Edição 25 | Novembro/2020
VACINAS
A IMPORTÂNCIA
DA IMUNIZAÇÃO
art
.
03
Sarampo
Uma doença reemergente
Docente da Disciplina de Infectologia Pediátrica Universidade Federal de São Paulo
Consultora em Vacinas da Dasa
Dra. Maria Isabel de Moraes-Pinto Médica Infectopediatra
Sarampo
Desde 2018 estamos vivenciando o ressurgimento do sarampo, o que fez com que o Brasil perdesse a certificação de país livre da doença. Em 2018 foram 10.326 casos confirmados no Brasil, sendo a maioria no Amazonas e em Roraima, com 12 óbitos. Em 2019, tivemos 17.841 casos confirmados só no Estado de São Paulo.
Uma doença reemergente
Em 2020,
o país já registra
+ de 2 mil
casos da doença
em 19 Estados.
O Estado de SP
registrou, até
3 de agosto de 2020,
772 casos
confirmados e um óbito.
Dra. Maria Isabel de Moraes-Pinto
Esta é uma situação muito preocupante, que nos leva a rever uma série de condutas e coloca todos os profissionais de saúde em alerta.
Definição
O sarampo é uma infecção aguda causada por um vírus RNA do gênero Morbillivirus, famíliaParamyxoviridae. Ele é transmitido por
meio de contato direto com gotículas e também aerossóis, sendo altamente contagioso entre o período que compreende desde quatro dias antes e quatro dias depois do aparecimento do exantema.
Quadro clínico
Os primeiros sintomas são febre alta, rinorreia, conjuntivite, fotofobia e tosse, e têm duração de quatro dias. Nessa época, podem-se observar pontos esbranquiçados sobre a base eritematosa na face interna da região geniana (bochechas), em geral próximo aos dentes molares inferiores. Trata-se do sinal de Koplik, que se aloja de um a três dias antes do início e desaparece dois dias após a instalação do exantema.O
exantema maculopapular
é do tipo morbiliforme,que se instala a partir de região retroauricular e tem progressão craniocaudal. Nessa época, a febre se eleva, podendo chegar a mais de 40°C (Figuras 1 e 2). A partir do quarto dia, o exantema tende a esmaecer, aparecendo descamação fina e de coloração acastanhada. A tosse é o último sintoma a desaparecer.
Figura 1. Foto de criança
com sarampo. Figura 2. Exantema máculo-papular típico do sarampo.
Complicações
As complicações incluem otite média, broncopneumonia, laringotraqueobronquite e diarreia. Casos de encefalite aguda, geralmente com sequela neurológica permanente, ocorrem em 1 para cada 1.000 casos.Sazonalidade
Nos países em que o sarampo é endêmico, observa-se um pico de incidência no final do inverno e primavera, ocorrendo principalmente em pré-escolares e escolares. Desde 2018, temos observado no Brasil uma maior incidência da doença em criançasmenores de 1 ano e em adultos jovens.
Isso se deve ao fato da população abaixo de 12 meses de idade estar suscetível por não ser vacinada. No caso dos adultos jovens, muitos não receberam as duas doses de vacinas recomendadas atualmente.
Sarampo grave
Pessoas com comprometimento do sistema imune, tais como aqueles que convivem com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), com leucemia e desnutrição grave, além daqueles em uso de medicação imunossupressora, têm maior risco de evolução fatal. Nelas, o exantema característico pode não se manifestar.Tratamento
Não existe tratamento específico da infecção.Tendo em vista quadros mais graves de sarampo em pessoas com baixos níveis séricos de vitamina A, a Organização Mundial de Saúde recomenda a dose diária de 200.000 UI (para crianças com mais de 12 meses), 100.000 UI (crianças entre 6 e 11 meses) ou 50.000 UI (para lactentes menores de 6 meses) por dois dias consecutivos. Atualmente, a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo limitou o uso de vitamina A para os casos de criança com sarampo que necessitarem de internação hospitalar.
