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A PSICOLOGIA DIANTE DA RELAÇÃO ENTRE LESBOFOBIA E SUICÍDIO EM ESCOLAS DO INTERIOR PAULISTA

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A PSICOLOGIA DIANTE DA RELAÇÃO ENTRE LESBOFOBIA E SUICÍDIO EM ESCOLAS DO INTERIOR PAULISTA

Yasmin Aparecida Cassetari da Silva *(FAPESP, Aluna do Programa de Pós Graduação em Psicologia e Sociedade, nível mestrado – Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP/FCL Assis); Fernando Silva Teixeira Filho (Profº Dr. orientador e vice-coordenador do Programa da Pós Graduação em Psicologia e Sociedade – Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP/FCL Assis).

Contato: yasmincassetari@hotmail.com

Palavras-chave: Lesbianidades. Psicologia Social. Suicídio.

RESUMO: Este trabalho visa discutir a problemática do suicídio em referência ao modo como esta atinge a população jovem feminina em fase escolar. As reflexões aqui apresentadas são oriundas de palestras proferidas durante uma campanha de prevenção ao suicídio realizada em escolas de ensino médio do centro-oeste paulista durante o ano de 2017. Neste texto serão apresentadas percepções oriundas da interação palestrante-plateia, de modo a acentuar a forma como as perguntas, os comentários e conversas após o evento indicavam a precariedade das discussões frente esta temática. Assim, averigua-se como tal assunto ainda trás delineamentos morais e espaços de não fala caracterizados pelo tabu frente às ideias suicidas e a expressões do gênero feminino destoantes do padrão determinado socialmente. Visibilizando as manifestações lesbofóbicas em espaço escolar, esta escrita corrobora para o trabalho de conscientização e problematização acerca deste debate frente à questão da saúde mental e lesbofobia na adolescência, que pode originar graves consequências, tais como a alarmante onda de autoflagelação e tentativas de suicídio entre jovens garotas.

INTRODUÇÃO

Falar sobre a temática do suicídio ainda representa romper com sigilosos rituais de invisibilidades frente a este processo. Uma vez que o ambiente circunscrito a este assunto é

permeado de moralismos e de conjecturas mais interessadas em julgar o sujeito que realiza1 o ato

suicida do que propriamente traçar linhas de enfrentamento a esta temática. Frente ás concepções existentes nos estudos sobre suicídio, optamos por denominar de processo suicida todo o arcabouço circunstancial deste fenômeno por acreditar que este possua uma trajetória, um percurso que não se inicia nas ideações supostamente subjetivas do suicídio, e que não se findam apenas nas tentativas suicidas (Bertolote, 2012).

O suicídio é apenas uma das dimensões do comportamento suicida, o qual inclui um leque de comportamentos marcados por pensamentos negativos, autodestrutivos, repletos de autoameaças, de gestos e tentativas de suicídio até o ato final. Para cada uma dessas sensações,

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Neste artigo opta-se em usar o termo realizar o ato suicida, ao invés do comumente termo “cometer” por conta do teor pejorativo desta palavra, ligada a crença da qual a tentativa de suicídio se caracterize como crime.

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são formuladas atitudes tendo-se em vista a especificidade de cada situação, mas que objetivam colocar fim à vida. É neste ponto que investigar as causas, as configurações e situações desencadeadoras de tais sentimentos torna-se primordial para uma efetiva medida de entendimento e prevenção ao suicídio.

Por se tratar de um fenômeno multifatorial, os estudos a respeito do processo suicida encontram dificuldades em afirmar qual fator, dentre os aspectos biológico-psíquico-psíquicos/psíquicos/sociais/culturais, teria maior peso na efetividade das ideações suicidas. Ademais, outra dimensão ainda pouco trabalhada no Brasil nos debates correlacionados ao processo suicida se refere aos aspectos relacionados às questões de expressões de gênero e orientações sexuais.

