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Um estudo sobre a produção literária infantojuvenil do escritor brasileiro Elias José (1936-2008) : uma trajetória construída por muitas obras

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ANA CRISTINA AYRES MOTTA

UM ESTUDO SOBRE A PRODUÇÃO LITERÁRIA

INFANTOJUVENIL DO ESCRITOR BRASILEIRO

ELIAS JOSÉ (1936-2008): UMA TRAJETÓRIA

CONSTRUÍDA POR MUITAS OBRAS

CAMPINAS

2018

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UM ESTUDO SOBRE A PRODUÇÃO LITERÁRIA

INFANTOJUVENIL DO ESCRITOR BRASILEIRO

ELIAS JOSÉ (1936-2008): UMA TRAJETÓRIA

CONSTRUÍDA POR MUITAS OBRAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestra em Educação na área de concentração de Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA ANA CRISTINA AYRES MOTTA E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. CLÁUDIA BEATRIZ DE CASTRO NASCIMENTO OMETTO

CAMPINAS

2018

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Educação

Rosemary Passos - CRB 8/5751

Motta, Ana Cristina Ayres,

M858e MotUm estudo sobre a produção literária infantojuvenil do escritor brasileiro Elias José (1936-2008) : uma trajetória construída por muitas obras / Ana Cristina Ayres Motta. – Campinas, SP : [s.n.], 2018.

MotOrientador: Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto.

MotDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação.

Mot1. José, Elias, 1936-. 2. Instâncias de legitimação. 3. Literatura infantojuvenil. I. Ometto, Cláudia Beatriz de Castro Nascimento, 1965-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: A study on the children's literary of the Brazilian writer Elias José (1936-2008) : a trajectory built by many works

Palavras-chave em inglês: José, Elias,

1936-Instances of legitimation Children/youth literature

Área de concentração: Educação Titulação: Mestra em Educação Banca examinadora:

Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto [Orientador] Norma Sandra de Almeida Ferreira

Maria das Dores Soares Maziero Data de defesa: 31-07-2018

Programa de Pós-Graduação: Educação

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

UM ESTUDO SOBRE A PRODUÇÃO LITERÁRIA

INFANTOJUVENIL DO ESCRITOR BRASILEIRO

ELIAS JOSÉ (1936-2008): UMA TRAJETÓRIA

CONSTRUÍDA POR MUITAS OBRAS

Autora: Ana Cristina Ayres Motta

COMISSÃO JULGADORA: Profa. Dra. Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto Profa. Dra. Norma Sandra de Almeida Ferreira Profa. Dra. Maria das Dores Soares Maziero

A ata de defesa assinada pelos membros da comissão examinatória, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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A Francisco e Célia, meus pais. A Felipe, Júnior e Marcelo, bens maiores. Em meio a idas e vindas, encontros e ausências: três filhos... uma pesquisa... uma mãe.

Ao Raul, meu par. Por quem esperaria a vida toda, se preciso fosse.

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Não é possível dizer exatamente o quão foi importante para mim a presença e a convivência com tantas e queridas pessoas. Deixarei então registradas algumas palavras na tentativa de expressar minha gratidão por todos aqueles que se fizeram presentes desde o início da minha jornada.

Minha querida orientadora Cláudia Ometto, a orientação rigorosa, porém afetuosa, a leitura sempre atenta e ética, a firmeza e a suavidade dos/nos apontamentos e as reflexões foram o apoio e a força que me ajudaram a prosseguir durante toda a caminhada.

Vá, minha “amigairmã”: as palavras de incentivo; um e-mail e depois dele um aceite – sem esse “grande empurrÃOzinho” eu não teria chegado aqui.

André cunhado: apoio e disponibilidade desde o início.

“Silvinha”: confiança, acolhida e carinho, sempre. Esta pesquisa não sairia sem a sua ajuda.

Professora Raquel Salek Fiad: mesmo sem me conhecer, de antemão permitiu minha participação em sua disciplina como aluna especial: a primeira porta aberta na Unicamp.

Professora Lilian Lopes Martin da Silva: o aceite que me permitiu aproximar do grupo ALLE, a acolhida afetuosa, as sugestões discretas e valiosas e, sobretudo, o carinho.

Professora Norma Sandra de Almeida Ferreira, a acolhida, a atenção, o carinho e as palavras de incentivo desde o início de minha trajetória no grupo de pesquisa. Depois a refinada leitura do meu texto na banca de qualificação e, por fim, o aceite e a disponibilidade em participar também da banca de defesa dessa dissertação.

Maria das Dores: delicadeza, atenção e carinho lá no comecinho. Depois a leitura generosa e esclarecedora que fez do meu texto na banca de qualificação e o aceite em participar também da banca de defesa.

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seletivo.

Karen, Thiago, Tati Fadel, Yara e Silvana: parceiros e amigos para sempre.

Leo Paiva, Thales Medeiros e Karine Medeiros, pela disposição em ajudar no que fosse preciso.

Aos Diretores do Curso G9, Aparecida Fernandes, Hilson e Giovanni e à Coordenadora Pedagógica Nilcéia, pelo apoio e pelas palavras de incentivo lá no comecinho.

À Mariângela Alves, Secretária Municipal de Educação de Itajubá, e aos Secretários que a antecederam, David, Madisson e Robson, pela confiança e apoio durante todo o percurso deste estudo.

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Descobertas

Descobrir Continentes é tão fácil como esbarrar com um elefante: Poeta é o que encontra uma moedinha perdida... (Mario Quintana)

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Esta pesquisa tem como objetivo apresentar o escritor brasileiro Elias José, inventariar sua produção literária e situá-la no contexto histórico de produção do livro infantil no Brasil. O

corpus da pesquisa é formado por cento e setenta e oito livros produzidos para o público

infantojuvenil e adulto. Fazem parte do inventário as obras paradidáticas, as organizadas pelo escritor e aquelas em que ele participou com algum poema ou conto. O estudo desenvolve-se em duas direções: a primeira, que se propõe a apresentar a biografia de Elias José e inventariar a sua produção literária, utiliza-se da coleta de documentos sobre o escritor e do levantamento de dados sobre suas obras, como o título, a data de lançamento, a editora, o ilustrador, a categoria, se escrita em prosa ou em verso e o leitor, se adulto ou infantojuvenil, buscando conhecer a produção como um todo. E a segunda, após a separação das obras infantojuvenis, seleciona algumas destas para apresentar uma interlocução com as instâncias de legitimação do livro infantil no Brasil, a saber, o PNBE e a FNLIJ e também com a LDB e PCN, documentos oficiais que norteiam o trabalho pedagógico no país, no intuito de apresentar as contribuições dessa produção no âmbito da literatura infantojuvenil e escolar. A pesquisa fundamenta-se nos referenciais teóricos da História Cultural, trazidos por Roger Chartier em relação às representações de leitor e leitura sugeridos nas obras; na perspectiva Enunciativo-Discursiva de Bakhtin, acerca na natureza social do signo e da enunciação e, na proposição teórico metodológica de Vigotski, sobre o desenvolvimento da mente humana, centrada no contexto Histórico-Cultural. Para situar as obras de Elias José no contexto histórico da literatura infantil e escolar, foram trazidos os estudos de Lajolo e Zilberman, Coelho, Arroyo e Saviani. Esta pesquisa buscou reunir algumas formulações enquanto recortes desses autores supracitados e, por meio de articulações interdiscursivas foi possível pressupor as representações de leitor e de leitura implícitas na materialidade de algumas obras analisadas, bem como as contribuições do escritor no âmbito da literatura infantil e escolar. Considerando que o livro é um material impresso que dá visibilidade a modelos culturais de usos que circulam numa determinada época, o presente estudo, ao inventariar a produção literária de Elias José, situá-la no contexto histórico educacional e da produção de livro infantil, dá visibilidade às tendências de um momento histórico da literatura infantil e escolar assim como a modelos de usos e circulação do livro de uma determinada época, contribuindo e reforçando com as pesquisas já existentes nessa área.

