UDESC - UNIVERSIDADE ESTADUAL
DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CI ˆ
ENCIAS TECNOL ´
OGICAS - CCT
DEPARTAMENTO DE MATEM ´
ATICA - DMAT
APOSTILA DE EQUAC
¸ ˜
OES DIFERENCIAIS
JONES CORSO
Sum´
ario
1 INTRODUC¸ ˜AO 1
1.1 No¸c˜oes elementares . . . 1
1.2 Nota¸c˜ao . . . 4
1.3 Nomenclatura usual para classificar ED . . . 4
1.4 Equa¸c˜oes diferenciais lineares . . . 6
1.5 Solu¸c˜oes . . . 6
1.5.1 Solu¸c˜ao particular e solu¸c˜ao geral . . . 7
1.5.2 Problemas de valor inicial e valores no contorno . . . 7
2 EQUAC¸ OES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM 11 2.1 Equa¸c˜oes com vari´aveis separ´aveis . . . 11
2.2 Equa¸c˜oes Homogˆeneas . . . 13
2.3 Equa¸c˜oes Exatas . . . 14
2.4 Fator integrante . . . 16
2.5 Equa¸c˜ao de Bernoulli . . . 18
2.6 Equa¸c˜ao de Ricatti . . . 18
2.7 Aplica¸c˜oes das ED de Primeira Ordem . . . 19
2.7.1 Problemas de varia¸c˜ao de temperatura . . . 19
2.7.2 Equa¸c˜ao do movimento de um corpo . . . 20
2.7.3 Circuitos em s´erie . . . 21
3 EQUAC¸ ˜OES LINEARES DE SEGUNDA ORDEM 23 3.1 EDL: Teoria das solu¸c˜oes . . . 23
3.1.1 Dependˆencia linear . . . 23
3.1.2 Independˆencia linear . . . 23
3.1.3 Solu¸c˜oes linearmente independentes. O Wronskiano . . . 24 iii
3.2 A equa¸c˜ao caracter´ıstica . . . 25
3.3 Solu¸c˜ao geral - sistema fundamental . . . 26
3.3.1 Solu¸c˜ao em termos das ra´ızes . . . 27
3.4 Equa¸c˜oes lineares n˜ao homogˆeneas . . . 29
3.4.1 Resolu¸c˜ao de equa¸c˜oes lineares n˜ao homogˆeneas . . . 30
3.4.2 M´etodo Geral . . . 32
3.5 Aplica¸c˜ao f´ısica . . . 34
4 EQUAC¸ ˜OES DIFERENCIAIS LINEARES DE ORDEM n 37 4.1 Equa¸c˜oes de ordem superior . . . 37
4.2 Equa¸c˜oes de ordem superior usando coeficientes a determinar . . . 39
4.3 Equa¸c˜ao de Cauchy-Euler . . . 40
5 S ´ERIES NUM ´ERICAS 43 5.1 M´etodo de S´eries . . . 43
5.1.1 O m´etodo da S´erie de Potˆencias . . . 43
5.1.2 Solu¸c˜ao em S´erie de Potˆencias . . . 45
5.2 M´etodo de Fr¨obenius . . . 47
5.3 Equa¸c˜ao de Bessel . . . 49
5.3.1 Fun¸c˜oes de Bessel de segunda esp´ecie . . . 50
6 A TRANSFORMADA DE LAPLACE 51 6.1 Defini¸c˜ao da transformada de Laplace . . . 51
6.2 Propriedades da transformada de Laplace . . . 52
6.3 Transformadas inversas de Laplace . . . 53
6.3.1 M´etodo do complemento do quadrado . . . 54
6.3.2 M´etodo das fra¸c˜oes parciais (FP) . . . 54
6.3.3 Fun¸c˜ao Degrau Unit´ario . . . 56
6.3.4 Fun¸c˜ao impulso unit´ario ou fun¸c˜ao delta de Dirac . . . 58
6.3.5 Convolu¸c˜oes . . . 58
6.4 Resolu¸c˜ao, pela TL, de EDL com coeficientes constantes . . . 60
6.4.1 Transformadas de Laplace de derivadas . . . 60
6.4.2 Solu¸c˜ao do problema de valor inicial . . . 60 iv
7 SISTEMA DE EQUAC¸ ˜OES LINEARES 63
7.1 Redu¸c˜ao de equa¸c˜oes diferenciais lineares a um sistema de primeira ordem 63 7.2 C´alculo de eAt . . . 67 7.2.1 Uso da Transformada de Laplace para o C´alculo de eAt . . . . 68
7.3 Resolu¸c˜ao de sist. lineares com coeficientes constantes . . . 69
8 F ´ORMULAS 71
Referˆencias Bibliogr´aficas 74
Cap´ıtulo 1
INTRODUC
¸ ˜
AO
1.1
No¸
c˜
oes elementares
Uma equa¸c˜ao da forma F (x, y, y′, y”, ..., y(n)) = 0, onde a inc´ognita x ´e uma fun¸c˜ao de uma vari´avel, chama-se equa¸c˜ao diferencial ordin´aria. Muitas leis gerais da F´ısica, Biologia e Economia encontram sua espress˜ao natural nestas equa¸c˜oes. Por outro lado, in´umeras quest˜oes na pr´opria matem´atica (por exemplo, em Topologia e Geometria Diferenciais e no C´alculo de Varia¸c˜oes) s˜ao formuladas por equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias ou se reduzem a elas.
O estudo das equa¸c˜oes diferenciais come¸cou com os m´etodos do C´alculo Diferencial e Integral, descobertos por Newton e Leibnitz, e elaborados no ´ultimo quarto do s´eculo XVII para resolver problemas motivados por considera¸c˜oes f´ısicas e geom´etricas. Esses m´etodos, na sua evolu¸c˜ao, conduziram gradualmente `a consolida¸c˜ao das Equa¸c˜oes diferenciais como um novo ramo da matem´atica, que em meados do s´eculo XVIII se transformou numa disciplina independente.
Neste est´agio, a procura e an´alise de solu¸c˜oes tornou-se uma finalidade pr´opria. Tamb´em nesta ´epoca ficaram conhecidos os m´etodos elementares de resolu¸c˜ao (integra¸c˜ao) de v´arios tipos especiais de equa¸c˜oes diferenciais, tais como as de vari´aveis separ´aveis (x′ = f (x) g (t)), as lineares (x′ = a (t) x + b (t)), as de Bernoulli (x′ = p (t) x + q (t) xn), as de Clairaut (f (x′) + tx′ = x), as de Riccati (x′ = a0(t) + a1(t) x + a2(t) x2).
A natureza daquilo que era considerado solu¸c˜ao foi mudando gradualmente, num pro-cesso que acompanhou e, `as vezes, propiciou o desenvolvimento do pr´oprio conceito de fun¸c˜ao. Inicialmente buscavam-se solu¸c˜oes expressas em termos de fun¸c˜oes elementares, isto ´e, polinomiais, racionais, trigonom´etricas e exponenciais. Posteriormente passou-se
2 1.1. No¸c˜oes elementares a considerar satisfat´orio expressar a solu¸c˜ao na forma de uma integral (quadratura) con-tendo opera¸c˜oes elementares envolvendo estas fun¸c˜oes, ainda que a mesma n˜ao admitisse uma express˜ao em termos destas. Quando estes dois caminhos deixaram de resolver os problemas focalizados, surgiram as solu¸c˜oes expressas por meio de s´eries infinitas (ainda sem a preocupa¸c˜ao com a an´alise da convergˆencia das mesmas).
Em fins do s´eculo XVIII a Teoria das Equa¸c˜oes Diferenciais se transformou numa das disciplinas matem´aticas mais importantes e o m´etodo mais efetivo para a pesquisa cient´ıfica. As contribui¸c˜oes de Euler, Lagrange, Laplace e outros expandiram notavelmente o conhecimento dentro do C´alculo das Varia¸c˜oes, Mecˆanica Celeste, Teoria das Oscila¸c˜oes, Elasticidade, Dinˆamica de Fluidos, etc. Nesta ´epoca iniciou-se tamb´em a descoberta das rela¸c˜oes das equa¸c˜oes diferenciais com as fun¸c˜oes de vari´avel complexa, s´eries de potˆencias e trigonom´etricas e fun¸c˜oes especiais (conhecidas posteriormente como de Bessel, etc.). O grau que o conhecimento matem´atico atingiu nesta primeira fase ficou registrado na obra de Euler ”Institutiones Calculi Integralis”em quatro volumes, o ´ultimo deles publicado em 1794.
