• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS"

Copied!
55
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

PAGAMENTOS PELOS SERVIÇOS AMBIENTAIS NA RESERVA

EXTRATIVISTA CHICO MENDES.

JEÍSA ACIÓLE DA COSTA Matrícula nº 200402027

Orientador: Dr. Raimundo Cláudio Gomes Maciel

(2)

JEÍSA ACIÓLE DA COSTA

PAGAMENTOS PELOS SERVIÇOS AMBIENTAIS NA RESERVA

EXTRATIVISTA CHICO MENDES.

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Federal do Acre como requisito parcial para obtenção do Grau em Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Dr. Raimundo Cláudio Gomes Maciel

(3)

Aos meus pais, Antônio e Jazena. Aos meus irmãos Gigliany, Josiane e Giovany. Aos meus avós, Pedro Acioly (in memory) e Maria Francisca, ex-seringueiros.

(4)

AGRADECIMENTOS

Faço aqui alguns agradecimentos a pessoas que se fazem importantes na minha trajetória.

A DEUS, pelas inúmeras bênçãos concedidas ao longo de minha vida e pela concessão de mais uma vitória. Lutas foram muitas, mas a vitoria é maior. A Ele seja toda a glória.

A minha família, pelo o amor dedicado e o incondicional apoio, por sempre estarem ao meu lado nos momentos em que preciso. Conselheiros em toda a minha caminhada.

Aos professores que compõem o quadro de docentes do curso de Economia, profissionais do ensino, os quais foram importantes para a minha formação.

Ao professor Robinson, coordenador do curso de Economia, pela oportunidade que me concedeu de fazer parte da seleta equipe do ASPF. Pela a assistência prestada em assuntos acadêmicos. Sempre estando à disposição para ajudar.

Ao Raimundo Cláudio (coordenador do Projeto ASPF), meu orientador, pessoa com tenho aprendido muito, agradeço pela sua orientação a este trabalho, pelo apoio, incentivos, ensinamentos e encaminhamento na minha vida acadêmica e profissional, sempre exigindo qualidade. São dois anos e meios de convívio, aprendizagem e amizade. A ele o meu muito obrigada.

A todos os colegas do ASPF, que foram co-participantes da pesquisa, para a realização deste trabalho, fazendo entrevistas, críticas, tabulação. Companheiros agradeço a contribuição.

Aos amigos, Elysson e Gisele, que têm sido exemplos para mim, agradeço pelo carinho e incentivos. Mesmo estando distante, são super companheiros.

Aos colegas do curso, pela amizade nos períodos de curso, pelo auxilio prestado em momentos necessários, pelo respeito e bom convívio ao longo do curso.

(5)

RESUMO

Sabe-se que o processo de ocupação econômica, pós-1970, foi extremamente prejudicial ao meio ambiente e às populações tradicionais da região Amazônica, persistindo ainda hoje as imensas dificuldades de reprodução das famílias no interior da floresta. Um dos principais desafios na busca de um Desenvolvimento Sustentável é a viabilização do desempenho econômico das unidades produtivas, a partir dos produtos florestais não madeireiros (PFNM), e, conseqüentemente, da reprodução social dessa população. Objetiva-se no preObjetiva-sente estudo propor uma alternativa factível de pagamento pelos Objetiva-serviços ambientais (PSA) promovidos pelas comunidades extrativistas, há mais de um século. Para tanto, busca-se, inicialmente, realizar uma avaliação sócio-econômica da produção familiar rural na RESEX Chico Mendes, em Xapuri-AC, no sentido de oferecer uma proposta coerente com as necessidades das famílias estudadas. Utiliza-se para tanto metodologia própria e específica, por intermédios de medidas e indicadores de resultado socioeconômico, avaliando a evolução do desempenho econômico dos últimos nove anos na região. Os resultados indicam a diminuição da geração de renda de produtos oriundos do extrativismo, demonstrando as dificuldades de reprodução desse sistema e das famílias, além de realçar o fortalecimento de atividades predadoras da floresta, como é o caso da pecuária extensiva, realizada ainda de maneira rudimentar. Face aos níveis de reprodução familiar, calcula-se que o valor mínimo necessário para o PSA seria em torno de US$ 13/ha, evidenciando um valor necessário e, ao mesmo tempo, mais adequado frente às proposições da literatura corrente, que estima valores para os mesmos serviços em torno de US$ 50/ha.

Palavras-chaves: Reserva Extrativista (RESEX); Desenvolvimento Sustentável; Produção Familiar Rural; Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA).

(6)

ABSTRACT

It is known that the process of economical occupation, in the last forty years, it was extremely harmful to the environment and the traditional populations of the Amazon region, still persisting today the immense difficulties of reproduction of the families inside the forest. One of the principal challenges in the search of a Sustainable Development is the promotion of the economical development of the productive units, starting from the non timber forest products (NTFP), and, consequently, of the social reproduction of that population. It is aimed at in the present study to propose a feasible alternative of payment for the environmental services (PSA) promoted by the communities extrativistas, there is more than one century. For so much, it is looked for, initially, to accomplish a socioeconomic evaluation of the rural family production in Extractive Reserve (RESEX) Chico Mendes, in Xapuri-AC, in the sense of offering a coherent proposal with the needs of the studied families. It is used for so much own and specific methodology, for intermissions of measures and indicators of resulted economical, evaluating the evolution of the economical development of the last nine years in the area. The results indicate the decrease of the generation of income of products originating from of the NTFPs, demonstrating the difficulties of reproduction of that system and of the families, besides enhancing the invigoration of activities predatory of the forest, as it is the case of the extensive livestock, still accomplished in a rudimentary way. In the face of the levels of family reproduction, is calculated that the necessary minimum value for PSA would be US$ 13/ha, evidencing a necessary value and, at the same time, more appropriate front to the propositions of the average literature, that esteems values for the same services around US$ 50/ha.

Keys-words: Extractives Reserves (RESEX); Sustainable Development; Rural Family Production; Payment for the Environmental Services (PES).

(7)

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Mapa da RESEX Chico Mendes, Rio Branco-AC ... 26 Gráfico 2 – Linha de Dependência do Mercado (LDM) da RESEX Chico Mendes, 2005/06, Acre...43 Gráfico 3 - Índice de Desenvolvimento Familiar Rural (IDF-R) e seus componentes, Reserva Extrativista Chico Mendes, 2005/2006, Acre-Brasil...45 Gráfico 4 - Avaliação estratégica: disponibilidade de ativos e capacitações (vantagem) na

(8)

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Evolução da Renda Bruta na RESEX Chico ... 41 Tabela 2 – Evolução do desempenho econômico na RESEX Chico Mendes, Acre, 1996/1997-2005/2006. ... 42 Tabela 3 – Resultado do desempenho econômico na RESEX Chico Mendes, Acre, 2005/2006.

... 44 Tabela 4 - Índice de Desenvolvimento Familiar Rural (IDF-R) e seus componentes, Reserva Extrativista Chico Mendes, 2005/2006, Acre-Brasil. ... 46 Tabela 5 – Valores propostos para o PSA na RESEX Chico Mendes, Acre, Brasil – valores em R$. ... 48

(9)

SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ... 4 RESUMO ... 5 ABSTRACT ... 6 ÍNDICE DE GRÁFICOS ... 7 ÍNDICE DE TABELAS ... 8 SUMÁRIO ... 9 INTRODUÇÃO ... 10

1 EXTRATIVISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA 11 1.1 Sustentabilidade socioeconômica e ambiental ... 17

2 PAGAMENTOS PELOS SERVIÇOS AMBIENTAIS ... 21

3 METODOLOGIA ... 25

3.1 Histórico da RESEX Chico Mendes ... 26

3.2 Localização ... 28

3.3 Metodologia de avaliação socioeconômica da RESEX Chico Mendes ... 28

4 RESULTADOS SOCIOECONÔMICOS DA RESEX CHICO MENDES ... 40

4.1 Proposta de pagar por serviços ambientais na RESEX Chico Mendes ... 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 52

(10)

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, por todos os cantos do mundo, a questão mais tratada e discutida é o desenvolvimento sustentável. Os debates estão voltados principalmente para a Região Amazônica, que é visada no mundo inteiro pela sua imensa riqueza e variação em biodiversidade e recursos naturais, como, por exemplo, fontes de água etc.

Um fato importante a se considerar é o modo e condição de vida em que se encontram as populações florestais. Tratam-se de produtores extrativistas que retiram da floresta o seu sustento familiar. Mas que muitas das vezes não é suficiente para a adequada manutenção da família. O questionamento relevante é se a Reserva Extrativista tem contribuído para o desenvolvimento sustentável das famílias na região, que constitui-se no problema de pesquisa do presente trabalho.

Os rendimentos gerados pelas atividades extrativistas têm-se reduzido ao longo do tempo, o que propicia a criação de gado nas áreas, comprometendo, desse modo, a manutenção das famílias e a conservação das florestas.

Portanto, objetiva-se neste trabalho realizar uma avaliação socioeconômica da produção familiar rural na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, analisando as condições socioeconômicas da população produtora rural que residem na RESEX Chico Mendes, tendo em vista o processo de desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, este trabalho faz uma proposta de Pagamento por Serviços Ambientais na Reserva Extrativista Chico Mendes, como um mecanismo que remunera as famílias extrativistas pelo uso da floresta de forma sustentável, ou seja, utilizar os recursos florestais racionalmente, conservando para que a geração futura possa dispor da riqueza florestal.

O trabalho está, portanto, estruturado em quatro capítulos. O primeiro tratará a respeito da atividade extrativista na Amazônia brasileira, enfocando no Estado do Acre, como uma atividade produtiva sustentável para a região. Apresenta o conceito de Desenvolvimento Sustentável relacionando à criação da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Estado do Acre.

O segundo capítulo vai tratar de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), apontando como funciona a implementação deste instrumento econômico.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada para a realização deste trabalho. Uma metodologia própria e específica, que utiliza medidas e indicadores de resultado econômico que avaliam a evolução do desempenho econômico na RESEX Chico Mendes. Trabalha-se com indicadores e índices que consideram a particularidade da área estudada.

(11)

Por fim, o quarto capítulo deste trabalho mostra os resultados obtidos na pesquisa, indicando, além disso, propostas para o pagamento pelos serviços ambientais promovidos pelas populações extrativistas.

1 EXTRATIVISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA

A economia da Região Amazônica sempre esteve vinculada ao extrativismo da borracha. No século XIX, com o desenvolvimento da indústria pneumática, o Brasil tornou-se o maior fornecedor de matéria-prima, já que a Amazônia brasileira era o maior produtor de seringueiras nativas.1

O Brasil, da segunda metade do século XIX até meados do século XX, foi o principal produtor e exportador de borracha, que naquele momento era a principal riqueza do país, por isso era também chamada de “ouro negro”.

Pelo fato da expansão crescente do mercado internacional de borracha, a produção cai na necessidade de aumentar o volume produzido, precisando, desse modo, aumentar também o contingente de trabalhadores.

Assim houve penetração de mão-de-obra nordestina no Acre, trazidos por fatores de crise econômica no nordeste, devido à forte seca que afetava a região. Daí os trabalhadores vinham para a região amazônica para trabalhar nos seringais, influenciados pelo crescimento da demanda da borracha no mercado mundial. Muitos vinham com espírito aventureiro e com expectativa de enriquecimento fácil.2

A relação de produção vigente na economia extrativa era caracterizada pelo chamado sistema de aviamento, constituído pelo seringueiro, seringalista, casas aviadoras e as casas exportadoras.

O aviamento consistia em um endividamento, onde o produtor direto (o seringueiro) ficava numa situação de dependência, pois o seringalista fornecia a eles todos os materiais e utensílios que necessitavam para produzir, para ser-lhe pago com a produção. O seringalista dependia do financiamento da casa aviadora, e esta, por sua vez, da casa exportadora. Desse modo o seringueiro tornava-se praticamente prisioneiro nos seringais. E

1

Ver: Martinello (1988), Silva (1982). 2

(12)

deviam dedicar-se exclusivamente a atividade extrativista de borracha, não podendo fazer nenhuma outra atividade produtiva na área. (SILVA, 1982)

Conforme Maciel (2003) trata, o auge produtivo de borracha na Amazônia não durou muito tempo, devido à ausência de desenvolvimento tecnológico na produção. Assim o extrativismo na Amazônia não acompanhou o crescimento industrial. Foram implantadas na Malásia seringais de cultivo em base racional, intimidando a produção brasileira. E com o surgimento dessa concorrência desigual estava decretada a crise da economia extrativista da borracha na Amazônia.

Assim, Silva (1982) afirma que um dos principais fatores que determinaram o declínio do extrativismo de borracha na Amazônia foi a ausência de progresso técnico na atividade extrativista, pois o arcaico sistema empregado na extração do látex influía em baixa produtividade do trabalho e elevados custos de produção.

Por causa da crise, muitos seringais foram abandonados e, em conseqüência, houve êxodo rural. Seringueiros e suas famílias partiam do campo em direção a periferia da cidade, passando a viver em condições piores. Então nos seringais da Amazônia, especialmente na segunda metade do século XX, muitas áreas foram vendidas a fazendeiros sulistas, os “paulistas”, que começaram a transformar a floresta em pastagens, destruindo o meio de sobrevivência dos extrativistas.

A crise da economia da borracha teve diferentes conseqüências para as populações envolvidas na produção. Segundo Silva (1982), uma parcela dos migrantes, especialmente os que haviam conseguido acumular algum capital, voltaram para suas regiões de origem, no Nordeste. Outro contingente migrou para as cidades principais, Manaus e Belém. E houve um terceiro caminho, menos visível, que foi o dos que permaneceram vivendo nos seringais.

Muitos foram expulsos das colocações3 e se viram obrigados a migrarem para a periferia urbana, passando a viver em condições precárias, sem perspectiva, principalmente por se tratar de um contingente de trabalhadores sem qualificação para o típico trabalho urbano. A experiência que possuíam era apenas o árduo trabalho braçal, outros, no entanto, permaneceram nos seringais, mantendo-se resistentes a tais mudanças.

No entanto, a maioria desses trabalhadores rurais que permaneceram nos seringais, muitos deles se tornaram seringueiros autônomos, que se mantiveram resistentes contra a atividade pecuária e expulsão dos extrativistas de suas colocações pelos fazendeiros e empresários sulistas.

3

(13)

Os seringueiros que resistiram e lutaram pela permanência nas terras continuaram a produzir borracha, mas em escala reduzida, e como alternativa para complementação da sua subsistência passaram a cultivar roçados.

Antes da implantação da pecuária, os seringueiros lutaram por liberdade nas relações semi-escravistas nos seringais, agora, pois, a luta era pela posse de terra, manutenção da floresta e na resistência de se tornarem favelados nas periferias urbanas.

A quantidade de ex-seringueiros que eram obrigados a migrarem para os centros urbanos era grande e a forma que se propõe adotar o extrativismo não é muito compatível ao grande número de pessoas, pois o extrativismo precisa de pouca área desmatada e muita área em floresta.

Sutilmente, os seringueiros começaram a se organizar em sindicatos na busca por seus direitos como trabalhadores rurais.

Segundo Chico Mendes - um grande líder sindical e defensor da floresta, assassinado bruscamente lutando pela a conservação da Floresta Amazônica - a reforma agrária do INCRA era desfavorável ao seringueiro. Baseado no Estatuto da Terra a posse era assegurada ao trabalhador que tivesse trabalhado na terra mais de um ano e um dia. No entanto, a justiça só assegurava a parte da terra que era cultivada e havia benfeitorias, isso representava uma área de aproximadamente 100 hectares, porém o seringueiro necessitava de mais de 300 hectares. (CAVALCANTE, 1993)

Nesse sentido, o líder Chico Mendes defendia a criação de Reservas Extrativistas (RESEX), na qual estaria assegurada ao extrativista a posse da terra e a continuidade de suas atividades produtivas tradicionais. Segundo ele, através do adequado uso dos recursos naturais, as RESEX seriam economicamente viáveis, viabilizando a exploração de outros produtos florestais além da borracha (Hevea brasiliense) (BATISTA, 1995).

