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POTENCIALIDADES E LIMITANTES AO DESENVOLVIMENTO DO

TURISMO EM ÁREA RURAL: O CASO DO BAIRRO ITAPÉ, RIO

CLARO, SP

Relatório de Iniciação Científica

Silas Nogueira de Melo

Orientador: Prof. Dr. Enéas Rente Ferreira

Co-orientadora: Doutoranda Michele Lindner

1 INTRODUÇÃO

Com o crescimento do agronegócio no Brasil durante os últimos 30 anos, impulsionado pela modernização da agricultura, o grande desafio dos pequenos agricultores familiares tem sido a criação de alternativas para a sobrevivência e reprodução socioeconômica no campo. Neste contexto, emergem novas atividades econômicas no espaço rural, que podem contribuir para o desenvolvimento local. Essas novas atividades inserem-se no chamado “Novo Rural Brasileiro”, o qual tem sido objeto de estudo de muitos pesquisadores que investigam as diferentes manifestações no espaço rural.

O Novo Rural refere-se à emergência de atividades não-agrícolas no campo como forma de incremento da renda agrícola. Esse fenômeno é uma tendência em curso em vários paises do mundo, principalmente nos países industrializados, como nos Estados Unidos, onde apenas 10% de sua população ocupada no meio rural vive da agricultura (CARNEIRO; TEIXEIRA, 2004). Segundo Carneiro e Teixeira (2004), o rural não-agrícola já ocupa entre 20% a 30% da população rural da América Latina. Da mesma forma, Graziano da Silva (2000 apud CARNEIRO; TEIXEIRA, 2004:26) coloca que “no Brasil, a população economicamente ativa (PEA) rural não-agrícola já representa cerca de um terço, ou seja, dos 15 milhões de pessoas economicamente ativas no meio rural brasileiro, 4,6 milhões estão ocupadas em atividades não-agrícolas”.

Dessa forma, percebe-se a importância que essas atividades vêm ganhando na economia local e em especial para os pequenos produtores que estão inseridos nesses mercados rurais não-agrícolas. Esses mercados abarcam diversas atividades, desde o beneficiamento de produtos agrícolas, agregando valor aos produtos, quanto à prestação de serviços, que pode ser exemplificada através dos pesque-pague, pousadas e hotéis fazenda e as diversas modalidades do turismo em

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espaço rural (turismo de aventura, turismo ecológico, agroturismo, turismo pedagógico no meio rural, entre outros).

Assim, o estudo em questão buscou analisar a prática turística no Bairro Rural de Itapé, no Município de Rio Claro no Estado de São Paulo, buscando destacar as potencialidades turísticas do local e as dificuldades encontradas no desenvolvimento da mesma. Desse modo, destacou-se a emergência do turismo, no que tange o espaço rural, além da verificação das condições relacionadas à infra-estrutura que mantém as propriedades onde existe a prática da atividade.

Portanto, o trabalho foi dividido em quatro partes, inicialmente apresenta-se os pressupostos teóricos que nortearam a pesquisa, passando assim para a apresentação dos procedimentos metodológicos. Na terceira parte são apresentados os resultados e discussão da pesquisa, onde aborda-se a caracterização da área de estudo, as potencialidades turísticas do Bairro Itapé, o histórico da atividade turística e dificuldades encontradas, os impactos da queda da ponte na atividade turística, os impactos da queda da ponte nas demais propriedades e a reinserção das propriedades com o novo acesso. Por fim, apresentam-se algumas considerações a respeito dos resultados obtidos.

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Na busca de compreender a temática abordada no estudo foi necessário um aprofundamento teórico sobre os temas abordados, para que desta forma a teoria desse embasamento para a prática. Como se trata de uma pesquisa atrelada a Geografia Rural, procurou-se subsídios tanto em trabalhos geográficos como também em outras ciências sociais que possuem estudos de fundamental importância sobre o rural brasileiro. Dessa forma, buscou-se abordar temas como o trabalho não-agrícola rural, pluriatividade, multifuncionalidade, turismo em área rural e suas vertentes.

2.1 Trabalhos não-agrícolas rurais, pluriatividade e multifuncionalidade

O rural do Brasil possui um caráter rentista do capitalismo, ou seja, o desenvolvimento do modo capitalista de produção se fez principalmente pela fusão,

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em uma mesma pessoa, do proprietário da terra e do capitalista (OLIVEIRA, 2001). A materialização desse processo representa uma grande extensão de terras concentradas na mão de um, o latifundiário, além de conflitos sociais no campo (FERNANDES, 1996). Esses conflitos podem ocorrer tanto na forma de luta pela terra, para se tornar camponeses proprietários, como é o caso do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ou para permanecer na terra (OLIVEIRA, 2001).

A concentração de terras é um fator que contribuiu muito para o êxodo rural. Esse fenômeno que foi muito forte em décadas passadas, atualmente passa a sofrer uma retração. Segundo Graziano da Silva (2001), o emprego de natureza agrícola definha em praticamente todo país, mas a população residente no campo voltou a crescer, ou pelo menos parou de cair. Os dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 1999 mostram que dos quase 15 milhões de pessoas economicamente ativas no meio rural brasileiro (exceto região Norte), quase um terço – ou seja, 4,6 milhões de trabalhadores – estavam trabalhando em ocupações rurais não-agrícolas (GRAZIANO DA SILVA, 2001).