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This research aims to present the Brazilian writer Elias José, to inventory his literary production and situate it in the historical context of the production of children's books in Brazil. The selected corpus is formed by one hundred and seventy-eight books, produced for the child, youth and adult audience. The inventory is composed of the paradidate works, those organized by the writer and those in which he participated with some poem or short story. The study is developed into two directions: the first one, which proposes to present the biography of the author and to inventory his literary production, uses the collection of documents about the writer and the collection of data about his works, such as the title, the date of release, the publisher, the illustrator, the category, if written in prose or verse and the reader, if adult or children and young people, seeking to know the production as a whole. And the second one, after the separation of the children/youth's works, selects some to present an interlocution with the instances of legitimation of the children/youth's book in Brazil, namely PNBE and FNLIJ and also with LDB and PCN, official documents that guide the work pedagogy in the country, in order to present the contributions of this production in the context of children/youth and school literature. The research is based on the theoretical references of Cultural History, brought by Roger Chartier in relation to the representations of reader and reading suggested in the works; in Bakhtin's Enunciative-Discursive Perspective, on the social nature of sign and enunciation and in Vygotsky's theoretical methodological proposition, on the development of the human mind, centered on the Historical-Cultural context. In order to situate the works of the author Elias José in the historical context of children's and school literature, the studies of Lajolo and Zilberman, Coelho, Arroyo and Saviani were brought. This study sought to gather some formulations as cutbacks of these authors mentioned above and, through interdiscursive articulations, it was possible to presuppose the representations of reader and reading implied in the materiality of some works analyzed, as well as the contributions of the writer in the scope of children's and school literature. Considering that the book is a printed material that gives visibility to cultural models of uses that circulate in a given epoch, this research, in inventorying the literary production of the writer Elias José, situate it in the historical educational context and the production of children's book, gives visibility to the tendencies of a historical moment of the children's and educational literature, as well as to models of uses and circulation of the book of a given time, contributing and reinforcing with the existing researches in this area.

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ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ALB – Associação de Leitura do Brasil

ALLE – Grupo Alfabetização, Leitura e Escrita APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte ATC – Alfabetização no Tempo Certo

AULA – Trabalho Docente na Formação Inicial

BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações Ceale – Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita

COLE – Congresso de Leitura do Brasil

ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

FAFIG – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guaxupé FE – Faculdade de Educação

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil

IBBY – International Board on Books for Young People (Conselho Internacional sobre Literatura para Jovens)

IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia IEL – Instituto de Estudos da Linguagem

IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação MEC – Ministério da Educação e Cultura PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PPA – Plano Plurianual

PIP – Programa de Intervenção Pedagógica PNBE – Programa Nacional Biblioteca da Escola

PUC Minas – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUC Rio – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro RCN – Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil SBU – Sistema de Bibliotecas da Unicamp

SEB – Secretaria de Educação Básica UBE – União Brasileira de Escritores

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Figura 1 – Ficha catalográfica das obras. ... 43

Figura 2 – Capas da obra: As curtições de Pitu (1976 e 1988a). ... 75

Figura 3 – Capas da obra: O fantasma no porão (1979, 1994, 2002, 2004). ... 76

Figura 4 – Capas da obra: Jogo duro (1979 e 1995). ... 77

Figura 5 – Capas das obras: Saudoso, o Burrinho Manhoso (1981) e E o burrinho ganhou o páreo (2005). ... 85

Figura 6 – Capas das obras Cidade da pá virada (1986) e Deu doideira na cidade (2002). ... 86

Figura 7 – Capas das obras: De repente toda história novamente (1989) e As aventuras do rato roqueiro (2011). ... 87

Figura 8 – Capas das obras: O herói abatido (1984) e Amor sem fronteiras (2005). ... 87

Figura 9 – Capas das obras: Lua no brejo (1991) e Lua no brejo com novas trovas (2007). .. 88

Figura 10 – Capas das obras: Olho por olho, dente por dente (1979) e O historiador de Catitó (1986). ... 89

Figura 11 – O fantasma no porão (2002) (Coleção Literatura em minha casa, v. 3). ... 116

Figura 12 – Capa da obra O fantasma no porão (2002) (Coleção Literatura em minha casa; v. 3). ... 118

Figura 13 – O fantasma no porão (2002). Segunda capa e folha de guarda. ... 119

Figura 14 – O fantasma no porão (2002). Verso da folha de guarda. ... 120

Figura 15 – O fantasma no porão (2002). Capítulo 1. ... 121

Figura 16 – O fantasma no porão (2002). Capítulo 6. ... 121

Figura 17 – O fantasma no porão (2002). Capítulo 8. ... 122

Figura 18 – O jogo da fantasia (1988). ... 123

Figura 19 – O jogo da fantasia (2015). ... 123

Figura 20 – Poemas do livro O jogo da fantasia (1988): “A força do sol” (p. 7) “Puxa: Fada e bruxa” (p. 5). ... 124

Figura 21 – “A força do sol”. O jogo da fantasia (2001). ... 125

Figura 22 – “Puxa: Fada e bruxa!”. O jogo da fantasia (2001)... 126

Figura 23 – “Maracatu do Nordeste”. Ciranda brasileira (2006). ... 134

Figura 24 – Quem lê com pressa tropeça (1992). ... 144

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Tabela 2 – Obras infantojuvenis produzidas por Elias José na década de 1980-1989. ... 80 Tabela 3 – Obras infantojuvenis produzidas por Elias José na década de 1990-1999. ... 92 Tabela 4 – Obras infantojuvenis produzidas por Elias José entre 2000-2008 e lançadas post

mortem. ... 97

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS E A ESCOLHA DO TEMA DE PESQUISA (À GUISA

DE INTRODUÇÃO)... 17

1 A BUSCA POR OUTROS ESTUDOS: ESTABELECENDO INTERLOCUÇÕES ... 30

1.1 Diálogo com estudos selecionados ... 32

1.2 A definição do referencial teórico-metodológico ... 35

2 O (DES) ENCONTRO COM AS OBRAS DO AUTOR: CAMINHOS PERCORRIDOS PARA CONSTITUIÇÃO DO ARQUIVO ... 41

3 ELIAS JOSÉ – UMA HISTÓRIA ... 51

3.1 Elias José: menino e adolescente, jovem e professor ... 52

3.2 Elias José escritor: o início de uma trajetória ... 55

3.3 Uma imagem do escritor por ele mesmo ... 59

4 A OBRA INFANTOJUVENIL DO ESCRITOR ELIAS JOSÉ: O CONTEXTO DE PRODUÇÃO – UMA CRONOLOGIA NECESSÁRIA ... 68

4.1 Década de 1960-1969 ... 69

4.2 Década de 1970-1979 ... 70

4.3 Década de 1980-1989 ... 77

4.4 Décadas de 1990-1999/2000-2010 ... 89

5 ELIAS JOSÉ E AS INSTÂNCIAS DE DIVULGAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DO LIVRO INFANTOJUVENIL: ALGUMAS INTERLOCUÇÕES ... 105

5.1 O Programa Nacional Biblioteca nas Escolas – PNBE ...106

5.2 Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ ...108

5.3 O que propõem o PNBE e a FNLIJ? Um olhar para a materialidade de duas obras do autor ... 114

6 REPRESENTAÇÕES DE LEITURA PELO VIÉS DAS OBRAS DE ELIAS JOSÉ: CONTRIBUIÇÕES PARA A ESCOLA ... 130

6.1 Elias José e a diversidade de temas: uma proposta interdiscursiva ... 131

6.2 A presença da brincadeira e da fantasia nas obras do escritor Elias José como possibilidade para o desenvolvimento da imaginação ... 135

6.3 Alfabetização e literatura infantil: importância e contribuições ... 140

7 SOBRETUDO UM PONTO DE PARTIDA ... 149

REFERÊNCIAS ... 155

ANEXO 1 ... 160

ANEXO 2 ... 163

ANEXO 3 ... 168

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ANEXO 7 ... 193 ANEXO 8 ... 194

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS E A ESCOLHA DO TEMA DE PESQUISA

(À GUISA DE INTRODUÇÃO)

Aquele que diz – sujeito do texto e seu autor – é ainda uma importante dimensão do texto. É um sujeito situado, que escolhe fragmentos do cotidiano (o quê), os edita e os arranja com certos recursos (como, onde), os narra de certo lugar (quem), movido por certos desejos ou motivos (por que), para produzir certo efeito de sentido (para que), numa certa experiência de linguagem, que inclui o(s) outro(s). (FERREIRA; SILVA, 2012, p. 22).

