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Atributos físicos e qualidade física do solo que afetam a produtividade da cultura do milho safrinha

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Academic year: 2021

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culturA do milho sAfrinhA

Cássio Antonio Tormena1

1. introdução

O aumento e a manutenção da capacidade produtividade dos solos são fundamentais para a sustentabilidade da agricultura e para atender as necessidades básicas de alimentos decorrentes do crescimento da população. O potencial de produção de biomassa das culturas é determinado pelo potencial genético das plantas e por fatores relacionados ao solo e ao clima. O solo fornece água, ar, nutrientes e o suporte mecânico para o crescimento das plantas. No entanto, além das qualidades intrínsecas do solo, o manejo do solo pode modificar as condições físicas, químicas e biológicas necessárias para o crescimento e produtividade das culturas.

Na maior parte dos solos tropicais, o declínio da fertilidade é freqüentemente citado como um dos fatores que contribuem para o decréscimo de produtividade das culturas, apesar da facilidade de correção deste tipo de limitação. Atualmente, as condições físicas do solo têm sido qualificadas como críticas para a sustentabilidade agronômica dos sistemas de produção agrícola e especialmente em sistema de plantio direto. As práticas de manejo, especialmente os sistema de preparo do solo, podem induzir a degradação da estrutura e deterioração das condições físicas do solo na zona radicular reduzindo, conseqüentemente, a produtividade das culturas. Entre os principais efeitos da perda da qualidade estrutural e física do solo destacam-se a redução do crescimento radicular em volume e profundidade do solo, que se reflete na absorção de água e nutrientes, com maior suscetibilidade aos veranicos ou reduzindo o aproveitamento da água armazenada no perfil do solo, o que se reflete em menores crescimento e produtividade das culturas. As alterações nas propriedades e processos

1Professor Associado do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Maringá. Av. Colombo, 5790 – CEP 87020-900 Maringá, Paraná, Brasil. E-mail: catormena@uem.br

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físicos do solo, pelos sistemas de manejo, afetam a funcionalidade da estrutura do solo em termos agronômicos, de modo que estes também devem ser avaliados por meio dos seus efeitos nos atributos físicos do solo que influenciam diretamente o crescimento das plantas.

2. Atributos físicos do solo limitAntes pArA implAntAção do milho sAfrinhA cultivAdo no sistemA plAntio direto.

As variáveis físicas do solo que afetam o crescimento da cultura do milho safrinha também afetam o crescimento das outras culturas em sucessão ou rotação, de modo que as informações descritas neste texto são de caráter geral. Não havendo limitações térmicas, as propriedades físicas do solo que influenciam diretamente a produtividade do milho safrinha e de outras culturas são aquelas relacionadas com o fornecimento de água, de oxigênio e com a resistência do solo à penetração das raízes. Esses fatores físicos estão estreitamente relacionados à condição estrutural e ao conteúdo de água do solo e, portanto, sujeitos a modificações positivas ou negativas em relação à produtividade das culturas. Assim, a avaliação dos impactos das práticas de manejo sobre a qualidade física do solo deveria ser feita por meio de parâmetros que determinam as condições físicas para o crescimento das plantas.

Condições físicas do solo, favoráveis para o crescimento das plantas, têm sido associadas a uma porosidade de aeração mínima de 10%, necessária para a adequada difusão de oxigênio no solo; com um limite de resistência à penetração de 2,0 MPa e com uma ampla disponibilidade de água no solo entre a capacidade de campo (CC) e o ponto de murchamento permanente (PMP). Entre estes, a disponibilidade de água tem sido mais diretamente ligada com a qualidade do solo para o crescimento das plantas. Os efeitos destes fatores físicos sobre o crescimento das plantas ocorrem por meio da atuação simultânea e de complexas interações envolvendo resistência do solo à penetração, aeração e disponibilidade de água. Além disso, uma modificação da umidade do solo promove modificações na aeração e na resistência do solo à penetração das raízes. Num solo com estrutura degradada, a reduzida aeração ou a excessiva resistência do solo à penetração das raízes podem constituir-se em impedimentos ao crescimento das plantas, independentemente da disponibilidade hídrica ser adequada.

