pública e Saneamento Básico na Bahia ... 5

3.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ... 5

3.2 Propostas e desafios... 9

4. Mesa Redonda 2 - Planejamento na área de saneamento básico: o Plansab, o Plano Estadual de Saneamento Básico e os desafios para a universalização. ... 10

4.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ... 11

4.2 Propostas e desafios ... 13

5. Mesa Redonda 3 – O papel institucional na elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico: interesses, conflitos e perspectivas para o atendimento da sociedade ... 14

5.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ... 14

5.2 Propostas e desafios... 18

6. Mesas Redondas 4 - Experiências de Elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico no Estado da Bahia: dificuldades apresentadas, desafios e perspectivas e 5 - Abordagens metodológicas na Elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico... 19

6.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ... 20

6.2 Propostas e desafios ... 22

7. Mesa Redonda 6 - Controle Social de Planos Municipais de Saneamento Básico: Realidade e Perspectivas ... 24

7.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ... 24

7.2 Propostas e desafios ... 28

8. Conclusão ... 29

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Resumo Executivo

Com objetivo de realizar amplo debate e formular proposições para equacionamento da grave situação do deficit de saneamento básico no território baiano, o Seminário Política e Planejamento do Saneamento Básico na Bahia: Desafios e Perspectivas da Implementação congregou, na Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos dias 16 e 17 de julho de 2015, cerca de 300 pessoas compreendendo professores, pesquisadores, promotores de justiça, auditores, dirigentes e servidores de órgãos públicos federais, estaduais e municipais responsáveis pela implementação das políticas de saneamento básico, além de parlamentares, consultores, profissionais e estudantes que atuam na área.

Com transmissão ao vivo pela web e audiência de cerca de 4.000 pessoas, o Seminário foi fruto de parceria entre o Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (MAASA/EP/UFBA), o Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental-Seção Bahia (ABES/BA), o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente no Estado da Bahia (SINDAE/BA) e a Empresa Júnior de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFBA (ESA JR.).

Por meio de palestras, apresentações, mesas redondas e profícuos debates, o evento possibilitou visualizar o cenário de implementação das políticas de saneamento básico no Brasil e na Bahia, ressaltando o quanto as causas e as consequências do elevado deficit setorial impactam diretamente o meio ambiente e as populações dos municípios baianos, em especial as mais pauperizadas.

Com ênfase, o Seminário evidenciou a crítica situação do deficit de elaboração dos Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) no estado da Bahia, mostrando o desafio que representa a efetivação das políticas estruturantes da área e apresentando estratégias para otimizar os investimentos públicos.

Integraram as mesas de apresentação e debates representantes do Ministério das Cidades (MCidades), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), do Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), da Caixa Econômica Federal (CAIXA), União dos Municípios da Bahia (UPB), secretarias municipais, docentes da UFBA e da Unicamp, personalidades do meio acadêmico e empresas de consultoria com experiência na elaboração dos PMSB.

Dentre os aspectos abordados nos debates e mesas redondas do Seminário destacam-se:

A implementação de políticas públicas relativas ao saneamento básico carecem de ações objetivas e diligentes que se traduzam em resultados positivos e consistentes na direção da universalização do acesso aos serviços. Registra-se que, na atualidade, os processos ocorrem em ritmo aquém do razoável ao passo que o deficit setorial se agrava de forma assustadora, denunciando crise de efetividade. Constata-se que a situação decorre de uma conjugação de fatores de diversas ordens, que vão da morosidade na consolidação de instrumentos legais até a atribuição de responsabilidades institucionais, passando pela definição de competências, pela racionalização dos meios e processos metodológicos de consecução e pela necessária interface com as políticas de desenvolvimento urbano, de saúde e de meio ambiente.

Historicamente, a ausência significativa de coleta e o tratamento inadequado de contribuições sanitárias (em mais de 70% dos municípios baianos) resulta em poluição e contaminação de mananciais hídricos, com desastrosas consequências ao meio ambiente e à saúde coletiva.

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Entretanto, ressalta-se que a questão sanitária é mais ampla e que o saneamento básico, enquanto serviço público essencial, também se estende e requer políticas efetivas e integradas para o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, a drenagem e manejo de águas pluviais uranas e a limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

Ressalta-se que após quase 20 anos de descaso institucional, a partir do ano 2003 o saneamento básico no Brasil passou a despertar atenção positiva do Governo Federal, com destaque na promulgação da Lei nº 11.445/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico, e aprovação, em 2013, do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), bem como a retomada progressiva dos investimentos públicos correspondentes e a promulgação da Lei nº 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

O Seminário atingiu seu objetivo de discutir a temática, avaliar a situação em seu conjunto, registrar e destacar as questões decorrentes e associadas e apresentar proposições de ajustes e adequações nos processos em curso, como estratégia de superação, visando remover entraves e viabilizar a efetiva implementação das políticas públicas de saneamento básico no Estado da Bahia. De forma oportuna discutiu-se o panorama de incertezas que se delineia no plano institucional, com a indefinição de agentes promotores e a confusão dos papéis das organizações condutoras, atentando inclusive à necessária integração com as políticas de desenvolvimento urbano, saúde e meio ambiente, sob o espectro ameaçador da redução do protagonismo do aparelho do Estado, no vácuo da deficiência do planejamento público em escala estadual.

As instituições organizadoras do Seminário, signatárias do presente documento, entendem que os debates possibilitaram melhor compreensão da situação como um todo, condição que hoje se configura como um “ciclo vicioso” de questões de ordem política, socioeconômica, institucional, e metodológica-operacional, aspectos que se retroalimentam em todos os processos, refletindo ausência de diálogo e de convergência entre as políticas públicas.

Dentre as conclusões e recomendações do Seminário, destaca-se a premente necessidade de elaboração do Plano Estadual de Saneamento Básico (PESB) e a viabilização dos Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB). Nesse cenário, torna-se imprescindível estabelecer mudanças estratégicas que possibilitem a efetiva integração dos órgãos responsáveis pela implementação das políticas, nas esferas federal, estadual e municipal, superando os entraves e convergindo a um “ciclo virtuoso” de soluções que possibilite efetivar a política de saneamento básico, universalizando serviços de qualidade para as populações.

O presente Relatório visa apresentar de forma sucinta os debates ocorridos ao longo do Seminário, na conferência de abertura e nas seis mesas redondas.

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Introdução

Com o objetivo de discutir e analisar criticamente a grave situação do deficit de saneamento básico no Estado da Bahia, as causas e consequências do cenário em que se encontram os municípios baianos, em especial as populações carentes e ainda não atendidas, o Seminário Política e Planejamento do Saneamento Básico na Bahia: desafios e perspectivas da implementação proporcionou um amplo debate com a sociedade, tanto de especialistas da área, quanto de representantes de instituições públicas responsáveis pela implementação da política de saneamento básico.

Saneamento, Saúde e Ambiente são três áreas associadas pela própria natureza de suas múltiplas interfaces. A cada R$ 1,00 investido em saneamento básico o País economiza, em média, R$ 4,00 em saúde. Mas de que saúde estamos nos referindo? A grande maioria dos investimentos públicos em saúde tem o foco na doença, nas ações médicas curativas. A medicina preventiva, além de receber apenas uma pequena parcela de investimentos públicos, o faz dissociada das políticas de saneamento básico e de meio ambiente.

