Ganoderma lucidum Novo alimento. José de Felippe Junior. N O M E N C L AT U R A Ganoderma lucidum (Curtis: Fr.) P. Karst.; Familia Ganodermataceae

Ganoderma lucidum – Novo alimento

José de Felippe Junior

N O M E N C L AT U R A

Ganoderma lucidum (Curtis: Fr.) P. Karst.; Familia

Ganodermataceae Classe

Basidiomiceto

Nomes comuns

Brasil: “Cogumelo Rei”, “Cogumelo brilhante” , “Cogumelo do Imperador” United States: Reishi mushroom (Herbs of Commerce),ganoderma. China: Ling zhi, ling zhi cao, ling chih, hong ling

zhi, chi zhi (Ganoderma lucidum); he ling zhi, zi zhi (Ganoderma japonicum) (Mandarin). Japan: Reishi, mannentake; rokkaku reishi Korea: Young ji.

Ganoderma lucidum

Source: Icons of Medicinal Fungi, Science Press, Beijing, China

Red Reishi

Fonte: BR BUSINESS

Introdução

O Ganoderma lucidum (do grego: ganos =‘brilho’; derma = ‘pele’) é um cogumelo Basidiomiceto utilizado oficialmente como suplemento alimentar nos Estados Unidos há 7 anos e empiricamente na China há mais de 2000 anos. A sua composição química é muito semelhante a outro Basidiomiceto o Agaricus blazei, onde se destaca pelo sabor mais pungente.

As sementes do Ganoderma lucidum foram trazidas da China para o Brasil sob a responsabilidade da EMBRAPA e o seu cultivo segue rigorosamente as normas de uma cartilha: “Cultivo de Cogumelos Comestíveis e Medicinais” redigida por especialistas também do EMBRAPA (Urbem AF et all– 1998 e 2004).

Da mesma forma que o Agaricus blazei o Ganoderma lucidum é um

Basidiomiceto comestível que não apresenta toxicidade ou efeitos colaterais aos seres humanos, são quase 2000 anos de uso seguro do G. lucidum na China e no Japão.

O Ganoderma lucidum (reishi em Japonês) é bem conhecido e utilizado como alimento na China, Japão e outros países asiáticos. É pobre em calorias e rico em aminoácidos essenciais, sais minerais, vitaminas e fibras.

Composição química

A composição química do Ganoderma lucidum varia em função da linhagem, das condições de cultivo e de fatores ambientais. Entre os diversos metabólitos de G. lucidum, os polissacarídeos e os triterpenos merecem lugar de destaque devido às importantes atividades farmacológicas que apresentam. Mais de 100 tipos de polissacarídeos e mais de 100 tipos de triterpenos já foram isolados de G. lucidum. Entretanto, existem várias outras substâncias de baixo peso molecular presentes no corpo de frutificação e no micélio, como proteínas, monossacarídeos livres, oligossacarídeos, aminoácidos, ácidos orgânicos, esteróides, lipídeos, cumarina e substâncias tânicas (Mizuno T -2004)

Os carboidratos de G. lucidum são constituídos principalmente por glicose e manose, juntamente com pequenas quantidades de outros açúcares, incluindo a fucose, N-acetilglucosamina, xilose e ramnose.

Os lipídeos incluem principalmente ácidos graxos insaturados (> 80%) e em menor quantidade ácidos graxos saturados, os quais estão localizados na membrana celular (GAO et al., 2000 apud RUBEL, 2006).

Os cogumelos apresentam alto conteúdo de fibras dietéticas, compostas principalmente por heteropolissacarídeos, em geral hemicelulose, pectinas e quitina.

Acredita-se que o alto conteúdo de fibras dietéticas presentes em G. lucidum também contribui para a sua atividade de diminuir a absorção de substâncias tóxicas (Mizuno T-, 2004).

