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Tel Fax Web: Volume 3, Número 1 Janeiro/Abril 2005

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BOLETIM BI-MESTRAL DO CENTRO TERRA VIVA

Distribuição Electrónica Gratuita desde Fevereiro 2003

Tel. 303267 Fax 303724

Email: ctv@tvcabo.co.mz Web: www.ctv.org.mz

Volume 3, Número 1

Janeiro/Abril 2005

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Caro leitor,

Caros amigos, temos o prazer de vos apresentar a primeira edição do “Justiça Ambiental” referente ao ano de 2005. Um ano que, quanto a nós, reveste-se de importância extraordinária no contexto nacional e internacional.

No contexto internacional, inicia a considerada “Década de Ambições Ousadas”. A Organização das Nações Unidas decidiu adoptar, para os próximos 10 anos, o Plano de Desenvolvimento do Milénio, cuja meta é diminuir largamente, e até eliminar, até 2015, a fome, o analfabetismo, as doenças, as guerras e outros males que impedem o desenvolvimento dos povos, particularmente em África, onde os índices de pobreza são assustadores.

No plano nacional, o país entra para 2005 com um olhar de esperança mais fortalecido. O novo governo saído das eleições gerais de Dezembro de 2004, parece apostado em transformar o discurso da campanha eleitoral (combate à pobreza, corrupção, burocratismo e todas as formas que impedem o desenvolvimento social) em actos, o que significa estarem criadas as condições para que os planos e programas de desenvolvimento, atinjam as metas preconizadas. Contudo, e mesmo que o actual cenário não seja “força de soda”, o sucesso destes planos, dependerá do envolvimento de cada cidadão através do amplo exercício dos seus direitos e deveres, consagrados na lei. Isto significa passar a governação participativa de intenção à acção.

Para o caso de África, e Moçambique em particular, o “Plano de Desenvolvimento do Milénio”, constitui um reforço aos programas de combate à pobreza já existentes como é o caso da NEPAD - Nova Parceria para o Desenvolvimento de África, do PARPA - Plano para a Redução da Pobreza Absoluta, da Agenda 20-25 entre outros, cujas estratégias e metas são ainda “assunto do governo”, ou seja, desconhecidos pelo povo para o qual supostamente vêem servir. Numa altura em que as questões ambientais já não podem ser dissociadas do processo de desenvolvimento, daí que o “Plano de Desenvolvimento do Milénio” priorize a garantia de sustentabilidade ambiental (objectivo 7), havendo já países com estratégias e metas concretas a atingir nos próximos 10 anos, questiona-se qual é a estratégia ambiental dos programas continentais e nacionais como a NEPAD, o PARPA, a Agenda 20/25, e já agora o Plano Quinquenal do Governo 2004/2009. É que a existirem essas estratégias, constituem ainda “segredo do governo (?)”, havendo necessidade de serem conhecidas, para que passem a ser preocupação de cada cidadão, de modo que este contribua para o seu sucesso.

Nesta sequência, trazemos em “Artigo de Fundo” um resumo da estratégia ambiental da NEPAD. É um resumo por nós preparado, que resulta do debate recentemente organizado pelo CTV subordinado ao tema:

Estratégias de Conservação Ambiental nos Programas de Desenvolvimento e Alívio à Pobreza em Moçambique: Nova Parceria para o Desenvolvimento de

África (NEPAD), Plano de Acção Para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA) e Metas de Desenvolvimento do Milénio (MDM) em que um dos oradores foi o Prof. Dr. Firmino Mucavel, assessor do Presidente da República para a NEPAD.

O jornal “ Domingo” reportou recentemente, que a governadora da província de Maputo, Telmina Pereira, vai mandar demolir uma estância turística ilegal (construída sem a observância de aspectos legais de ocupação de terras e implantação de infra-estruturas turísticas), na Ponta de Ouro. É um acto de coragem ímpar, mas ao mesmo tempo lamentável! Lamentável, porque segundo o mesmo artigo, citando alguns integrantes da comitiva da governadora, com altas responsabilidades ao nível da província, as obras da referida estância iniciaram em 2001! O governo provincial de Maputo e distrital de Matutuíne, acompanharam todo o processo, deixaram que o investidor erguesse as obras aparecendo, hoje, como desautorizados. “Espírito de deixa andar”? Corrupção? Ou haverá outra explicação ?! E qual é a responsabilidade do Estado em casos de ilegalidades cometidos por debaixo do seu nariz sem que este se mexa?