Minhas considerações iniciais para a apresentação deste estudo perpassam por lembranças que foram cuidadosamente guardadas na memória, mas que ainda não tinham sido visitadas. A apresentação de tais lembranças promoveu a (re)construção de uma história que é minha, porque eu a vivi, mas que também é do outro, pois não a vivi isoladamente e sim nas relações com outros.

Foi especialmente importante rememorar essa trajetória repleta de desejos, sonhos, inquietações, buscas, renúncias, escolhas, encontros, desencontros e conquistas, para que eu pudesse não só reconhecer a importância dos caminhos trilhados e das escolhas que me permitiram realizar o sonho de fazer Mestrado pela Faculdade de Educação da Unicamp, como também compreender, por meio desses entrelaçamentos, a escolha do tema da presente pesquisa.

Começo minha história contando como me tornei professora. Ela teve início quando eu ainda era criança. Cresci ouvindo histórias lidas e contadas. Meu pai gostava de ler as histórias, e minha mãe de contá-las. Esses momentos não eram muito frequentes, mas existiram e hoje vejo que foram marcantes. Fui crescendo com uma vontade imensa de ser professora, sempre brincava de dar aulas para meus irmãos. Pegava um caderno ou um livro e começava a imitar minha própria professora, repetindo tudo que havia ouvido e aprendido com ela em sala de aula.

Lembro-me que todos os dias, ao final da aula, pedia tocos de giz para levar para casa. Escorava um pedaço de madeira na parede e usava-o como lousa, colocava meus irmãos sentados de frente para mim e começava a brincar de escolinha. Como era a mais velha e a única que sabia ler, eu sempre era a professora.

O tempo passou e, junto com ele, as brincadeiras e a vontade de lecionar. No entanto, entre idas e vindas, no ano de 1986, optei por cursar o magistério, por ser essa a minha única opção de curso profissionalizante na época. Eu precisava trabalhar.

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Ao iniciar os estágios, no segundo ano do curso, fui novamente envolvida pelo desejo de ser professora. Sentia-me imensamente realizada durante as atividades com os alunos, sentimento esse que me motivou a continuar. A escola era o meu lugar, era onde me sentia bem.

O casamento, ocorrido no segundo semestre de 1988, último ano de curso, fez-me tomar a decisão de trancar a matrícula por seis meses. Retornei no ano seguinte e concluí o curso em 1989, grávida de seis meses. Em função de duas maternidades seguidas – março de 1990 e outubro de 1991 – adiei o início de minha vida profissional.

Minha carreira docente começou com crianças de seis anos na Escola Municipal Deputado Christovan Chiaradia, no município de Piranguinho/MG, no ano de 2002, onze anos após a conclusão do magistério. Possuía pouca experiência na área docente e nenhuma em alfabetização.

Após algumas semanas de trabalho com essa turma, começaram a surgir questões em relação à aprendizagem, entre elas: por que as crianças respondiam de formas diferentes às atividades que lhes eram propostas? Que sentidos eram atribuídos às informações a elas passadas? Devo alfabetizá-las? Por onde começar? É possível trabalhar com a leitura e a escrita nessa fase? Como? Diante destas questões, percebi que me faltava conhecimento teórico relacionado ao desenvolvimento e às necessidades das crianças, assim como aos conteúdos que devem ser trabalhados com essa faixa etária. Faço questão de ressaltar aqui que o que não faltava em minhas aulas, diariamente, eram histórias, às vezes contadas, às vezes lidas.

O município de Piranguinho, naquela época, contava com apenas uma Coordenadora Pedagógica para atender as quatro escolas. Com isso, cada escola recebia a visita dessa coordenadora somente uma vez por semana. Nessas visitas, ela cuidava mais de questões burocráticas do que pedagógicas.

Sem saber ao certo que rumo dar aos conteúdos, procurei algumas colegas de trabalho, que me orientaram a fazer a leitura dos RCNs1, pois cada professora tinha liberdade

para fazer seu planejamento da forma que achasse melhor; contudo, ele deveria estar de acordo com os Referenciais. Tudo muito vago para quem estava iniciando a carreira nas condições em que me encontrava. Precisava voltar a estudar, me atualizar, pensava aflita.

1 Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Este referencial foi instituído em 1999 a partir da LDB

9394/96. Trata-se de um conjunto de reflexões de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os educadores que atuam diretamente com crianças de 0 meses a 6 anos. É compreendido como uma ferramenta de estímulo à reflexão e não como um manual a ser seguido. Disponível em: <www.educabrasil.com.br/rcn-para-a-educacao-infantil/>. Acesso em: 31 mai. 2018.

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Tinha consciência de que não encontraria receitas e nem era isso que buscava. Tudo que eu precisava era de um referencial teórico que me ajudasse a compreender a criança e suas formas de se relacionar com os saberes. Acreditava, e ainda acredito, que a teoria não forneceria respostas, mas certamente indicaria caminhos, e minha prática se tornaria mais consistente e menos intuitiva.

No segundo semestre desse mesmo ano de 2002, surge uma oportunidade de estudo que na época, por motivos que não cabe explicitar nesse momento, era minha melhor, e até mesmo única opção: ingressar no curso Normal Superior, oferecido pela Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) em parceria com a Prefeitura Municipal de Piranguinho, na qual eu era efetiva.

Foram três anos marcados por desconstruções, (re)construções e novos aprendizados. Contudo, ao mesmo tempo em que algumas frestas se abriam e permitiam a passagem de um feixe de luz que clareava algumas questões, outras inquietações surgiam, quase que na concomitância. As inquietações nunca cessavam, sentia uma constante necessidade de buscar e aprender mais e mais. Esse desejo, aliado às particularidades das turmas com as quais me deparava a cada ano, impulsionaram-me a empreender estudos em variados campos acadêmicos.

Assim sendo, cursei algumas especializações: a primeira em Filosofia para Crianças com ênfase em Educação para o Pensar, também oferecido pela UNIPAC; a segunda, em Alfabetização e Letramento; a terceira, em Psicopedagogia Clínica e Institucional, sendo as duas últimas oferecidas pela PUC Minas (Campus de Poços de Caldas). Estes três cursos aprofundaram, sem dúvida, minha formação inicial. No decorrer de cada um deles, tive a oportunidade de ler muitos autores e conhecer, pelo viés de cada um, diferentes concepções e diferentes formas de ensinar e aprender.

A partir de então, com um pouco mais de confiança e elaborações teóricas mais consolidadas, “criava” práticas pedagógicas mais consistentes; não cabe aqui discutir se eram boas ou ruins, o que cabe dizer é que eram coerentes com os estudos que estava empreendendo.

Essas formas de proceder pedagogicamente se faziam presentes na aprendizagem das crianças. Agora, já conseguia compreender algumas questões e lidar com a heterogeneidade das turmas com mais tranquilidade. Mas as inquietações continuaram e, junto com elas, outras questões maiores e mais profundas surgiam. Estava na hora de partir para um empreendimento maior, o mestrado. Como? Onde? A realidade financeira do momento era o maior impedimento.

