Government Buildings, Dublin
Proposta de OE 2015
Proposta de OE 2015
A 15 de outubro, o Governo entregou à Assembleia da República a proposta 6de Lei do Orçamento do Estado para 2015 (OE 2015), aquele que será o primeiro orçamento sem a presença da Troika, e o último desta legislatura. De fora ficaram, para já, as esperadas medidas da reforma do IRS e da reforma da fiscalidade verde, uma vez que o Governo apenas finalizou as respetivas propostas de lei a 16 de outubro.
Atendendo ao atual cenário macroeconómico, é sem surpresa que se assiste à manutenção do estrangulamento fiscal dos últimos anos, sem medidas relevantes no que toca à redução da carga fiscal, medidas tipicamente expectáveis no fim de uma legislatura.
Neste contexto, o Governo assume não cumprir a meta de redução do défice para 2,5% do PIB, prevendo um défice de 2,7% do PIB, “face à
impossibilidade de atuar mais expressivamente do lado da despesa”.
Neste aspeto, há que destacar a manutenção da proposta de redução da taxa nominal de IRC para 21% em 2015, na senda da Reforma do IRC em 2014, com o propósito de impulsionar a competitividade do tecido empresarial português.
Do mesmo modo, é de salientar a eliminação da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) para as pensões até Euro 4 611 mensais. Para as pensões acima deste valor prevê-se a redução da CES, em 2015, em 10 p.p., estabelecendo-se a sua redução para metade e eliminação, em 2016 e 2017, respetivamente.
Por outro lado, e ainda que não seja proposta a redução da sobretaxa de IRS, que tanta tinta já fez correr, o Governo propõe a introdução de um crédito fiscal a apurar no final de 2015, encontrando-se dependente das receitas de IVA e de IRS daquele ano.
Este crédito fiscal, a existir, traduzir-se-á num reembolso total ou parcial aos contribuintes da sobretaxa de IRS paga durante 2015.
Propõe-se ainda a manutenção das outras medidas extraordinárias introduzidas por orçamentos anteriores que haviam sido qualificadas como temporárias. Assim, é proposta a prorrogação da contribuição extraordinária sobre o sector energético, bem como da contribuição para o sector bancário, ainda que, no que respeita a esta última, se preveja o agravamento das respetivas taxas.
Neste contexto é também proposto o agravamento da contribuição de serviço rodoviário, por um lado, e por outro, a manutenção em 2015 do adicional às taxas de imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos e do adicional ao IUC para os veículos a gasóleo.
Tiago Almeida Veloso
Tax Partner Baker Tilly Irene Abrantes Tax Manager Baker Tilly Lara Castro Tax Manager Baker Tilly
Transfer Pricing of The Year 2014 Top Tax Advisor 2014
No que respeita ao IVA, é de realçar a medida proposta de apoio aos pequenos produtores agrícolas (i.e. aqueles cujos rendimentos não excedam Euro 10 000) que permitirá o seu enquadramento num regime de isenção deste imposto e a aplicação de um regime forfetário de IVA sobre a venda de bens e a prestação de serviços realizadas, de acordo com uma taxa de compensação de 6%.
A presente proposta de Lei do OE 2015 prevê a alteração da Lei da Arte Cinematográfica e do Audiovisual, taxativamente sujeitando a Taxa de Exibição a IVA, colocando um ponto final na controvérsia que se gerou com a entrada em vigor desta lei.
No âmbito da litigância com a administração fiscal, é de enaltecer a proposta de possibilidade de dispensa de prestação e garantia bancária (em contexto de processos de execução fiscal de valor reduzido), sempre que o contribuinte efetue o pagamento da dívida em prestações.
São ainda propostas diversas autorizações legislativas, entre as quais se destacam a contribuição sobre a indústria farmacêutica, com o propósito de garantir a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde, incidente sobre o total de vendas de determinados medicamentos realizadas em cada mês, e, à semelhança de orçamentos anteriores, a criação de um imposto sobre as transações financeiras a uma taxa máxima de 0,3%.
