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O TEMA GERADOR NAS ESCOLAS EM ALTERNÂNCIA E A PRÁTICA DE MINICURSO PARA CONTEXTUALIZAÇÃO DA REALIDADE

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Academic year: 2021

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O TEMA GERADOR NAS ESCOLAS EM ALTERNÂNCIA E A

PRÁTICA DE MINICURSO PARA CONTEXTUALIZAÇÃO DA

REALIDADE

Biágio Sartori Sampaio1 - SEDU Elisandra Brizolla de Oliveira2 - UFES/CEUNES José Aparecido da Silva Fernandes3 - UFES/CEUNES Geovane da Silva Paixão4 - UFES/CEUNES Grupo de Trabalho - Educação, Complexidade e Transdisciplinaridade

Resumo

Em um ensino contextualizado, o currículo escolar está comprometido com a perspectiva de significação dos conceitos diante da realidade vivenciada pelos educandos, relacionando o conhecimento científico ao meio sociocultural. A educação contextualizada é o principal elemento promotor de tomada de consciência da realidade, dos sujeitos, da sua inter-relação com o meio em vista da valorização da cultura e da transformação social. Neste contexto as escolas em alternância propõe uma estratégia pedagógica que alterna tempo e espaços formativos e utiliza os temas geradores inspirados na metodologia pedagógica de Paulo Freire que norteia todo o processo formativo com atividade que envolve as áreas do conhecimento e conteúdos vivenciais com enfoque no meio sócio comunitário. Objetivamos com este trabalho evidenciar a possibilidade de contextualização da realidade por meio da prática de minicurso, atendendo aos pontos de aprofundamento do Tema Gerador “o Homem e a Terra” em uma escola de Alternância. A prática do minicurso “Produção e uso de biofertilizantes orgânicos” foi aplicado em uma turma de 1º ano EMI, integrando as Áreas de Ciências da Natureza e Agropecuária, passando pelas fases de fundamentação teórica, práticas de produção e utilização. Verificou-se que, como benefícios para a prática escolar, o emprego de temas geradores possibilita um ensino mais significativo, a promoção da interdisciplinaridade, o desenvolvimento da autonomia e do senso crítico do dos educandos. A prática do Minicurso

1Mestre em Agricultura Tropical pela UFES/CEUNES. Especialista em Fertilidade do solo e nutrição de plantas

no agronegócio pela Universidade Federal de Lavras. Graduado Licenciatura em Ciências Plenas /Biologia pela UNIJUÍ, Técnico em Agropecuária pela EFAV/MEPES, professor de Biologia do Ensino Médio Integrado curso de Agropecuária da Rede Estadual do ES. E-mail: biagiosartori@hotmail.com.

2 Mestranda em Ensino na Educação Básica pela UFES/CEUNES. Especialista em Tecnologias em Educação

pela PUC-Rio e Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Florestais pela Universidade Federal de Lavras. Graduada em Ciências Biológicas pela UNIJUÍ. Professora de Biologia na Educação Básica da Rede Estadual de Ensino do Espírito Santo (SEDU). E-mail: ebbrizolla@gmail.com.

3 Mestrando em Ensino na Educação Básica pela UFES/CEUNES, Especialista em Matemática e estatística,

Graduado em Licenciatura Matemática/UNIJUÍ. Professor da Rede Estadual de Ensino do ES. E-mail: zecamat@gmail.com

4 Especialista em Educação Ambiental pela Faculdade de Nanuque (FANAN). Professor da Educação Básica. E

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favoreceu o despertar para práticas agroecológicas em vista da sustentabilidade e de uma formação comprometida com a transformação da realidade.

Palavras-chave: Tema Gerador. Interdisciplinaridade. Minicurso. Introdução

Um dos propósitos da educação é contribuir com os sujeitos para exercício da cidadania, ou seja, preparar os jovens educandos para interferir de forma positiva na sua realidade social, sendo assim a escola tem importante papel na formação, que conforme Costa e Pinheiro (2013) vão além da “reflexão sobre a docência de conteúdos específicos elencados no currículo”, mas sim uma formação integral em que as “competências e habilidades técnicas, e atitudes, possibilitem despertar nos estudantes um olhar mais crítico sobre os fenômenos que cercam seu contexto...” (COSTA; PINHEIRO, 2013, p.39).

