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O TEMA DA NAÇÃO NAS CIÊNCIAS HUMANAS BRASILEIRAS. Historiografia e nação no Brasil.

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Academic year: 2021

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E proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou de parte do mesmo, sob quaisquer meios, sem autorização expressa da editora.

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EdUERJ

Editora da UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Rua São Francisco Xavier, 524 - Maracanã

CEP 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ

Tel./Fax.: (21) 2334-0720 / 2334-0721 / 2334-0782 / 2334-0783 www.eduerj.uerj.br eduerj@uerj.br Italo Moriconi Renato Casimiro Rosania Rolins Fábio Flora Shirley Lima Heloisa Fortes Lucia Maia

Durval Muniz de Albuquerque Junior (UFRN) Raquel Glezer (USP)

Editor Executivo

Coordenador de Publicações Coordenadora de Produção Coordenador de Revisão Revisão

Projeto, Capa e Diagramação Tradução das citações em francês

ANPUH

Associação Nacional de História

-SOiwoi p residente Vice-Presidente

CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/NPROTEC G963 Guimarães, Manoel Luiz Salgado, 1952-2010.

Historiografia e nação no B rasil: 1838-1857 / Manoel Luiz Salgado Guimarães, tradução de Paulo Knauss e Ina de Mendonça - Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011. Edições Anpuh.

284 p.

Originalmente apresentada como tese de doutorado à Universität Berlin com o titulo Geschichtsschreibung und nation in Brasilien, 1838-1857.

Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7511-200-7

1. Brasil - Historiografia -1838-1857. 2. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - Historiografia. 3. Vamhagen, Francisco Adolfo de, 1816-1878.1. Título.

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INTRODUÇÃO

O tem a da n ação nas ciên cias hum anas brasileiras

am algam ação m uito difícil será a liga d e tanto m etal h eterogên eo, com o brancos, m ulatos, pretos livres e escravos, índ ios etc. etc.,

em um corpo sólido e p olítico.” José Bonifácio de Ándrada e Silva, 1813

“Nossas cidades, enseadas, rios, minas, florestas, o Brasil inteiro tem sido visto, exam inado, estudado, copiado por sábios e por artistas da Europa: encam inhem os a nossa juventude para imitá-los, transplantando da Europa ao Brasil tudo quanto p od e dilatar a esfera dos nossos conhecim entos, e dos nossos gozos.” Ministro do Império, 1839

“H á tem pos que com profunda lástima tem os visto aparecer entre n ós sérias tendências de n os fazerem esquecer a nossa verdadeira origem , dando-nos outra, n ão só falsa, porém , o que mais é, m uito mais baixa. Outras N ações, separadas do berço por um grande n úm ero d e séculos, q ueren d o elevar-se, têm esq u ecid o a história, e fundadas em fábulas, h ão procurado para si um a origem n ão verdadeira, p orém sem pre ilustre. Alguns dos nossos patrícios, porém , querem esquecer-se d e que são filhos d e Portugueses, n ão para q ue a sua gen ealogia se vá prender a

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tronco mais nobre, mas sim para fazerem-se descendentes dos Tupiniquins e Botocudos. N ão lhes gabamos o gosto, antes querem os

provir dos Vascos da Gama, dos Castros, dos Mens d e Sá, do q ue dos Ambires, Jagoanharos e de outros bárbaros mais o u m enos antropófagos.”

Pinheiro Guimarães, 1856

As três citações iniciais su rg ira m em três épocas distintas: a p ri­ m e ira é d e q u a n d o a in d a n ã o havia u m E stado n acio n al brasileiro; a s e g u n d a tin h a com o p a n o d e fu n d o as g ra n d e s q u erelas so b re a e s tru tu ra in te rn a do E stado (em resum o, centralização versus descen­ tralização); e a terceira foi p ro d u z id a d u ra n te a consolidação d a m o ­ n a rq u ia p arlam en tar. A in d a assim, elas têm algo em com um : o fato de esp elh a rem n o p la n o p o lític o -cu ltu ra l a m ais im p o rta n te discussão do Brasil d a p rim e ira m e ta d e d o século X IX: o d eb ate sobre a questão d a N ação e o c a m in h o p a ra u m a in teg ração nacional, tã o am p la q u a n ­ to possível, de todos os h a b ita n te s d o E stado su rg id o n o a n o d e 1822.

Sem dúvida, a q u estão n acio n al, s o b re tu d o e m seus aspectos p olíticos e econôm icos, te m o c u p a d o la rg a m e n te as pesquisas das ciências h u m a n as n o Brasil.

D esde os a n o s 1930, a q u estão n acio n al, n a c o n d ição d e estu d o d a “especificidade b rasileira”, foi g a n h a n d o c a d a vez m ais im p o rtâ n ­ cia n o in te rio r d o cam p o das ciências sociais n o Brasil, se n d o u m te m a que, d esd e o século X IX, ocupava n ão só a arte , a lite ra tu ra , m as ta m b ém a historiografia. A R evolução d e 1930, co m seu p ro je to d e u m Brasil novo e m o d e rn o , b u sco u c ria r u m a m b ie n te in te le c tu a l d ed ic a d o ao trab a lh o so b re o passado. N o fu n d o , o q u e se im p u n h a e ra a id e ia d e q u e u m fu tu ro d ife re n te só seria possível q u a n d o fos­ sem elu cid ad o s os recu rso s d o passado d a ciên cia histórica. O s m ais im p o rta n te s re p re s e n ta n te s dessa g eraç ão d e cientistas sociais brasi­ leiros são G ilberto F reyre (1900-1987), S érgio B u a rq u e d e H o la n d a

(1902-1982) e Caio P ra d o J ú n io r (1907-1990).1

1 FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. 2 ed. Rio de Janeiro: Schmidt Editor, 1936, 360p.; HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raizes do Brasil. 9 ed. Rio de Janei­ ro: Livraria José Olympio Editora, 1976,154p. [Col. Documentos Brasileiros - 1]; PRADO JR. Caio. Evoluçãopolítica do Brasil. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1957,264p.

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A p a r tir d e suas obras, d isp o n d o d e m é to d o s ex isten tes n as di­ versas ciências h u m a n a s, esses a u to re s te n ta ra m e x p licar o Brasil.2 A pesar d e su a fo rm aç ão d ife re n c ia d a - Caio P ra d o J ú n io r e Sérgio B uarque d e H o la n d a e stu d a ra m D ireito, e n q u a n to G ilb erto Freyre cursou C iências Sociais n o s E stados U n id o s - , é possível d iz er q u e eles têm em c o m u m u m a p erspectiva h istó ric a n a a b o rd a g e m d e seus objetos d e pesquisa.

N o Brasil d a q u e le te m p o , a in d a n ã o havia a possibilidade d e um a fo rm aç ão u n iv ersitária n o d o m ín io das ciências sociais e histó ­ ricas, u m a vez q u e a p rim e ira u n iv e rsid ad e b rasileira foi fu n d a d a em São P aulo, em 1934. Esses a u to re s c o lo caram em foco as visões esta­ belecidas e os m itos c o n stru íd o s p e la h isto rio g rafia b rasileira trad i­ cional. A h istó ria d e m á rtires e h eró is, q u e exigia u m estilo biográfico e descritivo, o u a h istó ria factual, d ita histoire évenementieüe, deveria ser lib e rta d a p o r u m a h istó ria p re o c u p a d a co m os processos e as es­ tru tu ras sociais, colocando-se a serviço d a explicação. G ilb erto F reyre3 expôs, p e la p rim e ira vez, n o p la n o cien tífico os p ro b le m a s d a escra­ vidão, e n q u a n to Caio P ra d o J ú n io r 4 in te rp re to u , p e lo viés d a te o ria m arxista, a h istó ria co lo n ial d o Brasil.

Esses a u to re s d e s e m p e n h a ra m p a p e l fu n d a m e n ta l n o “Redes- co b rim e n to d o B rasil”, p a ra u tiliz ar o c o n c e ito d e C arlos G u ilh e rm e M ota, n a m e d id a em q u e suas o b ras serviram p a ra e stab e lece r u m p o n to d e p a rtid a p a ra estu d o s a ce rca d o passado d e nosso país. P o n ­ to d e p a rtid a , p o rq u e p r o p u n h a m u m novo q u e stio n a m e n to , o qual estabelecia u m a r u p tu r a rad ical c o m a trad ição d a h isto rio g rafia p ra ­ ticada pelo s diversos “In stitu to s H istó rico s”. U m a d é c a d a m ais tard e , evidenciaram -se os p rim e iro s resu ltad o s d e u m a p rá tic a cien tífica n a U niversidade d e São P aulo, esp e c ia lm e n te n o cam p o d a an tro p o lo

-2 MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1935-1974). 3 ed. São Paulo: Ática, 1977. 303p. O autor estabelece em seu trabalho uma periodiza­ ção para a historiografia brasileira entre 1933 e 1974. O período abarcado entre 1933 a 1937 é chamado de “Redescobrimento do Brasil”.

3 FREYRE, G., op. cit. 4 PRADO JR, C., op. cit.

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gia, d a sociologia e d a geografia, e m cuja s o m b ra a ciên cia h istó rica a in d a se colocava.

