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O PROBLEMA DA DIALÉTICA NA FILOSOFIA ANTIGA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica

2008 – UFU 30 anos

O PROBLEMA DA DIALÉTICA NA FILOSOFIA ANTIGA

Leandro Shigueo Araújo1

Universidade Federal de Uberlândia leandroshigueo@gmail.com

Resumo: Dialética é um termo que apresenta vários significados na Antiguidade. Em Platão, um fator comum entre as várias concepções assumidas pelo procedimento dialético, seria a busca pelo conhecimento verdadeiro. Em outras palavras, o procedimento dialético seria o método filosófico por excelência. No entanto, nenhum dos significados ou conceitos seria mais esclarecido do que o aristotélico. Em seus tratados lógicos, denominados posteriormente como “Órganon”, o autor esclarece, a respeito do assunto, além do significado, a utilidade da dialética, diferenciando-a do modelo de Pldiferenciando-atão. Nessdiferenciando-a perspectivdiferenciando-a, o objetivo do trdiferenciando-abdiferenciando-alho é diferenciando-apresentdiferenciando-ar diferenciando-as concepções do termo assumidas pelos dois autores acima citados.

Palavras-chave: Filosofia Antiga, Dialética, Platão, Aristóteles. (até 5)

1. INTRODUÇÃO

O termo dialética possui vários conceitos distintos. Este trabalho possui a finalidade de apresentar alguns dos diversos conceitos desenvolvidos na antiguidade. Dentro dessa perspectiva encontram-se Platão e Aristóteles, dois dos maiores filósofos daquela época.

O objetivo da primeira parte do trabalho, que se divide em dois, será apresentar três destes conceitos platônicos, com base nos seguintes diálogos do mesmo: Apologia de Sócrates, Eutífron, A

República - livros VI e VII - e O Sofista. Essa parte será composta por três momentos, sendo que cada um possuirá um conceito de dialética e uma breve explicação deste. Primeiramente, a dialética tomará a forma do “elenchos”, composto por “epagogé” e silogismo. Em seguida, esta será tratada como um método de chegar ao conhecimento verdadeiro e, finalizando, no terceiro momento um método de divisão também composto por duas formas: a “synagoge” e a “diaíresis”.

No entanto nenhum dos significados ou conceitos seja mais esclarecido do que o aristotélico, tema da segunda parte do trabalho. Em seus tratados lógicos, denominados posteriormente como “Órganon”, o autor esclarece, a respeito do assunto, além do significado, a utilidade da dialética, diferenciando-a do modelo de Platão. Nessa segunda parte do trabalho, expositarei o conteúdo que esclarece tal significado e utilidade atribuídos à dialética, além de uma breve interpretação destes. Posteriormente, relacionarei o modelo platônico com o aristotélico, delimitando algumas diferenças e semelhanças. Para a apresentação desta parte do trabalho será utilizada com referência, a obra “Órganon” de Aristóteles, precisamente, os “Tópicos”.

2. CONCEITOS DE DIALÉTICA EM PLATÃO

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2.1 – A refutação do oráculo

Segundo Dorion(1990), a prática filosófica de Sócrates1 possuía como objetivo principal, a refutação do oráculo de Delfos, visto que este dissera ser Sócrates o mais sábio dentre os homens. Assim, pode-se dizer que o método mais adequado para a refutação do oráculo era o teste; ou seja, Sócrates tentaria achar alguém que fosse mais sábio do que ele mesmo. Deste fato, pressupõe-se que não interessa a Sócrates provar ser o mais sábio, e sim encontrar algum homem menos ignorante que ele.

Para uma explicação mais apurada do assunto, podemos citar o caso das defesas de Sócrates contra algumas acusações relatadas por Platão. Na Apologia de Sócrates, ele mostra o elenchos, método utilizado por Sócrates em sua defesa contra as acusações de Meleto. Tal método só é possível com a presença de um interlocutor, ou seja, a presença de Meleto é fundamental para que a refutação de seus argumentos seja possível (erótesis). Além disso, é de fundamental importância demonstrar o “elenchos” dividido em seus dois momentos, a epagogé e o silogismo. O primeiro possui como base uma argumentação com exemplos, onde Sócrates mostra vários casos particulares que, aparentemente, se encaixam na definição do seu interlocutor antes de demonstrar a contradição da definição quando aplicada aos exemplos; ou seja, a definição do interlocutor não se aplica de modo geral, portanto, não pode ser uma definição. Já o silogismo baseia-se em um raciocínio lógico, onde os argumentos do interlocutor são refutados por meio de uma serie de afirmações, baseadas na definição e que levam a contradição desta. A utilização de um exemplo demonstrará claramente a diferença.

