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Anais do 6º Encontro Celsul - Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul

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Academic year: 2021

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O USO VARIÁVEL DO PRETÉRITO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO VERSUS O FUTURO DO SUBJUNTIVO NA FUNÇÃO DE FUTURIDADE NA FALA URBANA DE CRICIÚMA

Jacira Possamai1 Rosemary de Fátima de Assis Domingos2

ABSTRACT: On the spoken language, the verbal forms: pretérito imperfeito do subjuntivo and futuro do subjuntivo may change according to certain degree. The subjuntivo tense is foressen to mark the irrealis and it is assumed as uncertain or doubtful.

KEYWORDS: variation,,mode,possibility,influence,interpretation. 0.Introdução3

Sob uma perspectiva sociolingüística, o objetivo deste artigo é investigar, com base em entrevistas do projeto Atlas Sócio-língüistico da Região Carbonífera, da Unesc/SC4, o uso variável das formas do pretérito imperfeito do subjuntivo (-sse) na função de futuridade no vernáculo. Reconhecemos a complexidade assumida neste trabalho de deslocar a modalidade da incerteza instaurando-a na categoria morfológica do subjuntivo, passando-a na interação comunicativa falante-ouvinte.

A hipótese que norteia este trabalho é a de que os contextos de variação decorrem de situações de futuridade, cujos efeitos de sentido podem decorrer da modalização caracterizada pelo traço de mais ou menos certeza acerca daquilo que se fala.

No primeiro momento, focalizamos as formas de pretérito imperfeito do subjuntivo e de futuro do subjuntivo, esboçando os objetivos gerais propostos e as hipóteses pretendidas com a pesquisa desenvolvida neste artigo. Em seguida, inserimos nossa pesquisa na perspectiva da teoria laboviana. Os procedimentos metodológicos estão previstos logo a seguir, juntamente com as controvérsias oriundas da extensão da abordagem qualitativa. Mais adiante, apresentamos a discussão dos resultados, fazendo uma localização dos tempos pretérito imperfeito do subjuntivo e futuro do subjuntivo em relação à interpretação temporal.

Por fim, visando a apresentar as considerações gerais da pesquisa desenvolvida, retomamos menções e resultados apontados ao longo do artigo com o intuito de ressaltar aspectos relevantes ao tratamento da variação entre os tempos mencionados, na função de futuridade.

1. O fenômeno em estudo

Aprendemos, de forma sistemática, nos bancos escolares, que o uso do pretérito imperfeito do subjuntivo5 refere-se a situações passadas e incertas; vis to que o pretérito volta-se à ação que "transcorreu num momento anterior àquele em que se fala" (FARACO & MOURA, 1999, p. 326)6, e o modo diz respeito à maneira como falamos, quanto ao subjuntivo, "indica que o conteúdo do que se fala ou escreve é tomado como incerto, duvidoso, hitpotético" (INFANTE, 1996, p. 147). Partilhamos da posição givoniana de compreender o lugar da modalidade irrealis para, posteriormente, compreender o lugar do modo subjuntivo, uma vez que o irrealis instaura-se no discurso mediante determinadas estratégias lingüísticas, cujos contextos gramaticais tendem a favorecer o emprego do modo subjuntivo (GIVÓN, 1995 apud Pimpão 1999).

Porém, em alguns casos, segundo Souza (2001), dependendo do contexto em que estão inseridas, as formas do PIS terão função de passado, presente ou futuro. Se tomarmos a frase Se eu partisse ontem, não pegaria chuva, por exemplo, notaremos que o que nos faz interpretar partisse como passado é o advérbio ontem. Todavia, se o trocarmos por agora ou amanhã, a interpretação temporal mudará: Se eu partisse agora, não

1

Acadêmica da 4ª fase de Letras da Unesc/SC - jacirapossamai@yahoo.com.br. 2

Professora mestra de Lingüística, Unesc/SC - rfd@unesc.rct-sc.br. 3

Cabe salientar que este não é um trabalho totalmente concluído, uma vez que estamos ainda pesquisando sobre o fenômeno, rastreando outras entrevistas.