Como então deveriam as políticas de saneamento básico, saúde e meio ambiente interagir para solucionar problemas coletivos? Que estratégias seriam necessárias para otimizar os investimentos públicos nessas áreas afins e indissociáveis?

A história recente do saneamento básico tem evidenciado uma mudança de percurso marcado pela quase ausência da ação do Estado brasileiro. Com o colapso do Plano Nacional de Saneamento (Planasa) da década de 70 e o fracasso da tentativa de privatização dos serviços nos anos 90, a partir do ano de 2003, o Brasil passou a contar com um marco legal, com destaque para a Lei Nacional de Saneamento Básico de 2007, com a retomada dos investimentos via PAC Saneamento e, no final de 2013, com a aprovação do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab).

Entretanto, em termos objetivos, denota-se em todo o País que ações e resultados consistentes na direção da almejada “universalização” do saneamento básico ocorrem em ritmo bastante aquém do razoável, ao passo que o déficit da área se amplia, denunciando a crise de efetividade na política pública da área. Tal situação decorre da conjugação de fatores de diversas ordens, que vão desde a regulamentação de instrumentos legais até a atribuição de responsabilidades institucionais, passando pela definição de competências e pela racionalização dos meios e procedimentos metodológicos. A quem atribuir a responsabilidade pela baixa efetividade na implementação da política de saneamento básico?

No Estado da Bahia, o panorama de incertezas no saneamento básico se amplifica na indefinição de agentes promotores e na confusão dos papéis entre as instituições públicas da área, na falta da necessária interface com as políticas de saúde e meio ambiente, tudo isso sob o espectro da redução do protagonismo do aparelho estatal, no vácuo da visível deficiência do planejamento público.

Nesse contexto, o Seminário Política e Planejamento do Saneamento Básico na Bahia: desafios e perspectivas da implementação representou uma oportunidade de, reunindo academia, órgãos públicos e sociedade, analisar criticamente o cenário que se apresenta, na perspectiva de propor estratégias e encaminhamentos objetivos que possam indicar novos horizontes, visando salvaguardar o meio ambiente, a saúde coletiva e o direito ao saneamento básico.

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Conferência de Abertura - Exclusão e Desigualdade do Acesso ao Saneamento Básico na Bahia

A Conferência de abertura foi proferida pelo Prof. Luiz Roberto Santos Moraes, PhD, Professor Titular em Saneamento e Participante Especial do Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia.

O Prof. Moraes ao considerar o saneamento básico como um direito social e integrante de políticas sociais ressaltou que no Brasil esse direito não está assegurado. Destacou que as desigualdades e a exclusão do acesso aos serviços são resultantes do modo de produção capitalista, da concepção de Estado e das políticas públicas implementadas. Citou Frigotto (2010), que no âmbito do embate ideológico e político, considera que a “exclusão social” expressa, o diagnóstico e a denúncia de um conjunto amplo, diverso e complexo de realidades em cuja base está a perda parcial ou total de direitos econômicos, socioculturais e subjetivos. Prof. Moraes defendeu que o saneamento básico deve ser garantido a todos, já que se constitui em uma medida de saúde pública, de proteção ambiental, de infraestrutura urbana e de cidadania, noções que estão incorporadas na Lei Nacional de Saneamento Básico e também na Constituição do Estado da Bahia e na Lei Estadual de Saneamento Básico. Ao trazer a noção de saneamento básico em uma perspectiva mais ampla, o professor se articula com a construção de Souza e Freitas (2006), que fazem uma importante contraposição entre a visão do saneamento na perspectiva da prevenção doenças, por um lado e da promoção à saúde, por outro. Na primeira, o saneamento é visto como uma ação de engenharia no espaço físico e voltada para impedir a transmissão de doenças por meio da garantia da salubridade ambiental, sendo a saúde entendida como a ausência de doenças. Na perspectiva da promoção da saúde, o saneamento é uma ação multidimensional que ocorre em um espaço dinâmico, não apenas físico-natural, mas também social, cultural, político e econômico, sendo a saúde mais que ausência de enfermidade, incluindo a qualidade de vida e seus determinantes sociais. O professor destacou que o saneamento promocional é participativo, adaptativo e intersetorial e visa o empoderamento dos sujeitos, enquanto que o saneamento para a prevenção de enfermidades é tecnicista, instrumental e envolve ações intersetoriais restritas ao projeto. Assim, o saneamento promocional seria uma abordagem mais compatível à universalização dos serviços.

Sobre esse ponto Prof. Moraes fez uma discussão sobre a limitação do conceito de universalização presente na Lei Nacional de Saneamento Básico. Em sua avaliação, o conceito é restritivo já que considera a universalização como “a ampliação progressiva do acesso de todos os domicílios ocupados ao saneamento básico” (art. 3º, Inciso III). Para ele, ao contrário, a universalização significa o direito de todos os brasileiros a uma ação ou serviço sem qualquer barreira, seja legal, econômica, física ou cultural, sem discriminações ou preconceitos. Prof. Moraes também pontuou que o princípio da equidade não foi explicitamente contemplado na Lei Nacional. Para o professor, a ideia de equidade ultrapassa os limites da igualdade e se aproxima da noção de justiça social. Nesse sentido, equidade no saneamento significa que todo cidadão tem direito ao acesso à água limpa, a serviços públicos de saneamento básico de qualidade e ao ambiente saudável. Para o professor apesar da unanimidade do discurso da equidade, a desigualdade persiste, demonstrando que outras lógicas estão orientando a formulação e implementação das políticas públicas.

Ao abordar o conceito de integralidade, Prof. Moraes pontuou que é necessário reforçar as ações intersetoriais no campo do saneamento básico. A integração não se daria apenas entre as componentes, mas, sobretudo, entre políticas sociais como as de renda, emprego, educação, moradia, saneamento básico e saúde. Ele considera que a integralidade pode ser garantida na formulação e implementação das políticas públicas, no processo de elaboração e implementação dos planos de saneamento básico e no exercício do controle social.

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O professor fez uma breve referência sobre as relações entre as ações de saneamento e a saúde, destacando estudos que demostraram tais relações. Citando Heller e Nascimento (2005), ele relacionou os aspectos relevantes para a promoção das ações de saneamento básico: diálogo com a população, durante a concepção das soluções tecnológicas; diálogo entre gestores e população; avaliação do serviço; ações intersetoriais, sobretudo com a área de saúde; vigilância epidemiológica; participação popular e o controle social; e política tarifária inclusiva.

Prof. Moraes fez referência aos deficits de saneamento no País e na Bahia, alertando quanto às desigualdades regionais, entre os estados brasileiros, entre as áreas urbanas e rurais e entre os municípios baianos. Explicitou a desigualdade do acesso aos serviços em relação indicadores sociais como renda, índices de alfabetização e PIB per capita.

O professor finalizou concordando com o historiador Eric Hobsbawm, para o qual a questão central do século XXI relaciona-se à promoção da distribuição da riqueza por meio de um Estado radicalmente democrático. Tal Estado seria garantido por meio do combate ao ideário neoliberal e pela construção de sociedades fundadas nos valores e princípios da igualdade, solidariedade e a generosidade humana, colocando-se a ciência, a técnica e os processos educativos a serviço da dilatação da vida para todos os seres humanos.

