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Academic year: 2021

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O desenvolvimento do turismo no Complexo do Alemão,

na perspectiva do morador.

The development of tourism in the Complexo do Alemão, from the perspective of a resident.

Jéssica Cerqueira dos Santos jessicac.santos@yahoo.com.br

Orientador: Glauber Eduardo de Oliveira Santos

RESUMO: A atividade turística no Complexo do Alemão intensificou-se após a ocupação do poder público e a implantação do teleférico segundo os moradores, o que atraiu uma alta demanda de turistas que passou a visitar as comunidades causando impactos na vida de seus moradores. Esta pesquisa teve como objetivo analisar estes impactos através de entrevistas em profundidade e observação in loco. Através das análises foi possível identificar a visão do morador para o turismo, fornecendo dados para adequação de projetos em andamento e futuros, para que possam beneficiar os residentes das comunidades locais.

Palavras-chave: Complexo do Alemão; turismo comunitário; teleférico; turismo em favela; ocupação.

ABSTRACT: The touristic activity began at the Complexo do Alemão after the occupation of the public authorities and the deploying of the cable car, which attracted high demand of tourists that began to visit the communities causing impacts in life of its residents. This research aimed to analyze these impacts through interviews in depth and observation. By analyzing was possible to identify the resident's vision for tourism, providing data for appropriateness of projects in progress and future so that they benefit the residents of the Complexo.

Key words: Complexo do Alemão, community tourism; cable car; Slum tourism; occupation.

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1 Introdução

O presente trabalho de conclusão de curso abordará o processo de desenvolvimento do turismo no Complexo do Alemão sob a perspectiva do morador, tendo em vista todos os acontecimentos de ordem pública que ocorreram na maioria das favelas do Rio de Janeiro após uma guerra declarada pelo poder público em 2010 contra o tráfico na cidade. Esta guerra também atingiu o Complexo do Alemão que está localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, levando grandes mudanças no dia-a-dia de seus moradores a atraindo a curiosidade do Brasil e do mundo. O objetivo principal deste estudo é analisar a relação dos moradores com o turismo local; como eles se sentem ao se tornar parte de um atrativo turístico e quais são seus medos e expectativas positivas e negativas com relação ao novo status que sua comunidade ganhou, principalmente após a chegada do teleférico oito meses depois da ocupação por parte das autoridades de segurança do estado, que traz com ele uma nova realidade e também alta demanda de turistas que através das grandes mídias e redes sociais obtiveram conhecimento deste novo atrativo turístico, descobrindo mais um espaço com potencial turístico dentro do Rio de Janeiro.

A metodologia deste projeto foi baseada em entrevistas em profundidade, pesquisas bibliográficas, visitas e observações in loco com a finalidade de analisar e identificar os principais aspectos positivos e negativos que o turismo pode proporcionar aos moradores, sendo estes fundamentais de desenvolvimento turístico na região.

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2 Turismo de base comunitária

O turismo é uma atividade social, econômica e cultural que gera demanda por diversos serviços e bens nas localidades onde se desenvolve (RODRIGUES, 1999). Visto que a atividade turística envolve três núcleos essenciais para o desenvolvimento humano, o turismo de base comunitária é apresentado como forma alternativa, valorizando o social e o cultural, pouco explorado no turismo convencional.

Segundo a WWF-Internacional1 (2002, apud MENDONÇA 2004, p.4)

Turismo comunitário ou de base comunitária pode ser definido como aquele onde as sociedades locais possuem controle efetivo sobre seu desenvolvimento e gestão. E por meio do envolvimento participativo desde o início, projetos de turismo devem proporcionar a maior parte de seus benefícios para as comunidades locais.

De acordo com Bursztyn, Bartholo e Delamaro (2009, p.86) em um artigo da publicação Turismo de Base Comunitária diversidade de olhares e experiências brasileiras, a base comunitária é uma modalidade do turismo sustentável na qual o principal foco é o benefício e o bem estar da comunidade receptora, vinculado a um processo de desenvolvimento. A comunidade busca desenvolvimento através do turismo, um gerador de diversas oportunidades de emprego, trabalho e renda.

O turismo comunitário se diferencia do turismo de massa dado a menor necessidade de serviços e infraestruturas, buscando valorizar o ambiente natural e sua cultura, que o classifica como “modo de visita e hospitalidade.” O respeito pelas tradições e heranças culturais, movimenta a interação entre o turista e o morador local intensificando este relacionamento.

A inclusão social e cultural através da base comunitária são capazes de dar vida digna, e para isso é importante e integração e fiscalização dos empresários, moradores, ONGs e o poder público, visando o bem-estar social da comunidade receptora (MARCON e BARRETO, 2004 apud MACHADO e VILLELA, 2004).

1(World WideFund for Nature) (“Fundo Mundial para a Natureza") é uma Organização não

governamental (ONG) internacional que atua nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental.Publicou diversos manuais de sustentabilidade.

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3 Turismo em favela no Brasil

A demanda de turistas em favelas, guetos e outras áreas pobres crescem em praticamente toda parte do mundo, os chamados reality tours.2 No Brasil os morros

cariocas possuem maior destaque neste segmento, apesar das críticas a esse novo modelo de turismo considerado por muitos como voyeurista e explorador da pobreza, diversas agências receptivas do Rio de Janeiro formatam e vendem pacotes para o passeio em favelas, como a Rocinha, a maior favela do Brasil. (FREIRE-MEDEIROS, 2006)

Consta em artigos da socióloga Freire-Medeiros (2006) que o então embaixador espanhol em missão diplomática ao Brasil visitou um dos morros do Rio de Janeiro em 1940, conforme o trecho abaixo de suas memórias de viagem:

“Yo quise conocer el Morro. Hay cerros em la capital que gozan de mala fama, pero cuando uno los visita se convence de que de malo solo tienen eso: la fama... Yo fui a los morros de día y de noche y solo tu ve que cruzar-me con gentes educadas que al pasar me saludaron amablemente.”

