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O VIÉS POLÍTICO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

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Recebido em 11/07/2017. Revisado em 22/11/2017. Aceito em 29/11/2017. Publicado em 10/01/2018. RASM, Alvorada, ano 7, n.2, p.25-38, Jul/Dez 2017.

CORPORATIVA

Vinícius Nardi1

Daniel Pedro Auler2 RESUMO

Baseado na abordagem política de responsabilidade social corporativa (PRSC), este estudo objetiva analisar como se desenvolveram os estudos de PRSC avaliando aspectos conceituais, antecedentes históricos e suas perspectivas futuras. Para tal, foi conduzida uma revisão sistemática de literatura em uma amostra de 41 artigos publicados em renomados periódicos internacionais da área de gestão. Os resultados evidenciaram que a PRSC está em pleno desenvolvimento, alicerçada em antecedentes históricos objetivos e se apresentando como instrumento para análise de um fenômeno complexo como o do papel de ator político das organizações. O tema é analisado cronologicamente e é apresentada a agenda de pesquisa finalizando o artigo.

Palavras-Chave: Abordagem Política da Responsabilidade Social Corporativa; Organizações e Sociedade.

ABSTRACT

Based on the corporate social responsibility policy approach (PRSC), this study aims to analyze how the PRSC studies have been developed, evaluating conceptual aspects, historical antecedents and future perspectives. For this, a systematic review of literature was conducted in a sample of 41 articles published in renowned international periodicals of the management area. The results showed that the PRSC is in full development, based on objective historical antecedents and presented as an instrument for analyzing a complex phenomenon such

1 Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Email para contato: nardiadvocacia@gmail.com 2 Universidade do Vale do Rio dos Sinos

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as the role of political actor in organizations. The topic is analyzed chronologically and the research agenda is presented ending the article.

Keywords: Political Approach to Corporate Social Responsibility; Organizations and Society.

1. INTRODUÇÃO

No início do século XX Durkheim apontou a desagregação social como variável relacionada positivamente com as taxas de suicídio e deu o primeiro passo para identificação de fatores que contribuem para a criação de senso comunitário e em última escala para a sustentabilidade social (Durkheim, 2005). No outro extremo do século, Giddens identificou um constante intercâmbio entre as ações individuais e a estruturação social. Este contínuo fluxo gera a violabilidade das estruturas sociais ao mesmo que condiciona as ações dos agentes individuais a esta mesma estrutura (Giddens, 2009).

A relação agente/agência perpassou o nascimento do Estado – com a criação de normas e regramentos coletivos - atingindo maturidade com a preservação de características socioculturais sistêmicas que ao mesmo tempo violam e sustentam os sistemas sociais. O largo interesse contemporâneo na relação entre agentes individuais e a coletividade se origina desta gênese e é expresso na área de gestão e negócios através de estudos de Responsabilidade Social Corporativa (RSC).

Os esforços para compreensão do fenômeno podem ser categorizados em quatro abordagens distintas (Garriga & Mele, 2004). A primeira perspectiva, de natureza socioconstrutivista, vislumbra a RSC como um processo de construção contínua entre empresa e sociedade, emergindo a ação da empresa de um processo cíclico de debate com seus stakeholders. A segunda perspectiva, cultural, ocupa-se de explicar como a cultura da sociedade interfere na adoção de políticas de RSC pela organização e vice-versa. Assume-se que a cultura de um povo emana diferentes percepções influenciando a postura da empresa. Esta cultura pode ser expressa através de normas e sistemas sociais que alteram condutas internas e externas da organização. A terceira abordagem, funcionalista, deriva do interesse em uma relação “ganha-ganha” e se atrela fortemente à maximização de resultados aos acionistas com forte matriz econômica. Esta perspectiva, também chamada de estratégica, possui como norte a construção de vantagens competitivas para a organização, considerando os investimentos em RSC como uma autêntica relação de bônus bilateral. Significativamente, a questão mais estudada neste campo é exatamente a relação existente entre a RSC e o desempenho econômico da firma.