O resultado do crescimento populacional no campo brasileiro pode ser entre outros um reflexo das vitórias dos trabalhadores sem-terras; da emergência de novas atividades não-agrícolas como tentativa de sobrevivência nos campos; e da demanda por casas em locais peri-urbanos, relacionada à crise dos centros urbanos e ao movimento pendular de trabalho (COELHO, 1999).

Entre estes elementos destacam-se as atividades rurais não-agrícolas ou a pluriatividade, devido a essa prática representar para grande parte de agricultores familiares e também para muitas famílias assentadas, uma forma de incremento na renda agrícola, a qual torna possível a permanência destes no campo.

A pluriatividade pode manifestar-se em diferentes formas de combinação de atividades agrícolas com atividades não agrícolas, seja atividades agrícolas combinadas com o beneficiamento dos produtos agrícolas, ou com uma pequena agroindústria, ou com a prestação de serviços ou mesmo com a ocupação de um ou mais membros da família empregado em atividades não agrícolas, tanto rurais quanto urbanas.

Os estudos sobre as atividades não-agrícolas aumentaram significativamente na década de 1990, sendo que autores denominam esse fenômeno pelo termo pluriatividade, outros agricultura em tempo parcial (part-time farming) e ainda alguns

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consideram estes termos como sinônimos. O termo pluriatividade parece ser o mais adequado para designar a presença de atividades não-agrícolas nas famílias rurais, pois engloba não apenas as atividades não-agrícolas dos chefes das unidades produtivas, mas de todos os membros das unidades familiares, enquanto o termo

part-time farming1 limita-se apenas ao trabalho parcial do chefe da família (ELESBÃO, 2005).

Segundo Menegati (2005), a pluriatividade apresenta-se como um dos processos engendrados no campo, que se baseia nas formas de trabalho realizadas pela família rural. Nesse sentido, a pluriatividade não engloba apenas o produtor rural, mas sim toda a família, demonstrando o caráter familiar da unidade agrícola, como lembra Alentejano (1999). Desta forma, Schneider (1999) coloca que o termo pluriatividade refere-se às múltiplas formas de trabalho, sobretudo a combinação das atividades agrícolas com os empregos fora da propriedade rural.

Kageyama (1998), ao discorrer sobre os termos pluriatividade e agricultura em tempo parcial, coloca que os fenômenos não podem ser superpostos:

“O tempo parcial numa atividade (agricultura, por exemplo) é condição necessária para poder dedicar-se a outras atividades, mas não é suficiente e nem é sinônimo de pluriatividade. Mais ainda: é preciso esclarecer se o tempo parcial se refere a uma atividade (“agricultura de tempo parcial”) ou ao número total de horas trabalhadas pela pessoa. O primeiro aspecto é o que parece estar mais diretamente relacionado com pluriatividade, enquanto o segundo (jornada de trabalho) seria mais pertinente a análises do subemprego ou subocupação. Exemplificando, pode-se ter um indivíduo pluriativo que trabalha apenas metade da jornada normal (ele seria pluriativo e tempo parcial), assim como uma pessoa ocupada em tempo integral que pratica agricultura em tempo parcial porque se dedica a outras atividades (urbanas, por exemplo) no resto do tempo (ele seria um pluriativo, com ocupação em tempo integral e praticando agricultura de tempo parcial). Esses casos, se aparentemente esdrúxulos quando precisamente formulados, não são incomuns nas áreas rurais mais dinâmicas. Mas, ao contrário das estatísticas, nem sempre os autores que analisam a pluriatividade distinguem claramente os aspectos acima indicados” (KAGEYAMA, 1998:517).

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O debate acerca desses termos (passagem do termo “agricultura de tempo parcial” para “empregos múltiplos” e para “pluriatividade”) pode ser aprofundado em FULLER, A. M. Part-time farming: the enigmas and the realities. In: Schwartzweller, H. (Ed.), Research in Rural Sociology and

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Portanto, o fenômeno da pluriatividade passa a ter destaque no Brasil, como uma alternativa econômica, no momento em que a agricultura sozinha, não é mais capaz de gerar a reprodução social da unidade da familiar. E é nesse sentido que o espaço é (re)funcionalizado, criando outros meios de reprodução econômica no campo. Essas novas funções são assumidas sempre que a sociedade sofre uma mudança, e a totalidade da mutação cria uma nova organização espacial (SANTOS, 1985). Dessa forma, quando o espaço, ou seja, nesse caso a propriedade familiar passa a incorporar mais funções, ela torna-se uma propriedade multifuncional. Essa multifuncionalidade ser expressa na função agrícola combinada com a prestação de serviços como a piscicultura, apicultura, produção de hortigranjeiros, turismo rural, ecoturismo e etc.

2.2 Turismo em áreas rurais

No contexto da pluriatividade, pode-se dar destaque para o turismo rural, pelo seu caráter integrador entre o homem rural, o urbano e a natureza. E como o objeto deste estudo é atividade turística no meio rural, será dado maior destaque a esta.

Para tal procurou-se resgatar fragmentos da história do turismo. Os romanos foram os primeiros a criar próximo ao Mediterrâneo locais de lazer, nas proximidades das praias, visando fins terapêuticos ou práticas esportivas. Dado o seu espírito político e de dominação, os romanos construíram e ampliaram estradas e vias de comunicação, possibilitando maior integração entre cidades e, conseqüentemente, facilidades para o comércio e viagens. Com a decadência do Império Romano e a invasão dos bárbaros, a segurança nessas estradas diminuiu e as viagens também foram reduzidas devido ao grande risco de vida que passaram a representar os perigos de assalto (LAGE; MILONE, 1991).

