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do uso exclusivo da requerente, usadas separada ou conjuntamente.»

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Cópias da sentença do 9.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa e dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de registo de marca nacional n.° 156 676. A Philip Morris Incorporated, com sede em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, veio, ao abrigo do artigo 203.° do Código da Propriedade Industrial, recorrer do despacho do director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial que lhe recusou o exclusivismo do uso das expressões «Virgínia» e «Slims», com o fundamento de que as mesmas seriam genéricas ou incaracterísticas.

Alega, em síntese, que as expressões «Virgínia» e «Slims», para o consumidor português, não são sinais francos, genéricos ou incaracterísticos. A expressão «Vir- gínia» embora, em abstracto, possa ser considerada uma denominação de origem, para o consumidor português tratar-se-á, apenas, do nome de uma mulher. Quanto ao termo «Slims», nenhum consumidor em Portugal lhe atribuirá qualquer significado ao vê-lo aposto num maço de cigarros.

Assim, sendo a marca destinada a ser usada em Portugal por consumidores portugueses, não pode ser tida por genérica uma expressão que não é portuguesa e que, na língua portuguesa, não tem qualquer significado.

Acresce que na marca em apreço não só é original a combinação de «Virgínia» com «Slims» como também o conjunto gráfico-figurativo envolvente, nomeadamente as listas verticais, o posicionamento da expressão «Virgínia Slims», sublinhada pela palavra «Filter» e o próprio formato do maço alongado, que conferem à marca no seu todo características distintivas.

Conclui, pedindo a revogação do despacho recorrido e a atribuição do exclusivo do uso da expressão «Virgínia Slims».

Notificado para se pronunciar, nos termos do arti- go 206.° do Código da Propriedade Industrial, o Sr. Director do Serviço de Marcas nada disse.

A parte contrária - Rothmans of Pall Mall, Ltd. -, citada, não respondeu.

O tribunal é absolutamente competente.

Não existem nulidades, excepções nem questões prévias de que cumpre conhecer.

Cumpre, pois, decidir.

Importa, antes de mais, delimitar o objecto do recurso, tendo em atenção o despacho recorrido.

A recorrente alega fundamentalmente o seguinte: a) As expressões «Virgínia» e «Slims» são dotadas

de eficácia distintiva, por si próprias;

b) Além disso, não é só original a combinação de tais expressões como também o conjunto gráfico-figu- rativo envolvente, que conferem à marca no seu todo características distintivas.

Ora, no despacho recorrido diz-se textualmente o se- guinte: «Uma vez que a marca registanda não é unicamente constituída por aquelas duas expressões, mas contém elementos geométricos que lhe emprestam [...] caracterís- ticas distintivas suficientes para coexistir pacificamente no mercado, proponho que se conceda o registo requerido com a ressalva de as expressões 'Virgínia' e 'Slims' não ficarem

do uso exclusivo da requerente, usadas separada ou con- juntamente.»

Daqui resulta que a questão a decidir é a de saber se a recorrente tem ou não direito ao uso exclusivo das expressões «Virgínia» e «Slims», separada ou conjunta- mente, o que se avaliará independentemente do aspecto gráfico-figurativo da marca, porque, nessa parte, não houve qualquer recusa de registo.

Compulsados os autos e o processo administrativo apenso, verifica-se que:

l) A marca registanda se destina a cigarros; 2) A palavra «Virgínia», como elemento de uma

marca de cigarros, pode constituir uma indicação de origem, por se reportar às plantações de tabaco do estado americano do mesmo nome;

3) A palavra «Slims», na área comercial dos cigar- ros, é utilizada para significar um determinado tipo de cigarro (delgado);

4) Na Europa e Canadá várias marcas de tabaco utilizam como elemento integrante a expressão «Slim», combinada com outras palavras - «Slim Size», «Slim Tin», «The Slim Crystal filter hol- der», «Contessa Slims», «Slim Kings», «Dunhill Slim Size», etc.