No s´eculo XIX os fundamentos da An´alise Matem´atica experimentaram uma revis˜ao e reformula¸c˜ao gerais visando maior rigor e exatid˜ao. Assim, os conceitos de limite, de-rivada, convergˆencia de s´eries num´ericas e s´eries de fun¸c˜oes e outros processos infinitos foram definidos em termos aritm´eticos. A integral, que no s´eculo anterior era concebida como primitiva, foi definida como limite de uma sequˆencia de somas. Este movimento de fundamenta¸c˜ao n˜ao deixou de atingir as equa¸c˜oes diferenciais. Enquanto no s´eculo anterior procurava-se uma solu¸c˜ao geral para uma dada equa¸c˜ao diferencial, passou-se a considerar como quest˜ao pr´evia em cada problema a existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes satisfazendo dados iniciais (este ´e o problema de Cauchy). Tomava-se ent˜ao uma classe ampla de equa¸c˜oes diferenfciais, como as lineares, por exemplo, para as quais a existˆencia e unicidade das solu¸c˜oes estava aceita e procuravam-se propriedades gerais destas solu¸c˜oes a partir de caracter´ısticas das fun¸c˜oes que definiam a equa¸c˜ao diferencial. Por outro lado, o m´etodo de separa¸c˜ao de vari´aveis aplicado a certas equa¸c˜oes diferenciais parciais conduziu a equa¸c˜oes ordin´arias que n˜ao admitem solu¸c˜oes em termos de fun¸c˜oes elementares conhe-cidadas, como ´e o caso das equa¸c˜oes de Sturm-Liouville e das equa¸c˜oes de Fuchs (lineares com coeficientes anal´ıticos complexos com singularidades isoladas regulares). As primei-ras fornecem um exemplo caracter´ıstico de um problema linear de contorno, enquanto que as equa¸c˜oes Fuchsianas sistematizam v´arios tipos de equa¸c˜oes especiais surgidas
original-1.1. No¸c˜oes elementares 3 mente no s´eculo XVIII em trabalhos de Euler e Bernoulli e estudadas tamb´em por Gauss e Riemann. Incluem equa¸c˜oes de relevˆancia da F´ısica-Matem´atica, como as de Bessel, de Legendre e de Gauss (ou hipergeom´etrica).
Um marco de referˆencia fundamental na evolu¸c˜ao das equa¸c˜oes diferenciais ´e o trabalho de Poincar´e ”M´emoire sur les courbes d´efinies par une ´equation differentielle”(1881) no qual s˜ao lan¸cadas as bases da Teoria Qualitativa das Equa¸c˜oes Diferenciais. Esta teoria visa a descri¸c˜ao da configura¸c˜ao global das solu¸c˜oes e o efeito de pequenas perturba¸c˜oes das condi¸c˜oes iniciais (estabilidade). O estudo da estabilidade de um sistema, de grande importˆancia na tecnologia contemporˆanea, teve sua origem em quest˜oes de Mecˆanica Celeste estudadas inicialmente por Newton, Lagrange e Laplace. Pergunta-se se uma pequena perturba¸c˜ao na posi¸c˜ao e velocidade de um corpo celeste o coloca em uma ´orbita que se afasta ou converge para a ´orbita original. O problema geral da estabilidade foi simultaneamente estudado por Liapounov, que juntamente com Poincar´e, ´e considerado fundador da Teoria Qualitativa das Equa¸c˜oes Diferenciais.
Outro aspecto da Teoria Qualitativa, tamb´em estudado por Poincar´e, visa descrever o comportamento assint´otico das solu¸c˜oes e a estrutura de seus conjuntos limites. O comportamento assint´otico de uma solu¸c˜ao se obtem quando se faz a vari´avel independente (tempo) tender para infinito. O conjunto limite pode ser um ponto de equil´ıbrio, uma solu¸c˜ao peri´odica ou outro conjunto mais complicado. A Teoria de Poincar´e-Bendixson, responde a este tipo de quest˜oes no plano e em superf´ıcies bidimensionais, respectivamente. O estudo de oscila¸c˜oes n˜ao lineares de fenˆomenos el´etricos realizado no primeiro quarto do s´eculo passado conduziu a equa¸c˜oes especiais de segunda ordem tais como as de Van der Pol e Lienard.
A introdu¸c˜ao do conceito de estabilidade estrutural por Andronov e Pontrjagin (1937) e os trabalhos de Peixoto (1958-62) relativos `a caracteriza¸c˜ao, abertura e densidade das equa¸c˜oes diferenciais estruturalmente est´aveis em superf´ıcies constituem um marco fun-damental para o desenvolvimento contemporˆaneo das equa¸c˜oes diferenciais. Trata-se de determinar as condi¸c˜oes necess´arias e suficientes para que o retrato de fase de uma equa¸c˜ao diferencial n˜ao experimente mudan¸cas qualitativas bruscas por pequenas perturba¸c˜oes das fun¸c˜oes que as definem.
Ao estudar um fenˆomeno vari´avel, expresso por uma fun¸c˜ao y = f (x), ´e comum acharmos uma lei que o governe dada por uma rela¸c˜ao entre a vari´avel independente, a fun¸c˜ao e suas derivadas ou diferenciais.
4 1.3. Nomenclatura usual para classificar ED
Defini¸c˜ao 1.1 Chama-se equa¸c˜ao diferencial a uma equa¸c˜ao F(x, y, y′, y”, ..., y(n)) = 0
que estabelece uma rela¸c˜ao entre a vari´avel independente x, a fun¸c˜ao inc´ognita y e suas derivadas y′, y”, . . . , y(n), se y = f (x) ´e a fun¸c˜ao de uma s´o vari´avel independente x a
equa¸c˜ao diferencial diz-se ordin´aria.
Um exemplo simples ´e dado por uma rela¸c˜ao do tipo dydx − 1 = 0. Procura-se ent˜ao uma fun¸c˜ao y = f (x) que satisfa¸ca a equa¸c˜ao, e que no caso ´e f´acil ver que se trata de
f (x) = x, ou tamb´em f (x) = x + c, onde c ´e uma constante qualquer. Vˆe-se ent˜ao que a equa¸c˜ao dada define uma fam´ılia de curvas no plano, que s˜ao retas todas paralelas, de declividade 1.
1.2
Nota¸
c˜
ao
Usam-se freq¨uentemente os s´ımbolos y′, y′′, y′′′, y(4), ..., y(n) para representar as derivadas de ordem, respectivamente, primeira, segunda, terceira, quarta,..., en´esima de y em rela¸c˜ao `
a vari´avel independente x. Assim, y” representa ddx2y2 se a vari´avel independente ´e x, mas representa ddp2y2 se a vari´avel independente ´e p. Se a vari´avel independente ´e o tempo, usualmente denotada por t, ´e comum substitu´ırem-se as linhas por pontos. Assim, ˙y, y e··
···
y representam dydt, ddt22y e
d3y
dt3, respectivamente.
Observe-se o uso dos parˆenteses em y(n) para distinguir da potˆencia yn.
1.3
Nomenclatura usual para classificar ED
Uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria de ordem n ´e uma igualdade que relaciona a vari´avel independente `a n-´esima derivada (e em geral tamb´em `as derivadas de ordem inferior) da vari´avel dependente. Assim como h´a equa¸c˜oes alg´ebricas de v´arios graus, tamb´em h´a equa¸c˜oes diferenciais de diversas ordens, onde por ordem entendemos a mais alta ordem de derivada que comparece na equa¸c˜ao. Por exemplo, a equa¸c˜ao dada acima ´e de 1a ordem, enquanto a equa¸c˜ao y” + y = 0 ´e de 2a ordem. Neste exemplo, vˆe-se que y = sin x ´e uma
solu¸c˜ao, pois y′ = cos x e y′′ = − sin x, e portanto y′′+ y = 0. Aqui outras solu¸c˜oes s˜ao
y = c sin x, para uma constante qualquer c. No entanto y = sin x + c n˜ao ´e solu¸c˜ao. Chama-se grau da equa¸c˜ao diferencial o expoente mais elevado com que comparece a derivada ou diferencial que determina sua ordem. Nos exemplos anteriores, ambas s˜ao de 1o grau, enquanto a equa¸c˜ao yy′′2− y′3= yy′
1+x ´e de 2
1.3. Nomenclatura usual para classificar ED 5 Uma equa¸c˜ao diferencial diz-se parcial se comparecem nelas derivadas parciais, como por exemplo ∂z∂x+∂z∂y = 0.
Como outro exemplo consideremos a equa¸c˜ao ∂z∂x = 2x.
Analisemos as seguintes equa¸c˜oes diferenciais, determinando o grau e a ordem de cada uma: Exemplo 1 dxdy = 5x + 3 Exemplo 2 ey ddx2y2 + 2 (dy dx )2 = 1 Exemplo 3 4ddx3y3 + (sin x) d2y dx2 + 5xy = 0 Exemplo 4 ( d4y dx4 )3 + 3y ( d2y dx2 )7 + y3(dy dx )2 = 5x Exemplo 5 ∂∂t2y2 − 4 ∂2y ∂x2 = 0
Observa¸c˜ao 1 Uma equa¸c˜ao diferencial ´e chamada ordin´aria (E.D.O.) se a fun¸c˜ao inc´ognita depende de apenas uma vari´avel independente. Se a fun¸c˜ao inc´ognita depende de mais de uma vari´avel independente, temos uma equa¸c˜ao diferencial parcial (E.D.P.), ou equa¸c˜ao de derivadas parciais.