Os estudos de gênero, segundo a definição de teóricas do feminismo (SCOTT, 1995; NICHOLSON, 2000), diz respeito ao enquadre social estipulado em relação às atitudes frente identidade de mulher e homem segundo as ações desempenhadas em sociedade. Assim, tem-se que a construção das performances esperadas para cada um dos gêneros existentes, feminino ou masculino, pode ocasionar grande sofrimento, fato ignorado como um dos possíveis propulsores ao enredo suicida.

O fato comprovadamente atestado em relação à temática do suicídio e gênero encontra algumas repercussões atestadas em alguns estudos que apontam o padrão predominante nos suicídios é de taxas de mortalidade três a quatro vezes maiores entre os homens. (Waiselfisz, 2014), e de números maiores de tentativas de suicídio entre mulheres (Lopes, 2003). Dentre a população com idades de 15 a 39 os suicídios constituem a terceira principal causa externa de morte, com 10,2%, sendo inferior apenas ao número de acidentes de transporte e agressões. (SEADE, 2016)

Contudo, tais pesquisas acabam alocando a problemática da prevalência do suicídio entre homens e de tentativas entre mulheres meramente por aquisição de modos menos ou mais agressivos. Isto sem se colocar em questão como essa pessoa enfrentava seu dia a dia. As pesquisas ainda apontam a forte tendência ao suicídio pelos sujeitos em sofrimento psíquico (OMS, 2017).

Diante destas colocações, nos depararemos com algumas questões, tais como: o como se forma as noções de gênero? Qual o peso dessa noção? Como as(os) jovens em idade escolar

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estão lidam com estas formações frente suas orientações sexuais? Qual seria o papel de uma psicologia dita social frente essas questões? É em relação a solucionar, ou vislumbrar respostas a estas dúvidas que apresentaremos o relato da prática desenvolvida pela proponente deste trabalho.

OBJETIVOS E METÓDO DA CAMPANHA DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO EM ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO

Em meio ao cenário alarmante de automutilações, ideações e tentativas de suicídio dentre alunas de escolas de ensino médio do centro-oeste paulista, tornou-se necessária à discussão acerca de medidas preventivas. Após o recebimento do convite da direção das escolas para a realização de uma palestra que versasse sobre os aspectos do enredo suicida entre jovens, a grande questão emergente se pautava no como fazer isso? Como uma psicologia compromissada com a esfera social pode auxiliar no trabalho com tal temática?

Uma vez aceito o compromisso, a tarefa foi buscar material que referenciasse a fala, de modo a torná-la dinâmica e compreensível para as alunas e alunos das três séries do ensino médio. Outra preocupação acerca da busca de referenciais teóricos foi a escassez de materiais disponíveis sobre como se falar especificamente com as/os adolescentes. Isto porque, em sua maioria, os materiais eram direcionados as mães, pais, as/os docentes, as gestoras e aos gestores educacionais.

A temática acerca do suicídio, deste modo, aparece cercada de interditos e de regimes de segurança frente à maneira como se deve abordar tal assunto (OMS, 2000). Com as dificuldades diante da quase inexistência de experiências de fala sobre suicídio com as(os) jovens, tornou-se necessária a estruturação de um material que certificasse a eficácia e responsabilidade em se palestrar sobre essa questão. Essa dificuldade também assinalou a problemática da falta de diálogo com as(os) adolescentes sobre esse assunto.

Com o estabelecimento e criação de estratégias para a fala, ocorreu à palestra de modo dinâmico e participativo. Houve muitas questões acerca da temática, abaixo se listam as perguntas que foram feitas mais vezes nas escolas, tais como:

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2. Qual país tem o maior número de suicídios? 3. Quem se mata mais, homens ou mulheres? 4. Por que as pessoas se matam?

5. Quem tem depressão tem mais chance de pensar em suicídio?

Essas questões despertaram novos questionamentos, inclusive das(os) docentes presentes na palestra.