4

Esse banco de dados es tá sendo montado para execução de pesquisas lingüísticas, históricas e culturais. Conta com a seguinte divisão: os informantes são estratificados por sexo, idade (25 a 50 anos e mais de 50 anos) e escolaridade, e etnia (italiana, negra, polaca). Cada entrevista conta com uma gravação de 30 minutos. Ainda não estão transcritas, por isso, não colocamos a numeração da página nos exemplos usados.

5 Doravante PIS.

6 Na maioria das vezes, nem isso se fala em gramáticas normativas e livros didádicos, apenas apresentam-se as conjugações das formas em -sse: NICOLA, FLORIANA, ERNANI (2002); ABAURRE, PONTARA, FADEL (2002); ROCHA LIMA (2001); INFANTE (1996); CUNHA & CINTRA (1985).

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pegaria chuva - presente; Se eu partisse amanhã, não pegaria chuva - futuro. Temos, então, uma forma para três funções, fenômenos que alguns autores chamam de polissemia (MARTELOTTA, 2003, p. 58).

Partindo dessa última possibilidade de interpretação (futuro), começamos a observar que, em alguns casos, as formas do PIS podiam variar com formas do futuro do subjuntivo. Vejamos a transcrição de um exemplo colhido em uma situação informal. O contexto é o seguinte: em uma sala com três pessoas7 uma delas está organizando um trabalho que iria apresentar à noite, em dúvida, não sabia se lia ou falava a respeito do assunto; então, em um primeiro momento, ela diz:

(1) "Se eu ler, vai mais rápido, né?"

Logo depois, repete, agora usando outra forma verbal: (2) "Se eu lesse, vai mais rápido, né?"

Note-se o uso variável que a falante faz das formas verbais de futuro do subjuntivo8 e PIS, respectivamente. Além dessa demonstração de variação, exemplos como esses mostram evidências em favor da não-estigmatização do fenômeno.

Para comprovar a variação, colocamos os dados na linha do tempo, apoiando-nos na nomenclatura de Ilari (1997) e Coan (2003)9, onde R corresponde ao ponto de referência, a partir do qual as formas verbais podem ter seu valor temporal interpretado, podendo estar explícito na oração ou ser depreendido do contexto (COAN, 1997, 2003; DOMINGOS, 2004); S, ao momento da situação, que corresponde ao momento em que a ocorrência acontece, no caso dos exemplos (1) e (2) é o fato de ler; e F ao momento da fala, o qual corresponde ao momento mesmo da enunciação pelo falante.

(3) ____________________ F ____________ R ______________ S

ler/lesse vai

Podemos observar que ambas - referência e situação - projetam-se para a direita do momento da fala, ou seja, interpretação futura.

Em uma das entrevistas lidas na garimpagem de dados, deparamo -nos com o seguinte: (4)Eu acho que tudo que botasse daria dinheiro, qualquer coisa que botar eu acho que dá.

O que podemos observar n o exemplo (4) é que o falante utiliza ambas as formas verbais –PIS e FP, respectivamente- para se referir a um mesmo fato: à pergunta do entrevistador sobre o que a entrevistada acha que daria dinheiro ali.

Como vimos, apesar de encontrarmos prescrições gramaticais quanto ao uso dos tempos verbais, nem sempre elas são seguidas, isso porque, segundo Tarallo (2001), a língua falada não é estática e sim, heterogênea e variável. Assim, em princípio, nosso objetivo de estudo diz respeito à possibilidade de variação entre as formas de PIS e FS, em contextos de futuridade.

2. Referencial Teórico

Este artigo tem como embasamento teórico predominante pressupostos da Teoria da Variação e Mudança (nos moldes labovianos), onde ele diz que a língua falada é diversificada. Durante muito tempo, a dimensão social da linguagem ficou obscurecida pela uniformidade com que a lingüística estrutural concebia o sistema lingüístico. O objeto estruturalista consistia na preservação da homogeneidade lingüística; via -se a língua como um sistema fechado e homogêneo sobre o qual pairava o social.

A Teoria da Variação e Mudança Lingüísticas é a área preocupada com o estudo da linguagem relacionada à sociedade, focalizando como objeto de estudo a variação lingüística, possível de ser descrita e analisada cientificamente, a partir do pressuposto de que as diferentes maneiras de se dizer “a mesma coisa” (com um mesmo valor de verdade) em um mesmo contexto são resultados de influências de fatores lingüísticos e sociais. "Tais fatores são também referidos como variáveis independentes, no sentido que os usos de estruturas lingüísticas são motivados e as alternâncias configuram-se por isso sistemática e estatisticamente previsíveis"

7 Pesquisadores em horário de trabalho, sendo duas acadêmicas e uma professora. 8

Doravante FS. 9

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(MOLLICA, 2003, p. 10). Às formas em variação dá-se o nome de variantes, que são, em nosso caso, as formas verbais de PIS e FS.

A abordagem sociolingüística laboviana prevê a heterogeneidade da língua em uso como foco de análise. Essa variabilidade captada no vernáculo revela a própria variação do sistema lingüístico abstrato, uma vez que Labov (1972 a) propõe a relação sistemática entre o fenômeno observável (parole) e a estrutura lingüística abstrata (langue). A introdução da heterogeneidade no sistema revela a langue como foco nos estudos sociolingüísticos de linha laboviana.

Assim, o domínio de estruturas heterogêneas não é questão de uma simples performance, mas parte da proficiência lingüística de cada indivíduo, por isso busca-se um levantamento de dados de língua falada para fins de análise, dados estes que re fletem mais fielmente o vernáculo da comunidade. Também há uma preocupação em fazer o encaixamento da variável no sistema lingüístico e social dos falantes, prevendo em que nível lingüístico e social da comunidade a variável, em nosso caso a futuridade, pode ser colocada.

3. Metodologia

A fim de minimizar o paradoxo do observador, o pesquisador coleta seus dados em situações de grande envolvimento do falante com o assunto, as chamadas narrativas de experiência pessoal, em que a atenção prestada à língua configura-se mínima, fazendo com que se instaure uma fala mais relaxada. Induzir o informante a falar mediante narrativas de experiência pessoal dificulta e inclusive inibe o uso da variável lingüística em estudo. A variável tende a destacar-se em perguntas acerca da situação do país, da relação familiar, e assim por diante, momentos em que o informante assume e defende um posicionamento (cf TARALLO, 2001).

O corpus do presente trabalho é composto por vinte dados retirados do banco de dados do Projeto Atlas, da Unesc (Criciúma / SC). Ao todo, foram rastreadas seis entrevistas, com informantes da zona urbana da cidade de Criciúma, estratificados por idade (25 a 50, acima de 50 anos) e escolaridade (pólos primário e ensino médio).

Como procedimentos metodológicos, seguiram-se os seguintes passos: pesquisa e tiragem de dados, buscando a função de futuridade para a situação (conforme explicada no fenômeno em estudo), sendo que primeiramente pensávamos fossem duas possibilidades: PIS x FS, confo rme dados colhidos informalmente, no entanto, observamos que as formas do PIS aparecem sim na função de futuridade, mas que as de FS são quase inexistentes; a partir daí, procedemos à substituição com as duas variantes propostas, assim, somente os dados que passaram pela substituição foram usados no corpus.

Devido à escassez dos dados, não nos foi possível realizar rodadas no VARBRUL, nossa proposta inicial; partimos então, para uma análise qualitativa.

4. Discussão dos resultados: o que está em jogo?

A língua falada é o veículo de comunicação usado diariamente em situações naturais. Usamos a língua em nossos lares, na escola, no trabalho, nos bares, rodas de amigos. Em suma, a língua falada é o vernáculo, a enunciação e expressão dos fatos, proposições, idéias, sem a preocupação de como enunciá -las. Muitas vezes, a língua pode ser um fato extremamente importante na identificação de grupos, em sua configuração, como também uma possível maneira de demarcar diferenças sociais no seio de uma comunidade. A modalidade constitui uma propriedade de interação verbal dos propósitos comunicativos dos usuários, e não uma propriedade da categoria verbal. Com o intuito de investigar a modalidade a partir da produção lingüística do falante, analisaremos os dados das entrevistas que abordam o domínio funcional da categoria modalidade na medida em que nos fornecem esclarecimentos acerca da função exercida pelos tempos PIS e FS.