A pesar d a relativa p re c a rie d a d e d o desenvolvim ento científico d a h istó ria n o Brasil, a F acu ld ad e d e Filosofia d a U niversidade d e São P au lo lançava a Revista de História, q u e, ao seg u ir a o rie n ta ç ã o d o ex em p lo dos Annales franceses, assum iu u m a m a rc a in terd iscip lin ar. A id e ia d a criação d e u m a revista d e H istó ria o c o rre ra j á n o a n o d e 1937, n a m esm a é p o c a e m q u e F e m a n d B rau d el lecionava n a U n i­ versidade d e São Paulo. C om a in te n ç ã o d e e n fa ü z a r o p a re n te sc o esp iritu al com os Annales, o q u e ta m b é m e ra ú til ao p ró p rio re c o n h e ­ cim en to científico, a Revista de História p u b lic o u em seu p rim e iro n ú ­ m e ro , co m o artig o p rin cip al, a c o n fe rê n c ia q u e L u cien Febvre p ro ­ fe rira em 1949, n a U niversidade d e São P aulo, in titu la d a “O h o m e m d o século XVI”.5

N a é p o c a d o gov ern o d e Ju sc e lin o K ubitschek (1955-1960), o estu d o d o passado serviu à dissem inação d e u m a p o lític a cujas ca­ racterísticas e ra m o n acio n alism o co m o id e o lo g ia d e m assa, a c o n ­ solidação das instituições d em o cráticas e o cre sc im e n to ec o n ô m ic o a c e le ra d o p o r m eio d e u m a rá p id a in d u strialização d o país. F u n d a ­ m e n ta lm e n te , tratava-se d e p ro m o v e r a in d e p e n d ê n c ia do Brasil. O le m a d e seu g o verno, “50 an o s em c in c o ”, e a c o n stru ç ã o d e Brasí­ lia, n o Brasil C en tral, com o a nova capital, sim bolizavam a p rin c ip a l aspiração d e sua p olíüca: a possibilidade d e u m B rasil m o d e rn o e desenvolvido. F o r te m e n te in f l u e n c ia d a p e lo s tr a b a lh o s d e o r g a n iz a ç ã o d a C e p a l (C o m issã o E c o n ô m ic a p a r a A m é r ic a L a tin a d a O N U , c o m s e d e e m S a n tia g o d o C h ile ), s u r g iu , n e s s a é p o c a , c o m o a te o r i a m a is d i f u n d i d a d a s c iê n c ia s s o c ia is la tin o - a m e r ic a n a s , a m o d e r n iz a ç ã o b a s e a d a n o p r in c íp io d o d u a lis m o d e to d a s as so­

ciedades subdesenvolvidas, as q u a is c o n tê m e m si, s e g u n d o e ssa

te se , d u a s r e a lid a d e s c o n tr a d itó r ia s .

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O livro d e Ja c q u e s L a m b e rt - Os dois Brasis (1959) — desenvol­ veu essa te o ria u tiliz an d o o ex em p lo d o B rasil.6 O p rin c íp io dualista p a rtia d o p ressu p o sto d e q u e, a o lad o d e u m se to r m o d e rn o e p ro ­ gressista (in d ú s tria ), havia u m se to r subdesenvolvido (ag ricu ltu ra) q u e re p re se n ta v a u m em p e c ilh o p a ra o desenvolvim ento h a rm ô n ic o d a so cied ad e. A su p eração dessa c o n tra d iç ã o p o r m eio d a m o d e rn iza­ ção d a a g ric u ltu ra possibilitaria, fin a lm e n te , a p ro s p e rid a d e d e to d a a so cied a d e e co lo caria o Brasil n o ro l dos países desenvolvidos.

O s re p re s e n ta n te s dessa te o ria tê m c o m o p ressu p o sto a exis­ tê n cia d e u m a c o n tra d iç ã o p o lític a e n tre os interesses d a b u rg u e ­ sia in d u stria l nacio n al, q u e são vistos c o m o os p o rta d o re s d o p ro ­ gresso, e os interesses d o s latifu n d iário s ligados ao e stra n g e iro p ela ex p o rta ção .

E n q u a n to a “b u rg u e sia n a c io n a l” esteve c o m p ro m e tid a com o p ro g resso e a m o d e rn iz a ç ã o do país, os latifu n d iário s fo rtalece­ ram a “re a ç ã o ”, q u e se colocava n o c a m in h o dessa m o d e rn izaçã o . A lu ta p o lític a d o Brasil n o s an o s 1950 fo i fo rte m e n te im p re g n a d a dessa p o s tu ra teórica. O p o p u lism o , co m o fe n ô m e n o p o lítico d a é p o ­ ca, en carreg o u -se d e d ifu n d ir esse p rin c íp io d o du alism o e te n to u instrum entalizá-lo, visando o b te r, assim, c a d a vez m ais o a p o io d a so cied a d e e m favor d a m o d e rn iz a ç ã o po lítica. F rancisco W effort, p o ­ li tó lo g o d a U niversidade d e São P au lo e especialista d o fe n ô m e n o do p o p u lism o ,7 caracterizou-o co m o o f e n ô m e n o p o lítico q u e p e rm itiu a in c o rp o ra ç ã o d e m assas cad a vez m a io re s n a so cied a d e in d u strial q u e e n tã o se desenvolvia. P o r m eio d e u m a estreita relação d o líd e r p o p u lista, q u e tin h a acesso ao a p a re lh o d e E stado, co m as m assas u rb an as, a c o n d u ç ã o p o lític a teve êxito, p o r u m lado, ao co n seg u ir a ap rovação d e su a p o lític a p o r ocasião das eleições. P o r o u tro lado, a m assa am p lia d a d e tra b a lh a d o re s foi b em -su ced id a em sua in teg

ra-6 LAMBERT, Jacques. Os dois Brasis. 3 ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1967, 277p. [Col. Brasiliana, 335.]

7 WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 181p.

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ção à so cied ad e in d u strial, u m a vez q u e o E stado encontrava-se co m ­ p ro m e tid o em fazer concessões p a ra a lcan çar aprovação nas urnas.

S eg u n d o F rancisco W effòrt, u m a p o lític a am bivalente (com a possibilidade, p o r u m lado, d e c o n tro le das massas, e, d e o u tro , de os m esm os tra b a lh a d o re s estab e lece rem as p ró p ria s d em an d as) p res­ s u p u n h a u m crescim en to c o n tin u a d o co m o co n d iç ã o p a ra a in teg ra­ ção d e novos grupos.

A d e rru b a d a d o reg im e d em o crático em 1964 e a c o n se q u e n te c o n stru çã o d a d ita d u ra m ilitar a p o ia d a n a coalizão d a in d ú stria e d o latifú n d io im p u se ram u m a revisão dessa te o ria dualista p a ra o e n ­ te n d im e n to d o desenvolvim ento brasileiro. O q u e se ev id en cio u n o c am p o d a p o lític a foi algo m u ito d ife re n te d e u m estad o agravado d o c o n fro n to p o lítico e n tre os in d u striais e os latifu n d iário s. O trab a­ lh o d e Francisco d e O liveira8 assum iu, nessa perspectiva, u m a crítica radical à te o ria d o d u alism o válida até os an o s 1970. E m vez d e u m a co n tra d iç ã o e n tre u m E stado m o d e rn o (in d ú stria) e o u tro regressivo (ag ric u ltu ra), a an álise p ro c u ro u ressaltar as ligações e n tre os dois setores c o m p le m e n ta re s. O p o p u lism o foi fo rte m e n te criticado, u m a vez q u e a su p erestim ação d o n acio n alism o e d o p ro je to d e desenvol­ vim en to n acio n al e n c o b ria as reais c o n tra d içõ es d a so cied ad e e os d ife re n te s interesses d e classe.9

A c o n stru ç ã o dos diversos regim es a u to ritário s n a A m érica La­ tina, ao lo n g o dos anos 1960 e 1970, em alguns países com a c e n tu a ­ dos traços n acionalistas p ro v o co u tra ta m e n to re n o v ad o das q u estõ es relativas à h istó ria desse co n tin e n te : a q u estão n a c io n a l e a p articu la­ rid a d e d o su rg im e n to d e E stados nacionais, n o século X IX , nas an ti­ gas colônias, b em c o m o o fracasso das form as d e E stado d e m o c rá ti­ co, q u e, com fre q u ê n c ia , co nstituíram -se m ais e m exceções d o q u e a re g ra d a h istó ria d o c o n tin e n te .

8 OLIVEIRA, Francisco de. “A econom ia brasileira: crítica à razão dualis­ ta”. I n --- . Questionando a economia brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1975, pp. 5-78.

9 IANNI, Otávio. O colapso do populismo no Brasil 3 ed. Rio de Janeiro: Civiliza­ ção Brasileira, 1975, 223p. Crisis in BraziL Tradução de Phyllis B. Eveleth. New York: London, Columbia University Press, 1970, 244p.

