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Cidades e comunidades sustentáveis: contribuições da Embrapa.

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Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Embrapa

Brasília, DF 2018

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

11

Cidades e Comunidades

sustentáveis

COntribuiçõeS Da embrapa

Joanne Régis Costa Patricia da Costa Jane Simoni Silveira Eidt Valéria Sucena Hammes

(4)

todos os direitos reservados.

a reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n° 9.610). Dados internacionais de Catalogação na publicação (Cip)

embrapa

© embrapa, 2018 iara del Fiaco Rocha (CRB-1/2169)

Cidades e comunidades sustentáveis : contribuições da embrapa / Joanne Régis Costa ... [et al.], editoras técnicas. – Brasília, dF : embrapa, 2018.

PdF (88 p.) : il. color. (objetivos de desenvolvimento sustentável / [valéria sucena Hammes ; andré Carlos Cau dos santos] ; 11).

isBn 978-85-7035-791-5

1. desenvolvimento sustentável. 2. urbanização. 3. Política de desenvolvimento. i. Costa, Joanne Régis. ii. Costa, Patrícia da. iii. eidt, Jane simoni silveira. iv. Hammes, valéria sucena. v. Coleção.

Cdd 338.981 embrapa

Parque estação Biológica (PqeB) av. W3 norte (Final) CeP 70770-901 Brasília, dF Fone: (61) 3448-4433 www.embrapa.br www.embrapa.br/fale-conosco/sac responsável pelo conteúdo secretaria de inteligência e Relações estratégicas Coordenação técnica da Coleção ods Valéria Sucena Hammes André Carlos Cau dos Santos Comitê Local de Publicações Presidente Renata Bueno Miranda secretária-executiva Jeane de Oliveira Dantas membros Alba Chiesse da Silva Assunta Helena Sicoli Ivan Sergio Freire de Sousa Eliane Gonçalves Gomes Cecilia do Prado Pagotto Claudete Teixeira Moreira Marita Féres Cardillo Roseane Pereira Villela Wyviane Carlos Lima Vidal

responsável pela edição secretaria-Geral Coordenação editorial Alexandre de Oliveira Barcellos Heloiza Dias da Silva Nilda Maria da Cunha Sette supervisão editorial Wyviane Carlos Lima Vidal Revisão de texto

Everaldo Correia da Silva Filho Maria Cristina Ramos Jubé Normalização bibliográfica Iara Del Fiaco Rocha Projeto gráfico e capa Carlos Eduardo Felice Barbeiro tratamento das ilustrações Paula Cristina Rodrigues Franco 1ª edição

e-book (2018)

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ana Cláudia Lira-Guedes

engenheira-agrônoma, doutora em Ciências da engenharia ambiental, pesquisadora da embrapa amapá, macapá, aP

andré rodrigo Farias

Geógrafo, mestre em Geografia, analista da embrapa territorial, Campinas, sP

Carlos renato marmo

engenheiro civil, mestre em engenharia Civil, analista da embrapa instrumentação, são Carlos, sP

Claudio Cesar de almeida buschinelli

Bacharel em Ecologia, doutor em Cartografia temática, siG e teledetecção, pesquisador da embrapa meio ambiente, Jaguariúna, sP

Fagoni Fayer Calegario

engenheira-agrônoma, doutora em agrono-mia, pesquisadora da embrapa meio ambien-te, Jaguariúna, sP

Henrique nery Cipriani

Engenheiro florestal, mestre em Solos e Nu-trição de Plantas, pesquisador da embrapa Rondônia, Porto velho, Ro

Daniel de Castro Victoria

engenheiro-agrônomo, doutor em Ciências, pesquisador da embrapa informática agrope-cuária, Campinas, sP

Geraldo Stachetti rodrigues

ecólogo, doutor em ecologia, pesquisador da embrapa meio ambiente, Jaguariúna, sP

Jane Simoni Silveira eidt

Cientista social, doutora em desenvolvimento sustentável, pesquisadora da secretaria de in-teligência e Relações estratégicas, embrapa, Brasília, dF

Joanne régis Costa

Bióloga, mestre em ecologia, pesquisadora da embrapa amazônia ocidental, manaus, am

Autores

Junia rodrigues de alencar

economista, doutora em economia e empre-sa, pesquisadora da embrapa informática agropecuária, Campinas, sP

Katia regina evaristo de Jesus

Bióloga, doutora em Biotecnologia, pesquisa-dora da embrapa meio ambiente, Jaguariúna, sP

Lucíola alves magalhães

Geóloga, doutora em Ciências, analista da embrapa territorial, Campinas, sP

Lucimara aparecida Forato

Química, doutora em Físico-Química, pes-quisadora da embrapa instrumentação, são Carlos, sP

maria Consolacion Fernandez Villafañe udry

economista, doutora em desenvolvimento sustentável, analista da secretaria de inova-ção e negócios, embrapa, Brasília, dF

marcelino Carneiro Guedes

Engenheiro florestal, doutor em Recursos Florestais, pesquisador da embrapa amapá, macapá, aP

patrícia Goulart bustamante

engenheira-agrônoma, doutora em Bioquími-ca, pesquisadora da secretaria de Pesquisa e desenvolvimento, embrapa, Brasília, dF

patricia da Costa

Bióloga, mestre em Ciências do solo, pesqui-sadora da embrapa Roraima, Boa vista, RR

Valéria Sucena Hammes

engenheira-agrônoma, doutora em enge-nharia agrícola, pesquisadora da secreta-ria de inteligência e Relações estratégicas, embrapa, Brasília, dF

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(7)

Apresentação

A Agenda 2030, lançada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, é poderosa e mobilizadora. Seus 17 objetivos e 169 metas buscam identificar pro-blemas e superar desafios que têm eco em todos os países do mundo. Por serem interdependentes e indivisíveis, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) demonstram com clareza, para quem se debruça sobre eles, o que é a bus-ca por sustentabilidade.

Refletir e agir sobre essa Agenda é uma obrigação e uma oportunidade para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A busca incessante por uma agricultura sustentável está no cerne de uma instituição dedicada à pesqui-sa e à inovação agropecuária. E a agricultura sustentável é um dos temas mais transversais aos 17 objetivos. Esta coleção de e-books, um para cada ODS, ajuda a sociedade a perceber a importância da agricultura e da alimentação para cinco dimensões prioritárias – pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias –, os cha-mados 5 Ps da Agenda 2030.

A coleção é parte do esforço para disseminar a Agenda 2030 na Instituição, ao mesmo tempo em que apresenta para a sociedade global algumas contribuições disponibilizadas pela Embrapa e parceiros com potencial para impactar as reali-dades expressas nos ODS. Conhecimentos, práticas, tecnologias, modelos, pro-cessos e serviços que já estão disponíveis podem ser utilizados e replicados em outros contextos a fim de apoiar o alcance das metas e o avanço dos indicadores da Agenda.

O conteúdo apresentado é uma amostra das soluções geradas pela pesquisa agropecuária na visão da Embrapa, embora nada do que tenha sido compilado nestes e-books seja fruto do trabalho de uma só instituição. Todos fazem parte do que está compilado aqui – parceiros nas universidades, nos institutos de pesquisa, nas organizações estaduais de pesquisa agropecuária, nos órgãos de assistência técnica e extensão rural, no Legislativo, no setor produtivo agrícola e industrial, nas agências de fomento à pesquisa, nos órgãos federais, estaduais e municipais. Esta coleção de e-books é fruto de um trabalho colaborativo em rede, a Rede ODS Embrapa, que envolveu, por um período de 6 meses, cerca de 400 pessoas, entre editores, autores, revisores e grupo de suporte. O objetivo desse trabalho inicial foi demonstrar, na visão da Embrapa, como a pesquisa agropecuária pode contri-buir para o cumprimento dos ODS.

