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Apelação Cível ns , , , de Araranguá Relator: Desembargador Francisco Oliveira Neto

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Academic year: 2021

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PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE APRESENTAÇÃO JUDICIAL DE PRONTUÁRIOS MÉDI-COS. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL POR DES-CUMPRIMENTO DA EMENDA À INICIAL. NECESSIDADE DE AQUIESCÊNCIA OU INCLUSÃO DOS PACIENTES NO POLO PASSIVO, SOB PENA DE VIOLAÇÃO DO DIREITO À INTIMIDADE. IMPRESCINDIBILIDADE DO DOCUMENTO PARA INSTRUÇÃO DE INQUÉRITO CIVIL NÃO COMPRO-VADA. EXISTÊNCIA DE OUTROS MEIOS. DIREITO COLE-TIVO NÃO VIOLADO. EXCEÇÃO AO SIGILO PROFISSIO-NAL NÃO COMPROVADA. PREVALÊNCIA DO DEVER DO MÉDICO E, SOBRETUDO, DO DIREITO À INTIMIDADE DO PACIENTE. APLICAÇÃO DO ART. 5º, X, DA CRFB/88 E DO ART. 73 DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 0004897-31.2014.8.24.0004, da comarca de Araranguá 2ª Vara Cível em que é Apelante Ministério Público do Estado de Santa Catarina e Apelado Hospital Re-gional de Araranguá.

A Segunda Câmara de Direito Público decidiu, por votação unâni-me, conhecer e desprover o recurso. Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des. Francisco Oliveira Neto, Sérgio Roberto Baasch Luz e Cid Goulart.

Florianópolis, 13 de junho de 2017.

Desembargador Francisco Oliveira Neto RELATOR

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RELATÓRIO

Trata-se apelação cível interposta pelo Ministério Público do Estado de Santa Catarina contra a sentença prolatada pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Araranguá que, nos autos do "Pedido de Apresenta-ção Judicial de Prontuários Médicos" ajuizado contra o Hospital Regional de A-raranguá, indeferiu a petição inicial por descumprimento da determinação de e-menda à inicial, e isentou a autora da sucumbência (fls. 48/49).

Inconformado, o órgão ministerial alegou que necessita do acesso aos prontuários médicos ns. 278.389 e 285.709 para dar prosseguimento ao In-quérito Civil n. 06.2014.0003036-0. Disse que o nosocômico público negou o seu pedido, sob o fundamento de sigilo médico referente a intimidade dos pacientes.

Ressaltou que há interesse público na obtenção dos documentos, pois visam instruir uma investigação de suposta irregularidade no serviço público. Alegou que se trata de um direito da coletividade, que se sobrepõe ao do parti-cular (direito à intimidade).

Enfatizou que as únicas informações que possui dos pacientes são os nomes e a existência dos prontuários, mas não tem conhecimento dos demais dados pessoais. Assim, alegou ser inviável apresentar certidão de óbito (se e-xistente), a anuência ou a inclusão dos pacientes no polo passivo, consoante determinado pelo magistrado a quo.

Requereu a reforma da sentença e, consequentemente, a análise de mérito para julgar procedente o pedido inicial, por ser matéria exclusivamente de direito (fls. 52/65).

Sem contrarrazões por ausência de angularização processual.

Lavrou parecer pela Douta Procuradoria-Geral de Justiça o Exmo. Sr. Dr. Alexandre Herculano Abreu que se manifestou pelo conhecimento e pro-vimento do recurso (fls. 71/77).

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1. O voto, antecipe-se, é no sentido de desprover o recurso.

2. De início, convém salientar que a sentença a quo foi proferida na vigência do Código de Processo Civil de 1973, motivo pelo qual os requisitos de admissibilidade recursal observarão aquela codificação.

A esse respeito, o STJ emitiu o Enunciado administrativo número 2, com o seguinte conteúdo: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as inter-pretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça".

3. Ainda, destaca-se que não é o caso de reexame necessário, haja vista que a sentença não foi proferida em desfavor da Fazenda Pública, não se enquadrando, portanto, nas hipóteses previstas no art. 475 do Código de Processo Civil de 1973.

4. A questão judicial posta nos autos refere-se a possibilidade de obtenção, pela via judicial, de prontuários médicos pelo Ministério Público do Estado de Santa Catarina - para instruir inquérito civil que apura eventuais irre-gularidades no serviço público -, os quais estão sob a guarda do Hospital Regio-nal de Araranguá, que os negou administrativamente em razão de sigilo profissi-onal.