Determine, para cada uma das seguintes equa¸c˜oes diferenciais, (a) ordem, (b) grau (se poss´ıvel), (c) fun¸c˜ao inc´ognita (FI), (d) vari´avel independente(VI).
Exerc´ıcio 1.1 y′′′− 5xy′ = ex+ 1
Exerc´ıcio 1.2 ty′′+ t2y′− (sin t)√y = t2− t + 1
Exerc´ıcio 1.3 s2 d2t ds2 + st dt ds = s Exerc´ıcio 1.4 5 ( d4b dp4 )5 + 7 ( db dp )10 + b3− b5 = p Exerc´ıcio 1.5 (y′′)2− 3yy′+ xy = 0 Exerc´ıcio 1.6 ddynnx = y2+ 1
6 1.5. Solu¸c˜oes
1.4
Equa¸
c˜
oes diferenciais lineares
Uma E.D.O. de ordem n na fun¸c˜ao inc´ognita y e na vari´avel independente x ´e linear se tem a forma bn(x) dny dxn + bn−1(x) dn−1y dxn−1 +· · · + b1(x) dy dx + b0(x)y = g(x) (1.1)
As fun¸c˜oes bj(x)(j = 0, 1, 2, ..., n)e g(x) sup˜oem-se conhecidas e dependem apenas da
vari´avel independente x. As combina¸c˜oes atitivas podem ter multiplicadores (coeficientes) que dependem de x; nenhuma restri¸c˜ao ´e feita sobre a natureza dessa dependˆencia em x. As equa¸c˜oes diferenciais que n˜ao podem ser postas sob a forma da equa¸c˜ao (1.1) dizem-se
n˜ao-lineares.
Ou seja, uma equa¸c˜ao diferencial diz-se linear de ordem n quando os termos contendo a vari´avel dependente e suas derivadas at´e ordem n s˜ao de 1o grau com rela¸c˜ao a esta
vari´avel. Por exemplo, y′′ + xy′+ y = sin x ´e linear de 2a ordem, enquanto y′′ + yy′+ y =
sin x ´e n˜ao linear, devido ao termo yy′.
1.5
Solu¸
c˜
oes
Introdu¸c˜ao
O estudo de equa¸c˜oes diferenciais tem duas metas principais: descobrir a equa¸c˜ao diferencial que descreve uma situa¸c˜ao f´ısica espec´ıfica e, achar a solu¸c˜ao apropriada dessa equa¸c˜ao.
Em ´algebra tipicamente procuramos n´umeros desconhecidos que satisfazem uma equa¸c˜ao como x3 + 7x2 − 11x + 41 = 0. No caso de uma equa¸c˜ao diferencial, por ou-tro lado, somos desafiados a encontrar fun¸c˜oes desconhecidas y = f (x) para as quais
uma identidade como y′(x) = 2xy(x) - isto ´e, a equa¸c˜ao diferencial dydx = 2xy - vale em algum intervalo da reta. Geralmente, vamos querer achar, se poss´ıvel, todas as solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial.
Uma solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial na fun¸c˜ao inc´ognita y e na vari´avel indepen-dente x, no intervalo I, ´e uma fun¸c˜ao y(x) que verifica identicamente a equa¸c˜ao para todo
x em I.
1.5. Solu¸c˜oes 7
Exemplo 7 Mostre que, para qualquer escolha das constantes c1 e c2, a fun¸c˜ao ϕ(x) =
c1e−x+ c2e2x ´e uma solu¸c˜ao explicita para a equa¸c˜ao linear y′′− y′ − 2y = 0.
Exemplo 8 Demonstrar que a fun¸c˜ao dada sob a forma param´etrica y (x) =
x = a sin t y = b cos t
´e a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial y′ =−ab22xy.
Exemplo 9 Demonstrar que a fun¸c˜ao impl´ıcita (1 + y3)2 = (1 + x2)3 ´e solu¸c˜ao da
equa¸c˜ao diferencial y′ = x(1+y 3)
y2(1+x2).
Exemplo 10 Mostre que x = y + exy = 0 ´e uma solu¸c˜ao implicita para a equa¸c˜ao n˜ao
linear (1 + xexy dydx+ 1 + yexy = 0.
Exemplo 11 Determinar a equa¸c˜ao diferencial da fam´ılia de curvas c1x + (y− c2) 2
= 0.
1.5.1
Solu¸
c˜
ao particular e solu¸
c˜
ao geral
Uma solu¸c˜ao particular de uma equa¸c˜ao diferencial ´e qualquer solu¸c˜ao da mesma. A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial ´e o conjunto de todas as suas solu¸c˜oes.
A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial y” + 4y = 0 ´e y(x) = c1sin 2x + c2cos 2x. Isto ´
e, toda solu¸c˜ao particular da referida equa¸c˜ao tem esta forma geral. Algumas solu¸c˜oes particulares s˜ao:
(a) y = 5 sin 2x− 3 cos 2x (com c1 = 5 e c2 =−3)
(b) y = sin 2x (com c1 = 1 e c2 = 0), e
(c) y ≡ 0 (com c1 = c2 = 0).
A solu¸c˜ao geral de uma equa¸c˜ao diferencial nem sempre pode ser expressa mediante uma f´ormula ´unica. Como exemplo, consideremos a equa¸c˜ao diferencial y′ + y2 = 0, que admite duas solu¸c˜oes y = 1/x e y≡ 0.
1.5.2
Problemas de valor inicial e valores no contorno
Um problema de valor inicial consiste em uma equa¸c˜ao diferencial, juntamente com condi¸c˜oes subsidi´arias relativas `a fun¸c˜ao inc´ognita e suas derivadas - tudo dado para um mesmo valor da vari´avel independente. As condi¸c˜oes subsidi´arias s˜ao condi¸c˜oes inici-ais se as condi¸c˜oes subsidi´arias se referem a mais de um valor da vari´avel independente,
8 1.5. Solu¸c˜oes o problema ´e um problema de valores de contorno, e as condi¸c˜oes dizem-se condi¸c˜oes de contorno.
Uma solu¸c˜ao de um problema de valor inicial, ou de valores no contorno, ´e uma fun¸c˜ao y(x) que satisfaz n˜ao s´o a equa¸c˜ao diferencial dada, mas tamb´em todas as condi¸c˜oes subsidi´arias.
Exemplo 12 Determine se y(x) = 2e−x+ xe−x ´e solu¸c˜ao de y′′+ 2y′+ y = 0.
Exemplo 13 y(x) ≡ 1 ´e solu¸c˜ao de y′′+ 2y′+ y = x?
Exemplo 14 Determine c1 e c2 de modo que y(x) = c1sin 2x + c2cos 2x + 1 satisfa¸ca
y(π/8) = 0 e y′(π/8) =√2 .
Nos problemas, determine c1 e c2 de modo que y(x) = c1sin x + c2cos x satisfa¸ca as condi¸c˜oes dadas. Determine se tais condi¸c˜oes s˜ao iniciais ou de contorno.
Exerc´ıcio 1.7 y(0) = 1, y′(0) = 2 sol. c1 = 2 ec2 = 1
Exerc´ıcio 1.8 y(0) = 1, y′(π) = 1 sol. c1 =−1e c2 = 1
Exerc´ıcio 1.9 y(π/2) = 1, y′(π/2) = 2 sol. c1 = 1 e c2 =−2
Nos problemas a seguir, determine c1 e c2 de modo que as fun¸c˜oes dadas satisfa¸cam as condi¸c˜oes inicias prescritas.
Exerc´ıcio 1.10 y(x) = c1ex+ c2e−x+ 4 sin x; y(0) = 1, y′(0) =−1 sol. c1 =−2 e
c2 = 3
Exerc´ıcio 1.11 y(x) = c1ex+ c2e2x+ 3e3x; y(0) = 0, y′(0) = 0 sol. c1 = 3 ec2 =−6
Exerc´ıcio 1.12 y(x) = c1sin x + c2cos x + 1; y(π) = 0, y′(π) = 0 sol. c1 = 0 e
c2 = 1
Exerc´ıcio 1.13 y(x) = c1ex+ c2xex+ x2ex; y(1) = 1, y′(1) = −1 sol. c1 = 1 + 3e e
c2 =−2 −2e
Exerc´ıcio 1.14 Demonstrar que a fun¸c˜ao y = e−5x+c ´e a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial y′′+ 5y′ = 0.
1.5. Solu¸c˜oes 9
Exerc´ıcio 1.15 Mostrar que a fun¸c˜ao impl´ıcita y(x), x2 + 4xy− y2 = 1 ´e a solu¸c˜ao da
equa¸c˜ao diferencial (x + 2y) dx + (2x− y) dy = 0.
Exerc´ıcio 1.16 Verificar se as fun¸c˜oes: a) y =−e−x; b) y = xe−x e y = 5e−3x , s˜ao as solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial y′′− 2y′− 3y = 0. sol. a) sim, b) n˜ao, c) sim
Exerc´ıcio 1.17 Determinar as equa¸c˜oes diferenciais das fam´ılias de curvas: a) y = ecx
e b) y = cx3. sol. a)xy′ − y ln y = 0. b) xy′− 3y = 0.