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nar cada vez mais presente na vida das organizações, nas relações entre público, privado e sociedade civil. Como tal, a obra traz uma diversidade de visões sobre o potencial de contribuições para diferentes objetivos e suas interfaces. A visão não é homogênea, por vezes pode ser conflitante, assim como a visão da sociedade sobre seus problemas e respectivas soluções, riqueza captada e refletida na cons-trução da Agenda 2030.

Estes são apenas os primeiros passos na trajetória resoluta que a Embrapa e as instituições parceiras desenham na direção do futuro que queremos.

Maurício Antônio Lopes

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Prefácio

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agenda pensada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015, composta por 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030. É um acordo universal para fazer mudanças com sustentabilidade, como: erradicar a pobreza, conservar o planeta e ter uma vida pacífica e próspera. Os ODS têm como base os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), buscando completá-los, inte-grar as atividades e ampliá-las para responder aos novos desafios.

O ODS 11 trata de cidades e comunidades sustentáveis, diante da urgente necessi-dade de transformar o modo como se dá a ocupação antrópica, pelo uso, pela cons-trução e pelo gerenciamento dos espaços urbanos e periurbanos, e sua relação com os espaços rurais. Este ODS tem como foco tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

Este e-book discorre acerca das contribuições da Embrapa relacionadas às metas que tratam do ODS 11, partindo do princípio de que as cidades, no contexto de uma agenda de sustentabilidade, não podem ser vistas como pontos no mapa, mas devem ser entendidas a partir de sua interação com as demais áreas ou regiões com as quais estabelecem interações.

São apresentadas tecnologias e outras ações que podem contribuir com o ODS 11, que tratam do planejamento e da gestão territorial, dos serviços básicos, da preser-vação do patrimônio cultural e natural mundial e da redução do risco de desastres. Aborda-se, em cinco capítulos, o conjunto de esforços da Embrapa para contribuir para a segurança alimentar e para a resiliência das áreas urbanas e rurais, adotando uma atuação preventiva e corretiva, frente aos desafios para uma urbanização sus-tentável.

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Sumário

Capítulo 1

Urbanização: perspectivas e tendências

Capítulo 2

Desafios para uma urbanização sustentável

Capítulo 3

Inteligência territorial: planejamento, gestão e

sistemas de apoio às decisões estratégicas

Capítulo 4

Patrimônio cultural e natural do Brasil

Capítulo 5

Avanços e desafios futuros

11

19

35

73

85

(12)
(13)

Capítulo 1

Urbanização: perspectivas e tendências

Joanne Régis Costa Patricia da Costa

Introdução

A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que a população mundial continua-rá a aumentar nas próximas décadas, chegando a 8,3 bilhões em 2030 e 8,9 bilhões em 2050. Posteriormente, a população global estabilizará em cerca de 9 bilhões. Comparado com uma estimativa de 7,4 bilhões para 2015, 1,5 bilhão de pessoas se-ria assim adicionado à população mundial até 2050, mesmo que a fertilidade atinja o nível de reposição instantaneamente e que a mortalidade permaneça constan-te nos níveis observados em 2010–2015. O relatório de 2017 das perspectivas da população mundial da ONU é a 25ª rodada de estimativas e projeções oficiais da população das Nações Unidas que foram preparadas pela Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (The impact..., 2017). Nesse cenário, é visível a impossibilidade de permanecer com o atual modelo de desenvolvimento. É necessário partir para um tipo de desenvolvimento que in-tegre as dimensões social, ambiental e econômica, que seja includente, ofereça segurança e sustentabilidade.

A Agenda  2030 é multidisciplinar, urgente e requer inúmeras estratégias para a transformação do planeta. Tratando-se especificamente do Objetivo de Desenvol-vimento Sustentável 11 (ODS 11), abordado neste e-book, a Agenda remete à cons-trução de cidades mais justas, democráticas, seguras, resilientes e sustentáveis. As metas, estabelecidas no âmbito desse objetivo, relacionadas à missão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), são apresentadas na Tabe-la 1.

Fenômeno da urbanização

A urbanização foi associada a um movimento que atingiu níveis de complexidade de grande magnitude, a ponto de ser considerada como o fenômeno contem-porâneo mais importante, uma vez que mais da metade da população mundial reside em ambientes urbanos. A projeção para 2050 é que as cidades abriguem

(14)

tabela 1. m etas do ods 1 1 relacionadas à missão da e

mbrapa e respectivos indicadores.

m eta indicador 11.1 – a

té 2030, garantir o acesso de todos à habitação adequada,

segura e a preço acessível, e aos serviços básicos, bem como ao melhoramento das favelas

11.1.1

– Proporção da população urbana que vive em favelas,

assentamentos informais ou domicílios inadequados

11.3

a

té 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e a

capacidade para o planejamento e a gestão participativa, integrada e sustentável dos assentamentos humanos, em todos os países

11.3.1

– Razão entre consumo da terra e crescimento

populacional 11.3.2

– Proporção de cidades com participação direta da

estrutura da sociedade civil no planejamento urbano e na gestão que opera regularmente e democraticamente

11.4

– Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio

cultural e natural do mundo

11.4.1

d

espesas totais (públicas e privadas) per capita

gastas na preservação, proteção e conservação de toda a herança cultural e natural, por tipo de herança (cultural, natural, mista e designação WHC), nível de governo (nacional, regional e local/municipal), tipo de despesa (operacional ou investimento) e tipo de financiamento privado (doações, organizações privadas sem fim lucrativo e patrocínio)

11.6

a

té 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das

cidades, inclusive prestando especial atenção à qualidade do ar

,

gestão de resíduos municipais e outros

11.6.1

– Proporção de resíduos sólidos urbanos coletados

regularmente e com destino final adequado em relação aos resíduos sólidos totais gerados por cidade 11.6.2

– Níveis médios anuais de material particulado fino (ex.

P

m

2,5 e P

m

10) nas cidades (com ponderação populacional)

11.

a

a

poiar relações econômicas, sociais e ambientais

positivas entre áreas urbanas, periurbanas e rurais, reforçando o planejamento nacional e regional de desenvolvimento

11.

a

.1

– Proporção da população das cidades que

implementam planos de desenvolvimento urbano e regional integrando projeções populacionais e necessidades de recursos, por tamanho de cidade

11.B

a

té 2020, aumentar substancialmente o número de cidades

e assentamentos humanos adotando e implementando políticas e planos integrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e adaptação à mudança do clima, a resiliência a desastres; e desenvolver e implementar

, de acordo com o

m

arco

de

s

endai para a Redução do Risco de

d

esastres 2015–2030(1), o

gerenciamento holístico do risco de desastres em todos os níveis

11.B.1

– Proporção dos governos locais que adotam e

implementam estratégias locais de redução dos riscos a desastres alinhadas com o quadro

s

endai para redução dos

riscos de desastres 2015–2030

(1)

m

arco acordado na

Terceira Conferência Mundial da ONU

, em 2015, no Japão. Fonte: n ações u nidas (2016).

(15)

70% da humanidade, segundo o Programa das Nações Unidas para os Assenta-mentos Humanos (Nações Unidas, 2008).

Na Terceira Conferência das Nações Unidassobre Moradia e Desenvolvimento Urbano

Sustentável (Habitat III), realizada em 2016, 167 países adotaram a Nova Agenda

Urbana (NAU) que objetiva orientar a política para a urbanização pelos próximos 20 anos. A NAU aponta que, até 2050, a população urbana do mundo vai pratica-mente dobrar, tornando a urbanização uma das tendências mais transformadoras do século 21 (Nações Unidas, 2016).