Mesa Redonda 1 - Estado, Política Pública e Saneamento Básico na Bahia Coordenador

Eng. Sanit. Amb. Eratóstenes de Almeida Fraga Lima Debatedores

Prof. Dr. Renato Dagnino – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Eng. Civ. Abelardo de Oliveira Filho - ex-Secretário da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental-SNSA/MCidades e ex-Presidente da Embasa

Eng. Civ. Raimundo Freitas - representante do Secretário da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento-SIHS

Prof. Dr. Luiz Roberto Santos Moraes - MAASA/EP/UFBA 3.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes

O Engenheiro Civil Abelardo de Oliveira Filho, ex-secretário da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades e ex-presidente da Empresa Baiana de Águas e Saneamento S/A, realizou uma exposição sobre A Política de Saneamento Básico no Brasil e

na Bahia (1988-2014).

O Eng. Abelardo destacou a responsabilidade constitucional dos municípios quanto à prestação dos serviços e assinalou a omissão da Carta Magna quanto à prestação de serviços em Regiões Metropolitanas, ponto que está na ordem do dia diante da complexidade e emergência de soluções para prestação de serviços nessas regiões e as controvérsias que vêm sendo geradas sobre a titularidade dos serviços. A partir daí ele fez uma breve abordagem sobre a história recente da política de saneamento durante o período do presidente Fernando Henrique Cardoso, destacando os esforços do governo para a privatização dos serviços, em conformidade com a Reforma do Estado Brasileiro e às políticas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. O Eng. Abelardo destacou que esse período foi marcado por intensas manifestações da sociedade, as quais contribuíram para evitar o avanço do projeto de privatização. Ao abordar o período de 2003 a 2010, do governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele o considerou como uma “nova página na história do saneamento básico no País”, em face da retomada dos investimentos, com financiamento das empresas públicas, da aprovação da Lei de Consórcios Públicos e de sua regulamentação, da aprovação da Lei Nacional de

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Saneamento Básico e de sua regulamentação, da aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e de seu decreto regulamentador, e do lançamento em 2007 do PAC, com investimentos da ordem de R$ 40 bilhões para o saneamento básico. No período do governo Dilma Rousseff foram destacados os investimentos previstos para o PAC 2 de R$ 55 bilhões, até 2014, o lançamento do Programa Nacional Água para Todos, a aprovação do Plano Nacional de Saneamento Básico com investimentos estimados de R$ 508,45 bilhões, o julgamento, em 2013, pelo Supremo Tribunal Federal das ADI 1842-RJ e 2077-BA sobre o regime jurídico-constitucional da prestação dos serviços públicos em regiões metropolitanas e o compartilhamento da titularidade entre municípios e estado, e a aprovação pelo Congresso Nacional do Estatuto das Metrópoles, que define a gestão compartilhada dos serviços.

Ao abordar a política estadual de saneamento, o Eng. Abelardo fez referência à Constituição Estadual de 1989, ressaltando as emendas constitucionais do ano de 1999 e a Lei no 7.483/1999, que visavam transferir a titularidade dos serviços do município para o estado, como mecanismo para facilitar o processo de privatização da Empresa Baiana de Águas e Saneamento S/A (Embasa), o que foi fortemente questionado por intensas mobilizações sociais. Ao se referir ao período mais recente, o engenheiro destacou a retomada da capacidade de investimentos da Embasa, a partir de 2007, e os esforços para instituir o marco legal do saneamento na Bahia, com destaque para a aprovação da Lei Estadual no 11.172/2008, para a criação da Agência Reguladora de Saneamento Básico do estado da Bahia (Lei no 12.602/2012), para a revogação da Lei no 7.483/1999 que autorizava a privatização da Embasa (Lei no 12.810/2013), para a aprovação da Política Estadual de Resíduos Sólidos (Lei no 12.932/2014), e para a criação da Entidade Metropolitana da RMS (Lei Complementar no 41/2014). Apesar de ressaltar a importância da Lei Estadual, o Eng. Abelardo chamou a atenção sobre a falta da sua regulamentação e destacando a não regulamentação, como previsto na Lei, do Sistema Estadual de Saneamento Básico e do Sistema Estadual de Informações em Saneamento Básico.

O engenheiro se referiu à fragilidade do controle social da política de saneamento básico na Bahia, principalmente após a última reforma administrativa que ao criar a Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS), promoveu o afastamento da instância de controle social, a Câmara Técnica de Saneamento Básico do Conselho Estadual das Cidades, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano e órgão com a atribuição de formular a Política e o Plano Estadual de Saneamento Básico (art. 229 da Constituição do Estado da Bahia). Apesar das fragilidades da política estadual, o engenheiro destacou os investimentos e ações realizadas em saneamento básico na Bahia por meio do PAC Saneamento e do Programa Água para Todos, envolvendo cerca de R$ 7 bilhões, entre os anos de 2007 a 2015.

O Eng. Raimundo Freitas, representante da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento do Estado da Bahia (SIHS), abordou em sua intervenção as iniciativas do governo estadual no campo do saneamento básico. Destacou os avanços no Brasil com a Lei Nacional e retomada dos investimentos e na Bahia fez referência aos investimentos recentes e aos esforços da Sedur na construção do decreto regulamentador da Lei Estadual de Saneamento Básico. Destacou que apesar desses esforços o processo foi paralisado e a Lei ainda não foi regulamentada. Tal paralisação foi justificada pela reforma administrativa e a previsão de revisão da Lei já em andamento. O engenheiro esclareceu que em janeiro de 2015 foi iniciada a estruturação da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento, que se encontra em fase de construção. O Eng. Raimundo reconheceu o problema da distribuição das competências do saneamento básico em duas Secretarias e informou que a equipe tem tentado reverter essa situação junto aos gestores das duas secretarias de governo. Informou ainda sobre a elaboração do Plano de Segurança Hídrica do Estado da Bahia e também fez referência à necessidade de superar a concepção de projetos de sistemas de esgotamento sanitário com uma única alternativa tecnológica, principalmente na área rural. Ao observar a necessidade da definição de modelos de

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gestão para o saneamento rural, para garantir a efetividade dos projetos para a melhoria da qualidade de vida da população, ressaltou a necessidade da busca do fortalecimento da Central de Associações para a Manutenção de Sistemas Autossustentáveis de Saneamento (I e II, com sede em Seabra e Jacobina, respectivamente) com a aplicação de recursos e o devido acompanhamento. Chamou a atenção sobre a resistência ao processo de planejamento, em face da priorização das obras. Avaliou que a SIHS é nova e por isso tem enfrentado dificuldades por esta condição. Destacou a previsão de que até final de 2015 a Secretaria esteja com seu planejamento e previsão orçamentária para aplicação em 2016.