Embora faltando ainda as medidas da reforma do IRS e da reforma da fiscalidade verde, é possível, desde já, concluir sobre a orientação genérica deste OE no lado da receita – a manutenção da elevada carga fiscal dos últimos anos, através da manutenção das diversas medidas extraordinárias que seria temporárias, incluindo introdução de novas medidas.
Salientem-se, contudo, três medidas de redução da carga fiscal: a redução da taxa nominal do IRC, a eliminação / redução da CES e a introdução de um crédito fiscal na sobretaxa do IRS.
Índice
1. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares 2. Código Contributivo
3. Contribuição Extraordinária de Solidariedade
4. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas 5. Imposto sobre o Valor Acrescentado
6. Imposto do Selo
7. Imposto Municipal sobre Imóveis 8. Imposto Único de Circulação 9. Benefício Fiscais
10. Outras Contribuições e Impostos 11. Procedimento e Processo Tributário 12. Autorizações Legislativas
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
Sobretaxa
É mantida a sobretaxa de IRS de 3,5%, sendo no entanto introduzida apossibilidade de dedução de um crédito fiscal à coleta da mesma, o qual se encontrará dependente da receita de IRS e IVA arrecadada em 2015.
Código Contributivo
Prazo de caducidade
Previsão de um prazo de caducidade da liquidação de contribuições equotizações de quatro anos.
Contribuição Extraordinária de Solidariedade
Alterações à CES
Deixam de estar sujeitas à contribuição extraordinária de solidariedade aspensões cujo valor mensal não exceda Euro 4 611,42.
Mantém-se a contribuição extraordinária de solidariedade para pensões com valor mensal superior a Euro 4 611,42, sofrendo uma redução em 10 p.p.
As taxas aplicáveis passam a ser as seguintes, consoante o valor mensal das pensões:
Entre Euro 4 611,42 e Euro 7 126,74: 15%
Parte que excede Euro 7 126,74: 40%.
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas
Taxa nominal
A taxa nominal de IRC é reduzida de 23% para 21%, conforme previstoImposto sobre o Valor Acrescentado
Regularização de créditos
incobráveis e de créditos
de cobrança duvidosa
O IVA associado aos créditos incobráveis passou a poder ser regularizado, nos processo de insolvência, após o trânsito em julgado da sentença de verificação e graduação de créditos prevista no Código de Insolvências e Recuperação de Empresas.
Passa ainda a não ser necessário o desreconhecimento contabilístico para efeitos da regularização do IVA nos créditos de cobrança duvidosa cujo vencimento ocorra a partir de 1 de janeiro de 2013 e que se encontrem em mora há mais de 24 meses.
Esclarece-se ainda que nos casos em que ocorra a transmissão da titularidade dos créditos de cobrança duvidosa ou dos créditos incobráveis após a recuperação do respetivo IVA, o cedente é obrigado a regularizar o imposto a favor do Estado. Nesta circunstância o adquirente poderá recuperar o IVA subjacente, mediante autorização prévia da Administração Tributária.
Caso seja recuperada a totalidade ou parte dos créditos, passa ser obrigatória a regularização do IVA (recuperado) a favor do Estado, independentemente de já ter decorrido o prazo de caducidade do direito à liquidação do IVA.
Regime dos pequenos
produtores agrícolas
É criado um regime forfetário de IVA para os produtores agrícolas que efetuem transmissões de produtos agrícolas e prestem serviços agrícolas, dentro de determinadas condições.
Taxa de Exibição
A Taxa de Exibição passa a estar expressamente incluída no valortributável, para efeitos de IVA, das prestações de serviços de publicidade comercial.
Sistema e-fatura
Prevê-se a obrigatoriedade de comunicação à Administração Tributária,por transmissão electrónica de dados, do inventário respeitante ao último dia do exercício anterior para aquelas entidades que estejam obrigadas à elaboração de inventários.
Encontram-se dispensados desta obrigação os sujeitos passivos com um volume de negócios, no exercício anterior, não superior a Euro 100 000.