As favelas da zona sul do Rio de Janeiro se tornaram destino turístico a partir da década de 1990, sendo o grande responsável pelo início deste segmento no mercado brasileiro o ECO-923, quando os turistas que participavam da conferência pediam que a esticasse o passeio ecológico a Floresta da Tijuca até a maior favela da cidade, a Rocinha. (DANTAS, 2010)

Freire-Medeiros (2006, p.6), afirma que “esse fenômeno (...) deve ser entendido como parte, por um lado, da popularidade internacional alcançada pelos reality tours e, por outro, da recente circulação global do “mundo exótico da favela”.”

O “mundo exótico da favela” no Brasil citado pode ser elucidado pelo cinema nacional, com o filme Cidade de Deus (2002), dirigido por Fernando Meirelles e foi aclamado pela crítica internacional, conduzindo a favela para outro cenário, e os

2 É considerado como turismo alternativo onde o principal objetivo é aproximar o turista dos

problemas locais e globais através do contato com comunidade de regiões onde há tragédia, pobreza e miséria. A educação do turista é primordial neste segmento para que haja resultados positivos para ambos. (Global Exchange.org)

3 II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em

1992, na capital do Rio de Janeiro, conhecido também como Rio-92 teve como principal objetivo a reversão do processo de degradação ambiental e o desenvolvimento sustentável.

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morros carioca se apresentam como produto turístico, a vida nos “guetos” brasileiros se tornam atrativos ao mundo através do imaginário criado através do filme e do clipe They Don’t Care About Us do Michael Jackson, gravada em 1996 no morro Santa Marta, botafogo, zona sul do Rio de janeiro. Em 2010 a laje que leva o nome do cantor ganhou uma estátua de bronze, um ano após sua morte. (THUM, 2010) “Nos guias de viagens, a favela foi não apenas incorporada ao roteiro, mas apontada como ponto de visitação obrigatório aos que queiram conhecer o “verdadeiro Rio de Janeiro”.” (TORRES apud FREIRE-MEDEIROS,2007, p. 6)

Para Freire-Medeiros (2007, p.4):

Viajar para lugares associados ao sofrimento não é um fenômeno novo e nos remete às primeiras peregrinações religiosas. Mas o que parece ser singular a respeito da experiência contemporânea é sua diversidade e popularidade. Turistas procuram, mais e mais, experiências inusitadas, interativas, aventureiras e autênticas em destinos cujo apelo reside na antítese daquilo que se convencionou comercializar como “turístico”.

A busca do turista é pela “realidade nua e crua”, a qual grande parte destes não tem acesso, sendo eles, estrangeiros ou pessoas de classes sociais e econômicas diferentes (FREIRE-MEDEIROS, 2009) – o olhar é antropológico sob aqueles que possuem menor condição de saúde e educação, ou seja, aqueles que são menos desenvolvidos socialmente proporcionando uma experiência nova e fora da realidade pessoal, tornando-a completa e intransferível.

4 Complexo do Alemão

Construído sobre a Serra da Misericórdia, as terras do Complexo do Alemão pertenceram ao polonês Leonard Kaczmarkiewicz que nos anos 1920 escolheu o Rio de Janeiro para refazer sua vida após o fim da Primeira Guerra Mundial. Sua alta estatura, pele clara e fala de difícil compreensão fez que os moradores da região apelidassem-no de “Alemão”, hoje nome de todo o complexo de favela mais populoso do Rio de Janeiro.

A zona norte da capital do Rio de Janeiro foi o principal pólo industrial da cidade entre os anos 1940 e 1980, contabilizando cerca de 20 mil postos de trabalho, durante esse período de progresso diversos trabalhadores das indústrias e famílias que procuravam moradia de baixo custo se instalaram nos lotes do “Alemão”,

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iniciando um grande processo imigratório para o morro, no entanto, a explosão demográfica aconteceu na década de 80, quando o Governador do período, Leonel Brízola autorizou as invasões e a favela se multiplicou. (HISTÓRIA DO RIO, 2010 e CONSÓRCIO RIO MELHOR, 20114)

Leonel Brizola, instaurou o fim da tolerância à violência policial contra os moradores de favelas em 1983, pois a convivência estava tornando-se uma problemática para o Estado (CERQUEIRA apud MAMEDE, 2010). Neste período iniciou-se o império das armas e o crescimento do tráfico de drogas juntamente com a popularização internacional da cocaína, com preços que caiam gradualmente e lucros inimagináveis surgem novos traficantes com alto poder econômico e seu papel muda na comunidade, ganhando confiança dos moradores e aumentando o seu comércio de droga (LEEDS apud MAMEDE, 2010).

Segundo Mamede (2010), o processo de socialização (visto por algumas famílias como a “salvação”) e confiança criada entre os moradores e o tráfico, era a garantia de passagem livre de drogas e armamento nas comunidades.

Durante a década de 1990, o Complexo do Alemão tornou-se palco de guerra do controle de comércio e tráfico de drogas, e esta disputa trouxe terror às indústrias vizinhas que por sua vez abandonaram o local, e os trabalhadores sofreram com a perda dos postos de trabalho, deixando-os à mercê da guerra e cada vez mais a margem da cidade.

