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EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA CAPITALISTA E DISPUTAS TERRITORIAIS NA CHAPADA DO APODI, CEARÁ

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EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA CAPITALISTA E DISPUTAS TERRITORIAIS NA CHAPADA DO APODI, CEARÁ

Bernadete Maria Coêlho Freitas Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos- FAFIDAM/ UECE bernadetegeo@gmail.com

Resumo

Este trabalho tem como objetivo discutir a expansão da fronteira agrícola e os conflitos territoriais na Chapada do Apodi, no Ceará, materializada pela luta dos camponeses e dos trabalhadores assalariados frente à expansão do agronegócio, no período de 1990 a 2012. Com o ordenamento territorial projetado pelo Estado após 1990, por meio da “nova” política de irrigação, acirrou-se as disputas territoriais na Chapada do Apodi. Nesse sentido, este trabalho baseia-se em estudo bibliográfico e trabalhos de campo (2010 a 2012) que possibilitaram visitas técnicas em empresas agrícolas e instituições do Estado e rodas de conversas com camponeses e trabalhadores assalariados. Percebe-se que mesmo com o avanço do agronegócio, ampliou-se a luta dos camponeses pela terra e dos assalariados por trabalho digno na área em estudo, questões demarcadas por subordinação, conflitualidade e resistência.

Palavras-chave: Fronteira. Agronegócio. Camponeses. Trabalhadores. Conflitualidade.

Introdução

Com o ordenamento territorial projetado pelo Estado no Ceará, após 1990, acirraram-se as disputas territoriais na Chapada do Apodi. Esse processo materializa-se com a expansão dos perímetros públicos irrigados, alicerçados pela “nova” política de irrigação e reflexo do avanço da fronteira agrícola brasileira (SILVA, 2006) nas áreas, anteriormente à margem dos investimos do Estado. Atualmente, com a inserção desses territórios na lógica capitalista (ARRIGHI, 1996) ampliaram-se as disputas e os conflitos territoriais, evidenciadas pelas lutas dos camponeses que buscam o retorno à terra e dos trabalhadores assalariados pelo trabalho digno e decente, frente à expansão do sistema agrícola do agronegócio.

Na Chapada do Apodi a expansão do agronegócio pode ser evidenciada através da monopolização do território pelo capital e da territorialização do capital monopolista (OLIVEIRA, 2004; 2007). Duas empresas agrícolas expressam essas relações de produção e de poder (RAFFESTIN, 1993) em áreas internas e externas ao território do perímetro público irrigado Jaguaribe-Apodi: a Fruta Cor (empresa nacional do ramo da banana e mamão) e a transnacional Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda. A primeira mantém tanto relações capitalistas de produção como relações não especificamente

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capitalistas, ou seja, a renda da terra se dá via circulação e também mediante a produção propriamente dita. A segunda mantém somente relações capitalistas de produção, com o cultivo de banana, atualmente (OLIVEIRA, 2004; 2007).

Nos dois casos mencionados são perceptíveis as relações de subjugação e exploração. Os camponeses, muitas vezes, encontram-se subordinados às empresas agrícolas por intermédio da parceria, em virtude do irrelevante incentivo à produção familiar. Os assalariados, por sua vez, submetem-se aos empregos precarizados ofertados nas empresas (nacionais ou transnacionais) frente à falta de alternativas. Essas condições precárias, em alguns casos, levam a luta e a resistência, gerando assim, os conflitos territoriais.

Partindo desse entendimento, este trabalho pretende discutir as disputas e conflitos territoriais na Chapada do Apodi, no Ceará, tendo como protagonistas, de um lado o agronegócio e de outro, os camponeses e trabalhadores assalariados, no período de 1990 a 2012. Estas reflexões baseiam-se em estudos bibliográficos, pesquisa de dissertação da autora, concluída em 2010, e trabalhos de campo (2010 a 2012) que possibilitaram visitas técnicas em empresas agrícolas e instituições públicas e rodas de conversas com camponeses e trabalhadores assalariados.

Com base nessa concepção, este trabalho encontra-se distribuído em dois momentos, seguintes ao capítulo introdutório. O primeiro apresenta uma discussão teórica sobre o conceito de fronteira agrícola capitalista, compreendido, aqui, como condição para expansão do agronegócio, sob o aparato do Estado. O segundo aborda a forma contraditória e combinada em que se desenvolve o campo brasileiro, tomando como estudo de caso a Chapada do Apodi. Este capítulo encontra-se subdividido em duas partes, mostrando a expansão do capital por meio da monopolização do território pelo capital (empresa Fruta Cor) e da territorialização do capital monopolista (transnacional Del Monte).

A fronteira agrícola capitalista: elementos teóricos

De início, a questão que se pretende responder é como se expande esse modelo de agronegócio no Brasil? A problemática será analisada a partir do conceito de fronteira, entendida como instrumento criado pelo Estado com a finalidade de ordenamento territorial, objetivando a expansão do capital no campo, configurado no agronegócio, que, por sua vez, tem gerado conflitos e disputas territoriais.

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Segundo Silva (2006, p.283) “a fronteira constitui recorte analítico e espacial da problemática da mobilidade do capital e das relações de produção pelo território nacional. Além disso é palco para conflitos transculturais e identitários”.

A proposta do autor assemelha-se com este trabalho, em que discute a construção da fronteira agrícola capitalista a partir do conceito de território, entendido, aqui, em sentido amplo, conforme discutem Raffestin (1993) e Haesbaert (2006; 2007). Isto é, a fronteira revela um ordenamento territorial, cuja síntese teórica envolve as dimensões política, econômica, cultural, simbólica etc (SILVA, 2006), sendo que este trabalho privilegia as dimensões política e econômica.

Assim, a fronteira agrícola vai além da visão estreita de limite entre países, estados e municípios, separando de forma estática grupos sociais delimitados juridicamente. É análise da fronteira enquanto “limite e processo social, simultaneamente” (SILVA, 2006, p. 284). A fronteira resulta das contradições socioespaciais de reprodução da sociedade capitalista, que apesar de ser um reflexo dessa sociedade possui uma dinâmica própria, relativizando seu uso. Assim, “a busca de novas áreas por produtores e empresas no interior do país reflete processos de exclusão social, reprodução ampliada e difusão de valores culturais e ideológicos” (SILVA, 2006, p. 285-286). Nesse sentido, a fronteira é “conflito, instabilidade, conquista e resistência”. (SILVA, p.288).

No Ceará, destaca-se a expansão embrionária da fronteira agrícola da Chapada do Apodi, território que une o estado do Ceará ao do Rio Grande do Norte por meio da fruticultura. Esta se alimenta pela expansão da política pública de irrigação no Nordeste brasileiro, materializada, atualmente, com o avanço do agronegócio. No Rio Grande do Norte, recentemente, foi autorizado pela presidência, a implantação do Perímetro Público Irrigado no município de Apodi, mesmo após a resistência dos atores locais. Esse processo vem consolidar o avanço da fronteira na Chapada do Apodi.

A medida que avança o agronegócio, no entanto, ampliam-se as resistências e as conflitualidades, frente a forma degradadora desse sistema agrícola, demarcando as disputas por territórios. A disputa ocorre em virtude de o agronegócio vislumbrar, exclusivamente, a reprodução do capital, em detrimento dos interesses e dos valores dos camponeses e trabalhadores assalariados.

Assim, a fronteira agrícola capitalista segundo Silva (2006, p. 292) “se refere a um processo de integração de um espaço geográfico à economia nacional e global, por meio da expansão territorial da agricultura”. Acrescenta que:

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Além de um processo, uma área onde ocorrem grandes transformações socioespaciais, a partir da introdução de novas relações de produção e padrões técnico-mercantis e financeiros, bem como a inserção de valores culturais e simbólicos conflitantes com as identidades territoriais preexistentes. (SILVA, 2006, p. 292)

Com a expansão da fronteira agrícola capitalista do território da Chapada do Apodi diversas implicações podem ser evidenciadas, tais como o processo de des-re-territorilização, expropriação camponesa, precarização do trabalho, violência, bem como o uso de agrotóxicos, que provoca extrema vulnerabilidade à população e ao ambiente expostos a esse veneno.

Essas questões refletem o “novo” modelo de irrigação, estrategicamente estabelecido pelo Estado, delineando o caráter geopolítico presente nessa fronteira. Segundo Becker (1988) a fronteira pode assumir uma dimensão geopolítica, em virtude das intervenções públicas e ideológicas promovidas pelo Estado, com a finalidade da acumulação capitalista. Desse modo, esse fenômeno pode ter efeitos diversos, conforme destaca Silva (2006).

[...] A fronteira expressa, em linhas gerais, expansão agrícola em área, concentração fundiária, transformação das relações de produção (êxodo rural e emergência de um exército de bóias-frias) e conflitos fundiários; modernização da base técnico-produtiva, implantação da rede de fixos (armazéns, indústrias, latifúndios, centro de pesquisa, bancos, cidades, empresas, distribuidoras, portos, etc) e de fluxos de informações, capitais, mercadorias e mão-de-obra, integração espacial em diversas escalas geográficas, extensão da fronteira urbano-industrial de um país, desterritorialização, territorialização e marginalização de grupos sociais e/ou lugares. (p. 293)

Alguns desses processos estão presentes de forma incisiva na fronteira agrícola da Chapada do Apodi, decorrentes da ação do Estado, por meio da expansão dos perímetros públicos, atualmente, alicerçados pelas políticas neoliberais, o que promove uma verdadeira “privatização” dessas áreas públicas, exploração e subjugação dos camponeses e trabalhadores assalariados, conforme será apresentado na sequência.

A expansão da fronteira agrícola capitalista na Chapada do Apodi: a territorialização do capital monopolista e a monopolização do território pelo capital

De início é preciso ter clareza da existência de duas formas de desenvolvimento no campo brasileiro: o agronegócio e o campesinato. Esses duas formas são distintas e representam, respectivamente, a expansão do capitalismo, e sua negação, ainda que essa segunda possa se inserir ao primeiro, de forma precária ou subalterna, em alguns momentos.

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De acordo com Fernandes e Welch (2008, p. 49), o sistema agrícola do agronegócio é diferenciado do campesinato. No primeiro, a monocultura, o trabalho assalariado e a produção em grande escala são algumas de suas referências. No sistema agrícola camponês, a biodiversidade, a predominância do trabalho familiar e a produção em pequena escala são algumas das principais características.

Isso significa que “o sistema agrícola camponês não é parte do agronegócio; todavia como o capital controla a tecnologia, o conhecimento, o mercado, as políticas agrícolas etc., os camponeses estão subalternos [...]”; contudo, “evidente que a participação do campesinato no sistema agrícola do agronegócio é uma condição determinada pelo capital” (FERNANDES, WELCH, 2008, p. 49).

Ressalta-se que essa compreensão de campesinato de Fernandes e Welch (2008, p. 49), enquanto um sistema, não significa a adesão a uma visão mecanicista. Tem como propósito “considerar a estrutura e as dimensões que compreende seu modo de vida, a partir de seu território, sua cultura, seus valores, suas formas de luta e resistência no enfrentamento como o capital, condições essenciais para continuar sendo camponês”. Na perspectiva de Oliveira (1995; 1999; 2004; 2007), o desenvolvimento do capitalismo no campo ocorre de forma contraditória e combinada. Ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento reproduz relações especificamente capitalistas no campo (trabalho assalariado com a presença do boia-fria), concomitante e contraditoriamente, produz relações camponesas de produção (presença do trabalho familiar).

Significa dizer que mesmo ocorrendo uma reestruturação no sistema produtivo e na vida social, o agronegócio não substitui a agricultura familiar camponesa, mas superpõe-se, numa relação contraditória e conflituosa. Para esse autor, é possível perceber dois aspectos desse processo, por ele denominado como “monopolização do território pelo capital” e “territorialização do capital monopolista”.

De acordo com o referido autor, o monopólio do território pelo capital acontece, por exemplo, quando a renda da terra é obtida pela circulação de mercadorias, ou seja, implanta-se com a subordinação da produção à circulação, com relação não especificamente capitalista de produção. No caso da territorialização do capital monopolista, ocorre com relações especificamente capitalistas (o assalariamento). Nesse caso, a renda da terra é apropriada pelo capital, na relação de produção propriamente dita, conforme pode ser visto na sequência. Esses dois processos são evidenciados na Chapada do Apodi, conforme pode ser visto na sequência.

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O monopólio do território pelo capital: subordinação e conflitualidade na “empresa” Fruta Cor

A fazenda Fruta Cor teve origem em 1997, no Distrito de Lagoinha em Quixeré, Ceará, com produção de banana (pacovan e maçã) em 45 hectares. Seu proprietário é do ramo da construção civil da capital do estado do Ceará. A fazenda iniciou no Perímetro Irrigado no ano de 1998 e vem expandindo suas terras e mercado na região do Baixo Jaguaribe. Apesar de ser amplamente conhecida na região como empresa, não possui CNPJ, pois se trata de uma grande propriedade em nome de uma pessoa física.

De acordo com dados de 2009, a “empresa” mantem parceria com 49 produtores (pequenos e médios), que ocupam 950,00 ha. Possui área de 932,00 ha em produção, onde a renda da terra acontece via produção propriamente dita (com assalariamento), o que representa 50% de sua produção. Somadas, as áreas produtivas e a de parceiros atingem 1.882,00 ha. Com a parceria, a renda da terra é apropriada mediante circulação de mercadorias (FREITAS, 2010).

Nesse período, a empresa, juntamente com os parceiros, produzia, 1.000 toneladas semanais, 80% de banana e 20% de mamão. Os 49 produtores parceiros localizam-se nos Municípios de Limoeiro do Norte, Quixeré, Tabuleiro no Norte, Russas e São João do Jaguaribe e possuem áreas entre 4 e 132 hectares. Se forem considerados os critérios do INCRA, é concebida como uma grande propriedade, ou seja, área acima de 15 módulos fiscais, levando em conta seus terrenos em Quixeré e Limoeiro do Norte, onde são localizadas as quatro unidades produtivas.

De acordo com entrevista com gerente da empresa (agosto de 2009), suas unidades estão assim distribuídas: Unidade da Lagoinha: cerca 200 hectares; Unidade do Cercado do Meio: em torno de 200 hectares; Unidade de Tabuleiros de Russas: 300 hectares; Unidade do Jaguaribe-Apodi: em torno de 300 hectares.

A produção da empresa é dominantemente a banana, embora o mamão seja considerado a segunda cultura mais relevante. O destino da produção é, principalmente, o mercado interno: Recife, Teresina, Natal, Mossoró, Campina Grande, São Luis, João Pessoa, Belém, dentre outros. A empresa exporta mamão, em pequena escala, mediante parceira que mantém com uma empresa em Barreiras, na Bahia, chamada Agronol (FREITAS, 2010).

A “empresa” possui um quadro de pouco mais de 700 funcionários, todos legalizados, segundo o gerente. De acordo com entrevista com trabalhadores, a empresa efetua o

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pagamento de hora-extra no valor de R$1,99/hora. Quando há demanda de produção, chegam a trabalhar até cinco horas além da jornada, que é de oito horas, o que demonstra precariedade nas relações de trabalho.

O empresário iniciou a parceria ofertando o pacote tecnológico para os agricultores familiares (camponeses) com a transferência do conhecimento de sua tecnologia. O agricultor realizava o pagamento, no momento em que prestava contas da produção. Em entrevista, um técnico da empresa acentuou que “de início os parceiros foram se adaptando à tecnologia e depois passaram a andar com suas próprias pernas”.

O pacote tecnológico refere-se à forma como se deve produzir determinada cultura. A empresa cobra 10% da produção do parceiro pelo repasse do pacote. O valor que o parceiro transfere para a Fruta Cor é calculado de acordo com a comercialização, mediante um software, com base no valor vendido. “Vai depender do valor que foi comercializado. Nós queremos fazer com que ele entenda que nós estamos no mesmo barco, ele vai correr o mesmo risco em relação o preço da comercialização”, afirma o gerente.

Esse relato leva a crer que a garantia apresentada pela empresa é relativa, já que os parceiros também ficarão sob a demanda do mercado. Uma agricultora familiar camponesa relata os motivos pelos quais resiste e não adere à parceria ofertada pelo empresário: “ele cobra muito, muito... Aí chega um ponto que o agricultor não aguenta mais. [...] A gente já entra devendo 10% pelo repasse do pacote tecnológico”.

Vale ressaltar que junto com o pacote tecnológico vem o “pacote de veneno”, questão que desencadeia diversos conflitos na Chapada. Moradores da comunidade Lagoa da Casca (comunidades circunvizinhas à empresa e parceiros) afirmam já terem sido banhados por agrotóxicos. Estes relatam que “o avião passava quase por cima de suas casas, mas depois das reclamações estão passando um pouco mais distantes”.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, pela Instrução Normativa Nº 2, de 3 de janeiro de 2008, publicada no Diário Oficial da União de 08/01/2008, em seu Art. 10, estabelece, no entanto, que para o efeito de segurança operacional, a aplicação aeroagrícola fica restrita à área a ser tratada, observando as seguintes regras: não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma distância mínima de: a) quinhentos metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de mananciais de captação de água para abastecimento de população; b) duzentos e cinquenta metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de animais.

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O avião representa um símbolo negativo para as famílias das comunidades, que ficam apreensivas em período de pulverização por conta dos problemas relacionados ao uso de agrotóxico. Pode ser observado em imagem na sequência, um avião simbólico erguido pelo líder comunitário e ambientalista Zé Maria do Tomé, em protesto juntamente com os demais moradores da referida comunidade.

Em abril de 2010, Zé Maria foi brutalmente assassinato. Além de denunciar os problemas dos agrotóxicos era o símbolo da luta pela terra na Chapada. Integrou a Associação do Ex-irrigantes Expropriados do Jaguaribe-Apodi (AIJA) e a Associação dos Trabalhadores Rurais Sem Terra da Chapada. O líder (filho de camponês) reivindicava o retorno à terra, questão que levou a insatisfação do agronegócio, já que parte da área do Perímetro Irrigado encontra-se invadida por empresas do agronegócio, conforme estudo realizado pelo Dnocs (2009).

Após dois anos de luta dos movimentos sociais da região e da família do líder comunitário, reclamando a impunidade do crime, o Ministério Público Estadual (Ceará) denunciou, em 26 de junho de 2012, o proprietário e o gerente da empresa Fruta Cor, dentre outros, pelo assassinato do líder comunitário, questão amplamente divulgada nos meios jornalísticos do estado, conforme segue.

A 1ª Vara de Justiça em Limoeiro do Norte recebeu na terça-feira (26) denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual contra os acusados do homicídio do ativista ambiental José Maria Filho. O Zé do Tomé, como era conhecido, foi morto com 19 tiros no dia 21 de abril de 2010. São acusados pela morte do ambientalista: João Teixeira Júnior, empresário do ramo de fruticultura; José Aldair Gomes Costa, gerente da empresa de João Teixeira, além de Antônio Wellington Ferreira Lima e Francisco Marcos Lima Barros, moradores da região que, segundo a denúncia, teriam dado apoio ao crime. O MPE pediu a prisão cautelar dos acusados, mas o pedido foi negado. A promotoria vai recorrer ao Tribunal de Justiça do Ceará. As investigações apontaram, por meio de exames de balística, que os tiros que mataram Zé do Tomé partiram da arma do pistoleiro Westilly Hitler, morto há três meses por um policial. Acusado de ser o mandante do crime, João Teixeira Júnior classifica a denúncia da promotoria de “barbaridade” e nega qualquer participação dele e do gerente da sua empresa com o crime. [...] (O POVO, 28/06/2012).

Esses conflitos denunciam a luta pela terra e as contradições presentes nas formas de ordenamento territorial do campo, projetadas pelo próprio Estado. Formas diferenciadas de relação e interação da sociedade com a natureza devem ser repensadas a exemplo da agroecologia, da produção orgânica, formas que não tem interessado as empresas, já que seus objetivos circunscrevem-se no lucro exponencial e imediato.

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Um técnico da empresa Fruta Cor, ao ser indagado em relação à possibilidade de produção orgânica, afirmou que o grande problema é o consumidor levar em conta, sobretudo, a aparência, a estética da fruta. Considerou que a população “ainda não tem educação para essa mudança”. E, como o empresário visa o lucro, produz aquilo que o consumidor quer, afirmou. Exprime, contudo: “é como comparar uma galinha de granja com uma galinha caipira”. Ao ser questionado qual preferia, considerando o conhecimento que tem do processo produtivo das frutas, foi incisivo: “eu empresário prefiro a galinha de granja; agora, eu cliente, prefiro a caipira!”

Essa situação se assemelha aos trabalhadores das empresas que, ao serem questionados, chegam a garantir que, após conhecer o processo produtivo, “nunca mais colocam a fruta na boca”, seja a banana, o melão ou o abacaxi.

Na verdade, não se pode esquecer que a cultura da estética e do fetiche da mercadoria é fruto da ideologia propagada pelo próprio sistema capitalista, que necessita da alienação do consumidor para continuar ampliando seu capital. Atualmente, o poder que controla esse sistema capitalista, encontra-se sob o domínio das empresas nacionais e transnacionais, bancos e latifundiários etc. Estes se apoiam no poder político, configurado no Estado, condição para a concentração da renda e da terra e para a reprodução do capital.

Com o intuito de ampliar a produtividade do agronegócio, o sistema produtivo se dá, cada vez mais, com o uso da técnica, da ciência e da informação (ELIAS, 2006), a exemplo da empresa Fruta Cor. A esse processo que envolve a agricultura na atualidade, Santos e Silveira (2001, p. 118) denominam de “novo uso agrícola do território no período meio técnico-científico-informacional [...], onde inovações técnicas e organizacionais na agricultura concorrem para criar um novo uso do tempo e da terra”. Voltemos, nesse sentido, a Marx (1968), em relação à mais-valia relativa, ou seja, a redução do tempo necessário para produção e a ampliação do tempo de trabalho excedente, sem com isso ampliar, necessariamente, a jornada de trabalho.

O processo produtivo da Fruta Cor é bastante explicativo, pois possui toda tecnificação necessária para manter a alta produtividade da empresa. Mantém parcerias de pesquisa com a EMBRAPA, Universidade Federal do Ceará (UFC) e institutos, que fazem a clonagem da planta (bananeira) em laboratório, para a empresa. As mudas são retiradas dos filhos das bananeiras (matrizes) mais produtivas, saudáveis, bem apresentáveis, e

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são encaminhadas para o laboratório (principalmente da EMBRAPA) que faz a clonagem da muda.

A clonagem funciona da seguinte forma: utilizam a gema apical da planta (meristema de desenvolvimento) e inserem hormônios de crescimento no meio de cultivo, que vão lançando seus filhos. Esses filhos vão sendo separados e colocados em outros meios, trabalhados da mesma forma. De uma muda que sai da empresa é possível retornar 500 mudas clonadas com as mesmas características. A muda retorna sem raiz e é acondicionada no viveiro, passando em torno de 45 dias. A partir do momento que tem cinco folhas bem abertas, com caule de 15 a 40 centímetros de altura, estará apta a ir para o campo. O campo encontra-se preparado para recebê-la, após o devido tratamento. Parte dos parceiros recebe as mudas produzidas em laboratório, para atender as exigências do padrão produtivo da empresa. Aqueles que não têm viveiro recebem as mudas prontas dos viveiristas, ampliando o valor de custo da produção. Os parceiros têm de adaptar-se ao sistema produtivo da empresa, o que demonstra uma relação de subordinação. Há agricultores familiares, contudo, que produzem de forma tradicional, ou seja, tiram os filhos da bananeira e transportam para outro plantio, sem a clonagem, possuindo uma produtividade inferior, porém natural. A parceria da empresa, na verdade, atende aos interesses do proprietário capitalista, que subjuga os pequenos e médios produtores da região.

