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A produção rural familiar em Goiás: as comunidades rurais no município de Catalão

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(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE

ESTEVANE DE PAULA PONTES MENDES

A PRODUÇÃO RURAL FAMILIAR EM GOIÁS:

as comunidades rurais no município de Catalão

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

PRESIDENTE PRUDENTE 2005

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ESTEVANE DE PAULA PONTES MENDES

A PRODUÇÃO RURAL FAMILIAR EM GOIÁS:

as comunidades rurais no município de Catalão

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, como requisito para a obtenção do título de Doutora em Geografia.

Área de Concentração: Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental

Orientadora: Prof.ª Dra. Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol

Co-orientador: Prof. Dr. João Cleps Júnior

PRESIDENTE PRUDENTE 2005

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Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação – UNESP – FCT – Campus de Presidente Prudente

M49p Mendes, Estevane de Paula Pontes.

A Produção rural familiar em Goiás: as comunidades rurais no município de Catalão (GO) / Estevane de Paula Pontes Mendes. – Presidente Prudente: [s.n.], 2005

294: il., fig. + mapas

Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia

Orientador: Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol Co-orientador: João Cleps Júnior

1. Geografia. 2. Produção familiar. I. Mendes, Estevane de Paula Pontes. II. Hespanhol, Rosângela Aparecida de Medeiros. III. Cleps Júnior, João. III. Título.

CDD (18.ed.) 910 Capa: REZENDE, Silmalene Maria. Fazendinha. 2002. Óleo sobre tela. 40 cm x 50 cm.

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TERMO DE APROVAÇÃO

ESTEVANE DE PAULA PONTES MENDES

A PRODUÇÃO RURAL FAMILIAR EM GOIÁS:

as comunidades rurais no município de Catalão

Tese aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de doutor em Geografia, da Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, pela seguinte banca examinadora:

Co- Orientador Prof. Dr. João Cleps Júnior

Profª. Dra. Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira

Prof. Dr. Bernardo Mançano Fernandes

Profª Vera Mariza Henriques de Miranda Costa (UNIARA)

Prof. Dr. Elpídio Serra (UEM)

Presidente Prudente (SP), 15 de setembro de 2005.

Faculdade de Ciências e Tecnologia Seção de Pós-Graduação

Rua Roberto Simonsen, 305 CEP 19060-900 Presidente Prudente (SP) Tel (18) 229-5352 fax (18) 223-4519 posgrad@prudente.unesp.br

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Para

Meu esposo, Idelvone e Meus pais, Antônio e Valdívia

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AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho envolveu diretamente a colaboração direta de muitas pessoas. Aqui manifestamos nossa gratidão a todas elas e de forma particular:

A minha Orientadora, Profª. Dra Rosângela Aparecida Medeiros Hespanhol e ao Co-orientador, Prof. João Cleps Júnior, que acompanharam a concepção e o direcionamento deste trabalho;

Ao Prof. Dr. Idelvone Mendes Ferreira e Prof. Dra Maria Imaculada Cavalcante pelas leituras e críticas dos textos originais, contribuindo para a elaboração final do trabalho;

Ao meu sobrinho, Bruno Pontes Caixeta, pelo auxílio na formatação dos dados numéricos;

À Profª. Dra. Alba Regina Azevedo Arano, pelas sugestões e orientações apresentadas no Exame de Qualificação;

À Profª. Ms. Ademilde Fonseca, pelas correções de Português e pela amizade;

Ao Prof. Ms. Ronaldo da Silva pela tradução do Resumo; Aos meus pais, pelo incentivo e apoio;

Aos amigos, Macô, Dê, Soninha, Kênia, Elismar, Marta, Zelinda, Lívia e Margarida, pela amizade e incentivo não apenas para realização deste;

À Profª Dra. Vera Lúcia Salazar Pessoa pelo incentivo;

À Poliane Maria da Silva Duarte que me acompanhou na realização do trabalho de campo;

Aos colegas Professores do Curso de Geografia do Campus de Catalão/UFG, em especial aos Professores José Henrique R. Stacciarini e João Donizete Lima;

Aos colegas do Curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, em especial, Márcia, Ângela, Maria Cleide, Márcio, Paulo e Edson;

Aos Professores do Curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente;

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À Universidade Federal de Goiás – Campus de Catalão;

A Agência Rural Goiana – Unidade Catalão, principalmente, ao Engenheiro Agrônomo Vilmar Eustáquio da Silva;

À Secretaria Municipal de Saúde de Catalão;

Aos moradores das comunidades rurais pesquisadas; Aos Agentes Comunitários Rurais de Saúde de Catalão;

Ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Regional Catalão.

À COPIAR - Copiadora e Gráfica Rápida, pela qualidade do serviço de impressão deste trabalho;

Finalmente, àqueles que, indiretamente, também, contribuíram para a realização deste trabalho.

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Falar de agricultura familiar e, como conseqüência, utilizar a noção de unidade familiar como unidade de produção, consumo e convívio é algo por demais difícil e polêmico; é adentrar por um terreno movediço, um campo de discussões e análises que manifesta ambigüidades, ambivalências, heterogeneidades e especificidades.

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RESUMO

A agricultura brasileira apresenta desigualdades e especificidades regionais, justificando a diversidade de suas condições de desenvolvimento, no que diz respeito à produção rural familiar. Esse segmento de produtores dispõe de condições desvantajosas para viver, produzir e comercializar seus produtos, principalmente quando comparada à agricultura empresarial moderna. Suas condições de sobrevivência foram agravadas, sobremaneira, com a expansão do modelo de acumulação flexível. A condição de instabilidade desses produtores tem refletido, também sobre a população urbana, uma vez que não possibilita o rebaixamento dos preços dos gêneros alimentícios básicos. Em face do reconhecimento da importância da produção rural estruturada no trabalho familiar para a agricultura e para a sociedade, contribuindo para amenizar os problemas sociais e econômicos e da intensidade das diferenças apresentadas pela ruralidade brasileira, as proposições a respeito sugerem que as análises devem ser pensadas como uma tendência geral, porém, tornam-se necessários estudos localizados. Nesse sentido, o estudo propõe compreender e analisar o contexto em que surgiram e desenvolveram os pequenos produtores na sociedade brasileira e suas possibilidades de reprodução na atual conjuntura, particularmente, no município de Catalão, Estado de Goiás. Assim, como conhecer a diversidade de estratégias adotadas por esse segmento de produtores, contribuindo com os trabalhos que vêm sendo realizados para aprofundar os conhecimentos sobre a produção rural estruturada sobre o trabalho familiar e suas possibilidades de desenvolvimento social e econômico. Como terreno empírico para o estudo da produção rural familiar escolheu-se quatro comunidades rurais no município de Catalão (GO). Para a execução do trabalho foram efetuados, além da revisão da literatura, levantamento, sistematização, análise e representação de dados e informações de fonte primária e secundária. A pesquisa de campo foi realizada entre os anos de 2003, 2004 e 2005, nas seguintes comunidades rurais: Comunidade Coqueiro, Comunidade Mata Preta, Comunidade Ribeirão e Comunidade Morro Agudo/Cisterna, sendo aplicados um total de 79 roteiros de entrevistas e 15 entrevistas com os produtores rurais. As características mais marcantes da pesquisa nas comunidades rurais assentam-se nos poucos recursos humanos e técnicos, na busca da valorização do seu potencial produtivo (terra, trabalho e equipamentos simples) e na ausência, na maioria dos casos, de qualquer planejamento sobre: o que, como e o quanto produzir, qual a oferta e a demanda local. Dessa forma, as particularidades apresentadas pelos estabelecimentos familiares, como os vínculos de proximidade, a multifuncionalidade e as diversas competências têm respondido de forma decisiva para a reprodução ampliada desses produtores rurais. Porém, impõe-se a preocupação com a qualidade de vida dessas famílias, principalmente com a geração de jovens produtores que estruturam sua existência sob condições de privações e insegurança quanto ao seu futuro.

Palavras-chave: Produção rural familiar. Questões teóricas metodológicas. Comunidades rurais. Diversidades sócio-econômicas. Catalão (GO).