De acordo com Cunha (2003), as Reservas Extrativistas (RESEX’s) enquanto política ambiental do governo federal, implementada pelo IBAMA por meio do Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais (CNPT), foram criadas em 1990 pelo Decreto 98.897 e passaram a integrar o Programa Nacional de Meio Ambiente.

As Reservas Extrativistas são espaços de floresta que se destinam à exploração sustentada e à conservação dos recursos naturais. As áreas são de propriedade da União, destinada ao uso pela população tradicional extrativista por meio de uma concessão de uso.

(14)

Assim as Reservas Extrativistas apareceram como uma forma de regularização das áreas que os seringueiros ocupavam, funcionando como uma defesa contra madeireiros e pecuaristas.

A criação das Reservas Extrativistas apareceu para não permitir que morresse o extrativismo como atividade econômica; consistindo em uma utilização racional e equilibrada dos recursos da floresta, explorando-a sem causar danos, seguindo o pensamento de sustentabilidade.

“A reserva extrativista deve ser entendida como:”

a regularização de áreas ocupadas por grupos sociais que têm como fonte de sobrevivência produtos nativos da floresta e que realizam exploração fundiária e de desenvolvimento econômico. Devem, portanto, se constituir de modo socialmente justo, ecologicamente sustentável e economicamente viável de ocupar a Amazônia. (CARTA DE CURITIBA, IEA, 1998, apud CAVALCANTE, 1993, p. 20).

Dada a questão de novo modelo a ser seguido, aparecem diversos questionamentos acerca da decisão de aplicação de Reserva Extrativista como forma sustentável.4

Ao adotar o uso da agricultura como meio de produção rural tem-se certa vantagem inicialmente, porém, ao longo dos anos, o solo em cultivo começa a se degradar; além de ser necessário o uso de queimadas. Com o uso da pecuária, o criador tem necessariamente que desmatar uma área de terra significativa para sua criação ser razoável. O extrativismo é baseado no desenvolvimento da floresta como um todo, não prejudicando os ecossistemas, resgatando o solo gasto e preocupando-se com o desenvolvimento regional futuro.

A participação da atividade extrativista na economia acreana, ano após ano, vem perdendo sua importância, embora seja o mais importante segmento do setor primário. Com o decorrer do tempo essa atividade tem se apresentado em uma escala bastante pequena. À medida que anos passam vão sendo desativados mais seringais para a extração gumífera, apesar de ter incentivos públicos e questões como esta.

A economia do Estado do Acre esteve sempre calcada no extrativismo, sendo essa atividade dominante no Estado, portanto, seria mais que racional se investir no desenvolvimento desse setor procurando eliminar seus pontos de estrangulamento e desenvolvendo a atividade para que ela chegasse aos níveis de produtividade requeridos pela competição internacional.

4

(15)

Ademais, o conceito de RESEX conforma-se com o conceito de Desenvolvimento Sustentável, uma vez que há uma constante busca por alternativas para superar as contradições entre o crescimento econômico e preservação ambiental. Vale notar que a sustentabilidade provém da eficiência econômica, justiça social e prudência ecológica e implica uma relação harmoniosa entre o ser humano e o meio ambiente, garantindo os benefícios do continuo uso dos recursos naturais na atualidade e no futuro.5

Dentre as principais questões que a proposta das RESEX’s se ocupou foram a desconcentração do uso da terra, a promoção do uso dos recursos naturais de forma prudente e da conservação da biodiversidade no território amazônico (ALLEGRETTI, 1989; COSTA FILHO, 1995).

Nas palavras de Cavalcanti (2002, p. 7):

As políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da Amazônia não podem mais ignorar o desafio ambiental, expresso no aproveitamento das riquezas naturais baseado nos princípios da sustentabilidade. (...) assim a criação das Reservas Extrativistas assume a relevância como proposta dos seringueiros acreanos, visando a conservação ambiental do espaço amazônico, definindo uma forma de uso da terra e regulação fundiária.

Lado a lado estiveram quem visualizasse a implantação e maturação da RESEX como estratégia apta a promover o desenvolvimento social, econômico e ambiental da Amazônia e quem a considerasse insuficiente para tanto. Neste grupo cita-se UICN (1995) para quem,

As Reservas Extrativistas não são a panacéia para os problemas da Amazônia, nem a solução mágica para a sua ocupação, mesmo porque mais da metade da área já foi ocupada e colonizada através de diferentes projetos, especialmente agropecuários. Da superfície total, talvez apenas 20% apresente condições exigidas por lei para a implantação daquelas. Exatamente porque estão chegando já um pouco tarde, é preciso acelerar o processo, para proteger as áreas que ainda podem ser protegidas (p. 2).

Ao avaliar a eficiência econômica do produto ícone amazônico, a borracha (Hevea brasiliense), Maciel e Reydon (2003) expõem que a atividade produtiva é tecnologicamente atrasada e se apresenta com desempenho econômico inferior ao de outras atividades, sendo necessário seu aperfeiçoamento tecnológico sob pena de tornar-se inviável, confirmando teses

5

(16)

contrárias ao desenvolvimento amazônico ancorado no extrativismo, a exemplo de autores como Homma (1993).

Entretanto, para Maciel (2003), é possível modernizar as atividades extrativistas, tornando-as sustentáveis. As Reservas Extrativistas são justamente inovações institucionais importantes para a viabilização de alternativas produtivas no seio da floresta, contribuindo, portanto, para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, em particular na região acreana.

Assim, as dificuldades econômicas por que passam os produtores extrativistas hoje estão estreitamente relacionadas com a herança tecnológica do período da economia do aviamento. Alguns gargalos para mudança tecnológica são amplamente conhecidos, como a dificuldade de racionalização da produção mediante plantios racionais, mas a história econômica do setor mostra que esses gargalos estão relacionados a constrangimentos não somente devido a fatores econômicos, mas também por fatores político-institucionais, além dos ecológicos (MACIEL e REYDON, 2003, p. 8)

Os referidos autores afirmam que, na busca de soluções inovadoras para superar as desvantagens competitivas, os seringueiros necessitam do apoio interativo de fatores políticos, institucionais e sociais, uma vez que para inovar é necessário, prioritariamente, de acesso às bases do conhecimento científico, cada vez mais essencial ao progresso tecnológico.

Rêgo (1999) afirma que para viabilizar o modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia faz-se necessárias novas políticas públicas, com base na cultura própria das populações extrativistas e em adequados sistemas de produções familiares, harmonizando benefícios econômicos, sociais e ambientais, conformado no que denominou de neoextrativismo.

Na ótica de Fearnside (2008), a economia da Amazônia brasileira seria quase inteiramente baseada na destruição da floresta, por intermédio da exploração predatória da madeira ou pelo desflorestamento para pastagem de gado bovino e, em algumas áreas, pela soja. Continua afirmando que as atividades sustentáveis tradicionais, tais como, o extrativismo da borracha (Hevea brasiliense) e castanha-do-Brasil (Bertholetia excelsa) existem, mas sua importância relativa é mínima do ponto de vista dos fluxos financeiros da economia atual. Ademais, a taxa sob a qual esses usos podem produzir produtos sustentáveis é limitada e freqüentemente desfavorável em relação aos usos predatórios a menos que o valor dos serviços ambientais possam ser incorporados aos fluxos de renda.

(17)

A viabilização da RESEX passa invariavelmente por estratégias que coordenem ações voltadas para a viabilização econômica de atividades produtivas bem como na interação positiva destas atividades, respeitando a capacidade de suporte do meio natural que a sustenta.