Análise Geral

Água 6.9% - Proteína 26.4% - Gordura 4.5% - Fibra 0.1% Cinza 19.0% - Carboidrate 43.1% Matéria Inorganica: Cálcio 832 mg/100g,Fósforo 4,150 mg/100g,Ferro 82.6 mg/100g ,Magnésio 1,030 mg/100 g, Sódio 375 mg/100 g,Potássio 3,590 mg/100 g,

Vitaminas:Vitamina B1 3.49 mg/100 g,Vitamina B2 17.10 mg/100 g,Vitamina B6 0.71 mg/100 g,Colina 1,150 mg/100 g ,Niacina 61.9 mg/100 g,Inositol 307 mg/100 g,Polissacarídeo 11.4%. (Yang SZ. 1997)

Análise particular

São mais de 100 tipos diferentes de triterpenos (Shiao MS - 1988 e González AG -1999). Os mais abundantes são os ácidos ganodéricos (Kubota T -1982).

b- Polissacarídeos

Em todas as partes do cogumelo encontramos poliglucanos bioativos (polissacarídeos). Os principais são a beta 1-3 e a beta 1-6 poliglucose. (Lei LS – 1992 e Lin ZB – 1994). c- Aminoácidos (mol %)

Serina (15.2), alanina (14.8), glicina (12.7), treonina (12.4), Ácido aspártico (9.9), ácido glutamico (8.1), prolina (6.9), valina (5.3), e outros em menores quantidades .

d- Sais minerais - vitaminas

Os cogumelos possuem quantidades significativas de potássio, cálcio, fósforo, magnésio, ferro, zinco, sódio, niacina, tiamina, riboflavina, biotina, ácido ascórbico e pró-vitaminas A e D (ergosterol) e germânio (Chiang HC - 1991).

Conteúdo de minerais de G. lucidum ( CHIU et al., (2000) apud RUBEL, 2006) MINERAIS μg/g K 84.650 Ca 9.449 Mg 4.480 Na 1.612 Ge 489 Zn 257 Ga 246 Mn 179 Fe 115

Valores nutricionais do Ganoderma - Rubel R -2006):

• Leucina e Lisina – ausente na maioria dos cereais; • Ácidos graxos insaturados – 74% - 80%;

• Vitaminas solúveis: Tiamina (B1), Riboflavina (B2) e Biotina (B7); • Minerais como Potássio.

Utilização e usos

Este cogumelo é uma das espécies botânicas mais pesquisadas na Ásia. No Japão e China os estudos são conduzidos para avaliar a função dos triterpenos e polissacarídeos. Vários Congressos ao redor do planeta , incluindo o Brasil, versam sobre as qualidades do Ganoderma lucidum como suplemento alimentar (Wachtel-Galor S.- 2004). Ele é utilizado nos estados de convalescença, de excesso de trabalho e

nos pacientes com doenças debilitantes devido à alta concentração proteica e de sais minerais, ao lado da riqueza em vitaminas do complexo B (Wachtel-Galor S.- 2004).

Todos esses elementos fazem do Ganoderma lucidum um suplemento alimentar capaz de melhorar a função da musculatura esquelética e do sistema imunológico ( Yadomae T – 1998).

O alto teor de polissacarídeos do tipo glucanas proporcionam de modo

semelhante ao que ocorre com a aveia propriedades leves na diminuição do colesterol e da glicemia.

Quantidades geralmente empregadas

A Pharmacopoeia of the People’s Republic of China incluiu recentemente uma monografia do Ganoderma lucidum citando a dosagem de 6-12 g ao dia.

Pó:

6-12 g dia (Pharmacopoeia of the People’s Republic of China 2000). Decocção:

Aproximadamente 375 ml duas vezes ao dia Tintura (1:5):

10 ml 3 vezes ao dia (Huang 1993). Extrato com vinagre de arroz: 30 ml duas vezes (Liu and Bau 1994).

Comércio

Existem várias formas de Ganoderma disponíveis no comércio da China, Estados Unidos e Canadá

a. Wild Chinese reishi mushroom. b. Wild domestic reishi mushroom. c. Wild domestic reishi mushroom. d. Wild Chinese reishi mushroom. e. Cultivated Chinese reishi mushroom.

f. Cultivated Chinese duanwood reishi mushroom. g. Cultivated Chinese duanwood reishi mushroom. h. Cultivated Chinese duanwood reishi mushroom.

i. Cultivated Chinese duanwood reishi mushroom. Photographs Joanne Thompson, Santa Cruz, CA © 2000 American Herbal Pharmacopoeia™.

j. Cultivated Chinese reishi mushroom. k. Cultivated Chinese reishi mushroom. l. Cultivated Chinese reishi mushroom. m. Cultivated reishi mushroom (Texas). n. Cultivated Chinese reishi mushroom. o. Wild reishi mushroom.

p. Cultivated Chinese reishi mushroom. q. Cultivated domestic reishi mushroom. r. Cultivated domestic reishi mushroom.