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ABSTRACT

Brazilian agriculture shows unequality and regional different features, this justify its developing conditions in many ways, as for the rural familiar production. This segment of growers face disadvantage conditions in their lives – to plant and trade their product - when compared to the modern agribusiness. Their living conditions became worse on account of the flexible accumulation expansion. Grower’s instability has an effect on the urban population because of their need of basic food supplies in lower cost but, the prices have not gone down. It is recognized that structured rural production at families work is important to the agriculture and society as a whole, due to its decisive contribution to helping solving social and economical problems. Although researches points out some general trends in agriculture, it is necessary to promote case studies provided that Brazilian countryside is far different and unequal in its national configuration. So, this study proposes to comprehend and analyze the context in which the small productors were developed at Brazilian Society and their possibilities of reproduction at present conjunction, specially, at Catalão (GO). Thus, how to know the strategies diversity applied by this segment of growers, hoping to contribute to the researches which has been made so far, in order that more knowledge may be created about rural production structured upon familiar work and its possibilities to the social-economical development. Four rural communities were chosen to the empirical study in Catalão (GO). To building this research, many sources were used, besides the literature review, there were systematization, analyses and data representation and information based on first and second sources. This empirical studies were developed during the years of 2003, 2004 and 2005 in the following rural communities: Coqueiro Community, Mata Preta Community, Ribeirão Community and Morro Agudo/Cisterna Community, 79 interviews in brief and 15 complete interviews were conducted with the rural planters. The most impressing features found by the research in the communities are their few human and technical resources, their fight for valuating their productive potential (land, labor, and ordinary working tools) and the absence, in most of the cases, of any kind of planning about: what, way and the amount of production, what might be the local supply and demand. In this way, the peculiarities shown by the familiar properties such as proximity, several functions performed, and diverse competences have answered decisively so that the amplified reproduction of these growers can occur. Although, something still worries as for the quality of life for theses families, it concerns the formation of new young farmers who build their lives under conditions of deprivation and uncertainty about their future.

Key words: Rural familiar production. Theoretical and methodological questions. Rural communities. Social-economical diversities. Catalão (GO).

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LISTA DE FIGURAS

1 Região Centro-Oeste: Mapa Político - 2005 ... 118

2 Abrangência geográfica das áreas contínuas e isoladas do cerrado no Brasil, antes do processo de ocupação antrópica - 1960 ... 123

3 Localização da Microrregião Geográfica de Catalão, Estado de Goiás - 2005 ... 153

4 Município de Catalão (GO): localização das comunidades rurais - 2005 ... 154

5 Catalão (GO): Planta Urbana - 2005 ... 155

6 Comunidade Coqueiro - Catalão (GO): casa construída no início do século XX ... 173

7 Comunidade Coqueiro - Catalão (GO): atual Igreja dos Coqueiros – 2003 ... 179

8 Comunidades Coqueiro e Ribeirão - Catalão (GO): produção de polvilho – 2003 ... 200

9 Comunidade Ribeirão - Catalão (GO): produção integrada agricultura/pecuária leiteira. Em destaque, a ordenha mecanizada – 2003 ... 204

10 Comunidade Coqueiro - Catalão (GO): cultivo de feijão e, ao fundo, repolho (com uso de irrigação) – 2003 ... 207

11 Comunidade Morro Agudo/Cisterna - Catalão (GO): cultivo de alho - 2003 ... 207

12 Comunidade Coqueiro - Catalão (GO): cultivo de palmito pupunha – 2003 ... 208

13 Comunidade Mata Preta - Catalão (GO): cultivo de feijão, ao fundo, alho e Milho – 2003 ... 208

14 Comunidade Ribeirão - Catalão (GO): cultivo de cebola. Em destaque, ao fundo, pivô central – 2003 ... 210

15 Comunidade Coqueiro - Catalão (GO): pulverização manual de hortaliças. Em destaque, agricultor sem equipamento de proteção adequado – 2000 ... 219

16 Comunidade Morro Agudo/Cisterna - Catalão (GO): local de depósito de embalagens de defensivos – 2005 ... 220

17 Comunidade Coqueiro - Catalão (GO): habitação rural – 2005 ... 237

18 Comunidade Ribeirão - Catalão (GO): habitação rural – 2005 ... 237

19 Comunidade Morro Agudo/Cisterna - Catalão (GO): habitação rural – 2005 ... 238

20 Comunidade Mata Preta - Catalão (GO): demão na colheita de arroz – 2005 ... 243

21 Comunidade Morro Agudo/Cisterna - Catalão (GO): Vila Açucena – 2005 ... 245

22 Comunidade Morro Agudo/Cisterna - Catalão (GO): limpeza do alho – 2003 ... 247 23 Feira na Praça Duque de Caxias - Catalão (GO): hortaliças comercializadas - 2004 251 24 Feira na Praça Duque de Caxias - Catalão (GO): variedade de produtos

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comercializados (doces, biscoitos e outros produtos) – 2004 ... 252 25 Feira na Praça Duque de Caxias - Catalão (GO): aguardente e polvilho doce, ao

fundo, guariroba (palmito) – 2004 ... 252 26 Feira na Praça Duque de Caxias - Catalão (GO): comercialização de frango caipira,

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LISTA DE TABELAS

1 Estado de Goiás: evolução absoluta e relativa da população - 1960 - 2000 ... 131 2 Município de Catalão (GO): estrutura fundiária - número de estabelecimentos

segundo a extensão – 1995-1996 ... 146 3 Município de Catalão (GO): evolução da população urbana e rural - 1960, 1970,

1980, 1991, 1996 e 2000 ... 147 4 Município de Catalão (GO): culturas temporárias e permanentes - 1991, 1996, e

2000 ... 149 5 Município de Catalão (GO): utilização de insumos na produção agrícola –

1995-1996 ... 150 6 Município de Catalão (GO): máquinas, meios de transporte e instrumentos

agrícolas – 1995-1996 ... 150 7 Município de Catalão (GO): dados gerais da produção animal e de leite –

1994, 1998 e 2002 ... 151 8 Município de Catalão (GO): estabelecimentos de produção dos derivados de leite

por categoria e capacidade industrial sob inspeção federal – 2003 ... 152 9 Catalão (GO): principais indústrias de mineração e capacidade instalada – 2004 ... 160 10 Comunidades rurais em Catalão (GO): diferenciação da produção/produtores –

2003 ... 198 11 Município de Catalão (GO): produção de alho - 1980, 1991, 1996, 1999 e

2001 - 2004 ... 211 12 Comunidades rurais em Catalão (GO): população jovem – perspectivas de

permanência - 2003 ... 229 13 Comunidades rurais em Catalão (GO): composição média das famílias nos

municípios selecionados - 1997 e 2005 ... 232 14 Comunidades rurais em Catalão (GO): escolaridade dos filhos dos produtores -

(14)

LISTA DE GRÁFICOS

1 Município de Catalão (GO): distribuição das propriedades rurais por área (ha) -

1980, 1990 e 1995 –1996 ... 145 2 Município de Catalão (GO): evolução da população urbana e rural - 1960, 1970,

1980, 1991, 1996 e 2000 ... 148 3 Goiás e município de Catalão (GO): participação das principais atividades no

PIB – 2000 ... 162 4 Município de Catalão (GO): participação das principais atividades no PIB – 2000 .... 162 5 Comunidades rurais em Catalão (GO): formas de acesso à propriedade fundiária –

2003 ... 192 6 Comunidades rurais em Catalão (GO): utilização de insumos agrícolas,

maquinário e assistência técnica – 2003 ... 217 7 Comunidades rurais em Catalão (GO): uso de crédito agrícola - 2002 – 2003 ... 223 8 Comunidades rurais em Catalão (GO): taxa média de filhos nas famílias dos

produtores - 2005 ... 227 9 Comunidades rurais em Catalão (GO): relação entre os filhos dos produtores

que moram no meio rural e os que migraram – 2003 ... 228 10 Comunidades rurais em Catalão (GO): migrações da população em % – 2005 ... 230 11 Comunidades rurais em Catalão (GO): idade média dos produtores em % - 2005 .... 231 12 Comunidades rurais em Catalão (GO): propriedades administradas pelo

proprietário e o cônjuge ou pelo proprietário e seu filho em % – 2003-2005 ... 232 13 Comunidades rurais em Catalão (GO): atividades dos filhos dos produtores - 2003 233 14 Comunidades rurais em Catalão (GO): escolaridade dos produtores – 2003 ... 235 15 Comunidades rurais em Catalão (GO): automóvel, energia elétrica, rádio e

telefone em % – 2005 ... 240 16 Comunidades rurais em Catalão (GO): contratação de mão-de-obra

assalariada temporária (MAT), venda e troca de serviços em % - 2003 ... 242 17 Comunidades rurais em Catalão (GO): formas de organização social – 2003 ... 249