O Prof. Renato Dagnino da Unicamp avaliou que as questões colocadas quanto às injustiças sociais, às desigualdades econômicas e ao saneamento têm relações com o modo de produção capitalista, cabendo ao Estado a função de manter e reproduzir as relações sociais desse modo de produção. Busca-se, na perspectiva do professor, a manutenção do contrato social que permite a exploração da classe trabalhadora e a manutenção da classe capitalista que detém a propriedade privada dos meios de produção. Segundo ele, é essa relação desigual e antagônica que determina a injustiça social e as inequidades. No entanto, o professor considera que é necessário fazer avançar as políticas públicas, o que implica em reconhecer os limites do planejamento e a influência dos atores sociais no ciclo das referidas políticas, influência essa que se dá de forma desigual com forte concentração de poder do capital sobre o trabalho. Para o professor uma das maneiras para se avançar é o pensamento estratégico e a atuação da esquerda, que deve desmistificar o planejamento, já que não existe planejamento acima dos interesses das classes sociais. Prof. Dagnino defende que o Estado não deve planejar e sim resolver problemas por meio de um processo de conscientização e empoderamento para fazer com que as políticas públicas sejam mais participativas, democráticas e, portanto, mais justas e menos desiguais. As tecnologias sociais e a economia solidária na visão do professor poderiam produzir processos mais justos. No campo do saneamento, o professor acredita que o déficit de ações e serviços públicos de saneamento básico, que tem origem política, social, econômica, não pode ser solucionado apenas com tecnologias brasileiras, devendo-se rever a formação dos engenheiros a qual tem sido voltada para atender aos interesses das empresas. O professor concluiu pontuando que a produção coletiva dos meios de produção e a autogestão é uma alternativa para a sociedade.

O Prof. Luiz Moraes fez uma exposição sobre o Saneamento básico na Bahia: desafios da

política, planejamento e controle social. Inicialmente, o professor definiu as políticas públicas,

como ações governamentais dirigidas para resolver determinadas necessidades públicas, cujo conteúdo depende da concepção de Estado e das relações deste com o capital e a sociedade. Ao se reportar à política de saneamento básico no Brasil, o Prof. Moraes ressaltou os avanços ocorridos com a Lei Nacional de Saneamento Básico de 2007, destacando a delimitação das funções de gestão da prestação dos serviços (planejamento, regulação, prestação e fiscalização, com o controle social transversal a todas essas funções). Destacou que todos os municípios brasileiros devem elaborar seus planos de saneamento básico, com participação e controle social, com conteúdo mínimo atendendo a referida Lei.

Ao tratar sobre a política de saneamento na Bahia, referiu-se às definições da Constituição do Estado de 1989 e da Lei Estadual de Saneamento Básico (Lei no 11.172/2008), que estabelecem o direito de todos aos serviços públicos de saneamento básico, entendidos como uma medida de saúde pública. Ele destacou a luta contra a privatização da Embasa nos anos 90 e os esforços do governo estadual para retirar a titularidade dos municípios na prestação dos serviços públicos de saneamento básico, que não obtiveram êxito, tendo-se inclusive a recente revogação da Lei que autorizava a privatização da Embasa.

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Prof. Moraes, ao se referir à Lei no 11.172/2008, destacou que a mesma ainda não foi regulamentada, sendo necessária a completa instituição do Sistema Estadual de Saneamento Básico, que é constituído pelos órgãos e entidades do Poder Executivo Estadual, um órgão Superior, deliberativo, o Conselho Estadual das Cidades; um órgão coordenador, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur); e os órgãos executores, e, ainda pelo Sistema Estadual de Informações em Saneamento Básico. O professor também chamou atenção que a elaboração do plano estadual de saneamento básico previsto na Lei não aconteceu até o presente, bem como os planos regionais, e pouco foi realizado para o apoio técnico e financeiro para elaboração dos planos municipais de saneamento básico conforme estabelecido na referida Lei. Ao se referir à Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa), Prof. Moraes destacou que até o momento a Agência não foi estruturada para realizar a regulação e fiscalização da prestação de serviços públicos de saneamento básico delegados no Estado. Tais fatos, para o professor, demostram a pouca prioridade dada aos aspectos institucionais do saneamento básico pelo governo estadual.

O professor abordou sobre os desafios da prestação dos serviços nas regiões metropolitanas, a partir do Acórdão do STF do julgamento da ADI no 1.842/1998-RJ, em 2013, que decidiu sobre a titularidade dos serviços em regiões metropolitanas e aglomerados urbanos, a qual deverá se dar por meio de um órgão colegiado com participação dos municípios pertinentes e do próprio Estado, sem que haja concentração do poder decisório nas mãos de qualquer ente. Para Prof. Moraes, o Acórdão abriu espaço para a criação da Entidade Metropolitana da Região Metropolitana de Salvador (RMS), em 2014, de caráter deliberativo e normativo, que tem a função de organizar, planejar e a executar funções públicas de interesse comum aos Municípios da RMS, por meio de uma estrutura de governança composta por um Colegiado Metropolitano, um Comitê Técnico, um Conselho Participativo e uma Secretária-Geral da Entidade. A sua Lei de criação (Lei Complementar no 41/2014) estabelece a elaboração do plano setorial metropolitano de saneamento básico, integrante do Sistema de Planejamento Metropolitano e cria o Fundo de Universalização do Saneamento Básico da Região Metropolitana de Salvador (FUSAN), cujos recursos deverão ser aplicados em programas e projetos de saneamento básico de interesse metropolitano ou de Município da RMS, integrados ou não a projetos de habitação popular ou de melhoria das condições habitacionais.

Para finalizar, o Prof. Moraes fez referência à reforma administrativa realizada pelo Governo do Estado da Bahia que promoveu um retrocesso para o campo do saneamento básico. Essa avaliação foi sustentada pela fragmentação da atuação do governo do Estado com a criação da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS), que passou a assumir as atribuições da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) quanto ao abastecimento de água e esgotamento sanitário, cabendo à Superintendência de Planejamento e Gestão Territorial da Sedur a responsabilidade sobre as ações dos resíduos sólidos. A competência sobre as ações para o manejo e drenagem das águas pluviais, antes de responsabilidade da Sedur, não foram definidas, assim como as relacionadas ao saneamento rural. Para ele, a referida reforma resultou na fragmentação dos componentes do saneamento básico ferindo o princípio da integralidade previsto no inciso II do art. 8º da Lei Estadual no 11.172/2008 e no inciso II do art. 2º da Lei Federal no 11.445/2007. Também enfatizou a contradição quanto ao controle social, já que a instância para o seu exercício estabelecida em Lei, o ConCidades/BA e sua Câmara Técnica de Saneamento Básico encontra-se na estrutura organizacional da Sedur e não da Sihs.

3.2 Propostas e desafios

Os participantes da mesa apresentaram um conjunto de propostas e desafios que estão sistematizados a seguir:

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Quanto à sociedade e as políticas públicas

 Construção de uma sociedade voltada à promoção da justiça social, da economia solidária, da tecnologia social e da autogestão.

 Planejamento do Estado na perspectiva da resolução de problemas e na formulação, implementação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas, com uso de metodologias de planejamento que permitam a participação democrática da sociedade.

 Adoção do pensamento estratégico como meio de construir uma sociedade mais justa, cabendo à Universidade e aos segmentos progressistas da sociedade o engajamento nas lutas sociais em direção à justiça.

 Avançar no exercício da participação e controle social, promovendo o fortalecimento das instâncias de controle social.

Quanto aos aspectos políticos e institucionais de saneamento básico

 Reconhecimento por parte do Poder Público da sua responsabilidade na garantia do direito à população das ações e serviços públicos de saneamento básico.

 Luta permanente pela redefinição do papel do Estado nas políticas públicas, com controle do fundo público para garantir os múltiplos direitos e necessidades humanas, incluindo as ações e serviços públicos de saneamento básico.

