da pecuária de leite
Ano III - Edição 19Junho 2012
CUSTOS ATINGEM MAIOR NÍVEL
DESDE JANEIRO DE 2008
Os índices de custos de produção de lei-te atingiram, em maio, o maior patamar de toda a série desta pesquisa, iniciada em janeiro de 2008 pelo Cepea (Cen-tro de Estudos Avançados em Econo-mia Aplicada), em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Nesse período, o Custo Ope-racional Efetivo (COE) teve alta de 21% e o Custo Operacional Total (COT), de 17%.
Desde fevereiro deste ano, o COE, que é composto pelos gastos correntes da pro-priedade leiteira, e o COT, que considera também as depreciações e o pró-labore do produtor, vêm registrando altas con-secutivas. De abril para maio, tanto o COE quanto o COT tiveram aumentos de 2%. Entre maio do ano passado e maio de 2012, a elevação foi de 8% para o COE e de 7% para o COT. Esses índices são ponderados e consideram os siste-mas de produção típicos dos Estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Quanto à margem líquida do produtor – obtida a partir da subtração dos custos operacionais totais da receita bruta da atividade obtida com a venda de leite e de animais –, observa-se que, em relação a janeiro de 2011, apresenta crescimen-to muicrescimen-to pequeno, de apenas 1%, bem abaixo dos índices de inflação do perí-odo. Com isso, conclui-se que, mesmo com aumento do preço do leite, a ren-tabilidade do produtor vem diminuindo,
Em Minas Gerais, o concentrado foi o item com a maior variação de preço de um mês para outro: aumento de 9%. Os insumos destinados à manutenção de forrageiras perenes e silagem também seguiram em alta, de 2%. O aumento expressivo dos gastos com alimentação, atrelado à ele-vada representatividade desses itens nos custos do produtor, elevou o COE em 3% e o COT, em 2% – essas foram, inclusive, as maiores altas dentre os estados desta pesquisa. Com relação ao ano anterior, os aumentos foram de 11% para o COE e de 9% para o COT.
em função da elevação expressiva dos custos de produção da atividade.
Os insumos que mais encareceram a produção, em Goiás, de abril para maio, foram os utilizados na manutenção de forrageiras perenes e na produção de silagem, que subiram 5% no período. Já a suplementação mineral apresentou comportamento distinto, tornando-se 6% mais barata de abril para maio. O restante dos insumos vinculados à pe-cuária leiteira se manteve em patamares estáveis. A oscilação de preços dos insu-mos mencionados impactou no aumen-to de 1%, tanaumen-to do COE como do COT, no período. Frente a maio do ano passa-do, a variação foi mais significativa, com avanço de 8% do COE e 7% do COT.
REDUÇÃO NOS CUSTOS DE PRODUÇÃO
APENAS EM SANTA CATARINA
Santa Catarina foi o único Esta-do a apresentar redução de custos do produtor de leite, em maio. A queda de 4% da alimentação con-centrada, que representa 34% dos gastos correntes da propriedade, foi responsável pelo recuo. Os medica-mentos seguiram com baixa de 4%, porém, mas têm menor representa-tividade nos gastos do produtor, de 8% do total. Frente a abril, o COE e o COT recuaram 1%. Em relação ao mesmo período de 2011, COE e COT oscilaram positivamente, em 5% e 4%, respectivamente.
No Paraná, os custos destinados à manutenção de silagem e forragei-ras anuais tiveram alta de 2% entre abril e maio; já os medicamentos recuaram 3%. Se considerados to-dos os insumos utilizato-dos, não hou-ve alteração no COE, nem no COT, no período. Mas, frente a maio de 2011, o encarecimento da produ-ção foi de 7% para o COE e de 6% para o COT.