Conforme a Figura 1, as propriedades físicas do solo relacionadas com a produtividade das culturas podem ser divididas em duas categorias (Letey, 1985):

a) aquelas diretamente relacionadas com o desenvolvimento das plantas. São as propriedades físicas do solo que determinam o fornecimento de água, de oxigênio, de temperatura e resistência mecânica para a emergência das plântulas e crescimento das raízes. Estes fatores físicos do solo determinam a taxa dos processos fisiológicos, ligados com o crescimento radicular, com a fotossíntese e com o crescimento foliar.

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b) aquelas indiretamente relacionadas com o desenvolvimento das plantas, tais como a granulometria do solo, densidade do solo, agregação e porosidade. Atualmente, a maior parte das avaliações dos impactos dos sistemas de manejo sobre a estrutura dos solos é feita avaliando estes fatores físicos. Os efeitos destes fatores sobre a produtividade das culturas ocorrem por suas influências sobre a retenção de água, aeração, temperatura e resistência do solo à penetração das raízes.

figurA 1. propriedades físicas do solo e suas relações com o crescimento das plantas (Adaptado de letey, 1985).

Entre os fatores físicos do solo diretamente relacionados com o desenvolvimento das plantas, o conteúdo de água do solo é o mais intensivamente estudado. O conteúdo de água entre a capacidade de campo (potencial mátrico igual a -0,01 MPa) e o ponto

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de murchamento permanente (potencial mátrico igual a -1,5 MPa) foi definido como o conteúdo de água disponível (AD) às plantas. O conceito de água disponível entre os potenciais de -0,01 e -1,5 MPa, na zona radicular dos solos, tem sido utilizado no desenvolvimento de estratégias de manejo do solo. Embora seja comumente relacionada entre os potenciais de -0,01 e -1,5 MPa, a AD é medida em limites de potenciais bastante variáveis e tem sido utilizada no manejo da irrigação e em estudos de crescimento de plantas e raízes. O conceito de AD incorpora uma ampla variação de tamanhos de poros, e sua utilização como indicador da qualidade física do solo para o crescimento das plantas implica assumir que, dentro destes limites, não ocorre nenhum outro tipo de limitação ao crescimento das plantas. No entanto, dependendo da condição estrutural do solo, nos limites de potenciais da AD podem ocorrer limitações por excessiva resistência do solo ou aeração deficiente, dependendo da classe textural e da condição estrutural do solo decorrente das modificações impostas à mesma.

Na ausência de limitações térmicas, as condições físicas na interface solo-raiz são controladas pela disponibilidade de água, aeração e resistência à penetração, cujas magnitudes são determinadas pela estrutura do solo. A relação de dependência e inter-relação entre estes fatores dificulta o estabelecimento de um nível ótimo destes em relação à produtividade das culturas (Letey, 1985). De maneira geral, condições físicas do solo favoráveis ao crescimento das plantas têm sido associadas com uma porosidade de aeração mínima de 10%, na qual a difusão de oxigênio no solo torna-se limitante ao funcionamento das raízes. Um valor de resistência do solo à penetração das raízes de 2,0 MPa tem sido comumente associado como impeditivo para o crescimento das raízes e da parte aérea das plantas. No entanto, este valor é muito sensível à condição estrutural do solo, especialmente em solos sob plantio direto em que a presença de macroporos oriundos da atividade biológica pode atuar como rotas alternativas para o crescimento das raízes em profundidade.

É necessária uma ampla disponibilidade de água para o crescimento do sistema radicular e absorção dos nutrientes. Desta forma, além da resistência à penetração e aeração, a AD é considerada o principal fator físico do solo que controla o crescimento do sistema radicular e a produtividade das culturas. Os níveis destes parâmetros físicos dependem da condição estrutural do solo e das variações, ao longo do crescimento das culturas, do conteúdo de água de maneira que as alterações nestes fatores implicam modificações nas condições físicas do solo para o crescimento das raízes. Conseqüentemente, os efeitos da estrutura sobre o crescimento das plantas são mais bem quantificados por meio do conteúdo de água do solo no qual o potencial mátrico, aeração e resistência do solo à penetração das raízes atingem níveis limitantes.