4.1 Ocupação

Durante 20 anos o império das armas esteve presente na vida da comunidade, e em novembro de 2010 o poder público retomou o controle dos morros da zona norte após uma onda de violência na cidade do Rio de Janeiro comandada por traficantes presos. A violência gerada foi considerada pelas autoridades de segurança do estado como resposta à nova estratégia do governo, a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora que provocou a saída dos chefes de trafico das favelas. A retomada foi possível com o apoio das forças armadas do Exército e da Marinha

4 Complexo do Alemão – Relatório do plano de Desenvolvimento Sustentável – Caderno de

resultados, produzido pela Agencia 21, empresa de consultoria contratada pelo Consórcio Rio Melhor – responsável pela obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), lançado em 2011 durante a gestão do então Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva. O primeiro contato do programa com os moradores do complexo do alemão foi em 2008.

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Brasileira, o ponto decisivo para invasão da comunidade da Vila Cruzeiro então lidera pelo Comando Vermelho, porém vários dos bandidos fugiram e se abrigaram no Complexo do Alemão, e nos dois dias seguinte iniciou-se a procura e ocupação do território antes considerado o mais perigoso do estado do Rio de Janeiro. (FONSECA, 2010)5

A implantação das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) é a continuação da retomada do território, que segundo as autoridades de segurança proporciona aos moradores mais segurança e liberdade.

Estão localizadas em pontos estratégicos do complexo onde há maior movimentação de pessoas, e nas principais entradas e saídas das comunidades, observou-se também que as bases estão próximas de instalações do teleférico, o que resulta em maior segurança ao turista que tem sua principal porta de entrada por este sistema de transporte.

Os moradores do complexo possuem consciência que as UPPs estão nas comunidades para completar o processo de pacificação, que também depende dos moradores, apesar de haver muito medo e insegurança. “O processo de pacificação não é uma varinha de condão, nem uma coisa mágica (...)” (presidente da Associação Comercial Empresarial do Novo Alemão e Penha)

4.2 Mobilidade

O Complexo do Alemão está situado na região norte da capital do Rio de Janeiro, com fácil acesso pela Avenida Brasil indo de carro – a pista central que tem ligação direta com a zona norte, no entanto o acesso com transporte público é difícil conforme presenciado pela pesquisadora, na rodoviária Novo Rio existe um terminal próprio para os ônibus que vai para a Zona Sul, e para a Zona Norte se faz necessário uma caminhada de cerca de 10 minutos até o ponto de ônibus mais próximo, ou utilizar a opção atrás da estação que possui o trajeto de total descaso público até o ponto de ônibus, nesta segunda opção para o trajeto completo é

5 Disponível em:

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necessário à utilização do teleférico ou os transportes alternativos6 encontrados nas comunidades.

Composto por 12 comunidades: Morro do Alemão; Grota; Nova Brasília; Alvorada; Alto Florestal; Itararé; Morro da Baiana; Morro do Mineiro; Morro da Esperança (Pedra do Sapo); Joaquim de Queiroz; Fazenda das Palmeiras e Morro do Adeus, o complexo do Alemão possui segundo o IBGE 3km² de ocupação. A locomoção entre as comunidades é feita com transporte alternativo como as “Kombis”7 que custam entre R$1,00 e R$2,50 e os moto-táxi que possuem tabela de preço para cada região do complexo. Para percursos menores, os moradores utilizam as grandes vielas e escadarias de alto desnível encontradas em todas as partes das favelas.

5 Turismo no Complexo do Alemão

A grande repercussão nacional e internacional da ocupação do Complexo do Alemão tem atraído o olhar do mundo para a zona norte do Rio de Janeiro, e através deste fato muito se modificou na comunidade.

Com apenas dois anos de pacificação, o turismo surge como sinônimo de desenvolvimento com oportunidade de crescimento social, cultural e econômico, com estes objetivos a Setur – Secretária de Turismo do Rio de Janeiro desenvolveu seis roteiros turísticos para o complexo, onde todos tem seu ponto estratégico no teleférico, mais precisamente na estação do Bonsucesso onde todos os roteiros se iniciam e terminam, também está previsto pequenas caminhadas nas comunidades e parada para compras. Os roteiros possuem os seguintes nomes: Alemão com Igreja da Penha, Alemão Mega, Alemão Top, Alemão Total, Alemão e Serra da Misericórdia e Alemão Clássico. O tempo dos percursos está entre 02h30min a 04h00min.

Além da Setur, outras duas agências de turismo receptivo também possuem roteiros, mas são menores, tal como ir de teleférico até a última estação (Palmeiras), e descer pela comunidade até a estação Itararé, depois utilizar novamente o teleférico até ponto de partida que é a estação Bonsucesso, considerado como percurso sem risco para turistas que só querem ver do alto a arquitetura da favela.

6Transportes que não possuem legalidade burocrática ou de baixa usualidade entre todos moradores

da cidade.

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O complexo possui diversos atrativos que estão se completando a cada novidade divulgada pela mídia, governo e seus moradores detentores de informações que ajudam a aumentar cada vez mais a curiosidade do turista, como tratado no item 2, a “autenticidade preservada” dos acontecimentos como o massacre no Complexo do Alemão em 20078, a morte do jornalista Tim Lopes9 e a ocupação do exército em 2010, cria um território de imaginação conforme cita Freire-Medeiros.