Os insumos destinados à manuten-ção de forrageiras anuais tiveram acréscimo de expressivos 16%, no Rio Grande do Sul, impulsionados pela maior demanda no período de cultivo das gramíneas de inver-no. O dispêndio com as forrageiras
perenes também seguiu em alta, de 6%. A alimentação concentrada, diferente do que ocorreu em outros Estados, teve recuo de 2%, entre os meses de abril e maio. Apesar dis-so, as altas com forrageiras supera-ram a queda ocorrida com o item de maior representatividade nos custos do produtor, o concentrado. No período, o COE e o COT tiveram altas de 2%. Quando a compara-ção é feita com maio de 2011, os reajustes no Estado são os maiores entre os pesquisados: de 11% para
o COE e de 10% para o COT. Em São Paulo, os custos com ali-mentação tiveram destaque em maio. Os gastos com produção de silagem, de forrageiras perenes e o concentrado tiveram altas de 5%, 4% e 4%, respectivamente. O res-tante dos insumos se manteve em patamares relativamente estáveis. Entre abril e maio, houve aumen-tos de 2% do COE e do COT. Em comparação a maio do ano pas-sado, os acréscimos foram de 9% para o COE e de 6% para o COT. Evolução da Margem Líquida Nacional da Atividade Leiteira média ponderada dos estados de GO, MG, SP, PR, SC e RS
CAI PODER DE COMPRA DO LEITE FRENTE A
FERTILIZANTES E SEMENTES FORRAGEIRAS
DE INVERNO
O leite, “moeda” do produtor, perdeu valor frente a fertilizantes e sementes forrageiras de inverno em maio. O preço destes insumos aumen-tou num momento de relativa estabi-lidade do valor recebido pelo leite. A situação do produtor ainda pode pio-rar nos próximos meses, caso a expec-tativa dos agentes de mercado consul-tados pelo Cepea, de queda de preços no pagamento de junho, período de entressafra, se confirme. Assim, o pro-dutor de leite precisa reforçar o pla-nejamento de seus gastos, para que sejam eficientes.
O preço do leite recebido pelo produ-tor apresentou leve aumento de 0,8%, entre abril e maio, na média pondera-da dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mi-nas Gerais, Goiás e Bahia. Ao mesmo tempo, alguns insumos importantes para a produção de leite se tornaram bem mais caros. Estão nessa situação
as sementes de forrageiras de in-verno, no sul do País, principalmen-te no Rio Grande do Sul, além dos fertilizantes, que contribuem para o aumento dos gastos com a manuten-ção de forrageiras perenes – como a cana-de-açúcar e pastagens –, e de forrageiras anuais, como a silagem e forrageiras de inverno.
A estiagem no sul do País prejudicou a semeadura de forrageiras de inver-no em meados de abril, principalmen-te no Rio Grande do Sul, assim como a produção de sementes no início do ano. A oferta de sementes restrita elevou em 35% o preço da semente de aveia no mercado gaúcho. O au-mento de 16% na formação dessas forrageiras no Estado também este-ve relacionado ao aumento no preço dos fertilizantes, impulsionado prin-cipalmente pela valorização do dólar frete ao real, em maio, e pelo aque-cimento da demanda internacional.
Com esses fatores, a relação de troca de leite por semente de aveia e pelo adubo 04-14-08 piorou 35% e 14%, respectivamente, de abril para maio. No Centro-Oeste, o movimento altis-ta no preço dos fertilizantes altis-também se repetiu. Em Goiás, que represen-ta a região na pesquisa, represen-tanto o custo com a formação de silagem quanto o de manutenção de forrageiras perenes aumentaram. Dessa forma, em média, o poder de compra do produtor de leite em relação à ureia e ao adubo 04-14-08 no Estado piorou em torno de 10% de abril para maio.
Na região Sudeste, a situação do produ-tor de leite também piorou em função dos fertilizantes, que elevaram os cus-tos de formação da silagem e manuten-ção de forrageiras perenes. Em Minas Gerais, por exemplo, a queda no poder de compra chegou a 23% frente à ureia e a 18% no caso do adubo 04-14-08.
Relação de Troca de Leite por Semente de Aveia e Adubos Ureia e 04-14-08 - regiões da pesquisa –
Insumos Semente de Aveia Ureia 04-14-08
Unidade quilograma tonelada tonelada
SUL PR Abr/12 1,0 1923,8 -Mai/12 1,0 2351,7 -Variação 0% 22% -RS abr/12 1,1 1516,8 -mai/12 1,5 1733,3 -Variação 35% 14% -SC abr/12 0,9 1794,0 1550,1 mai/12 0,9 1733,1 1461,5 Variação 0% -3% -6% SUDESTE MG abr/12 - 1715,3 1102,7 mai/12 - 2107,6 1296,0 Variação - 23% 18% SP abr/12 - 1554,7 1001,3 mai/12 - 1793,8 1146,1 Variação - 15% 14% CENTRO-OESTE GO abr/12 - 1736,1 923,1 mai/12 - 1906,4 1006,8 Variação - 10% 9%
POTENCIAL DE CRESCIMENTO DA ATIVIDADE
LEITEIRA NO MATO GROSSO DO SUL
O Estado do Mato Grosso do Sul ocu-pava, em 2000, a nona colocação no ranking brasileiro de produção de leite, sendo considerado o segundo principal Estado produtor de leite no Centro-Oeste, segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal do Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE). Dez anos depois, com crescimento de 2% ao ano, inferior à média brasileira, de 4% ao ano, o Estado caiu para a 12ª colocação no ranking, tornando-se o terceiro Estado em termos de produção do Centro-Oeste, à frente somente do Distrito Federal.
Em contrapartida ao baixo cresci-mento da produção de leite, o Mato Grosso do Sul registra avanços em outras atividades, estimuladas pela instalação de agroindústrias, como a de papel e celulose, baseada no plan-tio de eucalipto. Também de acordo com dados do IBGE, há dez anos não existia no Estado a produção de ma-deira com esta finalidade. Em 2010, o Estado tornou-se o sétimo produtor nacional de madeira destinada à pro-dução de papel e celulose, com cerca de 6% da produção nacional.
O Censo Agropecuário do IBGE mos-tra que a área de pastagens do Esta-do, naturais e formadas, entre 1995 e 2006, diminuiu cerca de 4%, indo de 21,8 milhões para 20,9 milhões de hectares, enquanto o efetivo de rebanho, principalmente de corte, aumentou de 19,7 para 20,4 milhões de cabeças. Desta forma, o cresci-mento de outras atividades, como o plantio de eucalipto e a pecuária de corte, pode estar suprimindo áreas que anteriormente pertenciam à pe-cuária de leite.
Aumento de produtividade – Pes-quisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA, levantou indicadores de pro-dutividade da pecuária de leite no
Indicadores de Produção de Leite e Econômicos de Mato Grosso do Sul Estado, que caracterizam o baixo nível
de tecnificação aplicado à atividade. A lotação média no ano e a produ-tividade por área foram de 0,65 UA/ ha e de 680 litros/ha.ano, respectiva-mente, enquanto Goiás e São Paulo apresentam uma média da produtivi-dade de cerca de 2.000 litros/ha.ano, valores que podem chegar em torno de 4.000 litros/ha.ano. Índices zootéc-nicos importantes, como intervalo de partos, período de lactação e idade da primeira cria também ficaram abaixo do esperado, com 15, 8 e 38 meses, respectivamente, o que compromete a estrutura do rebanho. Além disso, em média, há somente 26% de vacas em lactação sobre o total de animais, quando o esperado seria de, no míni-mo, 40%.
A pastagem, principal fonte de ali-mento do rebanho, uma vez formada, não possui manutenção adequada ao longo de sua vida útil, avançando para estado de degradação e consequente baixa produção e qualidade. Este é um dos principais motivos dos resultados relativamente baixos de produtivida-de e reprodução dos animais. Outro fator é a similaridade do sistema de
produção de leite com o observado em proprieda-des tipicamente de pecuária de corte extensiva.
Neste contexto, o produtor de leite típi-co do Mato Grosso do Sul típi-consegue típi- co-brir somente o Custo Operacional Efetivo (COE), que são os desembolsos com con-centrado, medicamentos e fertilizantes, entre outros. Mas não obtém renda su-ficiente para abater o Custo Operacional Total (COT), que inclui gastos com depre-ciações de máquinas/equipamentos e o pró-labore do produtor. Tal quadro leva ao sucateamento dos bens de produção e à consequente insustentabilidade econô-mica no médio/longo prazos.
Para superá-lo, o produtor deve usar as vantagens do Estado a seu favor, como a proximidade de grandes centros produto-res de grãos, topografia pouco acidenta-da, clima e distribuição de chuvas favorá-veis à agricultura e pecuária, de modo a se especializar na produção de leite. Deve, também, aplicar no seu cotidiano ferra-mentas de gestão que o auxiliem no con-trole e planejamento da produção, para que possa tomar decisões mais acertadas e aumentar a produção de leite.