 Promover a avaliação das diferentes formas de privatização dos serviços públicos de saneamento básico e o impacto na conquista da universalização.

 Estabelecimento de uma efetiva coordenação institucional da política de saneamento básico do governo federal, integrando e compatibilizando as políticas dos diferentes componentes do saneamento básico.

 Promover a colaboração dos governos federal e estadual com os municípios visando implementar instrumentos de regulação, fiscalização e controle social.

 Garantir a implementação da pública estadual de saneamento básico.

 Regulamentar as Leis nos 11.172/2008 e 12.932/2014.

 Elaborar e implementar de forma participativa o Plano Estadual de Saneamento Básico da Bahia, com enfoque estratégico, bem como acompanhar a implementação do Plansab.

 Estruturar a SIHS e a Agersa, ampliando, via concurso público, e qualificando os seus quadros, bem como os demais órgãos do Estado da Bahia relacionados ao saneamento básico.

Quanto aos recursos para universalização do saneamento básico

 Instituir, por meio de Lei Complementar, os fundos de universalização do saneamento básico como instrumentos de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

 Viabilizar diversas fontes de recursos, utilizadas de modo articulado, sem qualquer restrição ou contingenciamento do crédito ao setor público, envolvendo o financiamento e, principalmente, recursos do Orçamento Geral da União (OGU).

 Ampliar os atuais recursos públicos de investimentos e alocá-los de forma responsável, visando maior impacto social, qualificando o gasto público.

 Melhorar a capacidade financeira dos prestadores de serviços e fazer uso da economia de escala.

Quanto à promoção e prioridades de ações

 Adoção de práticas de saneamento básico de forma multidimensional, transversal e intersetorial, na perspectiva do desenvolvimento sustentável, bem como considerando os

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impactos das mudanças climáticas nos sistemas de saneamento básico, adotando-se soluções técnicas e tecnologias apropriadas à realidade local, tendo como referência as tecnologias sociais.

 Implantar a garantia da salubridade, habitabilidade, mobilidade e regularização fundiária para atender à população localizada em áreas inadequadas à moradia, visando a sua permanência ou realocação por meio de ações integradas de saneamento, habitação e inclusão social.

 Integrar as ações de saneamento básico em seus quatro componentes e integrar as políticas de desenvolvimento urbano, com ênfase em habitação e uso e ocupação do solo, de saúde e de meio ambiente com a política de saneamento básico.

 Fazer o gerenciamento integrado das águas urbanas envolvendo todas as interfaces de planejamento e gestão, desenvolvendo ações articuladas para a execução de forma integrada dos serviços públicos de saneamento básico.

 Promover a racionalização e eficiência energética em sistema de saneamento básico.

 Realizar o planejamento de curto, médio e longo prazos e reduzir o ciclo de execução das obras/sistemas.

Quanto ao saneamento rural

 Promoção do saneamento rural, conforme o Programa Nacional de Saneamento Rural, previsto no Plansab, priorizando o atendimento do Semiárido brasileiro, da Amazônia Legal, da bacia do rio São Francisco, das comunidades indígenas, de remanescente de quilombos, de reservas extrativistas, de áreas de assentamento da reforma agrária e de populações ribeirinhas, dentre outras.

 Definição de modelos de gestão para o saneamento rural, ressaltando a necessidade de fortalecer o modelo Central de Associações para a Manutenção de Sistemas Autossustentáveis de Saneamento, com aplicação de recursos e o devido acompanhamento.

 Rever as atribuições institucionais estabelecidas pelo novo governo da Bahia para a área de gestão dos recursos hídricos.

Mesa Redonda 2 - Planejamento na área de saneamento básico: o Plansab, o Plano Estadual de Saneamento Básico e os desafios para a universalização.

Coordenador

Prof. MSc. Renavan Andrade Sobrinho – Presidente da ABES/BA Debatedores

Eng. Civ. Alexandre de Araújo Godeiro Carlos – SNSA/MCidades Enga. Civ. Patrícia Valéria Vaz Areal – Densp/Funasa

Eng. Civ. Raimundo Freitas – representante do Superintendente de Saneamento da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento-SIHS

Bel. Karinny V. Peixoto de Oliveira Guedes – Coordenadora da Câmara Temática de Saneamento do Ministério Público do Estado da Bahia

4.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes

O representante do Ministério das Cidades, Eng. Alexandre Godeiro, durante sua exposição fez uma retrospectiva histórica do processo participativo de elaboração do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), destacando o seu início em 2008 com a formalização do “Pacto pelo Saneamento Básico” e as diversas reuniões, encontros e audiências públicas, além da consulta pública, a aprovação pelos principais conselhos nacionais relacionados com o saneamento básico e, por fim, a aprovação do Plano por decreto presidencial em 2013.

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O Eng. Alexandre destacou que o processo recente de estruturação da ação do Estado no campo do saneamento básico, começa com a Constituição Brasileira de 1988, passa pelo Estatuto das Cidades e o marco legal, chegando à aprovação do Plansab em 2013. Foi ressaltado que no Plansab há o reconhecimento dos desafios para a universalização do acesso aos serviços, dentre eles o tratamento das diferentes realidades quanto aos aspectos históricos e culturais que exigem uma abordagem específica na definição das ações e projetos. Considerou-se que os desafios são mais amplos nas regiões Norte e Nordeste, e, principalmente, para a população não branca, em face da precariedade das condições de saneamento básico.

Foi apresentado o deficit dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e manejo de resíduos sólidos, entre as regiões brasileiras e estados, e destacadas as metas a serem atingidas pelo Plansab até 2033, com investimentos da ordem de R$ 508,45 bilhões. Evidenciou-se que a região Nordeste irá demorar mais para atingir as metas da universalização dos serviços.

Foi informado sobre a criação do Grupo de Trabalho Interinstitucional de Acompanhamento da Implementação do Plano Nacional de Saneamento Básico (GTI-Plansab), responsável pelo acompanhamento da implementação, pelo monitoramento, avaliação e revisão do Plansab. O Grupo é composto por entes do Governo Federal, órgãos colegiados como o Conselho Nacional das Cidades, representação dos trabalhadores, do Poder Público Municipal, do Poder Público Estadual, de Organizações Não Governamentais, do Movimento Popular, de Entidades Profissionais, Acadêmicas e de Pesquisa, e, por fim, por segmentos do Empresariado. Esclareceu-se que o monitoramento e a avaliação do Plansab vêm sendo realizados segundo cinco dimensões: Cenário, Metas, Indicadores auxiliares, Macrodiretrizes e estratégias, e Programas. Para que tal avaliação seja feita, o Eng. Alexandre observou que será necessário dispor de um sistema de indicadores e metodologias capazes de aferir os avanços do acesso aos serviços, da salubridade ambiental e o desempenho dos prestadores e da gestão dos serviços. O representante do Ministério das Cidades apresentou os programas de investimentos previstos no PPA 2016-2019, envolvendo o Programa de Saneamento Básico, que prevê a execução de medidas estruturais e estruturantes; Programa Gestão de Riscos e Respostas a Desastres, que visa apoiar a redução do risco de desastres naturais em municípios críticos a partir de planejamento e de execução de obras; Programa Segurança Alimentar, que busca ampliar o acesso à água; e Programa Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas, que objetiva promover ações de saúde e saneamento para áreas indígenas.