Profilaxia
Tendo em vista a atual situação do sarampo e a baixa cobertura vacinal (77,3%), é muito importante que todos atualizem a carteira de vacinação.O esquema de vacinação no Estado de São
Paulo está atualmente sendo realizado da
seguinte maneira:
Crianças com 1 ano
de idade devem tomar a primeira dose regular. Se tiverem sido vacinadas antes de 12 meses em bloqueio ou campanha, deve ser observado intervalo de 1 mêsCrianças de 15 meses
devem tomar a segunda dose regularCrianças de 1 a 4 anos
devem atualizar a sua carteira de vacinaçãoTodas as demais crianças, adolescentes
e adultos jovens até 29 anos
de idade devem receber duas doses da vacinaAdultos de 30 a 59 anos
devem ter tomado pelo menos uma dose da vacinaNa rede privada,
adultos de 30 a 59 anos
podem tomar 2 doses de vacinaProfissionais de saúde (médicos,
enfermeiros, dentistas e demais
profissionais
que
atendem
pacientes), independentemente da
idade, devem ter registradas duas
doses válidas de vacina.
A vacina tríplice viral
(sarampo-caxumba-rubéola ou SCR) está
disponível em todos os laboratórios da dasa que possuem o serviço de vacinação. Ela pode ser administrada em crianças a partir dos 6 meses, adolescentes e adultos de qualquer idade em duas doses, com intervalo de um a dois meses.
A
vacina tetraviral
(sarampo-caxumba-rubéola-varicela ou SCRV)
também pode ser administrada em crianças
a partir de 9 meses até 12
anos de idade
.Pessoas
com história
pregressa de
sarampo são
consideradas
imunizadas
contra a
doença, mas
é preciso ter
certeza do
diagnóstico.
Na dúvida,
recomenda-se
a vacinação.
Tanto a vacina SCR quanto a SCRV são vacinas com vírus vivos atenuados. Por isso, são
contraindicadas
em algumas situações:Pessoas com história de anafilaxia após aplicação de dose anterior da vacina ou a algum componente;
Grávidas;
Crianças menores de 6 meses;
Pessoas com comprometimento da imunidade por doença ou medicação.
Nessas situações
em que a vacina é contraindicada, é importante que todos os contactantes do indivíduo sejam vacinados, de modo a conferir, a quem não pode ser vacinado, uma proteção indireta.Caso suspeito de sarampo
Todo indivíduo com febre e exantema acompanhado de tosse e/ou coriza e/ ou conjuntivite é considerado um caso
suspeito de sarampo, independentemente de vacinação prévia.
Vigilância epidemiológica
do sarampo
Todos os casossuspeitos e confirmados de sarampo deverão ser notificados em 24 horas
para a vigilância municipal e registrados no SinanNet.
Central de Vigilância do CVE
0800 555 466
www.cve.saude.sp.gov.br
notifica@saude.sp.gov.br
Controle de surtos
A vacina pode ser utilizada para controle de surtos se administrada a indivíduosimunocompetentes suscetíveis (não vacinados) até 72 horas da
exposição. Indivíduos com algum grau de imunocomprometimento que contraindique a vacinação, se expostos ao sarampo, devem receber imunoglobulina humana intravenosa (IGIV) até seis dias da exposição, na dose de 150 mg/kg.
Sarampo:
o que é preciso saber.Incubação
8 a 12 diasQuadro clínico
- Enantema após 2 dias (sinal de Koplik), - Febre, tosse, coriza e conjuntivite; com exantema 2 dias mais tardeLesões cutâneas
Exantema maculopapular confluente que evolui para cor amarronzada e descamação finaDistribuição
Craniocaudal, iniciando em região retroauricularControle de surto
-Vacina com componente de sarampo até 72h do contato -IGIV em imunossuprimidos até
6 dias após o contato
1. American Academy of Pediatrics. Measles. In: Kimberlin DW, Brady MT, Jackson MA, Long SS, eds Red Book: 2018 Report of the Committee on Infectious Diseases. 31st ed. Elk Grove Village, IL: American Academy of Pediatrics 2018; p 537-50.
2. de Moraes-Pinto MI. Síndrome exantemática. In: Salomão R. Infectologia: bases clínicas e tratamento. 1a ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogam, 2017. p 398-406.
3. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”/CCD/SES-SP. Sarampo, número de casos por ano. Estado de São Paulo, 2000-2020, dados em 03/08/2020.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS