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APLICABILIDADE DA SEÇÃO 22 DO artigo VI DA CONVENÇÃO SOBRE OS PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DAS NAÇÕES UNIDAS (1989)

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APLICABILIDADE DA SEÇÃO 22 DO artigo VI DA CONVENÇÃO SOBRE OS PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DAS NAÇÕES UNIDAS

(1989) 21. Parecer Consultivo de 15 de dezembro de 1989

A Corte proferiu unanimemente um parecer consultivo sobre a questão da aplicabilidade da seção 22 do artigo VI da Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas. Este parecer foi demandado pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas nos termos de sua Resolução 1989/75 de 24 de maio de 1989, cujo texto integral é o seguinte:

“O Conselho Econômico e Social,

Tendo examinado a Resolução 1988/37 da Subcomissão de Luta Contra as Medidas Discriminatórias e da Proteção de Minorias, de 1º de setembro de 1988, e a Resolução 1989/37 da Comissão de Direitos Humanos, de 6 de março de 1989,

1. Concluiu que uma divergência de pontos de vista surgiu entre a Organização das Nações Unidas e o governo da Romênia quanto à aplicabilidade da Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas no caso do Sr. Dumitru Mazilu, em sua qualidade de relator especial da Subcomissão de Luta Contra as Medidas Discriminatórias e da Proteção de Minorias;

2. Demanda à Corte Internacional de Justiça, a título prioritário, em aplicação do parágrafo 2º do artigo 96 da Carta das Nações Unidas e conforme a Resolução 89 (I) da Assembléia Geral de 11 de dezembro de 1946, um parecer consultivo sobre a questão jurídica da aplicabilidade da seção 22 do artigo VI da Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas no caso do Sr. Dumitru Mazilu em sua qualidade de relator especial da Subcomissão.”

Em resposta à questão apresentada, a Corte expressou a opinião de que a seção 22 do artigo VI da Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas é aplicável no caso do Sr. Dumitru Mazilu em sua qualidade de relator especial da Subcomissão de Luta Contra as Medidas Discriminatórias e da Proteção de Minorias.

A Corte estava composta da seguinte maneira: Presidente Ruda, juízes Lachs, Elias, Oda, Ago, Schwebel, Sir Robert Jennings, Bedjaoui, Ni, Evensen, Tarassov, Guillaume, Shahabuddeen, e Pathak.

Os juízes Oda, Evensen e Shahabuddeen anexaram ao parecer consultivo a exposição de suas opiniões individuais.

I. Revisão do procedimento e exposição dos fatos (parágrafo 1º ao 26)

A Corte relembrou as etapas do procedimento (parágrafo 1º ao 8º) e depois resumiu os fatos do presente caso (parágrafo 9º ao 26).

Em 13 de março de 1984, a Comissão de Direitos Humanos - órgão subsidiário do Conselho Econômico e Social (doravante denominado “Conselho”), criado por este em 1946, conforme os artigos 55, c) e 68 da Carta das Nações Unidas -, através de proposição da Romênia, elegeu o Sr. Dumitru Mazilu, cidadão romeno, na qualidade de membro da Subcomissão de Luta Contra as Medidas Discriminatórias e da Proteção de Minorias - órgão subsidiário da Comissão de Direitos Humanos (doravante denominada “Comissão”), instituída por esta em 1947 -, para um mandato de três anos com prazo de expiração em 31 de dezembro de 1986. Como a Comissão demandou à Subcomissão de Luta Contra as Medidas Discriminatórias e da Proteção de Minorias (doravante denominada “Subcomissão”), prestar a devida atenção ao papel dos jovens no domínio dos direitos humanos, a Subcomissão, em sua 38ª sessão, adotou, em 29 de agosto de 1985, a Resolução 1985/12 confiando ao Sr. Mazilu a tarefa “de preparar um relatório sobre os direitos humanos e a

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juventude analisando os esforços e medidas próprias a assegurar a implementação e o gozo dos direitos humanos pelos jovens, em particular os direitos à vida, à educação e ao trabalho”, e demandou ao Secretário Geral que lhe fornecesse toda a assistência necessária para a realização de sua tarefa.

A 39ª sessão da Subcomissão, na qual o relatório do Sr. Mazilu deveria ser apresentado, não ocorreu em 1986 como inicialmente estava previsto e o relatório foi apresentado em 1987. O mandato de três anos dos membros da Subcomissão – que deveria normalmente expirar em 31 de dezembro de 1986 – foi prorrogado por um ano pela Decisão 1987/102 do Conselho. No momento da abertura da 39ª sessão da Subcomissão em Genebra, em 10 de agosto de 1987, nenhum relatório foi recebido do Sr. Mazilu, que nem mesmo estava presente. Por uma carta recebida pelo Escritório das Nações Unidas em Genebra em 12 de agosto de 1987, a Missão Permanente da Romênia inscrita no referido Escritório informou a este que o Sr. Mazilu fora vítima de uma crise cardíaca e que ainda estava hospitalizado; segundo a exposição escrita apresentada à Corte pelo Secretário Geral, um telegrama assinado “Sr. Mazilu” foi recebido em Genebra em 18 de agosto 1987, fazendo saber à Subcomissão de sua impossibilidade, em razão de sua doença cardíaca, de comparecer à sessão em curso. Nestas condições, a Subcomissão adotou a Decisão 1987/112 de 4 de setembro de 1987, pela qual reportava à sua 40ª sessão, prevista para 1988, o exame do ponto 14 de sua ordem do dia, no quadro da qual o relatório sobre os direitos humanos e a juventude deveria ser examinado. Não obstante o fato do mandato do Sr. Mazilu, enquanto membro da Subcomissão, expirar em 31 de dezembro de 1987, a Subcomissão mencionou, na ordem do dia provisória de sua 40ª sessão, um relatório que este último, identificado pelo nome, deveria apresentar sob o ponto da ordem do dia intitulado “Prevenção da discriminação e proteção da criança”; ela mencionou o relatório sob o título “os direitos humanos e a juventude” na “Lista de estudos e relatórios confiados aos membros da Subcomissão de acordo com decisão dos órgãos deliberativos”.

Depois da 39ª sessão da Subcomissão, o Centro de Direitos Humanos do Secretariado das Nações Unidas em Genebra realizou várias tentativas para entrar em contato com o Sr. Mazilu e assisti-lo na preparação de seu relatório, incluindo a organização de sua visita a Genebra. Em dezembro de 1987, o Sr. Mazilu informou ao Secretário Geral Adjunto para os Direitos Humanos que não havia recebido as comunicações que lhe haviam sido anteriormente endereçadas pelo Centro. Em janeiro de 1988 o Sr. Mazilu informou ao mesmo secretário que havia sido hospitalizado duas vezes em 1987, e que havia sido forçado a se aposentar a partir de 1º de dezembro de 1987, abandonando suas diversas funções oficiais. Declarou igualmente estar disposto a viajar a Genebra para consulta, mas que as autoridades romenas lhe estavam negando uma autorização de viagem. Em abril e maio de 1988, o Sr. Mazilu, em diversas cartas, apresentou detalhes suplementares sobre sua situação pessoal; em particular, afirmou ter recusado uma demanda que lhe foi feita em 22 de fevereiro em 1988 por uma comissão especial do Ministério Romeno de Relações Exteriores para renunciar voluntariamente a apresentar o seu relatório à Subcomissão e se queixou de ter sofrido, bem como sua família, enorme pressão.

Em 31 de dezembro de 1987, o mandato de todos os membros da Subcomissão, incluindo o do Sr. Mazilu, expirou, conforme exposto acima. Em 29 de fevereiro de 1988, a Comissão elegeu, com base em proposição de seus respectivos governos, os novos membros da Subcomissão, dentre os quais, o cidadão romeno Ion Diaconu.

Todos os relatores e relatores especiais da Subcomissão foram convidados a participar de sua 40ª sessão (8 de agosto a 2 de setembro de 1988), mas o Sr. Mazilu não compareceu. Um convite especial para comparecer em Genebra para apresentar seu relatório foi enviado ao Sr. Mazilu, mas os telegramas não lhe foram entregues e o Centro de Informação das Nações Unidas em Bucareste não obteve sucesso em encontrar o Sr. Mazilu. Em 15 de agosto de 1988, a Subcomissão adotou a Decisão 1988/102, na qual demanda ao Secretário Geral “estabelecer contato com o governo da Romênia, chamar sua atenção para o fato de que a Subcomissão tem a urgente necessidade de estabelecer contato pessoal com seu relator especial, o Sr. Dumitru Mazilu, requerer assistência do governo para localizar o Sr. Mazilu e intermediar uma visita de um membro da Subcomissão e do secretariado a ele para ajudá-lo na realização de seus estudos sobre direitos humanos e a juventude, se ele assim desejar”.

O Secretário Geral Adjunto para Direitos Humanos informou à Subcomissão, em 17 de agosto de 1988, que durante contato entre o Escritório do Secretário Geral e o Chargé d’affaires da Missão Permanente

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da Romênia na ONU em Nova York, este último havia indicado que a posição de seu governo era de que qualquer intervenção do secretariado da Organização ou qualquer forma de investigação em Bucareste seria considerada como uma interferência nos assuntos internos da Romênia. Em 1º de setembro de 1988, a Subcomissão adotou a Resolução 1988/37 pela qual, inter alia, requer ao Secretário Geral realizar novos contatos com o governo romeno e invocar a aplicabilidade da Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas (doravante denominada “Convenção Geral”); e demandou ainda, caso o governo romeno não concorra para a aplicabilidade das disposições da dita convenção no presente caso, levar esta divergência de pontos de vista entre as Nações Unidas e a Romênia imediatamente à atenção da Comissão em 1989; e demandou à Comissão, nesta última hipótese requisitar ao Conselho que solicite “da Corte Internacional de Justiça, de acordo com a resolução 89 (I) da Assembléia Geral de 11 de dezembro de 1946, um parecer consultivo sobre a aplicabilidade das disposições pertinentes da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas no presente caso e no quadro da presente resolução”.

Em conformidade com esta resolução, o Secretário Geral, em 26 de outubro de 1988, endereçou ao Representante Permanente da Romênia na ONU em Nova York uma nota verbal na qual invocou a Convenção Geral no que diz respeito ao Sr. Mazilu e demandou ao governo romeno conceder a este as facilidades necessárias para que possa cumprir a tarefa que lhe foi confiada. Como esta nota verbal não teve resposta, o Secretário Geral Adjunto para Direitos Humanos endereçou, em 19 de dezembro de1988, uma carta ao Representante Permanente da Romênia na ONU em Genebra na qual ele demandava ao governo romeno prestar ajuda para permitir ao Sr. Mazilu visitar Genebra para poder discutir com o Centro de Direitos Humanos a assistência que este poderia conceder na preparação de seu relatório. Em 6 de janeiro de 1989, o Representante Permanente da Romênia enviou ao Conselheiro Jurídico da Organização um aide mémoire no qual a posição do governo romeno concernente ao Sr. Mazilu estava definida. No que tange aos fatos do caso, a Romênia declarou que o Sr. Mazilu, que não havia produzido nem elaborado nada a respeito do tema que lhe foi confiado, veio a se encontrar seriamente doente em 1987; que ele teve que ser hospitalizado em diversas ocasiões; que ele, por sua própria demanda, teve que solicitar aposentadoria devido à sua doença, por uma duração inicial de um ano, após ser examinado por uma comissão médica, em conformidade com a lei romena; e que esta aposentadoria, após novo exame do interessado por uma comissão similar, havia sido prolongada. Quanto ao direito, a Romênia sustentou que “o problema da aplicação da Convenção Geral ... não se coloca neste caso”. Ela explicou, particularmente, que a Convenção não assimila os relatores, cujas atividades são apenas ocasionais, aos peritos em missão para as Nações Unidas; que mesmo se fosse parcialmente atribuído aos relatores o status de peritos, eles somente poderiam se beneficiar de imunidades e privilégios funcionais; que os privilégios e imunidades previstos pela Convenção somente vigoram no momento em que o perito realiza uma viagem relacionada ao cumprimento de sua missão; e que no país em que é nacional, um perito só goza de privilégios e imunidades no que se relaciona ao conteúdo da atividade que desenvolve no quadro de sua missão. Ademais, a Romênia expressamente declarou sua oposição à apresentação à Corte de qualquer demanda de parecer sobre o caso. Um ponto de vista similar foi defendido na exposição escrita que a Romênia apresentou à Corte.

Em 6 de março de 1989 a Comissão adotou sua Resolução 1989/37 recomendando ao Conselho demandar à Corte um parecer consultivo. Em 24 de maio de 1989 o Conselho adotou sua Resolução 1989/75, pela qual demanda um parecer à Corte.