Segundo dispõe a Constituição da República Federativa do Brasil:

"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature-za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a invio-labilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-dade, nos termos seguintes:

[...]

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem

das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral

decorrente de sua violação;"

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prontuários médicos, onde consta o diagnóstico da doença, os procedimentos e tratamentos realizados, são informações íntimas da pessoa e sua exibição acar-reta violação do dever do médico e, sobretudo, à intimidade do paciente.

José Afonso da Silva doutrina:

"O segredo profissional 'obriga a quem exerce um profissão regulamen-tada, em razão da qual há de tomar conhecimento do segredo de outra pessoa, a guardá-lo com fidelidade'. O titular do segredo é protegido, no caso, pelo

direito à intimidade, pois o profissional, médico, advogado e também o padre-confessor (por outros fundamentos) não pode liberar o segredo, devassando a esfera íntima, de que teve conhecimento, sob pena de violar aquele direito e incidir em sanções civis e penais" (Curso de Direito

Consti-tucional Positivo, 34. ed., São Paulo: Malheiros, 2010, p. 207/208, grifou-se).

Por isso mostra-se imprescindível a declaração de anuência dos pacientes ou a sua inserção do polo passivo da presente demanda para obten-ção dos seus prontuários médicos, principalmente, no presente caso, em que o órgão ministerial pretende a exibição dos escritos justamente para ter acesso à doença, aos tratamentos e aos procedimentos realizados pelo nosocômio.

O sigilo profissional é um dever do médico, mas inerente ao direito à intimidade do paciente. Sabe-se, porém, que não é absoluto e comporta exce-ções, nos termos do Código de Ética da Médica (Resolução CFM n. 1.937/09), segundo o qual:

"É vedado ao médico: Art. 73. Revelar fato de que tenha conhecimento

em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente." (grifou-se).

Ocorre que, transportando tais lições para o caso em comento, não se vislumbra nenhuma das hipóteses de exceção. Isso porque, como dito, ine-xiste anuência dos pacientes; não há dever legal de exibição dos escritos para instrução de um inquérito civil e tampouco apresenta-se como um justo motivo à violar o direito à intimidade.

É notório que o ente ministerial goza de prerrogativas que lhe con-ferem a possibilidade de obter outros documentos para instauração de um

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inqué-rito civil, sem precisar ferir a intimidade das pessoas. No presente caso, não há prova e sequer informação capaz de demonstrar a imprescindibilidade desses prontuários especificamente. Tampouco que a ausência impossibilita a instrução do inquérito, inexistindo, portanto, violação ao interesse público e ao direito da coletividade.

Ainda que assim não fosse, o órgão ministerial disponibiliza de meios suficientes para localização dos pacientes a fim de obter a anuência para exibição dos prontuários, como é o exemplo da Rede INFOSEG, onde há diver-sas informações, inclusive, para a localização das pessoas.

De sorte que desrazoada a alegação: "Ora, as únicas informações informações dos pacientes são os seus nomes já informados e respectivos prontuários, cuja identidade completa, naturalidade, domicílio e etc, o Ministério Público não as possui;" (fl. 56).

Assim, embora haja possibilidade de obtenção dos escritos médicos pela via judicial, no presente caso, a medida não comporta deferimento por au-sência de hipótese excepcional, devendo prevalecer o dever do médico de sigilo e, sobretudo, o direito à intimidade dos pacientes.

Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência nacional:

"Ação cautelar preparatória de exibição de documentos - Prestação de serviços hospitalares – Pretensão de ver exibidos prontuários médicos dos pa-cientes atendidos pelo hospital réu– A recusa do réu em exibir os documentos exigidos pelo autor é legítima – Prontuários médicos não são documentos co-muns às partes, mas sigilosos, pertencentes aos pacientes e não aos hospitais – Documentos que só poderiam ser exibidos com expressa autorização dos pacientes – Inconsistente a justificativa apresentada pela autora para compelir o réu a apresentar os prontuários médicos dos pacientes – Sentença reforma-da – Pedido de exibição improcedente – Apelo provido." (TJSP, AC n. 110533-27.2014.8.26.0100, relª. Desª. Silvia Rocha, j. em 08.2.17)

Por tais razões, não merece acolhimento as insurgências recursais, negando-se provimento ao recurso para manter a sentença de primeiro grau que indeferiu a petição inicial.

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5. Ante o exposto, voto no sentido de conhecer e desprover o re-curso.

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