A edição de 2014 do relatório Perspectivas da Urbanização Mundial (World Urbanization Prospects) (Nações Unidas, 2014) afirma que a população urbana do mundo tem crescido rapidamente, passando de 746 milhões, em 1950, para 3,9 bilhões, em 2014, e que a Ásia, apesar do baixo nível de urbanização, abriga 53% da população urbanizada em nível mundial, seguida da Europa, com 14%, e a América Latina, com 13%. Enquanto isso, a população rural global tem crescido de forma lenta desde 1950. Atualmente, a população rural é de 3,4 bilhões, e é previsto um declínio de 3,1 bilhões em 2050.

A estreita relação entre campo-cidade aponta para a necessidade de um plane-jamento e uma gestão territorial amplos que busquem por sustentabilidade em ambos os espaços. Os fluxos de mercadorias, pessoas, dinheiro, informações entre a zona rural e a zona urbana revelam essa estreita e promissora relação entre es-ses espaços. Tal relação, segundo Rosa e Ferreira (2010), permite observar as con-tinuidades e as desconcon-tinuidades entre o rural e o urbano e repensar o conceito do continuum, buscando compreender o rural e o urbano como partes de uma mesma estrutura. São capazes também de ressaltar vantagens comparativas e di-ferenças desses espaços, mas que só podem ser avaliadas quando consideradas a articulação e a contiguidade dessas duas categorias em permanente transforma-ção. Um enfoque isolado a qualquer um dos espaços é apenas uma aproximação parcial da realidade (Classificação..., 2017).

Para atingir o ODS 11, deve-se considerar essa interdependência entre a zona ur-bana e a zona rural. As áreas urur-banas são altamente dependentes de combustíveis fósseis, energia, água e alimento. Esses recursos naturais estão, em maior parte, na zona rural e são vitais para abastecer a população e permitir que a indústria, o comércio e os serviços funcionem adequadamente. As cidades mais ricas são as que demandam mais energia e as que mais lançam resíduos sólidos e efluentes ao meio ambiente.

(16)

Adensamento populacional nas

áreas urbanas brasileiras

A Agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento sustentável é global, mas suas metas dialogam diretamente com ações de âmbito nacional, regional e local e podem funcionar como uma ferramenta orientadora para o planejamento de po-líticas públicas permanentes.

O contexto temporal e regional que repercute dinamicamente sobre a sociedade e o território brasileiros, aí incluído o acelerado processo de urbanização, deve neces-sariamente construir o pano de fundo sobre o qual se pode refletir acerca da com-plexa questão da sustentabilidade urbana no País (Classificação..., 2017). O cenário brasileiro revela, historicamente, um aumento da população urbana decorrente do crescimento natural e da migração da população rural para os centros urbanos, e isso deve se prolongar no século 21. As pessoas preferem as cidades pelas opor-tunidades e pelos serviços oferecidos, principalmente empregos e educação. Esse fluxo migratório superlota as cidades e seu entorno, forma as chamadas favelas, ocupações irregulares e precárias, que não atendem ao bem-estar da população. O avanço da urbanização não planejada causa a destruição de ecossistemas natu-rais e pode, também, alterar os recursos hídricos, entre outros problemas ambien-tais. Serviços de saneamento básico deficientes são comuns, impactam o meio ambiente de forma negativa e acarretam riscos à saúde humana.

Os mapas do Atlas nacional digital do Brasil 2017 (IBGE, 2017), lançado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contêm um caderno temático sobre cida-des sustentáveis. Esse caderno apresenta os eixos temáticos urbanização, habitação e mobilidade urbana; ambiente urbano e segurança; planejamento, democratiza-ção e participademocratiza-ção na sociedade; e cultura e patrimônio. Por tudo que é apresenta-do nos mapas, percebe-se que o Brasil está longe de ter cidades sustentáveis. A Embrapa realizou, em 2017, o estudo Identificação, mapeamento e quantificação

das áreas urbanas do Brasil (Farias et al., 2017), que quantificou e mapeou todas

as áreas atualmente ocupadas por cidades no território nacional. O estudo apon-tou que 54 mil km2 do território brasileiro é ocupado por áreas urbanas, o que

corresponde apenas a 0,64% da superfície total do País. Isso revela o expressivo adensamento populacional em tornos de grandes núcleos urbanos, sobretudo no caso das regiões metropolitanas do Brasil, pautado em grande parte pela vertica-lização das cidades, isto é, pela construção de grandes prédios visando abrigar as atividades residenciais e comerciais nos espaços urbanos.

(17)

Os resultados do estudo citado mostram que apenas uma pequena parte da po-pulação brasileira vive na imensidão do território nacional, formado por áreas não urbanas, mas que são extensas e estão prestando serviços a todo o País: recursos hídricos e energéticos, agricultura e pecuária, áreas de mineração, zonas de turis-mo, terras indígenas, florestas, unidades de conservação, entre outros.

O rural, o urbano e a Embrapa

Considerar as áreas rurais como oposição e exclusão às áreas urbanas é uma abor-dagem arbitrária e físico-geográfica que não considera os processos sociais e eco-nômicos que envolvem os territórios (Sarmento et al., 2015). Existe uma forte rela-ção entre os espaços rural e urbano, e, além disso, há uma importante necessidade de soluções inovadoras de ordenamento e planejamento e gestão territorial. O grande adensamento da zona urbana e o histórico de inexistência de plane-jamento urbano integrado ao rural no Brasil revelam importantes desafios aos governos, considerando não só a adequação da infraestrutura, mas também o atendimento à demanda de serviços e alimentos necessários à sociedade com vistas a tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resi-lientes e sustentáveis, conforme o ODS 11.

Ao mesmo tempo em que se observa uma urbanização pulsante, sabe-se que o desenvolvimento não poderá se basear por muito mais tempo na extração dos recursos naturais, como carvão, gás e petróleo. Além dessas demandas, com o aumento da população, o mundo precisará de recursos hídricos preservados e de mais alimentos, os quais são produzidos, principalmente, nos espaços rurais. Logo, é necessária com urgência a construção de alternativas para produção de energia com destaque para a biomassa, além de estratégias de uso racional da água, sistemas sustentáveis de produção agrícola e conservação da biodiversi-dade. Quando se evoca a necessidade de conservação da biodiversidade, o mais comum é que se pense em espécies que estão mais ameaçadas de extinção e nas consequentes perdas de informação genética. Contudo, além de não serem estes os únicos prejuízos impostos pela redução da biodiversidade, talvez nem sejam os principais. Bem pior é o enfraquecimento dos ecossistemas que os tornam vul-neráveis aos desastres (Veiga, 2005).

Esse dinamismo e essa interdependência entre rural e urbano exigem informa-ções que subsidiem o planejamento e a gestão, permitindo a coesão territorial, a redução das desigualdades territoriais, o desenvolvimento rural, etc. O rural e o

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urbano precisam ser compreendidos em sua diversidade. A utilização de apenas uma abordagem, de forma isolada ou combinada, deve ser vista como uma apro-ximação parcial da realidade (Classificação..., 2017).

Nesse sentido, a Embrapa tem buscado compreender a dinâmica urbana e rural, visando a uma produção agrícola, pecuária e florestal mais sustentável para todo o território nacional. Além de conhecer o perfil da dinâmica espaço-temporal de produtos agropecuários, a Embrapa busca compreender a tendência da evolução territorial, fortalecer o atendimento às demandas da agricultura brasileira e ante-cipar os desafios futuros, com inteligência territorial.

A Embrapa também tem apoiado o zoneamento ecológico-econômico de territó-rios brasileiros, um instrumento usado para planejar e ordenar o território, seguin-do as diretrizes metoseguin-dológicas publicadas pelo governo federal (Figura 1).