O Secretário Geral também informou à Corte certos fatos ocorridos posteriormente à apresentação da demanda por um parecer consultivo. Um relatório sobre os direitos humanos e a juventude, preparado pelo Sr. Mazilu, foi distribuído como um documento da Subcomissão datado de 10 de julho de 1989; o texto deste relatório foi transmitido pelo Sr. Mazilu ao Centro de Direitos Humanos por diversas vias. Em 8 de agosto de 1989, a Subcomissão decidiu, conforme sua prática, convidar o Sr. Mazilu a participar das Sessões que seriam consagradas ao estudo do seu relatório: nenhuma resposta a este convite foi recebida. Em uma nota verbal de 15 de agosto de 1989 endereçada ao Escritório das Nações Unidas em Genebra, a Missão Permanente da Romênia inscrita neste Escritório, referindo-se ao “auto intitulado relatório” do Sr. Mazilu, declarou-se surpresa pelo fato de que “os pareceres médicos postos à disposição do Centro de Direitos Humanos... foram ignorados” e indicou, inter alia, que desde que ficou doente, em 1987 o Sr. Mazilu não dispunha de "capacidade intelectual necessária para fazer uma análise objetiva responsável e sem preconceitos que pudesse constituir o objeto de um relatório de acordo com as exigências da Organização das Nações Unidas”. Em 1º de setembro de 1989, a Subcomissão adotou a Resolução 1989/45 intitulada “Relatório do Sr. Dumitru

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Mazilu sobre os direitos humanos e a juventude”, pela qual, notando que o relatório do Sr. Mazilu havia sido preparado em condições difíceis e que a informação pertinente reunida pelo Secretário Geral não parecia ter sido enviada a ele, requisitou ao Sr. Mazilu apresentar o seu relatório pessoalmente na sua próxima sessão, e requisitou igualmente ao Secretário Geral continuar fornecendo ao Sr. Mazilu toda a assistência necessária para que ele pudesse atualizar o seu relatório, incluindo consultas com o Centro de Direitos Humanos. II. A Questão submetida à Corte (parágrafo 27)

A Corte relembrou os termos da questão que lhe foi submetida pelo Conselho. Ela apontou que em sua exposição escrita, o Secretário Geral enfatizou que a demanda do Conselho estava relacionada à aplicabilidade da seção 22 da Convenção Geral no caso do Sr. Mazilu, mas “não às conseqüências desta aplicabilidade, isto é, a natureza dos privilégios e imunidades dos quais o Sr. Mazilu poderia se beneficiar em conseqüência de seu status e a questão de saber se houve violação destes privilégios e imunidades”. A Corte notou que na audiência o representante do Secretário Geral declarou que era sugestiva a intenção do Conselho que, tendo se referido a uma “divergência de pontos de vista”, “não procurou, ao submeter a questão à Corte, que esta divergência fosse totalmente resolvida”, mas, ao contrário, havia “simplesmente encaminhado uma questão jurídica preliminar à Corte”.

III. Competência da Corte para proferir um parecer consultivo (parágrafo 28 ao 36)

A Corte inicialmente apontou que a demanda por um parecer consultivo foi a primeira demanda formulada pelo Conselho em virtude do parágrafo 2º do artigo 96 da Carta das Nações Unidas. Ela constatou em seguida que, conforme esta disposição, a Assembléia Geral autorizou o Conselho por sua Resolução 89 (I) de 11 de dezembro de 1946, a demandar à Corte pareceres consultivos sobre questões jurídicas que se inserem no quadro de sua atividade. Enfim, examinando a questão que foi objeto da demanda, a Corte estimou, por um lado, que se tratava de uma questão jurídica enquanto implicava a interpretação de uma convenção internacional a fim de determinar sua aplicabilidade e, de outro lado, que se tratava de uma questão que se coloca no quadro da atividade do Conselho dado que a tarefa confiada ao Sr. Mazilu referia-se a uma função e a um programa do Conselho e que a Subcomissão, da qual o Sr. Mazilu foi nomeado relator especial, é um órgão subsidiário da Comissão que, por sua parte, é um órgão subsidiário do Conselho.

Entretanto, tendo a Romênia contestado a competência da Corte para proferir um parecer consultivo para o presente caso, a Corte teve que analisar seus argumentos. A Romênia afirma que, em razão da reserva feita à seção 30 da Convenção Geral, uma demanda por parecer consultivo não poderia, sem seu consentimento, ser apresentada pela Organização das Nações Unidas em relação a uma controvérsia desta com ela. A reserva, de acordo com seus argumentos, subordina a competência da Corte para “examinar qualquer controvérsia surgida entre a Organização das Nações Unidas e a Romênia, incluindo uma disputa inserida no quadro de um procedimento consultivo”, ao consentimento das partes na disputa. A Romênia fez observar que não havia consentido, no presente caso, que um parecer fosse demandado à Corte.