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

1 AGR - Agência Goiana Rural

2 Alq. – Medida de superfície usada nos Estados de Minas Gerais e Goiás e que corresponde a 48.400m²

3 ASPAC - Associação dos Produtores de Alho de Catalão 4 BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Social 5 CAI - Complexo Agroindustrial

6 CAIs - Complexos Agroindustriais 7 CEASA - Central de Abastecimento

8 CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais 9 CESUC - Centro de Ensino Superior de Catalão 10 CNA - Confederação Nacional da Agricultura

11 COACAL - Cooperativa Agropecuária de Catalão Ltda 12 CREA - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia 13 DAP - Declaração de Aptidão

14 DI - Departamento produtor de bens de capital 15 DII - Departamento produtor de bens de consumo 16 DIMIC - Distrito Mineroindustrial de Catalão

17 DIQUIC - Distrito Químico e de Fertilizantes de Catalão 18 EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural 19 EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 20 FAEG - Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Goiás

21 FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação 22 FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador

23 FCA - Ferrovia Centro-Atlântica

24 FCO - Fundo Constitucional do Centro-Oeste 25 FMI - Fundo Monetário Internacional

26 ha - hectare (medida de superfície correspondente à 100 ares, ou seja, 10.000m²) 27 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

28 IDH - Índice de Desenvolvimento Humano (ONU) 29 IDH-M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 30 INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

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31 JIT - Just-in-time/produção-a-tempo 32 NPK - Nitrogênio, Fósforo e Potássio 33 ONGs - Organizações não-Governamentais 34 pH - Potencial de Hidrogênio

35 PIB - Produto Interno Bruto

36 PLANAF - Plano Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 37 PND - Programas Nacionais de Desenvolvimento

38 PNRA - Plano Nacional de Reforma Agrária

39 PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 40 POLOCENTRO - Programa de Desenvolvimento dos Cerrados 41 PROAGO - Programa de Garantia da Atividade Agropecuária

42 PRODECER - Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados

43 PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 44 RSP - Relações Sociais de Produção/trabalho

45 SEPLAN - GO - Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento de Goiás 46 SNCR - Sistema Nacional de Crédito Rural

47 SUS - Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 17

2 QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PRODUÇÃO RURAL FAMILIAR ... 26

2.1 O contexto da questão agrária na expansão do modelo de produção capitalista 28 2.2 A ruralidade brasileira e suas definições ... 43

2.3 A pequena produção rural no Brasil e suas perspectivas ... 51

2.4 A estrutura da unidade de produção rural familiar ... 60

3 AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO AGRÁRIO BRASILEIRO: dos primórdios de sua organização à agricultura moderna ... 65

3.1 O desenvolvimento da agricultura na economia brasileira e o estabelecimento de sua estrutura socioespacial ... 68

3.2 A lei de terras de 1850 e suas implicações socioespaciais ... 87

3.3 As condições históricas de desenvolvimento da pequena produção rural no Brasil ... 97

3.4 As mudanças nos processos produtivos rurais dos anos 1970 e seus reflexos sobre a propriedade e as relações sociais de trabalho ... 105

4 AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DE GOIÁS ... 115

4.1 A estrutura agrária goiana e o processo de concentração fundiária ... 117

4.2 A importância da Lei de Terras para Goiás ... 132

4.3 A conversão da economia rural agrária em economia urbana em Goiás (século XVIII ao XX) ... 136

4.4 As transformações agrárias e a concentração fundiária em Catalão ... 143

4.5 Localização da área de estudo ... 153

4.6 Caracterização socioeconômicas de Catalão ... 156

5 A INSERÇÃO SOCIOECONÔMICA DA PRODUÇÃO RURAL FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE CATALÃO ... 164

5. 1 A trajetória da pesquisa empírica ... 167

5.2 A constituição da história através da reprodução do patrimônio sociocultural . 171 5.3 Características socioeconômicas da produção rural familiar no município de Catalão ... 182

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5.3.2 A origem das propriedades e a transmissão do patrimônio familiar ... 190

5.3.3 O uso da terra e a diversificação da produção ... 194

5.3.4 O nível técnico e a política de crédito ... 215

5.3.5 As estratégias de reprodução familiar ... 226

5.3.6 O nível de escolaridade e condições de vida dos produtores ... 234

5.3.7 As características do trabalho familiar ... 240

5.3.7.1 O trabalho das mulheres da Vila Açucena ... 245

5.3.8 As formas de organização social dos agricultores ... 248

5.3.9 A importância das feiras livres para as comunidades rurais ... 250

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 256

REFERÊNCIAS ... 263

ANEXOS ... 283

ANEXO A - Roteiro de entrevista com a Agência Goiana Rural ... 284

ANEXO B - Roteiro de entrevista com o Agente de Saúde ... 286

ANEXO C - Entrevistas com moradores mais antigos ... 287

ANEXO D - Roteiro de entrevista com os produtores rurais ... 288

ANEXO E - Roteiro de entrevista com os filhos dos produtores ... 291

ANEXO F - Roteiro de entrevista com os trabalhadores rurais ... 292

(19)

1

INTRODUÇÃO

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1 INTRODUÇÃO

As unidades de produção rural, estruturadas no trabalho familiar, têm sua origem histórica vinculada à história do regime colonial. Desenvolveram-se subordinadas a uma estrutura concentrada da propriedade da terra e dos mercados no Brasil e não foram eliminadas pelas transformações dos processos produtivos, ocorridos a partir dos anos de 1960, como resultado da expansão do capitalismo no campo. A inserção da produção rural familiar nas relações sociais capitalistas, suas reorganizações, rupturas e reprodução, a associação entre família, terra e trabalho evidenciam a heterogeneidade dos processos que permitem sua integração na sociedade contemporânea e, ainda, as diferenciações e diversidades que compõem esse segmento de produtores.

O contexto da modernização tecnológica agravou, ainda mais, suas condições de sobrevivência devido à crescente monetarização das relações, como mercado de insumos oligopolizado, elevando os custos de produção, mercado monopsônico, reduzindo os ganhos dos produtores; a saturação do mercado de trabalho (porém com remunerações mais elevadas), dificultando a complementação dos rendimentos e/ou a contratação temporária de ajudantes. Soma-se a isso, os critérios creditícios voltados para grandes produtores, especializados e o mercado de terras concentrado.

O objetivo desta pesquisa é compreender e analisar o contexto em que surgiram e se desenvolveram os pequenos produtores rurais na sociedade brasileira e suas possibilidades de reprodução na atual conjuntura, particularmente, no município de Catalão, Estado de Goiás. Além disso, a pesquisa busca conhecer a diversidade de estratégias adotadas por esse segmento de produtores, contribuindo com os estudos que vêm sendo realizados no sentido de possibilitar o aprofundamento dos conhecimentos sobre a produção rural familiar e suas possibilidades de desenvolvimento social e econômico no espaço rural.

A partir da década de 1970, a agricultura brasileira foi submetida a consideráveis transformações, envolvendo diversos aspectos, como relações de trabalho, padrão tecnológico, distribuição espacial da produção, relações intersetoriais – com a formação dos chamados Complexos Agroindustriais (CAIs) – subsídios e demais intervenções estatais. O caráter socialmente excludente dessas transformações, viabilizado pelas políticas agrícolas e agrárias, alterou significativamente o nível tecnológico das explorações, no entanto, ampliou a concentração da propriedade da terra, provocando,

(21)

conseqüentemente, a expressiva expulsão do trabalhador rural e/ou impedindo a continuidade da profissão paterna (migração de parte da família).