De acordo com as Normativas Educacionais Brasileiras, o ensino deve oportunizar aos jovens uma formação capaz de prepará-los para a vida, o que significa, entre outras atribuições, ir além de interpretar ou reproduzir dados, é necessário ser capaz de refletir e posicionar-se criticamente diante de fatos da realidade participando socialmente das decisões. A contextualização da realidade permite aos educandos processar informações que aproximem da sua própria realidade, entretanto, isso só é possível quando o estudante consegue dar significado para os conhecimentos assimilados. Sendo assim, não é possível promover uma formação integral e contextualizada por meio de práticas de ensino engessadas e pautadas na memorização de conceitos científicos que não fazem parte do cotidiano dos estudantes.

No entanto a formação integral torna-se um desafio não só para a Pedagogia da Alternância, como também para as políticas educacionais voltadas para a educação do campo, que possibilite a relação entre a teoria com o conhecimento que realmente transforma, ou como nos fala Arroyo (1994),

[...] Temos como objetivo o desenvolvimento integral dos alunos numa realidade plural, é necessário que passemos a considerar as questões e problemas enfrentados pelos homens e mulheres de nosso tempo como objeto de conhecimento. O aprendizado e vivencia das diversidades de raça, gênero, classe, a relação com o meio ambiente, a vivência equilibrada da afetividade e sexualidade, o respeito à diversidade cultural, entre outros, são temas cruciais com que, hoje, todos nós deparamos e, como tal, não podem ser desconsiderados pela escola (ARROYO, 1994, p.31).

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Na perspectiva da educação, transformadora e emancipatória, defendida Freire (1987), o currículo escolar não deve seguir as orientações e a forma como a pedagogia tradicional trata os conteúdos de ensino, onde cabe ao professor à transmissão do conhecimento, e aos educandos apenas receber, sem que haja uma relação com seu meio, pois sugere “uma dicotomia inexistente homem-mundo... homem simplesmente no mundo e não com o mundo e com ou outros” (Ibid.1987, p.62).

A Pedagogia da alternância consiste numa metodologia pedagógica de organização do ensino escolar onde ocorre a alternância de tempo e espaço em uma dinâmica de ação e reflexão. De acordo com Nosella (1997) e Gimonet (1999), esta metodologia, possibilita a articulação entre os momentos de atividade escolar (espaço da sessão) e o meio sócio profissional (espaço da estadia), que possibilita ao educando uma postura dialética diante da realidade, de acordo com a figura 1.

Figura 1. Dinâmica do funcionamento da Pedagogia da Alternância

Fonte: RACEFFAES - (Regional das Associações dos Centros Familiares de Formação em Alternância)

Na pedagogia da Alternância a educação escolar é um processo contínuo de reflexão e ação, pois esse movimento de aprendizagens nos diferentes espaços e tempos acontece a partir da ativação dos diversos instrumentos que dinamizam essa relação, dentre eles o minicurso, conforme figura 2, evitando a dicotomia entre escola e o seu meio sócio/familiar/comunitário, na qual o papel dos educadores no gerenciamento metodológico desse processo é muito importante.

Os instrumentos pedagógicos vivenciais na Pedagogia da Alternância tem o propósito de ligar o currículo à realidade e estão apresentados na Figura 2.

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Figura 2. Dinâmica da formação em alternância por meio dos instrumentos pedagógicos

Fonte – RACEFFAES

O sistema da Alternância auxilia o educando a estudar a realidade vivenciada (concreta) e refletida à luz da ciência (sessão), ou seja, refletir as ações de sua conduta na vida de grupo e estimula o estudante a refletir e, dessa forma, criar consciência, repensando suas ações em vista de uma nova postura crítica sobre a sua vida e realidade. Nesta perspectiva o Tema Gerador proporciona a integração e contextualização, pois, os temas dessas atividades são definidos considerando a relação entre o Tema Gerador, o aprofundamento científico dos conteúdos e a utilidade concreta das tecnologias para o meio familiar e comunitário.