Assim devem-se identificar as condições econômicas mínimas dos extrativistas ali empossados que correspondam a um uso prudente dos recursos. Se, por um lado, o extrativista é contido no ímpeto de avançar desordenamente sobre os recursos existentes por já ter suprido suas necessidades básicas viabilizadas pelo mercado, por outro lado, se protege a perspectiva dos benefícios da existência dos recursos naturais na atualidade e no futuro.

1.1 Sustentabilidade socioeconômica e ambiental

O tema de maior amplitude em discussões, ultimamente, é o Desenvolvimento Sustentável. Esse assunto tornou-se o alvo das discussões em diversas conferências ao redor do mundo. Pesquisas e estudos são realizados sobre a questão ambiental, principalmente na região amazônica. Pois, nota-se uma preocupação geral, por parte principalmente dos estudiosos e profissionais da área, em relação ao futuro da humanidade em meio às drásticas mudanças que ocorrem no planeta, por conseqüência da própria ação degradante do homem sobre a natureza.

Ambientalmente, a Amazônia ainda é considerada o “ar condicionado do mundo”, dispondo da maior reserva florestal e de fontes de águas doces, importantes reservas de ecossistemas e uma rica biodiversidade, que em contraste com tanta afirmação ecologicamente correta, é a que mais rapidamente sofre degradação da natureza pelo homem e suas atividades econômicas. Devastação essa, visando produção de alimentos e de matérias-primas.

Do ponto de vista econômico – que não se dissocia da visão ambiental – a Amazônia sofre, como já dito, uma devastação em larga escala efetuada com desmate e queimadas para produção de pasto e abertura de roçados para lavoura. O crescimento de fazendas e o aparecimento de pequenas comunidades de produtores rurais têm alavancado a economia da região e trazido alguma ocupação produtiva.

Portanto, cabe observar o conceito de Desenvolvimento Sustentável que segundo Cavalcanti (2002), vem a ser o crescimento econômico com justiça social e prudência ecológica, que implica em permitir que gerações futuras possam satisfazer suas necessidades,

(18)

por meio de uso adequado e consciente dos recursos naturais, proporcionando bem-estar a população atual e futura, com redução de impactos ambientais negativos.

A ação humana gera impactos ao meio ambiente, que podem afetar os sistemas produtivos, implicando em conseqüências para a própria humanidade. Por exemplo, o desmatamento é a atividade humana que afeta diretamente as maiores áreas na parte florestada da Amazônia brasileira, como também a exploração madeireira, queimadas etc.

Assim, o grande desafio da humanidade para as próximas décadas é a proteção e o uso sustentável da biodiversidade. Uma das alternativas práticas para se alcançar este objetivo, uma questão que tem sido considerada por unanimidade entre os ambientalistas ao redor do mundo, é a criação e manutenção de unidades de conservação (UC’s) como Parques Nacionais, Reservas Biológicas e Reservas Extrativistas. Com uma gestão eficiente, estes espaços oficialmente protegidos podem dar uma contribuição de extrema relevância para a proteção da natureza contra a extinção de espécies, desmatamento em larga escala e mal uso de recursos naturais. A criação e implementação de UC’s se constituem em importantes ferramentas de políticas públicas para evitar ou diminuir impactos ambientais, ao mesmo tempo em que auxiliam um processo de ocupação racional do espaço em projetos de desenvolvimento. (BORGES, 2007)

Os processos de criação e gestão de UC’s no Brasil são regulamentados pela Lei No. 9.985 de 18/07/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O SNUC divide as UC’s do país em unidades de proteção integral (antes denominadas de unidades de uso indireto), que são as áreas de preservação da natureza, e unidades de uso sustentável (antes denominadas de unidades de uso direto), com objetivo de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. (BORGES, 2007)

Entre as unidades de proteção integral estão incluídas: Estações Ecológicas (EE’s),

Reservas Biológicas (RB’s),

Parques Nacionais e Estaduais (PN’s e PE’s), Monumentos Naturais (MN’s),

Refúgios da Vida Silvestre (RVS’s).

Entre as unidades de uso sustentável estão: Áreas de Proteção Ambiental (APA’s),

(19)

Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE’s), Florestas Nacionais e Estaduais (FN’s e FE’s), Reservas Extrativistas (RESEX’s),

Reservas de Fauna (RF’s),

Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS’s),

Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN’s).

Estas UC’s podem ser criadas nos níveis municipal, estadual ou federal.

O SNUC delibera que todas as UC’s de categorias diferentes das descritas na Lei sejam adequadas ao atual sistema. Outro aspecto importante do SNUC é uma maior abertura para a participação social nos processos de criação e gerenciamento das UC’s.

As unidades de conservação são gerenciadas pelo poder público através de suas entidades especializadas em questões ambientais (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e Organizações Estaduais de Meio Ambiente – OEMA’s).

A preocupação com o meio ambiente e a percepção de que o crescimento futuro dependerá de condições ecológicas preservadas, fez com que as metas ambientais estejam presentes nas agendas políticas de todos os países.

A degradação do meio ambiente deve ser considerada como o resultado de um conjunto de ações e atividades impactantes sobre o meio natural que, indo além da capacidade de suporte do meio natural, acarreta o comprometimento dos recursos naturais e, conseqüentemente, afeta a qualidade de vida da população.

Hoje mesmo com a preocupação com o desenvolvimento e o meio ambiente presente nas agendas de eventos e fóruns voltados para discussões sobre a questão ambiental, ainda não se tem um meio seguro de determinar que os agentes cujas práticas degradam o meio ambiente tenham o comprometimento em adotar medidas definitivas para evitar tal deterioração.

Torna-se necessário, para que os danos ao meio ambiente possam ser previstos e evitados, levar em conta não só os aspectos ecológicos das políticas, mas também os aspectos econômicos, comerciais, energéticos, agrícolas e outros envolvidos.

A proteção ambiental passou a ser uma função da administração, contemplada na estrutura organizacional e interferindo no planejamento estratégico, gerando políticas, metas e planos de ação empresarial.

(20)

A sustentabilidade é estabelecida como fundamental, pois trata da interação do homem com o meio ambiente natural, visando um desenvolvimento econômico com a preservação ecológica, para que gerações futuras possam assim desfrutar da natureza.

Enfrenta-se o dilema de manter o homem no campo para que não ocorra o surgimento e/ou crescimento de áreas periféricas em torno da cidade - por conseqüência do êxodo rural - mas sem causar danos às áreas florestais, sem prejudicar a natureza.

A conservação das floretas, por ser de interesse global, resulta em preocupações alinhadas a perda da biodiversidade e aquecimento global, questão muito debatida nos últimos anos. Discute-se a respeito da conciliação entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico.

Assim, na economia têm-se duas grandes abordagens teóricas no debate em economia do meio ambiente: economia ambiental e economia ecológica.6

A economia ambiental, baseada nos conceitos neoclássicos, supõe que a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais é improvável primeiro pelo alto grau de substitutibilidade dos fatores de produção. Segundo, porque há o pressuposto de que a tecnologia é capaz de não apenas resolver o problema de declínio da produtividade dos fatores como de ajustar a escala de uso dos recursos.

A economia ecológica, baseada nas leis da termodinâmica, aparece quando se começa a pensar numa harmoniosa compatibilidade entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental.

A origem da economia ecológica incorpora as leis da termodinâmica, em que a matéria ou energia não é destruída, ela apenas sofre transformação, ou seja, é a lei da conservação da matéria, uma vez que nesse processo de transformação de energia disponível em energia não disponível ocorre uma perda da qualidade. Esse processo é também denominado de passagem do estado de baixa entropia para o estado de alta entropia.