O tempo futuro é o valor temporal dos fatos ainda não experienciados, e cai sob o escopo do irrealis , a categoria da modalidade que retrata a possibilidade de um evento vir-a-ser. O futuro é um tempo claramente irrealis; e o futuro é por definição um modo irrealis (GIVÓN, 1984; 1993 apud Pimpão, 1999).

Para entendermos modalidade, precisamos analisá-la em moldes comunicativos acerca do julgamento do falante e do ouvinte. O falante imprime ao frame proposicional estratégias lingüísticas que identificam seu grau de adesão à informação veiculada. Ao ouvinte compete interpretar o grau de modalidade atribuído ao conteúdo da proposição pelo falante.

Como já foi mencionado acima, propomo -nos a trabalhar com o modo subjuntivo que é o modo do irrealis. Mas, modo e modalidade equivalem? Assumimos, neste artigo, concordando com Coan,(1997,2003) e Domingos (2004) que modo corresponde à nomenclatura tradicional, enquanto modalidade corresponde a uma categoria discursiva , reconhecida em todas as línguas, que a expressam de maneiras diferentes. Assim, é por meio dela que os falantes podem expressar polidez, saudosismo, dúvida, sendo que esta última noção é a que nos interessa.

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Embora o subjuntivo seja previsto para marcar o irrealis, percebemos em nossos dados, que tratar somente de irrealis não seria relevante; optamos então, por elaborar uma escala de irrealis10 , que varia do menos irrealis ao mais irrealis colocada a seguir:

1-Quando narra o que realmente aconteceu e que era futuro no momento da enunciação

2- Quando narra o que achava que aconteceria e ainda não havia acontecido

3- Quando narra algo possível de acontecer

4- Quando narra algo impossível de acontecer

Tabela 1: Tipos de modalidade inicialmente projetadas para análise dos dados

Como vimos na teoria sociolingüística, o contexto social exerce influência sobre a maneira como falamos. Sabendo disso, procuramos indícios da possibilidade de variação na escolaridade dos falantes. Em vão! Pelo menos nesses poucos dados que conseguimos! A idade? Tampouco! O que, então, estaria possibilitando a variação entre as formas do PIS e as do FS em contextos de futuridade? Depois de longas conversas e análises sobre os dados conseguidos, chegamos à conclusão inicial de que o que faz com que haja possibilidade de troca é mesmo a modalidade. Assim, fizemos a seguinte análise, com alguns dos dados. Acompanhemos:

Contrariando o que pensávamos em princípio (o falante tenderia a usar as formas do FS para marcar mais certeza), não conseguimos atribuir os valores 1 e 2 aos dados que analisamos, uma vez que as narrações são todas acerca do passado do informante, que não usa formas futuras. Quando quer falar sobre algo que ainda não havia acontecido no momento da vivência da história e que depois aconteceu o que achava que iria acontecer, notamos um uso de formas do pretérito perfeito, como em (5) e do futuro do pretérit o do indicativo como em (6):

(5) Depois do que aconteceu, eu comecei a fazer trabalho voluntário”. (6) “Eu tinha sete anos, no dia seguinte eu iria para a escola”. Quanto aos outros valores:

(7) "Nós trabalhávamos na roça, tudo de enxadinha, às vezes o sol era muito quente, a minha irmã não gostava de trabalhar na roça, então o falecido meu pai botava nós no eito, assim um cada lado e ela no meio, a gente ia lá pra dentro, e ela ficava, ela amarrava um lenço bem nos olhos assim, a enxada batia no pé dela. Aí, um dia nós estávamos tudo assim, o sol quente, aí passou um bando de passarinhos, aí ela disse:“ai, se um passarinho daqueles caísse', porque o meu irmão gostava muito de passarinho na gaiola, aí ela gritou assim..."