Sem pôr em causa os factos relatados, a recorrente argumenta que, «sendo a marca sub judice destinada a ser usada em Portugal por consumidores portugueses, não pode ser tida por genérica uma expressão que não é portuguesa e que em português não tem qualquer significado».

Tese a que se não pode aderir, visto que a função essencial da marca e do respectivo registo se situa no jogo da concorrência entre as empresas, e não nas relações entre estas e o público. A tutela da marca visa permitir um alargamento do mercado para determinada empresa em detrimento das demais e pode até excluir, por completo, a concorrência (Prof. Ferrer Correia, Lições de Direito Co- mercial, pp. 314-316).

Sendo assim, não se pode conceder a protecção resul- tante do registo a determinada marca pela simples razão de que o público consumidor ignora o significado da expres- são constante da mesma.

O significado e alcance de tais expressões hão-de medir-se pelo seu impacte no mercado do produto a que respeita a marca e entre as empresas que aí actuam.

O artigo 79.° do Código da Propriedade Industrial, que se refere à constituição das marcas, proíbe expressamente que entrem na sua composição «os sinais ou indicações que possam servir no comércio para designar a espécie, a qualidade, a quantidade, o destino, o valor, o lugar de origem dos produtos ou a época de produção, ou que se tiverem tornado usuais na linguagem corrente ou nos hábitos leais constantes do comércio».

No caso vertente, a expressão «Virgínia», no comércio de tabaco, serve para designar uma determinada origem do produto e a expressão «Slims» designa um certo tipo de cigarro.

Por isso, sabido que no mercado nacional actuam várias empresas de tabacos, impõe-se concluir que aquelas ex- pressões não podem ser utilizadas de forma exclusiva, isolada ou conjuntamente, para constituírem uma marca da recorrente.

(2)

O artigo 93.° do Código da Propriedade Industrial determina que será recusado o registo das marcas que contrariem o disposto no artigo 79.°, pelo que bem se decidiu ao recusar o registo requerido pela recorrente.

Decisão.

Pelo exposto, ao abrigo dos normativos citados e do § 2.° do artigo 207.° do Código da Propriedade Industrial, julgo improcedente o recurso da Philip Morris Incorporated.

Custas pela recorrente. Notifique e registe.

Oportunamente, observe-se o disposto no artigo 210.° do Código da Propriedade Industrial e devolva-se o processo administrativo ao Instituto Nacional da Propriedade In- dustrial.

Lisboa, 19 de Fevereiro de 1988. - O Juiz de Direito, (Assinatura ilegível.)

Acordam na Relação de Lisboa:

Requerido por Philip Morris Incorporated o registo, para protecção em Portugal, de marca industrial e comercial destinada a cigarros, com sinais figurativos (geométricos) e nominativos (os dizeres: «Virgínia Slims», «Filter» e «20 class A cigarrettes»), registo a que se opôs Rothmans of Pall Mall, Ltd., foi pelo Ex.mo Director do Serviço de Marcas concedido o registo requerido (considerando que a marca registanda contém, além daquelas palavras, elemen- tos geométricos que lhe emprestam características distin- tivas suficientes para coexistir pacificamente no mercado), mas «com a ressalva de as expressões 'Virgínia' e 'Slims' não ficarem do uso exclusivo da requerente, usadas sepa- rada ou conjuntamente» (sic).

Deste despacho recorreu para o Tribunal Cível de Lisboa a Philip Morris Incorporated, pugnando pela atribuição do exclusivo do uso da expressão «Virgínia Slims».

Distribuídos os autos ao 9.° Juízo Cível, 1.8 Secção, lavrou o M.mo Juiz douta decisão, na qual, considerando infundados os argumentos alegados pela recorrente, julgou improcedente o recurso.

