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ADUR Informa. Disputas políticas e falta de planejamento marcam o início da vacinação contra a COVID-19 no Brasil.

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Academic year: 2021

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ADUR Informa

Além disso, o país ainda tem que lidar

com o negacionismo científico do

presidente e a submissão do ministro

da Saúde a Bolsonaro.

Disputas políticas e

falta de planejamento

marcam o início da

vacinação contra a

COVID-19 no Brasil.

associação DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO - SEÇÃO SINDICAL DO ANDES-SN

Fevereiro 2021

Edição nº 189

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No dia 17 de janeiro de 2021, Monica Calazans, enfermeira, mulher negra, de 54 anos, foi a primeira pessoa no Brasil a ser vacinada contra a COVID-19 fora dos estudos clínicos. Em meio a uma guerra política entre o governo federal e o governador do estado de São Paulo sobre as vacinas contra a doença, a Anvisa aprovou o uso emergencial das vacinas CoronaVac e AstraZeneca no Brasil. Neste momento, as vacinas serão destinadas à pessoas de grupos de risco, como indígenas, idosos e profissionais de saúde.

A vacina é essencial para o controle da pandemia de coronavírus. Diferente do que prega o presidente Bolsonaro, não há tratamento precoce para a COVID-19, tampouco outra alternativa terapêutica aprovada. Para impedir a lotação de hospitais, UTIs e o consequente colapso do sistema de saúde, o ideal é evitar a contaminação da doença. Ao promoverem a imunização de uma grande parcela da população, as vacinas impedem a circulação desenfreada do ...

vírus, além de prevenir que a doença se desenvolva para um quadro mais grave. Os testes apontaram que a vacina é segura. Especialistas apontam que o risco dos efeitos colaterais é menor do que o risco provocado pela doença em si. Em relação à eficácia, são necessárias duas doses para que ela seja garantida. Com o início da vacinação, a primeira fase será direcionada para os grupos prioritários: profissionais da saúde, idosos acima de 75 anos e a população indígena. Em seguida, os grupos de risco de pessoas com comorbidades e após a vacinação será disponibilizada para o restante da população.

O Brasil é um dos países mais atrasados em relação à construção de um plano de imunização adequado e eficiente. A gestão Bolsonaro demonstrou, desde o início da ...

pandemia, uma postura negacionista e irresponsável, minimizando a doença, defendendo medicamentos que não tem eficácia, sendo contrário às medidas de isolamento, e questionando os resultados científicos das vacinas. Quando a vacinação finalmente começou, o plano de imunização do Ministério da Saúde, documento apresentado por pressão do STF, tem sofrido diversas críticas. O documento entregue pela Advocacia-Geral da União ao Supremo foi uma exigência da Corte ao governo federal feita em novembro e levantou críticas por indefinições e possíveis irregularidades.

O atual ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, um militar especialista em logística, foi o único capaz de seguir as orientações do presidente, sempre na contramão de todas as recomendações das autoridades mundiais de saúde. A passagem de Pazuello no ministério tem sido tão desastrosa que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou ...

Negacionismo e falta de planejamento marcam o

início da vacinação contra COVID-19 no Brasil

As disputas políticas em torno

das vacinas

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A Coronavac, vacina produzida pelo Butantan em parceria com a SinoVac, foi amplamente descredibilizada pelo governo federal durante seu processo de desenvolvimento. Bolsonaro, inclusive, comemorou um incidente que levou à interrupção dos testes do imunizante, que por diversas vezes teve sua eficácia questionada por ele que a classificou como “vacina chinesa do Doria”.

Além disso, tornou-se pública a informação de que o governo federal recusou a oferta de 70 milhões de doses da vacina produzida pela norte-americana Pfizer em parceria com a alemã BioNtech. O CEO da Pfizer encaminhou uma carta a Bolsonaro, ainda em setembro de 2020, oferecendo a possibilidade de negociação com a empresa com agilidade, diante da alta demanda mundial. Em nota, o Executivo assumiu a recusa alegando, dentre outros argumentos, que a oferta seria “mais uma conquista de marketing, branding e growth para a produtora de vacina, como já vem acontecendo em outros países”.

Com a atual coordenação do Ministério da Saúde, o Brasil fechou o mês de janeiro com cerca de 2 milhões de pessoas vacinadas com a primeira dose, o equivalente a 0,9% da população total do país, que beira os 212 milhões de ...

abertura de inquérito para investigar a conduta do ministro na crise de saúde do Amazonas – causada pela superlotação dos leitos hospitalares e pelo colapso no fornecimento de oxigênio. Pazuello está, formalmente, sendo investigado no Supremo.