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A rá p id a difusão d a teoria da dependência, inclusive em a m b ie n ­ tes acad êm ico s e u ro p e u s, c o m o p rin c ip a l m o d e lo d e explicação p a ra a h istó ria d a A m érica L atin a, tem relação d ire ta c o m o q u estio n a­ m e n to an tes a p o n ta d o .10 P a rtin d o dessa c o n tra te o ria dos fu n d a m e n ­ tos d a m o d e rn izaçã o , a m a io r p a rte dos estu d o s das ciências h u m a ­ nas brasileiras, n o p e río d o re fe rid o , d edicou-se à dependência n o seu sen tid o eco n ô m ico , b e m co m o c u ltu ra l e espiritual.

R ep o rtan d o -se a u m a trad ição m arxista, as análises, em vez de su b lin h a re m a op o sição e n tre as n açõ es, enfatizavam a c o n tra d iç ã o e n tre os interesses d e classe q u e u ltrap assam as fro n te ira s n acio n ais.11 * * * P o r essa perspectiva, fo ra m p ro p o sta s as seg u in tes questões:

A té q u e p o n to existiu n o B rasil d o século X IX u m nacionalis­ m o n o sen tid o eu ro p e u ?

A té q u e p o n to o viver em colônia to r n o u possível u m n a c io n a ­ lism o n o q u a d ro das lim itações im postas ao d e s d o b ra m e n to d e u m a esfera pública?

A té q u e p o n to é possível f a la r d a e x istê n c ia d e u m a c u ltu r a b ra s ile ira a u tó c to n e o u s o m e n te d a e x istê n c ia d e u m a tr a n s p la n ­ ta ç ã o d a c u ltu r a e u ro p e ia , q u e te r ia u m a nova m a n ife s ta ç ã o nos trópicos?

S erá q u e é possível fala r d e algo esp ecificam en te brasileiro?

10 Para o tratamento do tema em alemão, veja-se: EVERS, Tilman Tönnies & WOGAN, Peter von. “Dependencia”, lateinamerikanische Beitäge zur Theorie der Unterentwicklung: Das Argument Berlin, 15 (4-6), 1973, pp. 404r-54; LIN­ DENBERG, Klaus (org.). Lateinamerika-, Herrschaft, Gewalt und internationale Abhängigkeit. Bonn, Verlag N eue Gesellschaft, 1982, 358p.; SENGHAAS, Die­ ter (org.). Peripherer Kapitalismus, Analyse über Abhängigkeit und Unterentwi­ cklung. Frankfurt/M., Suhrkamp, 1981, 392p.; PUHLE, H ansjürgen (org.). Lateinamerika-, Historische Realität und Dependencia-Theorie. Hamburg, Ho- ffmann & Campe, 1977, 239p.

11 Como exemplo de trabalho nessa perspectiva, veja a importante obra de CAR­ DOSO, Fernando Henrique e FALLETO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1970, 143p.

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ciedade brasileira. O estudo dos rituais possibilita, seg u n d o seu p o n ­ to de vista, u m a ab o rd ag em d a totalidade social. E assim q u e estrutu­ ras fu n d am en tais d a sociedade são dram atizadas.

A p a rtir dessa postura, ele se ap roxim a d a sociedade brasilei­ ra com a in ten ção explícita de e n te n d e r a especificidade do que é “brasileiro”. O livro Carnavais, malandros e heróis, d e sua autoria, tem com o p e rg u n ta n o rte a d o ra , seg u n d o suas p ró p rias palavras, investi­ g ar “o q u e faz o Brasil Brasil”.17

O movimento de Independência e a questão nacional no Brasil

Ao lad o dos obstáculos d e n atu re za étnica, é preciso acrescen­ ta r o isolam ento das diferen tes províncias, q ue, ao m en o s parcial­ m e n te, só foi sen d o su p erad o , p o u co a p o u co , a p a rtir d e 1808, com a tran sferên cia d a C orte p o rtu g u esa p a ra o Rio d e J a n e iro , a conse­ q u e n te co n stru ção d e estradas, as expedições científicas e a elabora­ ção d e cartas geográficas.

A p ro d u ç ã o voltada à ex p o rtação d a co lô n ia d o Brasil e a forte centralização p olítica p o rtu g u esa to rn a ra m difícil p o r b astan te tem ­ p o o desenvolvim ento d e relações mais estreitas e n tre as diferentes regiões do Brasil. S om ente a p a rtir d o século XVIII, com a prosperi­ d ad e do o u ro d a região das M inas Gerais, desenvolveu-se u m m erca­ d o in te rn o a p a rtir do abastecim ento d a região en riq u ecid a.

A tran sferên cia d a C orte p o rtu g u esa p a ra o Rio d e Jan eiro , m otivada pelas invasões nap o leô n icas d a p en ín su la ibérica, alterou, seg u ram en te, em b o a m edida, essa situação. O Rio d e Ja n e iro , como a capital d e fato d o Im p ério po rtu g u ês, tornou-se tam b ém o centro do governo e ultrapassou o estatuto de u m a cidade d e província para se tran sfo rm ar em residência d e vários legados estrangeiros. Novas exigências surgiram a p a rtir de en tão e o Rio d e J a n e iro se to rn o u u m cen tro d e consum o im p o rtan te, in flu en cia n d o a p ro d u ç ã o das outras regiões d o Brasil.

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A p resen ça d o Estado p o rtu g u ês n a co lô n ia tro u x e co n seq u ên ­ cias im p o rtan tes p a ra o m ovim ento d e In d ep en d ê n cia: a Casa d e Bra­ gança m anteve o governo d o novo Estado, ap esar d a In d ep en d ê n cia. U m a situação inusitada, q u a n d o co m p arad a, p o r exem plo, com o conjunto das colônias espanholas vizinhas.

Nas antigas colônias espanholas, o d e se n ro la r dos fatos se d e u em direção b astan te oposta. Lá, In d e p e n d ê n c ia significou fo rte dis­ tanciam ento em relação à E sp an h a e valorização d a c u ltu ra indígena. O exem plo dessas colônias, em cujos te rritó rio s se fu n d a ra m várias repúblicas a p a rtir d a In d e p e n d ê n c ia , sem p re assustou a elite brasi­ leira. De a c o rd o com a co n ce p ção d e m u n d o vigente, a R epública p erten cia ao m esm o universo d a an a rq u ia e precisava se r d e tid a a qualquer custo.

O desenvolvim ento d ifere n ciad o das colônias espanholas e portuguesas deve ser c o m p re e n d id o tam b ém p o r m eio das possibili­ dades d e form ação das elites locais. Ao c o n trá rio d e P ortugal, a Espa­ nha a u to rizo u a fu n d ação d e universidades n a A m érica Latina, o que fez com qu e, desde m u ito cedo, a cam ad a d irig en te local pudesse se p re o c u p a r com o viver em colônia. E m 1551, as universidades do México e P e ru fo ram fundadas, e o n ú m e ro d e fo rm ad o s n o ensino superior n o final d a colonização - cerca d e 150 m il p a ra o universo hispânico e 1.242 p a ra o universo colonial p o rtu g u ê s - d em o n stra claram ente a distinção d e cu ltu ra p olítica e n tre as duas potências coloniais.18

N o caso das fam ílias abastadas d o Brasil, seus filhos tin h am o percurso individual d e form ação d e te rm in a d o , d e an tem ão , p ela or­ dem d e nascim ento: o p rim o g ên ito h erd av a os b ens m ateriais, e n ­ quanto o seg u n d o e ra enviado p a ra e stu d a r em P ortugal, com vistas à sua qualificação p a ra o c u p a r altas funções d e E stado. P ara esse p e ­ queno estrato social é q u e se colocava à disposição a U niversidade de C oim bra. Essa universidade foi fu n d a d a em 1308 e refo rm a d a n o

18 Sobre o sistema universitário latino-americano: STEGER, Hans-Albert. Die Uni­ versitäten in der gesellschftlichen Entwicklung Lateinamerikas: das lateinamerikanische Universitätswesen zwischen geschichtlcher Überlieferung und geplanter Zukunft. Güter­ sloh, C. Bertelsman Verlag, 1967, 305p., v. 1.

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final do século XVIII, n a ép o ca em q u e o M arquês de P om bal era pri­ m eiro-m inistro, em n o m e dos ideais do Ilum inism o, rep resen tan d o apenas u m a p rim eira am eaça à tradição aristotélica p re d o m in a n te .

A concentração em to rn o d e u m a ú n ic a universidade teve como consequência a hom ogeneização intelectual d a elite le tra d a do Brasil. É evidente que, além de C oim bra, havia o u tras opções p a ra se alcançar u m a form ação de nível superior. Elas se constituíam , contudo, em ex­ ceção n a preferência dessa elite letrada. Foi ex atam ente q u an d o outro p ercu rso d e form ação se afirm o u (o que é, em ce rta m ed id a, o caso d a elite le tra d a de M inas G erais, p o r exem plo) que se to rn o u possível a articulação de projetos políticos radicais. A pós a In d ep en d ên cia, a u n id a d e intelectual d a m aioria d a elite le tra d a brasileira facilitou o desenvolvim ento do Brasil ru m o ao Estado m o n árq u ico centralizado e inviabilizou a divisão do país em diversas repúblicas - contrastando, assim, com o que o co rrera n o universo colonial espanhol.