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O último agrupamento teórico, ao qual se dedica este estudo, é a perspectiva política. A forte participação social da empresa, por vezes substituindo o Estado, cria relações de dominação e dependência que são estudadas nesta perspectiva (Matten & Crane, 2005; Scherer & Palazzo, 2007; Scherer, Rasche, Palazzo, & Spicer, 2016). Ao Estado, mesmo em regimes de extremo liberalismo, cumpre executar premissas gerais que organizem e direcionem ações em prol do desenvolvimento coletivo. Quando o representante da coletividade se abstém de participar ativamente da organização social abre espaço para a atuação de agentes externos, face à inexistência de vácuos de poder nas sociedades humanas. Emerge desta relação o conceito de “Political Corporate Social Responsibility” (PCRS).

O objetivo desta análise teórica é de reconhecer o desenvolvimento dos estudos de PCRS avaliando aspectos conceituais, antecedentes históricos e as novas perspectivas delineadas a partir da proposição de uma PCRS 2.0. Para alcance do objetivo, optou-se pelo uso da revisão sistemática de literatura. O restante do artigo está organizado da seguinte maneira: no capítulo seguinte é apresentada uma breve revisão conceitual e contextual do fenômeno em estudo; logo após, é apresentado o método e uma breve análise descritiva da amostra; por fim são apresentados resultados cronológicos da investigação e sugeridas lacunas para avanços futuros.

2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Mudanças políticas globais a partir da queda do muro de Berlim foram o berço de um movimento que uma década atrás desenvolveu uma linha de pesquisa dentro dos esforços para compreender a responsabilidade social das empresas. Este movimento percebia que as interconexões nascentes entre nações e a presença de empresas multinacionais acarretava consequências para o ambiente das empresas.

Diferente da abordagem presente na literatura sobre atividade política corporativa, que analisava a organização como um agente de ações políticas via influências (lobby, contribuições, corrupções) em busca da satisfação de seus interesses pessoais (Lawton, McGuire, & Rajwani, 2013) a abordagem PCRS concebe a organização como um ator político per si, provedor de bens de interesse público.Por bem de interesse público entende-se aqueles que possuem duas características: são disponíveis para todos (é impossível excluir alguém dos benefícios de determinado bem) e não se extinguem pelo uso de um indivíduo (Scherer et al., 2016).

Muito embora os pressupostos norteadores desta linha de estudos tenham sido mantidos ao longo do tempo, o conceito de PCRS passou por transformações. Na fase inicial, PCRS foi identificada como sendo os movimentos realizados pelas organizações em suprimento às lacunas estatais. Os esforços empíricos se concentravam então no

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movimento de empresas multinacionais do ocidente para nações subdesenvolvidas (Garriga & Mele, 2004; Matten & Crane, 2005).

Anos depois, este conceito se transformou para enfatizar um modelo de governança em que empresas de qualquer parte interagiam em relações globais para regular mercados e prover bens públicos (Scherer & Palazzo, 2011) passando recentemente a ser vislumbrado como um guarda-chuva de ações e estudos que vislumbrem o papel político das organizações através de seu engajamento em decisões e deliberações coletivas (Scherer et al., 2016). Esta atuação, em todas as fases do conceito, teve respaldo no interesse da organização em legitimar-se perante seus stakeholders através da participação e transformação ativa na sociedade em que participa.

Esta visão contemporânea traz importantes avanços. O estudo do fenômeno não mais se limita ao nível internacional de análise. Esta transformação faz com que novos agentes políticos e novos contextos recebam atenção e não apenas empresas multinacionais em nações de baixo grau de desenvolvimento. Outra transformação importante é de que não há restrição para atuação das empresas somente em lacunas estatais. Compreende-se que, em um novo formato de ação governamental, por vezes há interesse em atribuir governança de áreas à iniciativa privada (Wood & Wright, 2015).

Os avanços conceituais foram acompanhados por mudanças de abordagem nas investigações que podem ser percebidas através de uma análise dos artigos publicados nesta linha de estudos. Para análise deste contexto realizou-se uma revisão sistemática de literatura, cujos procedimentos metodológicos são apresentados a seguir.

3. MÉTODO E DESCRIÇÃO DA AMOSTRA

Para atingir os objetivos deste estudo, desenvolveu-se uma revisão sistemática de literatura (Tranfield, Denyer, & Smart, 2003), realizada em julho de 2016. O método é adequado por possibilitar a compreensão do estado da arte de um fenômeno e indicar possíveis lacunas para pesquisas futuras.