Dentre as entrevistas realizadas, foram indagados outros atores sociais envolvidos na relação de parceria: o camponês e a Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi. O representante da FAPIJA foi enfático sobre a subjugação no sistema de parceria:

Olha, depende da parceria, a parceria que dá para os dois é bom, mas ás vezes uma parceria que só visa o empresário né bom não [...] Por que o empresário ele só ver o lado dele, e se ele puder pegar você e tirar você do meio, ele tira. Tem que ter muito cuidado com a parceria [...] Pode ter certeza, porque o empresário chama você de parceiro só para... Eu não gosto de citar nome mas tem parceiro ... Tem que ter muito cuidado, porque se ele puder engolir o pequeno ele engole [...].

A parceria contribui com o acesso ao mercado e o pagamento em dia ao parceiro. “É o único ponto positivo”, diz um agricultor parceiro da empresa. Este é consciente que está dando o lucro para o empresário. De acordo com entrevista com outro parceiro da empresa (Unidade Cercado do Meio), a produção é repassada para a Fruta Cor por preço em torno de R$ 0,55. Quando chega ao consumidor, em Fortaleza, por exemplo, este

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valor é equivalente a R$ 1,25. Por outro lado, a parceria, segundo o pequeno produtor, “é uma garantia de mercado”, mesmo considerando que no final o pequeno produtor é quem produz e só ganha para sobreviver. “Se eu tivesse a condição de passar direto para o consumidor, sairia bem mais barato”, assegura. Nesse caso o lucro ocorre pela via da circulação, ou seja, a apropriação da renda da terra é obtida sem relação especificamente capitalista de produção, entre o empresário e o pequeno e/ou médio produtor (FREITAS, 2010).

A empresa se apropria da renda da terra também pela produção propriamente dita, usando duas formas de dominação, ou seja, tanto por meio da relação especificamente capitalista, como com relações não especificamente capitalistas de produção (OLIVEIRA, 2007). Outras empresas do agronegócio da Chapada se apropriam da renda da terra unicamente pela produção, como é caso da transnacional Del Monte Fresh Produce, que veremos a seguir.

A territorialização do capital monopolista: a precarização do trabalho na empresa Del Monte Fresh Produce.

A empresa transnacional Del Monte Fresh Produce Brasil Ltda Surgiu em Oakland, estado da Califórnia e foi desenvolvida por um distribuidor de alimentos para dar nome a uma mistura de café feita com exclusividade pelo Hotel Del Monte, na Península de Monterey. Durante o século XIX, diversificou sua produção, desde a produção de frutas, legumes frescos até a industrialização desses produtos e sua distribuição nos mercados mundiais.

Em 1979 foi comprada pela R. J. Reynolds Indústrias, sendo fatiada em seguida em três unidades: Alimentos processados (Del Monte Foods EUA), Frutas Frescas (Del Monte Fresh Produce) e Internacional Alimentos e Bebidas (Del Monte Internacional). Após esse período, passou por diversas mudanças. Atualmente, possui nome de registro oficial Fresh Delmonte Produce Inc e registro comercial Del Monte Fresh Produce Company (ALBANO, 2008).

Atualmente, a transnacional possui matriz localizada em Miami, sendo um libanês o sócio majoritário. Sua atuação, com produção e sede estratégica, atende todos os continentes, atingindo cerca de 58 países. Iniciou sua produção no Brasil em fins da década de 1980 no Rio Grande do Norte e, em 2000 e 2001, duas áreas no Ceará: em Quixeré (melão) e Limoeiro do Norte (abacaxi). A empresa tem contribuído para o

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desencadeamento de problemas diversos, dentre os quais a destruição de comunidades rurais, o trabalho precarizado, com graves consequências para a sociedade e o ambiente. Em fins do ano de 2008, a empresa Del Monte, considerada a terceira maior multinacional do mundo no ramo de frutas frescas, possuía no Ceará área de 4.860 ha., dos quais 1.620 ha improdutivos e o restante com a produção de abacaxi (1.780 ha.) servida com água do perímetro de irrigação pública e 1.460 ha. para a produção de melão e melancia, alimentados por 44 poços subterrâneos. No Rio Grande do Norte, produzia banana em 900 ha., tendo em torno de 1.100 ha improdutiva.