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Incentivada pela professora Karla Zucolloto, da PUC de Poços de Caldas, enviei e-mails para vários professores da Faculdade de Educação da Unicamp, apresentando um pouco da minha trajetória, falando do meu desejo e da necessidade que tinha em pesquisar, num âmbito bem maior, questões relacionadas ao meu fazer pedagógico, mas, infelizmente, naquela época não obtive retorno algum. Não desisti. Fiquei no aguardo de um momento mais oportuno. Paralelamente a essa espera, fazia cursos de formação continuada oferecidos pela prefeitura, pela Rede Pitágoras – já trabalhava também em uma escola particular – e ainda procurava por outras formações em diferentes lugares que pudessem contribuir com a minha prática. Percebi, a partir dessas lembranças, que minha visão em relação ao estudo era pragmática. Estudava tendo em vista a prática pedagógica.

Em 2005, iniciei uma nova fase. Após o segundo casamento e o nascimento do meu terceiro filho, mudei-me para Itajubá/MG, município limítrofe de Piranguinho; em 2006, fui aprovada no concurso público municipal nesta cidade e, em 2007, fui efetivada como docente. Nesse mesmo ano, optei por desligar-me das escolas de Piranguinho.

Em Itajubá, no período de 2007 a 2011, atuei nas redes pública e particular como professora alfabetizadora. Fui convidada para assumir, em 2012, o cargo de assistente pedagógica na mesma escola particular em que era professora. Quanto aprendizado! Tive a oportunidade de olhar para a sala de aula através de outra perspectiva. O olhar “distanciado” possibilitou-me (re)avaliar a minha prática e enxergar detalhes que não percebia quando estava “do outro lado”.

No segundo semestre desse mesmo ano, incentivada por minha irmã que havia iniciado o doutorado no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), enviei um e-mail para aquele instituto e fui aceita na condição de aluna especial, na disciplina Produção Escrita em Língua Materna, da Professora Drª Raquel Salek Fiad. Não consegui encontrar palavras para registrar aqui a emoção que senti ao receber o seu aceite. Minha maior oportunidade. Uma importante porta se abrira. Não medi esforços para estar presente semanalmente em todos os encontros e cumprir com as atividades e leituras propostas na disciplina. A partir das leituras propostas e das discussões com o grupo, vi-me diante de um imenso horizonte de possibilidades de pesquisa.

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Ao final da disciplina, após conversar longamente com uma das amigas que fiz nesse semestre e que pertencia ao Grupo Alfabetização, Leitura e Escrita (ALLE)2, da Faculdade de Educação da Unicamp, enviei um e-mail para a Profa. Dra. Lilian Lopes Martin da Silva, coordenadora do Grupo naquela época, pedindo permissão para cursar sua disciplina como aluna especial. A Professora Lilian atenciosamente respondeu meu e-mail dizendo que o grupo não aceitava alunos especiais, mas que eu poderia participar dos encontros, em 2013, como ouvinte. Mais uma oportunidade! Mais uma porta aberta! Alegria imensa!

Ainda no ano de 2013, fui convidada pela Rede Pública para atuar como Analista Pedagógica no Programa de Intervenção Pedagógica (PIP/Municipal ATC)3, que trata de uma política pública do Governo do Estado de Minas Gerais que assegura o acompanhamento e a orientação do professor em sala de aula, com o objetivo de melhorar o desempenho dos alunos, principalmente na leitura e na escrita. Um belo desafio e uma grande oportunidade de estudar mais, pois teria que trabalhar com formação de professores.

Ao aceitar o convite, tive que abrir mão do meu trabalho na Rede Privada. Foi uma difícil decisão, mas eu precisava passar por essa experiência. Mais do que nunca, chegara a hora de batalhar pelo mestrado. Agora meu desejo já não se pautava por questões práticas, eu queria enveredar pelo mundo da pesquisa, por mim mesma, para meu crescimento pessoal.

Comecei então a empreitada para decidir sobre o que pesquisar. Procurei, inicialmente, saber quais eram os autores que fundamentavam os estudos daquele grupo, li muitos trabalhos e não me cansava de pedir a orientação e sugestão das colegas da disciplina.

Foi um semestre cheio de aprendizagens, conheci novos autores, novos olhares e novas possibilidades de estudo. Tive contato com pessoas acolhedoras, que me ajudaram a pensar em temas que dialogassem com os estudos do grupo. Tais contribuições foram muito importantes para a definição do meu tema de pesquisa. No entanto, eu ainda não sabia sobre o

2 O ALLE surgiu em 1998 e toma como desafio “refletir sobre a cultura escrita e a leitura, suas formas de

existência nas sociedades, em diferentes tempos e lugares, sua produção, circulação e recepção, dentro e fora das instituições, suas relações com outras linguagens e tecnologias e os processos de constituição dos leitores”. O AULA surgiu em 2002 e tem como foco de estudo a formação inicial e continuada dos professores vivida no âmbito da universidade e fora dela. Toma a formação inicial como um processo deliberado de inserção e continuidade em uma comunidade cultural circunscrita por um contexto histórico-social amplo no qual diferentes práticas e discursos circulam. Tal processo, constitutivo dos educadores em formação, é direcionado pelos professores formadores e marcado pelas práticas e discursos em circulação no movimento sócio-histórico mais amplo. Em 2016, os dois grupos se fundiram de forma a atuar de modo colaborativo, otimizando os trabalhos na pesquisa e demais atividades. (Informação do Diretório dos Grupos de Pesquisas do CNPq <dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/1472342236629601>).

3 Programa de Intervenção Pedagógica/Alfabetização no Tempo Certo (PIP/ATC). Foi implantado em 2007 com

a seguinte meta: “toda criança lendo e escrevendo até oito anos de idade”. Apresenta-se como uma estratégia de apoio à escola, dando suporte à prática docente. Prevê o acompanhamento e capacitação de professores, especialistas e gestores com foco no desempenho do aluno. O documento completo está disponível em: <http://www.educacao.mg.gov.br/images/stories/pip/pip_municipal.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2018.

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que me debruçar. Essa questão foi se tornando mais clara no decorrer das leituras e das discussões que fazíamos acerca dos estudos de Bakhtin durante nossos encontros.

Naquela ocasião, eu voltava para Minas com uma colega do grupo, Ilsa Vieira, que já estava na reta final do seu doutorado. Durante as viagens, ela sugeria a leitura de alguns autores e apontava algumas questões interessantes de serem investigadas a respeito do livro e da leitura.

A partir dessas conversas, iniciei uma busca por trabalhos empreendidos sobre a literatura infantil, o livro e a leitura, com o intuito de conhecer as discussões acerca de tais temas.

Deparei-me com inúmeras pesquisas acerca da literatura infantil. Encontrei trabalhos que se debruçaram sobre os programas do governo de incentivo à leitura; as práticas de leitura em sala de aula – tanto a respeito das contribuições da literatura infantil no processo de alfabetização quanto na formação do sujeito; a produção de livros infantis; o acervo de bibliotecas escolares, entre outros.

Pude constatar que há uma grande preocupação com o trabalho referente à leitura nas escolas, principalmente em escolas públicas, que, para muitas crianças, talvez seja o único lugar em que elas vivenciam esta prática e tenham contato com esse tipo de material impresso que é o livro de literatura.

Encontrei, finalmente, um tema que poderia ser estudado, realizei a escrita do projeto e o submeti em 2014, para o ano acadêmico de 2015. Naquele ano, a proposta não foi aprovada. Não desisti. Continuei a participar dos encontros e dos estudos no grupo como ouvinte. Pude contar novamente com o apoio dos colegas, que leram este projeto, deram sugestões e, entre escritas e (re)escritas, uma nova proposta foi construída e aceita ano de 2015. Em 2016, eu era aluna regular do curso de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Unicamp.