O que importa ressaltar desse processo é a distribuição regressiva da renda e o acesso limitado dos pequenos produtores aos benefícios promovidos pelas transformações nos processos produtivos no meio rural brasileiro. Outro ponto importante refere-se ao aumento do trabalho assalariado, principalmente o temporário, em detrimento às formas de trabalho familiar (parceria, meeiro) subordinadas diretamente à grande propriedade.

As principais divergências sobre esse processo dizem respeito aos efeitos e à amplitude dessa transformação estrutural pelos setores, produtos e agricultores. Diante disso, emergem questões importantes para a análise do lugar da produção rural familiar no processo de modernização, como: em que grau e de que maneira este setor foi atingido? E qual o espaço atual deste setor no contexto em que se encontra inserido? Não obstante, reconhece-se que o padrão tecnológico adotado e difundido não é adequado e/ou acessível às necessidades da pequena produção rural familiar, uma vez que suas características estruturais, como limitada disponibilidade de terras para uso de máquinas, condições naturais adversas, policultura, poucos recursos para investimento e o tamanho da família, dificultam a modernização tecnológica dessas unidades.

Além das dificuldades quanto ao aparato tecnológico disponível, considerando que as grandes máquinas e equipamentos revelam a valorização de maiores escalas produtivas, acrescenta-se que o sistema creditício, a pesquisa e a extensão rural são direcionados, em sua maioria, para agricultura empresarial moderna. Entretanto, embora os elementos estruturais impedissem que o segmento de pequenos agricultores fosse beneficiado pelo processo, a dinâmica do capital, através da abertura de mercado e dos mecanismos de financiamento, tem pressionado os pequenos agricultores a modernizarem-se tecnologicamente. Porém, essa modernização não é contemplada de forma homogênea pelas unidades de produção rural familiar local/regional. Pressupõe-se também, que o conjunto de conhecimentos práticos e não formais são importantes na determinação das estratégias produtivas e para a geração de renda.

Diante desse contexto, tem sido uma constante a adoção de diferentes estratégias sociais e econômicas pelas unidades de produção rural familiares, que têm viabilizado sua inserção socioeconômica e reprodução ampliada local/regional. Esse segmento, que se reproduz na sociedade moderna, foi forçado a adaptar-se frente a um novo contexto socioeconômico, definido pelas transformações local/regional/nacional do

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mercado e pela cultura urbana. A racionalidade produtivista impõe modificações importantes em sua forma de produzir e em seu estilo de vida como único caminho para encontrar novos espaços funcionais. Essas transformações não caracterizam uma ruptura brusca e definitiva com as formas anteriores, permitindo a reprodução de agricultores que foram e são capazes de adotar estratégias e formas possíveis e, assim, enfrentar as exigências e os desafios impostos pelo mercado. Porém, esse processo tem promovido a redução gradativa da população do campo, a partir das migrações e do envelhecimento do produtor rural.

A trajetória da pesquisa envolveu, além da revisão da literatura pertinente à temática, levantamento, sistematização, análise e representação de dados e informações de fontes primárias e secundárias. Os dados de fontes secundárias foram obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - Posto Catalão). Nesse órgão foram consultadas as seguintes publicações: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do Estado de Goiás (LSPA) de 2000-2003; dados da Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento do Estado de Goiás (SEPLAN, 2003); foram utilizadas, ainda, as informações do Relatório de Impacto Ambiental de 2004 (RIA – Empresa Ultrafértil).

As informações e os dados de fontes primárias foram obtidos através de entrevistas realizadas, em um primeiro momento, com os profissionais da Agência Rural Goiana (AGR), Secretaria da Agricultura, Secretaria Municipal de Saúde de Catalão e Secretaria de Obras (Administração Municipal), com os Agentes Comunitários de Saúde, Sindicato Rural; Presidentes das Associações dos Pequenos Produtores e os moradores mais antigos das comunidades rurais trabalhadas.

Nesse sentido, procurou-se, primeiramente, definir os procedimentos de coleta, a partir da leitura prévia da literatura e, posteriormente, definir quais indivíduos, o número e quais características de indivíduos seriam analisadas no grupo eleito (amostragem) e o tamanho da mesma. A partir dessas definições, iniciou-se o trabalho de campo. A pesquisa de campo foi realizada no município de Catalão, nos anos de 2003, 2004 e 2005, nas seguintes comunidades rurais: na Comunidade Coqueiro foram identificados 38 sedes/residências, Comunidade Mata Preta 64 sedes/residências, Comunidade Ribeirão 72 sedes/residências e Comunidade Morro Agudo/Cisterna 79 sedes/residências, sendo aplicados, respectivamente, 15, 16, 17 e 31 roteiros de entrevistas com os produtores rurais.

Foram aplicados, ainda, quarenta roteiros de entrevistas com os filhos dos produtores rurais destas comunidades e seis com as famílias dos trabalhadores rurais

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que moram há mais de dez anos na Vila Açucena na Comunidade Morro Agudo/Cisterna. A escolha dessas comunidades rurais assentou, principalmente, pelo uso da mão-de-obra predominantemente familiar para trabalhar na unidade produtiva, o tamanho das propriedades, os rendimentos, a diversificação da produção e o acesso de parte das famílias de produtores ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).

A partir das características e definições sobre as unidades familiares de produção rural, apresentadas, principalmente, pelos autores Chayanov (1974); Woortmann e Woortmann (1997); Lamarche (1993); Wanderley (2001); Tedesco (2001) e pelo Relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) e o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) estabeleceu-se o eixo norteador deste trabalho. Assim, essas unidades produtivas apresentam centralidade dos meios de produção; trabalho e gestão assegurados diretamente pelos proprietários; ênfase na diversificação da produção de gêneros alimentícios e multiplicidade de atividades; produção para o mercado e para o autoconsumo; valorização dos recursos naturais e culturais; uso do trabalho assalariado complementar; associação dos rendimentos agrícolas e não-agrícolas; subordinação imediata às condições externas, determinando as estratégias de reprodução e área total menor ou igual a quatro módulos fiscais de terra.

Os estudos acerca da temática da produção rural familiar na literatura brasileira têm gerado, nos últimos anos, um rico debate nos eventos científicos e várias publicações que ressaltam o caráter das desigualdades e especificidades regionais da ruralidade brasileira. Diante disso, uma observação preliminar decorre da diversidade das estratégias de reprodução dessas unidades produtivas. Essa diversidade é caracterizada pela interdependência de uma série de fatores, como o tamanho da propriedade, o tamanho da família, o grau de mecanização, o nível técnico, a capacidade financeira, a relação com o mercado, dentre outros fatores, refletindo em inserções locais/regionais rigorosamente diferenciadas.

É no caráter e na intensidade dessas diferenças que assenta as principais controvérsias em relação ao lugar da produção rural familiar no Brasil, justificando a relativização da contribuição desse segmento de produção para a agricultura e para sociedade. Soma-se, a isso, a associação histórica do rural às condições de precariedade e carência, deixando em segundo plano questões relacionadas à importância da ruralidade para a sociedade como um todo. O emprego da noção de unidade de produção rural familiar como unidade de produção, consumo e convívio caracterizam uma situação difícil

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e diversificada.

As discussões e análises expressam especificidades e divergências entre muitos estudiosos, mas algumas características compõem o núcleo genérico dentre os vários conceitos, como a família, enquanto proprietária dos meios de produção, o trabalho na terra e os valores e tradições que constituem o patrimônio sociocultural. Como meio de sobreviver, essas unidades produtivas lançam mão de uma série de combinações produtivas agrícolas e não-agrícolas e uso de formas de trabalho não-assalariadas, o que tem permitido sua inserção aos mercados. Essas manifestações socioculturais e econômicas organizam-se em reação à imposição das formas capitalistas, o que nos leva a questionar as noções de atraso, determinismo e funcionalidade.