Exerc´ıcio 1.18 Determinar a equa¸c˜ao diferencial y = (c1+ c2x) ex + c2. sol. (ex− 1) y′′+ (1− 2ex) y′+ exy = 0.
Exerc´ıcio 1.19 Determinar a equa¸c˜ao diferencial y = c1e2x+c2e3x. sol. y′′−5y′+6y = 0.
Cap´ıtulo 2
EQUAC
¸ OES DIFERENCIAIS DE
PRIMEIRA ORDEM
A forma normal de uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem ´e M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0, onde M (x, y)dx e N (x, y)dy s˜ao as fun¸c˜oes de x e y.
A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem chama-se a fun¸c˜ao y =
φ(x, c), que ´e a solu¸c˜ao desta equa¸c˜ao para todos os valores da constante arbitr´aria. A solu¸c˜ao obtida da solu¸c˜ao geral y = φ(x, c) para um valor determinado da constante arbitr´aria, chama-se solu¸c˜ao particular. O gr´afico da solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao dife-rencial chama-se curva integral da equa¸c˜ao diferencial. E a interpreta¸c˜ao geom´etrica da solu¸c˜ao geral y = φ(x, c) ´e a fam´ılia das curvas integrais.
2.1
Equa¸
c˜
oes com vari´
aveis separ´
aveis
Muitas equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem, Linear ou n˜ao, podem ser reduzidas por manipula¸c˜oes alg´ebricas `a forma:
h(y)y′ = g(x) → y′ = dy
dx (2.1)
h(y)dy = g(x)dx (2.2)
A equa¸c˜ao (2.2) ´e chamada equa¸c˜ao de vari´aveis separ´aveis, ou equa¸c˜ao separ´avel, porque as vari´aveis x e y foram separadas uma da outra, de tal maneira que x aparece unicamente no segundo membro, enquanto y surge no primeiro membro. Integrando
12 2.1. Equa¸c˜oes com vari´aveis separ´aveis ambos os membros de (2.2), obtemos: ∫ h(y)dy =∫ g(x)dx + c
Exemplo 15 Seja as equa¸c˜oes: dydx = y2xe3x+4y e dy
dx = y + sin x.
Exemplo 16 Seja, y′ =−2xy, resolva pelo m´etodo das equa¸c˜oes separ´aveis.
Exemplo 17 Seja, y′ = 1 + y2, resolva pelo m´etodo das equa¸c˜oes separ´aveis. Exemplo 18 Seja, dydx = y2− 4, resolva pelo m´etodo das equa¸c˜oes separ´aveis.
Exemplo 19 Resolver o problema de valor inicial y′ = 3x2(y2+4x+2−1) , y(0) =−1. Resolver pelo m´etodo das equa¸c˜oes separ´aveis:
Exerc´ıcio 2.1 y′ = xy2 sol. y =± √ 2 3x 3+ c Exerc´ıcio 2.2 y′ = x2 y(1+x3) sol. y =± √ 2 3ln|1 + x 3| + c
Exerc´ıcio 2.3 y′ + y2sin x = 0 sol. y = c− 1 cos x
Exerc´ıcio 2.4 y′ = 1 + x + y2+ xy2 sol. y = tan(x +x2 2 + c
)
Exerc´ıcio 2.5 y′ = (cos2x).(cos22y) sol. y = 1
2arctan (1
2sin 2x + x + c )
Exerc´ıcio 2.6 xy′ = (1− y2)1/2 sol. y = sin (ln|x| + c)
Exerc´ıcio 2.7 dydx = xy+e−e−xy sol. y =±
√
x2 + 2 (−ey+ e−x) + c
Determine a solu¸c˜ao do problema de valor inicial dado, em forma expl´ıcita.
Exerc´ıcio 2.8 xdx + ye−xdy = 0, y(0) = 1 sol. y2 = 2ex(1− x) + c → c = −1 → y =
[2ex(1− x) − 1]12
Exerc´ıcio 2.9 y′ = (y+x2x2y), y(0) = −2 sol.
y2
2 = ln|1 + x
2| + c → c = 2 → y = [2 (ln|1 + x2| + 2)]12
Exerc´ıcio 2.10 y′ = xy3(1 + x2)−1/2, y(0) = 1 sol. −2y12 = (1 + x
2)12 + c →
c =−32 → y =[3− 2√1 + x2]− 1 2
Exerc´ıcio 2.11 y′ = 1+2y2x , y(2) = 0 sol. y + y2 = x2 + c → c = −4 → y =
−1 2 + 1 2 √ 4x2 − 15
2.2. Equa¸c˜oes Homogˆeneas 13
2.2
Equa¸
c˜
oes Homogˆ
eneas
Iniciemos com a defini¸c˜ao de equa¸c˜oes homogˆeneas
Defini¸c˜ao 2.1 Se o lado direito da equa¸c˜ao dy
dx = f (x, y) (2.3)
puder ser expresso como uma fun¸c˜ao da raz˜ao y/x somente, ent˜ao dizemos que a equa¸c˜ao ´e homogˆenea.
Um teste para a homogeneidade da Equa¸c˜ao (2.3) ´e dada pela seguinte defini¸c˜ao:
Defini¸c˜ao 2.2 Se uma fun¸c˜ao f satisfaz f (tx, ty) = tnf (x, y) para algum n´umero real
n, ent˜ao dizemos que f ´e uma fun¸c˜ao homogˆenea de grau n.
Exemplo 20 f (x, y) = x2− 3xy + 5y2
Exemplo 21 f (x, y) = √3
x2+ y2
Exemplo 22 f (x, y) = x3+ y3+ 1
Exemplo 23 f (x, y) = 2yx + 4
Se f (x, y) for uma fun¸c˜ao homogˆenea de grau n, podemos escrever
f (x, y) = xnf ( 1,y x ) e f (x, y) = ynf ( x y, 1 ) (2.4) em que f (1,yx) e f (xy, 1) s˜ao ambas homogˆeneas de grau zero.
Defini¸c˜ao 2.3 Uma equa¸c˜ao diferencial da forma
M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 (2.5)
´e chamada de homogˆenea se ambos os coeficientes M e N s˜ao fun¸c˜oes homogˆeneas de mesmo grau.
14 2.3. Equa¸c˜oes Exatas Em outras palavras, M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 ´e homogˆenea se M (tx, ty) =
tnM (x, y) e N (tx, ty) = tnN (x, y). M´etodo de Solu¸c˜ao
Uma equa¸c˜ao diferencial homogˆenea M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 pode ser resolvida por meio de uma substitui¸c˜ao alg´ebrica. Especificamente, a substitui¸c˜ao y = ux ou
x = vy, em que u e v s˜ao as novas vari´aveis independentes, transformar´a a equa¸c˜ao em uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem separ´avel. Seja y = ux; ent˜ao, sua diferencial
dy = udx + xdu. Substituindo em (2.5), temos M (x, ux)dx + N (x, ux)[udx + xdu] = 0.
Agora, pela propriedade de homogeneidade dada em (2.4), podemos escrever
xnM (1, u)dx + xnN (1, u)[udx + xdu] = 0 ou [M (1, u) + uN (1, u)]dx + xN (1, u)du = 0, assim
dx x +
N (1,u)du
M (1,u)+uN (1,u) = 0.
Exemplo 24 Resolva (x2 + y2)dx + (x2− xy)dy = 0
Exemplo 25 Resolva o problema de valor inicial xdydx = y + xey/x, y(1) = 1.
Resolva as equa¸c˜oes :
Exerc´ıcio 2.12 2x3ydx + (x4+ y4)dy = 0
Exerc´ıcio 2.13 (y2+ xy)dx + x2dy = 0
Exerc´ıcio 2.14 (x2+ 2y2)dx = xydy para y(−1) = 1
Exerc´ıcio 2.15 2x2 dy
dx = 3xy + y
2 para y(1) =−2
2.3
Equa¸
c˜
oes Exatas
Defini¸c˜ao 2.4 Uma express˜ao diferencial M (x, y)dx + N (x, y)dy ´e uma diferencial exata em uma regi˜ao R do plano xy se ela corresponde `a diferencial total de alguma fun¸c˜ao f (x, y). Uma equa¸c˜ao diferencial da forma M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 ´e chamada de uma equa¸c˜ao exata se a express˜ao do lado esquerdo ´e uma diferencial exata.
Exemplo 26 A equa¸c˜ao x2y3dx+x3y2dy = 0 ´e exata, pois d(1 3x
3y3)= x2y3dx+x3y2dy.
2.3. Equa¸c˜oes Exatas 15
Teorema 2.1 Sejam M (x, y)dx e N (x, y)dy fun¸c˜oes cont´ınuas com derivadas parciais cont´ınuas em uma regi˜ao retangular R definida por a < x < b, c < y < d. Ent˜ao, uma condi¸c˜ao necess´aria e suficiente para que M (x, y)dx + N (x, y)dy seja uma diferencial exata ´e ∂M ∂y = ∂N ∂x. (2.6) M´etodo de solu¸c˜ao
Dada a equa¸c˜ao (2.5) mostre primeiro que ∂M∂y = ∂N∂x .