O Eng. Alexandre também se referiu aos investimentos realizados entre 2007 a 2014 pelo governo federal, envolvendo PAC I e II, no total de R$ 94,9 bilhões, sendo que 93% destes já foram contratados, embora apenas 44% tenham sido executados. Foi destacado que entre 2007 e 2015 o Ministério das Cidades selecionou 2.935 ações, totalizando R$ 86,1 bilhões, sendo que R$ 35,6 bilhões foram executados. Sobre o estado da Bahia foi informado que os investimentos chegaram a R$ 5,6 bilhões, 41% para esgotamento sanitário, 28% para abastecimento de água e apenas 0,1% para a elaboração de planos municipais de saneamento básico.

O representante da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento do Estado da Bahia (SIHS), Eng. Raimundo Freitas, informou sobre a criação da Secretaria em dezembro de 2014, que tem por finalidade fomentar, acompanhar e executar estudos e projetos de infraestrutura hídrica, bem como formular e executar a política estadual de saneamento básico. Também apresentou o organograma da Secretaria, destacando-se a Superintendência de Saneamento e suas diretorias de Saneamento Urbano e Saneamento Rural. A Companhia de Infraestrutura Hídrica e de Saneamento da Bahia (CERB), a Empresa Baiana de Águas e Saneamento S/A

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(Embasa) e a Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa), estão ligadas à SIHS.

Foi informado que a Secretaria pretende retomar a elaboração do Termo de Referência para a contratação de empresa, via licitação, para a elaboração do Plano Estadual de Saneamento Básico. Sobre esse ponto esclareceu que durante o governo Jaques Wagner foi iniciado e criado Grupo de Trabalho para a elaboração do Plano (GT-PESB), que realizou 5 oficinas entre 2013 a 2014.

Sobre o apoio do governo do Estado aos municípios para a elaboração dos planos municipais de saneamento básico, o Eng. Raimundo destacou que durante o governo Jaques Wagner foram realizadas oficinas de capacitação para gestores e técnicos públicos e membros de Organização da Sociedade Civil, envolvendo os 27 territórios de identidade do Estado e contaram com 1.200 participantes. Foi informado que a SIHS pretende elaborar o Plano Regional de Saneamento Básico do Território de Identidade do Litoral Sul, envolvendo 26 municípios.

A Eng. Patrícia Areal, representante da Funasa-Bsb, fez sua apresentação destacando a responsabilidade do Ministério da Saúde, por meio da Fundação, quanto à implementação do Programa de Saneamento Rural, previsto pelo Plansab, em atendimento às diretrizes da Lei Nacional de Saneamento Básico e com vistas a enfrentar os deficits dos serviços na área rural. Destacou-se que a diversidade da realidade das áreas rurais representa um grande desafio para a universalização do saneamento básico, devido às diferenças geográficas, aos conflitos pela posse da terra, à economia diversificada, à precariedade das condições de vida, às questões ambientais, o que exige a adoção de um conceito ampliado sobre o “rural”, para além da definição político-administrativa, sobre o controle social, e a compreensão das características e necessidades das comunidades rurais nas diferentes regiões brasileiras, integração e interface com outras políticas públicas e programas de governo, a articulação com os estados e municípios e com sociedade civil organizada.

A Enga. Patrícia fez referência à população rural, que chega a 30 milhões de pessoas, concentrada em 10 Estados, incluindo a Bahia que tem a maior população rural do Brasil. Para o enfrentamento dos deficits, foi observado que a Funasa está elaborando o Programa Nacional de Saneamento Rural objetivando promover o desenvolvimento de ações de saneamento básico em áreas rurais, visando à universalização do acesso, por meio de estratégias que garantam a equidade, a integralidade, a intersetorialidade, a sustentabilidade dos serviços implantados e a participação social. O Programa envolve três eixos: Tecnologia; Gestão, operação e manutenção dos serviços; e Educação e mobilização social. Pretende-se atingir até 2033 as metas previstas no Plansab, sendo 80% de cobertura para o abastecimento de água, 69% para a destinação dos esgotos e 70% para a coleta dos resíduos sólidos domésticos. O Programa encontra-se em fase de elaboração pela Universidade Federal de Minas Gerais por meio do Termo de Execução Descentralizada.

A promotora pública, Bel. Karinny Guedes, representando o Ministério Público do Estado da Bahia, destacou que a falta de uma política pública de saneamento básico provoca danos ao meio ambiente, à saúde pública e fere outros direitos do cidadão. Assim, para a Promotora, o estabelecimento de uma política pública de saneamento básico – entendida como um conjunto de ações e normas - é essencial para a alteração da realidade atual, sendo a sua formulação um dever do Poder Público, em especial, do titular do serviço. A omissão quanto a esta responsabilidade demanda do Ministério Público a adoção de medidas extrajudiciais e/ou judiciais para fazer cumprir as disposições legais e garantir correta prestação de serviços públicos. A promotora Karinny chamou a atenção que cabe ao MP a instauração de inquéritos civis para que seja assegurada a implementação da política pública de saneamento básico, além

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da celebração de termos de compromisso de ajustamento de conduta, o ingresso de ações civis públicas, e, por fim, a mobilização da sociedade para conscientização do problema e participação no controle social. A promotora esclareceu que dentre as ações que o MP tem desenvolvido destaca-se: a exigência dos planos de saneamento básico; a regulação e a fiscalização dos serviços; a verificação da validade dos contratos de prestação serviços, considerando a existência de plano de saneamento básico, de estudo de viabilidade técnica e econômica do contrato, de normas legais de regulação dos serviços editadas pelo município, e de entidade de regulação dos serviços.

A promotora Karinny abordou sobre as responsabilidades dos entes federados em relação ao saneamento básico, a partir das quais o MP guia as suas ações, destacando que a titularidade dos serviços é dos municípios, exceto em regiões metropolitanas e aglomerados urbanos, o financiamento e apoio técnico é atribuição do estado e o financiamento atribuição da União. Por fim, a mesa concluiu que é preciso uma revisão dos indicadores estabelecidos para atendimento do saneamento básico no Norte e Nordeste; a elaboração do Plano de Saneamento Básico da Bahia; a superação da falta de recursos e limites de atuação com os planos municipais de saneamento; a superação do déficit na elaboração dos planos municipais; a necessidade de maior alocação de recursos para ampliação e qualificação dos quadros técnicos nas esferas municipal, estadual e federal; o diálogo entre o titular do serviço e a empresa delegatária/concessionária quando não há plano municipal de saneamento básico; e a redefinição de prioridades para viabilizar a elaboração dos planos municipais de saneamento básico, evitando gastos de recursos públicos.

4.2 Propostas e desafios

Os palestrantes apresentaram um conjunto de desafios e propostas.

Quanto aos desafios:

 Ausência de capacidade técnica e financeira dos municípios para elaboração dos planos de saneamento básico.

 Dificuldade de estabelecimento e funcionamento de consórcios públicos.

 Falta de conscientização do titular do serviço público quanto às suas competências, especialmente, de planejamento, regulação e formulador de política pública.

 Ausência de destinação de dotação orçamentária para implementação de política de saneamento básico.

 Universalização do saneamento rural.

 Controle social.