“É a partir destes atributos simbólicos, que a constroem como um território da imaginação em que podem ser investidos diferentes ansiedades e desejos, que a favela é elaborada, vendida e consumida como destino turístico.” (Freire-Medeiros, 2006)

Figura 1: Visão aérea do Complexo do Alemão, Serra da Misericórdia e Vila Cruzeiro

Fonte: Infoescola10

8 Operação policial no Complexo do Alemão que ocorreu em 27 de junho 2007, que resultou a morte

de 19 pessoas e entre elas estavam crianças e adolescentes, inclusive uma aluna dentro da escola. (Figueiredo, 2007)

9Jornalista da rede globo torturado e morto por traficantes do Comando Vermelho após reportagem

investigativa. Seus restos mortais foram encontrados na Serra da Misericórdia.

10

Disponível em <http://www.infoescola.com/rio-de-janeiro/complexo-do-alemao/>. Acesso em 20 fev 2013

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5.1 Atrativos

O comércio, moradores, casas de arquitetura exótica, ruas, escadarias e becos estreitos são os principais interesses do turista em favelas, já que estes compõem a singularidade do modo de vida destas pessoas, onde a proximidade facilita o estabelecimento de laços. A capacidade das favelas em se modificar conforme a necessidade mantém as comunidades em constante movimento, atraindo cada vez mais pessoas, pois é algo que possui vida, um atrativo em constante desenvolvimento. Além da vida da comunidade o complexo possui atrativos próprios que reforçam ainda mais o interesse em conhecer as comunidades como o teleférico - peça fundamental na locomoção, a Serra da Misericórdia, Praça do Conhecimento de Nova Brasília e a Igreja de Nossa Senhora da Penha.

5.1.1 Teleférico

Inaugurado 08 meses após o início da pacificação do complexo, no dia 07 de setembro de 2011,está na rota turística do Rio de Janeiro. O teleférico possui 06 estações, sendo elas Bonsucesso (estação intermodal integrada com o transporte ferroviário), Morro do Adeus, Morro da Baiana, Morro do Alemão, Itararé e Palmeiras, a estação de retorno que promove uma vista completa do complexo. O valor para o percurso é de R$ 1,00 por pessoa, e os moradores tem direito a 02 passagens gratuitas por dia, mediante ao cadastro efetuado junto a operadora do teleférico. Com suas 152 gôndolas, cada uma transporta 8 pessoas sentadas em uma viagem que dura cerca de 16 minutos. Em agosto de 2012, o teleférico ultrapassou a marca de 3 milhões de passageiros, comprovando o sucesso deste novo meio de transporte brasileiro. (CAETANO, 2012)

5.1.2 Serra da Misericórdia

A Serra da Misericórdia possui 43,6km², estendendo-se por 27 bairros da zona norte, foi declarado Parque Municipal Urbano da Serra da Misericórdia pelo Decreto nº 33.280, em 2010.

É a divisão do Complexo do Alemão e o Complexo da Penha, muito conhecida pela trilha de terra onde os traficantes fugiram na ocupação e também onde foram

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encontrados os restos mortais do jornalista Tim Lopes, local que possui grande preferência pelos turistas. Além de ser um oásis em meio ao amontoado de casas, já que em algumas partes ainda há resquícios de Mata Atlântica e uma lagoa azul de 11mil m², formada por explosões de pedreiras que atingiram os lençóis freáticos. (TERRA, 2010)

Figura 2: Lagoa Azul

Fonte: Site R711

5.1.3 Praça do Conhecimento Nova Brasília

Espaço coletivo de lazer, cultura e arte, localizado na comunidade de Nova Brasília oferece cursos de tecnologia e a difusão de bens culturais como sala de cinema e auxilio no desenvolvimento social, técnico, artístico e profissional dos moradores do complexo do Alemão.

Equipamento de uso da comunidade que também atrai a curiosidade de turistas, já que é considerado um espaço de avanço pelos residentes.

11

Disponível em <http://noticias.r7.com/cidades/fotos/conheca-o-piscinao-do-alemao-20100306-12.html>. Acesso em 02 fev 2013

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5.1.4 Igreja Nossa Senhora da Penha

Este atrativo não faz parte do Complexo do Alemão, mas está incorporado no roteiro proposto pela Setur – RJ.

Sua primeira capela tem data de 1.728, construída sob um rochedo entre o Complexo do Alemão e da Penha, possui 382 degraus talhados na própria rocha e bondinho que facilita a subida até a igreja. (SANTUÁRIO, 2012)

6 Análise de comportamento social e econômico dos moradores

da comunidade

O trabalho foi desenvolvido com o principal objetivo de avaliar os impactos positivos e negativos no comportamento e as expectativas dos moradores das comunidades do Complexo do Alemão com tendência de surgimento e aumento da demanda turística, focando na implantação do novo sistema de transporte, e a ocupação por parte do poder público.

Nesta pesquisa foi utilizado um roteiro de entrevista em profundidade pré-estruturado para que houvesse flexibilidade com os temas abordados, sendo eles identificação socioeconômica, mudanças recentes e turismo no complexo. As entrevistas foram gravadas em equipamento de audiovisual, sendo que a imagem dos entrevistados não foram todas captadas por motivo de insegurança dos mesmos, entre outros que não permitiram a gravação da voz, onde foi utilizado papel e caneta para as anotações.

Foram entrevistadas 22 pessoas entre moradores, comerciantes locais, representantes de associações e organizações não governamentais. As entrevistas se realizaram em dois feriados e em locais diferentes, sendo de 07 a 09 de setembro de 2012 na parte baixa das comunidades, concentrando na região da Grota próximo a estação Itararé, e no feriado de 12 a 14 de outubro na parte alta das comunidades de Alvorada, Nova Brasília e Alemão, neste último período notou-se alta rigidez por parte dos moradores em aceitar a entrevista, observando está parte da comunidade entendeu-se que os aspectos geográficos do local pode ser um dos fatores que resultou em tal comportamento, pois estão localizados em espaços que eram

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considerados estratégicos para o tráfico e a apreensão de seus moradores é resultado do grande período de controle do tráfico e a exclusão da sociedade.