Já o governador de São Paulo, João Doria, que declaradamente tem intenção de ser presidenciável em 2022, se utilizou da negligência do governo federal para tomar para si o protagonismo do início da vacinação no país. Bolsonaro e Doria trocam baixarias publicamente desde o início de 2020, mas antes de estabelecer uma rivalidade política com o presidente, o tucano foi eleito na onda bolsonarista em 2018.

Quem também tem interesse políticos e econômicos sobre a vacinação é o setor privado de saúde. A ABCVAC, entidade que representa as clínicas de vacinação particulares, negocia a compra de 5 milhões de doses da vacina Cavaxin, imunizante produzido pelo laboratório indiano Bharat Biotech, que está na fase 3 de estudos clínicos. Dada a atual situação de escassez internacional da vacina, uma possível participação do setor privado na vacinação é naturalmente antiética, já que poderia levar à imunização de pessoas que não fazem parte dos grupos prioritários. Vacinação pelo setor privado significa uma imunização com critérios econômicos, e não sanitários e epidemiológicos.

habitantes. De acordo com cientistas da Fiocruz, o país levará cerca de 4 anos para atingir a imunidade coletiva, caso siga nesse ritmo.

A chegada de novos insumos para fabricação de doses da Coronavac aumentou a expectativa dos produtores e gestores públicos, que preveem atingir a marca de produção de 48,8 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19, possibilitando que pelo menos 32,6 milhões sejam distribuídas entre os estados ainda em fevereiro. É sempre importante destacar que a produção das vacinas e a imunização da população são frutos do trabalho de institutos científicos sérios e do Sistema Único de Saúde, ambos constantemente atacados pelo governo federal. De acordo com o vice-presidente da ADUR-RJ e professor do Instituto de Física da UFRRJ, Cláudio Maia, “estamos assistindo a um completo desmonte do Estado como agente implementador de políticas públicas. A ciência e a tecnologia são um caso particular disso, acentuado pela hostilidade que a extrema-direita brasileira nutre pela cultura e pelas formas elaboradas de conhecimento”, declarou. “Há ainda outro agravante nesse caso: no Brasil, a extrema-direita se associou a um projeto antinacional de submissão e vassalagem aos ...

Até o momento, o Brasil tem disponíveis duas vacinas: a vacina de Oxford em parceria com a farmacêutica britânica AstraZeneca que está sob a tutela da Fiocruz; e a Coronavac, a vacina da farmacêutica chinesa SinoVac em parceria com o Instituto Butantan. Depois de um longo período de avaliação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou as vacinas para uso emergencial no dia 17 de janeiro.

A imunização no Brasil

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As eleições norte-americanas de 2020 elegeram o democrata Joe Biden como o 46° presidente dos Estados Unidos e Kamala Harris como a primeira mulher negra vice-presidente, derrotando o republicano Donald Trump após um mandato repleto de arbitrariedades, controvérsias e medidas antidemocráticas

O resultado das eleições dos EUA reverberam não apenas nas relações entre o país e o Brasil, mas também nos rumos da própria política interna brasileira.

Desde que foi eleito presidente dos EUA em 2016, Trump fez uma gestão pública caótica, marcada por discursos e ...

práticas de cunho fascista, racista e xenófobo, por ataques às instituições democráticas, à imprensa e a grupos de minorias, bem como acusações infundadas contra adversários, propagação de fake news e teorias sem comprovação para atiçar sua base eleitoral mais arraigada.

Trumpismo: os reflexos da vitrine política do

Bolsonarismo

Referência mundial em saúde, Cuba é exemplo internacional de preservação da vida e baixos índices de contaminação e mortes por COVID-19. O país registra a menor taxa de mortalidade da região, graças ao trabalho de prevenção, isolamento e acompanhamento domiciliares de casos suspeitos.

A vacina cubana

interesses norte-americanos. A ciência e a tecnologia, pelo contrário, são elementos fundamentais para a soberania de um povo; não encontram espaço nesse cenário de suicídio geopolítico”, acrescentou.