Assim, as proposições a respeito da temática sugerem que as análises devem ser pensadas como uma tendência geral, necessitando da complementação de estudos localizados que apresentem a possibilidade do conhecimento da diversidade socioespacial e geográfica. Aqui reside a justificativa da realização deste estudo. A partir das reflexões sobre a organização do espaço agrário brasileiro e, principalmente, sobre as desigualdades regionais e locais torna-se possível estabelecer as relações e a possibilidade de sua aplicação teórico-metodológica no estudo das condições adversas da produção rural familiar na estrutura fundiária goiana.

O interesse pela temática surgiu com a pesquisa realizada no Mestrado na Comunidade Coqueiro no município de Catalão, estado de Goiás em 2001. Essa pesquisa procurou conhecer a origem dessas unidades produtivas, como viviam e organizavam-se, quais produtos cultivavam e, principalmente, quais as implicações geradas pela relação terra, trabalho e família. O móvel desse novo estudo assenta-se na análise da diversidade de estratégias e competências apresentadas por esses pequenos produtores familiares enquanto meio de reprodução. No campo teórico, destaca-se o interesse pelas análises das principais controvérsias quanto à importância dessas unidades para a sociedade contemporânea e as particularidades local/regional que caracterizam sua reprodução.

Nesse sentido, vários pesquisadores acreditam na viabilidade social e econômica da produção rural familiar, considerando suas especificidades e perspectivas. Pela complexidade e magnitude desse objeto de estudo, suas potencialidades no âmbito do desenvolvimento rural devem ser inseridas nos lugares e contextos em que esses processos tiveram condições de emergir e se desenvolverem, a partir da capacidade empreendedora dos produtores e das dinâmicas regionais. Porém, deve-se considerar o grau de divergência e a necessidade de um conjunto de políticas públicas, visando o fortalecimento dessas

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unidades produtivas no Brasil.

Trata-se, na verdade, de uma proposta de reforma agrária, cujo objetivo central seja o fomento e o apoio aos pequenos produtores, assegurando-lhes o acesso à tecnologia, canais de comercialização, crédito, preços mínimos, controle de preços dos insumos, dentre outros. A aspiração de uma inovação na política fundiária brasileira, provavelmente, apresentará novas possibilidades e perspectivas para que os jovens agricultores possam assegurar sua reprodução profissional no campo. Assim, o acesso a terra deve ser associado a um tipo de formação profissional que amplie de maneira significativa as possibilidades de sustentabilidade econômica e social destes novos empreendimentos.

A produção rural familiar não constitui uma categoria social recente e também não lhe é atribuída uma estrutura analítica nova pelos estudiosos, excetuando o enfoque de suas análises que, de meados da década de 1950 até o final da década de 1960, centrava-se sobre a natureza das relações de produção no campo, seguindo as sugestões de estudos propostas pelo marxismo, sendo denominada de questão agrária. Já os debates atuais procuram revelar e explicar as causas da redução da população rural, principalmente dos pequenos produtores, bem como a natureza, os mecanismos de evolução e suas características determinantes. Nesse sentido, o enfoque das reflexões após 1980 assenta-se na diversidade e na complexidade da pequena produção rural nas sociedades contemporâneas.

Na Geografia, essa delimitação da problemática social investigada norteou as análises e reflexões do universo teórico e empírico eleito pela pesquisa, delimitando o problema, os questionamentos e os procedimentos teórico-metodológicos. Assim, o sistema de tratamento das informações obtidas através do recorte/amostra está estreitamente vinculado ao referencial adotado. As concepções não propõem um diagnóstico simples e muito menos têm o poder de estabelecer caminhos absolutamente certos. Entretanto, acredita-se que esse conjunto de questões orienta a tentativa de aumentar o poder explicativo das teorias (o grau de generalização) diante da complexidade da essência do fenômeno no mundo real que se reproduz no espaços físico, social e cotidiano.

Nesse contexto, a organização deste trabalho divide-se em três eixos de análises e discussão sobre a produção rural familiar no Brasil, além da introdução e considerações finais. O primeiro deles, que é desenvolvido na segunda seção, estabelece o debate teórico e metodológico, cujo objetivo é apresentar as reflexões analíticas sobre a

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produção rural estruturada no trabalho familiar, constituindo, assim, as principais variáveis destacadas pela literatura clássica e estudos recentes, que nortearam a produção de informações e as análises dos dados obtidos na pesquisa empírica e em fontes secundárias, estabelecendo uma continuidade aos demais eixos de discussão.

No segundo eixo, que corresponde a terceira e quarta seções, são expostas as reflexões gerais sobre a economia nacional que se estabeleceu, enquanto herança, após a independência nacional, a dominação econômica, social e política da grande propriedade, o regime de trabalho escravo e as políticas agrárias e agrícolas, essencialmente conservadoras, que orientaram a ocupação de extensas áreas de terras livres no país, cujas conseqüências local/regional/nacional, hoje, revelam uma situação iníqua, desigual e cheia de distorções.

Na terceira seção apresentam-se ainda as principais tendências que orientam a dinâmica dos mecanismos da sociedade global. Parte-se do pressuposto de que a análise dos principais mecanismos de integração regional e entre a sociedade global e as coletividades locais permite compreender as particularidades dos processos mais gerais da produção rural familiar, revelando, assim, a trajetória e a dinâmica específica desse segmento de produtores. Essa reflexão estabelecida orientou a proposta de enfoque para a investigação empírica, procedendo a inferências dedutivas. Já a quarta seção retrata a organização e a ocupação de Goiás e Catalão, revelando os desdobramentos da política internacional, nacional e regional.

O terceiro eixo, apresentado na quinta seção, explicita os caminhos percorridos para a realização da pesquisa empírica, enfatizando a importância das decisões e dos procedimentos adotados para a produção do conhecimento científico. Sob a concepção apresentada, o conhecimento permanece limitado ao mundo fenomênico, resultado da formação do ponto de vista da pesquisadora - aqui entendido como conhecimento teórico-metodológico e sua relação com o fenômeno estudado - considerado constitutivo da própria realidade individual e da própria dinâmica desse processo que se constitui enquanto elemento limitador de qualquer estudo e, ao mesmo tempo, enquanto elemento impulsionador da produção do conhecimento orientada pelo jogo de acertos e erros. Nessa seção, são apresentadas as etapas detalhadas da pesquisa empírica, as informações obtidas em fontes secundárias e a apresentação dos estudos realizados nas comunidades rurais Coqueiro, Morro Agudo/Cisterna, Ribeirão e Mata Preta, no município de Catalão (GO), nos anos de 2003, 2004 e 2005. Os resultados da pesquisa de campo são apresentados em gráficos e tabelas, sugerindo uma reflexão analítica que permite explicar,

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comparativamente, o comportamento e as estratégias de reprodução das unidades de produção rural familiar e grupo doméstico.

Os resultados da pesquisa de campo sobre as famílias de agricultores exploram, através da aplicação dos roteiros de entrevistas (em anexo), informações sobre as diversas variáveis socioeconômicas e culturais, como o tamanho das propriedades e das famílias, a produção, a assistência técnica, as atividades agrícolas e não agrícolas e outras. Nesse capítulo, procurou-se demonstrar, através da análise das informações empíricas dos estabelecimentos rurais familiares, as principais características que compõem essas unidades, as estratégias de reprodução familiar e o contexto no qual se encontram inseridas. A reprodução desse segmento deve ser compreendida a partir da valorização dos recursos disponíveis em seus estabelecimentos (valorização do patrimônio sociocultural) e de sua integração com o mercado.

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2 QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PRODUÇÃO

RURAL FAMILIAR

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2 QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PRODUÇÃO RURAL FAMILIAR

Que o rural esteja perdendo parte de sua dimensão agrícola; que a família, enquanto unidade moral, de consangüinidade e de trabalho esteja se flexibilizando e se abrindo; que haja uma tendência à individualização e à fragmentação espacial de membros; que a hierarquização e a transmissão do patrimônio estejam se redefinindo, tudo isso não há dúvida, se faz presente – o que também não é só de agora -, porém nem tudo é linear e evolutivo no sentido de romper com o já vivido e concebido (Tedesco, 2001)

As estratégias de produção das explorações rurais assentadas no trabalho familiar surgem em reação às exigências de sua inserção na sociedade capitalista. Todos os indicativos levavam à suposição do enfraquecimento e ao provável desaparecimento da produção rural familiar, à medida que o modelo capitalista se expandisse. As teorias marxistas da questão agrária apresentaram um quadro fatalista a respeito das condições de existência e reprodução das explorações familiares. Hoje, os estudiosos da questão buscam investigar e compreender os diferenciados e diversificados mecanismos que interferem e/ou conduzem à viabilidade econômica e produtiva dessas unidades num contexto geral e específico. A compreensão dos fenômenos e processos sociais macroeconômicos permite reconhecer a influência e a determinação do desenvolvimento capitalista na agricultura. Nessa perspectiva, consideram-se as especificidades regionais, socioculturais, etnológicas e naturais como elementos importantes no estudo em questão.