Com o Renascimento, a Europa ressurgiu, e promoveu um retorno à curiosidade e ao gosto pelo conhecer, juntamente a tal florescimento surgiram alterações no sistema econômico dando início ao capitalismo. Paralelamente a esses fatos houve um desenvolvimento significativo na navegação, mais tarde foi implantado o sistema ferroviário, e uma melhoria nas estradas, gerando incentivos ao deslocamento para conhecer novos lugares e comprar e vender mercadorias.

Já no século XX, no período compreendido entre as duas Grandes Guerras, o automóvel veio revolucionar os meios de transporte, e o turismo continuou

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crescendo. E do automóvel passou-se então para o avião, e as distâncias diminuíram, oferecendo ao viajante mais conforto, segurança e rapidez (LAGE; MILONE, 1991).

A massificação do turismo pode ser explicada por alguns fatores socioeconômicos que contribuíram para o seu desenvolvimento, dentre os quais destacamos: aumento da população, a urbanização, a industrialização, a dinamização do comércio, os avanços tecnológicos nos meios de comunicação e especialmente nos transportes. E os dados socioeconômicos atuais nos mostram a importância que a atividade turística tem, pois movimenta no mundo 3,4 trilhões de dólares por ano, empregando 212 milhões de pessoas (SOUZA, 2002).

O turismo rural despontou enquanto atividade de destaque no meio rural, primeiramente na Europa, surgindo depois em outros países. Segundo Portuguez (2002), o turismo rural foi definido como:

“um conjunto de modalidades, que consiste na atração de demanda eminentemente interna e citadina para os ambientes rurais, em que os turistas podem experimentar maior contato com o ambiente bucólico, bem como com os costumes locais e o dia-a-dia da vida no campo” (PORTUGUEZ, 2002:76-77).

Segundo o Ministério do Turismo (2004), o turismo rural é um segmento relativamente novo e em fase de expansão no Brasil. Pode ser explicado, principalmente, por duas razões: a necessidade que o produtor rural tem de diversificar sua fonte de renda e de agregar valor aos seus produtos e a vontade dos moradores urbanos de reencontrar suas raízes, de conviver com a natureza, com os modos de vida, tradições, costumes e com as formas de produção das populações do interior. É nesse sentido que Oliveira (2005), ressalta que o turismo rural destaca-se entre as atividades não-agrícolas pelas características de envolvimento de mão-de-obra familiar e pela possibilidade de agregação de valor aos produtos agropecuários.

Tulik (2003), afirma que na maioria dos países que seguem as diretrizes européias, a denominação “Turismo Rural” é usada para referir-se a qualquer forma de turismo. Devido a tal fato, muitos especialistas acham que o correto seria falar em um conjunto de práticas turísticas em espaço rural. O termo turismo rural é uma expressão genérica que é aplicada a qualquer forma de turismo no espaço rural, tanto que é utilizada, como sinônimo de TER (Turismo no Espaço Rural) e TAR

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(Turismo nas Áreas Rurais), que também são sinônimos entre si. Mediante a grande variedade de definições sobre os tipos de turismo, muitas vezes gera-se uma certa confusão terminológica. Muitas são as classificações dos tipos de turismo, porém as mais comuns são: turismo alternativo, Espaço Rural (TER)/Turismo na Área Rural (TAR), Turismo em Áreas Rurais e Naturais, turismo na natureza, turismo cultural, agroturismo, Turismo Rural (TULIK, 2003).

No caso desse estudo utilizou-se o termo turismo rural pelo seu caráter generalista, no qual esta inserido termos como agroturismo e ecoturismo, que segundo Tulik:

“Agroturismo (...) desenvolve-se integrado a uma propriedade rural ativa, de organização e gestão familiar, com a presença do proprietário, como forma complementar de atividade e de renda; pressupõe o contato direto do turista com o meio rural, alojamento na propriedade e possibilidade de participar das atividades rotineiras” (TULIK, 2003:39).

Já o ecoturismo refere-se a um “conjunto de atividades que se desenvolve em contato com a natureza e a vida no campo, em pequenos povoados rurais” (PÉREZ DE LAS HERAS apud TULIK, 2003:34).

Outra prática que vem crescendo muito nos últimos anos e que encaixa-se dentro do turismo em áreas rurais é o turismo pedagógico.

“O turismo pedagógico é uma ferramenta de educação ambiental que, na prática, demonstra a teoria das salas de aula. Pode ser vivenciado junto à natureza e ao campo, onde os alunos entram em contato com a comunidade local, sentem as dificuldades do cotidiano da localidade e adquirem novos conhecimentos e informações sobre o espaço rural, interagindo com os atrativos / recursos turísticos visitados” (PERINOTTO, 2008:101).

Esse tipo de atividade turística geralmente é planejada e desenvolvida por uma equipe multidisciplinar, visando atividades fora do ambiente escolar como visitas a atrativos naturais, fazendas, parques ou acampamentos (HORA E CAVALCANTI, 2003, apud PERINOTTO, 2008).

Nesse sentido, pode-se fazer relação com a Geografia, entendendo como instrumento, técnica, método ou meio, a saída de campo ou turismo (pedagógico), o qual proporciona a construção do conhecimento em ambiente externo, através da concretização de experiências que promovam a observação, a percepção, o contato,

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o registro, a descrição e representação, a análise e reflexão crítica de uma dada realidade, bem como a elaboração conceitual como parte de um processo intelectual mais amplo, que é a observação e interpretação do espaço e suas formas de organização, inerentes à prática social (SILVA, 2002).