Cuba também avança no desenvolvimento de uma vacina com tecnologia própria. Na segunda quinzena de janeiro, o país iniciou a fase II B de testes da Soberana 02, uma das vacinas desenvolvidas pelos laboratórios financiados pelo Estado cubano. A Soberana 01 já está sendo testada em outros países com maior incidência do vírus, ação importante para identificar o comportamento da fórmula em diferentes cepas. A expectativa do governo cubano é imunizar a população em seis meses. O diretor do Instituto Finlay de Vacinas, Vicente Vérez, anunciou, em uma ...

coletiva de imprensa no dia 18 de janeiro, que Cuba irá disponibilizar 100 milhões de doses da vacina, quantidade suficiente para atender toda a população cubana e outros países. “Não somos uma empresa multinacional na qual o retorno [financeiro] é a razão número um. Trabalhamos diferente, nossa prioridade é a saúde”, afirmou Vicente Vérez, na coletiva.

Além de exemplo ao lidar com a pandemia de coronavírus internamente, Cuba também demonstrou mais uma vez a importância da solidariedade internacional, enviando mais 3700 profissionais de saúde para 35 países.

O então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumprimenta o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2019.

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A popularidade de Bolsonaro cresceu em 2020 na onda do auxílio emergencial, que foi encerrado no início de 2021. Agora, o péssimo gerenciamento da crise econômica agravada pela pandemia, o caos na saúde pública, as investigações contra o ministro da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello, a negligência da condução do plano de vacinação no Brasil e da rivalidade com o futuro presidenciável João Doria pelo protagonismo da vacinação são mais elementos que podem mudar o jogo político. No momento, existem mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro que estão “em análise” na Câmara dos Deputados, aguardando a abertura de um processo.

A conjuntura política dos EUA pode ser um risco para a democracia brasileira. Bolsonaro faz constantes acenos para uma suposta ruptura democrática e o que acontece nos EUA pode favorecer servir de exemplo para o presidente. Observar o que acontece na maior potência do mundo pode ser essencial para compreender o que se passa por aqui. A estratégia de negar o resultado das

urnas e instigar o conflito já começou a ser seguida por Bolsonaro. O presidente fez declarações questionando a segurança das urnas eletrônicas - sem qualquer prova apresentada - ainda nas eleições de 2018, quando foi eleito. As afirmações de Bolsonaro são indícios de que ele pode vir a contestar o resultado das eleições de 2022, caso seja derrotado, utilizando a mesma narrativa inconformista de Trump.

Nos EUA, além de constantemente colocar em dúvida a veracidade do processo eleitoral, – que nos EUA acontece por meio da contagem de votos no papel em cada estado federativo – Trump passou a incitar seus eleitores a contestarem o resultado e a se rebelarem contra ele.

Embora o mandato de Trump já tenha sido encerrado, correm nas Casas Legislativas as acusações contra o ex-presidente para o julgamento de seu processo de impeachment. Como a condenação não serviria mais para afastá-lo do cargo, as consequências para Trump podem ser a perda do direito de receber os benefícios concedidos aos ex-presidentes e a inelegibilidade política no futuro.

Foto: Saul Loeb/AFP

Um dos líderes ideológicos desse movimento global de extrema-direita é o fascínora e ex-estrategista político da campanha de Trump, Steve Bannon, considerado o guru da família Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e deputado federal, foi nomeado por Bannon como líder sul-americano do movimento da direita populista.

Em agosto de 2020, Bannon foi preso por fraude e desvio de dinheiro, mas uma das últimas medidas de Trump antes de encerrar o mandato foi conceder um indulto de perdão presidencial a uma série de políticos e executivos acusados de corrupção, dentre os quais estava Bannon.

Em novembro, aconteceram as eleições presidenciais nos EUA. Trump perdeu nas urnas, no entanto, o republicano negou a própria derrota, afirmando sem provas que a eleição havia sido fraudada, e pedindo, inclusive, contestação judicial sobre o resultado.

O que esperar da política

brasileira?

Fascismo transloucado: uma

cartilha ideológica

O presidente Jair Bolsonaro, fã assumido de Donald Trump, se baseia no mesmo modelo de gestão pública do ex-presidente norte-americano. Antes mesmo de assumir o cargo, ainda durante a campanha de 2018, Bolsonaro já utilizava as mesmas estratégias populistas e o discurso de extrema-direita voltado para o apelo à pauta da moral cristã e dos “bons costumes”.