A economia ecológica procura se distinguir da economia convencional através da percepção do problema ambiental, estabelecendo importância nas inter-relações entre a economia e o ambiente. Nesse sentido, o presente trabalho busca contribuir nessa discussão por intermédio do estudo do pagamento pelos serviços ambientais aos produtores extrativistas na RESEX Chico Mendes.

6

(21)

2 PAGAMENTOS PELOS SERVIÇOS AMBIENTAIS

Um tema extremamente atual e instigante em torno do debate sobre o desenvolvimento sustentavel na Amazônia refere-se ao Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), instrumento que remunera ou recompensa os produtores protetores das florestas. É uma forma de estimular a conservação, atribuída à exploração sustentável de florestas, contribuindo decisivamente na reprodução social das populações tradicionais, além, claro, do meio ambiente.

Numa perspectiva de formulação de políticas públicas que venham a conformar com o oferecimento de dignas condições econômicas a população extrativista em combinação com a conservação dos recursos naturais, o presente estudo propõe uma alternativa factível de pagamento pelos serviços ambientais promovidos pelas comunidades extrativistas, há mais de um século. Para tanto, busca-se, inicialmente, realizar uma avaliação sócio-econômica da produção familiar rural na RESEX Chico Mendes, que será exposta adiante, no sentido de oferecer uma proposta coerente com as necessidades das famílias estudadas.

Para Negret (2007), tratando-se de famílias que vivem em condições de subsistência na RESEX, apresentando sérias dificuldades para produção e comercialização dos produtos florestais nao madeireiros (PFNM), a iniciativa de compensar os serviços ambientais – prestados gratuitamente pelas famílias produtoras rurais, em virtude da conservação e preservação da floresta – se justifica em termos social e ambiental, melhorando a qualidade de vida.

Destaca-se que

(...) os mecanismos de compensações e prêmios pela conservação e restauração de serviços ambientais podem ser importantes instrumentos para a promoção da sustentabilidade social, ambiental e econômica, sobretudo de populações rurais que habitam áreas estratégicas para a conservação da biodiversidade, a produção de água, a proteção de manaciais e florestas, a produção de alimentos sadios (...). (BORN e TALOCCHI, 2002, apud GUSMÃO, 2003).

Segundo Gusmão (2003), tem-se o pagamento por serviços ambientais como um forte instrumento na consecução do desenvolvimento sustentável, extensivo ao âmbito global, culminando na inclusão e melhoria do bem-estar dos produtores florestais.

O PSA é um tipo de instrumento que, nos últimos anos, vem sendo aplicado cada vez mais como mecanismo de política ambiental que consiste em pagar pelos serviços ambientais

(22)

prestados pela comunidade, seja esta local ou global para compensar uma perda econômica ocasionada pela manutenção desses serviços.

No caso de produtores rurais, o PSA visa motivá-los a incluir os serviços ambientais nas suas tomadas de decisão quanto ao uso do solo à conservação do meio ambiente. Contudo o PSA não substitui as atividades produtivas, mas incentiva ações de conservação nas atividades. (MICOL, et al, 2008)

O PSA constitui-se em um mecanismo de remuneração aos produtores rurais pela conservação das áreas florestais, e prestação de serviços ambientalmente corretos. Leva-se em consideração que os produtores retiram o seu sustento da área de terra que ocupa, por meio da exploração dos recursos florestais. Assim, se idealiza que se deve fazer uso dos recursos naturais de modo racionalmente sustentável, garantindo, desse modo, sustentabilidade para a geração futura. (MICOL, et al 2008)

Assim o pagamento necessário para internalizar, na tomada de decisão dos agentes econômicos locais, os benefícios gerais da conservação das florestas devem compensar o custo de oportunidade de não transformar a floresta em pastos e campos agrícolas, e também de recuperação das áreas em situação degradada. (MICOL, et al, 2008)

Na América Latina, as experiências do mecanismo de PSA para a conservação de florestas indicam que este deve oferecer incentivos adequados aos produtores rurais da localidade envolvida no programa, além de contar com o forte apoio de organismos institucionais que asseguram uma gestão eficiente e um monitoramento adequado. O monitoramento por sua vez deve assegurar a transparência da informação sobre a implantação do PSA, os resultados obtidos nas propriedades contempladas pelo programa e os impactos ambientais e socioeconômicos nas áreas de implantação, e ainda a gestão devera possuir autonomia e profissionalismo tal que mantenha o controle social efetivo.

Como uma forma de promover a conservação ambiental, em 2007 foi lançado, na região Amazônica, o pacto nacional pela valorização da floresta e pelo fim do desmatamento na Amazônia (Pacto). Estabelecendo uma aliança entre o governo e a população com ações que garantam a conservação florestal, e de fato reduza a taxa de desmatamento da Amazônia. O Pacto prevê uma compensação financeira destinado aos que promovem a redução do desmatamento e a manutenção das florestas.

Já vigoram diversas experiências de PSA. O país que tem se destacado na regulamentação e implementação de PSA é Costa Rica, introduzida há cerca de anos como parte do mecanismo da política nacional de conservação, sendo um dos principais

(23)

instrumentos para a manutenção da cobertura florestal, paga aos proprietários por serviço ambientais prestados como proteção dos recursos hídricos e da biodiversidade, etc.

Na Bolívia em 1979 foi criado o parque de ação climática no Parque Noel Kempff Mercado (PACHKM) que em 1997 teve sua área ampliada de 890 mil hectares para 1,5 milhões de hectares. Os objetivos principais do PACHKM e o seqüestre do carbono e a proteção da biodiversidade por meio da compensação para evitar desmatamento.

No Brasil tem-se o Proambiente (programa de desenvolvimento sócio ambiental da produção familiar rural na Amazônia brasileira), que se constitui numa proposta de inclusão social pela economia da conservação, disponibilizando de produção agrícola, de modo que valoriza os produtos naturais e cria alternativas de economia sustentável para reduzir a pobreza.

Micol et al (2008) afirma que “o pagamento por serviços ambientais deve cobrir os custo de oportunidades da manutenção da floresta em pé”, ou seja, a compensação econômica deve ser suficiente para a manutenção das famílias para que estas continuem a prestar um serviço consciente de conservação dos recursos naturais, de modo que as futurais gerações tenham o direito de desfrutar. Isso significa que a floresta e os recursos ambientais, quando conservados e utilizados de forma sustentada, possuem maior valor econômico do que a renda e o produto gerado. O homem tem liberdade para fazer uso do meio ambiente desde que mantenha os serviços e a qualidade dos recursos naturais ao longo do tempo.

A atribuição de valor para os serviços ambientais é uma forma de valorizar o caráter multifuncional de produção e conservação do meio ambiente. Os serviços ambientais estão relacionados com todas as atividades de um sistema de produção, como por exemplo, a recuperação de áreas alteradas, a redução do desmatamento, a filtragem de poluentes pelo ecossistema (absorção de carbono atmosférico), a manutenção de funções hidrológicas (conservação de água e solo), a conservação e preservação da biodiversidade (polinização, reprodução de espécies), etc.

A utilização de incentivos financeiros contribui para adoção de esforços governamentais mais eficazes, no sentido de proteger esses recursos naturais e melhorar a qualidade de vida das populações, mesmo que exista uma dificuldade de implementação dos mecanismos de compensação para evitar os efeitos negativos das ações humanas sobre a natureza, com a minimização dos problemas ambientais e a valorização dos serviços ecológicos prestados pelos bens ambientais.

As dificuldades apontam para a necessidade de se elaborar uma política global, por suposto incluídos outros sistemas de produção e suas particularidades de forma que se possa

(24)

elevar a renda do conjunto dessas populações ao mesmo tempo em que promove a conservação dos recursos naturais.

É importante destacar que para uma eficiente administração do PSA devem-se seguir algumas regulamentações. Deve-se ter bem definido um sistema de monitoramento, valor de pagamento, forma de pagamento e gestão dos recursos.

De acordo com Micol et al (2008), as principais funções do Sistema de monitoramento são: acompanhar a implementação do PSA; verificar os resultados obtidos nas propriedades; avaliar os impactos da implantação do mecanismo, do ponto de vista ambiental e socioeconômico.