O caso da Ponta de Ouro (estâncias turísticas ilegais), é um dos inúmeros casos que caracterizam a costa moçambicana, com destaque para Inhambane e Gaza. Para o caso de Inhambane, o CTV produziu, no passado, um relatório, cujas constatações e recomendações são do conhecimento do anterior governador, Aires Ali, não havendo conhecimento ainda de alguma acção tomada. Quanto à província de Gaza (Bilene), o CTV dispôs-se a apoiar o governo de Gaza, tendo para o efeito endereçado uma carta ao antigo governador, e agora vice ministro de turismo Rosário Mualéia. Contudo, nunca houve resposta. Na verdade, e dada a imensidão de desmandos que se permitiu que acontecessem em todo o país, a nossa pergunta é: vamos demolir o país todo?

Frederico Dava, Editor

NESTA EDIÇÃO: Artigo de Fundo.

A estratégia ambiental da NEPAD reside no desenvolvimento

humano...1

Artigos de Opinião. Licenciamento de empreendimentos turísticos no PNAB...3

Lista de espécies marinhas protegidas em Moçambique: necessidade de revisão, ou nem por isso?!...4

Testemunho Ocular. Erosão costeira em Maputo ...8

Destaque CTV. ...8

Correspondência. ...9

CTV MUDA-SE PARA NOVAS INSTALAÇÕES! O CTV funciona em novas instalações, desde o passado dia 1

de Maio. O novo endereço é : Rua

D, no 27,Bairro da Coop. Telefone 416131; Fax

416134.

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A ESTRATÉGIA AMBIENTAL DA NEPAD RESIDE

NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Nos últimos anos, Moçambique tem aderido ou adoptado programas de desenvolvimento, quer de escala mundial, continental e nacional. São os casos das Metas de Desenvolvimento do Milénio (MDM), Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), Plano para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA), Agenda 20/25, entre outros. Contudo, grande parte destes programas não tem uma estratégia ambiental conhecida ou pelo menos divulgada nos mesmos moldes que os aspectos económicos, o que esvazia o seu objectivo, a promoção do Desenvolvimento Sustentável.

Por esta razão, o CTV promoveu recentemente um debate subordinado ao tema “Estratégias de

Conservação Ambiental nos Programas de Desenvolvimento e Alívio à Pobreza em Moçambique:

Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), Plano de Acção Para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA) e Metas de Desenvolvimento do Milénio (MDM), cujo objectivo era analisar e avaliar as experiências, limitações e possíveis soluções dos processos de implementação destes importantes programas de alívio à pobreza e de desenvolvimento sustentável a nível nacional.

Para a presente edição, decidimos trazer um resumo da apresentação do Prof. Dr. Firmino Mucavel, Assessor do Presidente da República para a NEPAD. Firmino Mucavel diz que o “ambiente“ sempre constituiu preocupação da NEPAD, embora não tivesse espaço próprio. “O ambiente não aparecia, mas decidimos mesmo colocar ambiente como

ambiente por que no passado tínhamos o ambiente incluído

nas infra-estruturas, mas politicamente e também operacionalmente não era possível alocar fundos e financiamentos. E ao colocar como uma prioridade única, conseguimos criar um secretariado do ambiente. Já temos um programa e há já encontros regulares e uma direcção específica dentro do ambiente.

Firmino Mucavel resume a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África, como um programa de crescimento económico e social elaborado pelos governos do continente, cujo objectivo fundamental é promover o Desenvolvimento Sustentável da África nas suas dimensões completas ao nível económico, social e institucional e também ao nível político.

Visa conferir uma dinâmica ao desenvolvimento de África ou seja, o contínuo crescimento tanto económico como institucional, criando condições para a boa governação política, económica e corporativa e garantir a gestão económica centrada nas pessoas.