Depois suponha que ∂f∂x = M (x, y) da´ı podemos encontrar f integrando M (x, y) com rela¸c˜ao a x, considerando y constante. Escrevemos,
f (x, y) =
∫
M (x, y)dx + g(y), (2.7)
em que a fun¸c˜ao arbitr´aria g(y) ´e a constante de integra¸c˜ao. Agora, derivando (2.7) com rela¸c˜ao a y e supondo ∂f /∂y = N (x, y):
∂f ∂y =
∂ ∂y
∫
M (x, y)dx + g′(y) = N (x, y). Assim,
g′(y) = N (x, y)− ∂
∂y
∫
M (x, y)dx. (2.8)
Finalmente, integre (2.8) com rela¸c˜ao a y e substitua o resultado em (2.7). A solu¸c˜ao ´
e f (x, y) = c.
Exemplo 27 Resolva 2xydx + (x2 − 1)dy = 0.
Exemplo 28 Resolva (e2y− y cos xy)dx + (2xe2y− x cos xy + 2y)dy = 0.
Exemplo 29 Resolva o problema de valor inicial (cos x sin x− xy2) dx+y(1−x2)dy = 0,
y(0) = 2.
Verifique se a equa¸c˜ao dada ´e exata. Se for, resolva.
Exerc´ıcio 2.16 (5x + 4y) dx + (4x− 8y3) dy = 0 sol. 5 2x
2+ 4xy− 2y4 = c
Exerc´ıcio 2.17 (2y2x− 3) dx + (2yx2+ 4) dy = 0 sol. x2y2− 3x + 4y = c
Exerc´ıcio 2.18 (y3− y2sin x− x) dx + (3xy2+ 2y cos x) dy = 0 sol. xy3 + y2cos x − 1
2x 2 = c
16 2.4. Fator integrante Exerc´ıcio 2.19 (y ln y− e−xy) dx + ( 1 y + x ln y ) dy = 0 sol. n˜ao exata.
Exerc´ıcio 2.20 xdydx = 2xex− y + 6x2 sol. xy− 2xex+ 2ex− 2x3 = c Resolva a equa¸c˜ao diferencial dada sujeita `a condi¸c˜ao incial indicada.
Exerc´ıcio 2.21 (x + y)2dx+(2xy + x2− 1) dy = 0, y (1) = 1 sol. 1 3x
3+x2y+xy2−y = 4
3
Exerc´ıcio 2.22 (y2cos x− 3x2y− 2x) dx + (2y sin x − x3+ ln y) dy = 0, y (0) = e sol.
y2sin x− x3y− x2+ y ln|y| − y = 0
2.4
Fator integrante
Em geral, a equa¸c˜ao diferencial
M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 (2.9)
n˜ao ´e exata, mas a equa¸c˜ao
µ(x, y)M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0,
que resulta da multiplica¸c˜ao da Equa¸c˜ao (2.9) pela fun¸c˜ao µ(x, y), for exata, ent˜ao µ(x, y) ´
e chamado de fator integrante da Equa¸c˜ao (2.9).
Exemplo 30 A equa¸c˜ao ydx− xdy = 0 n˜ao ´e exata, pois ∂M∂y = 1 e ∂N∂x =−1.
Defini¸c˜ao 2.5
Uma fun¸c˜ao I(x, y) ´e um fator integrante de (2.9) se a equa¸c˜ao
I(x, y)[M (x, y)dx + N (x, y)dy] = 0 (2.10)
´
e exata.
Considerando a equa¸c˜ao
dy
dx+ p(x)y = g(x) (2.11)
e o fator integrante como
2.4. Fator integrante 17 a solu¸c˜ao ´e dada por
y =
∫
µ(x)g(x)dx + c
µ(x) . (2.13)
Passos para resolu¸c˜ao
1. Para resolver uma equa¸c˜ao linear de primeira ordem, primeiro coloque-a na forma (2.11);
2. Identifique P (x)e encontre o fator de integra¸c˜ao equa¸c˜ao (2.12);
3. Multiplique a equa¸c˜ao obtida em (2.11) pelo fator integrante;
4. O lado esquerdo da equa¸c˜ao em (3) ´e a derivada do produto do fator de integra¸c˜ao e a vari´avel dependentey;
5. Integre ambos os lados da equa¸c˜ao encontrada em (4).
Exemplo 31 y′ = 2xy− x
Exemplo 32 y′+ 3y = x + e−2x
Exemplo 33 Determine a solu¸c˜ao do problema de valor inicial y′−y = 2xe2x e y(0) = 1. Resolver pelo m´etodo do fator integrante:
Exerc´ıcio 2.23 y′ − 2y = x2e2x sol. y = e2x(x3 3 + c
)
Exerc´ıcio 2.24 y′ + y = xe−x+ 1 sol. y = 1 + e−x(x22 + c)
Exerc´ıcio 2.25 y′ +(x1)y = 3 cos 2x sol. y = 32(sin 2x + 2x1 cos 2x)+xc
Exerc´ıcio 2.26 y′ − y = 2.ex sol. y = ex(2x + c)
Exerc´ıcio 2.27 xy′ + 2y = sin x sol. y = 1x(1xsin x− cos x + xc)
Exerc´ıcio 2.28 y′ + 2xy = 2xe−x2 sol. y = e−x2(x2+ c)
Exerc´ıcio 2.29 (1 + x2)y′+ 4xy = (1 + x2)−2 sol. y = (arctan x + c) (1 + x2)−2
Exerc´ıcio 2.30 xy′ + (x + 1)y = x sol. y = 1 + 1
x
( c
ex − 1
)
Determine a solu¸c˜ao do problema de valor inicial:
Exerc´ıcio 2.31 y′ + 2y = xe−2x, y(1) = 0 sol. y = e−x22 (x2− 1)
Exerc´ıcio 2.32 xy′ + 2y = x2− x + 1, y(1) = 12 y > 0 sol. y = x42 −x3 + 12 +12x12
Exerc´ıcio 2.33 xy′ + 2y = sin x, y(π2) = 1 sol. y = x−2
(
−x cos x + sin x + π2 4 − 1
)
18 2.6. Equa¸c˜ao de Ricatti
2.5
Equa¸
c˜
ao de Bernoulli
Uma equa¸c˜ao de primeira ordem que pode ser escrita na forma
dy
dx + P (x)y = Q(x)y
n
, n̸= 1 (2.14)
onde P (x) e Q(x) s˜ao cont´ınuos em um intervalo (a, b) e n ´e um n´umero real, ´e chamado de equa¸c˜ao de Bernoulli.
Teorema 2.2 A equa¸c˜ao diferencial de Bernoulli n˜ao-linear dydx+P (x)y = Q(x)yn, sendo
n ̸= 0 ou 1, pode ser transformada numa equa¸c˜ao diferencial linear atrav´es da mudan¸ca de vari´aveis z = y1−n que resulta numa equa¸c˜ao diferencial linear em z.
Exemplo 34 Resolver a equa¸c˜ao (1 + x2)dydx + xy = x3y3. Exemplo 35 Resolver a equa¸c˜ao dydx = 4xy + x√y.
Resolva a equa¸c˜ao diferencial de Bernoulli.
Exerc´ıcio 2.35 dydx− yx =−yx2 sol. y = x+cx Exerc´ıcio 2.36 dydx+ yx = xy2 sol. y = 1 cx−x2 Exerc´ıcio 2.37 3 (1 + x2)dy dx = 2xy (y 3− 1) sol. y = 1 3 √ 1+c(1+x2) Exerc´ıcio 2.38 x2 dy dx − 2xy = 3y 4 para y(1) = 1 2 sol. y = 1 (−9 5x−1+ 49 5x−6) 1 3
2.6
Equa¸
c˜
ao de Ricatti
A equa¸c˜ao diferencial n˜ao-linear
dy
dx = P (x) + Q(x)y + R(x)y
2
(2.15)
´
e chamada de equa¸c˜ao de Ricatti. Se y1 ´e uma solu¸c˜ao particular para (2.15), ent˜ao as substitui¸c˜oes y = y1+ u e dy dx = dy1 dx + du dx
em (2.15) produzem a seguinte equa¸c˜ao diferencial para u:
du
dx − (Q + 2y1R)u = Ru
2
2.7. Aplica¸c˜oes das ED de Primeira Ordem 19 Como (2.16) ´e uma equa¸c˜ao de Bernoulli com n = 2, ela pode, por sua vez, ser reduzida ` a equa¸c˜ao linear dz dx + (Q + 2y1R)z =−R (2.17) atrav´es da substitui¸c˜ao z = u−1. Exemplo 36 Resolva dxdy = x3(y− x)2+ y x para y = x.
Resolva a equa¸c˜ao de Ricatti dada; y1 ´e uma solu¸c˜ao conhecida para a equa¸c˜ao.