A p o stu ra d a elite d irig en te d o m ovim ento d e In d e p e n d ê n c ia é trad u zid a em u m trec h o d o Correio Braziliense - j o r n a l q u e surgira em L ondres en tre 1808 e 1822. P ouco antes d e a tin g ir a In d e p e n d ê n ­ cia, o jo r n a l escrevia:

... também não querem os uma revolução e um a revolução será se mudarem as bases de todo o edifício administrativo e social da monarquia; e uma revolução tal e repentina não se pode fazer sem convulsões desastrosas, e é por isso que não a dese­ jam os.19

A lguns anos mais ta rd e (1828), depois q u e essa cam ada diri­ g en te j á d e tin h a o p o d e r d e Estado, Evaristo d a Veiga, com o editor

19 Apud DIAS, Maria Odila da Silva, op. cit., p. 180.

O editor desse jornal foi Hipólito da Costa, que, em 1805, emigrou para Lon­ dres devido à perseguição da Inquisição. Seguidor dos ideais do Iluminismo, através de seu jornal, ele almejava promover o progresso do Brasil; pretendia, assim, viabilizar a suspensão do estatuto colonial e a convivência com Portugal numa monarquia parlamentar. Veja-se também: RIZZINI,, Carlos. Hipólito da Costa e o Correio Brasiliense. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1957, 310p.

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e re d a to r, resu m e nas páginas d o jo r n a l Aurora Fluminense, q u e ele fu n d ara n o Rio d e Ja n e iro , a opinião dessa elite: “N ada d e excessos. Q uerem os a C onstituição. N ão q u erem o s a R evolução.”20

A C asa d e B ragança surgia com o g a ra n tia de lib erd ad e d en tro de u m a o rd em política e, ao m esm o tem po, com o possibilidade d e es­ capar ao caos social exem plificado pelas antigas colônias espanholas.

Essa elite e sua ligação com os interesses e o m u n d o intelectual de P o rtu g al rep resen tav am a m aioria dos setores dirig en tes nacio­ nais, q u e ficou en c a rre g a d a d a tarefa d e co n stru ir o Estado brasilei­ ro a p a rtir d e 1822. A inda q u e a c u ltu ra p olítica d e P o rtu g al te n h a tido com o objetivo p ro m o v er a hom ogeneização in telectu al - o que realm en te te rm in o u a c o n te c e n d o - , n ã o se p o d e afirm ar d e to d o q u e não houvesse, n o in te rio r dessa elite, diferenças d e n atu re za tan to econôm ica q u a n to regional. E specialm ente d ia n te d a In d e p e n d ê n ­ cia e com o processo d e consolidação d o Estado nacional, p rojetos políticos alternativos fo ram form ulados - d e cará ter mais radical - , mas n ã o alcançaram sucesso n a estru tu ra ção d o Estado nacional.

N o final d o século XVIII, n a província d e M inas G erais, j á era possível p e rc e b e r c laram en te certa insatisfação com a p olítica colo­ nial p o rtu g u esa. A consciência de sua especificidade e d a au to n o m ia espiritual d a p o p u la ção d a província se fundava n a riqueza das m inas de o u ro , q u e eram con h ecid as desde o início do século XVIIL A p a r­ tir dessa base, em erg iu u m a o rd em social q u e n ão se p a re c ia com a o rd em trad icio n al d a sociedade colonial, ap o iad a n a a g ric u ltu ra . A a lta lu c ra tiv id a d e e a c o n c o m ita n te esp ecialização d a e c o n o m ia das m in a s d e o u ro c o n trib u íra m , p e la p rim e ira vez, n o B rasil p a r a o desenvolvim ento d e u m m e rc ad o in te rn o .

N a região m in e ra d o ra , ra p id a m e n te floresceu a vida u rb a n a em sua diversidade: n ã o ap en a s com o lu g a r dó governo, com o era usualm ente o caso das cidades d o litoral, o n d e a a g ric u ltu ra dava o tom, m as tam b ém com o lu g a r de ap ro x im ação dos d iferen tes g ru ­ pos sociais; p ro p rietário s d e m inas d e o u ro , m ercadores, q u e tin h am

20 Apud COSTA, João Cruz. “As novas ideias”. In HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História geral da civilização brasileira: o Brasil monárquico; o processo de emancipação. São Paulo: Difel, 1965, p. 182, v. 1, t. II.

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g ra n d e im p o rtân cia n o abastecim ento d a região m in erad o ra, e uma elite le trad a que, p o r sua vez, tin h a co n tato com o u tras fontes do Ilum inism o (em especial d o Ilum inism o francês, p o r ex e m p lo ). Des­ se m o d o , e n q u a n to o latifundiário d e u m a região agrícola (princi­ p alm en te os d a R egião N ordeste, em to m o d a c u ltu ra d a cana-de- açúcar) se fixava p rim o rd ialm en te em suas terras, o em presário da região das m inas ficava n a cidade e participava dos salões das socieda­ des literárias, deixando-se co n tag iar p o r ou tras experiências.

Esse co n ju n to d e fatores c ertam en te co n trib u iu p a ra q u e a re­ gião d e M inas G erais oferecesse u m q u a d ro d ifere n ciad o do Brasil nos tem pos coloniais, cujo cará te r se dissolveu com a crise d a pro­ dução das m inas e depois com a fo rte repressão d a insurreição de 1789. A g ran d e crise eco n ô m ica de P o rtu g al n o final d o século XVIII co nduziu ao fortalecim ento geral d a p olítica colonial p a ra co n tro lar o c o n tra b a n d o de ouro. N essa época, organizaram -se m ovim entos d e contestação em algum as cidades d o país, q u e se re u n ia m em tor­ n o das recém -criadas sociedades culturais, d en o m in ad as academ ias. A lguns dos in teg ran tes dessas sociedades, in icialm en te consentidas pelo governo colonial, n ão haviam estu d ad o em C oim bra, mas, sim, n a F rança, estabelecendo u m a p o n te com as co rre n te s intelectuais em voga. A filosofia do Ilum inism o francês, que, n o m eio das cor­ ren tes intelectuais d e então, e ra mais radical q u e as ideias receitadas em P ortugal, e ra discutida tom ando-se com o re fe rê n c ia a situação do Brasil.

Pela p rim eira vez desenvolveu-se certo d eb ate acerca d e temas delicados com o a questão d a escravidão. A rep ercu ssão social dessas sociedades foi m uito mais restrita d o q u e n os exem plos co rrelates eu ro p eu s, u m a vez q ue, n o Brasil, se tratava d e u m a o rd e m social com posta p o r g ra n d e p arcela d e escravos e n ã o havia q u a lq u e r siste­ m a educacional organizado.

A ntonio C ân d id o d e M ello e Souza (cientista d a lite ra tu ra da U niversidade d e São P aulo) ,21 ao a b o rd ar, e m seu estu d o , a form ação

21 SOUZA, Antonio Cândido de Mellò e. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. São Paulo: Martins, 1959, 2v.

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de u m a lite ra tu ra brasileira, fala d e u m au to p ú b lico p a ra caracteri­ zar os in teg ran te s das academ ias. Tratava-se d e u m a esfera pública m uito restrita, pois, n o fu n d o , eles form avam seu p ró p rio público. A literatu ra d a q u e le tem p o , q u e seguia os p a d rõ e s form ais e u ro p eu s na ab o rd ag e m d e seus tem as - re c o n h e c im e n to d a p ró p ria realidade, valorização dos filhos d a te rra e cren ç a n o progresso do país —, aca­ bou p o r re p re s e n ta r as transform ações sociais d a época.

O p o n to alto desse esforço d e co n testação foi o m ovim ento político sufocado p e lo governo colonial, o c o rrid o n a região das Mi­ nas G erais e m 1789. O g ra n d e n ú m e ro d e intelectuais envolvidos

(clérigos, poetas e d ip lo m ad o s em universidade) e sua con fian ça n a filosofia d o Ilum inism o francês - o assim c h am ad o esp írito francês - caracterizaram a co n sp iração política.

K e n n e th Maxwell, em sua pesquisa sobre essa conspiração política,22 id e n tifico u três g ru p o s q u e se en g ajaram n o levante: os as­ sim cham ados ativistas, com seu p ap el d e lid e ra n ç a n o d e se n ro la r do m ovim ento; os intelectuais, q ue, em g ra n d e p arte, depois d a estada na U niversidade d e C oim bra (a m e ta d e dos estu d an tes brasileiros em C oim bra, dois anos an tes d o levante, era m “m in eiro s”, h ab itan tes de M inas G erais), e m p re e n d ia m viagens p o r o u tro s países eu ro p e u s como In g la te rra e F rança; e u m estrato d e co m ercian tes ricos, em ­ presários d a m in eração e c o n tra ta d o re s d e im postos, u m g ru p o que, em bora abastado, tin h a g ran d es dívidas com a C oroa p o rtu g u esa. O m o n tan te das dívidas dessa cam ada social se viu a u m e n ta d o com a crescente crise das m inas d e o u ro , re p e rc u tin d o n a dim in u ição de suas receitas.