Daí a presente apelação interposta pela Philip Morris Incorporated, que, alegando, formula, em síntese, as seguin- tes conclusões:

a) O acórdão objecto do presente recurso não atentou devidamente na matéria sub judice ao aplicar erradamente os artigos 79.° e 93.° do Código da Propriedade Industrial;

b) A expressão da marca da recorrente «Virgínia Slims» não pode deixar de ser considerada expressão característica, dotada de eficácia distintiva susceptí- vel no seu todo de ser apropriada em exclusivo; c) Mandam os princípios que regem a matéria do direito de marca que esta seja considerada, no seu todo, como um complexo de vários elementos, entre os quais a sua composição gráfico-figura- tiva, dizeres, forma, etc.;

d) É errada a forma como o Instituto Nacional da Propriedade Industrial e o douto acórdão recorrido decompõem os vários elementos constitutivos da

marca e os analisam isoladamente, olvidando o facto de ser o conjunto que chama a atenção do consumidor e o pode induzir em erro;

e) O douto acórdão recorrido, ao considerar isolada- mente os vocábulos «Virgínia» e «Slims», agastou a concepção clássica de que é a composição glo- bal dos vários elementos componentes da marca que lhes conferem uma identidade específica aos olhos do consumidor;

Assim, por exemplo, considerar a cor em que a marca é produzida, o tamanho do invólucro, ou considerar isolada e desgarradamente certas figu- ras gráficas para com elas identificar certo produto não constitui entendimento procedente;

g) No entanto, mesmo considerando os vocábulos «Virgínia» e «Slims» separadamente, estes não se apresentam ao consumidor português como sinais genéricos ou incaracterísticos no sentido do arti- go 79.° do Código da Propriedade Industrial; h) Assim, embora em abstracto a expressão «Virgí-

nia» possa ser considerada uma denominação de origem, o consumidor português pensará tão- -somente tratar-se de um nome de mulher, uma vez que este produto é dirigido especialmente ao público feminino;

i) Da mesma forma é de refutar o argumento de que «Slims» constituiria uma expressão incaracterísti- ca ou genérica por designar um certo tipo de cigarros, uma vez que mesmo as pessoas mais conhecedoras do idioma inglês não atribuirão qualquer significado à palavra «Slims» quando aposta num maço de cigarros;

j) Mesmo que o fizessem atribuiriam à palavra «Slims» outro significado, uma vez que esta expressão vem precedida do vocábulo «Virgínia»; l) Desta forma não poderá «Virgínia Slims» ser uma expressão tida como genérica no sentido do artigo 79.° do Código da Propriedade Industrial, uma vez que na língua portuguesa não tem qualquer significado; m) Mesmo que se considerasse esta expressão isola-

damente e a qualificássemos como sendo genéri- ca, o que só por abstracção o faríamos - mesmo assim a recusa de atribuição do uso exclusivo seria ilegal, uma vez que a proibição de utilização de sinais descritivos ou genéricos não valerá quando, através de alterações gráficas e fonéticas, lhes seja atribuído um conteúdo distintivo; n) Ora, a marca em presença apresenta características

verdadeiramente distintivas, apresentando um aspecto gráfico-figurativo global inconfundível, em que so- bressaem as listas verticais, o posicionamento da expressão «Virgínia Slims», sublinhando a palavra «filter» e a configuração alongada do invólucro; o) Tendo inúmeros países em todo o mundo reconhe- cido eficácia distintiva e originalidade à marca da recorrente, concedendo-lhe plena protecção. E conclui: deve ser dado provimento ao presente recurso, revogando-se o acórdão recorrido, concedendo-se à reque- rente o exclusivismo do uso da expressão «Virgínia Slims». O Ex.mo Representante do Ministério Público junto deste Tribunal de Relação emitiu mui douto parecer no sentido do recurso não merecer provimento.

(3)

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir. Antes de mais, importa ter presente que o Instituto Nacional da Propriedade Industrial concedeu à apelante o registo da marca mista por ela requerido.

Consequentemente, e por força do preceituado no artigo 74.° do Código da Propriedade Industrial, goza a requerente, em Portugal, do direito de exclusividade de utilização de tal marca. Por outro lado, ao pretender que lhe seja concedido «o exclusivismo da expressão 'Virgínia Slims'» contida na marca, é a apelante quem, ao arrepio do que insistente e doutamente sustenta nas suas alegações [v. conclusões das alíneas c), d), e), f), m) e n)], está a decompor a marca, isolando da sua composição global um dos elementos que a constituem.