Exerc´ıcio 2.39 dydx =−2 − y + y2, y1 = 2 sol. y = 2 + ce−3x1−1 3 Exerc´ıcio 2.40 dydx =−x42 − 1 xy + y 2, y 1 = 2x sol. y = 2x +cx−31−x 4 Exerc´ıcio 2.41 dydx = e2x+ (1 + 2ex)y + y2, y
1 =−ex sol. y =−ex+ce−x1−1
Exerc´ıcio 2.42 dydx = sec2x− (tan x)y + y2, y
1 = tan x
2.7
Aplica¸
c˜
oes das ED de Primeira Ordem
2.7.1
Problemas de varia¸
c˜
ao de temperatura
A lei de varia¸c˜ao de temperatura de Newton afirma que a taxa de varia¸c˜ao de temperatura de um corpo ´e proporcional `a diferen¸ca de temperatura entre o corpo e o meio ambiente. Seja T a temperatura do corpo e Tm a temperatura do meio ambiente. Ent˜ao, a taxa
de varia¸c˜ao da temperatura do corpo ´e dTdt, e a lei de Newton relativa `a varia¸c˜ao de temperatura pode ser formulado como
dT
dt =−k (T − Tm) , ou como dT
dt + kT = kTm (2.18)
onde k ´e uma constante positiva de proporcionalidade.
Escolhendo-se para k um valor positivo, torna-se necess´ario o sinal negativo na lei de Newton, a fim de tornar dTdt negativa em um processo de resfriamento. Note-se que, em tal processo, T > Tm; assim T − Tm ´e positiva.
A equa¸c˜ao (2.18) ´e a diferencial linear. A solu¸c˜ao geral dessa equa¸c˜ao ´e:
T = Tm+ Ce−kt, onde C ´e a constante arbitr´aria.
Se T|t=0 = T0, ent˜ao: C = T0− Tm.
20 2.7. Aplica¸c˜oes das ED de Primeira Ordem Resulta dessa f´ormula que para t suficientemente grande a temperatura T depende pouco de T0.
2.7.2
Equa¸
c˜
ao do movimento de um corpo
Equa¸c˜ao do movimento de um corpo para um meio em que a resistˆencia ´e proporcional `a velocidade
Deixe-se cair um corpo de massa m de uma certa altura. Pede-se para estabelecer a lei de varia¸c˜ao da velocidade da queda V , se o corpo experimentar uma resistˆencia do ar proporcional `a velocidade (sendo o coeficiente de proporcionalidade k), isto ´e, encontrar
V = f (t).
Em virtude da segunda lei de Newton mdVdt = F , em que dVdt ´e a acelera¸c˜ao do corpo em movimento (a derivada da velocidade em rela¸c˜ao ao tempo) e F , a for¸ca que age sobre o corpo no sentido do movimento. Esta for¸ca ´e constitu´ıda por duas for¸cas: pela for¸ca de gravidade mg e pela resistˆencia do ar −kV (toma-se o sinal menos porque esta for¸ca ´e oposta `a velocidade). Assim,
mdV
dt = mg− kV . (2.19)
Temos uma equa¸c˜ao diferencial sobre a fun¸c˜ao desconhecida V. (´E a equa¸c˜ao do mo-vimento de certos tipos de para-quedas). A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial (2.19) ´ e: V = Ce− k mt+mg k . (2.20)
Para encontrar a constante arbitr´aria C, vamos supor uma condi¸c˜ao suplementar: uma velocidade inicial V0 (que, em especial, pode ser nula) foi comunicada ao corpo na partida; suporemos que esta velocidade incial ´e conhecida. Ent˜ao, a fun¸c˜ao procurada V = f (t) deve ser tal que se tenha para t = 0 (no come¸co do movimento) V = V0. Substituindo
t = 0, V = V0 na equa¸c˜ao (2.20), temos: V0 = C +
mg
k , de onde C = V0− mg
k
Assim, a dependˆencia entre V e t ´e:
V = ( V0− mg k ) e− k mt+mg k . (2.21)
2.7. Aplica¸c˜oes das ED de Primeira Ordem 21 pouco de V0.
2.7.3
Circuitos em s´
erie
A equa¸c˜ao b´asica que rege a quantidade de corrente i em um circu´ıto simples do tipo RL consistindo de uma resistˆencia R, um indutor L e uma for¸ca eletromotriz E ´e:
Ldi
dt + Ri = E(t), (2.22)
onde i(0) = i0.
Esta equa¸c˜ao ´e linear; sua solu¸c˜ao ´e:
i(t) = i0e −R Lt+E R 1 − e− R Lt =(i0 − E R ) e− R Lt+E R. A quantidade ( i0− E R ) e− R
Lt na solu¸c˜ao ´e chamada corrente transit´oria, pois tende
a zero quando t → ∞. A quantidade E
R ´e chamada corrente estacion´aria. Quando t → ∞, a corrente i tende para a corrente estacion´aria.
Para um circu´ıto do tipo RC consistindo de uma resistˆencia, um capacitor C, uma for¸ca eletromotriz, e sem indutˆancia, a equa¸c˜ao que rege a quantidade de carga el´etrica
q no capacitor ´e Rdq dt + 1 Cq = E(t). (2.23) A rela¸c˜ao entre q e i ´e i = dq dt.
A solu¸c˜ao desta equa¸c˜ao diferencial ´e q(t) = q0(t)e
− 1
RCt+ CE.
Exemplo 37 Uma bateria de 12 volts ´e conectada a um circuito em s´erie no qual a indutˆa ncia ´e de 1
2 henry e a resistˆencia, 10 ohms. Determine a corrente i se a corrente inicial
´ e zero.
Exemplo 38 Quando um bolo ´e retirado do forno, sua temperatura ´e de 300oF . Trˆes
minutos depois, sua temperatura passa para 200oF . Quanto tempo levar´a para sua
tem-peratura chegar a 70 graus, se a temtem-peratura do meio ambiente em que ele foi colocado for de exatamente 70oF ?
22 2.7. Aplica¸c˜oes das ED de Primeira Ordem
Exerc´ıcio 2.43 Uma for¸ca eletromatriz (fem) de 30 volts ´e aplicada a um circuito em s´erie L− R no qual a indutˆancia ´e de 0, 5 henry e a resistˆencia, 50 ohms. Encontre a corrente i(t) se i(0) = 0. Determine a corrente quando t → ∞. Sol. i = 35(1− e−100t). Para t→ ∞, temos i = 35.
Exerc´ıcio 2.44 Uma for¸ca eletromotiva de 100 volts ´e aplicada a um circuito R−C em s´erie no qual a resistˆencia ´e de 200 ohms e a capacitˆancia, 10−4 farad. Encontre a carga q(t) no capacitor se q(0) = 0. Encontre a corrente i(t). Sol. q (t) = 1001 (1− e−50t) e, i = dqdt temos i (t) = 12e−50t.
Exerc´ıcio 2.45 Um termˆometro ´e retirado de dentro de uma sala e colocado do lado de fora, em que a temperatura ´e de 5oC. Ap´os 1 minuto, o termˆometro marcava 20oC; ap´os
5 minutos, 10oC. Qual a temperatura da sala? Sol. T ∼= 24, 7411 que ´e a temperatura da
Cap´ıtulo 3
EQUAC
¸ ˜
OES LINEARES DE
SEGUNDA ORDEM
3.1
EDL: Teoria das solu¸
c˜
oes
3.1.1
Dependˆ
encia linear
Um conjunto de fun¸c˜oes{y1(x), y2(x), . . . , yn(x)} ´e linearmente dependente em a ≤ x ≤
b se existem constantes c1, c2, . . . , cn, n˜ao todas nulas, tais que
c1y1(x) + c2y2(x) + . . . + cnyn(x)≡ 0, em a≤ x ≤ b (3.1)
Exemplo 39 O conjunto {x, 5x, 1, sin x} ´e linearmente dependente em [−5, 1] pois existem constantes c1 = −5, c2 = 1, c3 = 0 e c4 = 0, n˜ao todas nulas, tais que (3.1)
se verifica. Em particular, −5x + 1 · 5x + 0 · 1 + 0 · sin x ≡ 0
Note que c1 = c2 = . . . = cn = 0 ´e um conjunto de constantes que sempre satisfaz (3.1).
Um conjunto de fun¸c˜oes ´e linearmente dependente se existe outro conjunto de constantes, n˜ao todas nulas, tais que (3.1) se verifica.
3.1.2
Independˆ
encia linear
Um conjunto de fun¸c˜oes {y1(x), y2(x), . . . , yn(x)} ´e linearmente independente em a ≤
x ≤ b se n˜ao ´e linearmente dependente a´ı; isto ´e, se as ´unicas constantes que satisfazem
24 3.1. EDL: Teoria das solu¸c˜oes
3.1.3
Solu¸
c˜
oes linearmente independentes. O Wronskiano
Teorema 3.1 A equa¸c˜ao diferencial linear homogˆenea de ordem n L(y) = 0 sempre tem n solu¸c˜oes linearmente independentes. Se {y1(x), y2(x), . . . , yn(x)} representam essas
solu¸c˜oes, ent˜ao a solu¸c˜ao geral de L(y) = 0 ´e
y(x) = c1y1(x) + c2y2(x) + . . . + cnyn(x) (3.2)
onde c1, c2, . . . , cn s˜ao constantes arbitr´arias.