O primeiro passo do método consiste na definição das palavras-chave. Dado o interesse na linha de pesquisa política de RSC, optou-se pela escolha da chave de busca "political CSR" or "PCRS" or "political

corporate social responsibility". Esta escolha derivou da percepção tida

em análise preliminar da literatura, do uso de diversos sinônimos para expressão do mesmo fenômeno. Foi então delimitada a base de dados para consulta. Optou-se pela busca na base “Web of Science” em sua “core collection” em razão de sua robustez e indexação de periódicos contemporâneos. A consulta foi conduzida no tópico e restringida por tipo de documentos - artigos - e categorias do Web of Science - “Operations Research Management Science”, “Business”, “Management” e “Economics” -.

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e abstract, buscando verificar sua aderência ao tema. Não foram realizadas supressões nesta fase, sendo identificados 27 artigos. Para diminuir possível viés produzido pela chave de busca – e a consequente perda de importantes referências para o tema – utilizou-se a técnica “bola de neve”, incorporando à base de análise aqueles artigos externos à amostra original que tenham sido citados por 20% ou mais dela (14 artigos). A amostra final foi composta então por um grupo de 41 artigos (apêndice A).

A análise descritiva da amostra permite identificar a concentração de publicações em quatro periódicos: Journal of Business

Ethics (12 publicações), Journal of Management Studies (9

publicações), Business Ethics Quarterly (7 publicações) e Academy of

Management Review (5 publicações). Todos os demais periódicos

presentes na amostra publicaram apenas um artigo sobre o tema. A análise quanto a fonte de publicação e seu fator de impacto (Tabela 1) permitem vislumbrar a relevância do tema e da amostra escolhida para a área de negócios, uma vez que cerca de 95% dos estudos foram publicados em periódicos de alto impacto (Q1) da área.

Tabela 1 - Lista de periódicos na base

# Periódico na base Artigos impacto/Quartil* Fator de

1 Journal Of Business Ethics 12 1.36 (Q1)

2 Journal Of Management Studies 9 4.93 (Q1)

3 Business Ethics Quarterly 7 1.53 (Q1)

4 Academy Of Management Review 5 8.83 (Q1)

5 Academy Of Management Perspectives 1 4.26 (Q1) 6 Administrative Science Quarterly 1 10.56 (Q1)

7 Corporate Governance 1 0.31 (Q2)

8 European Management Journal 1 0.82 (Q1)

9 International Journal Of Management Reviews 1 2.47 (Q1) 10 International Journal Of Technology Management 1 0.43 (Q2)

11 Organization Science 1 7.04 (Q1)

12 Scandinavian Journal Of Management 1 0.5 (Q2) *Fator de impacto com base na listagem 2016 do SRJ, disponível em

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Quanto a origem dos autores, percebe-se uma alta concentração de publicações em quatro países: Reino Unido, Canadá, Suíça e Estados Unidos, representantes de 75% do total da amostra (Figura 1). Este indicador deriva da presença de grupos de pesquisa específicos no tema em tais países e demonstra também a alta concentração de estudos em países de alto desenvolvimento em face de baixa quantidade de esforços em países em desenvolvimento e que, em tese, seriam mais sujeitos aos efeitos da atuação política de organizações dadas suas fraquezas institucionais.

Figura 1 - Publicações X Origem dos autores

Fonte: Dados obtidos na pesquisa

Por fim, a rede de relações existentes entre os artigos da amostra baseada na influência exercida (Figura 2), demonstram a centralidade os artigos 8 (Scherer & Palazzo, 2007) e 11 (Scherer & Palazzo, 2011) o que corrobora com as abordagens conceituais indicadas na revisão preliminarmente apresentada. Uma terceira abordagem (PCRS 2.0) induzida através de chamada especial do periódico Journal of Management Studies (Scherer et al., 2016) ainda não possui centralidade em razão de sua recente publicação. A análise destas diferentes abordagens será utilizada para a apresentação dos resultados desta pesquisa.

9 8 7 7 3 3 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1

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Figura 2 - Rede de relações

Fonte: Dados obtidos na pesquisa 4. RESULTADOS

4.1 Abordagem objetiva de PCRS

A abordagem fortemente econômica dos estudos de RSC (Garriga & Mele, 2004), o viés individualista das pesquisas em

corporate political activity (Rasche, 2015) e em cidadania corporativa

(Matten & Crane, 2005) e a lacuna de esforços que considerassem a RSC em negócios internacionais motivaram o desenvolvimento de estudos que levam em conta a atuação política das organizações (Palazzo & Scherer, 2006).