Estes atributos físicos têm dependência do sistema de manejo e afetam propriedades químicas e biológicas do solo, com conseqüência sobre o crescimento das culturas. Estas interdependências são mostradas na Figura 2. Os resultados de

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algumas pesquisas relacionando o crescimento das plantas com as condições físicas do solo sugerem que as raízes atuam como sensores do ambiente físico do solo e enviam sinais à parte aérea que controlam o crescimento e a expansão foliar. De forma geral, os efeitos das condições físicas do solo sobre o crescimento das plantas são magnificados com a secagem do solo, a qual as culturas estão freqüentemente expostas. A visão convencional é que com a secagem do solo ocorre, em cadeia, uma redução do potencial da água do solo até as folhas das plantas, afetando a taxa de processos fisiológicos como a fotossíntese e crescimento foliar. Contudo, a resposta fisiológica das culturas não é determinada somente pelo potencial total da água na folha, e alguns estudos sugerem o envolvimento de outros fatores, resultantes das modificações no conteúdo de água do solo.

figurA 2. Análise esquemática das relações entre macroporos, propriedades físicas, químicas, biológicas, rizosfera e sistema radicular.

A presença de macroporos, criados mecanicamente ou por vias biológicas, permite que as raízes utilizem as zonas de baixa resistência para terem acesso a um maior volume de água e nutrientes que podem estar disponíveis nas camadas subjacentes (Figura 3). Ainda há necessidade de estudos mais detalhados neste sentido, sob condições de campo, em escalas espaciais e de tempo maiores, visando a identificar os mecanismos atuantes nestas interações. Um sistema de rotação de culturas é minimamente necessário para que estes macroporos sejam efetivos em relação ao crescimento das plantas, uma vez que há indicações na literatura mostrando que estes podem ser sítios com presença de organismos fitopatogênicos que interferem no crescimento e funcionamento do sistema radicular.

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figurA 3. detalhe de raízes crescendo em macroporos num solo sob plantio direto. seta indica o local de crescimento preferencial das raízes num macroporo oriundo de atividade biológica.

Há indicações de que em solos sob secagem, especialmente nos solos brasileiros explorados pelas culturas produtoras de grãos, os sinais inibitórios ocorrem associados com o aumento da resistência do solo à penetração das raízes, reduzindo o crescimento do sistema radicular, a expansão e o crescimento foliar. A redução no crescimento do sistema radicular com o aumento da resistência do solo é um processo bem conhecido e o aumento da resistência do solo à penetração pode ocorrer com a redução na umidade ou com um aumento da densidade ou compactação do solo. Os efeitos da resistência sobre o crescimento radicular independem da causa da sua elevação. Elevada resistência do solo à penetração é mais efetiva em reduzir o crescimento da parte aérea do que do sistema radicular das plantas, sugerindo que as plantas podem crescer mais lentamente sob condições de elevada resistência, mesmo com adequada disponibilidade de água e nutrientes. Porém, nestas condições, um reduzido crescimento do sistema radicular implica em não atender a demanda de água e nutrientes das culturas.

As observações em campo e em áreas experimentais indicam maior produtividade das culturas em solos com elevada presença de macroporos, ainda que o solo apresente resistência do solo à penetração considerada impeditiva às plantas. A presença de

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culturas como milheto, aveia preta e nabo forrageiro em sistemas de plantio direto podem influenciar positivamente a qualidade física do solo, devido a habilidade de sua raízes crescerem em profundidade e em camadas de maior compactação do solo como atestam os resultados de Muller et al. (2001). A bioporosidade do solo sob plantio direto conduzido com uma rotação de culturas planejada, com canais contínuos ao longo do perfil, pode criar condições de acesso as maiores quantidades de água nas camadas subsuperficiais.

3. identificAção de compActAção do solo em áreAs AgrícolA e seus efeitos nAs plAntAs.

A primeira medida necessária para inferir sobre a influência da compactação do solo é ter um bom controle da produtividade dos talhões, a variação em função das condições climáticas, as possíveis variações associadas com as adubações, entre outros detalhes que também influenciam a produtividade das culturas. Um dos aspectos importantes é o reconhecimento das variações das classes de solo na paisagem e das classes texturais que podem variar entre os talhões. A identificação da compactação do solo deveria ser feita, prioritariamente, por indicadores quantitativos, mas indicadores qualitativos como a abertura de trincheiras e avaliação da resistência do solo nas paredes da mesma tem sido bastante utilizada. Um método semi-quantitativo de avaliação da estrutura foi recentemente proposto por Ball et al. (2007), que pode dar boas indicações do efeito da compactação da estrutura do solo.