Apresento, a partir daqui, um breve relato acerca de uma experiência pedagógica, da qual nasceu o interesse pelo tema desta pesquisa, a saber, as obras do escritor brasileiro Elias José. Para isso, peço licença para continuar a falar na primeira pessoa do singular, por se tratar ainda de uma experiência pessoal, que não poderia ser dita de outra forma. Não tenho a pretensão de anular as vozes – preciosas – que se fizeram presentes na construção da proposta como um todo; afinal, cada palavra ouvida e cada leitura realizada fizeram parte da constituição dessa escrita.

Vale iniciar o relato dizendo que meu encontro com algumas obras de Elias José se deu a partir de um trabalho pedagógico de literatura infantil, no ano de 2010, em duas

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escolas, uma pública e outra particular, do município de Itajubá, sul de Minas Gerais, nas quais eu era regente nas turmas de segundo ano do Ensino Fundamental I.

Tratava-se de um projeto de leitura e produção escrita, cujo tema era o “Faz de conta”, que culminaria numa feira literária. Para tanto, cada professor deveria eleger um autor para ser lido, estudado e apresentado.

A partir de então, iniciei uma busca por títulos que tivessem como ideia principal o faz de conta. Deparei-me com inúmeras obras, mas a que mais chamou minha atenção foi O

que conta no faz de conta, do escritor Elias José. Realizei então uma segunda busca, desta vez

por outros títulos deste autor, para ver se havia mais obras condizentes com o tema. Pude perceber que uma das características predominantes nos livros do escritor era o brincar com os sons e os sentidos das palavras e o faz de conta.

Assim sendo, Elias José foi o autor escolhido para ser apresentado na feira literária em 2010, pelas turmas do segundo ano do ensino fundamental I, nas escolas particular e pública.

É importante destacar que esse trabalho teve duração de dois meses e foi desenvolvido com turmas de contextos sociais distintos, as quais apresentavam modos diferentes de lidar com o livro e com a leitura. Vale esclarecer também que este projeto teve início na escola particular, que adquiriu muitos títulos e solicitou às famílias a compra da obra supracitada. Ao perceber o interesse dessa turma, decidi realizar o trabalho também na escola pública.

Durante o desenvolvimento do projeto, os alunos tiveram a oportunidade de conhecer a vida do autor Elias José, a relação que ele mantinha com os livros e com a leitura por meio dos seus relatos sobre o próprio processo de produção presente em algumas de suas obras infantis. Foi possível observar que as crianças mergulhavam no mundo da imaginação e viviam a aventura junto com as personagens. Em seguida, incentivadas pela leitura, elas criavam, oralmente e pela escrita, suas próprias histórias de faz de conta.

O interesse pela leitura e pela escrita proporcionado por esse trabalho pedagógico se fez prontamente visível através da relação que cada criança, a seu modo, passou a ter com o livro, com a leitura e com as atividades de escrita.

A experiência desse trabalho mostrou-se bastante produtiva e a proposta foi repetida nos anos seguintes (2011 e 2012). A resposta foi semelhante: as crianças interagiam com as histórias, com os poemas, começaram a ler com mais frequência e a produzir seus próprios poemas ou histórias de faz de conta.

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A opção por desenvolver um projeto de leitura com as obras de Elias José não apenas estreitou a minha relação com suas produções, como também me instigou a buscar mais dados a respeito de sua trajetória e obras, com o intuito de compreender o lugar desta produção no cenário da literatura infantojuvenil no Brasil.

Percebi que poderia debruçar-me sobre as produções do escritor Elias José ancorada em um referencial teórico no ano de 2013, ao entrar em contato com os textos de Bakhtin (1997, 2009), durante a disciplina “Cultura, Educação e Leitura” no Grupo ALLE da FE/Unicamp, ministrada pelas professoras Norma Sandra de Almeida Ferreira e Lilian Lopes Martin Silva. A partir das discussões realizadas durante as aulas, tornou-se possível estabelecer relações entre os textos estudados e as análises que poderiam ser feitas em relação às obras do referido autor. Em seguida, aproximei-me de outros referenciais teóricos que também poderiam fundamentar a pesquisa, a saber, os da História Cultural, trazidos por Roger Chartier acerca do livro e das práticas de leitura, assim como os de Marisa Lajolo e Regina Zilberman sobre o panorama da literatura infantil no Brasil.

Autor de uma vasta produção literária, Elias José despertou nosso interesse para a pesquisa – e a partir daqui já falo na primeira pessoa do plural, pois o interesse agora não é somente meu – pela importância de suas obras no cenário da Literatura Brasileira Infantojuvenil, sendo muitas delas distribuídas, premiadas, altamente recomendadas pelos programas do governo e, por isso, muito presentes nas escolas.

Levando-se em conta o grande destaque da produção desse autor na literatura infantojuvenil brasileira e sua significativa presença nas escolas, consideramos relevante realizar um estudo acerca desta produção literária, remetendo-as à sua historicidade como forma de procurar situá-las em sua origem.

Acreditamos que tais conhecimentos podem ajudar na compreensão da forma como uma produção é constituída e se movimenta nos diferentes momentos, em função das interlocuções com as diversas e diferentes vozes que circulam no tempo, historicamente, e que se fazem presentes no contexto em que são produzidas e dadas a ler.

É fundamental observar que a presente pesquisa caminhará no sentido de compreender a relevância e as contribuições da produção literária do escritor Elias José no âmbito educacional. Assim sendo, nosso olhar sobre as obras seguirá na direção de questões relacionadas com a escola e não em relação aos aspectos analíticos voltados para o campo da crítica literária.

Nesse sentido, o objetivo geral deste estudo é o de apresentar o autor brasileiro Elias José e inventariar suas obras, organizando-as cronologicamente. É importante salientar

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aqui que não nos detivemos sobre as obras para adultos, paradidáticas, de participação e organização, que foram catalogadas e apresentadas apenas com o intuito de dar visibilidade ao conjunto da produção do autor. Assumimos como corpus de análise a produção infantojuvenil do escritor Elias José.

Assim sendo, considerando as tensões que movimentam uma produção literária no tempo, destacamos os seguintes objetivos específicos: 1) Situar as obras de Elias José no seu contexto histórico e cultural da produção de livros infantis; 2) Apresentar as contribuições/importância/relevância de Elias José no âmbito escolar.

Diante deste leque de interesses, surgiram algumas indagações que nos ajudaram a nortear e compor este estudo. São elas: como Elias José se constituiu escritor de livros infantis? O que ele produziu? Em que contextos? Como este autor se faz presente no cenário da Literatura Infantil no Brasil?

As indagações elencadas sintetizam-se na seguinte questão de investigação: quais e quantas são as obras produzidas pelo autor brasileiro Elias José nos diferentes momentos históricos de sua produção? Decorrente dessa questão mais ampla, relacionado ao campo da Educação e aos objetivos específicos, também perguntamos: que contribuições elas trouxeram para a Escola?

Nessa direção, justificamos a relevância deste trabalho pela Faculdade de Educação da Unicamp, direcionado especificamente aos estudos desenvolvidos no grupo de pesquisa ALLE/AULA, por se tratar de um estudo que tem como propósito a construção de um arquivo das obras infantojuvenis de um escritor brasileiro que possui uma vasta produção, sendo muitas delas distribuídas, premiadas e altamente recomendadas pelos programas de governo. Acreditamos também que esta pesquisa possa contribuir com as discussões já existentes acerca da compreensão da forma como uma produção se constitui e do livro como um material impresso, que dá visibilidade a modelos culturais de usos que circulam em determinada época.

Assim sendo, inventariar e situar historicamente as obras do escritor Elias José representa o acesso a uma parte significativa da literatura infantojuvenil no Brasil, que, se não for apresentada, provavelmente será apagada, pois como nos diz Chartier (2004, p. 129), “pela forma e pelo texto, o livro torna-se signo de distinção e portador de uma identidade cultural”.