Contudo, percebe-se que o turismo traz uma série de vantagens tanto para os visitantes quanto para os locais que desenvolvem essa atividade, tendo uma estreita relação entre turismo e transportes. Barichivich nos fornece uma analogia a esta relação:

“O sistema de transportes de um país tem uma função semelhante ao aparelho circulatório do corpo humano. Enquanto o papel deste é levar o sangue a todas as partes do organismo humano, a finalidade dos transportes é promover a circulação em todos os recantos do território nacional e fazer interligações com os países limítrofes” (BARICHIVICH, 1998:37).

Nesse sentido, o turismo rural, assim como as outras modalidades de turismo, carecem do acesso para a dinamização da circulação de pessoas. Pois se entende que o turismo é um movimento temporário de pessoas para locais de destino externos aos seus lugares de trabalho e de moradia, e para que esse deslocamento ocorra de modo satisfatório é necessário um sistema de transportes eficiente.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Metodologicamente este estudo trata-se de um estudo de natureza descritiva, segundo Richardson (1999), estudos dessa natureza, procuram descobrir as características de um fenômeno como tal, podendo considerar como um objeto de estudo uma situação específica, um grupo ou um indivíduo. No caso do presente estudo, fez-se uma descrição de uma situação específica, o turismo rural em uma propriedade no interior do estado de São Paulo, mais especificamente no Bairro Rural de Itapé, município de Rio Claro. Nessa propriedade analisou-se as potencialidades turísticas do local e as dificuldades encontradas para o seu desenvolvimento devido a uma situação especifica, a queda de uma ponte que fazia a ligação desse Bairro Rural ao município de Rio Claro. Dessa forma, buscou-se analisar essa situação dessa propriedade e das propriedades vizinhas ao longo da duração e após a resolução desse problema, buscando demonstrar o quanto a

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infra-estrutura rodoviária é importante na área rural, tanto para o escoamento da produção, quanto para o turismo rural.

Para realização dos objetivos propostos, o estudo dividiu-se em etapas. A primeira etapa baseou-se em um levantamento bibliográfico dos temas estudados como trabalhos não-agrícolas rurais, pluriatividade, multifuncionalidade e turismo rural, para um melhor entendimento do significado dos mesmos, dando assim subsídios para a prática. A etapa da pesquisa bibliográfica foi realizada em livros, artigos acadêmicos ligados ao tema, a fim de ter um melhor embasamento teórico para construção do relatório da pesquisa.

Em seguida, foi feita uma busca de informações secundárias referentes ao espaço rural do município de Rio Claro, para poder entender a situação geográfica da localidade. Posteriormente, foi realizada uma pesquisa qualitativa na etapa empírica através de entrevista semi-estruturada com o proprietário rural que desenvolve a atividade turística e ecoturismo. Optou-se pela utilização da técnica da entrevista se dá nesse caso devido ao fato de esta técnica se mostrar mais flexível que as outras técnicas de coleta de dados (LINDNER, 2008). Dessa forma, levou-se em conta algumas instruções para entrevistas semi-estruturadas:

“• A entrevista deverá ser feita permitindo que o entrevistado fale livremente sobre o assunto. O pesquisador poderá gravar a entrevista e transcrevê-la depois;

• Caso a gravação perturbe o entrevistado, o pesquisador deverá fazer o possível para memorizar as respostas, transcrevendo-as o mais literalmente possível, logo ao término da entrevista, a partir de apontamentos;

• O pesquisador deverá se certificar que todas as questões (...) foram respondidas;

• No ato da entrevista, caso o pesquisador perceba a importância de algum fato não apontado no roteiro, deverá incluir a questão” (DENKER, 1998:140, apud LINDNER, 2008:59).

Também buscou-se dados em fontes secundárias, como em folders turísticos (Anexo A), internet e no Levantamento Cadastral das Unidades Produtivas Agropecuárias – LUPA (Anexo B), ande buscou-se dados referentes ao anos de 1999 (período em que a ponte que liga o local de estudo ao município de Rio Claro estava em atividade) e 2007 (período em que a ponte que liga o local de estudo ao município de Rio Claro estava intransitável por três anos), produzidos pela Casa da

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Agricultura de Rio Claro – SP2, buscando informações referentes a propriedade que desenvolve o turismo e outras três propriedades vizinhas desta. O objetivo dessa tarefa foi comparar quais das atividades encontram maiores dificuldades econômicas diante do quadro apresentado (dificuldades de acesso devido a queda da ponte que liga o local de estudo ao município de Rio Claro), de uma forma mais quantitativa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO DA PESQUISA

4.1 Caracterização da Área de Estudo

A área de estudo, o Bairro Itapé, localiza-se na área rural do município de Rio Claro (Figura 01), estado de São Paulo. Segundo o censo de 2007 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE, 2008), o município possui uma população de 185.421 habitantes, e uma área territorial de 498 quilômetros quadrados, a 173 quilômetros da capital, tendo como municípios limítrofes, ao Norte: Corumbataí e Leme, ao Sul: Piracicaba e Iracemápolis, a Leste: Araras e Santa Gertrudes e a Oeste: Ipeúna e Itirapina.