Assim como o norte-americano, Bolsonaro também se utiliza da máquina pública para atacar as instituições do Estado democrático de direito, participando até mesmo de manifestações que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro também repetiu, no Brasil, o desastre criminoso de gestão da pandemia de Trump nos EUA. O Brasil passou a ocupar o segundo lugar no ranking mundial de vítimas da COVID-19 com mais de 200 mil mortos, atrás apenas dos EUA, que já beira meio milhão de vidas perdidas.

Manifestantes trumpistas durante invasão ao Capitólio, sede do Congresso dos EUA, em 6 de janeiro de 2021.

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Historicamente, eclodiram grandes mobilizações contrárias, junto com o surgimento da vacina contra a varíola. No Brasil de 1904, ao tornar obrigatória a vacinação contra a varíola, Oswaldo Cruz médico e sanitarista, iniciou várias ações para a redução de doenças, as quais aliadas à falta de informação sobre eficácia e segurança das vacinas provocaram insatisfação na população. O Rio de Janeiro foi palco de tensões com aquilo que ficou conhecido como a Revolta da Vacina.

Por sua vez, o crescimento dos movimentos em defesa das vacinas foi decisivo, por exemplo, em relação à poliomielite que deixava graves sequelas nas crianças. A forte pressão popular foi essencial para as autoridades iniciarem as campanhas de vacinação. E foi justamente o desaparecimento de várias doenças infecciosas devido à proteção das vacinas que provocou o relaxamento da população de vacinarem seus filhos e a si próprias. E a junção de uma minoria resistente à vacina aliada a diminuição da cobertura vacinal, ocasionou a baixa cobertura a imunidade de grupo. Temos exemplo do sarampo, que é altamente contagioso e a uma elevada proteção populacional é importante para interromper a cadeia de transmissão. Segundo a FIOCRUZ, entre 29 de dezembro de 2019 e 24 de outubro de 2020 o Brasil registrou 8.261 casos de sarampo em 21 Unidades da Federação. Dessas, 17 conseguiram interromper a cadeia de transmissão do vírus, e quatro mantiveram o surto ativo: Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Amapá. Em 2020, a disponibilidade da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) foi essencial para as interrupções dentro do Calendário Nacional de Vacinação do Programa ...

Nacional de Imunizações (PNI). Casos notificados de sarampo no mundo cresceram 300% nos primeiros três meses de 2019, em comparação com o mesmo período de 2018. A Organização Mundial de Saúde alertou que até o final de março de 2019, 170 países haviam notificado 112.163 casos de sarampo. A entrada do vírus no Brasil foi feita através de turistas e migrantes que eram susceptíveis e acabaram desenvolvendo a doença. Isso em um cenário de baixa cobertura vacinal, inferior a 95% na região Norte. E mais adiante, foi introduzido e disseminado para áreas de maior densidade populacional como a Região Sudeste, com maior impacto na grande São Paulo. Que apesar da cobertura vacinal, em torno de 90%, não foi suficiente para conter o surto.

Em 2020, o sarampo capilarizou para diversos estados brasileiros. Coberturas vacinais superiores a 95% é a maneira mais eficaz de manutenção de uma população livre do sarampo, pois impede a circulação do vírus, caso ele seja reintroduzido. Os casos da Covid-19 já passam de 100 milhões de infectados. Sendo que EUA, Índia e Brasil concentram quase a metade de todas as infecções. Na primeira quinzena de janeiro de 2021, foram 10 milhões de casos confirmados. Mas a cobertura vacinal está ainda muito abaixo: são aproximadamente 70 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 já aplicadas, segundo o "Our World in Data". Todo o processo de criação de uma vacina pode levar anos. Mas cerca de um ano após os primeiros casos de Covid-19 terem sido notificados no mundo, várias vacinas contra a doença já estão prontas, mas com baixa produção e pouca acessibilidade para grande parte da ...

população mundial.

A revista Science elegeu o “desenvolvimento rápido de vacinas eficazes” para a Covid-19 como o maior feito científico de 2020. Uma “velocidade sem precedentes" como se produziu o imunizante. Mas o Diretor-Geral da OMS alerta que “existe um risco real de que os mais pobres fiquem sem vacina, que terminem sendo pisoteados pelo desespero da corrida por comprar a maior quantidade possível de produtos, e por campanhas de vacinação improvisadas ou mal coordenadas”.

O Plano Global desenhado pela OMS necessita de mais 4,3 bilhões de dólares, além dos cinco bilhões já arrecadados, para garantir o envio de vacinas em quantidade suficiente para os países que estão em dificuldades financeiras e menos condições de ter acesso ao produto. O Brasil entrou tarde nessa campanha mundial. Tivemos o cruzamento da epidemia que já causou mais de 200 mil mortes e a estupidez persistente do Presidente do Brasil Jair Bolsonaro e seus seguidores.

