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A SOCIOLOGIA COMO PROPOSTA DE ADAPTAÇÃO DE HOMENS E MULHERES À SOCIEDADE INDUSTRIAL

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Academic year: 2021

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A SOCIOLOGIA COMO PROPOSTA DE ADAPTAÇÃO DE HOMENS E MULHERES À SOCIEDADE INDUSTRIAL LIMA, Silvia Leni Auras (13) Universidade Federal de Santa Catarina Parte I RESUMO

O interesse em conhecer a história do ensino da Sociologia no secundário partiu de minha experiência como professora neste nível de ensino, bem como da disciplina citada. A intenção é a de buscar, na história da educação brasileira, as influências que a mesma sofreu através de educadores sociólogos que, ao acompanharam ativamente o processo das transformações culturais na sociedade brasileira, propuseram modificações significativas no ensino, ajustando-o ao novo momento que surgiu na década de 30. Este estudo busca saber porque, em certos momentos da história, o ensino da Sociologia no secundário e principalmente naquele que cuidou em preparar o professor primário, no caso os cursos Normal e Complementar, é tido como algo importante. O que se percebe é que através dele, eram transmitidos conceitos e formas de interpretação da sociedade que tinham como princípio despertar entre as pessoas o sentimento de solidariedade e adaptação às novas regras sociais, estimuladas pela Revolução Burguesa no Brasil, e que deveriam se efetivar via educação. O trabalho terá assim, dois pontos importantes a serem destacados: em primeiro lugar a atuação de um intelectual sociólogo, onde a pesquisa buscará levantar a contribuição de Fernando Azevedo, e em segundo lugar, a Sociologia enquanto disciplina no ensino secundário, enfocando o curso normal na década de 30 em Santa Catarina.

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Ao analisarmos o desenvolvimento do conhecimento científico na história, percebemos que a sua construção é marcada pela busca de conhecer e explicar o mundo. O conhecimento, portanto, não permaneceu idêntico ao longo do tempo, exatamente por ser resultado da atividade humana em condições históricas determinadas. Estas condições representam as necessidades postas por homens e mulheres que, no processo de desenvolvimento, se transformam e modificam o meio em que vivem.

As considerações aqui apresentadas, fazem parte de uma pesquisa em andamento, que procura compreender a Sociologia, em sua fase inicial, como uma doutrina e uma prática educativa. Em primeiro lugar, procuramos conhecer o momento histórico em que se puseram as condições para o desenvolvimento da Sociologia ou física social, como campo específico do conhecimento. Trata-se ainda de perceber as influências teóricas que foram fundamentais para o encaminhamento da Sociologia enquanto ciência. Em um segundo momento, procuramos demonstrar como esta ciência, proposta por Augusto Comte, apresenta a forma de conhecer o social: Através da observação "real" dos fatos sociais o conhecimento torna-se racionalmente sistematizado e possibilita prever o futuro. O desenvolvimento das ciências e as novas condições da organização social industrial, demonstram que o futuro da humanidade está determinado para uma convivência "pacífica" e "feliz", desde que exista "ordem" no interior da sociedade.

Neste sentido, percebemos que para a Sociologia não basta apenas conhecer a sociedade industrial do século XIX. Interessa, antes de tudo, apontar a necessidade de adaptação dos indivíduos a mesma. Para que isso se concretize, a Sociologia propõe ações educativas, com a intenção de "reorganizar" o social e buscar a unidade do conhecimento e da humanidade. Esta questão, que estaremos tratando na parte final do trabalho, representa o objetivo principal da pesquisa.

1. AS CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA DA SOCIEDADE

A história do século XIX foi representada por Hobsbawm como a "era dos superlativos". Segundo este historiador, a primeira metade daquele período teria sido "o meio século mais revolucionário da história até hoje registrado" (Hobsbawm, 1994, p. 321). O conhecimento científico difundia-se e dava à ciência lugar privilegiado na história que, através de suas descobertas, facilitou a vida das pessoas. Uma época em que dados estatísticos, mapas e cálculos registravam e tornavam "conhecido o mundo". A população crescia multiplicando as cidades enquanto que a produção industrial atingia números nunca vistos em seu setor. Os dados dos inventos e da produção constavam das estatísticas e deixavam a população extasiada.

O estado de ânimo fora proporcionado pelos movimentos burgueses, representados pelas Revoluções Industrial e Francesa. Esses movimentos romperam uma forma de organização política e econômica e uma unidade social regida pela igreja. Entretanto, a sociedade do início do século XIX, em especial a sociedade francesa, sentia a falta de uma nova moral que substituísse a anterior. Do contrário, o processo

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revolucionário, marcado por movimentos de restauração do poder absolutista, não teria fim.

