A deputada Maria José Maninha (PSOL-DF) pronuncia o seguinte discurso: senhor Presidente, senhores Deputados, senhoras Deputadas, senhores e senhoras,
Parabenizo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como tema a inclusão das pessoas com deficiência. “Levanta-te, vem para o meio”, o nome dado à campanha, lembra a fala de Jesus Cristo e toca as consciências de todos nós, brasileiros e brasileiras. Felicita-nos ver que há um esforço de
conscientização e que a sociedade caminha para avanços importantes inclusive na área educacional e de formação de jovens.
Hoje, é possível identificar inúmeras obras de literatura infantil voltadas para o entendimento das questões que
envolvem os portadores de deficiências. O próprio cartunista Maurício de Souza incluiu recentemente nas histórias em quadrinhos personagens com deficiências, que estão empolgando meninos e meninas. O pequeno cadeirante Luca chegou como um garoto charmoso que já conquistou o coração de Mônica. A menina Dorinha tem vivido grandes experiências com o cão-guia de cegos Radar.
Em pleno século 21, não é mais possível tolerar situações como a de deficientes físicos que não vão às escolas ou ao trabalho por causa da falta de rampas ou que não
conseguem circular pelas cidades por causa das muitas barreiras arquitetônicas.
Inúmeros são os exemplos de que o deficiente pode, sim, atuar de forma ativa na sociedade, produzir e transformar a realidade a seu redor. É o que faz, por exemplo, a publicitária Mara Gabrili, secretária municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida de São Paulo. Depois de sofrer um
acidente, Mara ficou tetraplégica. Desde então, como diz a
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3Revista TPM, onde ela é articulista, não parou mais de se mexer. E quanto mais produz, mais consegue superar suas limitações e progredir no tratamento de saúde.
Mara desenvolveu um site interessante para a sua ONG, a Projeto Próximo Passo, que faz um bom barulho na Internet, inclusive trazendo à tona todas as discussões com relação à terapia de células-tronco no Brasil.
Ao escrever seus textos na revista TPM, Mara nos mostra como é seu dia-a-dia, seus anseios, torna público o fato de pensar em se casar, ter filhos. Traz para perto dos leitores de todo o Brasil o tema deficiência e mostra de forma inteligente como lidar com ele.
Estima-se hoje, senhores e senhoras, que há 500 milhões de pessoas no mundo com alguma deficiência. Segundo a
Organização Mundial de Saúde, cerca de 50% dos
deficientes mentais estão nos países em desenvolvimento. Na América Latina, de acordo com o Banco Mundial, 10% das pessoas são afetadas por alguma deficiência.
O tema tem sido amplamente discutido nesta Casa. Um grupo de trabalho do Congresso Nacional preocupou-se em adequar as instalações físicas. Rampas, calçadas e
elevadores foram modificados, programas de computador implementados. Exemplo importante de um Parlamento, onde há centenas de projetos tramitando, os quais buscam
melhorar o dia-a-dia e as vidas de 27 milhões de pessoas em todo o país, ou seja 14,4% da população. Assim mesmo, para presidir esta sessão o deputado Leonardo Mattos (PV-MG), que é cadeirante, encontrou várias dificuldades para chegar até á Mesa.
Não há como tapar o sol com a peneira. Apesar de todo o
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3conhecimento que temos, ainda impera em muitas regiões deste país a exclusão e o preconceito. Conversando com cadeirantes que praticam esportes como basquete e tênis soube que muitos colecionam histórias de amigos ou
conhecidos que não saem de dentro de casa por não ter acesso às inovações tecnológicas ou até mesmo por não terem como comprar uma cadeira de rodas do modelo mais simples.
Muitos absurdos são destacados. De acordo com a
Sociedade Brasileira de Oftalmologia, existem 1,1 milhão de deficientes visuais no Brasil. Para todos eles, no entanto, há apenas 30 cães-guias de cegos registrados. Ora, tal
realidade mostra que projetos precisam ser implementados e recursos precisam ser liberados para que se tornem
realidade. Investir em políticas públicas que melhorem a vida dos deficientes é prioridade.
Governo e sociedade civil organizada tem que trabalhar com parcerias. Um exemplo: no Distrito Federal. temos canil
particular interessado em se especializar no treinamento de cães-guias de cegos. O dono do canil queria desenvolver importante projeto em Brasília, mas não conseguiu apoio financeiro para viajar ao Canadá e se preparar, trazer o conhecimento ao Brasil.
Sabemos que oficiais do Corpo de Bombeiros já viajaram para países como o Canadá, onde há especialização no assunto. Mas para que coloquem em prática o que
aprenderam, precisam que a formação de treinadores de cães-guias de cego seja uma prioridade. Faltam políticas que apontem esta prioridade. É aí que a Campanha da
Fraternidade é fundamental: trazendo o tema para o centro das discussões.
Precisamos votar o mais brevemente possível o projeto do
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3senador Paulo Paim, o Estatudo da Pessoa com Deficiência. Tomei o cuidado de conversar, ontem, com algumas escolas do Distrito Federal que recebem alunos deficientes. De pelo menos duas recebi notícias preocupantes. No Centro de Ensino Especial 02, da Ceilândia, há problemas que vão desde a falta de colchonetes e fraldas descartáveis até a falta de peças e equipamentos na oficina de marcenaria. Na Escola Especial de Planaltina, ouvimos da vice-diretora que as dificuldades começam pelas rampas, as quais não são adequadas. Foram construídas, mas a inclinação não é a correta para atender aos alunos cadeirantes. Ou seja, se
nada servem.
De acordo com funcionária da escola, o prédio não foi projetado para atender aos deficientes de Planaltina e do Entorno. Como antes aquela era uma escola classe padrão, sofreu mudanças superficiais que não resolveram a
totalidade dos problemas. Resultado: por causa dos
improvisos, as salas sequer estão comportando a grande demanda de alunos. Atualmente há 374 estudantes
matriculados e novas matrículas não podem mais ser aceitas. A escola também se ressente com a falta de cursos de
reciclagem, os quais são oferecidos somente no Plano Piloto. Com toda a dificuldade, no entanto, gostaria de registrar aqui, a Escola Especial de Planaltina colocou recentemente 14 alunos no mercado de trabalho. Observo assim, que com políticas públicas definidas, o Estatuto da Pessoa com Deficiência votado e a sociedade motivada por campanhas como esta da Fraternidade grandes avanços podem ser alcançados.
Gostaria de me colocar à disposição de todos e dizer que
meu gabinete está pronto para receber sugestões e para
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3trabalhar de maneira a aprovar o Estatuto do Deficiente o mais brevemente possível.