Em uma passagem da “Apologia”, Meleto acusa Sócrates de ser culpado de corromper os

moços e não acreditar nos deuses que a cidade admite, além de aceitar divindades novas.

Em relação à não acreditar nos deuses, Sócrates utiliza-se do silogismo para refutar Meleto. Primeiramente, Sócrates pergunta se há alguém que acredite em coisas demoníacas, mas não em demônios. Meleto afirma que não. Depois, pergunta se os demônios são filhos dos deuses. Novamente Meleto concorda. Então, Sócrates conclui que não é possível ele acreditar em demônios e não acreditar nos deuses, uma vez que se sabe que estes são pais daqueles.

Para demonstrar a “epagogé” utilizarei o diálogo Eutífron, onde Sócrates tenta refutar uma das definições de piedade feitas pelo próprio Eutífron.

“... tudo aquilo que é piedoso também deva ser justo” (Eutífron, 11e).

Essa afirmação provém de Sócrates, mas Eutífron acaba concordando com ela. Sócrates inicia sua refutação por meio da “epagogé”. Ele pergunta para Eutífron se tudo que é justo é piedoso, ou apenas uma parte do justo o é, e outra não o é. Eutífron diz não ser capaz de acompanhá-lo. Então, Sócrates utiliza exemplos para demonstrar-lhe o que gostaria de dizer. No primeiro, ele diz que muitas pessoas temem as enfermidades, a pobreza e muitas outras coisas, mas não respeitam o que temem. Já no segundo exemplo, diz ele que onde está à reverência também está o temor, pois alguém que se sente envergonhado com algo, sente medo e temor de sua reputação. O terceiro exemplo diz que um número impar é apenas uma parte do número. Não se tem necessariamente número impar onde há número, mas há número, onde há número impar. Eutífron concorda com os exemplos. Portanto - diz Sócrates - se tudo que é piedoso é justo, pode haver algo que sendo justo, não seja completamente piedoso. Pois, a justiça é mais abrangente que a piedade. E sendo assim, Eutífron deve considerar a piedade apenas uma parte da justiça.

1 Para uma maior explanação do assunto, qualquer referência a Sócrates no texto não terá nenhum vínculo com a sua

história original (mesmo que isso seja aceito por alguns autores), mas apenas ao personagem de Platão, visto que a autoria dos diálogos é deste e não de Sócrates. Porém, não nos cabe neste contexto discutir a respeito destes fatos, visto que o tema do trabalho seja outro. Assim, fica esclarecida a atuação de Sócrates neste texto.

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Vê-se que o método “elenchos” é baseado em perguntas e respostas, em discursos curtos (braquiologia), além de não haver definições por parte de Sócrates, mas apenas refutações. Retornando ao inicio do capítulo, essa característica pode ser atribuída ao fato de que este colocava em prova o conhecimento dos seus interlocutores, ao invés de testar sua própria sabedoria.

2.2. O método para o conhecimento verdadeiro

No segundo conceito de dialética, presente na “República” Livro VI e VII, Sócrates muda seu modo de discursar. Ele produz afirmações e faz seu interlocutor aceitá-las. Sabendo-se que ele possuía compromisso com a verdade, suas afirmações poderiam ser de grande peso, mesmo porque é de se esperar que haja uma grande reflexão por parte dele antes de suas palavras.

Neste caso, o debate entre Sócrates e seu interlocutor, que é Gláucon, se dá em uma tentativa de diferir os filósofos dos não filósofos. Por isso, há necessidade de algumas delimitações em relação aos dois objetos; ou seja, para diferenciar os filósofos dos não filósofos deve-se primeiramente defini-los.

Note na passagem a seguir como Sócrates utiliza seu método:

“Sócrates: - Visto que são filósofos os que podem alcançar o imutável e o eterno, e não o são os que andam a errar na região do múltiplo e do variável, qual dessas classes te parece que deve governar a cidade?”.

“Glauco: - Como poderemos responder com acerto a esta pergunta?”.

“Sócrates: - Aqueles que mais capazes se mostrarem de guardar as leis e as instituições de nossa cidade – esses serão os nossos guardiões”.

“Glauco: - Muito bem”

“Sócrates: - Tampouco – disse eu – é possível hesitar diante desta pergunta: o homem que deve guardar alguma coisa, convém que seja cego ou que tenha boa vista?”

“Glauco: - Não há hesitação possível, com efeito” (República, pág. 171). Vê-se que já há uma diferença com o primeiro método. Agora, ele não refuta seus interlocutores, mas os fazem crer em teses.