Na análise considera-se o método de observação, conversas informais, participação em atividades de ONGs e convivência com os moradores por parte de pesquisadora durante os períodos que a mesma esteve no local, durante as datas informadas para entrevistas e visitas de observação que ocorreram em dezembro/2011, abril e julho de 2012.

Os moradores entrevistados serão apresentados por números conforme a tabela do apêndice II para identificação, já que do total entrevistado apenas 07 informou ou autorizou o uso do nome. As entrevistas serão apresentadas de forma autentica, considerando gírias, erros de vocabulário e concordância.

6.1 Aspectos Socioeconômicos

Grande parte dos entrevistados são moradores das comunidades do complexo do Alemão, sendo apenas 02 que moram em outros locais, porém possuem pelo menos 20 anos de convivência na comunidade.

Os moradores são de origem nordestina ou seus pais e/ou avós imigrantes do norte, nordeste do Brasil e Sul de Minas Gerais.

Dos entrevistados, grande parte nasceu no complexo ou chegaram ainda crianças e cresceram no local, sendo nomeado pelos próprios moradores como “cria do morro”. As famílias são compostas em maioria por mãe e filhos, sendo estas mães a principal fonte de renda familiar, trabalham com costura, cozinha ou serviços de limpeza em empresa e casa de família. Os pais na grande maioria são pouco presente.

A escolaridade dos entrevistados é na maior parte até o ensino fundamental, verificou-se ensino superior em moradores que durante a fase da adolescência saiu das favelas para não ser influenciado pelo tráfico ou para estudar mesmo, sendo estes uma pequena parcela.

A religião predominante entre os moradores é a católica, mas em observação verificou-se uma grande quantidade de igrejas evangélicas.

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O comércio local é completo, não havendo necessidade de sair da comunidade para comprar alimento, roupas e até material de construção, segundo a associação comercial existem cerca de 5 mil pontos de venda e a maioria são moradores do próprio complexo, estes comércios são administrados pela família, e os maiores como supermercados, têm até 20 funcionários.

Existem diversas organizações não governamentais e grupos coletivos que buscam resgatar o orgulho dos moradores do morro, estes trabalham em conjunto em favor da comunidade auxiliando um ao outro em eventos como a páscoa, festa junina e dia das crianças.

A ONG entrevistada NUMBA – Núcleo de mulheres em Ação é a primeira que fez o Tour pelo Complexo do Alemão, auxiliando a secretária de turismo na construção dos roteiros. A ONG tem mais de 08 anos, mas é registrada há 04 anos, atuante antes mesmo da pacificação, não possuem um espaço próprio, e as atividades são desenvolvidas na laje da casa de sua presidente, Lúcia Maria, que está engajada na qualificação profissional, dança e direitos da mulher. Como verificado em entrevista e observação as mulheres são as maiores responsáveis pelo sustento de suas famílias, e o NUMBA tem seu foco nestas que desenvolve a comunidade.

Existe apenas um equipamento destinado ao turismo, o #Barraco55, um hostel que a pesquisadora utilizou durante sua pesquisa, é um equipamento voltado ao turismo comunitário, pois o mesmo também é um centro cultural que desenvolve atividades com moradores, em especial as crianças do morro da Alvorada que participam das aulas de música, inglês e sessão de cinema em uma pequena praça no topo do morro. Este projeto foi iniciado em maio de 2012 e é administrado por holandesas que moram na comunidade entre eles o agitador cultural Eddu Grauº, que nasceu no complexo, mas passou um tempo fora como forma de proteção ao tráfico. Durante o período que a pesquisadora esteve no #Barraco55, não teve companhia de nenhum outro hóspede, e em conversas percebeu-se que até aquele momento tinham se hospedado lá apenas 12 hóspedes, e grande parte eram estrangeiros.

Esta em desenvolvimento projetos com foco em atrair investidores para o complexo, que possam levar hotéis e restaurantes, segundo entrevista com o presidente da ACENAPE - Associação Comercial e Empresarial Novo Alemão e Penha – será iniciado em breve as obras de um hotel que faz parte do projeto de desenvolvimento turístico em conjunto com a secretária.

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6.2 Turismo no Alemão – Olhar do morador

O turismo surge como esperança para maioria dos entrevistados, inclusive para os mais jovens que vêem oportunidades de crescimento dentro da própria comunidade. Verificou-se diferentes pontos de vista para o turismo entre os moradores, para aqueles que possuem baixa instrução o turismo traz sentimento de reconhecimento e status como enfatizou pela Moradora 3

“Ah, é uma boa, porque é tipo assim, abrir o Complexo do Alemão pro mundo né, é bom, eu gosto quando vem, assim, já vem veio o Príncipe12 né, vem às pessoas, ai até as meninas do serviço fica - Aaah, lá ta animado, lá ta chique, - eu gosto!”

Outros moradores também compartilham da mesma opinião:

“Pô, eu fico até feliz por ver pessoas de fora passeando aqui dentro, que antes não tinha, quando ia imaginar que ia ter um banco aqui dentro, muita coisa, muita coisa, agora estão fazendo fabrica, então é coisa que melhora bastante, bem significativo pra comunidade.” (Morador 7)

“Eu acho legal, que abre assim, outros leques assim, você vê pessoas diferentes, você conversa aprende, eles aprende com a gente, igual eu com as meninas13 agora, to aprendendo inglês,

aprendo as comidas delas, que elas fazem eu aprendo, elas aprende que eu faço, eu acho muito legal.” (Moradora 12)

Os moradores que possuem maior grau de instrução também se sentem feliz e reconhecido, mas já possuem outro olhar para o turismo e reconhece os meios de divulgação.