Cada vez mais é necessária a aplicação de tecnologias que sirvam para diferentes contextos e espaços, urbanos ou rurais, e integrem diferentes áreas como: segu-rança alimentar, agricultura em pequenos espaços, biotecnologia, agroenergia, instrumentação agropecuária, agricultura de precisão e gerenciamento de risco agrícola.

Esses conhecimentos gerados pela Embrapa têm sido disponibilizados para a so-ciedade de uma forma geral e para atendimento das demandas dos ministérios e órgãos da Presidência da República, a fim de possibilitar-lhes visões e decisões estratégicas.

Considerações finais

O campo e a cidade não são espaços opostos. Suas características se diferenciam pela lógica de desenvolvimento das forças produtivas e de usos do território, pe-los agentes hegemônicos e não hegemônicos, fazendo com que esses subespa-ços compartilhem conteúdos urbanos, assim como rurais, uma vez que não há como explicá-los de forma dissociada. Existe, atualmente, uma nova territorialida-de, composta por novas urbanidades e ruralidades, e se faz necessário entendê-la desde uma nova abordagem, ou seja, considerando todos os elementos presen-tes no espaço, este entendido enquanto totalidade (Locatel, 2013).

Nesse cenário, o agronegócio é uma expressão do complexo urbano industrial, com sua visão muito influenciada pela necessidade de exportar cada vez mais. O agronegócio é a expressão da marcante integração das cidades com os campos,

(19)

Figura 1. Coleção de mapas temáticos

do macrozoneamento do estado do maranhão, produzida pela embrapa.

Fonte: Batistella et al. (2014).

integração que faz obsoleta a divisão urbano-rural, exceto por conveniência das contas nacionais. A agricultura do agronegócio é imensa linha de montagem que reúne conhecimentos oriundos da ciência brasileira e do exterior, das experiên-cias e vivênexperiên-cias dos agricultores. São 40 anos de desenvolvimento tecnológico ímpar na história das ciências agrárias e, como resultados, um agronegócio pu-jante, uma nova economia, a compreensão da capacidade do desenvolvimento tecnológico de produzir e agravar desigualdades, de ele ser sócio no desenvol-vimento econômico do País, e de ajudar a entender e solucionar os problemas daqueles que ficaram à margem da agricultura moderna (Marra et al., 2013). Tratando-se da agricultura familiar, que abastece parte do mercado com uma alta diversidade de alimentos, há maior dependência de políticas públicas e ser-viços básicos, ou seja, carece mais da presença do governo com investimentos e empreendedorismo que garantam um desenvolvimento inclusivo e também a soberania na segurança alimentar e nutricional dos brasileiros. Cabe a institui-ções como a Embrapa contribuir com subsídios para políticas públicas, soluinstitui-ções

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tecnológicas e outras ações para potencializar os pequenos e médios agriculto-res. O desafio é transformar o campo e a cidade para alcançar um desenvolvimen-to realmente sustentável, conforme almejam os objetivos da Agenda da ONU.

Referências

BATISTELLA, M.; BOLFE, E. L.; VICENTE, L. E.; VICTORIA, D. de C.; ARAUJO, L. S. (Org.). Coleção de

mapas temáticos do MacroZEE do Maranhão: guia de consulta rápida. Campinas: Embrapa

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aproximação. Rio de Janeiro: IBGE, 2017. 84 p. (Estudos e pesquisas. Informação geográfica, n. 11). FARIAS, A. R.; MINGOTI, R.; VALLE, L. B.; SPADOTTO, C. A.; LOVISI FILHO, E. Identificação,

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IBGE. Atlas nacional digital do Brasil. [Rio de Janeiro, 2017]. Disponível em: <https://www.ibge.

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MARRA, R.; SOUZA, G. S.; ALVES, E. R. A. Papel da Embrapa no desenvolvimento do agronegócio.

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NAÇÕES UNIDAS. Habitat III: países adotam nova agenda para urbanização sustentável. 21 out. 2016. Disponível em: <

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ROSA, L. R.; FERREIRA, D. A. de O. As categorias rural, urbano, campo, cidade: a perspectiva de um continuum. In: SPOSITO, M. E. B.; WHITACKER, A. M. (Org.). Cidade e campo: relações e contradições entre urbano e rural. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. p. 187-204. (Geografia em movimento).

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VEIGA, J. E. A Relação rural/urbano no desenvolvimento regional. Cadernos do Ceam, v. 17, p. 9-22, fev. 2005.

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Capítulo 2

Desafios para uma

urbanização sustentável

André Rodrigo Farias Junia Rodrigues de Alencar Joanne Régis Costa Patricia da Costa

Introdução

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS 11) da Agenda 2030 da Or-ganização das Nações Unidas (ONU) pretende tornar as cidades e os assentamen-tos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. A Terceira Conferência

das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Nações

Unidas, 2016) propõe uma nova agenda para orientar a “[...] urbanização sustentá-vel pelos próximos 20 anos”. O desafio é grande, e a formação de parcerias entre a gestão pública, os setores privados e a sociedade civil é primordial e decisiva para que sejam construídos avanços efetivos em prol de uma urbanização sustentável. Quando se observa a cidade no contexto de uma agenda de sustentabilidade, torna-se obrigatória a superação do fenômeno urbano enquanto um ponto no mapa em direção a uma abordagem mais ampla que inclua também a região so-bre a qual ela exerce sua influência (IBGE, 2017).

A compreensão da urbanização, não apenas como um fato particular e específico das sociedades mas como um fenômeno que se relaciona com as mais diversas esferas sociais e escalas geográficas, permite análises aprofundadas e coerentes com a realidade concreta. Essas análises podem embasar a construção de ações sólidas capazes de produzir as mudanças almejadas no âmbito do ODS 11. Faz-se necessário nesse contexto, entre outras, mudanças comportamentais e o estímulo à inovação em diferentes áreas, orientada para lidar com os desafios im-postos pela crescente urbanização.

Caracterização e tendências da urbanização

A urbanização brasileira, conforme Santos (1993), pode ser vista como processo, como forma e como conteúdo, isto é, o nível da urbanização, o desenho urbano, as manifestações das carências da população são realidade a ser analisada à luz dos

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subprocessos econômicos, políticos e socioculturais, assim como das realizações técnicas e das modalidades de uso do território nos diversos momentos históricos. O histórico das cidades, portanto, se associa ao histórico de outros eventos sociais relevantes que influenciaram diretamente no seu surgimento, sua consolidação e sua expansão. Cidades e sociedades formam, sob essa perspectiva, faces de uma mesma moeda, um conjunto indissociável que carece de sentido quando visto de forma isolada. Não há cidades sem participação social, assim como não há grande reunião de pessoas, moradias, diversidade de serviços, empregos, efervescência cultural e política sem a exigência de construção de edifícios, ruas, avenidas e todas as demais características materiais que marcam as cidades, sobretudo no momento atual. Para Rolnik (1997, p. 13),

A história das cidades é marcada por eventos especiais ou corriqueiros que agem sobre imensa inércia dos edifícios e das tradições. Podemos captar esse movimento de múltiplas formas: através da história social, na trilha dos sujeitos que a constituem; através da história intelectual, captando as ideias e conceitos que tecem sua cultura através da história de sua arquitetura e urbanismo, em uma cartografia de sua geografia construída pelo homem.