Para realizar este empreendimento, buscamos aportes teóricos em estudos de diferentes áreas do conhecimento. Entre eles, foram de fundamental importância os estudos

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trazidos por Chartier (1990, 2004, 2010); Bakhtin (1999, 1997, 2009); Vigotski4 (2007); Lajolo & Zilberman (2007) e Saviani (2010).

Nos estudos trazidos por Roger Chartier, encontramos fundamentação para as reflexões acerca do livro como objeto cultural, possível de ser compreendido nas representações e práticas que ele movimenta, bem como nos aspectos da cultura escrita situada e datada histórica e culturalmente.

Chartier (2011), em seu texto “Do livro à leitura”, nos adverte que devemos separar os dois conjuntos de dispositivos que são com frequência confundidos, a saber, o da produção textual e o da produção gráfica. No primeiro, esclarece o pesquisador, o autor apresenta ao leitor instruções para direcionar a leitura e impor o sentido que ele deseja. O segundo, decorrente dos editores, embora distinto, se cruza com o primeiro. Trata-se do projeto gráfico, incluindo as formas tipográficas, ilustrações, divisão do texto, tamanho do livro, tipo de papel, entre outros. Tais dispositivos, destaca Chartier, produzem efeitos sobre a leitura e os sentidos que se deseja impor e “dão suportes móveis às possíveis atualizações do texto” (CHARTIER, 2011, p. 100). Nessa direção, os dispositivos tipográficos

[...] permitem um comércio perpétuo entre textos imóveis e leitores que mudam, traduzindo no impresso as mutações de horizonte de expectativas do público e propondo novas significações além daquelas que o autor pretendia impor a seus primeiros leitores. (CHARTIER, 2011, p. 100).

Bakhtin, por sua vez, com estudos no campo da linguagem, permitiu-nos identificar o sentido que o signo, em nosso caso o livro, assume no momento e na situação específica de enunciação, assim como na influência do auditório social – ou leitor projetado – sobre a produção do enunciado.

Em Vigotski, apoiamo-nos na concepção de que o mais importante no experimento – para nós a pesquisa acerca de uma produção literária – é explicitar os processos que normalmente ficam encobertos, que no nosso caso se trata de compreender a singularidade de uma produção literária dentro de um conjunto de relações sociais estabelecidas. Em concordância com esta concepção, partimos do pressuposto de que para compreendermos o nosso objeto, a saber, a produção literária do escritor Elias José, devemos, primeiramente, determinar a sua origem e traçar a sua história, pois ao explicá-la e

4 Estudiosos grafam o nome do autor Vigotski de várias maneiras (Vygotsky, Vigotski, Vygotski ou Vigotsky)

devido às diferentes traduções das obras do autor. Neste trabalho, faço a opção pela grafia Vigotski; no entanto, nos momentos em que realizar citação direta, preservarei as grafias utilizadas pelos autores das obras por mim consultadas.

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la fora de seu contexto, chegaríamos a uma compreensão rasa e possivelmente equivocada. De acordo com essa perspectiva,

[...] toda e qualquer análise deve buscar as relações entre os fragmentos que compõem o todo, pois os modos como esses fragmentos se relacionam, tanto os determina quanto é determinante do todo composto. Esta premissa se contrapõe a ideia de que a ordem dos fatores não altera o produto, assim como a expressão de que o todo é a mera soma das partes. Ao contrário, todo e partes unificam-se e singularizam-se, pois, o todo se apresenta de alguma forma na parte que o institui e que por este é instituído. Portanto, ao se isolar os elementos, inevitavelmente os fenômenos são reduzidos, o que leva a uma análise estéril e equivocada. (ZANELLA et al., 2007, p. 28). Nesse sentido, apresentar o escritor Elias José, inventariar sua produção literária, situá-la historicamente possibilitou compreender a importância dessa produção no campo da literatura infantojuvenil e apresentar suas contribuições no âmbito educacional.

Vigotski (2007, p. 63) chama a atenção para a diferença entre a análise de objetos e a análise de processos. Para ele, a segunda requer “uma exposição dinâmica dos principais pontos constituintes da história dos processos”. No nosso caso, são as condições de produção de Elias José. Em relação à descrição, este mesmo pesquisador nos diz que “a mera descrição não revela as relações dinâmico-causais reais subjacentes ao fenômeno” (VIGOTSKI, 2007, p. 64). Desta forma,

[...] o método para Vigotski não apenas nos permite reconhecer no presente aspectos do passado, como também possibilita conhecer as especificidades da constituição do próprio sujeito, pois, os processos que o constituem se dão nos próprios movimentos do sujeito em uma determinada realidade histórica que é por este singularmente apropriada. As objetivações que este realiza no mundo, tanto são produtos de apropriações passadas quanto são processos em movimento de transformação tanto de si quanto do contexto do qual é parte/partícipe, movimento este que se apresenta como aberto, impulsionado por possiblidades de vir a ser. (ZANELLA et al., 2007, p. 29).

No campo da Literatura, contamos principalmente com os estudos de Marisa Lajolo e Regina Zilberman, para compreensão da forma como a literatura infantojuvenil se constituiu enquanto gênero no Brasil, e também com as relações estabelecidas entre as obras de Elias José e o contexto histórico em que foram produzidas.

Os estudos de Dermeval Saviani contribuíram para a apresentação das ideias pedagógicas que circulavam no Brasil nas décadas em que as obras do escritor foram dadas a ler.

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Para concretizar tais proposições, estruturamos este estudo em seis capítulos, cuja organização será apresentada a seguir.

O Capítulo 1, “A busca por outros estudos: estabelecendo interlocuções”, apresenta as buscas e os critérios usados para seleção do referencial teórico que deu suporte à pesquisa e a interlocução desse material com o tema do presente estudo. Este capítulo apresenta também, a proposição teórico-metodológica assumida nesta pesquisa. Nesse ponto, procuramos evidenciar a importância da escolha do método como apoio para que o pesquisador possa elaborar a sua exposição.

“O (des)encontro com as obras do autor: caminhos percorridos para constituição do arquivo” será o Capítulo 2, no qual descrevemos os movimentos e os caminhos trilhados para a produção de dados, nesse caso, de documentos para compor a biografia do escritor Elias José, e as buscas para catalogação das obras e constituição do corpus de análise.

Dedicado à escrita da biografia e apresentação das obras de Elias José, construímos o Capítulo 3, “Elias José – Uma história”. Este capítulo foi divido em três partes. A primeira parte apresenta a biografia do autor, trazendo fatos desde a sua infância até o momento em que se tornou professor. A segunda parte busca mostrar como Elias José se tornou escritor, apresentando o início da sua trajetória. Na terceira e última parte foi apresentada uma imagem do escritor por ele mesmo, a partir de relatos e depoimentos do próprio autor retirados de entrevistas concedidas por ele em jornais e revistas.

O Capítulo 4, “A obra infantojuvenil do escritor Elias José: o contexto de produção- uma cronologia necessária” situa a produção literária infantojuvenil do escritor Elias José nas décadas em que foram dadas a ler, trazendo as ideias pedagógicas e o cenário da literatura infantojuvenil de cada momento. Foram apresentadas também nesse capítulo, as características gerais da produção do escritor a partir da leitura dos dados produzidos e organizados em tabelas, presentes em cada década.

Na continuação, temos “Elias José e as instâncias de divulgação e distribuição do livro infantojuvenil: algumas interlocuções”, como Capítulo 5.

Este capítulo foi divido em três seções, 1) “O Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE”; 2) “Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ”; 3) “O que desejam o PNBE e a FNLIJ? - Um olhar para a materialidade de duas obras do autor.