A NEPAD visa ainda erradicar a pobreza absoluta e colocar os países africanos colectiva ou individualmente na via do crescimento e desenvolvimento sustentável. Contudo, sublinha e citamos: “sempre que nós falamos de desenvolvimento sustentável, colocamos em primeiro lugar, o desenvolvimento humano, em segundo lugar o desenvolvimento de utilização de recursos naturais, um crescimento na utilização de recursos sem prejuízo da maior parte dos recursos, seja a terra, água, subsolo, etc, que temos; também contamos com o desenvolvimento social, institucional e político”.

Firmino Mucavel considera que o desenvolvimento humano é a condição para o melhoramento do ambiente, sendo que o desenvolvimento humano é a prioridade da NEPAD. ”O Homem faz parte desse ambiente e como tal as suas condições de vida e de bem-estar deverão ser

melhoradas. Apostar no desenvolvimento humano é apostar no desenvolvimento integrado, desenvolvimento social, económico, institucional, político e essa é a filosofia da NEPAD”.

A estratégia ambiental da NEPAD significa uma série de procedimentos, de instrumentos e de mecanismos que os países poderão utilizar, para de uma forma acelerada melhorar as condições do ambiente e providenciar ao ser humano, os recursos disponíveis para melhorar o seu bem estar e reduzir a pobreza absoluta. Seja qual for a área em discussão, é tomado em conta qual é a contribuição dessa área para o desenvolvimento rural e nesse desenvolvimento rural qual é o crescimento humano, pois tem muitas componentes como: educação, saúde, habitação, água, uma série de componentes que podem ser medidos para ver qual é o desenvolvimento humano e de uma forma geral o desenvolvimento global.

Por essa razão, diz Mucavel, as prioridades da NEPAD são a mobilização de recursos humanos em primeiro lugar, em segundo lugar recursos naturais, em terceiro, recursos institucionais e em último lugar, os recursos financeiros. “Desta forma apresenta-se a NEPAD porque muitas vezes não são os recursos financeiros que são o problema, mas sim os recursos institucionais, a falta de procedimentos, a falta de leis harmonizadas, políticas que possam ser sincronizadas e harmonizadas para que os países possam ter um desenvolvimento integrado, um desenvolvimento sustentável.

Firmino Mucavel diz que a NEPAD é um sucesso em Moçambique e muitas organizações têm beneficiado dos fundos do programa. O segredo, é o sector privado, o Estado e a sociedade civil serem parte integrante no processo de estabelecimento das parcerias.

“Há momentos discutimos a gestão de terras e de águas na agricultura; há já medidas concretas e com sorte tivemos cerca de 450 milhões de dólares só para essa área. Agora como é que vai ser utilizado isso? Depende da parceria entre o Estado, o Sector Privado e a Sociedade Civil, nas diversas acções que estão a ser descritas”, sublinha.

Acrescenta que a NEPAD examina sistematicamente a questão dos ecossistemas, biodiversidade e fauna bravia, sendo fácil a obtenção de financiamento nestas áreas, desde que sejam programas integrados que não somente melhorem o ambiente mas também contribuam para o desenvolvimento humano, para o aumento da produtividade em áreas como agricultura especialmente e que contribuam para um resultado global que é a redução da pobreza absoluta.

São questões que resultam de recomendações das cimeiras e outros encontros, mas também baseados em convenções. Quanto aos desafios da NEPAD em Moçambique, Firmino Mucavel diz consistirem em assegurar o acesso sustentável ao fornecimento de água potável. “Se nós conseguirmos aumentar o fornecimento da água potável em apenas 25% e reduzirmos em 50% a maior parte das doenças que existem em Moçambique, seja ela a malária, cólera, tuberculose, podemos reduzir o impacto da pobreza. A NEPAD é por um “plano marchal” que possa assegurar o acesso à agua potável e diminuir a incisão das doenças.

Sublinha ser necessária a planificação e gestão das fontes de água para transformá-las em base para cooperação e desenvolvimento nacional e regional. “É por

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isso que recomendamos em 2003 ao Estado moçambicano, nós como NEPAD, uma série de acções de concertação com a África do Sul, Malawi, Zimbabwe, e agora estamos em negociações com Tanzania para uma série de acordos sobre a utilização das águas.