Além disso, nos livros VI e VII da “República” está presente uma tese acerca da Teoria do Conhecimento; onde o autor demonstra que é por meio da dialética que se chega ao conhecimento verdadeiro. Através de uma noção de conjunto, o filosofo retira, da multiplicidade das coisas, a unidade (synagogé). Mas tal assunto será esclarecido no próximo conceito de dialética. Assim, fica demonstrado mais um conceito do termo flexível: dialética.

2.3 – O método de divisão

A dialética, neste ponto, também se divide em duas partes: A synagogé e a diaíresis. A primeira é, como foi dito no final do capítulo anterior, concentrar numa única idéia a multiplicidade, por meio de uma noção de conjunto. Esse método pode ser entendido como uma tentativa de se chegar a uma “forma” comum entre vários objetos semelhantes. Por exemplo: Supondo que o leitor conheça vários tipos de mamíferos e suas diferenças, ele através da synagogé chegará a algo que haja em comum entre todos os tipos de mamíferos, como é o caso da amamentação de seus filhotes. Já a segunda parte (diaíresis) consiste em dividir uma idéia em dicotomias, para que haja a escolha

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de uma das duas alternativas, que são contrárias, até que se chegue à definição do objeto em questão. Observe que são dois métodos distintos, mas que complementam um ao outro, para assim formar esse novo conceito de dialética.

No diálogo “Sofista”, O Estrangeiro de Eléia (personagem principal) expõe sempre duas alternativas e seu interlocutor (Teeteto), o qual escolhe uma entre elas; assim o faz até chegar, num primeiro momento, à definição de pescador com anzol. Porém, a delimitação do objeto em questão é o sofista, ou seja, O Estrangeiro de Eléia e Teeteto tentarão definir o sofista como tal, diferenciando-o dos políticos e dos filósofos etc.

Veja na passagem a seguir um exemplo claro da tese, onde o personagem principal e seu interlocutor tentam definir a arte do pescador, para utilizá-la, posteriormente, como um exemplo claro do método para se chegar a definições. Note:

“Sócrates: - Mas aquela que se faz por anzol ou arpões é diferente da primeira e o nome que, agora, devemos dar a toda ela é o de caça vulnerante. E de que outra forma poderíamos melhor denominá-la, Teeteto?”.

“Teeteto: - Não nos preocupamos com o nome; e, aliás, esse está bem”.

“Sócrates: - Para esta caça vulnerante, quando ela se realiza durante a noite e à luz do fogo, os seus próprios profissionais deram o nome, creio, de caça ao fogo”. “Teeteto: - Perfeitamente”.

“Sócrates: - E quando se realiza à luz do dia, armando-se de fisga a própria ponta do arpão, cabe-lhe o nome comum de caça por fisga”.

“Teeteto: - É esse, na realidade, o nome que se dá” (O Sofista, 220c à 220e).

Observe como O Estrangeiro propõe sempre duas alternativas para que seu interlocutor escolha a que melhor lhe convém. Esse terceiro método chega a definições, através de um jogo de escolha de respostas.

Dito isto, ficam expostos os três conceitos platônicos, desse abrangente termo que é a dialética.

2.4. Observações finais

Expostos os três conceitos de dialética em Platão, pode-se afirmar que a principal diferença entre os três, está na relação do primeiro conceito com os demais. Digo isso, porque o método “elenchos” possui como eventual objetivo a refutação das definições equivocadas dos interlocutores de Sócrates; enquanto que, nos outros dois métodos há construções de afirmações e definições por parte deste para com seus interlocutores.

Além dessa diferença, podemos citar como as principais semelhanças entre os métodos, a homologia; ou seja, o comum acordo entre as partes, além do senso crítico do filósofo em propor métodos para se chegar à verdade das coisas, mesmo porque, para o “filósofo”, os métodos dialéticos são filosóficos. Assim, fica esclarecido porque a dialética, para Platão, é a forma do “homem da alma de ouro” (filósofo), adquirir conhecimento.

3. INTRODUÇÃO À DIALÉTICA DE ARISTÓTELES 3.1. A definição de silogismo e suas formas

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Em Platão, como foi mencionado anteriormente, dentre as várias concepções assumidas pela dialética, tem-se o método para chegar ao conhecimento verdadeiro. No entanto, seria nas obras lógicas de Aristóteles que retiraríamos uma definição mais específica do termo. A importância de uma análise do assunto em Aristóteles provém do fato de ter sido o mesmo, o primeiro a teoriza-la. Como afirma Enrico Berti (1998), a importância que o filósofo grego atribui a esta exposição é atestada, além da amplitude, pelo próprio orgulho com o qual ele afirma ser o primeiro a realizar tarefa mencionada.