Nas duas primeiras seções, procurou-se apresentar, respectivamente, os fundamentos do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), assim como as obras do escritor que foram reconhecidas por

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essas duas instâncias no intuito de tornar compreensível a relevância desse autor tanto no campo da literatura infantojuvenil quanto na escola.

A terceira ocupou-se em fazer uma interlocução entre duas obras do escritor à luz dos critérios de avaliação do PNBE e da FNLIJ para demonstrar, por meio da materialidade dessas obras, que tipo de livro/leitura são considerados de qualidade para fazer parte das bibliotecas das escolas públicas através do PNBE, assim como dos catálogos enviados pela FNLIJ para as secretarias de educação – Municipais, Estaduais e Federal – como sugestão de compras.

O Capítulo 6, “Elias José, modos de pensar o leitor e a leitura: um diálogo com a escola”, sem ter a pretensão de esgotar este estudo, mas apresentar as contribuições do escritor no âmbito escolar, ocupou-se em demonstrar possíveis aproximações entre algumas obras do escritor e as demandas da escola por meio das prescrições e orientações identificadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) – documentos que norteavam as práticas pedagógicas – com vistas em três categorias, a saber: diversidade de temas, desenvolvimento do imaginário e alfabetização.

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1

A

BUSCA

POR

OUTROS

ESTUDOS:

ESTABELECENDO

INTERLOCUÇÕES

Tenho o privilégio de não saber quase tudo. E isso explica o resto.

(Manoel de Barros)5

O objetivo deste primeiro capítulo é o de apresentar o referencial teórico selecionado para dar suporte a esta pesquisa, assim como os procedimentos que se fizeram presentes durante a busca e a escolha desse material. Será apresentada também a interlocução dos trabalhos selecionados com o tema proposto nesse estudo e a definição do referencial teórico-metodológico assumido na pesquisa, bem como a justificativa para tal escolha.

Partimos do princípio de que qualquer estudo deve começar pela escolha do referencial teórico-metodológico a ser assumido, seguido da revisão bibliográfica, a fim de conhecer a produção já existente acerca do que se está propondo estudar.

Segundo Vigotski, “o método é ao mesmo tempo premissa e produto, ferramenta e resultado da investigação”. Nessa direção, “o objeto e o método da investigação mantêm uma relação muito estreita” (VIGOTSKI, 1995, p. 28).

Em conformidade com o que foi apresentado, direcionamos o olhar para os trabalhos que ao mesmo tempo em que dialogavam com o tema deste estudo, apresentavam uma abordagem teórico-metodológica orientada, principalmente, pela perspectiva da História Cultural, nos estudos trazidos por Roger Chartier. Para realizar este levantamento bibliográfico, foram consultados os seguintes locais on-line: portal bdtd.ibict e Biblioteca Digital da Unicamp.

Porém, antes de iniciarmos a consulta aos sites indicados, foi preciso pensar nas combinações de palavras-chave que pudessem apresentar os locais e os resultados desejados. São elas: literatura infantil, livro infantil, autor livro infantil e, por fim, Elias José, a fim de averiguar se havia algum trabalho sobre o escritor ou sua produção. É importante ressaltar que foram usadas as mesmas palavras-chave em todos os locais, entre aspas e sem aspas6.

5 BARROS, Manoel de. Menino do mato. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2015.

6 A utilização das aspas serve para limitar as pesquisas com o propósito de obtermos resultados mais específicos.

Sem aspas, os resultados fornecidos incluirão qualquer estudo que contenha as palavras usadas, sem levar em consideração a ordem em que elas foram empregadas na busca.

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A escolha pelas palavras-chave literatura infantil se justifica pela importância de obtermos, a partir das pesquisas já existentes, suportes teóricos acerca da história da literatura infantil, para situarmos historicamente os dados de nossa pesquisa.

Partindo desta perspectiva, Bakhtin (1999) nos diz que é importante, para compreendermos a essência dos fenômenos presentes numa obra, estudá-la levando em conta “seu seio de produção” e não desligada de seu contexto, de forma isolada.

A combinação de palavras livro infantil foi pensada para encontrar pesquisas acerca da produção do livro infantil, com o intuito de conhecer as estratégias usadas na produção do livro em função dos sentidos que são desejados e das concepções que autores e editores têm de seus leitores. Esses estudos contribuíram para a compreensão das características gerais das obras do autor e nos ajudaram a entender os motivos pelos quais algumas obras foram premiadas e distribuídas pelos programas do governo. A apresentação dos programas do governo, bem como os critérios para seleção, premiação e distribuição das obras serão tratados no capítulo 5 deste estudo.

Nessa direção, Chartier (1990, p. 127) diz que “não há compreensão de um escrito, qualquer que ele seja, que não dependa das formas pelas quais ele chega ao seu leitor”. Este mesmo autor destaca, ainda, que não há produção cultural que não empregue os modelos impostos pela tradição e por quem tem o poder.

A expressão autor livro infantil, por sua vez, foi pensada como um caminho possível para conhecermos as abordagens e as perspectivas das pesquisas já empreendidas sobre algum autor, para que pudéssemos também traçar nossos próprios caminhos.

A seleção dos locais que pudessem oferecer estudos referentes ao tema desta pesquisa, feita na base de dados do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU), se deu a partir da consulta em cada uma das bases oferecidas, de A a Z. O critério usado para selecionar tais locais foi o da leitura da descrição e do assunto de cada uma das bases apresentadas. Selecionamos todas as que apresentavam em sua descrição trabalhos sobre literatura. Foram excluídas as bases cujos trabalhos e assuntos se referiam à área da saúde, engenharia, física, economia, indústria, tecnologia, comércio, idiomas, entre outros.

O segundo movimento realizado foi a busca por teses e dissertações na biblioteca digital da Unicamp e no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Nestes locais, foram usadas as mesmas palavras-chave já citadas.

É importante ressaltar que a primeira classificação dos trabalhos nos dois locais indicados acima foi feita inicialmente a partir da leitura dos seus títulos. Em seguida, fez-se a

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leitura dos resumos das pesquisas selecionadas na primeira etapa. O terceiro e último passo foi a identificação do referencial teórico e das abordagens das pesquisas.

Foram selecionadas as pesquisas que apresentavam os seguintes temas: 1) Produção do livro infantil; 2) Percurso histórico da literatura infantil; 3) Análise documental dos projetos do governo que envolvem o livro e a leitura; 4) Estudo sobre um autor e suas obras; 5) Revisão da crítica literária brasileira dos anos 70 e 80; 6) Livros premiados pela FNLIJ que entram nas escolas; 7) Articulação das obras de uma autora com seu contexto histórico de produção; 8) Um estudo a respeito de obras de literatura lusófona no Brasil.

Importa dizer também que para a realização desta primeira parte do levantamento bibliográfico foram escolhidas as pesquisas que apresentavam uma abordagem histórica sobre os temas já citados e se fundamentavam, principalmente, nos estudos de Roger Chartier, Lajolo e Zilberman e Bakhtin.

Foi possível constatar, a partir das buscas, que não há nenhum trabalho empreendido sobre o autor Elias José, o que reforçou a necessidade de se fazer um estudo acerca do inventário da sua produção para, em seguida, situá-la historicamente, com o propósito de compreendê-la em sua historicidade, não deixando que ela se perca no tempo.

Serão apresentadas a seguir as interlocuções estabelecidas com os estudos selecionados, com o intuito de evidenciar as contribuições fornecidas por cada um deles.

1.1 Diálogo com estudos selecionados

Considerando o trabalho a ser empreendido sobre o autor Elias José, serão apresentadas a seguir as pesquisas selecionadas, bem como os pontos de aproximação com o tema que o presente estudo se propôs a investigar.