Uma onda de obscurantismo se abateu sobre o País e faz cada vez mais pessoas desprezarem ou minimizarem a Ciência. Só isso explica que, em meio a mais grave crise sanitária do século, cresça o número de cidadãos que compartilha a tese falaciosa, propagada pelo governo, de que vacinas não devem ser obrigatórias e causam mais riscos à saúde do que benefícios e que a saída é a medicação precoce com hidroxicloroquina, azitromicina, invermectina e outras drogas ineficazes. Isso caso se prospere pode levar milhares ou até milhões de pessoas à morte ou à invalidez com graves sequelas, nos próximos anos, atingindo inclusive inúmeras enfermidades reconhecidamente erradicadas pela vacinação.

A pandemia dos movimentos antivacina

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É um grande retrocesso civilizacional lembrando os ares sombrios da Idade Média. O presidente da República Jair Bolsonaro e os grupos de extrema direita que se opõem à imunização em massa aproveitam a crise da Covid-19 para promover a resistência às vacinas. Um comportamento mundial desses grupos na Europa e nos Estados Unidos tendo Trump como líder. Politizam a doença e as vacinas, lançam teorias conspiratórias e incentivam a desobediência civil.

Antes das vacinas do Butantan e da Fiocruz estarem disponíveis, o presidente Jair Bolsonaro já lançou uma campanha de descrédito contra elas. Com seus ataques a China e a negação de apoiar a Índia na quebra das patentes da vacina, ele promoveu uma antidiplomacia com seu negacionismo científico.

Em outubro do ano passado, depois de obrigar Pazuello a rasgar o contrato que o Ministério da Saúde assinara com o Instituto Butantan para a compra da Coronavac, vacina produzida por aquela instituição em associação com o laboratório chinês Sinovac, Bolsonaro declarou: “Mesmo se a vacina da Covid for aprovada pela Anvisa, eu não compro. A vacina da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. Esse é o pensamento nosso. Tenho certeza que outras vacinas que estão em estudo poderão ser comprovadas cientificamente, não sei quando, pode durar anos” “Mesmo se a vacina da Covid for aprovada pela Anvisa, eu não compro”, diz Bolsonaro).

Para atacar seu possível adversário em

2022, chegou a comemorar “vitória” sobre a vacina do Governado de S. Paulo, João Dória, logo após a interrupção dos testes de CoronaVac pela Anvisa, baseada no falecimento de um voluntário que suicidou. Ele coloca o tema das vacinas no centro de uma guerra ideológica envolvendo a disputa eleitoral de 2022. No dia 24 de janeiro, voltou a criticar as medidas de isolamento e segurança impostas pela Covid-19. Desta vez, a crítica veio por meio do compartilhamento de um vídeo que se refere à pandemia como uma "palhaçada midiática fúnebre". Se o ativismo antivacina de Bolsonaro e seus seguidores não forem contestados no debate público e nas lutas das ideias, conquistará as pessoas por omissão.

Falar ou refletir sobre meus 34 anos de filiação, atuação e militância na ADUR remete às lutas de

trabalhadores e trabalhadoras da educação básica, antes mesmo de 1986, quando eu ainda era aluna da UFRRJ.

Lembro das audiências públicas na época das propostas da nova LDB coordenadas por Florestan Fernandes e Jorge Hage, tendo Dermeval Saviani na

sistematização. Lembro da luta da ADUR para assegurar eleições diretas para reitor, diretor de Instituto na UFRRJ.

Participar de um dos maiores e mais qualificados espaços sindicais da América do Sul nos dá força para manter resistência diante dos sucessivos ataques e golpes na democracia brasileira.

Na minha visão, a organização coletiva e a representatividade de seus associados e associadas da ADUR no ANDES repercutiu na história passada e presente de construção do movimento docente brasileiro. Sindicalizada, me sinto muito acolhida para manter nossas estratégias em defesa da educação básica, da universidade pública, gratuita e socialmente referenciada, e pela formação de professores.