Cooperar na questão das bacias pluviais partilhadas entre Estados membros é também uma função nossa, assim como assegurar a irrigação na agricultura. E aqui é onde tivemos sucessos logo no início do ano. Tivemos sucessos porque temos meios para isso, para melhorar a produção e produtividade agrária e a segurança alimentar”.

Mucavel diz ser esta a filosofia da NEPAD para a área ambiental e a sua inclusão baseia-se principalmente em promover uma acção integrada com outras áreas.

“Quando alguém diz: olha, não faça a barragem aí, a gente pergunta: porquê, como é que se deve fazer para aumentar a produtividade e produção na agricultura? o que é que devemos fazer para dar água às pessoas? Quer dizer, não se pode dizer não a uma coisa e não apresentar alternativas de solução! Qualquer alternativa que a gente vai tomar vai ter vantagens e desvantagens. Compete aos especialistas apresentar a vantagem comparativa para podermos avançar; essa é a filosofia”.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL MOÇAMBICANA

”1. É proibida a implantação de infra-estruturas habitacionais ou para outro fim que, pela sua dimensão, natureza ou localização, provoquem um impacto negativo significativo sobre o meio ambiente, o mesmo se aplicando sobre à disposição de lixos ou materiais usados.

2. A proibição inserida no número anterior aplica-se especialmente à zona costeira, às zonas ameaçadas de erosão ou desrtificação, às zonas húmidas, às áreas de potecção ambiental e as zonas ecologicamente sensíveis.”

Artigo 14, Lei do Ambiente, 20/97 de 1 de Outubro

A outra questão é a promoção de agro-indústrias no campo favoráveis ao ambiente, e transformação dos resíduos da agro-indústria em produtos utilizáveis, recicláveis no processo. Temos de conseguir algumas actividades produtivas associadas ao ambiente que sejam lucrativas ou transformadas em dinheiro. O corte da madeira, a caça, tudo isso tem que ser convertido em meios, em dinheiro capaz de aumentar a produtividade dessas áreas, o melhoramento dos recursos naturais que estão lá, para o consumo e melhoramento do bem estar das pessoas.

A NEPAD é pela priorização dos recursos humanos. “Quando alguém me entrega um projecto procuro ver como é que esse projecto integra outras áreas e quando isso não está devidamente tratado eu convido a pessoa, sentamos e questiono: este projecto do ambiente como trata os recursos humanos? Quem são as pessoas beneficiárias? Quem vai perder benefícios e como é que se resolve esse problema? Nesta acção que vocês estão a fazer, quais são as outras acções de desenvolvimento económico e humano a que estão ligadas?”

Desta forma resume, Firmino Mucavel, a NEPAD “ambiental”.

Nas próximas edições iremos trazer a estratégia ambiental dos outros programas de desenvolvimento e alívio à pobreza.

Adaptado por Frederico Dava

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Licenciamento de Empreendimentos Turísticos no PNAB

O arquipélago do Bazaruto é formado por 5 ilhas: Bazaruto, Benguérua, Magaruque, Santa Carolina e Bangué, que possui uma elevada beleza paisagística e biodiversidade. Dados estes atributos e a necessidade de se proteger a vida selvagem marinha como os dugongos, golfinhos e tartarugas marinhas, 3 ilhas (Benguérua, Magaruque e Bangué) foram proclamadas como Parque Nacional em 1971. No ano de 2001, as 5 ilhas foram proclamados como Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto (PNAB). O arquipélago tem sido um importante foco de atracção turística desde os anos 50. Até finais dos anos 90 cerca de 6 empreendimentos turísticos funcionavam ou estavam licenciados.

Apesar de ser considerada área de conservação desde 1971, actividades de conservação só tiveram o seu inicio propriamente dito nos finais dos anos 80. Em 1990, é proposto um primeiro plano de maneio, entretanto não aprovado; neste momento está em vigor o plano de maneio 2002-2006 aprovado pelo Ministério do Turismo. Este plano de maneio, estipula que novos empreendimentos turísticos não deverão ser construídos no arquipélago (citando a Política Nacional do Turismo de 1995), e que somente serão autorizadas eventuais extensões dos empreendimentos já existentes.