O uso de penetrômetros tem sido freqüentemente recomendado como para a avaliação da compactação do solo. No entanto, as medidas de resistência do solo à penetração tomadas com os penetrômetros são fortemente dependentes da umidade do solo. Por exemplo, se medidas são feitas com solo seco, invariavelmente, os valores de resistência serão elevados e não se pode atribuir com segurança se estes elevados valores são indicativos da compactação do solo, pois solos secos apresentam-se duros e com elevada resistência. Com solo muito úmido, a resistência é baixa e pode ocorrer em valores considerados não limitantes às plantas. Neste ponto, há um risco de diagnóstico incorreto com uso inadequado do equipamento. Então, qual é a condição de umidade adequada para utilizar corretamente o penetrômetro? O correto é utilizar o penetrômetro quando o solo armazena a maior quantidade de água disponível às plantas, ou seja, na capacidade de campo. A capacidade de campo tem sido considerada o teor de água no solo que ocorre de 2-3 dias após uma chuva suficiente para umedecer o perfil do solo até 40-50 cm, usualmente. A lógica é a seguinte: se ocorrerem elevados valores de resistência quando o solo apresenta elevada água disponível então o aproveitamento desta água vai ser impedido pela

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elevada resistência do solo que reduz o crescimento das raízes e diminui a superfície de absorção de água e nutrientes. Um perfil típico de resistência do solo tomado com um penetrômetro é mostrado na Figura 4.

figurA 4. medidas de resistência do solo à penetração em três locais diferentes num solo argiloso com umidade na capacidade de campo.

Um dos questionamentos ainda importantes é definir um valor crítico de resistência que pode influenciar a produção das culturas. Em geral, tem-se utilizado valores equivalente a 2000 kPa como limitante ao desenvolvimento das raízes. Em áreas com plantio direto consolidado, com abundante presença de bioporos, em sistema de rotação de culturas corretamente conduzido, valores de resistência de cerca de 3500 kPa tem sido utilizado em trabalhos de literatura. O conhecimento do solo e condições de manejo utilizado aliado aos conhecimentos dos principais processos físicos e da experiência obtida em trabalhos de pesquisas regionais pode contribuir para a definição mais precisa do valor limite de resistência a ser adotado.

A abertura de trincheiras, geralmente de 50 x 50 x 50 cm, permite a visualização de alguns aspectos estruturais importantes do solo nas camadas em que as raízes terão seu maior desenvolvimento ou que terão que desenvolver e atravessar para acessarem às camadas mais profundas. Isto exige experiência do avaliador, uma vez que feições

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estruturais decorrentes de manejo ou intrínsecas do solo podem ser confundidas. A identificação das camadas compactadas no perfil pode ser feita com a utilização de uma faca ou canivete pontiagudos, com o qual se identifica pelas diferenças de resistência onde estão localizadas as camadas mais compactadas no perfil. Trata-se de um método subjetivo, dependente da condição de umidade do solo, mas que tem sido muito utilizado. Um problema com a utilização de trincheiras está relacionado ao fato de ser uma prática trabalhosa, com pouca repetição no campo e que dificulta a utilização em área com grande variabilidade de solo em pequena escala espacial. Um exemplo da utilização de trincheiras é apresentado na Figura 5, na qual é possível verificar uma camada de maior resistência entre 10-20 cm de profundidade, mas sem identificar se esta camada é realmente limitantes ao crescimento radicular.

figurA 5. Ilustração de trincheira utilizada para identificação de compactação do solo numa área cultivada após a colheita da cultura da soja..

Uma metodologia ainda pouco utilizada no Brasil e o método revisado de Peerkamp com o qual se faz a avaliação visual da estrutura do solo e atribui-se um escore ou valor indicativo da qualidade da estrutura do solo, proposto por Ball et al. (2007) e no Brasil foi publicado por Giarola et al. (2009). Esta metodologia tem sido

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aplicada até a camada de 30 cm e é adequada para avaliar e monitorar a qualidade estrutural do solo decorrente do manejo. Trata-se de um método auxiliar aos métodos quantitativos, com grande simplicidade e de baixo custo e com vantagens de se fazer com um número razoável de repetições. Exige também uma condição adequada de umidade do solo, na capacidade de campo, para se obterem resultados confiáveis e indicativos da condição estrutural do solo. Apesar da relativa facilidade de aplicação do método de avaliação da qualidade estrutural do solo apresentado por Ball et al. (2007), pesquisas estão sendo feitas para o aprimoramento deste método para a avaliação da qualidade física e estrutural do solo em diferentes escalas de manejo, solo e condições de clima. Para isto, é necessário que as estimativas do método sejam relacionadas com outros indicadores já amplamente utilizados na ciência do solo e cujos métodos de medida apresentam bases teóricas solidificadas em avaliações em diferentes partes do mundo.