“Claro sem sombra de dúvida, o visual é um espetáculo né, e a pessoa conhece um pouco mais, digamos assim, até da própria engenharia né, da arquitetura eu acho que isso tem que ser valorizado, valorizando sempre as pessoas, mas se você começa ver o Alemão de outra forma né, e acho que deve se valoriza o aspecto turismo em função das características locais, pra ninguém modifica o que ta aqui, e sempre foi né, você já valoriza e até as próprias pessoas, o morador ele é, em função né, da situação anterior ele não aprendeu a valoriza sua própria cultura, não aprendeu a valoriza o próximo, a respeitar a diversidade, eu acho que isso é um conjunto, que aprende o morador e valoriza o turismo. (Morador 2)

“Com certeza, é gerar renda, gerar oportunidade, gerar trabalho pra todos, que assim através do turismo, surgiu pessoas que vivem do artesanato, da economia solidária, então as pessoas que estavam anônimas apareceram, estão desenvolvendo seu trabalho e mostrando pro mundo, tanto que muitas pessoas do Complexo do

12 O Príncipe Harry, da monarquia britânica esteve no complexo no dia 03 de março de 2012 para

representar seu país em diversos eventos esportivos e políticos na cidade do Rio de Janeiro

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Alemão hoje estão entrando na novela da Gloria Perez14, que vai ser

mostrado pro mundo inteiro e depois dessa novela, creio eu com certeza que vai vim gente de toda parte do Brasil do mundo, querer conhecer o Complexo do Alemão, que vai sair na novela da Gloria Perez.” (Morador 1)

Mas também há morador que não gosta da reação de alguns turistas, durante observação da pesquisadora em um passeio de teleférico, uma criança com seus pais que estavam de passeio, olhava para o aglomerado de casas e repetia constantemente “olha que feio” e seus pais, por vez fizeram vários comentários de como deveria ser difícil à vida de favelado, e dentro da mesma gôndola estava presente um morador da comunidade Nova Brasília que se mostrou incomodado, mas de maneira extremamente educada explicou que não era ruim e que havia comércio na favela. A pesquisadora desceu na mesma estação que o morador e teve a oportunidade de conversar com o mesmo, e suas falas foram:

“Estas pessoas vem aqui acha feio a favela, fala que é um monte de casa e fala mal da gente, eu não gosto dessa gente aqui, somos atração agora. Isso é um circo. Daqui a pouco tem gente igual na Rocinha com aqueles carros assistindo o zoológico humano que isso vai virar daqui a pouco.” (Morador 18)

6.3 Benefícios do turismo

Para os moradores e as ONGs, é importante que a mão de obra empregada no turismo seja da própria comunidade, mantendo assim sua autenticidade e criticam a ação do governo de estar com projeto pronto para a comunidade deixando de fora os interesses dos moradores.

“Quando os turistas quiseram conhecer o Complexo do Alemão, surgiu vários grupos de Ong no Complexo que queriam receber esses turistas, mas como governo é governo né, existe projetos do governo com a Secretaria do turismo, que estão entrando no Complexo do Alemão já com projeto pronto, pegando as ideia as pessoas do Alemão, tirando a empregabilidade desse povo, o que ta errado, eu acho que é direito do Alemão de receber essas pessoas, então vem projeto de fora prontinho pro Alemão, a gente bate muito de frente as empresas que nunca entro no Complexo do alemão, estão entrando agora mas já com projeto pronto e isso não gerar empregabilidade.” (Morador 1)

O maior retorno esperado pelos residentes é o econômico, e segundo a ACENAPE existe planejamento e já estão acontecendo cursos para capacitar os jovens da comunidade para atender o turista, pois a demanda vem crescendo a cada dia, e

14 Exibição em horário nobre da TV Globo – Salve Jorge estreou no dia 22 de outubro e tem

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também visando os próximos grandes eventos que ocorreram no Rio de Janeiro (Copa do Mundo 2014 e Olimpiadas2016). A capacitação é vista por grande parte dos entrevistados como algo benéfico.

“(...) mas eu acho que é importante a participação né, que se você né, como turismóloga vem a orientar porque as pessoas, é, na boa vontade muitas vezes querem fazer o turismo, ele não tem a técnica, ele tem a boa vontade. Então é interessante você uni a vontade da comunidade e o conhecimento específico, trazer projetos, tecnicamente bem elaborados para que você possa treinar morador que vai receber o turista da melhor forma possível. Entendeu? No mínimo de inglês, de higiene, né, o mínimo de educação, atendimento indumentária para poder se apresentar melhor ta. Eu acho que isso tudo, é, ou melhor deve ser desenvolvido pelo técnico do turismo né e que venha orientar e pra poder melhorar a qualidade.” (morador 2)

6.4 Infraestrutura x Turismo

Os moradores possuem diferentes opiniões referentes às recentes mudanças ocorridas no complexo do Alemão como a pacificação e a implantação do Teleférico. Como visto no item 4.1, a pacificação é um processo em desenvolvimento, uma parte da história que se fez necessária para o início de toda mudança que vem ocorrendo no complexo.