O objetivo deste capítulo é procurar estabelecer um conjunto coerente de idéias que possibilite o estabelecimento de um referencial teórico e histórico imprescindível para o estudo, contribuindo para a formação de um corpo de problemas referentes às especificidades e diversidade da pequena produção rural familiar na economia brasileira, uma vez que, a maioria dos trabalhos recorre a temas referentes à integração entre a agricultura e a indústria e ao aumento do trabalho assalariado, principalmente temporário, no campo, como único caminho de desenvolvimento capitalista para esse setor. Diante do exposto, a associação dogmática entre o inevitável desenvolvimento capitalista e a ampliação do trabalho assalariado constitui o maior obstáculo teórico para a compreensão da realidade agrária contemporânea.

Nesse sentido, observa-se que cada ‘lugar’ apresenta condições diferenciadas que promovem ou dificultam o desenvolvimento deste segmento social na

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agricultura, tais como incorporação de inovações tecnológicas, capacidade de gerenciamento e administração, assistência técnica, desenvolvimento de projetos de fomento e apoio (órgãos de pesquisa, organizações não governamentais, empresas e órgãos públicos), proximidade e intensidade do mercado, estratégias de reprodução, dentre outros fatores que podem interferir na sua reprodução. Alguns desses aspectos podem diferenciar até mesmo entre as unidades produtivas de uma mesma localidade. A racionalidade dessas unidades de produção incorpora a sua organização interna e sua relação com a sociedade. Dessa maneira, é através da forma como se dá a sua inserção na sociedade que lhe atribui um caráter geral e específico no seio de uma sociedade.

2.1 O contexto da questão agrária na expansão do modelo de produção capitalista

A compreensão do dinamismo da formação do espaço agrário brasileiro exige a análise histórica sobre as formas de propriedade da terra e das relações de trabalho que se estabeleceram no decorrer da expansão do sistema socioeconômico capitalista, enfatizando a produção rural estruturada no trabalho familiar. A análise desse processo encontra-se vinculada ao entendimento das especificidades que caracterizam a organização do espaço agrário brasileiro, exigindo o conhecimento da dinâmica geral do sistema econômico capitalista, fenômeno caracterizado como Divisão Internacional do Trabalho que se encontra, essencialmente, relacionado com o desenvolvimento desigual e combinado das nações.

Além disso, a análise do dinamismo da organização socioespacial nos leva a reconhecer que, mesmo antes do surgimento da propriedade privada sobre o solo, já existiam outros mecanismos presentes nas sociedades, como por exemplo, o feudalismo europeu que assegurava o monopólio do uso da terra. Esses mecanismos baseavam-se nos costumes e na tradição desses povos. Assim, estabeleciam-se os códigos jurídicos que regiam o modelo social, assentado num amplo regime de vassalagem. A posse da terra expressava a maior fonte de riqueza, assegurando a possibilidade de produção através das relações servis de trabalho (HUBERMAN, 1986).

O sistema econômico capitalista estabelece novas formas de apropriação dos meios de produção e exploração/apropriação do trabalho. Assim, as reflexões sobre a expansão do modelo de produção capitalista e suas variadas formas de expansão, partem da

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proposição dialético-materialista que o capitalismo cria/recria condições de desigualdade, de diferenciação e apóia seu desenvolvimento, sua existência e reprodução nesse movimento. A história mostra a necessidade de um ambiente não capitalista para o desenvolvimento capitalista (KAUTSKY, 1972; LINHARES e SILVA, 1980; AMIN e VERGOPOULOS, 1986; MARTINS, 1986).

Dessa forma, as relações de produção subordinadas não são consideradas como resquício do passado (resíduos históricos), que devem, assim, desaparecer. Sua coexistência com as relações de produção dominantes torna-se condição necessária para a produção/reprodução da organização social que emerge. Nessa perspectiva, surgem as estruturas sociais, políticas, econômicas, ideológicas e culturais, dentre outras, que permitem a reprodução desses segmentos sociais diferenciados na produção do espaço. Assim, a forma espacial aparece como resultado das forças contraditórias de interesses que o produziu.

A partir dessa premissa, acredita-se que a troca desigual, baseada nas taxas diferenciais de mais-valia, não expressa um simples acidente histórico imbricado nas relações de troca normais do capitalismo. A troca desigual constitui a consagração do ponto de vista da mais-valia de transferência, às custas da mais-valia extorquida. As transferências são conseqüências das diferenças das condições de troca. O aprofundamento das diferenças coloca-se como fundamental à obtenção de fluxos de mais-valia de transferência em favor de setores, regiões e sociedades.

A troca desigual é mecanismo substancialmente indispensável, tanto teórica como praticamente, para que a acumulação setorial e regional possa progredir. A institucionalização de mais-valias diferenciais quanto a taxa e massa é um mecanismo que assegura o desenvolvimento capitalista por setores, regiões ou nações de ponta. É por isso que o capitalismo não apenas lucra com o estabelecimento de relações entre setores, regiões ou nações de mais-valias diferenciais, mas cria condições de desigualdade; sobretudo, o capitalismo apóia seu desenvolvimento, isto é, sua existência nesse movimento de diferenciação. Samir Amim formula bem este fenômeno quando constata que o capitalismo, ao mesmo tempo que unifica, cria novas diferenças e desigualdades. (AMIM; VERGOPOULOS, 1986, p. 79-80).

As considerações apresentadas viabilizam o entendimento da questão agrária no Brasil e suas contradições, disparidades e aparentes desequilíbrios. Parte-se da premissa que a compreensão do presente está vinculada à análise de sua organização e ocupação socioespacial decorrente do processo de evolução histórica. O modelo de ocupação e organização do espaço agrário brasileiro se consolida como resultado da expansão marítimo-comercial européia. A partir desse contexto, ampliam-se as relações

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comerciais dos países europeus fundamentadas em uma relação desigual entre as metrópoles e suas colônias.

Observa-se que o mesmo processo que promove a dinâmica econômica e social - o desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção - também absorve a estrutura econômica do setor agrícola. O que importa ressaltar é que a agricultura e a indústria não se desenvolvem segundo o mesmo processo, mas tendem ao mesmo objetivo. O caráter mercantil da produção integra a agricultura na sociedade capitalista. A agricultura, gradativamente, deixa de ser uma atividade econômica sedentária submetida à codificação tradicional.

[...] Ela capta os fluxos de capitais, rendas e mão-de-obra; fá-los circular sob forma de produtos como parte integrante do sistema mecanizado. Põe-nos em movimento e está em movimento perpétuo. A agricultura capitalista não é, pois, nem a atividade natural, nem a operação da propriedade fundiária codificada: ao contrário, é a decodificação da propriedade que a faz depender do mercado; é o caráter social da propriedade fundiária que predomina. (AMIN; VERGOPOULOS, 1986, p. 85-86).

Todavia, o desenvolvimento do sistema socioeconômico capitalista promove a especialização da produção no campo, em que novas tecnologias são destinadas à melhoria da agricultura. Assim, a mecanização se impõe como forma de elevar a produtividade do trabalho e a indústria química, permitindo o aumento da resistência das espécies e, é claro, que, principalmente, esses dois últimos fatores promoveram a expansão do mercado consumidor para a indústria (a montante e a jusante) que se desenvolvia no meio urbano. A agricultura apresentou um desenvolvimento considerável em termos de produção e produtividade nesse período. Entretanto, as novas formas de exploração econômica da agricultura (cultivos e técnicas) comprometem o lucro médio1.