Nos termos da seção 30 da Convenção Geral:

“Qualquer contra-memorial relacionado à interpretação ou aplicação da presente convenção será levado à Corte Internacional de Justiça a menos que, em um determinado caso, as partes concordem em recorrer a um outro modo de solução de controvérsias. Se uma diferença surgir entre a Organização das Nações Unidas, de uma parte, e um membro, de outra, um parecer consultivo sobre toda a questão de direito levantada será demandado em conformidade com o artigo 96 da Carta e o artigo 65 do Estatuto da Corte. O parecer da Corte será aceito pelas partes como decisivo.”

A reserva contida no instrumento de adesão da Romênia à Convenção mencionada dispõe:

“A República Popular da Romênia não se considera vinculada pelas disposições da seção 30 da Convenção, em virtude das quais a jurisdição da Corte Internacional de Justiça é obrigatória em caso de contra-memorial sobre a interpretação ou aplicação da Convenção; no que diz respeito à competência da Corte Internacional de Justiça nas controvérsias surgidas em tais casos, a posição da República Popular da Romênia é a de que, para a submissão de qualquer controvérsia à regulamentação da Corte, é necessário, a

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cada vez, ter o consentimento de todas as partes da diferença. Esta reserva se aplica igualmente às disposições contidas na mesma seção, segundo as quais o parecer consultivo da Corte Internacional deve ser aceito como decisivo.”

A Corte relembrou em primeiro lugar, referindo-se à sua jurisprudência anterior, que o consentimento dos Estados não condiciona sua competência em virtude dos artigos 96 da Carta e 65 do Estatuto para proferir pareceres consultivos – não obrigatórios – com o objetivo de esclarecer a Organização das Nações Unidas; tal fato se aplica mesmo quando a demanda por um parecer está relacionada a uma questão jurídica pendente entre a Organização das Nações Unidas e um Estado-membro. A Corte observou em segundo lugar que a seção 30 da Convenção Geral opera em um plano e contexto diferentes daqueles do artigo 96 da Carta; uma leitura global desta seção mostra claramente que seu objeto constitui-se em estabelecer um mecanismo de solução de controvérsias. Se a Corte fosse acionada por uma demanda por parecer consultivo com base na seção 30, teria naturalmente que levar em consideração as reservas feitas a esta seção por uma parte da controvérsia. Contudo, no presente caso, a Corte relembrou que a resolução do Conselho não continha nenhuma referência à seção 30 e considerou ser evidente no dossiê que, em vista da existência de uma reserva romena, não era intenção do Conselho invocar esta seção. A Corte concluiu que a demanda não foi apresentada em virtude da seção 30 e que, portanto não tem que se pronunciar sobre o efeito da reserva romena a esta disposição.

Entretanto, a Romênia sustentou, inter alia, que:

“Se for aceito que um Estado-parte na Convenção ou a Organização das Nações Unidas possa demandar que as controvérsias relativas à aplicação ou interpretação da Convenção sejam levadas perante a Corte com base em outro fundamento que não as disposições da seção 30 da Convenção, tal fato romperia a unidade da mesma, por separar as disposições substantivas daquelas relacionadas à solução de controvérsias, o que seria o mesmo que modificar o conteúdo e o alcance das obrigações assumidas pelos Estados quando consentiram ser vinculados pela Convenção.”

A Corte relembrou que o presente processo, tendo em vista sua natureza e seu objeto, visa demandar um parecer sobre a aplicabilidade de uma parte da Convenção Geral e não a levar uma controvérsia perante a Corte para a sua solução; ela acrescentou que “o conteúdo e alcance das obrigações assumidas pelos Estados” – e em particular pela Romênia – a partir do momento em que consentiram ser vinculados pela Convenção” não são modificados pela demanda por parecer apresentada à Corte nem pelo parecer consultivo proferido em conseqüência desta demanda.

A Corte decidiu, finalmente, que a reserva feita pela Romênia à seção 30 da Convenção Geral não afeta a sua competência para conhecer da demanda que lhe foi submetida.