“Ah foi legal, pacificação uma melhoria bem significativa, o fato de você pode sair com teu filho não está esbarrando na arma de ninguém, ele não esta vendo uma arma, é sem explicação, muito boa sensação.” (Morador 13)

Em conversas informais e nas entrevistas identificamos também o receio do morador em falar sobre o assunto, pois ainda há insegurança e medo, para muitos, o que mudou foi apenas a mão onde estava o poder, da mão do tráfico para o governo, mas também acreditam que isso ira mudar, é o reflexo de anos de violência que não se desfaz como “mágica”. (presidente ACENAPE)

Como segundo ato, podemos citar a implantação do teleférico, que é o responsável por grande parte das críticas, e elogios ao mesmo tempo, já que é considerado o ponto alto de todas as transformações que estão ocorrendo, segundo moradores, a implantação é benéfica, pois os moradores agora possuem outro meio de transporte, porém outros reclamam que é apenas um atrativo para os turistas e não beneficia a comunidade.

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“O teleférico é 100% turístico, não atende a comunidade, não houve participação da comunidade, mas mudou a imagem negativa do Alemão, hoje quando pensa em Alemão, pensa no teleférico” (Morador 19)

“Olha minha opinião é o seguinte, eu acho teleférico importante em função da mobilidade, mas existe coisas mais importantes, saneamento, água, a questão de áreas ambientais, perigo eminente, de desastres etc e tal, acho que deveria haver um remanejamento de pessoal ta.” (morador 2)

“É, porque nessa área você tem transporte pra leva os moradores lá em cima. E o retorno que isso esta dando para o governo, da só do turismo mesmo, eu acredito que não ajuda em nada, porque pra subir o morro você tem moto-taxi você tem Kombi, a verba gasta nesse teleférico, você aplicava na saúde na educação, seria muito melhor.” (Morador/Comerciante5)

“Já esta acontecendo isso, porque o teleférico bateu recorde de ida e vindas mais do que o pão de açúcar. Entendeu? Então isso quer dizer que as pessoas já estão aceitando, é o teleférico como um ponto turístico e também como uma parte integrante da vivencia do complexo do alemão, que as pessoas não conhecem realmente a favela e quer conhecer e não sabem como aqui as pessoas vivem, com uma casa colada na outra, eu que as pessoas tão vindo de fora, querem conhecer, querem vivenciar isso, e isso é legal.” (Morador 1) As críticas dos moradores também chegam às reformas menores, como pintura da região da Grota, e mudanças por conta do Programa de Aceleração do Crescimento. “Eu não sei como é que as pessoas fazem o movimento sem antes estuda bem, o que era de interesse da sua comunidade, então tiro mais de 100 lojas, e colocaram as lojas em lugares que levou o pessoal a falência, tendeu, e vai ter mais coisas assim, as mesma coisa são as moradias, cara você construiu prédios e mais, ouve desvio de interesse maior, a intenção foi feita a moradia foi tanto é que você vê noticia, em jornais, envolvendo presentes de associação de moradores, isso ai não é legal, então mas eu acho que a comunidade esta se habituando a isso, digo assim que o Complexo do Alemão, é uma comunidade que não tem vida própria, não é uma Rocinha, o comercio é forte o suficiente pra manter a comunidade da emprego a comunidade, fazer com que você more e trabalhe, e o dinheiro fica circulando dentro da própria comunidade...”(Morador/Comerciante 5)

Foi verificado, que para os moradores, apesar de haver muita crítica referente às obras, reconhecem que as mesmas são responsáveis por atrair mais turistas através da mídia, pessoas que conhecem e levam histórias para contar. Muitos também sugerem que os turistas saiam da rota do teleférico, que é o que acontece hoje, o turista chega ao morro, faz o passeio e retorna ao ponto de partida sem ao menos conhecer algo da comunidade, apenas olha por cima e volta ao ponto inicial. O desejo do morador é que haja mais movimentação na comunidade, saindo do núcleo

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teleférico, que conheça quem realmente mora no morro, além de movimentar a economia.

“Ficou bonito, mas só mexeu na aparência, dentro continua igual, tem que trabalhar dentro efetivamente.” (Morador 14)

“Conhecer a comunidade, os pontos principais dela. É o teleférico? Ok, vamos subir de teleférico e descer pelo morro, vai lá em cima de teleférico e vamos descer pelo morro, pra você conhecer as lojas, a população, conhecer o esgoto, conhece a vala, as crianças sujas andando descalça ai você vai ver o que você pode fazer por essas crianças, o que você pode trazer pra essas criança, não é pra andar em terra batida, não, digo assim não é pra você fazer um turismo começando pela serra da misericórdia e mostrar mata ali ó, foi por aqui o trajeto, não tem porque.” (Morador/Comerciante 16)

“(...) é sobre um diferente aspecto, acho que a gente tem que trabalha um pouco mais, a questão cultural local né, trabalha um pouco mais até ne, alternativo da culinária local, da música local entendeu, do ambiente da cultura local, tem que ser mais valorizado para que as pessoas venham não só pra passear, mas pra conhecer um pouco mais da situação socioeconômica da comunidade. Complexo inteiro, saber como é que funciona uma favela, como é que funciona uma comunidade né, desta forma uma densidade proporcional muito grande, onde tem diversidade econômica muito grande, aqui ta o Brasil inteiro ta, o nordeste veio pra cá, o pessoal de baixa renda do sudeste de Minas, Espírito Santo, então muita gente veio pra cá almejando a melhora, a sua qualidade de vida e acaba ficando e ai essa cultura vem, essa mistura com a cultura local, eu acho que isso tem que ser um pouco mais valorizado.”(Morador 2)

7 Considerações Finais

Foi observado que o turismo chega ao Complexo do Alemão como fonte de renda e expectativa de dias melhores para seus moradores mesmo em meio a problemas de infraestrutura urbana, saúde, segurança, educação e mobilidade até a zona norte, mas também como motivo de preocupação para muitos, pois desconhecem qualquer benefício que o turismo pode trazer além de pessoas diferentes em sua localidade. Como verificado em análise, o turismo tem impactado de forma positiva o sentimento do morador, pois a divulgação do complexo e o entusiasmo do turista em conhecer o local tem reflexo na autoestima dos residentes, o reconhecimento tem dado orgulho de residir no local influenciando ainda mais a divulgação pelos próprios moradores. Além do reconhecimento, o setor econômico também está entre os aspectos positivos, pois como verificado no #Barraco55, o mesmo possui a política de reverter

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os lucros para a própria comunidade como forma de auxílio às crianças com atividades e cursos. Apesar de não ainda não ter um número considerável de turistas que circulam na comunidade, os moradores esperam que isso comece a ocorrer em breve, fazendo a economia do local crescer, melhorando a qualidade de vida de muitos.