O teorema (3.1) acima real¸ca a importˆancia de podermos determinar se um conjunto de solu¸c˜oes de L(y) = 0 ´e linearmente independente ou n˜ao. Em geral, o problema n˜ao pode ser resolvido diretamente a partir de (3.1); n˜ao se pode experimentar todos os valores poss´ıveis dos c′s. Existe, entretanto, um outro m´etodo para abordar o problema.
Seja{y1(x), y2(x), . . . , yn(x)} um conjunto de fun¸c˜oes no intervalo I, cada uma das
quais possui n− 1 derivadas. Ent˜ao o determinante na forma seguinte
W (y1, . . . , yn) = y1 y2 · · · yn y′1 y′2 · · · yn′ .. . ... . .. ... y(n1 −1) y2(n−1) · · · yn(n−1) (3.3) ´
e chamado o determinante de Wronskiano do dado conjunto de fun¸c˜oes. Se um conjunto de fun¸c˜oes {y1(x) , y2(x) , . . . , yn(x)} ´e linearmente dependente no intervalo I ent˜ao
Wronskiano de W (y1, y2, . . . , yn)≡ 0 neste intervalo.
Exemplo 40 As fun¸c˜oes y1 = e−x, y2 = ex, y3 = e2x s˜ao solu¸c˜oes da equa¸c˜ao y′′′− 2y′′−
y′+ 2y = 0.
Mostrar que as fun¸c˜oes dadas formam um sistema fundamental das equa¸c˜oes diferen-ciais correspondentes.
Exerc´ıcio 3.1 ex, e2x, e3x , y′′′− 6y′′+ 11y′− 6y = 0 Sol. 2e6x ̸= 0
Exerc´ıcio 3.2 e−x, ex, xex , y′′′− y′′− y′+ y = 0 Sol. 4ex ̸= 0
Exerc´ıcio 3.3 x1/2 , x−1/2, 1, x2y′′′ + 3xy′′+3
4y′ = 0 Sol. 1
4x−3 ̸= 0
3.2. A equa¸c˜ao caracter´ıstica 25
3.2
A equa¸
c˜
ao caracter´ıstica
Iniciemos considerando as equa¸c˜oes homogˆeneas, isto ´e, as equa¸c˜oes da forma:
y′′+ ay′+ by = 0 (3.4)
onde a e b s˜ao constantes.
Suponhamos que a e b s˜ao reais e que o intervalo de varia¸c˜ao de x ´e o eixo dos x. Lembremos que a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao homogˆenea linear de 1a ordem com coeficientes
constantes y′+ ky = 0 ´e uma fun¸c˜ao exponencial, a saber,
y = ce−kx (3.5)
de onde temos y = eλx, possa ser uma solu¸c˜ao de (3.4) se λ for escolhido adequadamente.
Substituindo (3.5) e suas derivadas y′ = λeλx e y′′ = λ2eλx , na equa¸c˜ao (3.4). Ent˜ao
(3.5) ser´a uma solu¸c˜ao de (3.4) se λ for uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao do 2o grau.
λ2+ aλ + b = 0 (3.6)
Esta equa¸c˜ao ´e chamada a equa¸c˜ao caracter´ıstica (ou equa¸c˜ao auxiliar) de (3.4). Suas ra´ızes s˜ao: (λ− λ1)(λ− λ2) = 0 ou λ1 = 1 2 ( −a +√a2− 4b), λ 2 = 1 2 ( −a −√a2− 4b), (3.7)
Em vista da dedu¸c˜ao segue-se que as fun¸c˜oes
y1 = eλ1x e y2 = eλ2x (3.8)
s˜ao solu¸c˜oes de (3.4).
Da ´algebra elementar decorre, pelo fato de a e b serem reais, que a equa¸c˜ao carac-ter´ıstica (3.6) pode possuir: duas ra´ızes reais distintas; duas ra´ızes complexas conjugadas ou, uma raiz dupla real.
Determinar as solu¸c˜oes das equa¸c˜oes:
Exemplo 41 y′′+ y′ − 2y = 0
26 3.3. Solu¸c˜ao geral - sistema fundamental
Exemplo 43 y′′− 2y′+ y = 0
Determinar as solu¸c˜oes das equa¸c˜oes diferenciais seguintes:
Exerc´ıcio 3.5 y′′− 9y = 0 Exerc´ıcio 3.6 y′′+ 2y′ = 0 Exerc´ıcio 3.7 y′′− 3y′+ 2y = 0 Exerc´ıcio 3.8 y′′+ w2y = 0 Exerc´ıcio 3.9 y′′+ 4y′+ 5y = 0 Exerc´ıcio 3.10 y′′+ 2y′+ 5y = 0
Determinar uma equa¸c˜ao diferencial da forma (3.4) da qual as seguintes fun¸c˜oes s˜ao solu¸c˜oes.
Exerc´ıcio 3.11 e−x, e−2x sol. y′′+ 3y′+ 2y = 0
Exerc´ıcio 3.12 1, e2x sol. y′′− 2y′ = 0
Exerc´ıcio 3.13 e3ix, e−3ix sol. y′′+ 9y = 0
Exerc´ıcio 3.14 e(−3+4i)x, e(−3−4i)x sol. y′′+ 6y′+ 25y = 0
3.3
Solu¸
c˜
ao geral - sistema fundamental
Uma solu¸c˜ao de uma E.D.O. de segunda ordem (linear ou n˜ao) ´e chamada uma solu¸c˜ao geral se ela cont´em duas constantes arbitr´arias independentes (o intervalo de varia¸c˜ao das constantes pode ser restrito em alguns casos a fim de evitar express˜oes imagin´arias e outras degenera¸c˜oes). Aqui, independˆencia significa que a mesma solu¸c˜ao n˜ao pode ser reduzida a uma forma contendo somente uma constante arbitr´aria ou nenhuma. Quando atribu´ımos valores definidos a estas duas constantes, ent˜ao a solu¸c˜ao obtida ´e chamada uma solu¸c˜ao particular.
Consideremos a equa¸c˜ao linear homogˆenea
3.3. Solu¸c˜ao geral - sistema fundamental 27 e desejamos mostrar que uma solu¸c˜ao geral de tal equa¸c˜ao pode ser facilmente obtida se duas solu¸c˜oes adequadas y1 e y2 s˜ao conhecidas.
Se y1(x) e y2(x) s˜ao solu¸c˜oes de (3.9) em um dado intervalo I, ent˜ao, temos:
y(x) = c1y1(x) + c2y2(x) (3.10)
onde c1 e c2 s˜ao constantes arbitr´arias, ser´a uma solu¸c˜ao de (3.9) no intervalo I. De vez que ela encerra duas constantes arbitr´arias, ela ser´a uma solu¸c˜ao geral de (3.9), desde que n˜ao possa ser reduzida a uma express˜ao contendo menos que duas constantes arbitr´arias.
3.3.1
Solu¸
c˜
ao em termos das ra´ızes
A solu¸c˜ao de (3.4) se obt´em diretamente a partir das ra´ızes de (3.7). H´a trˆes casos a considerar.
• caso 1. λ1 e λ2 s˜ao ambas reais e distintas. eλ1x e eλ2x s˜ao duas solu¸c˜oes linearmente independentes. A solu¸c˜ao geral ´e
y(x) = c1y1(x) + c2y2(x) ou y(x) = c1eλ1x+ c2eλ2x (3.11)
• caso 2. λ1 = p+iq, complexo. Como, em (3.4) e (3.6), a e b sup˜oem-se reais, as ra´ızes de (3.5) devem aparecer em pares conjugados; assim, a outra raiz ´e λ2 = p−iq. Duas solu¸c˜oes linearmente independentes s˜ao e(p+iq)x e e(p−iq)x. O que nos interessa agora ´
e obter solu¸c˜oes reais a partir destas solu¸c˜oes complexas. Isto ser´a feito aplicando as rela¸c˜oes de Euler.
eiqx= cos qx + i sin qx e e−iqx = cos qx− i sin qx
De onde n´os obtemos y(x) = c1epxcos qx + c2epxsin qx ou
y(x) = epx(c1cos qx + c2sin qx) (3.12)
28 3.3. Solu¸c˜ao geral - sistema fundamental
• caso 3. λ1 = λ2. eλ1x e xeλ1x s˜ao duas solu¸c˜oes LI; a solu¸c˜ao geral ´e
y(x) = c1eλ1x+ c2xeλ1x (3.13)
Observa¸c˜ao 2 As solu¸c˜oes acima n˜ao s˜ao v´alidas se a equa¸c˜ao diferencial n˜ao ´e linear ou se n˜ao tem coeficientes constantes.