A po lítica do governo p o rtu g u ês d e re d u ç ã o d o m o n ta n te das dívidas, esp ecialm en te a p a rtir d a n o m e ação do V isconde d e Barba- cena com o g o v ern ad o r d e M inas G erais em 1786, aproxim ava ain d a mais essa cam ada social d a co n ju ração política. N ão à to a constava do p ro g ra m a d e In c o n fid ê n c ia M ineira (com o o m ovim ento ficou

22 MAXWELL, Kenneth. A devassa da Devassa; a Inconfidência Mineira: Brasil e Por­ tugal, 1750-1808. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, 3l7p.

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co n h ec id o p ela historiografia) a suspensão d e todas as dívidas rela­ cionadas com a C oroa p ortuguesa.

A lém disso, co n stav am d o p r o g r a m a dos m in e iro s diversas m e d id a s d e n a tu re z a ec o n ô m ic a d e s tin a d a s ao novo E sta d o q u e p r e te n d ia m f u n d a r e q u e d e v e ria e sta b e le c e r-se com b ase em p rin c íp io s re p u b lic a n o s: in c en tiv o às m a n u fa tu r a s locais, severa­ m e n te p ro ib id a s p e lo c o n tro le p o rtu g u ê s ; p ro m o ç ã o d a e x p lo ra ­ ção d e m in é rio a b u n d a n te m e n te d isp o n ív e l n a re g iã o , q u e, p o r su a vez, e r a im p o r ta n te n a e x tra ç ã o d o o u ro , n a m e d id a em q u e se c o n s titu ía em m a té ria -p rim a p a r a a p r o d u ç ã o d e im p o rta n te s fe rra m e n ta s .

A Revolução A m ericana p arec e te r fo rn ecid o u m p arâm etro p rim o ro so p a ra o p la n o dos conjurados. O vínculo e n tre u m a polí­ tica fiscal injusta e u m levante político, com o se evidenciou n o caso am ericano, apresentou-se in teg ralm en te n a avaliação dos ato res e n ­ volvidos n o m ovim ento. A fu n d ação d e u m a universidade n a capital das M inas Gerais, Vila Rica, tam bém fazia p a rte das previsões do p ro ­ gram a d o levante.

F ator problem ático n o m ovim ento foi a discussão d e questões com o, p o r exem plo, a abolição d a escravidão, u m a vez q u e alguns de seus m em b ro s im p o rtan tes eram sen h o res de escravos. U m a solução de com prom isso te rm in o u sen d o en co n trad a, chegando-se ao acor­ d o d e to rn a r livres todos os negros nascidos n o país.

A inda que houvesse co n tato en tre M inas Gerais, São P aulo e Rio d e Jan eiro , o m ovim ento m anteve ca rá te r m a rc ad am e n te regio­ nal. Isso dificilm ente se co ad u n a com a in te rp re ta ç ã o do m ovim ento fixada p ela historiografia nacional brasileira, q u e o identifica com o n ascim ento d a consciência nacional.

O u tro s m o v im en to s p o lític o s d e c a r á te r s im ila r o c o rre ra m ta m b é m n o R io d e J a n e ir o (1794), o n d e se situava, d e sd e 1763, a sed e do g o v e rn o -g e ra l co lo n ial, e n a B a h ia (1798). A devassa le v ad a a cab o p e la J u s tiç a lu s ita n a n a se q u ê n c ia d a re p re s s ã o à In c o n fid ê n c ia do R io d e J a n e ir o c o n s ta to u a le itu ra d e a u to re s com o M o n tesq u ie u , V oltaire, M ably e os e n c ic lo p e d ista s. C o n sta dos autos:

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E reuniam-se elas não só em casas particulares mas ainda nos lugares públicos, com a ocasião das atuais alterações da Euro­ pa, a altercar questões sobre o governo público dos Estados e em que algumas das referidas pessoas têm escandalosamente proferido: que os reis não são necessários; que os hom ens são livres e podem em todo o tem po reclamar a sua liberdade; que as leis por que hoje se governa a Nação francesa são justas e que o m esm o que aquela nação praticou, se devia praticar neste con tin en te.25

Ao final do século XVIII, co m eçaram a se to m a r previsíveis os prim eiros sinais d e u m a crise do sistem a colonial co n stitu íd o d esd e o século XVI, vislum brando com o resultado d e sua d e rro c a d a a possi­ bilidade d e se co n stitu írem diversos Estados nacionais.

A p a rtir de 1808 - q u an d o o rei p o rtu g u ês tran sferiu sua C orte p ara o Rio d e ja n e iro , devido à am eaça napoleônica d e cerco continen­ tal que se abatia sobre P ortugal - , o Brasil recebeu o novo status d e cen­ tro do im pério colonial português. Assim, o p e río d o en tre 1808-1821 ficou m arcado p o r u m a série de reform as em p reen d id as em vários âm bitos (por exem plo, governo, cultura). As consequências se apresen­ taram tan to no plano d a econom ia com o n o p lan o político-cultural. Com a suspensão d ó m onopólio com ercial p o rtu g u ês, desmontava-se um dos pilares d o sistem a colonial. A exclusão d e P ortugal com o ins­ tância in term ed iária do com ércio e a consequente baixa dos preços atendiam a u m a das g ran d es d em an d as d a econom ia brasileira.

C om o c o n tra p a rtid a ao ap o io o ferecid o a P o rtu g al c o n tra Na- poleão, a In g la te rra obteve taxas alfandegárias preferenciais e tor­ nou-se, assim, a m a io r b en eficiária d a lib e rd a d e com ercial brasileira. O estreito re la c io n a m e n to e n tre P o rtu g al e In g la te rra n ão e ra um fe n ô m e n o novo. D esde 1703, com a afirm ação d o T ra ta d o d e Me- th u e n , P ortugal obrigava-se a ace ita r o ingresso d o algodão inglês livre d e taxas d e im p o rtação , e n q u a n to a In g la te rra se co m p ro m etia em favorecer a im p o rtaçã o d o vin h o po rtu g u ês.

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N a p rim eira m etad e do século XVIII, P ortugal se colocava em terceiro lugar n a lista dos im p o rtad o res de p ro d u to s ingleses, depois d a H o lan d a e d a A lem anha: O s privilégios concedidos à organização dos com erciantes ingleses d a cidade do P orto e de Lisboa existente desde o século XVII ilustram m uito bem a conexão desses interesses.24 Em 1815, o Brasil foi elevado à p arcela com os m esm os direi­ tos d o R eino U n id o d e P ortugal, Brasil e Algarve, o q u e era, então, equivalente, n o p lan o político, ao sentido eco n ô m ico q u e o Brasil assum ira n o im p ério colonial po rtu g u ês. O fato inusitado n a histó­ ria colonial latino-am ericana d a tran sferên cia d a C orte possibilitou à elite brasileira acesso aos cargos m ais elevados n a adm inistração d e Estado, ad ian d o a u rg ên cia d a necessidade d e se p ro m o v er u m a in d e p e n d ê n c ia política.

Desse m odo, a elite brasileira, aliviada eco n o m ica m en te desde 1808, q u a n d o o m o n o p ó lio com ercial foi afrouxado, e com acesso político ao ap arelh o d e Estado e à C orte n o Rio d e Ja n e iro , n ã o co­ locou n o h o rizo n te d e suas expectativas a solução d e u m a separação radical de P ortugal. Foi so m en te n o d e c o rre r dos eventos políticos q u e o co rreram em P ortugal, em 1820, q u e a separação com o opção política se im pôs n o q u ad ro d e discussões, a fim d e g a ra n tir a m a n u ­ ten ção dos privilégios econôm icos e políticos conquistados.

Em 24 d e agosto de 1820, n o P orto, cid ad e ao n o rte d e P or­ tugal, levantaram -se diversos regim entos m ilitares, d a n d o início à “R evolução L iberal” (assim d e n o m in a d a pela historiografia). A eclo­ são desse m ovim ento, com im p o rtan tes consequências p a ra a In d e ­ p e n d ê n c ia do Brasil, deve ser vista em relação com o co n tex to da sociedade p o rtu g u esa e suas con d icio n an tes econôm icas e políticas. D esde a transferência d a C orte p a ra o Rio d e Ja n e iro , em 1808, que em P ortugal a p reex isten te h e g em o n ia d a In g la te rra a u m e n to u ain­ d a m ais seu peso. Essa h e g em o n ia n ão p ro p o rcio n av a apenas vanta­ gem econôm ica à In g laterra - com o, p o r exem plo, o c o n tro le do co­ m ércio colonial com o Brasil; tin h a tam bém consequências políticas.

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E specialm ente no m eio das forças m ilitares, sob o co m an d o do g en eral inglês B eresford (1768-1854), cresceu u m sen tim en to de insatisfação q u e se m anifestava em defesa d a h o n r a nacional. Para d esen cad ear o m ovim ento, estrateg icam en te, lideranças d o levan­ te m ilitar aproveitaram a viagem d e B eresford p a ra o Rio d e Ja n e i­ ro, o p o rtu n id a d e em q u e p re te n d ia a p re se n ta r ao rei d. J o ã o VI a situação crítica d e P ortugal. A pós o levante d o P o rto , nas regiões sob o co n tro le das tropas e d os oficiais revoltosos, os oficiais ingleses das forças arm adas fo ram destitu íd o s d e suas funções.