Para tal empreendimento seria necessário, primeiramente, mostrar a definição de silogismo e algumas de suas variações – expostas no livro I do “Tópicos”. A definição é dada, conforme a seguinte passagem:

“O silogismo é um discurso argumentativo no qual, uma vez formuladas certas coisas, alguma coisa distinta destas coisas resulta necessariamente através delas pura e simplesmente”. (Tópicos, 100 a 18, 25 à 27)

Observe que o autor definiu o silogismo como qualquer discurso argumentativo onde, a conclusão deriva necessariamente, a partir de suas premissas. Posteriormente, ele distinguiu suas formas, ou seja; as aplicações desta definição em contextos específicos, como por exemplo, o “silogismo dialético”, o “apodíctico” e o “silogismo erístico”, além do “paralogismo”, tema que será tratado no próximo tópico deste texto. Em relação ao primeiro tipo, pode-se afirmar que ele é o raciocínio baseado em opiniões de aceitação geral, onde as suas premissas são válidas pela descrição e opinião de terceiros. Esta definição de silogismo dialético será a própria definição de “Dialética”, feita por Aristóteles. O “apodíctico” será o próprio método para a filosofia, porque o raciocínio parte de premissas verdadeiras e primárias (axiomas), derivando conclusões sempre verdadeiras. Já o terceiro tipo é fundado em opiniões que apenas parecem ser aceitas por todos, mas na verdade não são, portanto são embusteiros, porque mesmo fundado em supostas “endoxas”, é uma forma de raciocínio que visa enganar os outros. Por isso “erística” é a denominação da arte dos sofistas. Em relação à última forma, que é semelhante à um silogismo, mas não satisfaz a condição de sê-la, pode-se afirmar que são de natureza falsa porque se baseiam em premissas específicas de determinadas ciências, encontrados na geometria e nas ciências que lhe são afins. Observe o argumento de Aristóteles para explicar o paralogismo:

“Com efeito, aquele que constrói uma falsa figura não raciocina nem a partir de opiniões de aceitação geral, não sendo enquadrado em nossa definição, pois não toma como suas premissas quer opiniões de aceitação universal, quer as que se fiam na maioria ou nos sábios (a saber, em todos os sábios, na sua maioria ou nos mais ilustres), mas seu processo de raciocínio é baseado em suposições peculiares a uma ciência, mas não verdadeiras. Há de sua parte, no caso, raciocínio falso tanto na descrição incorreta dos semicírculos quanto no traçado impróprio das linhas”.(Tópicos, 100 a1, 9 à 16)

Pode-se afirmar, diante do argumento, que o paralogismo não possui princípios como a base de seu raciocínio, mas apenas “suposições” específicas. Então o raciocínio será falso.

Aparentemente, cada uma dessas formas é aplicada a um determinado grupo. Por exemplo, o método apodictido, segundo Aristóteles, seria o método filosófico por excelência, enquanto o erístico seria basicamente o método discursivo dos sofistas. Cada um desses grupos possue uma finalidade em relação à linguagem: o filósofo com o conhecimento verdadeiro; o sofista com a persuasão; etc. Assim sendo, cada uma dessas diferentes formas possue um contexto específico.

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Voltando ao ponto principal do texto, a saber, a dialética, sabendo-se que em Aristóteles a mesma seria um tipo de raciocínio baseado em opiniões de aceitação geral (endoxas), onde as suas premissas são validadas pela descrição e opinião de terceiros, ou seja, aceita-se como argumentos, aquelas opiniões provindas da totalidade dos sábios ou da maioria das pessoas, pode-se retirar duas características principais dessa variação: i). as premissas não precisam ser totalmente verdadeiras, mas, apenas reconhecidas pelo interlocutor e pela maioria das pessoas; ii). a dialética teria um caráter de discussão, onde evidentemente se pressupõe a existência de dois interlocutores, os quais debateriam através de idéias contrastantes. Essa segunda característica mostra o caráter condutivo da dialética, pois, a mesma através do debate conduz os interlocutores à pesquisa dos princípios científicos. No entanto, trabalharemos melhor o assunto dentro da utilidade do método dialético. Para Berti, esse método dialético ou silogismo dialético, uma dentre as várias formas de racionalidade, seria teorizada com uma amplitude muito maior do que a da própria ciência apodíctica.

Em relação a última, denominada por Aristóteles por silogismo apodíctico, seria o próprio método para a filosofia, porque o raciocínio parte de premissas verdadeiras e primárias (axiomas), derivando conclusões sempre verdadeiras. Desse modo, assumiria um caráter distinto da dialética, uma vez que trabalharia com princípios científicos, não mais com opiniões. Uma vez instaurado os princípios científicos, a dialética perderia sua função.