Indicadores de Produção MS Produção Diária (Litros) 144 Área útil utilizada para a pecuária (ha) 88 Intervalo entre Partos (IEP) - meses 15 Idade do Primeiro Parto (IPP) - meses 38 Vacas em lactação/Rebanho 26,7%
Lotação (UA/ha) 0,65
Produtividade (Litros/ha.ano) 680,1 Produtividade mão de obra (Litros/homem.dia) 117,9 Indicadores Econômicos
Preço do Leite (R$/litro) R$ 0,56 COE Unitário do Leite (R$/litro) R$ 0,39 COT Unitário do Leite ((R$/litro) R$ 0,70 Margem Bruta da Atividade¹ (R$/ano) R$ 12.741,67 Margem Líquida da Atividade² (R$/ano) -R$ 9.309,82
Notas: ¹Resultado da Renda Bruta (venda de leite + venda de animais) menos o COE
²Renda Bruta menos o COT da atividade leiteira.
APESAR DA ENTRESSAFRA, AGENTES ESPERAM
RECUO NOS PREÇOS
A expectativa da maior parte dos compradores de leite consultados pelo Cepea é de queda dos preços ao produtor em junho, mesmo na entressafra, especialmente no Su-deste e Centro-Oeste do País. O principal motivo é a redução da mar-gem de lucro das indústrias e coope-rativas, tendo em vista o aumento da matéria-prima nos últimos meses e a relativa estabilidade dos valores dos derivados no segmento atacadista. Entre janeiro e abril, o preço médio pago pelo leite aos produtores ficou 12% acima do observado no mesmo período de 2011 (em termos nomi-nais), enquanto o preço do leite UHT, por exemplo, manteve-se estável. Outro fator que tem prejudicado as vendas da indústria nacional é o vo-lume de lácteos importados a preços relativamente baixos se comparados aos do produto nacional.
Do ponto de vista do produtor rural, no entanto, os custos de produção têm “apertado” sua margem de lu-cro. Em abril, o custo operacional efetivo (COE) ficou 7% acima do observado no mesmo período do ano passado e 20% superior ao de abril/10 (sem considerar a inflação do período). Esse encarecimento foi pu-xado basicamente pela alimentação
concentrada e pela mão-de-obra, que normalmente é indexada ao salário mí-nimo.
Neste cenário, segundo a pesquisa mensal realizada pelo Cepea referente às expectativas sobre o comportamen-to dos preços a serem pagos no mês seguinte, 59% dos compradores de leite entrevistados (que representam 79% do volume de leite da amostra) acreditam em queda dos preços do lei-te a serem pagos em junho. Para 23% dos agentes consultados pelo Cepea (que respondem por 15% da amos-tra), deve haver estabilidade e 18% dos agentes (responsáveis por 6% do volume amostrado) acreditam em alta de preços.
Em maio, o preço médio pago pelo leite aos produtores, referente à pro-dução entregue em abril, teve leve au-mento de 0,8% em relação ao mês an-terior, indo para R$ 0,8742/litro (valor bruto, inclui frete e impostos). O valor considera a média ponderada pelos Es-tados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Ge-rais, Goiás e Bahia. Em termos reais, o preço do leite ficou 0,5% abaixo do registrado em maio de 2011. O preço real não ficava abaixo do verificado em igual período do ano anterior desde
aquele mês.
O Índice de Captação de Leite do Ce-pea (ICAP-Leite) registrou ligeira que-da de 0,5%, entre março e abril, – o cálculo é feito com base na variação da captação média diária no Rio Gran-de do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia. A principal redução verificou-se em San-ta CaSan-tarina (quase 8%), seguida pela Bahia (recuo de 5,4%). Em função da seca no Nordeste, o índice na Bahia fi-cou cerca de 20% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado. O índice geral de abril teve aumento de 4% em relação a abril de 2011. Entre-tanto, se considerados os últimos 12 meses, ainda há redução de 1,5% do ICAP-Leite/Cepea em relação aos 12 meses anteriores.
No sul do País, a produção de leite ain-da é influenciaain-da pelas consequências da estiagem registrada no início do ano, tendo em vista a menor produção de silagem de milho e os efeitos do cli-ma sobre a qualidade deste produto. A safra de inverno na região tende a começar entre junho e julho, mas in-formações de agentes indicam que o desenvolvimento das forrageiras está atrasado, em algumas regiões, em fun-ção da falta de chuvas.
ICAP-L/Cepea - Índice de Captação de Leite - ABRIL/12 (Base 100=Junho/2004)
Fonte: Cepea
Série de preços médios pagos ao produtor - deflacionada pelo IPCA (média de RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA)
Fonte: Cepea
ATIVOS DA PECUÁRIA DE LEITE é um boletim mensal elaborado pela Superintendência
Técnica da CNA e Centro de Estudos SGAN - Quadra 601 - Módulo K