A análise visual da estrutura do solo consistirá em coletar, com uma pá reta, um bloco de solo de aproximadamente 15 cm de espessura e 25-30 cm de profundidade. Primeiramente deverão ser retiradas as impurezas contidas no bloco e identificar camadas com diferentes características estruturais diretamente na amostra (bloco de solo). Estas camadas deverão ser avaliadas independentemente em relação aos seus aspectos estruturais, poros de natureza biológica e presença de raízes. Com bastante cuidado, o bloco deverá ser manipulado utilizando-se as duas mãos para expor os agregados naturais do solo em função dos planos de fraqueza que os separam. A seguir seguem-se exemplos de condição estrutural avaliada pelo método num mesmo solo (Figura 6), mas com diferentes situações de uso e manejo, evidenciando as diferenças na estrutura do solo.

figurA 6. Amostras representativas de diferentes condições de uso e manejo num mesmo solo. A sequência da esquerda para a direita indica melhoria da qualidade estrutural do solo.

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Um dos avanços na avaliação da qualidade do solo e em especial da qualidade física tem sido feito utilizado o conceito do Intervalo Hídrico Ótimo (IHO). IHO define uma região delimitada por um limite superior e inferior de conteúdos de água na qual são mínimas as limitações para o crescimento das plantas associadas com o potencial matricial ou disponibilidade de água, aeração e resistência do solo à penetração das raízes. O IHO tem sido utilizado na avaliação da qualidade física e estrutural do solo para o crescimento de plantas em diferentes solos e sistemas de manejo, bem como em relação aos processos associados à dinâmica do nitrogênio e da matéria orgânica no solo. A medida do IHO é bem descrita no trabalho de Tormena et al. (1998) e também apresentada em outros trabalhos feitos no Brasil e no exterior. A Figura 7 exemplifica o IHO para um solo argiloso sob plantio direto.

Conforme pode ser visto na Figura 7, a área hachurada de cor cinza, que corresponde ao IHO ou a faixa de água inteiramente disponível no solo, diminui com o aumento da densidade ou da compactação do solo até um ponto em que o IHO é nulo.

figurA 7. Gráfico do Intervalo Hídrico Ótimo de um Latossolo Vermelho distroférrico cultivado com milho em sistema de plantio direto.

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Assim, com a compactação do solo, o IHO é fortemente reduzido até alcançar um valor igual à zero. O máximo valor do IHO coincide, neste caso, com as menores densidades do solo. O IHO=0 ocorre quando os valores de umidade nos limites superior e inferior de água no solo são numericamente iguais e estão associados a um valor de densidade do solo. O valor da densidade do solo na qual IHO=0 é definido como a densidade do solo crítica, indicando para o solo e sistema de manejo em questão que nesta densidade as condições físicas do solo são altamente restritivas às plantas. Do ponto de vista do manejo do solo, a densidade do solo crítica deveria ser o limite máximo admissível para fins de monitoramento e controle da qualidade física do solo às plantas. Para o solo ilustrado na Figura 7, o IHO=0 quando a densidade do solo é de 1270 kg m-3. Neste valor de densidade do solo o crescimento das plantas é severamente restrito pela inadequada aeração e pela excessiva resistência do solo. Assim, por meio do IHO pode ser definido a densidade do solo crítica, a qual pode ser utilizada para fins de monitoramento do solo a partir da medida da densidade do solo.

4. efeitos dA compActAção no desenvolvimento e produtividAde do milho sAfrinhA

O efeito da compactação do solo no desenvolvimento e na produtividade do milho safrinha vai depender das condições climáticas prevalecentes no período de desenvolvimento da cultura, o que depende muito da região em questão visto os aspectos de solo, topografia, altitude e manejo em questão. Em geral, o primeiro problema relacionado à compactação do solo está relacionado com emergência das plantas, o que definirá a população final de plantas a serem colhidas. Sintomas relacionados à compactação incluem: variabilidade na profundidade de plantio, estande desuniforme devido a germinação e emergência desuniformes na área, reduzido crescimento radicular das plantas, concentração das raízes no sulco de semeadura estabelecendo ilhas de crescimento radicular, redução na área foliar, espigas de menor peso e tamanho, menor peso de grãos, sintomas associados a falta de N em anos chuvosos e em solos argilosos, possíveis deficiências de P nas áreas de bordadura que são as mais compactadas. Estes fatores provocam redução na produtividade final de grãos, cuja magnitude depende das condições de solo, clima, manejo e do material genético em questão.