Obviamente, como defende a apelante, a marca mista é um todo: a globalidade dos sinais (elementos) que a compõem; é, pois, esse todo, em peculiar combinação dos seus elementos, que, satisfazendo à função distintiva (ainda que cada um dos sinais de per se seja incaracterístico), constitui a marca.

Como assim, a protecção conferida pelo registo à marca mista (complexa) reconduz-se, em primeira linha, ao direito de utilização exclusiva do conjunto dos sinais, combinados entre si, num todo com apresentação visual própria, e não a cada um dos elementos que a compõem.

Para que a exclusividade do uso incida sobre elemento isolado, componente de marca mista, necessário é que seja esse elemento o sinal essencial e distintivo da marca, e a exigir quanto a ele a observância dos requisitos da cons- tituição das marcas.

Ora, como refere a douta sentença recorrida e a apelante não refuta, dos presentes autos e do processo administrativo apenso resulta provada a seguinte factualidade:

1) A marca registanda destina-se a cigarros; 2) A palavra «Virgínia», como elemento de uma

marca de cigarros, pode constituir uma indicação de origem, por se reportar às plantações de tabaco do estado americano do mesmo nome;

3) A palavra «Slims», na área comercial dos cigar- ros, é utilizada para significar um determinado tipo de cigarros (delgado);

4) Na Europa e Canadá várias marcas de tabaco utilizam como elemento integrante a expressão «Slim Tin», «The Slim Crystal filter holder», «Con- tessa Slims», «Slim King», «Dunhill Slim Size», etc. E o certo é que, contrariamente ao que a apelante alega, temos como muito mais provável que o consumidor português (fumador), a quem o produto se destina, tenderá, na sua generalidade, a reportar o termo «Virgínia» impres- so num maço de cigarros estrangeiros ao lugar de origem do produto: o estado americano de Virgínia, famoso pelas suas plantações de tabaco, e não a nome de mulher; e se é certo que a palavra «slims» não tem qualquer significado na língua portuguesa, como alega a apelante, menos certo não é que, perante o produto, a generalidade das pessoas apercebe-se de que se trata de marca estrangeira escrita em inglês e em qualquer dicionário de inglês-português a palavra «slim» aparece com o significado de «elegante, delgado, esguio» (v., por exemplo, Dicionário de Inglês- -Português, por Armando de Morais, da Porto Editora, L.da); do que logo resulta que a expressão «Virgínia Slims» mais não significa, mesmo no contexto da marca global propriedade da apelante, que cigarros fabricados com

tabaco proveniente do estado americano de Virgínia e de tipo delgado. Trata-se, pois, a expressão «Virgínia Slims» de um conjunto formado por dois sinais nominativos indicativos do lugar de origem e da espécie do produto, e, como tal e por força do § l.° do artigo 79.° do Código da Propriedade Industrial, insusceptível de constituir marca e obter protecção como tal.

Mas mais: como se refere na douta sentença recorrida e no não menos douto parecer do Ex.mo Representante do Ministério Público junto desta Relação, «a função essencial da marca e do respectivo registo situa-se no jogo da concorrência entre as empresas, e não nas relações entre estas e o público. A tutela da marca visa permitir um alargamento do mercado para determinada empresa em detrimento das demais e pode até excluir por completo, a concorrência» (Prof. Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, vol. i, pp. 314-316). «Sendo assim, não se pode conceder a protecção resultante do registo a determinada marca pela simples razão de que o público consumidor ignora o significado da expressão constante da mesma», como muito bem pondera o M.mo Juiz a quo. E visto que a palavra «Virgínia», no comércio do tabaco, serve para designar uma determinada origem do produto e, no mesmo comércio, o termo «Slims» designa um certo tipo de cigarro e dado que no mercado nacional actuam várias empresas de tabacos, obviamente que o uso de tais palavras, isolada ou conjuntamente, não pode ser exclusivo da apelante. Como ensina o Dr. Carlos Olavo in «Propriedade industrial - Noções fundamentais», Colectânea de Juris- prudência, ano XII, t. 2, 1987, p. 23, «a marca é um sinal distintivo e nessa medida é necessário que tenha eficácia distintiva [...] já exclui tal eficácia as referências genéri- cas, habitualmente utilizadas no sector de actividade eco- nómica a que a marca se destina. Semelhantes referências genéricas não podem, por isso, constituir uma marca». Finalmente, quanto ao argumento aduzido pela apelante de a referida marca gozar de ampla protecção (abrangendo a exclusividade do uso da expressão «Virgínia Slims») em inúmeros países: o seu valor, como se aponta no douto parecer do Ministério Público, é nulo.