Acompanhar as propriedades participantes e não participantes do mecanismo na área, quantificando a área de floresta, monitorar os valores e pagamentos realizados. Esses acompanhamentos devem ocorrer com periódica freqüência. Deve fazer um acompanhamento periódico dos valores da terra e outros indicadores determinantes do seu custo. Faz-se importante periodicamente realizar pesquisa junto aos produtores beneficiados pelo programa a fim de mensurar a eficiência de implantação do mecanismo PSA.

Monitorar o cumprimento das ações firmadas em contrato pelos proprietários (assumidos). Manutenção da cobertura vegetal, ações de recuperação de áreas degradadas e realização de práticas conservacionistas e produtivas (prevenção do fogo, manejo florestal sustentável). Pode-se designar uma equipe especializada aliada com a comunidade para uma ação de verificação e caso detecte-se o não cumprimento implicara em interrupção do pagamento tendo em vista que o pagamento condicionado a efetivação de práticas ambientais conservacionistas e economicamente sustentáveis.

E por fim, analisar os impactos da implantação consiste em mensurar os benefícios ambientais gerados com a sua aplicação e estimar seus impactos socioeconômicos. Quantificar a redução de emissão de carbono, avaliar a conservação da biodiversidade e formação de corredores ecológicos, conservação dos recursos hídricos, entre outros.

No âmbito nacional existem alguns mecanismos de compensação por serviços ambientais, como, por exemplo, a Lei Chico Mendes (Lei Estadual n° 1.277/99) em vigor no Estado do Acre, que paga aos produtores de borracha um subsídio pelos serviços ambientais prestados no valor de R$ 0,70 (setenta centavos) por quilo de borracha comercializada.

No Estado do Amazonas criou-se a Bolsa Floresta, um benefício pago mensalmente às famílias que vivem nas Unidades de Conservação do Estado como uma forma de incentivar

(25)

os produtores a protegerem os recursos florestais objetivando a redução de práticas predatórias ao meio ambiente7

No âmbito internacional, a Costa Rica é um país que tem se destacado na proteção ao meio ambiente e aos recursos naturais, adotando um mecanismo de gestão inovador em que remunera em US$ 64,00 o hectare protegido

A Costa Rica reconhece os seguintes serviços ambientais: diminuição de emissão de gases poluentes; proteção da água para uso urbano, rural ou hidrelétrico; proteção da biodiversidade para sua conservação e uso sustentado, científico e farmacêutico, de investigação e melhoramento genético; a proteção de ecossistemas e de formas de vida; também a beleza natural para fins turísticos e científicos.

Por outro lado, vários trabalhos buscam estimar os valores adequados para a valoração dos recursos ambientais a exemplo de Pearce e Pearce (2001) que revisam ampla bibliografia referente ao tema, classificando os serviços florestais nas categorias florestas tropicais e florestas temperadas, indicando valores para remuneração dos diversos tipos de serviços ambientais. Para os produtos florestais não madeireiros Pearce e Pearce (2001) indicam a recompensa pelos serviços prestados em US$ 50,00/ha.

Desta forma, implantar um programa de remuneração para os serviços ambientais prestados por aqueles que resguardam os cada vez mais restritos fatores ambientais essenciais ao equilíbrio do meio natural, representados desde uma área florestada até o ar livre de gases poluentes, é estratégia válida para garantir a todos uma “válvula de escape” às intervenções humanas sobre o meio natural, garantindo qualidade de vida para o ser humano que também está inserido nesse meio natural.

3 METODOLOGIA

O Objeto do presente estudo é a Reserva Chico Mendes, criada em 1990, com uma área de aproximadamente 970.570 ha (hectares), abrange os municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Epitaciolândia, Rio Branco, Xapuri e Sena Madureira, no Estado do Acre, Brasil com uma população em torno de 1500 famílias (ver gráfico 1). As Unidades de Produção Familiar (UPF) pesquisadas são denominadas colocações e têm em média uma área de 300 ha. A mão-de-obra é basicamente familiar.

7

(26)

3.1 Histórico da RESEX Chico Mendes8

Originalmente a proposta de Reserva Extrativista (RESEX), segundo o Conselho Nacional dos Seringueiros, teve sua gênese na luta pela identidade dos seringueiros, povos que viveram explorados secularmente pelos patrões da borracha nativa na Amazônia. O processo teve inicio em Xapuri, no Estado do Acre, onde Chico Mendes se destacou como liderança, através do Sindicato de Trabalhadores Rurais que era um fato novo na vida do seringueiro e que, canalizando o confronto direto com os pecuaristas ganhou espaço em 1985 no 1° Encontro Nacional dos Seringueiros realizado em Brasília, Distrito Federal, com a participação de 130 seringueiros do Acre, Rondônia, Amazonas e Pará.

O movimento dos seringueiros ganha forma, a partir de experiências vividas por eles que se contrapõem ao modelo de desenvolvimento definido pelo Governo Federal, nos anos

8

Ver: http://www.ibama.gov.br/resex/cmendes/cmendes.htm.

Gráfico 1 – Mapa da RESEX Chico Mendes, Rio Branco-AC

(27)

70, para aquela região. O Programa do Governo Federal, idealizado de cima para baixo, objetivava a implantação de projetos agroflorestais, de mineração, madeireiros e agropecuários cujos resultados geraram violentos conflitos, mortes, grande concentração fundiária, êxodo das populações tradicionais e devastação da região.

A resistente luta dos seringueiros pela terra no Acre adquiriu um sentido amplo composta por vários elementos de difícil separação: o ecológico, sem a floresta não há extrativismo e sem este extrativismo a terra não interessa para os seringueiros; o econômico, permanecer na terra é garantir a sobrevivência e; o sócio-cultural, pois resistir também vai significar o direito de ser extrativista. Percebendo a necessidade de um novo sistema de produção, que preservasse sua cultura e seu modo de vida, então ameaçados.

As particularidades dessa luta são muitas e são dignas de reflexão, uma delas diz respeito à questão agrária e fundiária que se impõe. Os seringueiros já habitavam na floresta tirando dela sua sustentação. Nos anos 70 estavam num processo de mudanças profundas na sua forma de vida, aceleradas pela crise da borracha nativa; muitos seringais foram vendidos para empresários do sul do Brasil que transformaram a floresta em área de pastagem, acabando com o meio de vida dos seringueiros e castanheiros.

Os seringueiros e castanheiros passaram a resistir a essas mudanças e expulsão, e a forma encontrada para isso foi unindo-se em Sindicatos Rurais e organizando os chamados “empates” - uma espécie de luta organizada e pacífica para impedir as derrubadas.

Desse modo dera-se inicio um dos processos de conquista de autonomia dos seringueiros da região do Vale do Acre, que abrange os Municípios de Xapuri, Brasiléia, Rio Branco, Assis Brasil e parte de Sena Madureira.

A permanência na floresta, exigia um modelo de ocupação que respeitasse a distribuição natural das espécies e que permitisse Assentamento Extrativista (PAE's) através da Portaria INCRA/P/No 627, de 30 de julho de 1987. Esse modelo, atendia aos anseios das populações extrativistas no tocante a sua distribuição espacial mas, devido às suas características de reforma agrária, necessitava de tempo para a sua regularização. Comparadas as vantagens e desvantagens desse modelo, optou-se pelo novo modelo “Reserva Extrativista” baseada nos componentes homem e natureza a fim de que ambos sejam conservados.

Nesse modelo de “Reserva Extrativista” as terras pertencem à União, mas com o usufruto dos que nela trabalham ou habitam.

Em 1990, os resultados da luta pela terra são atingidos. O Conselho Nacional dos Seringueiros consegue o espaço para o reconhecimento legal do Governo Federal, de que a

(28)

área proposta para Reserva possuía interesse social, e, pelo Decreto de n 99.144, de 12 de março de 1990, é criada a Reserva Extrativista Chico Mendes.