A população rural de Rio Claro é de aproximadamente 4.741 pessoas, e de acordo com o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA, 1999, apud ISLER; OLIVEIRA, 2006). No município existem poucas propriedades com grandes extensões de terras e um grande número de pequenas e médias propriedades com pequenas extensões de terras. Uma análise feita da ocupação do solo agrícola mostra uma predominância das pastagens voltadas para a pecuária bovina (17.121 ha.) que representam 42,49% da área destinada à atividade rural no município. A segunda cultura que se destaca é a cana-de-açúcar (12.190 ha.) representando 30,13%, e as áreas ocupadas com eucalipto (3.500 ha.) ocupando a terceira posição com 8,68%, e as demais culturas representam 19,46% (ISLER; OLIVEIRA, 2006).

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Vinculada a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo, desde 1967, quando foi criada, vem trabalhando para o produtor rural, prestando serviços e oferecendo seus produtos. Mais detalhes em: http://www.cati.sp.gov.br/Cati/_principal/.

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Figura 01: Localização do Município de Rio Claro em relação ao Estado

de São Paulo

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O bairro rural de Itapé, onde localiza-se o objeto do estudo, o Sítio Novo Horizonte (Figura 02), localiza-se na porção noroeste do município de Rio Claro, SP, e possui aproximadamente 80 propriedades, ocupadas por aproximadamente 300 pessoas, segundo a Casa da Agricultura de Rio Claro. É abastecido pelo Rio Cabeça e o Rio Estiva, que pertencem a Bacia do Rio Corumbataí.

Figura 02: Localização do Sítio Novo Horizonte e área urbana do município de Rio

Claro – SP

A principal estrada que corta o bairro é a Estrada de Itapé, também conhecida popularmente como Antiga Estrada Rio Claro/Ipeúna. Está ligada a rodovia Washington Luís km 192 à cidade de Ipeúna, e possui uma ponte sobre o Rio Cabeça 1,5 km depois da rodovia.

Nos últimos dez anos, economia do Bairro de Itapé pode ser dividida duas grandes fases. A primeira que vai até 2004, tem a predominância do cultivo da laranja e na pecuária à criação semi-extensiva do gado de corte e de leite. Na segunda fase, de 2005 até o presente, o cultivo da cana-de-açúcar sobrepõe-se as demais atividades. A mudança repentina de 2004 pra 2005 se deve a precariedade

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infra-estrutural, mas antes da abordagem desse problema, será dado um destaque as potencialidades turísticas do bairro.

4.2 Potencialidades Turísticas do Bairro Itapé e Sitio Novo Horizonte

Ocupando uma área total de 1.372,41 hectares dentro do município de Ipeúna divisa com Rio Claro, o Horto Camacuã era administrado pela FEPASA3, que utilizava a grande quantidade de eucaliptos do local para fazer dormentes para suas estradas de ferro. O bairro Itapé abrange parte do horto, que com o tempo deixou de oferecer o eucalipto e ficou abandonado, o que permitiu o florescimento de espécies arbóreas nativas juntamente com as exóticas.

No local há fartura em recursos hídricos, contando com a presença de dois importantes rios da região, o Rio Cabeça que é afluente do Rio Corumbataí, e o Rio Ribeirão da Estiva. Devido à importância ecológica do primeiro a região foi legitimada como uma Área de Proteção Ambiental4 (APA) – Corumbataí. No seu perímetro, as cuestas basálticas compõem um cenário paisagístico de grande beleza, onde se destacam a Serra de São Pedro e Itaqueri, as quais não estão dentro do bairro Itapé, mas podem ser avistadas. Nos paredões que formam os degraus das cuestas, ainda restam trechos de mata original (cerrados e cerradões) e são comuns os testemunhos, morros isolados que a erosão esculpiu, formando um cenário peculiar na região. Ao pé das cuestas, estendem-se vales amplos e suaves, com presença das várzeas ao longo do curso dos rios.

Diante do contexto dos centros urbanos ao redor do bairro como, por exemplo, Rio Claro e São Carlos, onde a natureza pouco pode ser vivenciada, o bairro surge com grande potencial turístico ecológico. E como perspectiva de

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Ferrovia Paulista SA, foi uma empresa de estradas de ferro brasileira que pertencia ao Estado de São Paulo, embora sua malha se estendesse por Minas Gerais até Araguari, tendo também um ramal que terminava na cidade de Sengés, no Paraná. Foi extinta ao ser incorporada à Rede Ferroviária Federal no dia 29 de maio de 1998. Devido a necessidade de madeira para manutenção e construção das estradas, a empresa criou vários hortos a fim de utilizar a madeira dos mesmos e conter o desmatamento. Além do Horto Camacuã, a região de Rio Claro possui a Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade, antigo Horto de Rio Claro. Ver: TROPPMAIR, H. Rio Claro: Ontem e Hoje. Rio Claro: Editora Tribuna 2000 S/C, 2008.

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As áreas de proteção ambiental pertencem ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação, regulado pela Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. Mais detalhes em: http://www.ambiente.sp.gov.br/apas/corumbatai.htm.

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desenvolvimento econômico, o Assentamento Horto de Camacuã, que possui cerca de 50 famílias, investe desde 2007 no ecoturismo.

Porém a atividade turística na localidade surge com a iniciativa do sítio Novo Horizonte, de 34 ha., situado no bairro rural de Itapé no município de Rio Claro-SP, em implantar a atividade turística surgiu em 2000 devido à porcentagem de 70% da vegetação natural preservada. O proprietário do empreendimento, teve a iniciativa de abrir trilhas (Figura 03 e 04) na mata fechada mostrando a flora e a fauna, juntamente com as atividades de bovinocultura, piscicultura, silvicultura e apicultura que já desenvolvia.

