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Academic year: 2021

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PARECER DA OIKOS - ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DO AMBIENTE E DO PATRIMÓNIO DA REGIÃO DE LEIRIA RELATIVAMENTE AO PROCESSO DE ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL “CONCESSÃO DE EXPLORAÇÃO DE CAULINO, DENOMINADA ROUSSA”.

É entendimento da Oikos que, de uma forma geral, o documento apresentado se revela portador de algumas deficiências na abordagem dos temas que se propõe tratar, conforme se referirá adiante.

Da análise do documento sob o ponto de vista técnico, conclui-se que este não se apresenta como um todo equilibrado uma vez que, numa perspectiva realista e compatível com o desenvolvimento sustentado da região em causa, não se poderá deixar de proceder a qualquer abordagem relativamente a exploração de barreiros nesta área sem se acautelarem “impactes cumulados”, facilmente entendíveis se olharmos à profusão daquelas explorações em tão restrito território.

Naturalmente, face ao anteriormente descrito, não encontramos outra forma de proceder à análise do documento em discussão que não seja olhando ao território como um todo no qual também se inserem seres humanos, merecedores de qualidade de vida que pode vir a ser colocada em questão – não pelos impactes específicos destes barreiros em particular – mas pelos impactes causados pelo conjunto de explorações já anteriormente citado.

Mais detalhadamente, critica-se:

- Na leitura do resumo não técnico afirma-se (página 4, do II Volume do resumo não técnico) que o desenvolvimento dos céus abertos se fará por degraus direitos com altura de 5 metros e largura de 10 metros. Ora, esta opção é obviamente contrária aos critérios técnicos normalmente seguidos em explorações desta

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natureza, aliás confirmados em momento posterior do mesmo documento, através das peças desenhadas nele constantes. Ali, não obstante se verificarem também situações anómalas - como existirem duas escalas distintas na mesma peça desenhada (figura 3.12B, 3.13B e 3.14B) e erro na indicação de perfis apresentados face a outra peça (há dois perfis A-A’ na peça 3.14B) – existe um claro desfasamento entre as dimensões referidas para os desmontes (segundo a horizontal) e os valores de 10 metros anteriormente referidos. Mais, admitindo que a escala apresentada sob os perfis é a válida, também assim os valores propostos, para a estabilidade final dos taludes, não parecem compatíveis com as exigências técnicas e de segurança para uma exploração considerada encerrada.

- Sobre a geomorfologia, é nosso entender que os impactes na região se traduzirão no surgimento de crateras enormes – tanto mais que os perfis de recuperação confirmam a manutenção dos brutais desníveis entre as cotas naturais e os patamares de fim de exploração, não se vislumbrando qualquer acção de recuperação topográfica, que se exige – cuja proliferação (reforça-se a existência de outras explorações com as mesmas características na região) se traduzirá na perda de características da paisagem, alterações nos hábitos e trajectos efectuados pelas populações e riscos muitíssimo graves para eventuais peões que percorram aqueles espaços em caso de eventual colapso dos taludes remanescentes (sobre os quais nos referimos no parágrafo anterior).

De igual modo se deve alertar que a alteração da morfologia se fará acompanhar de completa alteração dos usos do solo, tanto mais que num horizonte de trinta anos se afigura difícil a preservação dos horizontes decapados para eventual reposição.

Face a este descritor fundamental – que, de forma alguma, se pode dissociar dos demais – entende-se que, caso se opte pela concessão de exploração, esta apenas seja admitida por etapas, isto é, apenas se possa passar da área 1 para a 2 e desta para a 3 caso se demonstre o completo cumprimento de todos os requisitos relativos ao correcto encerramento da área anterior (de acordo com os códigos de boas práticas da extracção mineira), e a monitorização a realizar aos diversos parâmetros o aconselhe.

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- Na descrição dos “Meios humanos e regime de laboração“ cita-se o envolvimento de três operários, o que se afigura correcto face à natureza das explorações em análise. Quando se alude, posteriormente, aos impactes de natureza socio-económica e se refere a fixação de população local e potencial redução de desemprego parece não se ter em atenção que, como é sabido, estes operários são normalmente quadros já existentes nas empresas extractoras há mais ou menos tempo, deslocando-se diariamente para o local de trabalho, não havendo qualquer garantia que sejam recrutados nas povoações envolventes, a serem afectadas pela potencial extracção. Mais, de acordo com o previsto, um eventual recrutamento de raiz de apenas três operários revelar-se-á pouco significativo no contexto populacional geral em questão. Sugere-se, pois, que exista obrigatoriedade de que tal recrutamento aconteça nas povoações vizinhas aos barreiros, tanto mais que a exploração se prevê a trinta anos e pode, assim, minimizar impactes sobre as populações que afecta.