A difícil situação eco n ô m ica d e P o rtu g al se com plicou ain d a mais pelo fato d e q u e g ra n d e p a rte das receitas públicas havia sido gasta pela C orte n o Rio d e Ja n e iro . Assim, estabeleceu-se u m q u a d ro em q u e todas as águas co rria m a favor d a revolução. Jo sé T razim u n d o M ascarenhas B arreto (1802-1881), m e m b ro d a aristocracia, em suas m em órias,25 descreveu d o seguinte m o d o o clim a político:

As ideias de revolução eram gerais. Rapazes e velhos, frades e seculares, todos a desejavam. [...] e todos queriam a Corte em Lisboa, porque odiavam a ideia de serem colônia duma colônia.26

Com isso, esse m e m b ro d a n o b reza expressava u m sen tim en to que e n c o n tro u g ra n d e ressonância n a sociedade p o rtu g u esa, qual seja, d e q u e P o rtu g al se to rn a ra colônia do Brasil. E q u e essa inversão dos papéis estabelecidos, o u ao m enos a am eaça dessa inversão, não p o d ia ser tolerada, m anifestando-se através d e u m a firm e p olítica de recolonização o rig in ad a das forças políticas d a revolução em an d a­ m ento.

A ex p eriên cia d a ocu p ação n a p o le ô n ic ã em P o rtu g al e a tran s­ ferên cia d a C orte atingiram alguns setores d a sociedade p o rtu g u esa de m o d o p ro fu n d o , com o se p o d e co n sta ta r com as m anifestações 25 26

25 BARRETO, José Trazimundo Mascarenhas. Memórias do Marques de Fronteira e dAloma. Coimbra: Imprensa Universitária, 1928, v. 1, 493p.

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p o r ocasião d a “R evolução L iberal”. O discurso se colocava sem pre em defesa da restituição d a h o n ra nacional, e o m esm o M ascarenhas B arreto conseguiu trad u zir a im pressão d e sua classe d ia n te d a trans­ ferên cia d a C orte, qualificando-a de “fuga v ergonhosa d a Casa de B ragança”.27

Após a le itu ra d e u m a p roclam ação às tropas reu n id a s - a qual term inava com as seguintes palavras: “Q ue vivam o Rei, as C ortes e a C onstituição” - , 28 o S enado d a cidade do P o rto foi convocado para fo rm ar u m governo provisório. Esse governo provisório, com posto de rep resen tan tes d a Igreja, d a aristocracia, dos altos oficiais d e Esta­ do e das diferentes regiões, tin h a com o objetivo:

1. exercer o governo em nom e do rei; 2. zelar pelos princípios da Igreja católica;

S. convocar as Cortes, que desde 1689 não mais haviam sido convocadas, a fim de preparar uma Constituição.29

N o m esm o d ia, o gov ern o p ro v isó rio se e n c a rre g o u d e di­ f u n d ir u m Manifesto aos Portugueses,30 em q u e se e stab e leciam os objetivos d o novo governo. Ressalte-se, nesse d o c u m e n to , a insis­ tê n cia em q u e a rev o lta se to r n a r a u m a n e c e ssid a d e p a r a re s ta b e ­ le cer u m a situ a ção q u e d ev eria re s u lta r o u n u m g o v ern o d e base c o n stitu c io n a l j á e x isten te o u n o re to rn o d a C o rte p a r a L isboa. Se­ g u n d o o m an ifesto , o p reju ízo dessa situação e ra o m otivo d a crise p o rtu g u e s a . P a ra d o x a lm e n te , tratava-se d e u m a revolução q u e fi­ xou em seu p ro g ra m a :

27 Idem, p. 29.

28 SANTOS, Clemente José dos (org.). Documentos para história das cortes gerais da nação portuguesa: 1820-5. Lisboa: Imprensa Nacional, 1883, p. 6, v. 1.

29 Idem, pp. 7-9.

30 Manifesto aos portugueses de 24/08/1820. In SANTOS, C. J. dos, op. cit, pp. 9-10.

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As mesmas ordens, os m esmos lugares, os m esmos ofícios, o sa­ cerdócio, a magistratura, todos serão respeitados n o livre exer­ cício da autoridade que se acha depositada nas suas mãos.31

A cidade do P o rto tin h a p a ra o n o rte de P ortugal g ra n d e im­ p o rtân cia com o cen tro de m a n u fa tu ra e com ércio,32 e a adesão ao m ovim ento veio p rim eiro d a p a rte seten trio n al do país. U m a sem ana depois d a proclam ação d a direção m ilitar, a rep resen tação dos co­ m erciantes d a cidade do P o rto an u n cio u , em 1" de setem b ro de 1820, seu apoio irrestrito e a disposição em a d e rir ao m ovim ento “com pes­ soas, c o n h ec im e n to s e b e n s”.33 Em seus escritos, os rep resen tan tes dos interesses com erciais se referiam ao n ú cleo cen tral d e suas reivin­ dicações: a p e rd a d o m o n o p ó lio com ercial d o Brasil, q ue, conform e sua p ró p ria expressão, “nós felizm ente o cupam os e possuím os”.34

E m 15 d e setem b ro d e 1820 - d ata d a libertação d e P ortugal da d o m in ação n a p o le ô n ic a através d e u m levante n a capital - , Lis­ boa, d e n atu re za sim ilar à revolta d o P o rto , tam b ém o rg an izo u um governo provisório com os m esm os objetivos. O s “g o vernadores do R eino”35 foram perseguidos, depois d e te re m c o n d e n a d o energica­ m ente o levante d a cidade d o P o rto n a p ro clam ação d e 2 de setem ­ bro de 1820.36

Os dois governos se unificaram , co n stitu in d o , em 28 d e se­ tem bro d e 1820, u m único governo p a ra to d o o país, e conduziram eleições p a ra a assem bleia das C ortes q u e deveriam realizar-se em dezem bro d e 1820.

31 Idem, p. 10.

32 Veja SANTOS, Fernando Piteira. Geografia e economia da Revolução de 1820. Lis­ boa: Europa-América, 1962,185p.

33 Felicitação do Corpo do Comércio de 1 /9 /1 8 2 0 . In SANTOS, C. J. dos, op. cít., p. 19.

34 Idem.

35 Representantes do rei em Portugal durante sua permanência no Brasil. 36 Proclamação dos Governadores do Reino, de 2 /9 /1 8 2 0 . In SANTOS, C. J. dos,

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A discussão p a ra a convocação das C ortes j á estava deixando claro q u e havia diferentes facções no in te rio r do m ovim ento, n um espectro que ia d a convocação das C ortes d e acordo com o p adrão trad icio n al (com rep re se n ta n te s das três o rd en s d a sociedade) até a defesa d e u m d ireito d e voto generalizado.

Ao final, en co n tro u -se u m a solução in te rm e d iá ria que, d e um lado, in tro d u zia u m a rep re se n ta ç ã o d ire ta e, de o u tro , previa um censo. A assem bleia assim eleita e re u n id a rece b eu o n o m e d e “Cor­ tes”, sim bolizando, desse m o d o , u m m arco dessa sociedade, q u e reu ­ n ia novos ideais e prin cíp io s políticos d a vida p olítica com antigas estruturas.

O u tro exem plo disso é a nova d en o m in açã o d o lu g a r d a p ro ­ clam ação às tropas reu n id as, q u e d e slan c h o u o m ovim ento em 24 d e agosto d e 1820, através d o d e c re to d e 23 d e d ezem b ro d e 1820: a p raça n a qual se co n clam o u a “R evolução” deveria ser cham ada, a p a rtir d aq u ela data, d e “P raça d a R eg en eração ”.37

O resultado das eleições p a ra a assem bleia co n stitu in te deu u m a expressiva m aioria p a ra os servidores d a ju stiç a , p o u c o m ais que a u m a elite d e form ação (cerca d e 65% ), em co n trap o sição a apenas cerca d e 5% d e com erciantes.38

E verdade que a assem bleia constituinte previa a rep resentação d o Brasil - cerca de 70 rep resen tan tes em relação a 130 de P ortugal -, mas, m esm o assim, logo ficaram evidentes os objetivos d e recoloni- zação, fo rtalecen d o o pacto colonial p o r vários d ecreto s:39 1. R etorno d o rei a Lisboa (d ecreto d e 7 d e m arço d e 1821), u m a m e d id a q u e os governadores d o R eino j á haviam re c o m e n d a d o ao re i p o r carta de 29 d e setem b ro d e 1820, n a seq u ên cia dos distúrbios n o P o rto .40 Com isso e com a convocação d as C o rte s, os g o v ern ad o res tin h a m com o

87 Decreto de 23/12/1820. In SANTOS, C. J. dos, op. cit, p. 126. 38 SANTOS, Fernando Piteira, op. cit., p. 95. ...

39 Sobre o conceito de “pacto colonial”, veja: NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1979, p. 420. 40 Carta dos “Governadores do Reino” ao rei, de 2 /9 /1 8 2 0 . In SANTOS, C. J. dos,

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objetivo esvaziar o m ovim ento. 2. S u sp en são d a lib e rd a d e d e co ­ m ércio. 3. C o n c e n tra ç ã o p rin c ip a lm e n te em L isboa das in stâ n cias de decisão (d ecreto d e 29 d e setem b ro d e 1821) e convocação, p a ra P ortugal, d o filh o do rei, o p rín c ip e -re a l P ed ro IV. S upressão d a m á q u in a d e governo esta b e le c id a n o R io d e J a n e iro d esd e o te m p o da tra n s fe rê n c ia d a C o rte p a r a o B rasil e, ao m esm o tem p o , a p o ­ se n ta d o ria d os serv id o res com m e ta d e d a re m u n e ra ç ã o (d ecreto de 11 d e ja n e ir o d e 1822). Esse d e c re to e n c a m in h a v a , n a v erd ad e, m ed id as q u e j á hav iam sido a b a rc a d a s n o d e c re to d e 29 de setem ­ bro d e 1821. Foi e x a ta m e n te a ap rovação dessa p o lític a q u e fez d a In d e p e n d ê n c ia d o B rasil a ú n ic a solução possível p a r a u m a elite b rasileira, a fim d e in v iab ilizar o re sta b e le c im e n to d e u m an tig o Estado.