Freire (1987, p. 93 -124) incorporou as “palavras geradoras” como metodologia, atribuindo-lhe o papel de “tema gerador”. Podemos inferir que na perspectiva Freiriana, que o tema gerador é o tema ponto de partida para o processo de construção da descoberta, em especial por emergir das necessidades e anseios de uma comunidade. Os Temas a serem trabalhados no contexto escolar devem ser extraídos da prática de vida dos educandos. Vale ressaltar que para o autor, os temas geradores só são geradores de ação-reflexão-ação se forem carregados de conteúdos sociais e políticos com significado concreto para a vida dos educandos e não escolhidos ao acaso.

Temas Geradores são situações que emergem do diagnóstico, ou seja, situações de interesse e motivação das pessoas e da realidade de abrangência da escola. Essas situações entram no programa da escola e são ordenadas de acordo com os anos e ciclos, em forma de

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temas de Planos de Estudo, que desencadeiam o processo de formação dos estudantes que incluem várias atividades pedagógicas dentre elas os minicursos com enfoque em temas com maior possibilidade de contextualização com a realidade.

Os programas não se constituem elementos da complexidade por eles próprios, mas por sua origem e intencionalidade. Dessa maneira, eles sempre representam uma forma de atingir a um objetivo, que, por sua vez, diz respeito às peculiaridades/particularidades da vida das pessoas daquele lugar. “Constata-se, então, que o problema essencial é aproximar a escola das necessidades da economia e da vida Camponesas” (PISTRAK, 2002, p. 70).

Desenvolvimento

A prática do minicurso foi desenvolvida em consonância com os conteúdos programáticos para a turma do 1º ano do EMI Habilitação em Agropecuária em consonância com o Tema Gerador o Homem e a Terra, de uma escola da Rede Estadual de Ensino, em Nestor Gomes município de São Mateus/ES, que adota a Pedagogia da Alternância e tem o seu currículo organizado por áreas do conhecimento.

Primeiramente os estudantes desenvolveram uma pesquisa nas comunidades de abrangência da escola, por meio de um Plano de Estudo (instrumento pedagógico para levantamento da realidade), com o tema “Uso e aproveitamento do solo na Região”. Após a socialização da pesquisa forma sistematizados temas para aprofundamento, sendo um dos temas levantados pelos estudantes foram as técnicas agroecológicas na nutrição das culturas.

Na perspectiva de estudar o tema proposto foi organizado o Minicurso “Produção e uso de fertilizantes orgânicos”, que buscou a interdisciplinaridade entre as áreas de Ciências da Natureza e Agropecuária. As áreas envolvidas no Minicurso fizeram o planejamento da atividade conforme as etapas a seguir:

Fundamentação teórica do tema: Os professores apresentaram elementos motivadores em relação ao tema, por meio de indagações forma levantando o conhecimento prévio dos estudantes e com base nestas informações foram desenvolvidos os conceitos.

Auto-organização da turma para o desenvolvimento das práticas: A turma foi dividida aleatoriamente em grupos heterogêneos, na qual receberam material de referencia e orientação dos educadores para se organizar e desenvolver, posteriormente, uma prática relacionada ao tema, por exemplo, compostagem, produção de biofertilizantes, dentre outros.

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Cada grupo em forma de seminário apresentou os procedimentos para a produção e aplicação de um tipo de fertilizante orgânico.

Durante todo o processo os professores fizeram intervenções quando necessário, em vista de contextualizar o tema tanto na fundamentação teórica quanto na aplicabilidade das técnicas apresentadas.

Ao final da atividade cada grupo pode avaliar a contribuição desta prática no estudo do tema gerador, na formação técnica, e a aprendizagem com significados.

Considerações finais

Podemos inferir que o trabalho que se fundamenta no tema Gerador a prática do Minicurso se configura como ação inovadora diante da realidade, pois contextualiza os conceitos científicos a uma realidade concreta, acarretando em benefícios para a formação no que tange a consciência critica emancipatória, como defendida por Freire (1987), além de possibilitar a integração das áreas do conhecimento, proporcionando uma visão ampla dos fenômenos estudados.

Os estudantes demostraram motivação e protagonismo em todas as etapas desta prática, por meio da participação ativa desde a elaboração até a aplicação da atividade ( Figuras 1, 2 e 3 ), confirmados por meio de relato de experiências, intervenções e no trabalho de extensão rural feito pelos estudantes no retorno para o espaço familiar e comunitário.