Destacamos, inicialmente, a dissertação de Monteiro (2007), Era uma vez... Uma

construção discursiva do conceito de literatura infantil e juvenil, por analisar o conceito de

qualidade aplicado à literatura infantil e juvenil, a partir da análise dos critérios empregados pela FNLIJ e PNBE. Uma vez que muitas obras do autor Elias José foram premiadas pela FNLIJ e fazem parte do PNBE, consideramos importante conhecer os critérios usados por estas duas instituições na escolha dos livros para compreendermos as obras que foram premiadas e que fazem parte desse acervo.

Para o trabalho de Alexandre (2007), Literatura e educação na memória de uma

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com nosso tema o estudo relativo a um autor, sua trajetória e produção literária. Este trabalho examina também a produção do autor no âmbito da educação.

O trabalho de Branco (2014), De primeira hora, no calor da hora: a crítica

brasileira de literatura infantil nas décadas de 1970 e 1980, foi selecionado por se tratar de

um estudo que investiga até que ponto a crítica brasileira de literatura infantil nas décadas de 1970 e 1980 (período em que Elias José iniciou sua produção para adultos e crianças, respectivamente), constitui-se como elemento fundador de uma nova literatura infantil e juvenil no Brasil.

Já no estudo de Martins (2013), Um estudo introdutório da literatura de João

Carlos Marinho, foi destacado como ponto de aproximação o enfoque dado ao estudo

panorâmico de uma produção literária voltada para o público infantil. Trata-se de um estudo introdutório, que visa compreender a produção de um autor no cenário literário brasileiro.

O trabalho de Costa (2009), Literatura premiada entra na escola?: a presença

dos livros premiados pela FNLIJ, na categoria criança, em bibliotecas escolares da rede municipal de Belo Horizonte despertou nosso interesse por se tratar de um estudo que faz um

mapeamento da presença dos livros premiados pela FLNIJ (1974-2006) nas bibliotecas escolares e, também, por fazer uma análise dos critérios de qualidade empregados pelo PNBE. A pesquisa de Pereira (2013), O leitor através do espelho - E o que ele não

encontrou por lá!, chamou nossa atenção por fazer uma análise documental do PNBE e

PNLL, muito importante para nosso empreendimento, uma vez que algumas obras do autor Elias José fazem parte do acervo do PNBE.

É importante destacar de modo especial os trabalhos que serão apresentados a seguir, desenvolvidos na Faculdade de Educação da Unicamp, por pesquisadores do Grupo ALLE - Alfabetização, Leitura e Escrita. A perspectiva teórica utilizada pelas pesquisadoras, fundamentada principalmente nos estudos da História Cultural trazidos por Roger Chartier, assim como os procedimentos metodológicos das pesquisas, contribuíram não somente com a validação dos dados analisados nesse estudo, mas também com a escolha dos caminhos trilhados para realização deste empreendimento.

Nessa direção, selecionamos o estudo de Oliveira (2013), Obras de literatura

infanto-juvenil portuguesa no mercado livreiro brasileiro 2010 e 2011, por apresentar uma

metodologia acerca do inventário das obras lusófonas no Brasil, informação importante para realização do inventário e posterior apresentação da produção de Elias José.

Para compreender as características gerais da produção do escritor Elias José a partir das representações de criança e literatura infantil de um determinado tempo histórico,

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assim como o panorama atual da literatura infantil no Brasil, foi selecionado o trabalho de Dalcin (2013), Um escritor e ilustrador (Odilon Moraes), uma editora (Cosac Naify): criação

e fabricação de livros de literatura infantil. Esse estudo faz uma reflexão acerca das

singularidades presentes no polo da produção de livros infantis a partir da análise das representações e concepções de criança e literatura infantil por parte de um autor e de uma editora.

Em relação à apresentação de um panorama histórico maior da literatura infantil, encontramos o trabalho de Maziero (2015), Arnaldo de Oliveira Barreto e a Biblioteca

Infantil Melhoramentos (1915-1925): histórias de ternura para mãos pequeninas. Este estudo

também contribuiu com a apresentação do panorama atual da literatura infantil. Nessa direção, Chartier (2010) nos diz que precisamos remeter ao passado para compreender criticamente as inovações.

Destacamos de modo especial a pesquisa de Daibello (2013), Ruth Rocha:

produção, projetos gráficos e mercado editorial, por se tratar de um trabalho que muito se

aproxima desta pesquisa. A autora empreendeu um estudo sobre a produção literária de uma escritora de literatura infantil, fazendo um inventário de suas obras e apresentando, por meio das análises acerca da materialidade dos livros, como esta produção se movimenta no tempo em função do seu leitor e do momento histórico em que é dada a ler, evidenciando os protocolos de leitura e as representações de mundo sugeridas pelos livros.

A pesquisadora ancorou-se, também, na perspectiva enunciativo-discursiva de Bakhtin para dissertar a respeito do papel do interlocutor e das condições de produção sobre os enunciados. Já Arroyo (2011), Lajolo e Zilberman (2007) fundamentaram as discussões acerca do campo da literatura, a fim de estabelecer relações entre os dados obtidos nas análises e o contexto social e histórico em que as obras foram produzidas.

A leitura do estudo de Daibello foi escolhida como ponto de partida para esta pesquisa, em função da semelhança entre ambos os temas. Os caminhos percorridos pela pesquisadora para composição do corpus nortearam o início da produção e organização dos dados sobre as obras de Elias José para esse estudo.

Elias José, assim como Ruth Rocha, possui uma expressiva presença nas escolas, o que reforça e justifica a importância de apresentar a relevância desse escritor tanto no cenário da literatura infantojuvenil brasileira como no âmbito escolar.

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1.2 A definição do referencial teórico-metodológico

O texto “Problemas de método”, de Vigotski (2007), mostra a importância da escolha de um método adequado ao objeto que se vai estudar. Segundo este autor, é apoiado nos fundamentos teóricos do método que o pesquisador elabora sua exposição e torna visíveis as bases teóricas nas quais a pesquisa está fundamentada.

Nessa direção, para atender aos propósitos deste estudo, que são, como já mencionamos, os de: 1) Apresentar o escritor Elias José; 2) Inventariar suas obras, colocando-as numa ordem cronológica; 3) Situá-lcolocando-as no contexto histórico e cultural da produção de livros infantis, optou-se por ancorar essa pesquisa nas perspectivas teórico-metodológicas de Vigotski, centradas no desenvolvimento das funções da mente humana, em seu contexto histórico-cultural; na perspectiva enunciativo-discursiva da linguagem, pela ótica de Bakhtin acerca da natureza social do signo e da enunciação; e da História Cultural, nos estudos de Roger Chartier, que debruça o olhar sobre as práticas de leitura e a forma como uma determinada sociedade é pensada e dada a ler.

Justificamos nossa escolha, portanto, com base nos estudos de Freitas (2002), quando diz que “a perspectiva sócio-histórica baseia-se na tentativa de superar os reducionismos das concepções empiristas e idealistas”. Segundo ela, esta proposta procura articular aspectos internos e externos do sujeito/objeto, considerando sua relação com a sociedade a qual pertence. Dessa forma, esta concepção apresenta

[...] os sujeitos como históricos, datados, concretos, marcados por uma cultura como criadores de ideias e consciência que, ao produzirem e reproduzirem a realidade social, são ao mesmo tempo produzidos e reproduzidos por ela. (FREITAS, 2002, p. 22, apud FREITAS, 1996).

Dentro desta perspectiva, destaca a autora, o pesquisador deve adotar uma postura dialógica ao falar do seu objeto, pois está diante de um sujeito que tem voz.

Com base no que foi exposto, esta forma de fazer pesquisa permite olhar para o objeto em suas particularidades, porém, sem perder de vista o seu aspecto social, permitindo compreender também o contexto.

É importante acentuar que para significar a produção literária do escritor Elias José, a pesquisa foi direcionada pela revisão bibliográfica e análise documental, uma vez que se debruçou sobre os arquivos e documentos que apresentam a trajetória do autor e sobre algumas de suas obras, com o intuito de estabelecer interlocuções entre essa produção e o seu

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