s. Cultivated Chinese reishi mushroom antler form. t. Cultivated Chinese reishi mushroom antler form. u. Cultivated Chinese reishi mushroom antler form

v. Cultivated Chinese reishi (poor quality eaten by insects). w. Cultivated reishi mycelium culture

Perfil de Segurança e Toxicidade

1- O Ganoderma lucidum foi classificado na Materia Médica Shen Nong’s (Shen Nong Bem Cao Jing) publicada no segundo século antes de Cristo, como uma erva de alto valor nutritivo e isento de toxicidade (Yang SZ – 1997 – tradução da obra)

2- Na Pharmacopoeia of the People’s Republic of China (2000, vol 1), o G. lucidum após 30 anos de estudos farmacológicos está listado como não tóxico e com efeito modulador do sistema imunológico (Chang-1986 e Lin ZB – 2001))

3- Na American Herbal Pharmacopoeia and Therapeutic Compendium de abril de 2006 dos Estados Unidos da América, Autor: Roy Upton (Herbalista), o cogumelo Reishi (Ganoderma lucidum), está classificado como classe I : Ervas que podem ser consumidas com segurança quando usadas apropriadamente (McGuffin - 1997).

Efeitos colaterais

Não há descrição de efeitos colaterais na literatura médica. Ocasionalmente podemos ter leve transtorno digestivo, quase sempre relacionado à inadequada quantidade ingerida e erupções cutâneas de curta duração em pessoas muito

Contraindicações

Não há citações de contraindicação na literatura. Sendo o cogumelo em questão imunomodulador deve ser usado com extremo cuidado ou até evitado nos casos de transplantes de órgãos.

De acordo com textos clássicos da China o Ganoderma lucidum é uma erva superior (shang pin) e assim é não tóxica e não provoca efeitos deletérios mesmo quando ingerida em grandes quantidades por longo tempo na forma natural do cogumelo (Yang- 1997).

Interações

Pode potenciar os efeitos sedativos da reserpina e clorpromazina e antagonizar os efeitos estimulantes das anfetaminas. Outras interações menos frequentes e de pequena intensidade não ocorrem quando empregamos o Ganoderma como suplemento

alimentar, isto é, nas quantidades recomendadas.

Influência na direção de autos e máquinas

Superdosagem

Não há dados disponíveis

Mutagenicidade

O Ganoderma lucidum não provoca quebra das fitas do DNA (Kim KC - 1990).

Toxicologia

Grande variedade de preparações do cogumelo mostrou muito baixa toxicidade. Estudos toxicológicos do Ganoderma lucidum na Hunan Medical College, Hunan, China, revelou que a instilação intragástrica de extrato alcoólico a 1,2 e 12 g/Kg por 30 dias consecutivos não provocaram alteração no crescimento ou desenvolvimento de animais, nem tampouco alterações da função hepática, eletrocardiograma ou função dos principais órgãos. De modo semelhante não houve reações tóxicas em cães onde foi

administrado diariamente 12g/Kg de extrato alcoólico a frio por 15 dias ou 24g/Kg de extrato alcoólico a quente por 13 dias.

Soo em 1994 administrou oralmente extrato com água quente a camundongos na dose de 5000mg/Kg por 30 dias e não observou alterações de peso do animal ou dos seus órgãos e todos os parâmetros hematológicos permaneceram inalterados.

Chang e But em 1986 mostraram que o LD50 de injeção intraperitoneal em camundongos foi de 38,3+/- 1048 g/Kg.

Huang em 1993 mostrou que o LD50 do Ganoderma lucidum foi de 69,6 ml/Kg no camundongo e 4 ml/Kg nos coelhos. O preparado foi na forma de xarope e a

potencia não foi definida no estudo.

Status Internacional

Incluído na American Herbal Pharmacopoeia and Therapeutic Compendium de abril de 2006 como suplemento alimentar.

China

Incluído na Pharmacopoeia of the People’s Republic of China (2000) como suplemento alimentar. Aprovado no tratamento da tontura, insônia, palpitações, falta de ar, tosse e asma.

Referências bibliográficas

American Herbal Pharmacopoeia April - 2006 Editor: Roy Upton Herbalist Post Office Box 66809, Scotts Valley, CA 95067 USA. ISBN: 1-929425-10-4 ISSN: 1538-0297

Chang HM, But PH. 1986. Pharmacology and Applications of Chinese Materia Medica. Volume 1. Singapore: World Sci. 773 p

Chiang HC, Chen DH. 1991. Content of germanium in wild and germanium enriched Ganoderma lucidum. Int J Orient Med 16(4):213-5.