Determinar uma solu¸c˜ao geral das seguintes equa¸c˜oes diferenciais:
Exemplo 44 y′′+ y′ − 2y = 0 sol. y(x) = c1ex+ c2e−2x
Exemplo 45 y′′− 2y′+ 10y = 0 sol. y(x) = ex(c
1cos 3x + c2sin 3x)
Exemplo 46 y′′+ 8y′+ 16y = 0 sol. y(x) = (c1 + c2x) e−4x Resolver o problema de valor inicial:
Exemplo 47 y′′− 4y′+ 13y = 0 y(0) = 4, y′(0) = 1
Exemplo 48 y′′+ 4y′− 21y = 0 y(0) = 3, y′(0) = 0
Determinar uma solu¸c˜ao geral das seguintes equa¸c˜oes diferenciais:
Exerc´ıcio 3.15 y′′− y′− 12y = 0 sol. y(x) = c1e4x+ c2e−3x
Exerc´ıcio 3.16 y′′+ 4y′+ 5y = 0 sol. y(x) = e−2x(c1cos x + c2sin x)
Exerc´ıcio 3.17 y′′+ 0, 2y′ + 0, 26y = 0 sol. y(x) = e−10x (c1cosx
2 + c2sin
x
2 )
Exerc´ıcio 3.18 4y′′+ 17y′+ 4y = 0 sol. y(x) = c1e−
x
4 + c2e−4x
Exerc´ıcio 3.19 y′′+ 5y′+ 12, 5y = 0 sol. y(x) = e−5x2 (c1cos5x
2 + c2sin 5x
2 )
Exerc´ıcio 3.20 2y′′+ 2y′ + y = 0 sol. y(x) = e−x2 (c1cosx
2 + c2sin
x
2 )
Exerc´ıcio 3.21 25y′′− 20y′+ 4y = 0 sol. y(x) = (c1+ c2x) e 2 5x
Exerc´ıcio 3.22 y′′+ 0, 25y = 0 sol. y(x) = c1cosx2 + c2sinx2
Exerc´ıcio 3.23 y′′+ 2αy′+ (α2+ 1)y = 0 sol. y(x) = e−αx(c
3.4. Equa¸c˜oes lineares n˜ao homogˆeneas 29
Exerc´ıcio 3.24 4y′′− 4y′− 3y = 0 sol. y(x) = c1e−
x
2 + c2e 3 2x Resolver o problema de valor inicial proposto.
Exerc´ıcio 3.25 y′′+ 2y′+ 10y = 0, y(0) = 0, y′(0) = 3 sol. y(x) = e−xsin 3x
Exerc´ıcio 3.26 9y′′− 12y′+ 4y = 0, y(0) = 2, y′(0) =−1 sol. y(x) =(2− 73x)e23x
Exerc´ıcio 3.27 y′′− 6y′+ 9y = 0, y(0) = 0, y′(0) = 2 sol. y(x) = 2xe3x
Exerc´ıcio 3.28 9y′′ + 6y′ + 82y = 0, y(0) = −1, y′(0) = 2 sol. y(x) = e−x3 (− cos 3x + 5
9sin 3x )
Exerc´ıcio 3.29 y′′− 3y′+ 2y = 0, y(0) =−1, y′(0) = 0 sol. y(x) = e2x− exsin 3x
Exerc´ıcio 3.30 y′′+4y′+5y = 0, y(0) = 1, y′(0) =−3 sol. y(x) = e−2x(cos x− sin x)
Exerc´ıcio 3.31 y′′+ 4y′+ 4y = 0, y(−1) = 2, y′(−1) = 1 sol. y(x) = (7 + 5x) e−2(x+1)
3.4
Equa¸
c˜
oes lineares n˜
ao homogˆ
eneas
Temos
y′′+ f (x)y′+ g(x)y = r(x) (3.14)
y′′+ f (x)y′+ g(x)y = 0 (3.15)
Teorema 3.2 Uma solu¸c˜ao geral y (x) da equa¸c˜ao diferencial linear (3.14) ´e a soma de uma solu¸c˜ao geral yh(x) da equa¸c˜ao homogˆenea correspondente (3.15) e de uma solu¸c˜ao
particular arbitr´aria yp(x) de (3.14).
y(x) = yh(x) + yp(x) (3.16)
Em cada caso verificar que yp(x) ´e uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao diferencial dada
e determinar uma solu¸c˜ao geral.
Exemplo 49 y” + y = 2ex yp(x) = ex
30 3.4. Equa¸c˜oes lineares n˜ao homogˆeneas Em cada caso verificar que yp(x) ´e uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao diferencial dada
e determinar uma solu¸c˜ao geral.
Exerc´ıcio 3.32 y′′− y = 2ex, y
p(x) = xex sol y (x) = c1ex+ c2e−x+ xex
Exerc´ıcio 3.33 y′′−3y′+ 2y = 2x2−6x+2, yp(x) = x2 sol y (x) = c1e2x+ c2ex+ x2
Exerc´ıcio 3.34 y′′ + 4y = −12 sin 2x, yp(x) = 3x cos 2x sol y (x) = c1cos 2x +
c2sin 2x + 3x cos 2x
Exerc´ıcio 3.35 y′′+ 9y = 18x, yp(x) = 2x sol y (x) = c1cos 3x + c2sin 3x + 2x
Exerc´ıcio 3.36 y′′+ y = 2 sin x, yp(x) =−x cos x sol y (x) = (c1− x) cos x+c2sin x
3.4.1
Resolu¸
c˜
ao de equa¸
c˜
oes lineares n˜
ao homogˆ
eneas
O m´etodo a ser utilizado ´e dos coeficientes a determinar. Este m´etodo ´e adequado para equa¸c˜oes com coeficientes constantes
y′′+ ay′+ by = r(x) (3.17)
onde r(x) ´e tal que a forma de uma solu¸c˜ao particular yp(x) de (3.17) pode ser
prognos-ticada; por exemplo, r pode ser uma potˆencia ´unica de x, um polinˆomio, uma fun¸c˜ao exponencial, um seno, um coseno, ou uma soma de tais fun¸c˜oes. O m´etodo consiste em imaginar para yp(x) uma express˜ao semelhante `a de r(x), contendo coeficientes inc´ognitas
que s˜ao determinados substituindo yp(x) e suas derivadas em (3.17).
Resolver as equa¸c˜oes n˜ao homogˆenea.
Exemplo 51 y′′+ 4y = 8x2
Exemplo 52 y′′− y′− 2y = 10 cos x
Termo em r (x) Escolha parayp(x)
Kxn(n = 0, 1, . . .) Knxn+Kn−1xn−1+ . . . + K1x + K0 Kepx cepx K cos qx K sin qx K1cos qx + K2sin qx
3.4. Equa¸c˜oes lineares n˜ao homogˆeneas 31
Observa¸c˜ao 3 Ser (x)´e uma soma de fun¸c˜oes da primeira coluna, escolhemos parayp(x)a
soma das fun¸c˜oes nas linhas correspondentes.
• Pn(x) = eαx sin βx cos βx
• Caso em que a solu¸c˜ao homogˆenea ´e igual ao valor da fun¸c˜ao r (x), conforme (3.14)
xs[(A0xn+ A1xn−1+ ... + An)eαcos βx + (B0xn+ B1xn−1+ ... + Bn)eαsin βx]
s→´e o menor inteiro n˜ao negativo (s = 0, 1, 2, ...) que assegura n˜ao haver nenhum termo em yi(x)que seja solu¸c˜ao homogˆenea correspondente.
Exemplo 53 y′′− 3y′+ 2y = 4x + e3x
Exemplo 54 y′′− y = excos x
Determinar uma solu¸c˜ao geral das seguintes equa¸c˜oes diferenciais.
Exerc´ıcio 3.37 y′′+ y = x2+ x sol y (x) = x2+ x− 2 + c 1cos + c2sin x Exerc´ıcio 3.38 y′′ + 5y′ + 6y = 9x4− x sol y (x) = c1e−2x+ c2e−3x + 96x4 − 5x3 + 19 2 x 2− 11x + 6
Exerc´ıcio 3.39 y′′− y′− 2y = sin x sol y (x) = c1e2x+ c2e−x+101 cos x− 103 sin x
Exerc´ıcio 3.40 y′′+ y′− 6y = 52 cos 2x sol y (x) = c1e2x + c2e−3x− 5 cos 2x + sin 2x
Exerc´ıcio 3.41 y′′+ y′− 2y = 3ex sol y (x) = c1ex+ c2e−2x+ xex
Exerc´ıcio 3.42 y′′+ y = 2 sin x sol y (x) = c1cos x + c2sin x− x cos x
Exerc´ıcio 3.43 y′′− 2y′+ 2y = 2excos x sol y (x) = ex(c
1cos x + c2sin x + x sin x)
Exerc´ıcio 3.44 y′′+ y = −x − x2 sol c1cos x + c2sin x− x2− x + 2
Exerc´ıcio 3.45 y′′+ y = sin x sol c1cos x + c2sin x−12x cos x
Exerc´ıcio 3.46 y′′+ 4y = e−x sol c1cos 2x + c2sin 2x + 15e−x
Exerc´ıcio 3.47 y′′− y′− 2y = 4 sin x sol c1e2x+ c2e−x+ 49cos x− 43sin x Resolver os seguintes problemas de valor inicial