Imagine-se então o espanto, quando começaram a circular, em finais de 2004, notícias de que condomínios, formados por casas de luxo para serem vendidas a privados, seriam construídos no Bazaruto!?!?! Casa privada no Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto? Ainda por cima para estrangeiros? Bom, deve ser mais uma piada de mau gosto.

Pelos vistos não era. Na edição de Fevereiro da revista

TVzine, o director de operações do Grupo Rani em

Moçambique, Rui Monteiro declarou “...temos neste momento uma autorização para construir um condomínio fechado de 28 moradias que serão colocadas à venda”!!!!!

Olhando para a dita “autorização” passada pelo MICOA e assinada pelo então Vice-Ministro Engo Francisco

Mabjaia, pode-se constatar que o documento em referência constitui, na verdade, uma notificação e não uma licença ambiental. Pode-se ler em determinado momento que “ ... o MICOA aprova a implementação da proposta de expansão do projecto”. Várias implicações desta autorização merecem uma reflexão mais profunda, e que se referem à validade legal e constitucional de tal autorização numa área de conservação, senão vejamos:

Projecto de Expansão do Indigo Bay vs. Plano de Maneio e Política Nacional do Turismo (1995)

A construção do condomínio fechado no PNAB Bazaruto (especificamente na Ilha de Bazaruto), integra-se no projecto de expansão do Indigo Bay, que inclui igualmente a construção de um ancoradouro e a pavimentação da pista de aterragem em uso por esta estância turística. Ora, o plano de maneio em vigor, que necessariamente faz referência à Política Nacional de Turismo de 1995, não prevê a construção de mais empreendimentos turísticos além dos já existentes em 2002, e que somente poderá ser considerada a expansão dos já existentes. A construção de um condomínio fechado, com casas cujo uso e propriedade está a cargo do sector

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privado (o Indigo Bay irá vender tais casas agindo apenas como agente imobiliário!), não constitui de forma alguma a expansão de um Hotel/Lodge/etc. Esta componente, deverá ser considerada necessariamente, um empreendimento novo. Assim, e de acordo com a legislação em vigor, não poderá ser aprovado pelo órgão competente (MICOA + MITUR)!

Lei de Florestas e Fauna Bravia (10/99 de 7 de Julho)

Outro aspecto que deverá (ia) ser considerado, e este assunto merece um debate mais aprofundado nos círculos ligados à conservação no país, é a questão do uso de Parques Nacionais como catalisadores do turismo. A Lei de Florestas e Fauna Bravia, define no seu artigo 11, número 1, que os Parques Nacionais são entre outros, “...zonas de protecção total...”. Mais adianta o mesmo artigo no número 2 d), que “nos Parques Nacionais são interditas as seguintes actividades, salvo por razões científicas ou de maneio [...] todos trabalhos tendentes a modificar o aspecto do terreno ou de características da vegetação, [...] provocar poluição, [...] causar perturbações à flora e fauna.”. Bom, parece-me que 28 casas, das 56 propostas, no mínimo irão provocar poluição não compatível com o estatuto de Parque e de certeza irão modificar o aspecto do terreno e as características da vegetação!

Lei de Terras (19/97 de 1 de Outubro)

A Lei de Terras por outro lado, no seu artigo 7, referente às zonas de protecção total, define-as como sendo

“...áreas destinadas a actividades de conservação ou preservação da natureza e de defesa e segurança do Estado”. A construção de condomínios privados, não cabe aqui de certeza! No entanto, e tal como referido no artigo 9, nas zonas de protecção total e parcial, poderão ser passadas licenças especiais para o exercício de actividades determinadas, não podendo no entanto ser adquiridos Direitos de Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT). Adicionalmente, compete ao Ministro da Agricultura e/ou Conselho de Ministros autorizar licenças especiais nas zonas de protecção total tal como referido nas leis de Terras e de Florestas e Fauna Bravia ” (Artigo 22, número 2 b e Artigo 10 número 8, respectivamente). Portanto, a autorização do MICOA não é suficiente para que o Indigo Bay dê inicio à construção de tal empreendimento.