Professora aposentada pelo Instituto de Educação da UFRRJ

Lia Teixeira

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Desde que assumiu, Bolsonaro tem tratado a educação pública, em especial as IFES, como inimigas de seu governo. Nomear para o cargo de reitores figuras que não foram as escolhidas pelas comunidades acadêmicas é mais uma forma de ataque. Já são 19 instituições federais de ensino entre universidades, institutos e centros federais que estão sob intervenção do governo federal. As intervenções acontecem quando a nomeação é concedida a segundos ou terceiros colocados nas listas tríplices ou, em casos mais graves, quando são nomeados interventores que sequer participaram da disputa interna nas instituições. A Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e a Universidade Federal do Ceará (UFC) foram exemplos de como o governo Bolsonaro não respeitou a ordem das listas, nomeando para reitores os candidatos menos votados. O último ato neste sentido foi a nomeação do segundo colocado na disputa realizada pela comunidade ...

acadêmica da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, no dia 10 de dezembro de 2020. Casos como o da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ) são ainda mais graves. Nestas instituições, os nomeados para o cargo máximo sequer haviam participado da disputa eleitoral.

Diante das intervenções promovidas pelo governo federal, comunidades acadêmicas, entidades sindicais e outras instituições têm se mobilizado. No Instituto Federal do Rio Grande do Norte um processo movido pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica e Profissional resultou na nomeação do candidato escolhido pela comunidade acadêmica depois de um ano.

Em eleição ocorrida no dia 4 de dezembro de 2019, o professor José Arnóbio de Araújo Filho venceu a disputa, porém, em abril de 2020, Josué Moreira foi nomeado reitor pro tempore. Após a decisão da juíza Gisele Leite, da 4ª Vara Federal, onde tramitou o processo, no dia 21 de dezembro, finalmente, José Arnóbio foi nomeado reitor do IFRN. A cerimônia de posse oficial está marcada para o dia 5 de fevereiro de 2020.

Já no Instituto Federal de Santa Catarina, uma das instituições em que o segundo colocado na disputa foi nomeado reitor pró-tempore, a ...

Ainda em dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, determinou, por meio de uma liminar, que o presidente da República deve seguir o estabelecido em lei e respeitar a lista tríplice organizada pelo colegiado máximo das IFES. A decisão não tem efeito retroativo sobre as nomeações já ocorridas. A decisão cautelar foi tomada no curso de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 759, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Governo intervém nas IFES

STF se posiciona sobre

intervenções

Vitórias e derrotas

Manifestação contra a intervenção do governo federal no Cefet (RJ). Foto: Paladinum2. Montagem: site Universidade à Esquerda.

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pró-reitora de Administração move uma ação contra estudantes que denunciaram a intervenção. De acordo com Fabiana Besen Santos, os alunos proferiram "palavras desrespeitosas de ameaças e em tom ofensivo" durante uma reunião virtual do Conselho de Dirigentes, que eventualmente conta ...

com a participação de estudantes. Os alunos teria utilizados expressões como “intervenção”, “interventores”, “gestão interventora”, “golpe”, “golpe antidemocrático”, “parafernalha”, e “palhaçada”.

Além de processar estudantes, a gestão interventora do IFSC também ...

1) Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)

2) Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)

3) Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

4) Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

5) Universidade Federal do Ceará (UFC)

6) Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

7) Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB)

8) Universidade Federal do Semi-Árido (UFERSA)

9) Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

10) Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)

11) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

12) Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa)

13) Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

14) Universidade Federal do Piauí (UFPI)

15) Universidade Federal Sergipe (UFS)

16) Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC)

17) Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (CEFET-RJ)

18) Universidade Federal de Itajubá (Unifei)

19) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)

ADUR INFORMA

: Lúcia Aparecida Valadares Sartório, : Claudio Maia Porto, : Luciana de Amorim Nóbreba, : Marina de Carvalho Cordeiro, : Leandro Tomáz de Araújo, : Marcelo Pereira Fernandes, : Alexandre Jerônimo de Freitas

Equipe de Comunicação

: Pollyana Lopes, Larissa Guedes e

João Pedro Teixeira Werneck Vianna Rod. BR 465, Km7 - Campus da UFRRJ - Seropédica, RJCEP: 28851-970 - Caixa Postal: 74537

Presidente 1º Vice-Presidente

1ª Secretária 2º Secretário 1º Tesoureiro

2º Tesoureiro

Jornalistas

2ª Vice-Presidente

Confira a lista de instituições sob intervenção

já processou o Sinasefe-SC por espalhar outdoors, faixas e imagens na internet acusando a gestão de interventora e também já fez uso da Polícia Militar para intimidar uma manifestação na instituição, bloqueando o acesso dos manifestantes ao campus.

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