Seguindo de muito perto a lição do Prof. Oliveira Ascenção, Direito Comercial - Direito Industrial, vol. II (ed. de 1988), pp. 151 e seguinte, dir-se-á que a marca é um bem nacional, regido pela legislação de cada país. O próprio artigo 6.° da Convenção de Berna não só dispõe que as condições do registo da marca são determinadas em cada país pela sua legislação nacional (n.° 1) como a declara independente das marcas registadas nos outros países da União, incluindo o país de origem (n.° 3). O direito à marca é um direito diferente em cada ordem jurídica interna. Pode, por isso, ser concedida num país e negada noutro ou ser concedida em condições diferentes em cada um dos países.

Do exposto se conclui improcederem, na sua totalidade, os argumentos apresentados pela apelante e não terem a douta sentença apelada e o não menos douto despacho que aquela confirmou violado as disposições legais citadas pela recorrente, nem quaisquer outras.

Termos em que se julga improcedente o recurso e confirma a douta sentença apelada.

Custas pela apelante.

Lisboa, 16 de Novembro de 1989. - (Assinaturas ilegíveis.)

(4)

Acordam, em conferência, neste Supremo:

A Philip Morris Incorporated, sociedade comercial nor- te-americana, com sede em Nova Iorque, requereu no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), e para protecção em Portugal, o registo de marca industrial e comercial destinada a cigarros e constituída por sinais figurativos (geométricos) e nominativos (com os dizeres: «Virgínia Slims», «Filter» e «20 class A cigarrettes»).

A tal se opôs a Rothmans of Pall Mall, Ltd., e o director do Serviço de Marcas daquele Instituto, considerando «que a marca registanda não é unicamente constituída por aquelas duas expressões ('Virgínia' e 'Slims'), uma contém elementos geométricos que lhe emprestam características distintivas suficientes para coexistir pacificamente no mercado», concedeu o registo requerido, mas «com a ressalva de que as expressões 'Virgínia' e 'Slims' não ficam do uso exclusivo da requerente, usadas separadas ou conjuntamente».

Deste despacho recorreu a requerente para o juiz de direito dos juízos cíveis de Lisboa. Mas sem êxito porque o Sr. Juiz da 1.ª Instância lhe negou provimento.

De novo sem êxito recorreu para a Relação de Lisboa. E agora pede revista do respectivo acórdão com o fundamento de que nele se violou o disposto nos arti- gos 79.°, 93.° e 203.° do Código da Propriedade Industrial e o artigo 6.°-quinques, B), 2.°, da Convenção da União de Paris, pelo que deve ser revogado e ser concedido à recorrente, sem reserva ou condições, o registo da marca nacional n.° 156 676.