IV. Oportunidade para proferir um parecer (parágrafo 37 ao 39)

Mesmo se a falta de consentimento da Romênia ao processo iniciado perante a Corte não tiver nenhum efeito sobre a sua competência, a Corte estima dever examinar esta questão para determinar se é oportuno proferir seu parecer. Com efeito, a Corte reconheceu em sua jurisprudência anterior, que “a falta de consentimento de um Estado interessado pode, em certas circunstâncias, tornar o pronunciamento de um parecer consultivo incompatível com o caráter judicial da Corte” e precisou que “tal seria o caso se os fatos mostrassem que aceitar responder à demanda teria por efeito frustrar o princípio de que um Estado não é obrigado a submeter suas controvérsias a uma solução judicial sem o seu consentimento”. A Corte considerou que no presente caso responder à demanda não teria tal efeito. Dessa forma, em sua Resolução 1989/75, o Conselho concluiu que uma diferença de pontos de vista surgiu entre a ONU e o governo da Romênia quanto à aplicabilidade da Convenção no caso do Sr. Mazilu. Mas para a Corte, esta diferença de opiniões e a questão que lhe foi apresentada a este respeito não deveriam ser confundidas com a controvérsia entre as Nações Unidas e a Romênia a respeito da aplicação da Convenção Geral no caso do Sr. Mazilu. Em conseqüência, a Corte, na ausência de “razões decisivas” para recusar um parecer consultivo, decidiu responder à questão jurídica sobre a qual um parecer consultivo lhe foi demandado.

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V. Determinação do sentido da seção 22 do artigo VI da Convenção Geral (parágrafo 40 ao 52)

A Convenção Geral contém um artigo VI intitulado “peritos em missão para a Organização das Nações Unidas”, dividido em duas seções. A seção 22 dispõe:

“Os peritos (com exclusão dos funcionários referidos no artigo V) que se encontrem no desempenho de missões para a Organização das Nações Unidas gozam, durante o período de duração da missão, incluindo o tempo da viagem, dos privilégios e imunidades necessários ao exercício das suas funções com total independência. Gozam em especial dos privilégios e imunidades seguintes:

a) Imunidade de prisão ou de detenção da sua pessoa e de apreensão das suas bagagens pessoais; b) Imunidade de qualquer procedimento judicial no que diz respeito aos atos por eles praticados no

decurso das suas missões (incluindo as suas palavras e escritos). Esta imunidade continuará a ser-lhes concedida mesmo depois de estas pessoas terem cessado de desempenhar missões para a Organização das Nações Unidas;

c) Inviolabilidade de todos os papéis e documentos;

d) Direito de fazer uso de códigos e de receber documentos e correspondência por correio ou por malas seladas, para as suas comunicações com a Organização das Nações Unidas;

e) As mesmas facilidades, no que diz respeito às regulamentações monetárias ou de câmbio, que são concedidas aos representantes de governos estrangeiros em missão oficial temporária;

f) As mesmas imunidades e facilidades, no que diz respeito às suas bagagens pessoais, que são concedidas aos Agentes diplomáticos.”

A Corte inicialmente considerou o que deveria ser entendido por “peritos em missão” no sentido da seção 22. Ela constatou que a Convenção Geral não dava nenhuma definição de “peritos em missão”. Das disposições da seção 22 fica claro que, por um lado, os funcionários da Organização, mesmo se escolhidos em razão de sua competência técnica em uma área determinada, não entram na categoria de peritos no sentido deste texto e, por outro, que só os peritos em missão para a Organização estão cobertos pela seção 22. Mas esta seção não fornece nenhuma indicação sobre a natureza, a duração ou o local destas missões. Os trabalhos preparatórios são pouco instrutivos a este respeito. Para a Corte, o objetivo da seção 22 não é menos evidente, a saber, permitir às Nações Unidas confiar missões a pessoas que não possuem a qualidade de funcionários da Organização e garantir-lhes, em cada caso particular, os “privilégios e imunidades necessários para exercer suas funções com independência”. A Corte observou que, na prática, e segundo as informações fornecidas pelo Secretário Geral, as Nações Unidas tiveram a ocasião de confiar missões – cada vez mais variadas – a pessoas que não possuem a qualidade de funcionários da Organização. Tais pessoas foram encarregadas das tarefas de mediações, de preparação de relatórios, de elaboração de estudos, de realização de pesquisas ou de coleta e estabelecimento de fatos. Ademais, vários comitês, comissões ou organismos similares, cujos membros são designados não como representantes de Estados, mas a título pessoal, foram constituídos no seio da Organização. Em todos estes casos, a prática das Nações Unidas demonstra que as pessoas assim designadas, e em particular os membros destes comitês ou comissões, são vistos como peritos em missão no sentido da seção 22.