- Da análise simples da carta militar anexa é claramente observável que a área 1 e a área 3 intersectam linhas de água, sendo a primeira de maior relevo. Também da análise às referências sobre recursos hídricos parece haver alguma discrepância entre o afirmado e o que se sabe do terreno. Com efeito, o Ribeiro da Roussa é um ribeiro cujo contributo se revela importante para o caudal do Rio Arunca e, por isso, não pode ser desprezável. Ora, tal facto não pode deixar de ser tido em consideração quando as cotas finais a que se propõem encerrar os trabalhos interferem claramente com as escorrências superficiais e de sub-superfície, podendo mesmo colocar em causa a recarga de aquíferos de profundidade. Mas, uma vez mais, o estudo apresentado carece de apresentação de impactes cumulados, uma vez que são já significativas as áreas em exploração na região – umas já licenciadas e outras em processo de licenciamento – sendo inegável que, no conjunto, afectarão irremediavelmente os recursos hídricos regionais, mais que não seja por lhe aumentarem brutalmente a vulnerabilidade por decapagem das suas camadas de protecção e potencial intersecção dos níveis freáticos.

Foi possível apurar localmente que a região da Roussa – Alto dos Crespos é fértil em fontes, comprovando a riqueza em água e a superficialidade dos níveis freáticos. Sugere-se que um sistema de monitorização seja imediatamente

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iniciado, procurando que aos impactes irreversíveis que irão abater-se sobre as populações residentes não se acrescente, a médio prazo, a perda de tão precioso recurso. A Oikos entende que os recursos hídricos regionais são valiosos e não se podem subvalorizar, sugerindo que um parecer técnico seja solicitado ao departamento estatal com competência sobre a gestão da água.

- Sobre a caracterização da flora parece haver alguma contradição entre o facto de se referir a inexistência de zonas ribeirinhas (página 7 do II Volume do resumo não técnico) – recordamos que a simples observação da carta militar anexa demostra a existência de linhas de água – e a proposta de se fazer a “preservação das linhas de água” na área do projecto (página 10, do II Volume do resumo não técnico).

- Sobre o ruído, apesar de se considerar esta área como pouco ruidosa, não se podem deixar de referir os impactes cumulados da auto-estrada, das máquinas agro-florestais e, também, do tráfego de camiões transportadores de argilas em resultado das outras explorações ali existentes. Sobre ruídos acumulados, foi também possível ouvir queixas de populares relativamente ao ruído “muito desagradável”, produzido “muito cedo”, por uma britadeira que, ao que parece, é pertença da empresa requerente da concessão e se encontra a laborar em terreno próximo da área 3. No particular do ruído a área 2 parece ser a que mais população afectará, facto que deve ser tido em atenção no tocante à exigência de redução de ruídos na fonte e obrigatoriedade de compensação das populações afectadas, mediante negociação mediada por entidades credíveis.

- Sobre os impactes acerca da rede viária, é nosso entendimento que as “cargas excessivas colocadas nos camiões” (página 11 do II Volume do resumo não técnico) não poderão suceder, bem como não se pode aceitar considerar o tapar a carga como medida de prevenção, já que é obrigatório. No entanto, a degradação do piso será um facto e, uma vez mais, deverá ser alvo de um processo de análise cumulado (as demais empresas a laborar na região poderão utilizar os mesmos caminhos), determinando as compensações que se afigurarem correctas para a manutenção de um bem fundamental à qualidade de vida daquelas populações.

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De igual modo, a elevada quantidade de poeira resultante da actividade extractiva em si mesma e da circulação de camiões em vias de piso térreo serão impactes a considerar, sendo de exigir a implementação a tempo integral de medidas de minimização sugeridas no EIA.

Face ao exposto, a Oikos entende que este estudo se processou considerando as áreas e descritores como situações isoladas e específicas, quando a realidade demonstra que os potenciais impactes resultam de acções cumuladas. Dessa forma, a Oikos recomenda a reprovação deste EIA e a execução de novo trabalho onde se considerem os efeito cumulados nos descritores anteriormente citados. Considera ainda que a proposta de recuperação final das áreas a explorar não são compatíveis com a paisagem e morfologia que se espera poder deixar às populações daquela região.

Assim, independentemente de não se opor à futura concessão de exploração - desde que o novo estudo proposto contemple a análise cumulativa dos impactes e medidas de minimização sejam considerados correctas - a Oikos entende que apenas se deverá autorizar a exploração da área 2, após se testemunhar a efectiva qualidade da recuperação da área 1, bem como para a área 3 face ao processo de encerramento da área 2, salvaguardando-se sempre a possibilidade de interrupção da concessão em resultado de interferência nefasta sobre os recursos hídricos da região e no assegurar dos parâmetros minimamente aceitáveis para a qualidade de vida das populações da região.

Leiria, 21 de Junho de 2004

O Presidente da Direcção da Oikos

Referências

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