Ganoderma systematics, phytopathology and pharmacology. Proceedings of

contributed symposium 59A, B; 5th International Mycological Congress; 1994 Aug 14-21; Vancouver. p 105-13.

González AG, León F, Rivera A, Muñoz CM, Bermejo J. 1999. Lanostanoid triterpenes from Ganoderma lucidum. J Nat Prod 62(12):1700-1.

Kim KC, Kim IG. 1990. Ganoderma lucidum extract protects DNA from strand breakage caused by hydroxyl radical and UV irradiation. Int J Mol Med 4(3):273-7.

Kubota T, Asaka Y, Miura I, Mori H. 1982. Structures of ganoderic acids A and B, two new lanostane type bitter triterpenes from Ganoderma lucidum (Fr) Karst. Helvet Chim Acta 65(62):611-9.

Lei LS, Lin ZB. 1992. Effect of ganoderma polysaccharides on T cell subpopulations and production of interleukin-2 in mixed lymphocyte response. Yao Hsueh Hsueh Pao 27(5):331-5.

Liu B, Bau YS. 1994. Fungi Pharmacopoeia (Sinica). Oakland: Kinoko. 295 p.

Lin ZB, Lei LS. 1994. The immunomodulatory effects of ganoderma polysaccharides and its mechanisms. In: Proceedings of the international symposium on ganoderma research; 1994 Oct 24-26; Beijing. Beijing: Beijing Med Univ. p 37-8.

Lin ZB. Modern research on Ganoderma, 2nd ed, Beijing Medical University Press, Beijing, 2001.

Mizuno, T. Bioactive substances and medicinal effects of the Reishi. Disponível em : http://www.toi-reishi.com.

McGuffin M, Hobbs C, Upton R, Goldberg A. 1997. Botanical Safety Handbook. Boca Raton: CRC. 231 p.

Rubel, R. Produção de compostos bioativos do Ganoderma lucidum: avaliação da ação antitumoral, imunomoduladora e hipolipidêmica. 2006. 172 f. Tese (Doutorado em Processos Biotecnológicos). Curso de Pós-graduação em Processos Biotecnológicos, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.

Shiao MS, Lin LJ, Yeh SF. 1988. Triterpenes in Ganoderma lucidum. Phytochemistry 27(3):873-5.

Soo TS. 1994. The therapeutic value of Ganoderma lucidum. In: Buchanan PK, Hseu RS, Moncalvo JM, editors.

Tasaka K, Akagi M, Miyoshi K, Mio M, Makino T. 1988. Antiallergic constituents in the culture medium of Ganoderma lucidum I: the inhibitory effect of oleic acid on

histamine release. Agents Actions 24(3-4):153-6.

Urben, A F. , et-alli. Cultivo de Cogumelos Comestíveis e Medicinais. Brasília 1998 pp1-2. Urben, A. F. Produção de cogumelos por meio de tecnologia chinesa modificada. 2.ed. Brasília: Embrapa, 2004.

Wachtel-Galor S, Tomlinson B, Benzie IF. Ganoderma lucidum ("Lingzhi"), a Chinese medicinal mushroom: biomarker responses in a controlled human supplementation study.Br J Nutr. 2004 Feb;91(2):263-9.

Yadomae T, Kirigaya N, Miura NN, Ohno N, Sugawara N, Tokunaka K. 1998. Immunomuodulation by hot water and ethanol extracts of Ganoderma lucidum. Pharmaceut Pharmacol 8(4):174-77.

Yang SZ. 1997. The Divine Farmer’s Materia Medica. Boulder (CO): Blue Poppy. 198 p. Translation of: Shen Nong BenCao Jing.

Prof. Dr. José de Felippe Junior

Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo - USP

Liver-Docente em Medicina Intensiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UNIRIO

Fundador da Associação Brasileira de Medicina Intensiva e primeiro Secretário Geral Fundador da Associação Brasileira de Medicina Biomolecular e Nutrigenômica e seu atual Presidente

Ex- Diretor do Departamento de Fisiologia – Biquímica – Farmacologia da Faculdade de Medicina da Santa de Casa de São Paulo

Consultor em Medicina Biomolecular do Conselho Federal de Medicina nas Resoluções 1500/1998 e 1938/2010

Autor do livro Pronto Socorro – Fisiopatologia – Diagnóstico – Tratamento . Ed. Guanabara Koogam 2ª Edição 1998