A implantação do teleférico e a ocupação do território pelo poder público são os grandes responsáveis por todas as mudanças do Complexo, mas o morador está ciente que para o turismo se desenvolver os mesmo serão os grandes responsáveis por esse processo, juntamente com as ONGs e associações responsáveis.

Conclui-se que, o morador do complexo do Alemão está atento a todos os movimentos que ocorrem no local e possuem grande expectativa com relação ao turismo na região, principalmente no setor econômico e a manutenção da tranquilidade instaurada no morro. Também se conclui que os ocorridos de junho de 2012, a morte de uma policial da UPP e em outubro de 2012 o tiro que atingiu uma moradora de 13 anos do Morro da Alvorada, são consequências de ordem generalizada e de grande repercussão na mídia, já que se discute um dos territórios que foi considerado o mais perigosos do Brasil, mas estas ocorrências não tem diminuído o entusiasmo do turista, aumentando constantemente a movimentação do teleférico.

Com os dados obtidos, sugere-se que o poder público envolva o morador em todos os planejamentos que já existem, modificando-os no sentido de levar benefício aos residentes. E nos projetos futuros que as ONGs estejam inteiramente ligadas de forma plena para que as expectativas e necessidades dos moradores sejam atendidas de maneira justa e plena.

Conforme citado em análise, devem ser valorizados os aspectos culturais, as histórias das vielas, becos, a vivência de seus moradores e também as dificuldades que tiveram nas conquistas.

O turismo comunitário é uma sugestão de meio de desenvolvimento sustentável visando o bem estar de todos do local, e satisfação do turista. Deve-se ampliar a comunicação entre as entidades envolvidas com o turismo, já que se trata de um território amplo, mas com aspectos semelhantes e um grande atrativo que está presente em todo o complexo, o teleférico.

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A análise mostra a insatisfação com relação ao investimento do governo em turismo e obras que são externas, deixando outros aspectos sem a assistência merecida, e ao mesmo tempo também se verifica o planejamento da construção de um hotel no local, para amenizar a situação sugere-se que seja investido em hostels de modelo comunitário, onde o turista terá uma vivência de maior intensidade com o morador local e a comunidade receberá os benefícios de forma direta e indireta, também poderá ser investido em restaurantes e lojas de suvenires dos próprios moradores. A fiscalização será fundamental neste período de desenvolvimento para que não haja a exploração da imagem sem nenhum retorno para aqueles que são os maiores interessados e devem ser os maiores beneficiários também, os moradores.

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REFERÊNCIAS

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Apêndice I – Modelo de roteiro de entrevista em profundidade pré-estruturada PARTE 1:IDENTIFICAÇÃO

Nome/Idade:

Há quanto tempo mora no complexo?

Profissão/ família/ religião/ Já morou em outro local?

PARTE 2:OPINIÕES SOBRE MUDANÇAS RECENTES

O que acha?

• Pacificação do Alemão

• Implantação do teleférico no Alemão

PARTE 3:OPINIÕES SOBRE O TURISMO

O que acha do turismo no Alemão?

A presença de turistas aqui causa algum tipo de sentimento? (reconhecimento, felicidade, raiva, gosta, não gosta? Por quê?)

Por que você acha que os turistas tem interesse em visitar o Alemão?

O Alemão tem alguma coisa de interessante que os turistas não percebem ou não dão valor?

Os turistas entendem melhor o Alemão quando o visitam? O que eles não entendem?

Como é o convívio com o turista?

Existem projetos como o NUMBA que esta desenvolvendo visitas guiadas para turistas no complexo. Tem alguma opinião sobre está iniciativa? (O que acha do pessoal ser da comunidade?)

Você acha que o turismo traz algo de bom para o Alemão? (maior renda, cultura, reconhecimento)

O que acha da divulgação da imagem da favela através dos turistas? Fotos, vídeos, histórias...

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Morador Idade Sexo Quanto tempo de

Alemão Escolaridade

1 56 Feminino 56 Não informado

2 57 Masculino 47 Pós-graduação 3 40 Feminino 30 E. Fundamental 4 25 Feminino 25 E. Médio 5 52 Masculino 11 Graduação 6 32 Masculino 32 Graduação 7 39 Masculino 30 E. Médio 8 48 Feminino 40 E. Fundamental 9 29 Masculino 29 E. Fundamental 10 58 Feminino 58 Analfabeto 11 35 Masculino 35 E. Fundamental 12 50 Feminino 50 E. Fundamental 13 36 Masculino 28 E. Médio 14 65 Masculino 50 E. Fundamental 15 41 Feminino 35 E. Fundamental 16 49 Feminino 35 E. Fundamental 17 20 Feminino 20 E. Médio

18 Não informado Masculino 20 Não informado

19 35 Feminino 35 E. Fundamental

20 15 Masculino 15 Estudante/ E.M

21 63 Feminino 63 Não Informou

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