Para isso, diz nas conclusões (que resumiu das suas alegações) que:

A decomposição, pela própria entidade recorrida, dos elementos que compõem a marca em detrimento da análise da mesma no seu conjunto, para não conceder o exclusivismo das expressões «Virgí- nia» e «Slims», contraria os princípios que regem esta matéria e anterior posição da mesma entidade; Nenhuma daquelas expressões constitui um sinal franco, genérico ou incaracterístico no sentido usado naquele artigo 79.° O consumidor associará a palavra «Virgínia» a nome de mulher, tanto mais que o esquema publicitário de marcas está dirigido ao público feminino, e a palavra «Slims» não tem qualquer significado na língua portuguesa, pelo que não é de aceitar que o consumidor, mesmo consultando o dicionário, associe essa palavra a cigarros; por isso, mesmo que constituída fosse só por essas duas palavras, a sua associação conferiria capacidade distintiva bastante à marca; finalmente, o facto de em inúmeros países se ter reconhecido eficácia distintiva e originalidade à marca da recorrente assume relevo, já que quase todos os países são partes contratantes da Convenção da União de Paris, cujo artigo 6.°-quinques, B), 2.°, corresponde ao artigo 79.° do nosso Código da Propriedade Industrial.

Nada disse o recorrido.

Colhidos os vistos, vai decidir-se.

Foi requerido o registo de uma marca constituída por elementos nominativos e figurativos ou emblemáticos (geométricos), ou seja, de uma marca mista.

E tal qual esta marca foi apresentada no requerimento foi-lhe concedido o registo, com as legais consequências de protecção, naturalmente. Isto é, no essencial a pretensão da recorrente foi satisfeita, sendo-lhe favorável o despacho do Ex.mo Director do Serviço de Marcas.

Só que no seu elemento nominativo entram as palavras «Virgínia» e «Slims». E da protecção do registo foi ressalvado o exclusivismo do uso destas expressões, quer separadas, quer em conjunto.

É contra esta ressalva que se bate a recorrente nos recursos, não contra a parte do despacho que concedeu o registo da marca mista formada por aquele conjunto. E só aquela parte ela poderia impugnar porque só nesse ponto o despacho lhe é desfavorável (v. artigos 680.° e 684.° do Código de Processo Civil).

Ou seja, entendeu-se que o registo concedido só respeita e protege a marca no seu conjunto, mas não estende essa protecção às referidas palavras, afastamento com que a recorrente se não conforma, pelas razões que aponta.

Assim, a matéria do recurso é limitada a essa ressalva, não estando em discussão o registo da marca no seu conjunto.

A marca é um sinal distintivo de mercadorias, produtos e ou serviços «destinado a individualizar produtos e mercadorias e a permitir a sua diferenciação de outras da mesma espécie» (Prof. Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, ed. de 1973, vol. i, p. 312).

O fabricante, produtor ou comerciante escolhe a estru- tura ou constituição que pretende para as suas marcas. Mas ela tem que obedecer a certas regras impostas exactamente pelas características que nela se exigem: singularidade, no sentido de eficácia ou capacidade distintiva, veracidade e licitude.

Neste recurso, a única questão que se coloca é tão-só relacionada com a primeira das apontadas características: a da eficácia distintiva.

Efectivamente, foi concedido o registo à marca mista por se entender - assim se afirma lá - que os elementos geométricos lhe emprestam características distintivas; e a ressalva de não ficarem de uso exclusivo da requerente as palavras «Virgínia» e «Slims» é devida ao entendimento de que elas, só por si, não têm tal eficácia.

Só com este aspecto e característica nos teremos, pois, de ocupar.

Para o efeito interessa o que se dispõe no artigo 79.° do Código da Propriedade Industrial, cujo § 1.° não é contra- riado, antes apoiado, pelo disposto no artigo 6.°-quinques, B), 2.°, da Convenção da União de Paris e seu Acto de Estocolmo de 1967. É nesta disposição que se estabelecem as regras conducentes à satisfação daquela eficácia distin- tiva dos produtos entre si e de outras marcas preexistentes. E no seu § 1.° se dispõe que não satisfazem a esse efeito as marcas «exclusivamente compostas de sinais ou indica- ções que possam servir no comércio para designar a espécie, a qualidade, a quantidade, o destino, o valor, o lugar de origem dos produtos ou a época da produção, ou que se tomaram mais usuais na linguagem corrente ou nos hábitos leais e constantes do comércio».