Independentemente, das autorizações que o Indigo Bay possa obter, o propósito de se criar uma área de conservação tal como referido anteriormente, tem necessariamente que ver com a protecção da natureza não se podendo ultrapassar estes objectivos por mero capricho de uns e outros investidores. A outra alternativa seria, e isto vem preconizado na lei de Florestas e Fauna Bravia (Artigo 10, número 4), extinguir a categoria de Parque Nacional e aí sim, poderíamos transformar Bazaruto no grande ponto de atracção turística do Oceano Índico (qual Copacabana ou Riviera Francesa); sem hipocrisias, atropelos à lei e, como se diz na gíria popular, sem canganhiça!

Por Marcos A M Pereira

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL MOÇAMBICANA

“4. Compete ao Ministério Público a defesa dos valores ambientais protegidos por esta Lei, sem prejuízo da legitimidade dos lesados para propor

as acções nela referidas.”

Artigo 21, Lei do Ambiente, 20/97 de 1 de Outubro

Lista de Espécies Marinhas Protegidas em Moçambique:

Necessidade de Revisão, ou nem por isso?!...

Moçambique possui uma elevada biodiversidade marinha e costeira: cerca de 1500 espécies de peixes marinhos, dos quais cerca de 900 em recifes de coral; 18 espécies de mamíferos marinhos; 151 de corais duros; 371 de macroalgas, 9 espécies de mangais e 13 de ervas marinhas só para citar alguns exemplos. No entanto, menos de 50 espécies estão listadas nos dispositivos legais actualmente em vigor, nomeadamente o Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (Decreto 12/02 de 6 de Junho), o Regulamento de Pesca Desportiva e Recreativa (Decreto 51/99 de 31 de Agosto) e o decreto Ministerial de 23 de Abril de 2002 (Ministério das Pescas).

Ora, uma análise muito sumária às espécies actualmente protegidas leva-nos a duas conclusões: i) o legislador pretendeu proteger espécies de interesse puramente pesqueiro e que por sua vez mostravam graves sinais de sobre-exploração (como por exemplo o cachucho, o robalo e o marreco); e ii) algumas das espécies foram incluídas por serem espécies tradicionalmente candidatas a estatuto de protecção, como tartarugas marinhas, garoupas gigantes, mamíferos marinhos, etc. De um modo geral, pouco esforço se nota, por parte do poder legislativo e executivo para que a dinâmica de exploração e conservação dos recursos marinhos, seja acompanhada pela legislação nestes últimos anos, com a excepção do despacho ministerial sobre o comércio de peixe ornamental e corais em 2002.

Moçambique possui cerca de 1200 espécies listadas na 2004 Red List da IUCN, tal como mostra a tabela abaixo: CR EN VU LR NT DD LC Total Animais 4 20 45 23 68 60 880 1100

Plantas 0 2 6 10 10 23 13 92 CR – criticamente ameaçadas; EN – ameaçadas; VU – vulneráveis; LR – menor risco; NT – quase ameaçadas; DD- sem dados; LC – menor preocupação

Nos animais, por grupo taxonómico, e incluindo apenas as categorias CR, EN e VU, temos a seguinte distribuição: mamíferos (12 espécies), aves (23), répteis (5), anfíbios (3), peixes (21), moluscos (4) e outros invertebrados (1) num total de 115. Ora, este número representa, no mínimo, o dobro do que actualmente está protegido pela legislação.

Por outro lado, temos aspectos relativamente assustadores na presente legislação. Por exemplo, o tubarão baleia está sob regime de protecção parcial (junto com todas as outras espécies de tubarão, exceptuando o branco), o que quer dizer que por dia um pescador pode apanhar até dois exemplares!!!!! Outras espécies protegidas internacionalmente, como o napoleão (Cheilinus undulatus), cavalos marinhos (Hippocampus spp.), ou endémicas e raras como os tubarões-serra (Pristis spp.), algumas

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garoupas endémicas e de fraca expressão em termos comerciais para o país (e.g. Epinephelus andersoni e E. albomarginatus) não constam da lista. E estas são apenas algumas espécies de peixes, para não mencionar, as concha, corais duros, moles e pretos, entre outras.

Realmente, há necessidade de se rever (e ampliar) a lista de espécies protegidas. E aparentemente, não é difícil.

Segundo a legislação em vigor, basta que o MICOA em colaboração com a Comissão de Administração Pesqueira, sugira ao Ministro das Pescas e pronto... já está!!!!