Verificou-se que, como benefícios para a prática escolar, o emprego de temas geradores possibilita um ensino mais significativo, a promoção da interdisciplinaridade, o desenvolvimento da autonomia e do senso crítico do dos educandos. A prática do Minicurso favoreceu o despertar para práticas agroecológicas em vista da sustentabilidade e de uma formação comprometida com a transformação da realidade.

Evidenciamos que a utilização de aulas práticas experimentais (como é o caso do minicurso) se configura como instrumento pedagógico importante para a construção do conhecimento científico, consequentemente para a contextualização da realidade no ensino de Ciências. Podemos inferir que o Tema Gerador viabiliza a proposta trabalho contextualizado, pois as temáticas são condizente com a realidade e com as preocupações locais, o que torna o ensino mais produtivo.

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Fonte: Os autores

Figura 2 e 3,– Produção de fertilizantes orgânicos pelos estudantes.

Fonte: Os autores

Conclusão

Ao refletir sobre nossa prática como educadores, considerando as sugestões e a metodologia pedagógica sugerida pelo educador Paulo Freire, torna-se possível evidenciar a formação pretendida, não somente pelos conteúdos como também pela forma que serão ensinados, na promoção de uma educação transformadora e emancipatória, assim como as concepções quanto ao ensino que vise promover a leitura crítica da realidade, como também interpretar as atitudes nas práticas educativas.

Podemos inferir que o trabalho com a metodologia de temas geradores, estimula a autoestima nos estudante (provoca o reconhecimento social, pois ele passa a ser conhecido na família e na comunidade). Além disso, instiga o compromisso com o meio social, colocando-o a se manifestar frente à realidade, desenvolvendo também, a sua expressão oral através do exercício da comunicação e da aquisição do método.

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Na esfera da agroecologia a metodologia de tema gerador, estimula os futuros profissionais a ter o domínio de um referencial técnico-científico e conceitual abrangente, que lhe motive e comprometa com a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável, no âmbito da agricultura familiar.

Inferimos também que todo o movimento realizado pela escola, tanto por meio do seu currículo como pelo currículo oculto, na perspectiva de materializar uma prática por meio de tema gerador, deve proporcionar uma formação afirmativa, onde os educandos possam ser sujeitos, refletindo sobre a realidade, sendo capaz de intervir. Quanto ao trabalho docente, entendemos a necessidade do professor desenvolver, por um lado, uma atitude interdisciplinar que retrate uma metodologia dialógica, e, por outro, uma clareza que a ação pedagógica, por meio de tema gerador, necessariamente requer um conhecimento prévio da realidade, onde a escolha do tema para efetivação do currículo deve acontecer de forma dialética, contínua e dinâmica.

Portanto, evidenciamos que utilização da prática do minicurso, Produção e utilização de fertilizantes orgânicos, como ponto de partida, para desenvolver a compreensão de conceitos, permitiu aos estudantes serem protagonistas do processo de aprendizagem, sair de uma postura passiva, receptor de conceitos, para vivenciar a teoria por meio da prática, relacionando os conceitos científicos e seus significados em situações emergentes de seu contexto social.

REFERÊNCIAS

ARROYO, M. Escola plural. Proposta pedagógica Rede Municipal de Educação de Belo

Horizonte. Belo Horizonte: SMED, 1994.

COSTA, J. M.; PINHEIRO, N. A. M. O ensino por meio de temas-geradores: a educação pensada de forma contextualizada, problematizada e interdisciplinar. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 37-44, 2013

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e terra, 42 ed. [1987] 2005 GIMONET, J-C. Nascimento e desenvolvimento de um movimento educativo: as Casas Familiares Rurais de Educação e de Orientação. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA, 1. 1999, Salvador. Anais. Salvador: União Nacional das Escolas Família Agrícola do Brasil, 1999, p. 39-48.

NOSELLA, P. Origens da pedagogia da alternância - união nacional das escolas famílias agrícolas do Brasil (UNEFAB) – PUC- São Paulo- São Carlos/SP, abril de 2007.

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PISTRAK. M.M. Fundamentos da Escola do Trabalho. São Paulo, SP: Expressão Popular, 2ª Edição, 2002

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