Regime de bens em
circulação
Passa a especificar-se que a exclusão do transporte de bens do ativo fixo tangível do Regime de Bens em Circulação se aplica quando o transporte é realizado pelo remetente.
Imposto do Selo
Trespasses e
Esclarece-se que, nos trespasses de estabelecimento comercial,industrial ou agrícola, a obrigação de liquidação e entrega do Imposto do Selo incumbe ao trespassante, e ao subconcedente, respetivamente, nas
Subconcessões
subconcessões e trespasses de concessões feitos pelo Estado, pelas Regiões Autónomas ou pelas autarquias locais, para exploração de empresas ou de serviços de qualquer natureza, tenha ou não principiado a exploração.Nestas situações o encargo é suportado pelos adquirentes dos direitos.
Imposto Municipal sobre Imóveis
Prédios de reduzido valor
patrimonial de sujeitos
passivos de baixos
rendimentos
Prevê-se o aumento do limite máximo do rendimento bruto do agregado familiar de 2,2 para 2,3 vezes o valor anual do IAS, para efeitos da isenção de IMI aplicável a prédios ou partes de prédios urbanos de reduzido valor patrimonial de sujeitos passivos de baixos rendimentos destinados a habitação própria.
O limite do valor tributável global continua a não poder exceder 10 vezes o valor anual do IAS, passando, contudo, a respeitar à totalidade dos prédios urbanos e rústicos do agregado familiar ao invés do sujeito passivo.
Esta isenção é alargada passando a incluir partes de prédio, bem como arrumos, despensas e garagens utilizados como complemento da habitação.
Imposto Único de Circulação
Veículos a gasóleo
Mantém-se um adicional ao IUC para veículos a gasóleo.Benefício Fiscais
Mecenato Cultural
Autonomizou-se o regime relativo ao mecenato cultural, incluindo-se apossibilidade de conceder donativos sob a forma de cedência de recursos humanos.
Incentivos à aquisição de
empresas em situação
económica difícil
O regime de incentivos à aquisição de empresas em situação económica difícil instituído pelo Decreto-Lei n.º 14/98, de 28 de Janeiro passa a abranger os processos aprovados pelo IAPMEI, no âmbito do Sistema de Incentivos à Revitalização e Modernização do Tecido Empresarial.
Empréstimos externos
Mantem-se a isenção de IRS e IRC sobre os juros de capitais queprovenham do estrangeiro e que sejam representativos de contratos de empréstimo Schuldscheindarlehen celebrados pelo IGCP, desde que o credor seja um não residente sem estabelecimento estável em Portugal ao qual o empréstimo seja imputado, sob determinadas condições.
Valores mobiliários
representativos da dívida
emitida por entidades não
residentes
Propõe-se a prorrogação da isenção de IRS e IRC sobre os rendimentos dos valores mobiliários representativos da dívida pública e não pública, emitida por entidades não residentes, que se considerem obtidos em território nacional, quando pagos pelo Estado Português enquanto garante de obrigações assumidas por sociedades das quais é accionista em conjunto com outros Estados-Membros da União Europeia, sob determinadas condições
Operações de reporte com
instituições financeiras não
residentes
Prevê-se a prorrogação da isenção de IRC sobre os ganhos obtidos por instituições financeiras não residentes na realização de operações de reporte de valores mobiliários realizadas com instituições de crédito residentes.
Outras contribuições e Impostos
Contribuição sobre o sector
bancário
É prorrogado o regime da contribuição sobre o setor bancário. As taxas aplicáveis passam a ser entre 0,01% e 0,085% sobre o valor dos passivos apurados, deduzido dos fundos próprios de base (Tier 1) e complementares (Tier 2) e dos depósitos abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos.
Não ocorreram alterações quanto à taxa aplicável sobre o valor nocional dos instrumentos financeiros derivados fora de balanço.
Contribuição sobre os
serviços rodoviários
O valor da contribuição do serviço rodoviário passa a ser de Euro 87/1.000 l para a gasolina, Euro 111/1.000 l para o gasóleo rodoviário e Euro 123/1.000 kg para o GPL auto.