(8) "Eu acho que tudo que botasse daria dinheiro, qualquer coisa que botar eu acho que dá." (9) "Eu até não diria assim, que geraria dinheiro, mas se alguém se prontificasse e se preocupar em gerar mais coisas boas, eu acho que a prioridade de se preocupar seria nossos adolescentes." Para os exemplos (7), (8) e (9), atribuímos o valor 3, de nossa escala: quando o falante fala sobre algo possível de acontecer. Em (7), a irmã da entrevistada realmente pensa na possibilidade da queda de um pássaro, pois isso já havia acontecido algumas vezes. E essa idéia não seria outra se ela houvesse falado se um passarinho daqueles cair, visto que era uma vontade da irmã. Aqui, a possível variação está na oração subordinada, que é adverbial condicional. Sabemos que se remete a um ponto futuro devido ao contexto formado pela narração da falante, pois o passarinho ainda não havia caído no momento da enunciação.

10 Embora tenhamos lido em outros trabalhos sobre escalas de modalidade, é de nossa inteira responsabilidade a confecção da escala apresentada na tabela 1. Isso porque nosso tra balho, como já mencionamos, recorre a uma análise qualitativa e queríamos ver até que ponto a maior ou menor certeza acerca do que se fala influencia na "escolha" do tempo verbal usado e sua função.

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Em (8), a variação está presente em uma oração subordinada substantiva (objetiva direta). O assunto tratado pelo falante é a possibilidade de negócios rentáveis no lugar onde mora, portanto, há possibilidade de algum morador ganhar dinheiro se botar algum negócio, embora isso ainda não aconteça no momento da fala, daí o contexto de futuridade.

No exemplo (9), nota-se a variação estampada: PIS (prontificasse) e FS (preocupar) na mesma oração subordinada adverbial condicional, com a mesma interpretação temporal de futuridade, ou seja, ainda não há uma prontificação e preocupação com os adolescentes da comunidade, mas existe a possibilidade de haver.

Podemos arriscar uma afirmação: quando o falante discorre sobre algo que acha provável que vá acontecer, é possível que haja variação entre as variantes propostas para estudo. Mas, o que mais estaria em jogo?

Vejamos os verbos que admitem a variação nos exemp los arrolados: cair, botar, prontificar e preocupar. Um de terceira conjugação e os outros de primeira; um irregular e os outros regulares. Conclusão: nenhuma!

Uma outra hipótese dizia respeito ao aspecto verbal. Segundo Vendler (1967, apud DOMINGOS, 2004, p. 52), os verbos acima estariam inseridos em estados, que envolvem instantes no tempo. Assim, esse tipo de aspectualidade, e não as outras propostas pelo autor (accomplishments11, atividades, achievement12), estaria sendo um contexto favorável para a variação entre PIS e FS.

Agora observemos dois exemplos aos quais atribuímos o valor 4 de nossa tabela: quando se fala sobre algo que é impossível, na visão do falante, de acontecer.

(10) "Ah, se acontecesse eu ser prefeita seria para ajudar, trabalhar, fazer as coisas tudo certo, olhar mais pro lado da pobreza, dos mais necessitados."

(11) "Não, eu não tenho vocação política mas, dependendo da situação assim, se me vissem e me convencessem que eu teria uma liderança e teria uma capacidade de ser, né, eu talvez até encararia sim"

Em (10), o falante não vê a mínima possibilidade de ser prefeita um dia. Ela poderia ter produzido se acontecer eu ser prefeita, sem prejuízos para o entendimento do que quis passar. Também em (9) o entrevistado não prevê para o seu futuro o fato de vir a ser um prefeito. Note-se que as orações subordinadas são do tipo adverbial condicional, como nos exemplos (5) e (7), acima, parecendo ser esse um contexto bastante favorecedor para a realização do fenômeno em estudo.

Nesses exemplos, todos os verbos (acontecer, ver, convencer) são de segunda conjugação, dessa forma, não podemos dizer que a conjugação verbal exerce influência sobre o uso das formas do PIS ou do FS.