Em geral, considera-se a RESEX uma proposta de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. E o extrativismo configura-se em uma forma de utilização da floresta conservando-a.

3.2 Localização9

A RESEX Chico Mendes está localizada no Estado do Acre. Com uma área aproximadamente de 970.570 hectares, abrange os municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Xapuri, Sena Madureira e Rio Branco.

O acesso à Reserva pode ser feito por via rodoviária pela BR-317. Essa rodovia, praticamente, contorna a área da Reserva em seu lado Leste-Sul com regular trafegabilidade durante todos os meses do ano.

Por via fluvial, é possível entrar na Reserva pelo Rio Xapuri e afluentes, exceto no período de seca, quando praticamente, não é possível a navegação devido ao baixo nível de água e à formação de enormes bancos de areia. Outro acesso viável é pela parte mais oriental da Reserva, município de Sena Madureira, pelo Rio Iaco e Rio Macauã e seus afluentes.

3.3 Metodologia de avaliação socioeconômica da RESEX Chico Mendes

Para fazer a avaliação sócio-econômica da produção familiar rural na RESEX Chico Mendes trabalha-se com uma metodologia adequada e específica a este tipo de produção, que está sendo consolidada nos últimos nove anos pelo projeto de pesquisa Análise Econômica de Sistemas de Produção Familiar Rural no Estado do Acre, denominado ASPF, desenvolvido pelo Departamento de Economia da UFAC, desde 199610. Destaca-se que o presente trabalho faz parte do referido projeto.

Assim, para a consecução dos objetivos da pesquisa, buscou-se trabalhar a metodologia a partir de indicadores e índices socioeconômicos que, por um lado, levem em

9 Ver http://www.ibama.gov.br/resex/cmendes/cmendes.htm. 10 Ver http://www.ufac.br/projetos/aspf/index.htm

(29)

consideração as peculiaridades da região de estudo e, por outro, sirvam como parâmetros para relacionar as diversas regiões e determinadas formas de organização produtiva dos produtos comercializados, comparando-as entre si e indicando as prioridades de atuação para um efetivo desenvolvimento sócio-econômico sustentável. Portanto, segue uma descrição sucinta da metodologia de pesquisa.

O levantamento dos dados realizou-se por amostragem seguindo o critério de que a residência do produtor na colocação seja superior a dois anos.

A amostra é definida a partir de três etapas:

Estratificação da área de acordo com nível de desenvolvimento (alto, médio ou baixo), tendo como referência os critérios relativos aos volumes de produção, facilidade e qualidade de acesso, disponibilidade de infra-estrutura e assistência técnica, além do grau de organização comunitária;

Sorteio de metade dos conglomerados das áreas de estudo – ramais, no caso de áreas agrícolas, e, os seringais, no caso de áreas extrativistas –, tendo em vista a representatividade dentro de cada estrato definido;

Por fim, dentro de cada conglomerado sorteado, foi realizada uma amostragem aleatória simples, sorteando-se 10% das unidades de produção, que seriam o objeto de estudo.

Utiliza-se como referência para o levantamento das informações, o calendário agrícola da região, definido conjuntamente com as próprias comunidades estudadas, que compreende o período de maio do ano referência a abril do ano seguinte, que engloba o conjunto de atividades econômicas produtivas das famílias. Na presente avaliação considerou-se os anos agrícolas de 1996/1997 e 2005/2006.

A realização da pesquisa foi por levantamento de dados por amostragem, seguindo o critério de que a residência do produtor na colocação seja a mais de dois anos.

Após aplicação dos questionários faz-se uma revisão dos dados levantados observando a coerência das informações contidas nos mesmos. É feito adaptação de códigos, dos quais se faz uso no questionário e algumas conversões caso necessário. É também realizado uma pesquisa de preço nos principais comércios das cidades de Assis Brasil, Brasiléia, Rio Branco, Sena Madureira e Xapuri.

(30)

Então depois de criticados os questionários são digitados em Programa Informatizado do Projeto ASPF11, para que seja produzido relatório contendo as análises socioeconômicas.

Trabalha-se com medidas de resultado econômico, que são indicadores/índices que, dados os custos de produção, permitem medir o desempenho econômico do sistema de produção. Desempenho econômico é a diferença entre os valores de saída e os de entrada, as diversas relações entre valores de saída e de entrada e as flutuações dos valores de saída do sistema de produção.

Os principais indicadores econômicos são sucintamente descritos a seguir:

1) Resultado Bruto

Entende-se por resultado bruto a renda bruta, ou seja, o valor da produção destinada ao mercado, obtido pela fórmula:

Qm.pp RB

sendo: RB = renda bruta Qm = qv + qe

Qm = quantidade do produto destinada ao mercado qv = quantidade do produto vendida

qe = quantidade do produto do exercício em estoque pp = preço unitário ao produtor

2) Resultado Bruto Total

A Renda Bruta Total da UPF é o resultado do somatório da Renda Bruta (RB) da produção com a renda oriunda das transferências de renda (bolsa escola, família etc.) e do assalariamento fora da UPF. A RBT é calculada para o conjunto da UPF e dos membros da família, sendo obtida pela fórmula:

RBT = RB + RT + RA

11

(31)

sendo:

RB = renda bruta

RT = renda das transferências monetárias (municipal, estadual e federal) RA = renda de assalariamento fora da UP

3) Resultados Líquidos

3.1) Renda líquida

É o valor excedente apropriado pela unidade de produção familiar, ou seja, a parte do valor do produto que fica com a unidade de produção familiar depois de serem repostos os valores dos meios de produção, dos meios de consumo e dos serviços (inclusive salários) prestados à produção. Neste sentido, ela não consiste em todo o acréscimo de valor que o produtor familiar faz aos meios de produção e de consumo, uma vez que a maior parte deste é apropriada por intermediários na comercialização dos produtos e na compra de insumos e bens de consumo. É calculada pela fórmula:

DE RB RL

sendo: RL = renda líquida RB = renda bruta DE = despesas efetivas 3.2) Lucro da exploração

É o chamado lucro puro. É a fração da renda bruta que fica disponível depois de o produtor ter pago todos os custos reais, de ter atribuído as remunerações julgadas normais (custos de oportunidade) aos fatores utilizados, mas não pagos: o seu próprio trabalho (executivo e gerencial), o trabalho familiar, os seus próprios capitais; e de ter reservado determinada quantia para fazer face a prováveis riscos. É determinado também para o conjunto da unidade de produção familiar mediante a fórmula:

CT RB LE

sendo: LE = lucro da exploração RB = renda bruta

(32)

CT = custos totais

3.3) Margem bruta

É o valor monetário que fica disponível para a unidade de produção familiar depois de serem pagos ou imputados todos os custos variáveis. É dada pela seguinte fórmula:

CV -RB MB

sendo: RB = renda bruta CV = custos variáveis

3.4) Margem bruta familiar

É o resultado líquido específico e próprio para indicar o valor monetário disponível para a subsistência da família, inclusive uma eventual elevação do nível de vida, se o montante for suficiente. A sua magnitude incorpora a parcela de valor do produto correspondente ao consumo familiar obtida por via do mercado. Em situações favoráveis, poderá ser suficiente para ressarcir custos fixos, especialmente as exigências mínimas de reposição do patrimônio. Cumpridas estas funções, a disponibilidade restante pode ser usada como capital de giro.

É calculada pela fórmula:

Cftf) -(CV -RB MBF

sendo: RB = renda bruta CV = custos variáveis

Cftf = custo real da força de trabalho familiar

3.5) Nível de vida

É a totalidade do valor apropriado pelo produtor familiar, inclusive valores imputados, deduzidas as obrigações financeiras com empréstimos.

AA Cjicc) AC (MBF NV

sendo:

(33)

Cjicc = juros imputados ao capital circulante.

É, portanto, o valor que determina o padrão de vida da família.