Além de romper a unidade, as revoluções burguesas foram responsáveis pela emergência da chamada "questão social", resultante do aumento da população urbana-industrial e da nova organização do trabalho. Ao mesmo tempo em que se acreditava no progresso e no triunfo da ciência, percebia-se uma crise latente na sociedade, cada vez mais dividida perante os problemas sociais. Diante disso, os intelectuais do século XIX passaram a discutir as questões sociais e a relacioná-la com a falta de uma nova ordem. A ordem se fazia necessária para que o progresso, percebido como evolução gradual da história, pudesse retomar o seu caminho, interrompido pelo processo revolucionário.

A busca da ordem para o progresso propiciou as condições para o aparecimento da Sociologia como a ciência da sociedade. A Sociologia, enquanto campo específico e delimitado do conhecimento, preocupou-se em conhecer e explicar o período histórico e o tipo social da primeira metade do século XIX.

Neste período, a ciência já se encontrava estabelecida no campo da matemática, da física, da química e da biologia, tornando-se útil no processo do conhecimento e da sua aplicação na indústria.

Diante da constatação dos problemas que envolviam a questão social, alguns estudiosos acreditaram que os métodos empregados pelas ciências naturais, deveriam ser utilizados para o estudo das questões humanas, também naturais. A racionalidade científica, propiciaria aos homens e mulheres, as condições necessárias para controlar os problemas sociais, dando uma nova direção à história para um futuro melhor.

Neste contexto, a sociedade industrial, com toda a sua complexidade, passa a ser o tema preferido das discussões da intelectualidade progressista e romântica do século XIX, principalmente na França. É nela que Augusto Comte (1798-1857), entre outros intelectuais, busca uma unidade para a sociedade industrial. Para ele, os conflitos que caracterizam aquele momento histórico não eram causados pela organização industrial, mas sim, por uma burguesia despreparada para o exercício do poder e da direção social. O conhecimento dos fenômenos sociais, o entendimento das "leis" que organizam a sociedade, apontariam para uma nova unidade para a humanidade. Com uma nova moral, o movimento revolucionário teria fim. O progresso retomaria seu caminho gradual e, naturalmente, "empurraria" homens e mulheres, inexoravelmente, para um futuro melhor.

Augusto Comte apresenta a possibilidade do conhecimento dos fenômenos sociais, elaborado como uma doutrina social científica, uma nova ciência – a física social. Esta ciência deve tratar os fatos sociais como objeto de observação e não como "objetos de admiração ou de crítica". Para Comte, as críticas não auxiliam a unidade espiritual, muito pelo contrário, incitam as revoltas desnecessárias dentro de uma sociedade que apresenta tantas condições favoráveis para o progresso, como o desenvolvimento das ciências naturais, o fim da influência teológica e a organização

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industrial científica. O que precisa, na realidade, é uma doutrina que prepare a humanidade para um objetivo maior, ou seja, preparar o espírito de homens e mulheres para um estado ideal de convivência ao que ele chamou de "estado positivo" da humanidade.

É interessante destacar as principais influências ao pensamento de Comte. Neste sentido, destacamos Saint-Simon (1760-1825) e Condorcet (1743-1794), por considerá-los os incentivadores diretos da doutrina de Comte que apresenta-se embalada pelo ideal de ordem e progresso.

1.2. A BUSCA DA UNIDADE PARA O PROGRESSO DA HUMANIDADE

A idéia de unidade foi uma das preocupações do intelectual francês Saint-Simon, que analisou a história da sociedade humana como uma passagem necessária por períodos críticos e orgânicos. A estabilidade social pós-revolucionária, para ele, só seria alcançada através de uma nova doutrina moral que assegurasse o ideário liberal.

Ao pensar a unidade na sociedade industrial, Saint-Simon colocava que a mesma deveria girar em torno da indústria e da ciência, inspiradas por uma nova moral religiosa, moral esta que se encontrava rompida desde a Reforma. Estas idéias influenciam o pensamento positivista de Augusto Comte, preocupado em restabelecer a ordem social, abalada com os movimentos revolucionários liberais. Segundo Moraes, em um momento de efervescência revolucionária na França, Comte assume, conscientemente, uma atitude "ultraconservadora" juntamente com outros intelectuais da época. Tal atitude é explicada da seguinte maneira: "Descontentes com as mudanças indesejadas e ameaçadoras aos valores tradicionais trazidas pelo avanço burguês, esses pensadores prescreviam a volta à unidade espiritual vivida pela civilização católico-feudal como antídoto para a desordem e anarquia reinantes em seu tempo. A seu ver, somente tal unidade espiritual poderia dar sentido e direção a todas as atividades do gênero humano resgatando assim, a ordem e a organicidade perdidas" (Moraes, 1995, p.111).

Mas não se tratava de resgatar o antigo pensamento teológico dominado pela igreja, e sim substituí-lo pelo conhecimento dos cientistas. Estes seriam os novos "teólogos", que deveriam apresentar propostas para a organização da unidade, no interior da sociedade industrial(14).