As tensões e n tre os objetivos d a recolonização d a nova o rd em política de P ortugal e os interesses d a elite brasileira em favor da m an u ten ção d e suas “lib erd ad es” conquistadas fo ram claram en te ex­ plicitadas n a assem bleia constituinte. U m conflito q u e se m ostraria insolúvel sem a separação política.

A pesar das tensões, até p o u co te m p o antes d a declaração de In d ep en d ê n cia, o discurso sem p re foi ò d o desejo e d o anseio de um a u n id a d e com P ortugal, até o n d e os interesses brasileiros p u d es­ sem ser contem plados. As instruções aos re p re se n ta n te s d e São P aulo na assem bleia co n stitu in te d e Lisboa41 c o n tin h am os p o n to s p ro g ra­ m áticos q u e deveriam servir d e p a u ta nas negociações políúcas p a ra os rep resen tan tes brasileiros n a assem bleia.

A in teg rid ad e do R eino U n id o d e P ortugal, Brasil e Algarve, assim com o a igualdade d e todas essas p artes d o organism o político (por exem plo, o m esm o n ú m e ro d e rep re se n ta n te s), fo ram os pri­ m eiros p o n to s desses p rin cíp io s n o rtea d o res. Mais ad ian te, o do cu ­ m en to apresentava o p o n to d e vista d e q u e deveria h aver u m governo executivo n o Brasil. N essa perspectiva, a tro ca d e co rresp o n d ên cia

41 “Instruções do Governo Provisório de São Paulo aos deputados da província às Cortes Portuguesas, para se conduzirem em relação aos negócios do Brasil”. In SILVA, José Bonifácio de Andrada e. Escritos políticos. São Paulo: Ed. Obelisco, 1964, pp. 13-24.

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e n tre o príncipe-real P e d ro e seu pai, o rei d. Jo ã o VI, é bem escla­ reced o ra. E n q u an to a in d a em 4 d e o u tu b ro d e 1821, em suas anota­ ções ao pai,42 o p rín cip e-real evitava q u a lq u e r tentativa d e se to rn ar ev en tu alm en te im p e ra d o r d o Brasil: “O q u e se queria, [mas] eu ju ro a Sua M ajestade que eu n u n c a vou q u e b ra r o ju ra m e n to e q u e eles só co m eterão esta loucura, depois de e n fre n ta re m a m im e a todos os p o rtu g u eses”.43

Com o passar do tem p o e com a sem p re crescente pressão in tern a, sua p o stu ra se a lte ro u co m p leta m en te. Sua carta d e 19 de ju n h o d e 182244 espelhava claram en te essa m udança: a política de recolonização d a assem bleia co n stitu in te d e Lisboa fo ra aprovada, e o príncipe-real avaliava en tão a possibilidade d e ser aclam ado rei do Brasil. N a m esm a carta, ele arg u m en tav a q u e o Brasil n ão podia ad m itir u m a política de recolonização devido à sua superioridade, d ia n te d o q u ad ro cada vez mais evidente d a força do Brasil face a P ortugal.

A defesa, até o últim o m o m en to , d a u n id a d e com Portugal, su sten tad a p o r p a rte d a elite brasileira, deve ser atrib u íd a ao receio d e q u e u m a separação tivesse com o co n seq u ên c ia a divisão d o país, estabelecendo, assim, a “a n a rq u ia ”. E m seu discurso d ia n te d o Se­ n a d o d a cidade d o Rio d e J a n e iro , em 23 d e m aio d e 1822,45 José C lem ente P ereira (1787-1854), fu tu ro p olítico d o P rim eiro R einado, fo rm u lo u os principais p o n to s d e crítica à assem bleia decisiva d e Lis­ boa, n ão ob stan te te n h a ain d a su b lin h a d o a u n id a d e com P ortugal tam b ém com o g aran tia d a u n id a d e das províncias brasileiras:

42 “Carta do príncipe-real d. Pedro ao seu pai, o rei d. João VI, de 4 /1 0 /1 8 2 1 ”. In SANTOS, C. J. dos, op. cit., p. 256.

43 Idem, p. 256.

44 “Carta do príncipe-real d. Pedro ao seu pai, o rei d. João VI, de 1 9 /6 /1 8 2 2 ”. In SANTOS, C. J. dos, op. cit., pp. S58-60.

45 “Discurso de José Clemente Pereira, presidente do Senado da cidade do Rio de Janeiro, de 2 3 /5 /1 8 2 2 ”. In SANTOS, C. J. dos, op. cit., pp. 366-70.

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[...] o perigo da desunião está im inente, circunstâncias urgem, a salvação da pátria impera [...] Convoque vossa alteza real já nesta corte uma assembléia geral das províncias do Brasil, e a união com Portugal será mantida e a das províncias do Brasil consolidada.46

Logo depois de seu re to rn o a Lisboa e d a indicação do filho como seu suplente, o rei d. Jo ã o VI d e m o n stro u , em seu últim o co n ­ selho ao p ríncipe-real d e te rm in a d a p re m o n iç ã o política, n a qual o príncipe se fiou p a ra ju stificar a possível adesão a favor de um gover­ no brasileiro au tô n o m o : “P ed ro , se o Brasil se separar, antes seja p a ra ti, que m e hás de respeitar, d o q u e p a ra algum av en tu reiro .”47

N ão foi d ifere n te a p o stu ra do co m a n d o político do m ovim en­ to de In d e p e n d ê n c ia q u e e m p re e n d e u a organização do Estado n a­ cional n o Brasil. P or certo, tratou-se d e u m a separação, m as d e m o d o algum isso significou u m a transform ação p ro fu n d a d a o rd e m social. A h eran ç a portuguesa, a busca p o r sin to n ia e n tre o novo e o antigo, fora d eslanchada. O filh o d o rei foi c o ro a d o im p e ra d o r, com o Pe­ dro I, e, assim, os antigos atores sociais c o n tin u a ra m d o m in a n d o a cena. E m c o rresp o n d ên cia com u m a esfera pú b lica p olítica m u ito limitada, u m a p a rte considerável d a p o p u la ção m anteve-se distante do d esen ro la r d a política. Assim, ap en a s 1 % a 3% d a p o p u lação ob­ teve d ireito d e voto.

A declaração d e In d e p e n d ê n c ia n ã o significou o co n tro le sobre todo o país d o p o d e r c en tral, sediado n o Rio de Ja n e iro . N o p e río d o de governo d e P e d ro I (1822-1840), ho u v e divisões com m ovim entos autônom os, em p a rte arm ados, n o n o rte e n o sul d o Brasil, q u e levan­ taram reivindicações m ais radicais, com o, p o r exem plo, a dissolução da m o n arq u ia. O risco d e u m a rep artição d o país n ã o p arec ia ex­ cluído. S o m en te n o d e c o rre r d e duas d écadas é q u e a centralização

46 Idem, p. 370.

47 “Carta do príncipe-real d. Pedro ao seu pai, o rei d. João VI, de 1 9 /6 /1 8 2 2 ”. In SANTOS, C. J. dos, op. cit., p. 359. O príncipe-real lembra ao seu pai a conversa que os dois tiveram dois dias antes da partida do rei para Portugal. O rei se referia aos acontecimentos na América espanhola.

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do país e seu p ro jeto político c o rre sp o n d e n te conseguiram se afir­ m ar.

Historiografia e questão nacional: o tratamento do tema nas ciências sociais brasileiras

A in d e p e n d ê n c ia política, deveria c o rre sp o n d e r, igualm en­ te, u m a in d e p e n d ê n c ia cultural: a questão d a id e n tid a d e brasileira em erg iu com o tem a im p o rtan te. N essa época, a análise das bases da nação tornou-se tarefa fu n d am e n tal dos intelectuais e políticos. O m e lh o r exem plo dessa o rientação é a atividade político-literária dos au to res d o R om antism o brasileiro d o século XIX.