 Compreensão sobre as características e as necessidades das comunidades rurais nas diferentes regiões brasileiras.

 Integração e interface com outras políticas públicas e programas de governo.

 Articulação com os estados e municípios e com sociedade civil organizada para implementar as ações de saneamento básico.

Quanto às propostas:

 Articulação e compatibilidade de agendas entre as coordenações técnicas da Funasa.

 Necessidade de organização da Funasa visando uma nova estratégia de atuação, sustentada em ações estruturais e estruturantes.

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 Levantamento da memória institucional da Funasa quanto às ações já desenvolvidas em áreas rurais voltadas à sustentabilidade.

 Apoiar a implementação de estruturas de gestão permanentes voltadas aos sistemas rurais de saneamento básico.

 Garantir autonomia às comunidades para gestão dos sistemas de saneamento básico.

 Reconhecer e respeitar a organização social já existente nas comunidades, quando da implementação das ações de saneamento básico.

 Garantir Planos Municipais de Saneamento Básico compatíveis às realidades das áreas rurais, conforme necessidades e anseios da população.

 Buscar parceiros na União, Estados e Municípios para ampliar e consolidar as ações da Funasa na área rural.

Mesa Redonda 3 – O papel institucional na elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico: interesses, conflitos e perspectivas para o atendimento da sociedade Coordenador

Eng. Sanit. Amb. Rogério Santos Saad Debatedores

Eng. Civ. Alexandre de Araújo Godeiro Carlos – SNSA/MCidades Enga. Civ. Patrícia Valéria Vaz Areal – DENSP/Funasa

Enga. Civ. Sandra Maria Pinheiro de Assis – Representante da Gerência de Governo da Filial Salvador da Caixa Econômica Federal

Profa. Dra. Patrícia Campos Borja – DEA/EP/UFBA

Exmo. Sr. Eng. Civ. Humberto Santa Cruz – Representante da UPB e Prefeito do Município de Luís Eduardo Magalhães

5.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes

Inicialmente, o representante do Ministério das Cidades, Eng. Alexandre Godeiro, fez referência às exigências da Lei Nacional de Saneamento Básico para que todos os municípios brasileiros formulem a política e elaborem o plano de saneamento básico, sendo este último a condição necessária para a validade dos contratos de delegação dos serviços e para acessar recursos do governo federal. O Engenheiro destacou a importância dos planos municipais de saneamento básico, se articulando com o conceito de plano elaborado por Orlando Jr. (2013), para quem o plano é um pacto socioterritorial entre os agentes políticos, econômicos e sociais para a gestão do saneamento ambiental, envolvendo a construção do diagnóstico, definição de princípios e diretrizes, e estabelecimento de prioridades e metas. Apesar da importância desse instrumento de planejamento, foi informado de que, segundo o IBGE, em 2011, apenas 11% (609) dos municípios brasileiros declararam possuir Plano, destes, apenas 261 abrangiam os quatro componentes. Esse indicador é mais baixo na região Nordeste (5,4%). Destacou-se que cerca de 28,2% dos municípios brasileiros declararam dispor de uma política municipal de saneamento básico, sendo que apenas em 17,3% destes era instituída por lei. Revelou-se que a regulação dos serviços ainda é um desafio, já que 73% dos municípios não dispunham de qualquer norma, embora seja necessária para a validação dos contratos de prestação dos serviços. Quanto à adoção de mecanismos de controle social, observou-se que 56,0% dos municípios brasileiros não adotaram qualquer mecanismo de controle e, entre os que adotaram, os mais usuais foram debates e audiências públicas (62,4%), conferências das cidades (41,0%), órgãos colegiados (24,1%) e consultas públicas (22,7%).

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O Eng. Alexandre informou aos presentes sobre os esforços do governo federal para apoiar os municípios na elaboração dos planos de saneamento básico, com destinação de R$ 55.118.368,29, permitindo o financiamento de 71 planos, sendo que até o momento apenas 12 (11%) foram concluídos. Ele finalizou destacando uma série de desafios para a universalização dos serviços, que serão indicados conjuntamente no próximo item.

A representante da Funasa-Bsb, Enga. Patrícia Areal, apresentou o histórico da atuação da Fundação no apoio à elaboração de PMSB, que se iniciou em 2006. No total, incluindo entre 2012 e 2014, 699 municípios que foram contemplados com capacitações presenciais, foram investidos R$ 136.708.065,55. Segundo a engenheira, a atuação da Fundação tem buscado enfrentar a baixa qualificação técnica dos quadros municipais e para isso seu programa de capacitação atingiu 2.000 técnicos municipais, por meio de Convênio com a Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (ASSEMAE), contemplando 1.032 municípios. A Enga. Patrícia observou que a partir de 2013 a Funasa mudou de metodologia de financiamento para planos municipais de saneamento básico (PMSB), passando a desenvolver parcerias para a elaboração de planos para um conjunto de municípios, sendo que a primeira experiência ocorreu com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (CREA/MG), contemplando 100 municípios. A partir daí a Fundação deflagra um processo diferenciado de “capacitação em serviço” de quadros municipais e as superintendências estaduais passam a identificar potenciais entidades para atuar em conjunto com a Funasa na capacitação de municípios de cada estado. A capacitação tem sido realizada por meio de Termo de Execução Descentralizada ou convênios entre a Funasa e entidades afins, sendo realizada em módulos, nos quais os participantes são capacitados para elaboração dos Produtos do Termo de Referência elaborado pela Funasa. Ao término de cada módulo e continuidade no módulo subsequente, espera-se a elaboração e apresentação dos produtos parciais e, por último, o PMSB concluído. Estão sendo formalizadas parcerias com 16 estados, envolvendo 937 municípios, sendo que 600 já estão em andamento. Os estados mais contemplados são Minas Gerais (150), Maranhão (165) e Mato Grosso e Goiás (125). A Enga. Patrícia observou que dentre os planos financiados pela Funasa em todas as categorias, apenas 10,2% estão com produtos aprovados e 26,2% estão em execução.

Entre os conflitos identificados para o cumprimento do processo de elaboração dos Planos, a Enga. Patrícia destacou: falta de cultura de planejar; transição nos mandatos eletivos; dificuldades dos municípios em dotar-se de estrutura técnico-administrativa, gerencial, forte e eficaz; dificuldade dos gestores municipais em nomear membros para formação dos comitês, face a escassez de quadros qualificados; dificuldade em sensibilizar/mobilizar a sociedade; escassez de empresas no mercado com qualificação comprovada e equipe técnica capaz de auxiliar/assessorar o município; planos municipais prontos vendidos a baixo custo por empresas de consultoria; municípios desistem da elaboração por achar o Termo de Referência complexo e declinam do recurso por achar “insuficiente”; expectativa de prorrogação por parte do Governo Federal do prazo estabelecido para elaboração de PMSB.

A Enga. Sandra de Assis, da Gerência de Governo da Filial Salvador da Caixa Econômica Federal, esclareceu aos presentes que a Caixa é um banco federal regido por normas e metas que tem que atender e que é submetido aos órgãos de controle. Falou também sobre os procedimentos adotados pela Caixa para acompanhar os contratos firmados para a elaboração de PMSB selecionados pelo Ministério das Cidades. A engenheira destacou que a Caixa dispõe de um conjunto de normas que devem ser atendidas para que a instituição possa aprovar os produtos previstos no processo de elaboração dos planos para que as parcelas do financiamento possam ser disponibilizadas e se o produto entregue está consistente com o que foi contratado. Na análise são considerados a conformidade, a compatibilidade e a funcionalidade. Relatou que na Bahia 9 municípios estão em fase de entrega dos produtos e que a maioria deles apresenta problema no terceiro produto (Prognóstico).