A empresa transferiu, nesse período, parte de seu cultivo de banana do Rio Grande do Norte para a Chapada do Apodi (área do abacaxi em Limoeiro do Norte) alegando problemas de ordem climática no estado vizinho. Diferente dessa justificativa, um técnico da empresa, em entrevista (novembro de 2008) afirmou que os motivos eram, exclusivamente, por conta dos incentivos ofertados no Ceará, pelo Estado.

Recentemente, a empresa interrompeu as culturas de abacaxi e melão no Ceará, em virtude, de certo, do fim dos incentivos, já que a empresa completou dez anos naquele território. Além disso, por conta das pragas resistentes na cultura do abacaxi e as crises no mercado externo, levando a queda de preços dos produtos. A área do melão arrendou para a empresa Agrícola Famosa, atualmente uma das maiores empresas da Chapada. A área anteriormente do abacaxi foi substituída, parcialmente pela cultura da banana, contando em 2012, com apenas cerca de 600 funcionários. Anteriormente a empresa ofertava cerca de 2.000 (dois mil) empregos por unidade.

Apesar de se tratar de uma transnacional que se desmembrou e expandiu-se mundialmente, a organização do processo de trabalho e de produção espelha-se na concepção taylorista/fordista (HARVEY, 2008; PINTO, 2007) permitindo assim o uso de mão de obra barata, mesmo em trabalho complexo. Isso é notório na área de empacotamento; no campo, onde o trabalhador, considerado operário, é supervisionado por um “técnico de segurança” que realiza a atividade de um “capataz”; a forma mecânica e rígida da divisão das tarefas; a hierarquia das funções; bem como, as crises e os conflitos que levam às greves dos trabalhadores.

A única flexibilidade ocorre em relação aos trabalhadores que produzem por “meta” previamente estabelecida, em setor específico, que por sua vez, esconde a forma predatória de coerção. Em entrevista realizada com trabalhadores, em junho de 2012, afirmam que a jornada de trabalho é intensa, mesmo se tratando de meta, que

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dificilmente conseguem cumprir. Por outro lado, quando conseguem cumprir são questionados e coagidos por estarem descansando.

Ao entrevistar um “técnico em segurança” ele afirmou que pelo fato de conceber o descanso merecido aos trabalhadores que cumpriram as metas, bem como por ter humanidade com os trabalhadores foi demitido, recentemente. “Alegaram que tinha terminado meu contrato e não iriam renovar”, afirmou.

Outro problema relatado pelos trabalhadores trata-se da falta de assistência em relação ao repasse dos Equipamentos de Proteção Individual – EPI’s. Além disso, os trabalhadores reclamam a desatenção em relação aos acidentes de trabalho, sempre relevados à banalidade ou à negligência.

Concomitante às precárias condições de trabalho, a empresa utiliza tecnologia sofisticada no processo produtivo, suporte para acondicionamento das frutas, por meio de container – que transporta a produção até o porto em Fortaleza, sendo em seguida embarcada para a Europa. A produção da empresa é realizada com o uso intenso de técnica, ciência e informação, em nível superior às empresas nacionais, a exemplo da Fruta Cor. Se a produtividade dessa empresa nacional na cultura da banana é de 25 ton./ha, a multinacional apresenta na mesma cultura produtividade média de 45 ton./ha, o que demonstra seu nível tecnológico. Por sua vez, a precarização é muito superior à da empresa nacional.

Em virtude da precarização, após oito anos de funcionamento da empresa no Ceará, em agosto de 2008, os trabalhadores declararam greve, solicitando melhores condições de trabalho. Suas reivindicações se limitaram à seguinte pauta: ampliação dos refeitórios, cesta alimentar e almoço, já que trazem a alimentação de suas residências, típico de boia-fria. Os trabalhadores conquistaram, basicamente, a cesta alimentar, que possui número irrisório de produtos alimentícios.

Após quatro anos, no dia 25 de Junho de 2012, os trabalhadores(as) da empresa anunciaram greve por tempo indeterminado. A Cáritas Diocesana, juntamente com outras instituições, sindicato e movimentos sociais apoiaram o processo de luta e organização desses trabalhadores, que sofrem com a negação de seus direitos, conforme imagens na sequência. A pauta construída pelos trabalhadores(as), como forma de demostrar a insatisfação frente às injustiças e constrangimentos sofridos demonstram a vulnerabilidade dos mesmos.

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A pauta principal reivindicada é o pagamento das horas in itineres, que a empresa se nega a efetuar, mesmo sendo um direito assegurado pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em seu Artigo 58, Parágrafo 2º, onde diz que “o tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por transporte público, o empregador fornecer condução”. Alguns trabalhadores saem de suas residências cerca de quatro horas da madrugada, iniciando o trabalho às sete horas. Vale ressaltar que a empresa paga essas horas no estado vizinho, Rio Grande do Norte, motivo maior da insatisfação dos trabalhadores do Ceará.