4) Medidas de Eficiência ou Relação

4.1) Índice de eficiência econômica

É a relação que indica a capacidade de a unidade de produção familiar gerar valor por unidade de custo. É um indicador de benefício/custo do conjunto da unidade de produção. Sem embargo de ser um índice mais apropriado para mostrar o desempenho de empresas agrícolas patronais, serve como referencial para comparação de desempenho e verificar a possibilidade de as unidades de produção familiares realizarem lucro e, por conseqüência, acumularem. O índice é determinado pela fórmula:

RB/CT IEE

IEE > 1, a situação é de lucro

IEE < 1, a situação é de prejuízo IEE = 1, a situação é de equilíbrio

4.2) Relação MBF/Qh/d

É o índice de remuneração da força de trabalho familiar. Mostra a quantia de margem bruta gerada por unidade de trabalho familiar (1 h/d = 1 jornada de trabalho). O valor deve ser comparado com o preço de mercado da força de trabalho. Será calculado por linha de exploração e para o conjunto da unidade de produção. Qh/d = quantidade de força de trabalho utilizada no ciclo produtivo da linha de exploração ou a quantidade total anual de força de trabalho familiar utilizada pela unidade de produção.

4.3) Termo de intercâmbio

É a relação entre o valor dos bens de consumo comprados e o valor total da produção. O primeiro corresponde ao valor real da força de trabalho familiar. É calculada para o conjunto da unidade de produção familiar por meio da fórmula:

Vbcc/RB

(34)

sendo:

TI = termo de intercâmbio

Vbcc = valor dos bens de consumo comprados

RB = renda bruta total

O termo de intercâmbio indica quantas unidades monetárias de bens de consumo, adquiridos no mercado, a unidade de produção precisa para gerar uma unidade monetária de renda bruta. Em outras palavras, qual a proporção da renda bruta, em bens de consumo, precisa ser gasta para gerar o valor total da produção. Essa relação revela, aproximadamente, em que medida o excedente produzido pelo pequeno produtor está sendo apropriado na circulação, isto é, a montante e a jusante do processo de produção.

5) Linha de Dependência do Mercado

A produção familiar rural depende parcialmente do mercado para a aquisição de produtos ou bens e serviços necessários à sua manutenção, especialmente biológica, pois parte de suas necessidades de consumo são satisfeitas com o autoconsumo e o restante é comprado no mercado.

Assim, define-se como linha de dependência do mercado os valores medianos gastos com o consumo no mercado, adicionado das compras relacionadas à reposição do capital fixo (máquinas, equipamentos, ferramentas, benfeitorias etc.) disponível para a manutenção dos meios de produção existentes.

6) Avaliação estratégica12

Trabalha-se com alguns indicadores que buscam avaliar disponibilidade e o desempenho de ativos, capacitações e estratégias competitivas.

A sustentabilidade dos resultados econômicos da produção familiar rural, além das alternativas produtivas a serem introduzidas nesse ambiente, depende de uma correta avaliação das estratégias competitivas utilizadas pelos produtores, pois a manutenção e/ou implementação das alternativas produtivas dependem do fortalecimento dos recursos

12

(35)

humanos, físicos, financeiros, além dos ativos intangíveis como, por exemplo, a reputação, e das capacitações ou habilidades/serviços oriundos da combinação de tais ativos.

O presente trabalho busca realizar uma avaliação estratégica dos ativos e capacitações disponíveis aos produtores familiares rurais acreanos, como forma de identificar os possíveis gargalos que possam impactar na sustentabilidade das estratégias competitivas promovidas nesse ambiente, no sentido de orientar os gestores do empreendimento acerca dos itens que precisam de uma maior atenção.

Entretanto, Maciel (2007)13 ajustou a coleta de informações sobre os referidos ativos e capacitações adaptando-os ao ambiente rural em torno da produção familiar acreana quanto às origens de vantagens ou desvantagens competitivas, conforme descrito a seguir:

1. Disponibilidade de capital (Próprio) 2. Disponibilidade de capital (Crédito)

3. Liderança em Espaço físico/equipamentos/facilidade de produção 4. Assistência técnica

5. Infra-estrutura (ramais, rio etc.)

6. Acesso a canais de distribuição de baixo custo 7. Acesso a trabalho de baixo custo

8. Flexibilidade para adaptar a novas tendências do mercado e da indústria 9. Pessoas treinadas/capacitadas para a produção dos produtos

10. Pessoas treinadas/capacitadas para a comercialização dos produtos 11. Reputação pela qualidade

12. Diversificação de produtos

13. Característica do produto/diferenciação 14. Conhecimento do negócio

15. Pioneirismo 16. Localização

17. Acesso aos insumos

18. Participação em associações ou cooperativas

13

MACIEL, Raimundo C. G. Certificação Ambiental: uma estratégia para a conservação da floresta amazônica. Campinas: [s.n.], 2007. 175 p. (Tese de Doutorado – Economia Aplicada, IE/UNICAMP). Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000417323>

(36)

Assim, buscando-se avaliar o desempenho dos ativos e habilidades, além das estratégias competitivas, tais como inovação de produto e/ou processo, redução de custos, marketing etc., também ajustadas para o ambiente rural, pode-se agrupá-los em três grupos estratégicos: inovação, qualidade e liderança de custos.

No primeiro grupo se encontram itens, tais como, habilidade em marketing, desenvolvimento de novos produtos/processos, novas formas de comercialização etc. Os itens classificados em relação à qualidade são: habilidade gerencial, pessoas treinadas para o processo produtivo etc. Com relação à liderança de custos, os itens constantes são: disponibilidade de capital, liderança em plantas e equipamentos, acesso a matéria-prima de baixo custo, acesso a trabalho de baixo custo etc.

7) Índice de Desenvolvimento Familiar Rural (IDF-R)

O IDF-R varia entre 0 e 1, o que significa que quanto mais próximo de 1, melhores serão as condições de vida da família.

Representado pela fórmula:

IDF-R = (IV+IE+IC+IT+IR+ID+IH+IA)/8

Sendo,

IV – Índice de ausência de vulnerabilidade IE – Índice de acesso ao ensino

IC – Índice de acesso ao conhecimento profissional e tradicional IT – Índice de acesso ao trabalho

IR – Índice de disponibilidade de recurso ID – Índice de desenvolvimento infantil IH – Índice de condições habitacionais IA – Índice de condições ambientais

O IV será calculado pela fórmula:

IV = [(V1+V2+V3+V4+V5)/5 + (V6+V7)/2 + V8 + (V9+V10)/2]/4

Referências

Documentos relacionados

Também foram realizadas voltametrias cíclicas em eletrólito contendo íons de potássio após a formação do nanocompósito NiHCNFe/CNT para os dois casos

Como não tive coragem de pegar mortos, por ser crime, no IML de Brasília, esperei que Cérbero dormisse e quando estivesse de olhos bem abertos, eu sorrateiramente fui até

Enfatizo as fusas (circuladas) para proporcionar melhor clareza rítmica e balanço sonoro em relação aos ritmos mais longos. As nuances ou inflexões no som também podem ser

Para Taube (1997) o ritmo é identificado pela alternância de impulsos possibilitando movimentos no tempo e no espaço e pode ser um auxílio na

a) Balanços energéticos: as quantidades de ar de combustão e de gases gerados são utilizados para a obtenção do balanço de massa, bem como do balanço energético, sem os quais

 Mistura de herbicidas + Naturamin wsp ( aminoácido a 80% livres) para diminuir estresse causado pelos herbicidas na cultura..  Sequencial de herbicidas + Naturamin wsp para

Pode obter um alívio dos sintomas de refluxo ácido e azia logo após um dia de tratamento com PANTOZOL Control, mas este medicamento não se destina a proporcionar alívio imediato.

A reatividade média dos anticorpos da classe IgG anticoração e antimiosina presentes nos soros dos animais do grupo B não foi tão evidente quanto a observada no primeiro grupo