3.2 – A utilidade da dialética

Logo após suas definições Aristóteles expõe a utilidade da Dialética. Esta utilidade é dividida em três momentos: no exercício intelectual, nos encontros casuais, e nas ciências filosóficas. Em relação ao primeiro momento, pode-se dizer que quando se possui um método, o raciocínio em torno do assunto em vista é mais bem trabalhado. Já nos encontros casuais, a Dialética se torna útil porque, quando “elenca-se” as opiniões da maioria das pessoas, pode-se refutar as opiniões que são tratadas de forma equivocada e que são utilizadas de forma errada. E por fim, a Dialética é útil nas ciências filosóficas porque quando se é capaz de problematizar um assunto, também se é capaz de discernir entre o falso e o verdadeiro, alem de possuir a capacidade de examinar os princípios das ciências. Observe o trecho em que Aristóteles explica a utilidade da Dialética para com as ciências filosóficas em conexão com os fundamentos de cada ciência:

“... pois é absolutamente impossível discuti-las com base nos princípios peculiares à ciência em questão, uma vez que os princípios são primários em relação a tudo o mais e é necessário com eles lidar à luz e em função das opiniões de aceitação geral pertinentes a cada um deles. Este processo, diz respeito caracteristicamente, ou mais propriamente à dialética, pois, dada a sua natureza investigatória, ela nos franqueia o caminho aos princípios de todos os métodos de investigação”. (Tópicos, 100 a 1, 38 à 101b1).

Observa-se que mesmo não havendo uma demonstração para os princípios das ciências, pode-se através da dialética analisar tais princípios e mostrar que a contrariedade destes seja absurdo.

Agora, fica claro que a utilidade da Dialética em relação às ciências, não possui como finalidade chegar a algum tipo de conhecimento, ou seja, o método científico para se alcançar algum o conhecimento não é a dialética, e sim o silogismo apodíctico. No presente trabalho não há necessidade de aprofundar-se neste tema, visto que é a dialética o ponto principal.

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4. A RELAÇÃO ENTRE O CONCEITO PLATÔNICO E O ARISTOTÉLICO

Viu-se que Platão expôs a idéia de que a dialética seria o melhor meio para que o filósofo alcance o conhecimento verdadeiro. Para ele, neste método filosófico, não deve haver o objetivo de ganhar do interlocutor, mas sim um acordo entre as partes incomuns (homologia).

Aristóteles, diferentemente de seu mestre, antes de colocar a dialética em seu lugar, a defini. Talvez, isso fez com que ele demonstrasse de forma teórica que a Dialética não possui nenhum compromisso com a filosofia, nem sequer com a verdade. Foi visto que esta é um tipo de raciocínio derivado de opiniões de aceitação geral, enquanto que o verdadeiro método filosófico (apodíctico), deriva de princípios verdadeiros e primários. Pode-se concluir então, que Aristóteles teoriza a Dialética como sendo uma espécie de jogo de linguagem, onde o objetivo central não é a verdade, mas sim uma vitória.

Além disso, uma das poucas semelhanças entre os métodos platônico e aristotélico é a “erótesis”, porque os métodos não funcionam sem a presença de um interlocutor.

Outra diferença está na crença das opiniões dadas pelos interlocutores. Para Platão deve-se dar a opinião que realmente esteja em acordo com a crença, enquanto que para Aristóteles, não há necessidade de uma crença, mesmo porque a Dialética não passa de um jogo.

Concluindo, a relação entre Aristóteles e Platão parece um pouco desonesta, mesmo porque este não teoriza seu método, mas apenas o demonstra em forma de diálogos; já Aristóteles teoriza para depois aplicar. Assim a consistência do ultimo se dá de forma mais sólida em relação ao assunto abordado do que o primeiro.

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARISTÓTELES. 2005 “Òrganon”. São Paulo: EDIPRO,

BERTI, Enrico. 1998 “As razões de Aristóteles”. Trad. Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola. 2.ed. Coleção Leituras Filosóficas.

DORION, L.A. 1990 “La subversion de l’elenchos’ juridique dans l’Apologie de Socrate’”. PLATÃO. 1973 “Apologia de Sócrates”. Trad. de Carlos Alberto Nunes, UFPA, EDUFPA. PLATÃO. 1964 “A República”. Trad. de Leonel Vallandro São Paulo: Abril Cultural. PLATÃO. 1980 “O Sofista”, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores).

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