De acordo com o movimento grevista a diretoria da empresa se negou a receber o comunicado oficial da greve emitido e levado à empresa pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais em 21 de junho de 2012. Os trabalhadores foram assistidos por seus representantes legais, que são o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Limoeiro do Norte e a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Ceará (FETRAECE). Contaram, ainda, com apoio de diversas instituições (sindicatos, movimentos sociais, Paróquias da Diocese, Cáritas Diocesana, Universidades FAFIDAM/UECE e TRAMAS/UFC, RENAP, dentre outros).

Em síntese, a pauta oficial dos trabalhadores acentua as seguintes questões: 1. não pagamento das horas in itineres; 2. assédio moral, onde a empresa faz imposição de metas de trabalho que ultrapassam a nossa capacidade operacional; 3. imposição abusiva de horas extras, desrespeitando as leis trabalhistas, mas sobretudo desrespeitando o tempo que nós deveríamos ter para descanso e estar com a família; 4. não pagamento de insalubridade para trabalhadores que estão expostos ao veneno; 5. não fornecimento dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI`s) e Equipamentos de

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Trabalho; 6. intimidações criadas pela própria empresa equipando os fiscais com facões, de forma desnecessária; 7. desrespeito e constrangimento do trabalhador quando são criadas situações injustas de advertências e suspenções, descontadas em nossos já pequenos salários.

A greve foi concluída no dia 5 de julho de 2012, após a empresa resolver negociar com trabalhadores no sentido de atender as suas reivindicações, exceto o pagamento das horas in itineres. Vale ressaltar que esse ponto de pauta não atendido deve-se ao fato da existência de um documento firmado pela FETRAECE junto à empresa, onde negocia a não obrigatoriedade do pagamento, em função da empresa ter ofertado a cesta de alimentos que, na verdade, já se tratava de uma conquista dos trabalhadores referente a greve de 2008.

Essa questão explica o fato de na assembleia, realizada no dia 27 de junho de 2012, os trabalhadores questionarem a FETRAECE: “vocês estão do nosso lado ou do lado das empresas?”. Naquele momento, os apoiadores (Cáritas, RENAP, Movimentos Sociais, FAFIDAM/UECE, Tramas/UFC, dois vereadores de Limoeiro do Norte, dentre outros) tiveram o papel fundamental no sentido de garantir o apoio aos trabalhadores(as), caso continuassem a greve, tanto do ponto de vista financeiro, como auxiliando com Advogados e Médicos etc.

Durante as assembleias da greve era notória a necessidade de os trabalhadores exporem os constrangimentos sofridos, ao ponto de estarem dispostos a resistir, mesmo correndo o risco de serem demitidos. Afirmavam que não recuariam, mesmo com a FETRAECE solicitando muita cautela e se colocando “intimidada” com a ação dos grevistas.

A greve, considerada vitoriosa pelos trabalhadores, é símbolo da conflitualidade presente nas relações de trabalho do agronegócio e materialização da luta pelo trabalho decente e por vida digna. Além dessa precarização do trabalho, a empresa tem gerados conflitos territoriais e o movimento de des(re)territorialização das famílias das comunidade rurais, onde a empresa se instala, gerando a expulsão dos autóctones. Esse movimento é evidenciado, também, com a expansão da mobilidade da força de trabalho, oriunda de outras regiões ou estados, questões discutidas pela autora em Freitas (2010; 2011).

Considerações finais

O ordenamento territorial na Chapada do Apodi promovido pelo Estado, por meio da expansão da fronteira agrícola capitalista, tem gerado diversas implicações do ponto de

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vista econômico, político, cultural e ambiental. Essas questões anunciam a necessidade de repensar outras formas de ordenamento que contemplem os interesses da população local e que viabilizem a vida, ao invés da morte de trabalhadores(as), camponeses e da própria natureza.

Apesar das descontinuidades nos territórios, as continuidades coexistem. Mesmo com a forma intensa na qual o capital territorializou-se na Chapada, ocorre, concomitantemente a recriação do trabalho camponês, apesar de acontecer, em alguns casos, de forma subordinada ao capital. Os camponeses que foram expropriados lutam para retornar à terra, clamam por formas diferenciadas de relação com a natureza. Percebe-se, por fim, que a luta e a resistência têm grande significado para as comunidades e trabalhadores(as) da Chapada, simbolizada em resultados concretos, a exemplo da conquista dos trabalhadores (as) da Del Monte e da denúncia do Ministério Público Estadual como resposta ao assassinato do líder Zé Maria do Tomé, atores aos quais este trabalho é dedicado.

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