Imposto sobre o álcool e as
bebidas alcoólicas
Propõe-se o agravamento das taxas de imposto aplicáveis à cerveja, aos produtos intermédios e às bebidas espirituosas.
Imposto sobre o tabaco
A Proposta prevê o alargamento da base de incidência do imposto sobreo tabaco, passando a incluir nomeadamente o rapé, tabaco de mascar e os cigarros electrónicos.
Taxa do INEM
Passa a reverter a favor do INEM 2,5% (atualmente, 2%) dos prémios ou contribuições relativos a contratos de seguros, em caso de morte, do ramo «Vida» e respetivas coberturas complementares, e contratos de seguros dos ramos «Doença», «Acidentes», «Veículos terrestres» e «Responsabilidade civil de veículos terrestres a motor», celebrados por entidades sediadas ou residentes no continente.Adicional às taxas de
imposto sobre os produtos
petrolíferos e energéticos
Altera-se a taxa adicional na gasolina, gasóleo rodoviário e gasóleo colorido e marcado.
Contribuição para o
audiovisual
A proposta prevê a manutenção do valor da contribuição para o audiovisual em Euro 2,65 / mês.
Contribuição sobre o sector
energético
É prorrogado o regime da contribuição extraordinária sobre o setor energético.
Procedimento e Processo Tributário
Notificações eletrónicas
Citação em processo de execução fiscal por transmissão eletrónica de dados passa a qualificar como citação pessoal.São também aumentados os limites que determinam se a citação pode ser realizada por via postal simples ao invés de carta registada.
Dispensa de prestação de
garantia
Prevê-se a dispensa de prestação de garantia bancária para os pedidos de pagamento em prestações de dívidas em processo de execução fiscal de valor inferior a Euro 2 500 ou Euro 5 000, conforme se trate de pessoas singulares ou pessoas coletivas, respetivamente.
A Baker Tilly II Advisory, Lda. é uma firma membro da Baker Tilly International. A Baker Tilly International Limited é uma sociedade de direito inglês. A Baker Tilly International não presta serviços profissionais a clientes. Cada firma membro é uma entidade autónoma e independente, assumindo-se como tal. A Baker Tilly UK Group LLP, membro independente da Baker Tilly International no Reino Unido, é proprietária da marca Baker Tilly. Baker Tilly II Advisory, Lda. não actua como agente da Baker Tilly International e não tem poderes para vincular a Baker Tilly International ou actuar em nome da Baker Tilly International. A Baker Tilly International e a Baker Tilly II Advisory, Lda. ou qualquer outra firma membro não assumem qualquer responsabilidade pelos actos ou omissões das demais. Adicionalmente, nem a Baker Tilly International nem qualquer outra firma membro tem a capacidade de exercer o controlo de gestão de qualquer outra firma membro.
Autorizações Legislativas
Contribuição sobre a
indústria farmacêutica
Com vista à sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, o Governo ficou autorizado a aprovar um regime de contribuição sobre a indústria farmacêutica relativamente aos gastos com medicamentos, que não será dedutível para efeitos de IRC.
Esta contribuição:
Será devida por todas as entidades que procedam à primeira alienação onerosa de medicamentos de uso humano em território nacional;
Incidirá sobre o valor das vendas realizadas em cada mês, podendo as taxas variar entre 0,5% e 15%, dependendo do tipo de medicamento.
Imposto sobre transações
financeiras
O Governo fica autorizado, à semelhança do Orçamento do Estado de 2013 e 2014, a legislar sobre a tributação da generalidade de transações financeiras que tenham lugar no mercado secundário.
Sociedades de
Investimento em
Património Imobiliário
O Governo pode aprovar um regime que institua e regulamente a figura das Sociedades de Investimento em Património Imobiliário (SIPI), sociedades anónimas emitentes de ações admitidas à negociação, cujo objeto principal consista no investimento em ativos imobiliários para arrendamento.