Por Marcos A M Pereira

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Erosão Costeira em Maputo

Das imagens pouco temos por comentar. Mesmo assim, não nos conseguimos conter face à ameaça que Maputo representa para todos nós. É que a nossa cidade passou a ser uma espécie de um planeta na rota de meteoritos, que há qualquer altura pode ser atingido. É que os problemas da urbe não se resumem a uma única área. Alias, não conhecemos nenhuma que mereça destaque pela positiva. Pelo contrário estamos a caminhar para o auspício.

O que mais intriga, é que os problemas, mesmo à nascença, não são eliminados. Vai daí que quando já

crescidos, requerem milhões de dólares que não existem. Um demónio em Maputo?! Aparentemente sim, porque mesmo “os cabeças” que entraram com fervor num passado recente parece terem se rendido e assumido aquela “retórica” a que nos habituamos!

Texto: Frederico Dava Fotos: Marcos A M Pereira

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“Website” do CTV actualizado. Na aposta de melhor servir os seus parceiros e todos os interessados, o CTV actualizou a sua página de internet aumentado e diversificando o seu conteúdo. Assim, foram incorporadas publicações diversas entre trabalhos de investigação, informação pertinente sobre o CTV e todas as edições boletim informativo “Justiça Ambiental”. Para uma visita à nossa página queira aceder www.ctv.org.mz.

Retomada a co-produção de programas ambientais para 2005. Depois do período de defeso que a Rádio Moçambique observa na sua programação, no final de cada ano, e depois de uma avaliação positiva do desempenho de 2004 no âmbito do Memorando entre a RM e o CTV, reiniciou-se a co-produção de programas ambientais para o ano de 2005. No presente ano, para além de programas especiais, o CTV está já a produzir um programa regular de cerca de 30 minutos, que pode ser ouvido à Quinta-Feira, após o noticiário das 15 horas, na Antena Nacional.

Estratégias de Conservação Ambiental nos Programas de Desenvolvimento e Alívio à Pobreza em Moçambique. Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), Plano de Acção Para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA) e Metas de Desenvolvimento do Milénio (MDM), foi o primeiro debate de 2005 e teve lugar no mês de Março. O debate tinha como objectivos analisar e avaliar as experiências, limitações e possíveis soluções dos processos de implementação destes importantes programas de alívio à pobreza e de desenvolvimento sustentável a nível nacional. O evento teve como oradores, Firmino Mucavel, assessor do Presidente da República para a NEPAD e José Negrão, do Cruzeiro do Sul. A moderação coube à Directora Executiva do CTV, Alda Salomão.

Licenciamento e Desenvolvimento de Empreendimentos Turísticos no Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto. Constituiu o segundo debate

realizado também no mês de Março. Com o objectivo principal de discutir os licenciamentos ilegais que determinadas instituições do Estado emitem, para o desenvolvimento de empreendimentos turísticos no PNAB. A

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apresentação foi feita por Marcos Pereira (CTV), e os comentários especiais por Isabel Macie (MITUR), Rui Monteiro (Rani International) e Helena Motta (WWF), para além de Frederico Dava, como moderador.

O Sistema de Administração da Justiça e o Acesso à

Justiça na Gestão Ambiental em Moçambique. O

terceiro debate, ocorrido também no mesmo mês teve como objectivo discutir as bases para uma efectiva defesa do direito ao ambiente, analisando, por um lado, os principais aspectos legais, institucionais e processuais da justiça ambiental em Moçambique, e discutindo, por outro lado, o papel da sociedade civil e das instituições do Estado na construção do Estado de Direito em Moçambique. Foram oradores: Carlos Serra Júnior (CFJJ), Paulo Daniel Comoane (UEM) e João Carlos Trindade (TS/CFJJ). Contou ainda com a moderação da Directora Executiva do CTV, Alda Salomão e com os comentários de Taíbo Mucobora (UEM).

Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa doa livros ao CTV. Um total de 108 livros foram doados ao CTV pelo

Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa (FBLP), no âmbito da campanha de angariação de livros para as Rádios Comunitárias. O FBLP vem juntar-se à Cooperação Espanhola que doou outro material. A campanha, levada a cabo pelo CTV, visa apetrechar as Rádios Comunitárias de bibliotecas que possam ajudar na geração de receitas, com efeitos multiplicadores na promoção do desenvolvimento intelectual e cultural da população local. Esta campanha foi lançada no âmbito do trabalho que o CTV tem estado a

desenvolver com vista à criação de auto–sustentabilidade das Rádios Comunitárias, algumas das quais tuteladas pela UNESCO que está em processo gradual de retirada.

CTV participa no “ workshop” africano sobre os “Objectivos do Desenvolvimento do Milénio”. O Programa de Informação e Educação Ambiental, Pro-Info, através do seu coordenador Frederico Dava, participou de 20 a 26 de Fevereiro, em Nairóbi-Quénia, no “workshop” para jornalistas africanos sobre os “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”. O objectivo do evento era dotar os jornalistas de capacidade de interpretação e abordagem das metas do milénio, no contexto dos seus países. Os objectivos do Milénio a serem atingidos até 2015 incluem:

- Redução da pobreza e da fome para metade; - Aumento dos níveis de educação primária; - Promoção da igualdade de género; - Redução da mortalidade infantil em 2/3; - Redução da mortalidade materna em ¾;

- Inverter a tendência de disseminação da SIDA, Malária e Tuberculose;

- Assegurar a sustentabilidade ambiental

- Desenvolver parcerias globais para o desenvolvimento, tendo estas como pontos

principais o comércio, ajuda ao desenvolvimento e redução da dívida.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL MOÇAMBICANA

“Qualquer pessoa que verifique infracções às disposições desta Lei ou de qualquer outra legislação ambiental, ou que razoalvelmente presuma que tais infracções estejam na iminência de ocorrer, tem a obrigação de informar as autoridades policiais ou outros agentes administrativos mais próximos sobre o facto.”

Artigo 23, Lei do Ambiente 20/97 de 1 de Outubro

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“Exmo(s) Senhore(s)

Eu sou Fialho P. J. Nehama, Oceanógrafo e professor da Faculdade de Ciências, Departamento de Física da Universidade Eduardo Mondlane. Tive a oportunidade de assistir um dos vossos debates (sobre Jornalismo Ambiental) e gostava que me informassem da vossa programação para 2005, isto é, gostava de saber quando será vosso próximo debate. Grato pela atenção.”

Fialho P.J. Nehama

Caro Fialho Nehama,

Ficamos satisfeitos em saber quem tem acompanhado as nossas actividades. O próximo debate não tem ainda data marcada, contudo, está agendado para o mês de Julho e analisará a implementação das normas sobre o uso de Mecanismo de Exclusão de Tartarugas Marinhas(TEDs) na captura de camarão, em Moçambique. Em tempo oportuno, iremos enviar o respectivo convite e programa.

O Editor

“Vim através deste meio solicitar o envio da documentação do debate sobre a “Estratégia de Conservação nos Programas de Alívio à Pobreza”. Na verdade pude ver o vosso comunicado pelo jornal, mas à última hora acabei esquecendo do evento. Mas como o assunto é muito importante para mim acabei achando melhor solicitar à vossa organização a disponibilidade dessa documentação. Aguardo melhores informações vossas.”

Ernesto

Caro Ernesto, obrigado pelo interesse. Estamos a preparar a documentação (resumo das apresentações) sobre este e outros debates já realizados. Brevemente teremos esta documentacao disponível na nossa página electrónica assim como na nossa biblioteca.

O Editor

Justiça Ambiental – Boletim Bi-mestral do CTV

Directora Executiva: Alda Salomão, L.L.M. Editor: Frederico Dava

Layout e Maquetização: Marcos A M Pereira

Colaboradores permanentes: Alda Salomão, Frederico Dava, Marcos A. M. Pereira, Cristina M. M. Louro e Dinis Mandevane Distribuição: Gratuita, exclusivamente electrónica.

Por favor envie as suas contribuições, comentários e críticas para Centro Terra Viva – Estudos e Advocacia Ambiental. Av. Agostinho Neto, 799, 1o andar. Maputo - Moçambique. Tel: 303267; Fax 303724.

Email: ctv@tvcabo.co.mz, Web: www.ctv.org.mz

Referências

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