Nesse sentido, pode-se afirmar que a urbanização sempre esteve fortemente re-lacionada com a economia, desde a época em que se inseria como entreposto co-mercial entre áreas agrícolas distantes entre si, bem como local de aglomeração de comerciantes de várias regiões, até o período atual, em que as cidades se co-locam como o principal lócus de moradia da maior parte da população mundial, além de representar a área prioritária para instalação de parques industriais, es-truturas administrativas e financeiras de empresas dos mais diferentes ramos da atividade econômica, instituições de pesquisa, educação e conhecimento, sede de instituições da administração pública, entre outros diversos setores.

Em função dessa característica intrínseca de reunir diferentes atividades e grupos sociais em um espaço circunscrito, as cidades, historicamente, se tornaram focos de grande diversidade sociocultural e política, de convivência e de conflito entre diferentes agentes sociais. Desse modo, pode-se afirmar que as próprias cidades são moldadas e condicionadas por todo esse arranjo social da mesma maneira que a própria estruturação atual e concreta das cidades condicionam as ações sociais. Para Lefebvre (2001), a cidade é uma obra por ser uma construção social

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e a projeção da sociedade sobre um local, dado o caráter indissociável existente entre a sociedade e o espaço geográfico, base material de sua existência.

A cidade, sob essa perspectiva, pode ser descrita como forma e conteúdo, pois uma forma representa concretamente a produção material de objetos realizados em diferentes momentos históricos, mas também é conteúdo porque é construí-da e continuamente transformaconstruí-da segundo os ditames e a complexiconstruí-dade social vigente. Portanto, analisar o fenômeno da urbanização no sentido de tornar as cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis implica necessariamente em transformações do contexto social, político e cultural no sentido de planejar e promover ações que atuem diretamente nesses aspectos. É fundamental desta-car, ademais, que tais adjetivos associados ao ODS 11 representam conceitos de elevada complexidade, ensejam inúmeras interpretações e envolvem uma gama significativa de variáveis. Ter ciência dessa complexidade e empreender esforços no sentido de buscar definições precisas sobre seus significados é de suma impor-tância, principalmente para balizar futuras pesquisas e estabelecer diretrizes para execução de ações que tenham o objetivo de atender a tais premissas.

O conceito de inclusão, por exemplo, é amplamente debatido em diferentes es-feras da sociedade. É possível relacionar esse termo com propostas diferenciadas de modos de organização do sistema educacional, em que o próprio sistema é estruturado a partir da diversidade e das necessidades apresentadas por todos os alunos sem estabelecer subdivisões e discriminações específicas de estudantes (Mantoan, 2015), ou então associar a inclusão com as urgentes e necessárias pau-tas reivindicatórias ligadas às pessoas com deficiência, sobretudo no que se refere à garantia dos seus direitos e ao exercício da cidadania (Sassaki, 2003).

Entre vários outros exemplos de utilização do conceito, o que é relevante apon-tar é que traapon-tar de inclusão, por questões óbvias, necessariamente implica em re-conhecer a existência do fenômeno de exclusão e que este fato representa um problema social a ser confrontado. Na busca pela definição do significado de ex-clusão social, Sposati (1999) afirma que esse conceito está associado diretamente à concepção de universalidade da cidadania, sendo que a exclusão poderia ser definida como a própria negação desta última. A autora faz, ademais, uma im-portante distinção entre pobreza e exclusão social, porque, enquanto a primeira diz respeito à incapacidade de aquisição e retenção de bens, a segunda refere-se a uma ampla gama de situações sociais em que as condições materiais represen-tam apenas uma das variáveis. A exclusão social, desse ponto de vista,

[...] alcança valores culturais, discriminações. Isto não significa que o pobre não possa ser discriminado por ser pobre, mas

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que a exclusão inclui até mesmo o abandono, a perda de vín-culos, o esgarçamento das relações de convívio, que necessa-riamente não passam pela pobreza. (Sposati, 1999, p. 4).

Sob essa perspectiva, tornar os espaços inclusivos significa compreender que par-te da sociedade está em permanenpar-te situação de exclusão e que tal fenômeno se apresenta de maneira particular nas cidades na medida em que estas, por suas próprias características intrínsecas, reúnem e exacerbam essa condição. Em ou-tras palavras, a exclusão que se manifesta no âmbito educacional, cultural, com-portamental, financeiro, entre tantas outras possibilidades, é concretizada no es-paço das cidades que, por sua vez, são um retrato dos conflitos e das contradições sociais. É exatamente por essas características que o desafio de tornar as cidades inclusivas implica em transformações de várias ordens e em diversas esferas so-ciais, de modo a garantir o atendimento dessas premissas em suas perspectivas mais amplas e holísticas.

É importante ressaltar que o sentido de inclusão não implica necessariamente em homogeneização social e/ou espacial como, por exemplo, inserir todas as pes-soas e todos os espaços sob uma determinada ordem imposta por alguém ou por alguma instituição. A inclusão, sob outro ponto vista, tem o intuito de oferecer condições igualitárias a toda sociedade para que cada indivíduo tenha condições de exercer sua cidadania plena, com possibilidades de assegurar seus direitos e cumprimento de deveres. No âmbito das cidades, por exemplo, o movimento de inclusão pode expressar-se pela oferta de condições equânimes e integralmente acessíveis a todos em termos de infraestrutura urbana, segmentada em suas dife-rentes características como mobilidade urbana, condições de saneamento básico e oferta de energia elétrica, equipamentos de lazer, cultura, educação e saúde. Nesses casos, trata-se de garantir as condições materiais com qualidade assegu-rada para o exercício da vida em sociedade.

Essa concepção holística das cidades inclusivas se associa diretamente à proposta de estabelecer cidades seguras, tal como propõe o ODS 11, já que ambas as di-mensões exercem um condicionamento mútuo. Cidades inclusivas tendem a ser cidades mais seguras da mesma forma que essas últimas tendem a apresentar menores níveis de exclusão. O significado do substantivo segurança (2018) que, segundo o dicionário Michaelis, representa uma condição ou estado do que está livre de danos ou riscos, quando associado à análise das cidades, pode referir-se tanto às possibilidades de danos oriundos de catástrofes naturais ou fenômenos naturais incitados por ação antrópica, ou então diz respeito à segurança dos

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indi-víduos nos espaços das cidades com relação aos atos sociais de violência pratica-dos por motivações diversas.

Em ambas as situações de insegurança, no entanto, sejam as causas relacionadas à ação humana ou a processos naturais, suas respectivas soluções são extrema-mente complexas, envolvem uma série de variáveis e condicionantes sociais e necessariamente requerem um conjunto de ações sistemáticas realizadas por um longo prazo para produzir respostas representativas e eficazes.

De acordo com essas considerações, é factível assumir que cidades permanente e integralmente seguras estão associadas a visões de mundo utópicas. É perfeita-mente coerente, entretanto, aceitar que é possível e, mais do que isso, absoluta-mente mandatório realizar avanços substanciais no tratamento das questões dos atos de violência praticados nas cidades, bem como na proposição de uma gestão eficiente de riscos em relação aos fenômenos naturais. Desse modo seus impac-tos potencialmente negativos seriam reduzidos na menor proporção possível ou então seriam de curta duração e intensidade, de modo que o equilíbrio anterior fosse rapidamente reestabelecido, na perspectiva daquilo que propõe o conceito de resiliência, o terceiro objetivo específico elencado para as cidades no ODS 11. Esse equilíbrio, cabe ressaltar, deve ser compreendido de forma crítica, já que nem toda situação de equilíbrio é desejável ou não carece de mudanças significativas. Quanto ao conceito de resiliência, sua origem está associada aos campos científicos da física e da engenharia, mas atualmente tem sido utilizado em diversas áreas aca-dêmicas. Segundo Barlach et al. (2008, p. 102, grifo do autor), “originária do latim, a palavra resilio significa retornar a um estado anterior, sendo utilizada, na Engenharia e na Física, para definir a capacidade de um corpo físico voltar ao seu estado normal [...]”. Quando associada a estudos ambientais, a resiliência diz respeito à capacidade de um determinado espaço (nesse caso, as cidades) superar uma dada adversida-de e se reestabelecer na condição anterior ou então adaptar-se positivamente a essa alteração. No caso de fenômenos naturais, como ocorrência de terremotos e eventos climáticos extremos, a resiliência estaria associada à forma com que aquele determinado espaço absorveria o impacto negativo daquele evento e de qual ma-neira seria concretizado o retorno da condição pré-ocorrência. No que se refere ao âmbito social, entretanto, é preciso considerar a significativa complexidade entre os diferentes grupos sociais, as contradições e os conflitos na utilização do conceito em abordagens científicas e em subsídios a políticas públicas.