Marcados por um período histórico (pós queda do muro de Berlim) o qual ensejava uma nova configuração geopolítica global, os esforços iniciais que consideraram a interveniência social de forma política das organizações (Garriga & Mele, 2004; Margolis & Walsh, 2003; Mitchell, Agle, & Wood, 1997; Scherer & Palazzo, 2007; Suchman, 1995) se sustentaram na análise do fenômeno da interveniência de multinacionais de países desenvolvidos em sociedades com menor desenvolvimento estatal e com lacunas que requeriam da empresa a participação em decisões da coletividade.

Estes estudos derivaram de um movimento histórico em que a atuação oportunista de empresas multinacionais em busca da maximização dos interesses corporativos (por vezes através do abuso de lacunas legais, da aproximação com regimes ditatoriais, exploração de trabalho escravo e infantil e outros problemas sociais e ambientais) enfrentava forte movimento reverso (especialmente a partir de organizações não governamentais como Greenpeace e WWF). Este contexto exigiu da empresa a adesão a práticas socialmente

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responsáveis e o fornecimento de bens públicos como instrumento para sua legitimação (Schrempf-Stirling & Palazzo, 2016). O processo de envolvimento social ao longo do tempo fez da empresa privada um importante ator político retirando a exclusividade do fornecimento de bens públicos de governos e agências estatais (Scherer & Palazzo, 2007; Scherer & Palazzo, 2011; Scherer, Palazzo, & Matten, 2009).

Esta abordagem está centrada em estudos que avaliam a relação de envolvimento social de multinacionais oriundas de países desenvolvidos com contextos institucionais frágeis (Bures, 2015; Detomasi, 2015; Westermann-Behaylo, Rehbein, & Fort, 2015). Também podem ser observados estudos que avaliam a reação política pontual das organizações a eventos como a detecção de falhas em suas cadeias globais de fornecimento (Makinen & Kasanen, 2016).

4.2 A PCRS estratégica

Os esforços primários foram ampliados a partir de uma mudança conceitual. As intervenções pontuais das organizações em busca de legitimidade - inicialmente centrais na pesquisa nesta área - foram acompanhadas de um novo modelo de governança público-privada (Makinen & Kourula, 2012) em que as organizações passaram a estrategicamente contribuir para regulações globais e prover bens públicos, influenciando decisões coletivas a nível global (Mena & Palazzo, 2012; Scherer & Palazzo, 2011; Scherer, Palazzo, & Seidl, 2013).

Neste agrupamento de estudos há um contraponto à abordagem objetivista com crítica à ambiguidades daquela visão: a assunção de que PCRS é uma consequência da globalização e não um indutor desta; a presunção de que multinacionais ocidentais são

players centrais - e quase exclusivos - neste fenômeno; e o

pressuposto de que há um modelo de governança corporativa que instrumentaliza a ação política da organização (Whelan, 2012).

Nesta abordagem, estudos que destacam a participação das organizações na construção de padrões privados globais e sua relação com normativos legais e morais assumem papel de destaque (Husted, 2015; Makinen & Kasanen, 2016) assim como as implicações morais destas ações (Fooks, Gilmore, Collin, Holden, & Lee, 2013; Morsing & Roepstorff, 2015; Stoll, 2015). Também se destacam avaliações da incorporação da ação política em estratégias para cadeias globais de abastecimento (Egels-Zanden, 2016; Rotter, Airike, & Mark-Herbert, 2014) - em contraponto à simples resposta a eventos pontuais da abordagem antecedente -, e a utilização de ferramentas de atuação da empresa para comunicar suas ações e alcançar legitimidade (Seele & Lock, 2015).

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4.3 PCRS 2.0

Em um contexto marcado por transformações sociais reconhecidas por Habermas como a “Posnational Constellation”, se faz necessária a atualização conceitual e do direcionamento de pesquisas (Scherer et al., 2016). A nova abordagem considera PCRS como um guarda-chuva capaz de abarcar as ações em que a empresa atue politicamente. As restrições prévias quanto ao nível global de atuação são eliminadas em prol da atenção a ações locais e regionais geradas por empresas que muitas vezes não atuam no mercado internacional.