Também aqui podemos dizer que, quanto ao aspecto, temos verbos de estado. 5. Nossas contribuições e limitações

Quando nos propusemos a estudar a variação entre o pretérito imperfeito do subjuntivo e o futuro do subjuntivo é porque desconfiávamos da existência da mesma, isso porque ouvimos bastantes vezes a realização do fenômeno. Ouvido de pesquisador é assim mesmo: capta as variações para analisar o que faz com que as mesmas possam acontecer.

O que conseguimos ao longo de nossa pesquisa foi verificar que realmente o fenômeno existe, não é estigmatizado e, em princípio, independe de idade ou escolaridade. Pensamos que o que contribui para a variação é o estilo (cf LABOV, 2003), que levaria em conta a modalidade e a aspectualidade, fatores estes relevantes, segundo nossas análises, para a variação em questão.

Sabemos de nossas limitações, afinal são pouquíssimos dados, apenas vinte. Mas isso serve de alicerce para a construção de um trabalho de maior porte: verificação de um maior número de entrevistas, prestando maior atenção, além do aspecto e da modalidade, à variação estil ística. Talvez esteja aí a chave para elaborarmos um estudo mais acurado. Isso sem mencionarmos que um maior número de dados nos possibilitará realizar rodadas estatísticas no programa VARBRUL, verificando, assim, com mais precisão, que fatores lingüísticos e extralingüísticos estão competindo para que haja ou não variação entre PIS e FS.

11 Realizações que envolvem determinado período de tempo, devendo evidenciar um ponto final. 12

Realizações pontuais, envolvendo instantes de tempo único e definido, só sendo possível dizer, por exemplo, que alguém alcançou o topo da montanha se realmente chegou em um instante de tempo.

(6)

RESUMO:As formas verbais do Pretérito Imperfeito do Subjuntivo e do Futuro do Subjuntivo, na fala, podem variar de acordo com o grau de mais ou menos certeza. O subjunti vo é o modo que está previsto para marcar o irrealis. e é tomado como incerto ou duvidoso.

PALAVRAS-CHAVE: Variação, modo, possibilidade, influência, interpretação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português, língua e literatura- São Paulo: Moderna, 2000.

COAN, Márluce. Anterioridade à um ponto de referência passado: pretérito mais-que-perfeito.Dissertação (mestrado em Lingüística), Florianópolis, UFSC,2003.

_____. As categorias tempo, aspecto, modalidade e referência na significação dos pretéritos mais-que-perfeito e perfeito: correlações entre função(ões) -forma(s) em tempo real e aparente. (Tese de Doutorado). Florianópolis, UFSC, 2003.

CUNHA, Maria A. Furtado da.: OLIVEIRA, Mariângela Rios de, MARTELOTTA, Mário Eduardo (orgs.). Lingüística Funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP & A, 2003.

DOMINGOS, Rosimary de F. de Assis. Variação no uso do pretérito imperfeito (indicativo e subjuntivo) na função de cotemporalidade a um ponto de referência passado.(Dissertação de Mestrado). Florianópolis, UFSC, 2004.

FARACO & MOURA. Gramática 12.d, São Paulo: Àtica, 1999ILARI, Rodolfo.A expressão do tempo em português. São Paulo: Contexto, 1997.

INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. 4 ed., São Paulo: Scipione, 1996.

NICOLA, José de; FLORIANA, Toscano Cavallete; TERRA, Enani. Português para o ensino médio. São Paulo: Scipione, 2002.

PIMPÃO, Tatiana. Variação no presente no modo subjuntivo: uma abordagem discursivo- pragmática.(dissertacão de pós–graduação). Florianópolis: UFSC, 1999.

ROCHA LIMA, Carlos Henrique. Gramática normativa da língua portuguesa. 41. ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 2001, p. 123.

SOUZA, Ana Cláudia. Pretérito imperfeito do subjuntivo? Formais verbais em -sse em contextos que veiculam a noção de posterioridade. Working Papers em Lingüísica, nº 5, pp. 91-110, 2001.

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