Todas essas dimensões, isto é, inclusão, seguridade e resiliência, necessariamen-te devem estar presennecessariamen-tes em uma abordagem de urbanização susnecessariamen-tentável, pois

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influenciam diretamente no cumprimento ou não desse objetivo principal. A sus-tentabilidade, que, em um primeiro momento, foi amplamente utilizada em pes-quisas e análises de caráter ambiental, atualmente tem sido empregada em dife-rentes abordagens e complementada com vários adjetivos entre diversas áreas de estudo, como sustentabilidade econômica, empresarial, urbana, entre outras. Ademais, a noção de sustentabilidade tem sido fortemente relacionada com o conceito de desenvolvimento, nas diferentes proposições de desenvolvimento sustentável que são apresentadas e discutidas no período atual.

Considerando os objetivos dessa publicação e a diversidade de propostas de de-finição do conceito de sustentabilidade, é relevante restringir a análise ao que entendemos ser o ponto central da discussão dessa temática: ser sustentável ou praticar a sustentabilidade significa prover as condições necessárias, materiais ou imateriais, para a manutenção e o desenvolvimento da vida em sociedade em conformidade com as demandas da geração atual bem como em função das ge-rações futuras. Sob essa perspectiva, cidades sustentáveis não se referem apenas àquelas com procedimentos e métodos ecologicamente adequados, mas envol-vem uma série de ações e posições políticas que atingem amplas dimensões, se-jam essas relacionadas a processos naturais ou sociais. Nessa perspectiva, Boff (2012, p. 25) destaca:

A concepção de sustentabilidade não pode ser reducionista e aplicar-se apenas ao crescimento/desenvolvimento, como é predominante nos tempos atuais. Ela deve cobrir todos os territórios da realidade, que vão das pessoas, tomadas indivi-dualmente, às comunidades, à cultura, à política, à indústria, às cidades e principalmente ao Planeta Terra com seus ecos-sistemas. Sustentabilidade é um modo de ser e de viver que exige alinhar as práticas humanas às potencialidades limita-das de cada bioma e às necessidades limita-das presentes e limita-das fu-turas gerações.

O enfrentamento dessas questões, naturalmente, não é atributo exclusivo da ges-tão pública, de iniciativas de pesquisa e desenvolvimento ou de uma atuação or-ganizada da sociedade civil, mas envolve estabelecer uma visão coletiva de so-ciedade em torno de temas prioritários a serem tratados. No que diz respeito à atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a busca pela viabilização de soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a susten-tabilidade da agricultura (Embrapa, 2015) gera, direta e indiretamente, impac-tos na vida das cidades, mas não possui a capacidade, per se, de transformá-las

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integralmente considerando, por exemplo, os objetivos específicos relacionados ao ODS 11. Trata-se, em suma, de inovações científicas e tecnológicas, engendra-das no âmbito de inúmeras ações de pesquisa e desenvolvimento, que produzem efeitos benéficos em diversas áreas do conhecimento e ramos produtivos, mas que devem estar acompanhadas de outras ações políticas em uma determinada es-tratégia coletiva de empreender mudanças paradigmáticas nos espaços urbanos. As transformações das cidades, segundo essa abordagem, devem ser pensadas a partir de um entendimento coletivo, isto é, nunca restrito à ação individual de uma instituição ou única e exclusivamente relacionada ao poder público, ainda que este possua primazia em diversas ações associadas ao contexto das cidades e competência exclusiva para atuar em alguns segmentos. Nesse âmbito, Harvey (2012, p. 74) aponta que:

A questão de que tipo de cidade que queremos não pode ser divorciada do tipo de laços sociais, relação com a natureza, es-tilos de vida, tecnologias e valores estéticos [que] desejamos. O direito à cidade está muito longe da liberdade individual de acesso a recursos urbanos: é o direito de mudar a nós mesmos pela mudança da cidade. Além disso, é um direito comum antes de individual já que esta transformação depende ine-vitavelmente do exercício de um poder coletivo de moldar o processo de urbanização.

A compreensão coletiva da urbanização não se restringe apenas aos agentes sociais e às instituições, mas também está intimamente relacionada ao estabelecimento de uma visão territorial do processo. Isso significa que as cidades devem ser inter-pretadas segundo uma perspectiva territorial em que se colocam apenas como uma das partes integrantes de uma totalidade que está sempre em movimento, em dinamismo. Nesse âmbito, é relevante reconhecer que a análise de uma determi-nada cidade ou mesmo a eficácia de uma política pública direciodetermi-nada ao contexto urbano necessariamente será influenciada por outras escalas geográficas e sociais, sobretudo a partir da emergência e da consolidação da globalização.

No contexto do período atual, as cidades não apenas se relacionam com as regiões em que exercem influência, mas também estabelecem múltiplas relações e intera-ções de diversas ordens com outras cidades, com outras regiões, com a própria es-cala nacional e com vetores e condicionantes externos da própria eses-cala mundial, o que é um dado inequívoco do momento histórico presente. Não apenas as relações que estabelece são diversas como também a velocidade com que essas ações são

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geradas é extremamente alta, o que produz mudanças em larga escala de forma muito rápida e, na maior parte das vezes, de maneira muito efêmera.

Todas essas variáveis, características do momento presente, tornam a transforma-ção das cidades um grande desafio para o planejamento e a atransforma-ção público/privada e exigem uma reorientação na forma de interpretação da urbanização e nos ins-trumentos utilizados para o desenvolvimento das políticas públicas. De um lado, há a necessidade crescente de conhecer a realidade de cada uma das cidades a partir de levantamento de dados primários de caracterização desses espaços e da sociedade que ali reside, buscando realizar um amplo retrato da situação atual dessas áreas, tarefa esta que possui atualmente inúmeras possibilidades dadas pelo avanço de campos do conhecimento como novas tecnologias da informação e geotecnologias. De outro lado, é necessário empreender uma série de esforços multidisciplinares e multi-institucionais no sentido de interpretar essa realidade apresentada pelos dados, produzindo informações que subsidiem a elaboração de políticas públicas, sempre considerando que toda política voltada às cidades é uma política social por definição, ancorada em um dado contexto econômico, po-lítico e cultural e condicionada por outras escalas que, em grande medida, trans-cendem o escopo das próprias cidades que são objeto das políticas.

Nesse sentido, no que tange ao conhecimento da realidade das cidades brasilei-ras, o estudo Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil, coordenado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considerou a urbanização do País como uma síntese de processos econômicos que tinham como principal indutor das transformações territoriais as atividades econômicas, em especial a industrial e a agropecuária (Desenvolvimento..., 2002).