Marx (1890/1998), ao analisar o contexto socioeconômico do século XIX, na Europa Central, apresentou uma teoria geral para o desenvolvimento industrial, transferindo essa racionalidade para a análise do espaço agrário. Nesse sentido, o crescimento da grande exploração (concentração e centralização de capital no meio rural) e o assalariamento das massas era visto como processo necessário. Além disso, criaria a oferta de operários assalariados no campo e na cidade, respondendo pela dissolução das famílias e pela formação do operário urbano, como resultado de um único processo. Os pequenos ocupantes da terra seriam gradativamente reduzidos à condição de trabalhadores

1

O lucro médio corresponde à taxa de lucro estabelecida pela sociedade, sendo a retribuição do trabalho do capitalista obtida na venda dos produtos. Isso supõe uma classe que sempre compra força de trabalho e meios de produção e se apropria do trabalho não pago (HARNECKER, 1980).

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diaristas e assalariados. No entanto, os donos da terra não estavam expulsando os camponeses para proporcionar uma força de trabalho destinada à indústria. Na realidade, os proprietários dos estabelecimentos estavam interessados, apenas, em aumentar os seus lucros2, a partir da concentração da propriedade privada.

Alguns fenômenos que surgem em determinados contextos, como o fenômeno da troca/comércio/dinheiro, ainda inseridos na economia feudal e seus respectivos valores socioculturais3, e que ganharam força na sociedade, podem vir a mudar

o rumo da ordem político-jurídica vigente. Contudo, isso não significa que os atores sociais, responsáveis pela inserção desse novo elemento desagregador, que pode desencadear uma nova orientação para a história, tenham consciência dessa complexidade conjuntural. Os fenômenos surgem como resultado do próprio dinamismo socioeconômico (desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção) e podem sugerir mudanças consideráveis nesses contextos sem que os atores, que os permitiram desenvolver, tenham domínio sobre o desenrolar dos fatos.

A partir dessas orientações, a terra, historicamente, tornou-se um monopólio sem ser um produto do trabalho social. Esse monopólio é desigualmente repartido na sociedade. Dessa maneira, seria inútil tentar buscar a origem do sobrelucro agrícola nas relações internas da agricultura. O sobrelucro agrícola surge como uma possibilidade do mercado, decorrente das relações mecanizadas da agricultura com o conjunto do sistema capitalista. A situação particular da terra é sublinhada por Marx (1998), quando diz que não se pode, como na indústria manufatureira, multiplicar à vontade os instrumentos de produção de mesmo grau de produtividade, quer dizer, os terrenos de mesmo grau de fecundidade. Aqui, o autor faz referência a renda diferencial I (maior fertilidade do solo e melhor localização geográfica).

2

Lucro: transfiguração, metamorfose da fração da mais-valia nas mãos do capitalista – lucro-extraordinário: fração da valia apropriada pelo capitalista acima do lucro médio (OLIVEIRA, 1986, p. 85). A mais-valia é o excedente de valor que o trabalhador produz acima do valor da sua própria força de trabalho. O valor da força de trabalho corresponde ao valor dos gêneros necessários para sua manutenção e reprodução. O valor do produto criado pelo trabalhador assalariado é igual ao valor dos meios de produção empregues (matérias-primas, desgaste das máquinas e dos edifícios, etc. essa parte do capital não muda de valor ao longo da produção, é constante) mais o valor da força de trabalho do trabalhador (capital empregue em salários - ele cria a mais-valia - esta parte do capital aumente durante o processo da produção, é variável), mais a mais-valia. Esta última constitui o lucro (KAUTSKY, 1972, p. 96-97, v I).

3

A cultura é vista como um complexo de signos e significação, incluindo a linguagem, que origina códigos de transmissão de valores e significados sociais. Sob essa concepção, cabe o reconhecimento de que o dinheiro e as mercadorias, que materializam as relações sociais de trabalho são mesmos os portadores primários de códigos culturais. Nesse sentido, as formas culturais têm firmes raízes no processo diário de circulação do capital (HARVEY, 1993).

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Os teóricos da social-democracia dedicavam-se ao estudo do desenvolvimento industrial, o que justifica a postura de Marx (1998) quanto à questão fundiária, em que considerou, segundo seu plano de trabalho, apenas a agricultura capitalista. Nessa linha de raciocínio, a agricultura que se desenvolveu sob a economia capitalista levava em consideração, para a escolha de uma determinada cultura, a fertilidade do solo, a localização de suas terras, a facilidade de transporte, o investimento de capital, o tamanho da propriedade e a demanda de mercado.

Nesse sentido, as cidades passaram a orientar as mudanças nos processos produtivos rurais. A agricultura especializada tornou-se subordinada ao conhecimento científico e à experiência profissional. Esse setor apresentava condições amplas e variadas, modificando-se constantemente no que diz respeito à produção, circulação, compra e venda e na especialização da produção para o mercado, assumindo funções essenciais no desenvolvimento econômico.

A sociedade capitalista, na concepção de Marx (1998), é o desenvolvimento da contradição entre o caráter privado e social do trabalho, sugerindo uma organização social racionalmente disposta e controlada. Esse dinamismo da própria socialidade no mundo das mercadorias reduziu a sociedade em apenas duas classes sociais (empregador capitalista de um lado e do outro lado os trabalhadores assalariados). A partir dessas considerações, constata-se que não tem sentido buscar em Marx informações sobre outra forma de organização social que não seja as formas capitalistas, o que justifica sua previsão trágica sobre os camponeses.

Marx (1998) apresenta algumas observações sobre a tendência de aplicação do capital nas atividades agrícolas. Segundo o autor, verifica-se uma proporção diferenciada de aplicação entre o capital total e o capital constante (aquisição de meios de produção: imóveis, maquinários, matérias-primas) que tende a aumentar em relação ao capital variável (compra da força de trabalho - salários/criação do valor), ou seja, os investimentos em modernas técnicas de produção tornariam uma exigência na sociedade capitalista, sejam relacionados às atividades urbanas ou às rurais. Esses investimentos visam à necessidade de elevação da produtividade do trabalho como meio de obter maior lucratividade através da eliminação da concorrência.

A partir do estudo macro-estrutural, os camponeses, quando mencionados pelo autor, aparecem como espécies fatalmente condenadas à diferenciação e, conseqüentemente, à eliminação social. Em razão dessa concepção da dinâmica

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macroestrutural acreditava-se que o desenvolvimento econômico distribuiria funções entre diferentes pessoas e o artesão e/ou o camponês que produziam com seus próprios meios de produção seriam transformados, gradualmente, em pequenos capitalistas que, também, explorariam o trabalho alheio ou fatalmente perderiam seus meios de produção, transformando-se em trabalhadores assalariados, ou seja, prevaleceria a tese da diferenciação social.

Marx (1998), ao considerar a integração do campesinato na sociedade - afirma que, por definição, esta é uma economia mercantil, na qual o camponês vende para comprar. Na circulação simples de mercadoria, a produção - M (mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) - tem como fim a satisfação de suas necessidades. Nesse processo, o ato de vender para comprar é um meio de complementar a produção, a satisfação de determinadas necessidades através da incorporação de valores de uso. O camponês aparece no mercado como negociador de mercadorias produzidas por ele mesmo.

O camponês é um produtor que combina os meios de produção com seu próprio trabalho (dinâmica interna das unidades agrícolas) e tem domínio das condições técnicas de sua produção. A relação entre trabalho e produção, no núcleo doméstico, possibilita a diferenciação demográfica interna entre as unidades econômicas familiares com o crescimento da produtividade do trabalho. Na circulação simples de mercadorias, a mercadoria produzida pelo camponês, em termos de condições sociais, não é igual a mercadoria produzida pelo trabalhador assalariado. Mas no mercado essa produção torna-se equivalente, constituindo uma condição para o detorna-senvolvimento destorna-se processo de intercâmbio e para a inserção desses produtores na sociabilidade capitalista (MARX, 1998). Essas considerações permitem contrapor a discussão da diferenciação social no campo. Assim, a produção simples de mercadorias mostra vitalidade para compreender a inserção da produção rural familiar na sociedade capitalista.