Ou seja, não pode a marca ser constituída só por expressões usuais, genéricas e descritivas dos produtos por delas não constar a necessária singularidade que evita a desleal concorrência; trata-se de sinais francos que não podem, por isso, ser monopolizados pelo titular da marca. Caberão em tal qualificação as expressões em causa?

(5)

Entenderam as instâncias unanimemente que sim, apoiando-se nos seguintes factos, que tiveram por pro- vados:

1) A marca registanda destina-se a cigarros; 2) A palavra «Virgínia», como elemento de uma

marca de cigarros, pode constituir uma indicação de origem por se reportar às plantações de tabaco do estado americano do mesmo nome;

3) A palavra «Slims», na área comercial dos cigar- ros, é utilizada para significar um determinado tipo de cigarros (delgado);

4) Na Europa e Canadá várias marcas de tabaco utili- zam como elemento integrante a expressão «Slims», combinada com outras palavras: «Slim Size», «Slim Tin», «The Slim Crystal filter holder», «Contessa Slims», «Slim King», «Dunhill Slim Size», etc. Como é sabido, o Supremo não pode alterar a situação material fixada pela Relação, e tem que acatá-la para a aplicação definitiva do regime de direito (artigo 729.° do Código de Processo Civil).

Ora, estando-se no domínio do fabrico e comércio de cigarros e tendo nele as expressões em causa o significado que vem fixado (matéria de facto), é manifesto que, nos termos do § 1.° daquele artigo 79.°, à recorrente não pode ser concedido o uso exclusivo, neste campo, das expressões «Virgínia» e «Slims», fora do conjunto constitutivo da marca cujo registo lhe foi concedido.

«O problema de saber se determinada expressão ou sinal possui aptidão diferenciadora traduz-se numa questão de facto, que só poderá ser decidida perante cada caso concreto. Deverá atender-se, nomeadamente, ao uso que dessa expres- são ou sinal porventura se venha fazendo e à opinião das pessoas ligadas à produção e ao consumo do produto em causa.» (Prof. Ferrer Correia, ibid. nota 1, p. 327.)

E sendo assim, como o aceitamos ser, temos de aceitar o que a Relação concluiu no sentido de que mesmo em Portugal o consumidor de cigarros ligará a palavra «Vir- gínia» não a nome de mulher mas à origem do tabaco e acabará por descobrir que «Slim» não significa mais que o próprio tipo ou espécie de cigarro.

Pelo que tais expressões não passam, efectivamente, de vocábulos genéricos e descritivos que, desligados de qual- quer outro sinal de fantasia, nenhuma singularidade reve- lam. Equivalerão, por exemplo, a expressões tais como «Porto Ruby», «Dão Velho», «Verde branco adamado», etc., na produção e comércio de vinhos, e no respectivo mercado nacional e até internacional. São sinais fracos, incapazes de qualquer eficácia distintiva, não se admitindo a sua protecção e exclusivismo através das regras da marca. E, pois, não é o seu exclusivo, separado ou em conjunto, permitido pelo citado § 1.° do dito artigo 79.°

E nada proíbe que, aceite a marca mista, se faça salientar que os elementos nominativos, por si sós, não ficam abrangidos pela protecção do registo.

Não pode servir de fundamento de decisão qualquer eventual diferente posição anterior, adoptada naquele ins- tituto, nem o que se passa noutros países; cada um rege- -se pelas próprias leis, embora os signatários devam obser- var a Convenção da União de Paris que, como vimos, no caso e tratando-se de marca nacional, não obsta à regra daquele artigo 79.°

Por outro lado, e conforme se diz no acórdão recorrido, a recorrente é que, defendendo o exclusivismo das expres-

sões em causa, está a querer decompor a marca registanda ao pretender assegurar com aquele registo do conjunto o exclusivo do uso, por ela, das expressões «Virgínia» e «Slims», que entram na composição da marca.

Improcedem, pois, todas as conclusões de alegação da recorrente. E no acórdão recorrido não se violou o disposto nas disposições legais lá apontadas.

Termos em que se nega a revista, com custas pela recorrente.

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