Em seguida, a Corte se questionou acerca do sentido das palavras “durante o período desta missão, incluindo o tempo da viagem”, que figuram nesta seção. A questão que se coloca seria a de saber se os “peritos em missão” estão cobertos unicamente pela seção 22 no curso das missões que requerem viagens ou se igualmente o são na ausência de qualquer deslocamento. Para responder a esta questão, pareceu necessário à Corte precisar o sentido das palavras mission em francês e mission em inglês, as duas línguas nas quais a Convenção Geral foi adotada. Inicialmente, este termo somente qualificava a tarefa de uma pessoa quando esta fosse enviada a algum lugar para cumpri-la. Mas ela há muito adquiriu um sentido mais amplo e atualmente cobre de maneira geral as tarefas confiadas a uma pessoa, tarefas que podem ou não implicar em

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deslocamento. A Corte considerou que, quando a seção 22 se refere a peritos cumprindo missões para a Organização das Nações Unidas, ela usa o termo “missão” no sentido geral. Alguns destes peritos devem necessariamente se deslocar para o cumprimento de suas tarefas, enquanto outros podem cumpri-las sem ter que viajar. Nas duas hipóteses, o objetivo da seção 22 é assegurar no interesse da Organização a independência destes peritos através da concessão de privilégios e imunidades necessários para este efeito. A Corte concluiu que a seção 22 é aplicável a todo perito em missão, quer viaje ou não.

A Corte, enfim, passou à análise da questão de saber se os peritos em missão podem invocar os privilégios e imunidades previstos na seção 22 contra o Estado de que são nacionais ou sobre o território no qual residem. A este respeito, ela observou que a seção 15 da Convenção Geral comporta, no que concerne aos representantes dos membros, uma estipulação segundo a qual as disposições das seções 11, 12 e 13 do artigo IV “não são aplicáveis no caso de um representante vis-à-vis das autoridades do Estado de que é nacional ou de que é ou foi o representante”, e notou que o artigo V sobre os funcionários da Organização e o artigo VI, relativo aos peritos em missão para a Organização, não contêm nenhuma regra comparável. Para a Corte, esta diferença de abordagem pode ser prontamente explicada: os privilégios e imunidades concedidos pelos artigos V e VI o são com o objetivo de assegurar a independência dos funcionários internacionais e dos peritos no interesse da Organização; esta independência deve ser respeitada por todos os Estados, incluindo o Estado da nacionalidade ou da residência. A Corte ainda constatou que certos Estados-parte à Convenção Geral formularam reservas a certas disposições dos artigos V e VI, no que concerne a seus nacionais ou pessoas que residem habitualmente em seu território. A este respeito, o fato de que foi necessário formular estas reservas confirma a conclusão de que, na ausência de tais reservas, os peritos em missão gozam dos privilégios e imunidades previstos pela Convenção Geral em suas relações com o Estado de que são nacionais ou sobre o território no qual residem.

A Corte concluiu que: a seção 22 da Convenção Geral é aplicável às pessoas (além dos funcionários da Organização) às quais uma missão foi confiada pelas Nações Unidas e que estão, devido a este fato, no direito de invocar os privilégios e imunidades previstos por este texto para exercerem com independência suas funções; que durante todo o período desta missão, os peritos gozam destes privilégios e imunidades funcionais, quer sejam ou não deslocados; e que tais privilégios e imunidades podem ser invocados contra o Estado da nacionalidade ou residência, a menos que uma reserva à seção 22 da Convenção Geral tenha sido validamente formulada por este Estado.

VI. Aplicabilidade da Seção 22 do artigo VI aos relatores especiais da Subcomissão (parágrafo 53 ao 55) Depois de ter enfatizado que a situação dos relatores da Subcomissão é uma questão que diz respeito à situação jurídica dos relatores em geral e de grande importância no conjunto do sistema das Nações Unidas, a Corte observou que em 28 de março de 1947 o Conselho havia decidido que a Subcomissão seria composta de 12 personalidades que havia nominalmente designado, sujeitas ao consentimento dos respectivos governos, e que os membros da Subcomissão, cujo número é atualmente 25, foram em seguida escolhidos pela Comissão em condições comparáveis; observou que o Conselho, em sua Resolução 1983/32 de 27 de maio de 1983, expressamente “relembrou que os membros da Subcomissão são eleitos pela Comissão ... na qualidade de peritos em sua capacidade individual”. A Corte então deduziu que, desde que não possuam a qualidade de representantes de Estados-membro da Organização nem de funcionários das Nações Unidas, e cumprindo para esta última, com toda independência, suas funções previstas pelo mandato da Subcomissão, os membros desta devem ser vistos como peritos em missão no sentido da seção 22.