Figura 03: Trilha do Sauá – Sitio Novo Horizonte.

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Figura 04: Trilha do Sauá – Sitio Novo Horizonte.

Fonte: Guilherme De Lucca

Com a proximidade dos remanescentes da cuesta e dos reflorestamentos velhos de eucalipto, os quais possuem sub-bosques e que se fundem com a vegetação nativa, tem-se na propriedade representantes do cerrado, de várzeas que protegem as nascentes e os mananciais, e da floresta latifoliada tropical semi-decídua que é a maior na reserva do Sítio. Essa floresta possui esse nome por ter espécies arbóreas com folhas largas, cuja folhagem cai em determinado período do ano fazendo uma relação com a sazonalidade.

É justamente por causa da exuberância e riqueza de atributos na flora da propriedade que ainda pode-se identificar a presença de 150 espécies de aves residentes ou migratórias. Há também, duas espécies de primatas, uma delas na lista dos animais em risco de extinção que a callicebus personatus nigrifrons, mais conhecido como sauá, que da nome a principal trilha do Sitio; e a outra espécie é a de callithrix penicillata (sagüi). Na propriedade já foram encontradas três espécies de felinos: o gato mourisco, a jaguatirica e a onça parda. Consta na lista dos

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ameaçados de extinção e que ainda pode ser visto no local o lobo guará, tamanduá mirim, veado catingueiro, quati, capivara, tatu peba e tatu galinha.

Apesar de tudo os demais moradores do bairro Itapé, assim como a maioria dos proprietários rurais brasileiros, não vem dando o valor necessário a natureza, aumentando as taxas de desmatamento. Essas áreas são desmatadas pelos proprietários visando nelas uma alternativa econômica, na medida em que abrem novas áreas para o plantio de cana ou formação de pastos.

O sítio Novo Horizonte buscou investir na diversidade de produção aliado aos conceitos de sustentabilidade ecológica. Com isso o turista que visita a propriedade, além de poder desfrutar da natureza, pode acompanhar o processo produtivo de diversos produtos e criações, criando um vínculo maior de conhecimento e vivência com o homem do campo.

4.3 Histórico da Atividade Turística e Dificuldades Encontradas

A atividade turística no Sitio Novo Horizonte obteve muito êxito e por quatro anos a atividade veio crescendo, e sobrepujou as demais atividades do Sítio, tendo como público alvo as escolas particulares (Figura 05), os cursinhos e as faculdades que usavam a propriedade rural para aulas práticas e pesquisas. Igrejas e grupo de amigos também freqüentavam o local.

Devido à demanda pela atividade turística, parcerias e planejamentos foram feitos para programas e atividades futuras, mas muitas não foram concretizadas por causa da dificuldade de acesso à propriedade, causada pela queda de uma ponte que ligava o Bairro Itapé ao município de Rio Claro, SP.

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Figura 05: Grupo de alunos em visita ao Sitio Novo Horizonte

Fonte: Silas Nogueira de Melo

Nos dias 29 e 30 de janeiro de 2005 o CEAPLA (Centro de Análise e Planejamento Ambiental) registrou 185,4 milímetros de chuva (Anexo C). Precipitação pluvial suficiente para arrebentar as comportas da Usina de Corumbataí e causar um transtorno na cidade de Rio Claro e região. Segundo o CEAPLA em 2005 tivemos a chuva mais forte dos últimos 38 anos, e as conseqüências foram diversas: casas destruídas, árvores caídas, ruas inundadas e pontes desestruturadas. Depois das chuvas os jornais da cidade contabilizaram sete pontes caídas no município, duas na zona urbana e cinco na zona rural. A ponte do bairro de Itapé (Figura 06) caiu dois dias após o temporal (02/02/05), afetando direta e indiretamente os residentes locais.

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Figura 06: Ponte de ligação Bairro Itapé – Rio Claro

Fonte: Carlos Alberto De Lucca

O acesso dos moradores a cidade foi dificultado, tendo os mesmos que buscar um caminho alternativo 40 km mais longo e de estrada em más condições, sendo muitas vezes inviável. Em 2006, com a situação ainda não resolvida, os proprietários se organizaram e tomaram uma medida paliativa, fizeram um aterro (Figura 07) do lado da antiga ponte sobre o Rio Cabeça (rio que abastece o local). O que não teve o efeito desejado, pois qualquer chuva as águas do rio transpassavam o aterro, além de estar prejudicando o leito do rio.

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Figura 07: Ponte de ligação Bairro Itapé – Rio Claro

Fonte: Silas Nogueira de Melo

A queda da ponte também causou um problema de ordem ambiental, pois os escombros da mesma serviram como barragem para a dinâmica do rio, amontoando um grande volume de vegetais e lixo antrópico ao redor das estruturas de concreto caídas sobre o curso de águas, e a vegetação nativa correu sérios riscos devido ao afogamento de suas raízes pelo assoreamento.

Diante do problema os moradores locais organizaram-se em parceria com o Sindicato Rural, Casa da Agricultura e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Rio Claro, reivindicando a reconstrução da ponte (Anexo D), junto a Prefeitura Municipal de Rio Claro e o Governo do Estado de São Paulo, através de cartas e documentos (abaixo-assinado) (Anexo E). Porém, as reivindicações não tiveram êxito e a ponte permaneceu intransitável durante três anos (2005, 2006 e 2007), afetando 80 propriedades, nesse mesmo período.