Santos (1993, p. 27) considera que:

O termo industrialização não pode ser tomado, aqui, em seu sentido estrito, isto é, como criação de atividades industriais nos lugares, mas em sua mais ampla significação, como proces-so proces-social complexo, que tanto inclui a formação de um merca-do nacional, quanto aos esforços de equipamento merca-do territó-rio para torná-lo integrado, como a expansão do consumo em formas diversas, o que impulsiona a vida de relações (leia-se terciarização) e ativa o próprio processo de urbanização. Essa nova base econômica ultrapassa o nível regional, para situar-se na escala do País; por isso a partir daí uma urbanização cada vez mais envolvente e mais presente no território dá-se com o crescimento demográfico sustentado das cidades médias e maiores, incluídas, naturalmente, as capitais de estados.

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Segundo o relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) de 2015 (Nações Unidas, 2015), desde 1990, a proporção da população rural mun-dial sem acesso a saneamento diminuiu quase em um quarto, e as taxas de de-fecação ao ar livre diminuíram de 38% para 25% em 2015. No mesmo ano, uma em cada três pessoas (2,4 milhões) ainda usam instalações sanitárias rústicas, in-cluindo 946 milhões de pessoas que ainda recorrem à defecação ao ar livre. Hoje, estima-se que mais de 880 milhões de pessoas vivam em condições semelhantes a favelas. Contrariamente a isso, apenas 18% das pessoas que vivem nas zonas urbanas não têm acesso a saneamento no mundo. Entre 2000 e 2014, mais de 320 milhões de pessoas obtiveram acesso à água, saneamento e moradia ade-quada. A proporção da população urbana que vive em bairros pobres nas regiões em vias de desenvolvimento diminuiu de 39%, em 2000, para 30%, em 2014. Em-bora a meta tenha sido alcançada, os números absolutos de residentes urbanos a viver em favelas continuam a crescer, em parte por causa do ritmo rápido da urbanização, do crescimento da população e da ausência de políticas fundiárias e de habitação. Estima-se que mais de 880 milhões de residentes urbanos vivem atualmente em bairros degradados, em comparação com 792 milhões, em 2000, e 689 milhões, em 1990.

Cidades e comunidades sustentáveis

O Estatuto da Cidade (Brasil, 2008), Lei nº 10.257 de 2001, que regulamenta os artigos da Constituição Federal que tratam da política urbana brasileira, é um dos maiores avanços legais em termos de gestão e planejamento urbano no Brasil. Em sua seção I, apresenta como um dos instrumentos de planejamento territorial urbano o Plano Diretor que, em termos legais, vem a ser uma ferramenta voltada para a gestão de áreas urbanas, apesar de seu raio de atuação, em alguns municí-pios, abarcar áreas urbanas e não urbanas – áreas rurais (Pereira, 2011). Há, contu-do, inúmeras fragilidades que dificultam a implementação de uma agenda volta-da à sustentabilivolta-dade volta-das civolta-dades e dos assentamentos humanos no planeta e no Brasil. As questões são multifacetadas e precisam de soluções multidimensionais. A eliminação de desigualdades no acesso e em níveis de serviços é, portanto, cru-cial na agenda de desenvolvimento pós-2015 da ONU. Perin (2004) afirma que a redução das desigualdades é um tema recorrente e um dos maiores desafios do século 21, considerando que menos de 25% da população mundial é responsável pelo consumo de 80% dos bens e mercadorias e de 75% da energia produzidos no planeta, criando guetos de excluídos do desenvolvimento.

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Nesse sentido, o planejamento urbano e rural e a gestão do território são neces-sários, tendo por base políticas públicas permanentes com objetivos que consi-derem todas as dimensões da sustentabilidade e os contextos regionais e locais. É necessário um compromisso com a gestão territorial, políticas orientadoras do processo de urbanização por meio da produção de bens materiais e imateriais que reconciliem o crescimento econômico com as formas sustentáveis de apro-priação e uso do espaço urbano, conforme Vecchiatti (2004). Dessa forma, será possível promover qualidade de vida e construir cidades e assentamentos huma-nos sustentáveis.

Internet das coisas e suas implicações

na agricultura digital

Considerando o ODS 11 e a colaboração da Embrapa para solucionar os desafios contidos em suas diretrizes e metas, vale salientar algumas observações feitas no relatório sobre o desenvolvimento mundial do Banco Mundial (2016): apesar de estarmos no meio da maior revolução da informação e das comunicações na his-tória da humanidade, em que mais de 40% da população mundial tem acesso à internet, as famílias mais pobres têm maior probabilidade de ter acesso a telefo-nes celulares do que a um banheiro ou água potável. São os desafios tradicionais de desenvolvimento que perduram e impedem uma melhor qualidade de vida da população.

Para enfrentar esses desafios, a Organização das Nações Unidas para a Alimenta-ção e a Agricultura (FAO) recomenda que todos os setores agrícolas sejam inteli-gentes, e que o trabalho da agricultura seja equipado com ferramentas e técnicas inovadoras, particularmente tecnologias digitais, possibilitando o aumento da produção a um custo factível e sustentável, dentro do contexto da agricultura digital (Minerva et al., 2015). Temas como agricultura de precisão, automação e robótica agrícola, técnicas de big data e internet das coisas (IoT do inglês Internet

of Things) fazem parte dessa agricultura digital.

No caso da agricultura de precisão, algumas de suas tecnologias já estão sendo uti-lizadas, e é esperada uma participação crescente na gestão das cadeias produtivas, que visa otimizar o rendimento por unidade de terras agrícolas utilizando os meios mais modernos de uma forma continuamente sustentável, para conseguir o melhor em termos de qualidade, quantidade e retorno financeiro. Faz também uso de uma gama de tecnologias que incluem serviços como Global Positioning System (GPS),

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sensores e big data para otimizar o rendimento das culturas. Em vez de substituir a experiência dos agricultores e seus instintos, os sistemas de apoio à decisão ba-seados nas tecnologias da informação e comunicação (TIC), apoiadas por dados em tempo real, podem, ademais, fornecer informações sobre todos os aspectos da agricultura num nível de granularidade anteriormente não possível, permitindo re-sultados com menos desperdício e máxima eficiência nas operações.

No que se refere à IoT, uma revolução tecnológica que conecta dispositivos ele-trônicos utilizados no dia a dia à internet vem sendo considerada como um dos pilares para a chamada quarta revolução industrial que vai se refletir em uma agricultura 4.0. Estará cada vez mais conectada e remota, passando a contar com comando e controle de desempenho, localização de máquinas, equipamentos e sensores e com a geração e a análise de dados de campo em tempo real. Todos esses conceitos convergem no sentido de se ter uma agricultura digital ou smart

farming. As oportunidades e os desafios surgem em todas as áreas desde o

inves-timento, desenvolvimento e uso das tecnologias de IoT no campo, passando por questões de capacitação, regulação, definição de padrões e segurança da infor-mação. Por se tratar de uma tecnologia disruptiva e habilitadora, capaz de promo-ver uma agricultura intensiva em conhecimento, visa aumentar a produtividade agrícola, de forma sustentável, promovendo redução de custos e melhoria das condições do campo (Minerva et al., 2015).

A preocupação desse tema no Brasil tem sido tão relevante que levou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a assinar um convê-nio com o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para dar início à elaboração de um Plano Nacional de IoT para alavancar o desen-volvimento da nova tecnologia no País. A primeira ação da parceria é um estu-do técnico pelo consórcio McKinsey, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações e pelo escritório Pereira Neto/Macedo Advogados, com apoio financeiro do BNDES, para o diagnóstico e a proposição de políticas públicas em internet das coisas (Amorim; Capelas, 2016), oportunidade de alavancar o agro-negócio brasileiro, considerado um dos principais setores favoráveis ao uso de IoT e obter referência mundial no desenvolvimento de soluções para essa área, disseminando o conceito de Smart Rural.