U m a id e n tid ad e nacional e ra to m ad a com o pressuposto p a ra que o Brasil se afirm asse plen am en te com o nação n o q u a d ro in te rn a ­ cional. Tratava-se, porém , d e se a firm a r com o u m a n ação civilizada, d e acordo com os p ad rõ es europeus. N ação e civilização eram vistas com o equivalentes. O projeto d e análise das bases d a n ação se articu ­ lava a p a rtir dos pad rõ es europeus. O índio, que surgia nos rom ances do século X IX com o sím bolo d a n acionalidade e com o p o rta d o r da

brasilidade, apesar d a diferença d o traje, era, n o fu n d o , u m h eró i

e u ro p e u . A d ed icação ao ex am e d o q u e e r a “v e rd a d e ira m e n te b r a ­ sileiro ” co n ta g io u os m ais diversos m ovim entos ao lo n g o do século X IX e X X.

N o século XIX, com o j á m en cio n ad o , os ro m ân tico s se ocu­ p aram in ten sa e p ro g ram aticam en te d a questão em to rn o d a identi­ d a d e brasileira. Nesse contexto, seu d irec io n am en to p a ra a história assum iu significado especial, te n d o sido in te rp re ta d o tam bém pela perspectiva d a busca p o r u m a base histórica p a ra a n ação brasileira. H ouve gran d es divergências n a época, co lo can d o a historiografia e a literatu ra em cam pos opostos n o q u e se re fere ao tratam e n to das bases d a id e n tid ad e brasileira. Q u a n d o ab o rd árm o s a o b ra do his­ to ria d o r V arnhagen, reto m arem o s essa q u erela. Foi n u m contexto histórico e político m u ito preciso q u e os au to res d o R om antism o ab o rd a ra m a questão nacional.

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N o século XX, a m esm a questão c o n tin u o u fazendo p a rte dos mais diversos m ovim entos culturais, com o n o caso do M odernism o dos anos d e 1920 (a S em ana d e A rte M o d ern a d e 1922) o u do T ropi- calismo n o final dos anos d e 1960. A inda q u e a in terro g ação acerca das bases d a nação continuasse sen d o pro p o sta, o q u estio n am en to se im p u n h a n o u tro q u a d ro d e relações e, p o r consequência, em sua discussão, n a tu ra lm e n te novos cam in h o s e respostas vieram à tona. E n q u an to os ro m ân tico s pro cu rav am o c o rre sp o n d e n te b rasileiro ao h eró i e u ro p e u d a cavalaria m edieval, os m o d ern istas d escobriram um anti-herói, u m m estiço d e n e g ro e índio, preguiçoso, m an h o so e astuto.

M ario d e A n d rad e (1893-1945), u m dos m ais im p o rtan tes es­ critores do m ovim ento m o d e rn ista d o Brasil, foi q u em m e lh o r c o n ­ seguiu d a r consistência a essa o rien tação com Macunaíma, seu livro lançado em 1926.48 M acunaím a, u m m estiço q u e vivia n a floresta, decidiu ir p a ra a cidade d e São P aulo e lá seria co n fro n ta d o com a realidade, “o p ro g resso ”, a industrialização e a sociedade de massas que ele desconhecia.

A cren ç a n u m Brasil ocu lto e au tên tic o , em co n trad ição com um Brasil a p a re n te e falso, e ra o q u e estava p o r trás do p en sam e n to de M ario d e A n d rad e, co m p artilh ad o com o u tro s re p re se n ta n te s do m ovim ento.

A análise das raízes d e u m a c u ltu ra b rasileira a u tó c to n e c o n ­ duziu, nos anos 1960, com o T ropicalism o, a u m d esab ro ch ar d a lite­ ratura, d a m úsica e d a p in tu ra . N o co n tex to d o refo rço d a d ita d u ra m ilitar n o Brasil a p a rtir d e 1968, com a discussão d a “d e p e n d ê n c ia ” em ergiu, m ais u m a vez, a qu estão d a id e n tid a d e nacional, ain d a q u e de m o d o in te n sa m e n te politizado, pois os canais políticos (com o os partidos, p o r exem plo) haviam sido lesados em sua fu n ção tradicio­ nal. Os in ú m e ro s festivais d e m úsica dessa ép o ca eram , ao m esm o tem po, u m a d em o n stração po lítica e u m a o p o rtu n id a d e d e e x erc er a resistência.

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Nas ciências sociais brasileiras, é possível e n c o n tra r co n trib u i­ ções em to rn o d a investigação das relações e n tre a questão nacional e os m ovim entos citados.49

Nesse âm bito, c o n tu d o , observa-se u m a lacu n a nas ciências so­ ciais. Os histo riad o res brasileiros se o cu p aram apenas p o n tu a lm en te d a história d e sua disciplina científica. Jo sé H o n ó rio R odrigues, que é reco n h e cid o com o especialista nessa área, com sua ainda parcial­ m e n te divulgada História da história do Brasil, te n to u traçar u m ba­ lanço geral.50 A é p o ca decisiva do século XIX, q u a n d o a dedicação à história do Brasil foi u m a obrigação g en eralizada dos setores sociais mais cultos, até hoje só foi analisada a p a rtir de aspectos p articula­ res.51 A inda faltam pesquisas dedicadas às relações en tre os p rim ó r­ dios da historiografia e a constituição do p ro je to nacional.

49 Vejam-se, nessa perspectiva, os trabalhos do colóquio “Cultura brasileira: realidade ou ilusão?”, Belo Horizonte, de 17 a 19 de outubro de 1979; Cader­ nos do Centro de Estudos Rurais e Urbanos, São Paulo, IS de setembro de 1980, pp. 7-69; WHITAKER, Dulce C. A. “Ideologia e cultura no Brasil: sugestões para uma análise do nosso processo cultural, à luz da teoria crítica da socie­ dade”, Perspectivas, São Paulo, 5,1982, pp. 5-14; GULLAR, Ferreira. Vanguarda e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969, 132p; ou do mesmo autor, Cultura posta em questão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965, 126p.; RIBEIRO, Darcy. Teoria do Brasil Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972, 146p. (especialmente o Capítulo IV). Um importante trabalho sobre o conceito de “cultura brasileira” é a tese de livre-docência de MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática, 1977. Sobre a questão nacional e os movimentos culturais, ver: LAFETÁ, João Luis. 1930. A crítica e o modernismo. São Paulo: Duas Cidades, 1974, 213p.; LOEZ, Telê Porto Ancona. Mario de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas Cida­ des, 1972, 265p.; da mesma autora, Macunaíma: a margem e o texto. São Paulo: Hucitec, 1974, 127p.; MORAIS, Eduardo Jardim de. A brasilidade modernista: sua dimensão filosófica. Rio de Janeiro: Graal, 1978, 193p.; HOLANDA, Heloisa Buarque de. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde: 1960-1970. São Paulo: Brasiliense, 1 9 8 0 ,199p.

50 RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil: historiografia colonial 2 ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1979,534p., v. 1. (Os volumes seguintes são dedicados à historiografia nacional e à ideologia.)

51 Dois trabalhos que tomaram a historiografia do século XIX .como objeto de pesquisa devem ser destacados aqui: DIAS, Maria Odila da Silva. O fardo do

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O p resen te trab a lh o p re te n d e ser u m a tentativa de levar a cabo um a investigação nesse sentido. Interessa, aqui, elu cid ar e analisar a e x tra o rd in ária im p o rtân cia d a escrita d a história n a discussão da questão nacional.

N ão m e p arec e o b ra do acaso o fato d e q u e ex atam e n te no instante d e consolidação d o p o d e r cen tral (1822-1840) se te n h a de­ senvolvido in teresse n a elaboração d e u m a história nacional. Em 1838, com apoio d ire to d o Estado, foi fu n d a d o , n o Rio d e Ja n e iro , o Instituto H istórico e G eográfico Brasileiro. N o rm alm en te, o p ró p rio im p erad o r dirigia as reu n iõ e s d o instituto. As tarefas d o instituto, cujas salas d e trab a lh o e reu n iã o , inicialm ente, ficavam n o p ró p rio palácio im perial, fo ram definidas d a seguinte form a:

[...] coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários para a história e geografia do Império do Brasil; e assim também promover os conhecimentos destes dois ramos filológicos por meio do ensino público, logo que o seu cofre proporcione esta despesa.* 52

N ão se tra ta v a m ais, com o até e n tã o , d e e la b o ra r crônicas e n a rra tiv a s, m as, ao c o n trá rio , im p u n h a m -se a p esq u isa sistem á­ tica e a esc rita d a h is tó ria b ra sile ira com b ase em m e to d o lo g ias adeq u ad as. A fu n d a ç ã o do IH G B significava u m im p o rta n te passo ru m o à in stitu c io n a liz a ç ã o e à p ro fissio n alizaç ão d a h is to rio g ra ­ fia n o Brasil. N a sessão d e fu n d ação d e 1" d e dezem b ro d e 1838, os m em bros do Institu to p re p a ra ra m a p rim eira versão d a periodização da história brasileira, a qual deveria servir d e referên c ia p a ra a busca de fontes a ser e m p re e n d id a nas províncias.

homem branco: Southey, historiador do Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1974, 295p.; eJANOTTI, Maria de Lourdes M. João Francisco Lisboa: jornalista e historiador. São Paulo: Ática, 1977, 253p. João Francisco Lisboa (1818-1863), contemporâneo de Vamhagen, teve com ele uma disputa acirrada sobre sua posição em relação à questão indígena.

52 “Estatutos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro”, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, 1 (1), jan.-mar./1939, p. 22.

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