No dia 17 de dezembro de 2007, a reconstrução da ponte (Figura 08) foi concretizada. Mas no período que permaneceu inutilizada, muitas mudanças socioeconômicas aconteceram no bairro.

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Figura 08: Ponte de ligação Bairro Itapé – Rio Claro, após sua reconstrução

Fonte: Silas Nogueira de Melo

Com a reconstrução da ponte (Anexo F) a atividade turística voltou a emergir aos poucos, através de grandes esforços de divulgação, novas visitas foram sendo agendadas.

4.4 Impactos da Queda da Ponte na Atividade Turística

Como a atividade desenvolvida na propriedade estudada pode ser intitulada como turismo pedagógico, e que para sua eficiência didática necessita de planejamento conjunto entre as escolas visitantes, os proprietários e de outros setores, como por exemplo, as empresas de ônibus, que prestam o serviço de transporte aos visitantes, foram feitas reuniões com corpos diretivos das escolas, docentes e discentes, onde haviam sido elaborados programas personalizados para cada classe visitante. Com a idéia de mostrar no sítio um estilo de vida para o homem no campo e a aplicação dos conhecimentos acadêmicos nessa modalidade de vida, buscando realçar o valor dos recursos naturais e as possibilidades de

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manejo ambientalmente corretos e socialmente justos, atingindo o máximo dos resultados quando os jovens visitantes manifestassem o seu sentimento crítico sobre o espaço urbano e o espaço rural.

As escolas envolvidas eram dos municípios de Porto Ferreira, Pirassununga, Leme, Araras, Santa Gertrudes, Cordeirópolis, Piracicaba, Campinas e São Paulo com uma programação de cinqüenta estudantes por dia para atender a capacidade efetiva de carga com fins didáticos. Criaram-se então muitas expectativas, e dessa forma, além dos prejuízos financeiros causados, foi imensurável as frustrações das escolas e dos estudantes ao ter que cancelar o dia de campo. Todo prejuízo foi causado, segundo o proprietário, pela demora na reconstrução da ponte.

Com a reconstrução da ponte apenas com três anos depois, desorganizou-se todo o público visitante, gerou desemprego dos envolvidos diretamente com o projeto e deixou envelhecer parada uma estrutura que teve muito custo para o pequeno produtor.

4.5 Impactos da Queda da Ponte nas Demais Propriedades

Nesse tópico utilizou-se dados do LUPA (Levantamento Cadastral das Unidades Produtivas Agropecuárias) para quantificar os impactos causados pela queda da ponte em outras três propriedades. Dessa forma, foram escolhidas propriedades com tamanhos diversificados que desenvolvem ou desenvolviam diferentes atividades e que foram diretamente afetadas pela ponte.

Em 1999 na menor das propriedades (Sítio Mato Bom), de 5,4 ha., residia um casal de aposentados que desenvolvia 1 ha. de culturas temporárias: milho e arroz. A propriedade era ocupada por 1 há. de vegetação natural, 1 ha. de área complementar (casa, galpão e horta), 0,4 ha. de pomar e 2 ha. de pastagens onde havia gado para leite. O proprietário era sindicalizado, dispunha de assistência técnica oficial, fazia conservação do solo e utilizava sementes melhoradas. De acordo com o ultimo censo em 2007, a propriedade ainda pertencia ao mesmo proprietário, mas a família não residiam mais na propriedade e sim na cidade. Na propriedade a área de vegetação natural caiu para 0,4 ha., e as pastagens subiram para 5 ha. Não foi constado a presença da casa e nem animais, somente do barracão.

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A segunda propriedade que selecionada (Fazenda Santo Antônio) possui dimensões mais significativas: 60,4 ha., e seu proprietário possui outras atividades além das rurais. Esse pode ser um dos motivos de ela não ter sido tão afetada no decorrer dos anos, porém pode-se notar uma mudança de estratégia econômica. Em 1999 possuía 83 cabeças de gado, no qual 15 era para leite e o restante para corte, em 2007 eram 90 cabeças de gado todas para corte. A mudança se deve ao fato do leite precisar ir para cidade diariamente, com o aumento do percurso até a cidade, a atividade leiteira ficou inviável. Mesmo sem grandes prejuízos aparentes, de acordo com o LUPA (2007) a participação da agropecuária na renda familiar decresceu 10%.

A terceira propriedade, a de maior extensão, com uma área de 84,7 ha. (Sítio Silva Bueno), tem na bovinocultura a principal fonte de renda, da qual a familia do proprietário depende inteiramente. Em 1999 a propriedade possuía 22 cabeças de gado misto, eucalipto em 10,2 ha. e 10 ha. de cultura temporária, horta e pomar, onde fazia adubação orgânica e mineral. O restante da área estava dividido em vegetação natural, área complementar (barracão, curral, depósito e casa) e pastagem. Em 2007 o proprietário manteve o mesmo número de cabeças de gado, todo destinado ao corte, utilizando o leite apenas para consumo próprio. Na bovinocultura, a renda caiu 50%, e o proprietário parou de plantar e arrendou metade de suas terras para as usinas canavieira.

De acordo com a pesquisa pode-se inferir que os pequenos proprietários foram os que tiveram maiores prejuízos, pois diante da impossibilidade de se reproduzirem socialmente devido à falta de escoamento dos produtos e dificuldade de locomoção, mudaram-se para cidade. Já os médios proprietários conseguiram permanecer no local devido a rendas vindas da pluriatividade, mas com prejuízos consideráveis.