A Corte, em seguida, constatou que, segundo a prática de vários órgãos das Nações Unidas, a Subcomissão eventualmente designava relatores ou relatores especiais aos quais confiava a tarefa de estudar temas determinados; ela igualmente constatou que, se estes relatores ou relatores especiais são normalmente escolhidos dentre os membros da Subcomissão, existem casos em que os relatores especiais foram designados fora da Subcomissão ou completaram seu relatório somente após a expiração de seu mandato de membro da Subcomissão. Em qualquer hipótese, os relatores ou relatores especiais são encarregados, pela Subcomissão, de uma missão de estudos. A Corte concluiu que, não tendo a qualidade de representantes de Estados-membro nem de funcionários da Organização e realizando estudos com toda independência para esta última, tais relatores devem ser vistos como peritos em missão no sentido da seção 22, mesmo se não forem ou não forem mais membros da Subcomissão. Isto levou a Corte a concluir que eles gozam, de acordo com a seção 22, dos

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privilégios e imunidades necessários para o exercício de suas funções, e, em particular, para o estabelecimento de qualquer contato útil à preparação, à redação e à apresentação de seu relatório à Subcomissão.

VII. Aplicabilidade da seção 22 do artigo VI da Convenção Geral ao caso do Sr. Dumitru Mazilu (parágrafo 56 ao 60)

A Corte observou, à luz da exposição dos fatos, que o Sr. Mazilu tinha, de 13 de março de 1984 a 29 de agosto de 1985, a qualidade de membro da Subcomissão; que de 29 de agosto de 1985 a 31 de dezembro de 1987 foi membro e relator da Subcomissão; e, enfim, que se após esta última data não mais pertencia à Subcomissão, ainda permanecia como relator especial. A Corte entendeu que o Sr. Mazilu, durante todo este período, não perdeu a qualidade de perito em missão no sentido da seção 22 e tampouco perdeu o direito de se beneficiar, para o exercício de suas funções, dos privilégios e imunidades previstos por este texto.

A Corte, entretanto, relembrou que dúvidas foram levantadas pelas autoridades da Romênia sobre a capacidade do Sr. Mazilu de cumprir seu mandato de relator especial depois que adoeceu em maio de 1987 e que foi, em seguida, aposentado conforme as decisões tomadas pelos médicos competentes segundo as leis romenas aplicáveis; que o Sr. Mazilu, por sua parte, informou à Organização das Nações Unidas que seu estado de saúde não o impedia de apresentar seu relatório nem de ir a Genebra e, enfim, que, quando um relatório do Sr. Mazilu foi distribuído como documento da Subcomissão, a Romênia questionou sua “capacidade intelectual” de redigir um “relatório em conformidade com as exigências da Organização”. Enfatizando que não era sua função pronunciar-se sobre o estado de saúde do Sr. Mazilu e sobre as conseqüências deste estado de saúde sobre os trabalhos que ele fez ou deveria fazer para a Subcomissão, a Corte indicou que caberia à Organização das Nações Unidas decidir, nas circunstâncias do caso, se era conveniente manter o Sr. Mazilu na sua qualidade de relator especial e constatou que decisões neste sentido foram tomadas pela Subcomissão.

A Corte entendeu que o Sr. Mazilu continuava a possuir a qualidade de relator especial e que, conseqüentemente, deveria ser considerado como perito em missão no sentido da seção 22 da Convenção Geral e que esta seção lhe era aplicável.

VIII. parágrafo operativo (parágrafo 61)

O texto completo do parágrafo dispositivo dispõe: “Por estes motivos,

A Corte, Unanimemente,

É da opinião de que a seção 22 do artigo VI da Convenção Sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas é aplicável no caso do Sr. Dumitru Mazilu em sua qualidade de relator especial da Subcomissão de Luta Contra as Medidas Discriminatórias e de Proteção das Minorias”.

Referências

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