A abordagem primária a qual avaliava a atuação de empresas em lacunas estatais com a diminuição de poder do agente público dá lugar a uma via que considera a transformação do estado e a heterogeneidade de padrões normativos e culturais a que se expõe a organização. Marcada por movimentos religiosos fundamentalistas (e pela consequente guerra contra o terror), pela crescente onda nacionalista em diversos países do globo (por exemplo o avanço de grupos de extrema direita em países como Alemanha, França e Inglaterra) e por ações de desfragmentação de grupos econômicos (por exemplo o Brexit e os crescentes acordos bilaterais entre nações), a configuração de Estado se torna um desafio para as organizações.

Diante deste cenário e da necessidade de encontrar respostas para muitos dilemas organizacionais, uma chamada especial do “Journal of Management Studies” foi publicado em maio de 2016 (Scherer et al., 2016) motivando pesquisadores a explorar tais questões e ecoando a provocação preliminar lançada por Frynas e Stephens (Frynas & Stephens, 2015).

A edição especial trouxe estudos que avaliaram a transformação de problemas privados em públicos a partir da interveniência de organizações não governamentais (Reinecke & Ansari, 2016); buscaram compreender os efeitos de contextos institucionais na adoção de comportamentos irresponsáveis e as relações de poder na mobilização de diferentes stakeholders (Gond, Cruz, Raufflet, & Charron, 2016); identificaram a transformação de modelos industriais e padrões privados comerciais internacionais a partir da interveniência de stakeholders (Levy, Reinecke, & Manning, 2016); e exploraram o papel das mídias sociais na transformação da empresa em ator político e a influência na construção de legitimidade (Castello, Etter, & Nielsen, 2016). Também foram consideradas questões preditivas do sucesso ou falha de estratégias de PCRS relativas ao imaginário cultural popular do destinatário (Ehrnstrom-Fuentes, 2016) e a liderança do emissor (Maak, Pless, & Voegtlin, 2016). Embora a relevância de tais investigações, algumas questões permaneceram abertas para estudos futuros.

A primeira delas é a falta de atenção a determinados tipos organizacionais. A atenção dos estudos prossegue voltada para grandes empresas multinacionais com um pressuposto econômico subjacente. No entanto, empresas que possuem viés primário social –

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tal como empresas públicas e organismos não governamentais – e empresas de pequeno e médio porte com atuação local/regional, permanecem alijadas deste processo muito embora denote sua importância para o contexto social atual.

A segunda diz respeito ao estudo do movimento de nacionalização desenvolvido a partir de expedientes legais com caráter supranacional. A análise de padrões privados internacionais como instrumentos para padronização e comércio justo vê-se frente a um importante movimento de oposição com o resgate de controle pelos Estados. Quando considerado um ambiente de operações globais e de longas cadeias de abastecimento, esta questão ganha ainda mais valor.

A terceira diz respeito a heterogeneidade de ambientes institucionais e como a exposição de diferentes organizações a tais contextos altera as atividades políticas desempenhadas (Detomasi, 2015; Matten & Moon, 2008). Esta lacuna é ampliada através de duas considerações: não apenas países subdesenvolvidos possuem falhas em seu ambiente institucional, assim como há uma relação importante entre países com baixo desenvolvimento.

5. CONCLUSÃO

Este estudo investigou como ocorreu o desenvolvimento da linha de estudos políticos em responsabilidade social corporativa. Utilizando uma revisão sistemática de literatura, foi possível identificar as principais abordagens utilizadas para análise do fenômeno, seus avanços e as lacunas existentes para futuras investigações. Em linha com as mudanças do próprio conceito de PCRS, os achados apontam para um avanço das abordagens, acompanhando o desenvolvimento sócio político mundial, especialmente eventos recentes como a queda do muro de Berlim e a guerra contra o terror.

Os resultados mostram que as diferentes abordagens na linha geral de estudos em PCRS coexistem com claras distinções: se de um lado há uma visão mais restrita da atuação política das organizações e o foco central é destinado às multinacionais oriundas de países desenvolvidos; de outro, estudos que visualizem a atuação política como estratégica amplificam a repercussão e abrangência do fenômeno. No entanto, muito ainda necessita ser discutido, como preconizado pela nova abordagem 2.0, especialmente com a necessária inclusão de tipos organizacionais inicialmente alijados pela academia.

Os resultados sugerem que embora reconhecido o papel de ator político das organizações (e não apenas de indutor de políticas), há um largo espaço para avanço e investigações que reconheçam o fenômeno, especialmente em um contexto social heterogêneo e cada vez mais complexo.

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