5. mAnejo do solo pArA minimizAção dos problemAs de compActAção, principAlmente em áreAs de plAntio

direto.

Várias são as medidas passíveis de serem utilizadas para minimizar o problema da compactação do solo em áreas sob plantio direto. A compactação é tanto maior quanto maiores forem as cargas aplicadas ao solo em condições de umidade favorável.

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Assim, evitar a entrada de máquinas com solo úmido favorecerá o aparecimento de problemas relacionados com a compactação do solo. Em plantio direto, o solo não é revolvido de modo que a compactação tende a se tornar acumulativa, apesar de estar presente nas camadas mais superficiais do solo. O uso de sulcadores (facão ou bota) para a semeadura tem se revelado uma boa estratégia para o plantio do milho safrinha, pois rompe boa parte da compactação superficial em plantio direto bem como para o manejo do solo a longo prazo neste sistema. A escarificação ou subsolagem é outra estratégia para romper camadas compactas em camadas mais profundas. A escarificação é restrita à camadas até 25-30 cm de profundidade enquanto que a subsolagem é utilizada para romper camadas compactadas mais profundas. Cuidados com o uso destas práticas envolvem: identificar a profundidade da camada a ser rompida (identificada com o uso de trincheiras, penetrômetros ou mesmo pelo método visual), necessidade de realizar a prática (identificada pela ocorrência generalizada de densidade do solo maior que a crítica definida pelo IHO juntamente com a avaliação de produtividade das culturas - o método visual pode ser utilizado para assessorar esta decisão), estabelecer adequada relação entre largura de hastes e profundidade a ser executada a subsolagem ou escarificação. O objetivo da subsolagem e escarificação é o fraturamento dos agregados do solo, o que somente poderá ser feito como umidade adequada: ou seja, solo mais seco do que úmido, mas não seco que promova a formação de torrões excessivamente grandes que exijam operações de gradagem para seu rompimento e, portanto, anulando parte dos efeitos da prática.

Dentre as práticas mais importantes para o controle da compactação do solo em sistema de plantio direto destaca-se a rotação de culturas, para a qual a cultura do milho safrinha deveria estar inserida. A rotação de culturas é um dos pré-requisitos fundamentais para a sustentabilidade da produção das culturas, inclusive do milho safrinha, especialmente em sistema de semeadura direta. Vários fatores estão relacionados com esta prática, constituindo-se em vantagens da sua utilização: redução da pressão de pragas, ervas daninhas e doenças, em especial doenças dos sistemas radiculares das culturas associados com compactação do solo, aumento da cobertura do solo e dos teores de matéria orgânica, reciclagem de nutrientes, melhor distribuição das atividades laborais nas propriedades bem como outros inúmeros benefícios. Os impactos da degradação física do solo resultam em efeitos negativos no crescimento das raízes e da parte aérea das plantas e, por conseqüência, na produtividade sustentável das culturas. Neste sentido, a adoção de sistemas de rotação de culturas tem sido preconizada como uma estratégia para o condicionamento físico dos solos submetidos à semeadura direta.

A qualidade física dos solos é um dos principais componentes da capacidade produtiva dos solos e ainda precisa ser mais estudada em sistemas de semeadura direta. O sucesso da semeadura direta envolve, necessariamente, a utilização de rotação de

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culturas para manter a qualidade produtiva do solo devido seu efeito em aspectos físicos, químicos e biológicos do solo. Do ponto de vista físico, a diversidade de raízes e a maior adição de matéria orgânica em sistemas de rotação modificam inúmeras propriedades físicas conjuntamente. A rotação de culturas deve ser planejada para que as culturas possam ser beneficiadas por suas antecessoras. Um desses benéficos ocorre devido à diversificação de sistemas radiculares, que amplia as possibilidades da criação de bioporos, que além de modificar o fluxo de água e gases no solo, servem como rotas alternativas para o crescimento de raízes de plantas cultivadas em seqüência. Neste sentido, a ampliação do volume de solo explorado pelas raízes aumenta a eficiência do uso de fertilizantes e reduz os riscos de déficit hídrico. Uma maior penetração de água via bioporosidade implica numa maior reserva de água disponível, ainda que devessem considerar o efeito especifico da cultura antecedente sobre a utilização da água disponível no solo.

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Referências

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