Para Saint-Simon, as reformas institucionais deveriam ocorrer através de ações práticas (como um governo administrado pelos industriais), enquanto que para Comte, era necessário antes, "fornecer aos homens novos hábitos de pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo" (ibid., p.10). Pensando assim, a reforma social, para Comte, só seria viável após uma reforma intelectual que resultaria da síntese das ciências até se chegar a uma ciência positiva, útil para toda a humanidade.

No pensamento de Comte, a ordem é a base para o progresso. Neste sentido, recebeu grande influência de Condorcet. Filósofo francês do século XVIII, Condorcet

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escreveu Esboços de Um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, onde conclui que a humanidade se aperfeiçoa no decorrer do tempo, até chegar a uma civilização esclarecida. Se o avanço não se realiza, é porque as instituições e suas leis encontram-se inadequadas para a época. Na sua análise, o progresso apresenta-se como uma "lei", onde a humanidade passaria sucessivamente por vários estágios até chegar a um último, no qual se efetivaria a unidade humana. Os indivíduos deveriam ser preparados física e intelectualmente para compartilhar deste estado de espírito.

Diante destas colocações, podemos apontar as principais bases para o pensamento de Comte: a busca da unidade ou da ordem, o progresso enquanto lei e o estado positivo da humanidade. Estas questões foram reunidas por Comte e presentadas através da filosofia positiva ou o positivismo.

Para que essa filosofia seja compreendida, faz-se necessário entender o que é, na realidade, o "estado positivo" para Comte. Da mesma forma, é preciso ver porque a Sociologia ou física social, apresenta-se como uma necessidade histórica, dirigida para a unidade do conhecimento, manifestando-se como doutrina que indica "como pensar" o real cientificamente.

2. A FILOSOFIA POSIVISTA COMO ÚNICA DOUTRINA PARA ENTENDER O REAL

Comte apresenta a sua filosofia positiva como meio de "reorganização" social, que deverá começar pela maneira de pensar o real. Para ele, o conhecimento dos fatos sociais só podem se proceder de maneira racional científica. A partir do momento em que o real for conhecido, aparecerão, naturalmente, as condições para a reorganização social, chegando-se assim ao "estado positivo". O conhecimento voltado para o "estado positivo" da humanidade deverá se processar através de uma "única filosofia", a filosofia positiva por ele proposta(15).

Comte expõe da seguinte maneira o que é pensar positivamente: em primeiro lugar é reconhecer o "real, em oposição a quimérico"; é saber distinguir o contraste "entre útil e ocioso"; é reconhecer "a oposição entre certeza e indecisão"; substituir o "preciso ao vago" e ainda, aplicar a palavra "positivo como contrária a negativo"(Comte, 1983, pp. 62-63)

Esta é a fórmula de pensar na "verdadeira filosofia moderna", que tem por destino organizar tanto a sociedade como o pensamento, "nunca destruir" o que as filosofias anteriores construíram ao longo do tempo. Antes, "preocupa-se em apreciar historicamente sua influência respectiva, as condições de sua duração e os motivos de sua decadência, sem nunca pronunciar alguma negação absoluta" (Comte, 1983, p.62). Comte explica que nem sempre foi possível pensar positivamente. Isso só é possível no estágio em que se encontra a sociedade, ou seja, na organização industrial.

É importante conhecer como Comte chega a esta afirmação. O positivismo é apresentado por ele como filosofia da história e como proposta de fundamentação e

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classificação das ciências. O desenvolvimento da inteligência dos indivíduos, e na sua totalidade, o desenvolvimento da humanidade, atravessa três estados teóricos diferentes ao que Comte chamou de "lei dos três estados": o teológico, o metafísico e o positivo.

No estado teológico ou fictício as idéias sobrenaturais serviam de laços "às poucas observações isoladas de que a ciência primitiva se compõe" (Comte, 1977, p.90). Os fenômenos investigados na natureza íntima dos seres eram explicados como ação direta e contínua de agentes sobrenaturais. A ciência estaria ainda "no berço", mas seria um princípio necessário do raciocínio, apesar de estar submetido a uma autoridade superior e a verdades absolutas.

No estado teológico o espírito humano passa por três fases diferentes e cada vez mais sistemática: o fetichismo, onde todos os corpos exteriores ( todos os seres naturais) possuem vida espiritual essencialmente análoga à nossa; a politeísta onde ocorre uma profunda transformação em relação ao primeiro estágio, uma vez que a vida espiritual é retirada dos objetos naturais e transportada para seres superiores invisíveis, que passam a interferir sobre os fenômenos exteriores e humanos; a monoteísta, onde a razão passa a dominar cada vez mais a imaginação anterior "mais aparente do que real", possibilitando o desenvolvimento do sentimento universal, uma vez que ocorre a simplificação do domínio sob o social, agora representado por uma só divindade. Por perceber este "progresso" do conhecimento, Comte afirma que o estado teológico, mesmo com sua atividade especulativa, foi "a preparação gradual de um melhor regime lógico" (Comte, 1983, pp. 45-46).

Referências

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