Diante do exposto, supõe-se que a sobrevivência dos produtores é estabelecida a partir de sua relação com outras categorias de trabalho na sociedade. Assim, pode-se afirmar que a produção rural familiar, no decorrer da história, assumiu uma forma social inédita, sendo reflexo do próprio processo de expansão capitalista em curso no meio rural. Essa expansão promove processos de transformação das formas de ocupação da força de trabalho, introduzindo mudanças sociais e culturais que sobrepõem às formas tradicionais de mercado de trabalho.

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Na obra de Kautsky (1972) prevalece a preocupação em definir o modelo de propriedade e de produtor que melhor atenderia ao sistema capitalista. O autor considera fundamental a compreensão dos fenômenos parciais que são integrantes da questão agrária, como a relação entre as grandes explorações e as pequenas, o endividamento, o direito à herança, a falta de mão-de-obra e a concorrência com o mercado, representado pela produção tropical nas colônias. O desenvolvimento do capitalismo acentuou a diferença qualitativa entre a grande e a pequena exploração, entre a indústria e a agricultura. Nessa perspectiva, no final do século XIX, na Europa Ocidental, não seria possível o uso de máquinas ou mesmo instrumentos aperfeiçoados pelos pequenos produtores, o que impediria sua modernização.

Para esse autor, a modernização da agricultura realizou-se através da expansão capitalista para o meio rural, acentuando as dificuldades para as pequenas explorações. Como mostra Kautsky (1899/1972, grifo nosso), a propriedade rural contrastava-se com as grandes explorações. Nessas pequenas unidades de produção havia a reunião das mais diversas espécies de atividades, como criação de gado, cultura da terra, pequenas hortas, pomares, apresentando uma baixa produção de cereais, o que não constituía uma produção voltada essencialmente para o mercado, mas também, para as necessidades do grupo familiar, com utilização de pouca mão-de-obra. Os integrantes da família buscavam um rendimento acessório obtido fora de sua exploração, tendo em vista que, na agricultura, o trabalho é acompanhado por um período de subocupação.

Na agricultura, o ritmo da maioria das atividades depende do ciclo natural de cada espécie. Geralmente, o trabalho não ocupava todo o tempo dos pequenos produtores fundiários, sendo possível uma ociosidade do trabalho, o que permitia a família se dedicar a outras atividades, tais como a criação de pequenos animais domésticos, a tecelagem de tecidos rústicos, a confecção de roupas para a família e terceiros, a produção de farinhas e conservas de alimentos e outros, uma vez que os donos dos estabelecimentos eram proprietários e produtores e, assim fazendo, produziam parte de sua sobrevivência. Aqui, Kautsky (1972) destaca as particularidades naturais da agricultura como um ambiente avesso à industrialização e, por sua vez, comporta uma baixa divisão social do trabalho.

Essas explorações contavam com uma pequena extensão de terras; não possuíam meios para adquirir maquinários e assistência técnica; não tinham acesso a mecanismos creditícios confiáveis e, também, não dominavam as leis de mercado, o que

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dificultava o melhoramento da produção e as obras na propriedade submetendo-as a recorrer ao crédito pessoal, cujos juros eram desproporcionais com relação à taxa de lucro corrente, isso os levaria a uma situação insustentável. Desse modo, o pequeno proprietário seria um trabalhador que produzia para si próprio. O trabalho era intenso e os cuidados mais assíduos. Para compensar os poucos recursos técnicos que dispunha, lançava mão de uma jornada de trabalho elevada, o que justifica a necessidade dos camponeses em recorrer ao trabalho de toda a família.

A existência das pequenas explorações era ameaçada pela expansão gradual e contínua do sistema capitalista. O espólio hereditário desencadeava o seu desmoronamento, considerando que a terra era o seu meio de sobrevivência. Quando esse recurso se tornava escasso – a terra -, dava-se a expulsão dos filhos, colocando em risco a reprodução de um modo de vida. Para Kautsky (1972), as condições de vida desses produtores eram tão precárias que o trabalho dos jornaleiros (trabalhadores temporários) era visto como mais racional. Os jornaleiros eram trabalhadores sem terra que eram alimentados, abrigados e vestidos pelo patrão e recebiam um salário irrisório pelo seu trabalho (jornada ou diária). O camponês era um proprietário de terras que vivia em condições piores que um operário.

[...] Ele é um operário: não vive do produto da sua propriedade mas do produto do seu trabalho, e o seu gênero de vida é o de um assalariado. Precisa da terra como um meio para ganhar a vida trabalhando e não para dela tirar um lucro ou uma renda fundiária. Quando, descontadas as despesas, o preço da venda dos seus produtos paga o seu trabalho, ele pode viver. Pode renunciar ao lucro e à renda fundiária. (KAUTSKY, 1972, p. 07-08).

Diante dessa realidade, o assalariamento no campo era apresentado como parte de uma organização superior, reforçando a idéia da superioridade da grande exploração, sendo o único modelo racional de produção agrícola. Assim, a tendência da agricultura capitalista era o estabelecimento de uma aliança entre a ciência e os negócios, sugerindo uma contabilidade científica e comercial. Como são contínuos os progressos no domínio técnico e científico, a agricultura passaria a necessitar constantemente de capital. Os investimentos de capitais nas fazendas propiciavam a melhoria na técnica e nas ferramentas agrícolas, assim como surgiu a melhoria da qualidade dos animais (renda diferencial II). A atividade agrícola tornou-se, ao mesmo tempo, uma atividade lucrativa e dispendiosa. Na opinião do autor, emerge a propriedade individual da terra e todos os produtos da agricultura incorporam o caráter de mercadorias.

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O autor, continuando sua análise, faz uma interessante ressalva: por mais que se chame capital ao solo, não se consegue fazer do proprietário fundiário um capitalista. A agricultura necessita de capital adiantado para iniciar cada ciclo produtivo, sendo que esse capital é calculado segundo os preços de produção (maquinários, insumos agrícolas e salários), uma vez que o proprietário não é dono dos meios de produção. As construções luxuosas erguidas nas propriedades fomentam a valorização do imóvel, da propriedade e a transferência parcial de valor, mas esses investimentos em infra-estrutura não auferem renda e o investimento na produção representa a hipoteca da renda fundiária futura. À medida que o aumento da produção provocava o declínio da renda (elevação da oferta), simultaneamente, ocorria a dissolução da família camponesa.

Kautsky (1972) procurou mostrar as condições de extrema precariedade das pequenas explorações, tanto no que diz respeito à produtividade quanto à qualidade de vida e a superioridade da grande exploração capitalista e a inutilidade de se procurar frear o movimento invencível de expropriação das pequenas unidades de produção rural que o capitalismo promove. Nessa perspectiva, as grandes explorações, capazes de absorver os recursos tecnológicos e demais insumos agrícolas e, fundamentadas no trabalho assalariado, seriam o modelo de propriedade adequado para atender ao crescimento da atividade industrial e da população urbana, conjugando uma oferta regular e em larga escala de matérias-primas e alimentos. Para o autor, o lugar onde os camponeses sobreviviam não era sinônimo de eficiência, mas superexploração, pois vendiam seus produtos a preços que não cobriam sua própria subsistência.

Nessas condições seria impossível para o pequeno estabelecimento agrícola incorporar as conquistas técnicas, a gestão e os recursos econômicos que os capitalistas detinham. A partir desse ponto de vista, prevaleceria a tendência da grande exploração em integrar-se com a indústria e a pequena exploração seria, gradativamente, eliminada por esse processo corrente. O excesso de trabalho e a insuficiência de consumo caracterizam a pequena exploração. As elevadas horas de trabalho são atribuídas ao baixo emprego de recursos técnicos e humanos no trabalho e, também da necessidade de aumentar seus rendimentos. Esses fatores aliados à queda e a instabilidade constante dos preços de seus produtos, atuam diretamente como fatores que regulam as condições de mercado. Para agravar, ainda mais a situação, os fatores naturais, como pragas nas plantações, excesso ou escassez de chuva, podem comprometer a produção, levando os

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