4.6 A Reinserção das Propriedades com o Novo Acesso

A mais de um ano da reconstrução da ponte no bairro Itapé, pode-se notar que os proprietários reinseriram-se no mercado com produções diferentes, devido ao período sem acesso. Houve uma mudança significativa da criação de gado, tanto de corte como de leite, e plantio de laranja para o plantio de cana-de-açúcar. De acordo com o LUPA de 2007, a produção de cana aumentou não somente no bairro

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estudado mas como em todo município rio-clarense, enquanto que as demais culturas decresceram ou então ficaram estagnadas.

É possível verificar que houve uma mudança no perfil das propriedades ativas, pois elas agora são maiores. As unidades menores foram vendidas ou arrendadas para as usinas canavieiras durante o período sem a ponte, com raras exceções. Com o novo acesso começam a emergir pequenas propriedades familiares residentes no bairro, porém as médias propriedades representam a maior parcela de propriedades do local.

As propriedades pluriativas, por possuírem uma maior diversidade de alternativa econômica, além de enfrentarem a crise de infra-estrutura com mais segurança que as não pluriativas, são as que possuem uma recuperação economica mais significativa. Isso tudo devido a maior flexibilidade da família pluriativa, com a possibilidade de mesclar trabalhos agrícolas com não-agrícolas dependendo da necessidade da reprodução social familiar.

A propriedade estudada está se reinserindo no mercado turístico aos poucos. Os moradores criaram uma comissão de divulgação do trabalho que já havia sendo feito, chamado Projeto Pura Vida, que é a recepção dos visitantes no sítio para o ecoturismo e o agroturismo, com finalidades pedagógicas. Assim, a divulgação vem sendo feita em escolas de ensino fundamental, médio e superior; escolas técnicas e cursinhos da região. Aproveitando as tecnologias da atualidade, houve um investimento na criação de um site da propriedade5, visando a divulgação do trabalho à turistas mais distantes.

Consciente de que estava passando por um momento frágil, o proprietário recorreu a novas parcerias e fortaleceu as já existentes. Foram feitas parcerias com instituições de ensino superior, no caso a UNESP, para o fornecimento de alunos das mais diversas ciências que trabalham no projeto como estagiários e monitores. Também foi realizada uma parceria com a TBG6, que forneceu material didático para os turistas, e reformou as trilhas de acordo com as normas legais e os materiais

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Ver: http://www.projetopuravida.com/. 6

É a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A., proprietária e operadora no Brasil do maior gasoduto da América Latina, a qual passa pelo bairro Itapé e nos fundos da propriedade estudada. Transporta e comercializa o gás natural que vem da Bolívia, efetuando a entrega às Companhias Distribuidoras de cada Estado, detentoras da concessão de distribuição. Mais detalhes em: http://www.tbg.com.br/portalTBGWeb/tbg.portal.

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adequados para a segurança do visitante. Uma pequena empresa de amigos da família destinou uma verba para confecção de folders ilustrados do sítio, com intuito de patrocinar a divulgação do turismo.

Em suma, as propriedades em geral vêm se integrando aos mercados locais graças à nova ponte que permitiu um acesso eficaz. Não obstante, haja um tempo para essa integração, o sítio Novo Horizonte vem acelerando esse processo graças às parcerias e esforços de divulgação do turismo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, pode-se perceber o quanto uma boa infra-estrutura é importante para o sucesso de qualquer atividade rural e para que a população local tenha as mínimas condições de deslocamento, moradia e trabalho. A falta dela gera uma insatisfação na população afetada justamente por diminuir os fluxos.

Pode-se inferir que há um movimento contrário de mobilidade das unidades que desenvolvem atividades turísticas com as demais unidades, pois enquanto as turísticas necessitam do acesso para que o turista venha até ela, às demais necessitam do acesso para o escoamento de seus produtos ou movimento pendular de trabalho. Durante o período sem acesso, ambas as unidades ficam estagnadas e inviáveis. Porém com a reconstrução do mesmo a propriedade turística demora a atingir a demanda ideal, enquanto a propriedade comum pode retornar o fluxo normal. Mas essa premissa só é válida se considerarmos que durante o período sem acesso, as propriedades comuns não foram afetadas perdendo seus mercados consumidores e empregos, o que é muito difícil.

O turismo em áreas rurais pode ser uma boa estratégia para o implemento da renda da população de uma localidade, gerando benefícios tanto para os envolvidos diretamente como indiretamente envolvidos com a atividade, podendo contribuir para a permanência das famílias no campo e o desenvolvimento local. Porém para que possa contribuir para o desenvolvimento local, é necessário que os poderes públicos colaborem com a atividade, incentivando-a e investindo na infra-estrutura para que a atividade tenha condições de se desenvolver e assim passe a beneficiar a comunidade local como um todo, através de benfeitorias e da atração de pessoas que poderão aquecer e movimentar a economia local.

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A atividade turística não é uma atividade voltada para população local, embora seus benefícios sejam para elas. Diante disso, é preciso que a propriedade que desenvolve o turismo rural disponibilize de uma rede de acessos bem arquitetada. Contudo, se os poderes públicos agirem com descaso frente às dificuldades encontradas para o desenvolvimento da atividade turística na área rural, como foi o caso desse estudo, esta tende a desaparecer.

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