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A Profa. Patrícia Borja, da UFBA, teceu considerações sobre as dificuldades e oportunidades para a elaboração dos planos municipais de saneamento básico a partir de quatro perspectivas: política; institucional; técnica; e social.

A professora destacou que embora a dimensão política esteja longe da governabilidade imediata, é imprescindível considerá-la para desvelar as relações entre o modelo de desenvolvimento, as políticas públicas e os instrumentos de planejamento. Assim, pontuou a ascensão do ideário neoliberal e a fragilização das políticas sociais, o que inclui a de saneamento.

Ela fez referência à ampliação das competências municipais com a Constituição Federal de 1988 que não vieram acompanhadas da capacidade de dar respostas efetivas às questões locais, o que tem determinado dificuldades tanto em termos da capacidade de investimentos, como condição institucional-gerencial, influenciando na elaboração dos PMSB. Também foi ressaltado o legado do Planasa que determinou o afastamento do poder local das intervenções de saneamento básico, implicando em dificuldades concretas para avançar nos PMSB. O patrimonialismo, a descontinuidade administrativa, as práticas clientelistas e a corrupção formam também considerados como elementos que influenciam na elaboração dos planos.

Ao destacar os limites do planejamento como meio de romper uma estrutura social excludente e desigual, a Profa. Patrícia Borja ressaltou que a capacidade dos PMSB de orientar a ação pública depende da ação política da sociedade. Assim, a valorização da dimensão política do planejamento via participação social pode se constituir em uma ação pedagógica para a apropriação da agenda do saneamento básico pelos sujeitos sociais, ampliando a conscientização quanto às lutas do saneamento básico. Ela ressaltou que tal valorização poderia ocorrer pela inclusão das instâncias de controle social na tarefa de elaboração dos planos.

Outra dificuldade apontada pela professora foi a complexidade das ações de saneamento básico que são multidimensionais exigindo atuação intersetorial em um Poder Público organizado de forma setorial.

Na dimensão institucional a Profa. Patrícia observou que apesar dos esforços para a capacitação na elaboração de planos, por parte do Ministério das Cidades e da Funasa, deve-se reconhecer que estes são ainda marginais e insuficientes para fazer avançar o processo de planejamento nos municípios. A professora sugeriu a realização de uma campanha nacional sobre o planejamento em saneamento básico, por meio de um esforço interministerial e sob a condução do MCidades. A Profa. Patrícia destacou a baixa capacidade técnica, financeira, gerencial e de poder político para a formulação da política e elaboração dos PMSB por parte dos municípios e as dificuldades destes para a elaboração de projetos de captação de recursos; o atendimento dos requisitos e exigências dos órgãos financiadores para acessar os recursos; a realização de licitações e contratações; e para acompanhar o processo de elaboração dos planos. Soma-se a isso, a descontinuidade administrativa, as práticas clientelistas e a falta de prioridade política para o saneamento básico, além da descrença no planejamento.

A professora observou que diante da possibilidade da prorrogação do prazo para a elaboração do PMSA, seria importante não apenas tratar dos prazos, mas também de estratégias para ampliar as possibilidades de avanços.

Em relação à dimensão técnica, a Profa. Patrícia destacou a falta da própria prática de planejamento por todos os atores evolvidos e a carência de profissionais qualificados, tanto nas prefeituras, como nos órgãos do Governo Federal e Governo Estadual, dos financiadores, dos prestadores de serviços, das empresas consultoras. Outro ponto destacado foi a dificuldade de acesso à informação, principalmente dos prestadores de serviços. A complexidade do campo do

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saneamento básico foi outro ponto destacado, já que envolve quatro componentes, novos paradigmas tecnológicos, intersetorialidade, integralidade, tipos de prestador de serviços, lógica de financiamento, regulação, fiscalização, participação e controle social, o que dificulta o planejamento das ações, se feito da forma tradicional.

A professora considerou que as metodologias para a elaboração dos planos ainda carecem de avanços e adequações a cada realidade, não podendo ser homogêneas. Assim, considerou que os TR devem ser repensados quanto à aplicabilidade às diferentes realidades institucionais, técnicas, econômicas, sociais, demográficas, condições de saneamento e tipo de prestador de serviço. A Profa. Patrícia também observou que a prática da elaboração de planos em “batelada” deve ser cuidadosamente avaliada, isso por que tal prática pode levar a construção de peças meramente cartoriais, não se constituindo em um real debruçar sobre as realidades locais.

Na dimensão social, a professora ressaltou que é necessário definir estratégias para apoiar os municípios com deficits maiores, sob pena da inadimplência provocar dificuldades no avanço do processo de universalização e fez referência às debilidades dos movimentos socais e dos processos participativos quando da elaboração dos planos. As debilidades foram atribuídas ao recuo da esquerda e dos movimentos sociais na última década, à falta de conhecimento e capacitação para participar dos processos de elaboração dos PMSB e aos prazos exíguos de elaboração, que reduzem a participação efetiva a uma mobilização burocrática. Ela apresentou algumas propostas que estão apresentadas no item 4.2.

O representante da UPB e prefeito do município Luís Eduardo Magalhães, Eng. Humberto Santa Cruz, iniciou a sua fala colocando que a Constituição Federal de 1988 retirou receitas e aumentou as atribuições dos municípios, apresentando em seguida um histórico sobre as dificuldades que enfrentou para o processo de elaboração do PMSB em seu município, mostrou as ações e produtos realizados e teceu críticas à forma de fiscalização da Caixa como um elemento que poderia e deveria facilitar e orientar o processo de forma mais clara, deixando claro que a “Caixa não tem pessoal capacitado para acompanhar o processo de elaboração do PMSB”.

Durante o debate foi destacada a necessidade da adequação das exigências de conteúdo do plano de saneamento básico à realidade de cada município. Também houve questionamento sobre os indicadores utilizados para o monitoramento e avaliação do processo de participação social da elaboração dos planos, que foram considerados inadequados e susceptíveis a análises diferenciadas por cada técnico. Outra questão levantada foi a necessidade de o Ministério das Cidades realizar um melhor acompanhamento do processo de elaboração dos planos acompanhados pela Caixa Econômica Federal, em face dos problemas que vêm sendo enfrentados pelos municípios quanto à forma de análise desta instituição financeira que tem se mostrado incompatível com as características de uma ação de planejamento. Destacou-se a necessidade de adotar ações para apoiar os municípios para que eles tenham seus PMSB elaborados em curto prazo.

Dentre as sugestões realizadas destacam-se a de instituir nos municípios uma zona ou área de proteção das águas, como meio de garantir a preservação dos mananciais e a realização de videoconferência entre MCidades, Caixa e UPB/Prefeitura de Luís Eduardo Magalhães visando resolver os impasses existentes na elaboração do PMSB e aprovação dos produtos.

5.2 Propostas e desafios Foram apontados como desafios:

 Descontinuidade política e técnica nos municípios.

Referências

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