Em 2016, a Embrapa Informática Agropecuária e Secretaria de Inteligência e Ma-croestratégia da Embrapa organizaram o painel Internet das Coisas e Suas Impli-cações na Agricultura Digital a fim de prospectar tendências e sinais para o ob-servatório de TIC na agricultura, vinculado ao Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa) e apoiar a formulação de novas estratégias de pesquisa,

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desenvolvimento e inovação. Participaram do evento representantes da IBM Bra-sil, John Deere, Bayer CropScience, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Universidade Nova de Lisboa e consultoria McKinsey. A IoT é considerada um novo paradigma da computação para o século 21, o qual permitirá o acoplamento do mundo físico ao mundo da informação e fornecerá uma abundância de serviços e aplicações, permitindo que usuários, máquinas, dados e objetos do espaço físico interajam uns com os outros de forma autônoma e transparente. Para construir esse cenário, são necessários esforços de pesquisa multidisciplinares, envolvendo várias áreas do conhecimento, tais como: sistemas distribuídos, sistemas móveis, redes de computadores e de sensores, engenharia de software, inteligência artificial, nanotecnologia, além das áreas de conheci-mento específico em agricultura. Tecnologias que vão dar suporte à IoT são: big

data, computação de alto desempenho, computação em nuvem, radio frequency identification (RFID) e sistemas de comunicação e de posicionamento.

No painel, discutiu-se sobre a agricultura e as áreas potenciais para aplicação da IoT que mais se destacam, como: a agricultura de precisão, a automação, a lo-gística, a gestão de rebanhos e o monitoramento ambiental e da produtivida-de. Ao final do painel, foi anunciada uma iniciativa, chamada SitIoT, que prevê a disponibilização de uma área experimental da Embrapa Meio Ambiente para que parceiros possam testar suas tecnologias e inovações em IoT na agricultura, visando à geração de soluções integradas e interoperáveis.

O agronegócio brasileiro é um dos principais setores favoráveis ao uso da IoT, em virtude de seu elevado grau de solidez (Roselino; Diegues, 2016). Esse setor é um dos eixos centrais do processo de desenvolvimento da economia brasileira, mar-cado pela presença de uma estrutura empresarial rentável, atrelada às cadeias globais de produção e com elevado poder de investimento. A presença de com-petências tecnológicas históricas no desenvolvimento de soluções para o agro-negócio (muitas delas invariavelmente associadas às instituições públicas como a Embrapa e outros vários institutos) e o posicionamento de destaque do agro-negócio brasileiro no cenário internacional conferem um elevado potencial de demanda por soluções digitais.

A IoT envolve o uso de tecnologias de sensoriamento, soluções analíticas para análise de dados, telemáticas e tecnologias de posicionamento geoespaciais, ferramentas e softwares para tomadas de sistemas de decisão em tempo real, sistemas de comunicação, rastreabilidade e certificação de alimentos e logística. A combinação dessas tecnologias favorecem o uso racional dos recursos naturais

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e de insumos e a redução de perdas no transporte. A IoT ajudará a reduzir o êxodo rural por incorporar um apelo tecnológico e proporcionar melhores condições de trabalho, reduzindo o trabalho físico. Uma agricultura digital poderá se tornar um grande auxílio à população (Figura 1) e à formulação de políticas públicas, pois a quantidade de dados que serão gerados terão um volume e variedade muito maior do que os disponíveis hoje. Com mais informações, certamente as políticas públicas poderão ser desenhadas considerando as diferenças regionais, tanto nas macrorregiões quanto nas microrregiões.

Figura 1. Hortaliças na web é uma página na internet, desenvolvida pela embrapa Hortaliças, para incentivar o consumo de hortaliças e promover uma alimentação saudável para toda família.

A agricultura, entretanto, enfrenta desafios, como a limitação da área agricultável, as mudanças climáticas globais, a escassez de água, o custo da energia disponível e o impacto da urbanização sobre sua força de trabalho. Tais desafios podem ser mitigados com a adoção da agricultura digital, pois esta favorece a redução de perdas por doenças e eventos climáticos; gera economia no uso de pesticidas e fertilizantes, aplicando-os quando necessário; otimiza o consumo d’água; oferece melhores condições de trabalho, reduzindo o trabalho físico e atraindo gerações

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mais jovens; e permite planejar melhor o escalonamento da colheita, conside-rando as parcelas prontas para tal (Enabling..., 2016). Existem ainda benefícios no pós-colheita, com a redução das perdas no transporte e processamento que ocor-rem no caminho até o consumidor.

Considerações finais

Evidenciaram-se, neste capítulo, as características e as tendências da urbanização, a necessidade do planejamento urbano e rural e de gestão territorial, bem como o papel da Embrapa no contexto do referido ODS. Abordou-se também a IoT com o painel de especialistas intitulado Internet das Coisas e suas Implicações na Agri-cultura Digital, organizado pela Embrapa Informática Agropecuária e a Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa.

É esperado que o uso das tecnologias digitais na agricultura contribua para elevar os índices de produtividade, aumentar a eficiência do uso de insumos, reduzir cus-tos com mão de obra, melhorar a qualidade do trabalho e a segurança dos traba-lhadores e diminuir os impactos ao meio ambiente. A agricultura digital vai estar, cada vez mais, relacionada aos eixos de impacto da Embrapa: avanços na busca da sustentabilidade agropecuária, inserção produtiva e redução da pobreza rural e urbana, suporte à formulação de políticas públicas, posicionamento da Empresa na fronteira do conhecimento e inserção estratégica do Brasil na bioeconomia.

Apesar de as tecnologias digitais estarem se espalhando rapidamente em grande parte do mundo, ainda há grandes dividendos digitais, que devem ser levados em consideração por todos aqueles que trabalham para acabar com a pobreza e promo-ver a prosperidade compartilhada. O maior boom em tecnologias da informação e comunicação ao longo da história não será verdadeiramente revolucionário até que seus benefícios atinjam todas as pessoas, em todo o mundo (Banco Mundial, 2016). Diante desse cenário, a implementação das estratégias de atuação posiciona a Embrapa e seus parceiros em um trabalho amplo e sólido rumo ao desenvolvi-mento para todos.

Referências

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(37)

Capítulo 3

Inteligência territorial:

planejamento, gestão e sistemas

de apoio às decisões estratégicas

Joanne Régis Costa Junia Rodrigues de Alencar Patricia da Costa

Valéria Sucena Hammes Daniel de Castro Victoria Katia Regina Evaristo de Jesus Henrique Nery Cipriani

Claudio Cesar de Almeida Buschinelli Fagoni Fayer Calegario

Geraldo Stachetti Rodrigues Lucíola Alves Magalhães Carlos Renato Marmo Ana Cláudia Lira-Guedes Marcelino Carneiro Guedes Lucimara Aparecida Forato

Introdução

O planejamento e a gestão territorial são fundamentais para a construção de um projeto de desenvolvimento sustentável. As comunidades urbanas e rurais apoia-das em processos contínuos de planejamento e gestão participativos adquirem resiliência para superar as ameaças e aproveitar as oportunidades.

Entende-se por território como “o limite espacial dentro do qual o Estado exer-ce de modo efetivo e exclusivo o poder de império sobre pessoas e bens” (Sil-va, 2001, p. 120). Também se pode definir território como

[...] porção do espaço geográfico onde são projetadas relações de poder, que geram uma apropriação e um controle sobre este espaço, independentemente se ele é ou não territorializa-do por um ou mais agentes (Magdaleno, 2005, p. 119).

Gestão do território é a prática estratégica que faz uso das ferramentas científicas e tecnológicas, do poder controlador, nas escalas espacial e temporal, da coerência das

Referências

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