O primeiro destaque frente à exposição da fala nas escolas foi a realização, por parte das plateias, de uma quantidade grande de perguntas direcionadas à depressão, apontando que pessoas depressivas eram potenciais suicidas. Essa ideia da associação entre depressão e suicídio é muito corriqueira, e pode acarretar consequências complicadas. Uma delas referentes ao reducionismo a um fator de risco ao suicídio, desconsiderando, como nos coloca Cassorla (1998) que as ideações e comportamentos suicidas são derivados de uma relação entre fatores de risco e proteção.

Findada essa problemática, os questionamentos começaram a tatear o enredo das expressões de gênero e orientações sexuais, alterando o ânimo da plateia. Na primeira escola, uma garota disse achar interessante à temática, ainda mais em saber que não é apenas quem é louca(o) que tenta suicídio. Relatou como a opressão social sobre meninas tidas como “fora do padrão” corporal e de vestimenta causa sofrimento. E que não achava estranho alguém com essa vida pensar em findar esse caminho. Ainda disse que as pessoas nem sabem se alguém é ou não homossexual e já começam a tirar sarro. Afirmando que isso já era uma situação complicada para quem não era homossexual, questionando assim como efetivamente deveria ser terrível para quem é.

Após a conversa, outra aluna muito abalada com a fala sobre a relação entre suicídio na adolescência e as manifestações de preconceito, ojeriza e rejeição a orientações sexuais divergentes da “norma” heterossexual, relatou a perda recente de uma amiga muito próxima por conta de ter se assumido lésbica para a família. Ela disse não ter compreendido o porquê de sua amiga optar pela morte, apontou que sentiu raiva por ela ter partido sem falar sobre isso. Chorando, afirmou se sentir culpada, mas entendia agora que a dor e sofrimento da amiga eram maiores do que ela imaginava.

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Em relação às professoras e professores presentes, no momento da fala, a percepção predominante advinda de suas colocações se referiu a demonstração de pouca empatia com o assunto, ou até mesmo de medo. Uma professora questionou sobre a possibilidade de uma pessoa após ouvir falar sobre suicídio pudessem começar a pensar e te mesmo tentar se matar. Outro professor questionou se suicidas podem matar outra pessoa. Contudo, a pior reação foi o comentário de uma docente para outra colega de que se homossexuais se matavam era por “castigo de Deus”, por não seguirem as “normas”, por escolherem “pecar”.

Observa-se que essas falas e esses questionamentos mesclam visões representativas da falta da problematização do suicídio e dos fatores de risco desse processo. Além de que também simbolizam, sinalizam o espaço claustrofóbico da vida demarcada por suposições acerca dos papéis estabelecidos de mulher e homem.

Deste modo, a relevância deste tema no trabalho com a psicologia social calca-se na necessidade de ofertar subsídios para outras propostas de trabalhos práticos, teóricos e

políticos no cenário contemporâneo de violência e hostilidade contra a comunidade LGBT2,

em específico frente às garotas lésbicas. Ao se voltar para a escuta dessa questão, a psicologia pode auxiliar na construção de políticas públicas direcionadas a saúde psíquica e relacional destas jovens diante dos sentimentos de angústia, indignação e desespero. Assim, buscamos efetivar a luta pela visibilidade lésbica e das especificidades oriundas desse modo de relacionamento amoroso exercido entre mulheres.

DISCUSSÃO DE RESULTADOS

As colocações oriundas das alunas frente à apresentação do conteúdo das palestras ministradas versavam sobre como o corpo dessas garotas era objetificado nos relacionamentos. Tendo-se a formação de parâmetro comportamental e organizacional societário àquelas moças que não se enquadravam as disposições inerentes ao aspecto feminino logo apresentavam falas que evidenciavam o modo estigmatizante como eram tratadas.

Isto por que a heteronormatividade ou norma heterossexual assentada nas diretrizes comportamentais corresponde a uma forma de se pensar que abrange normas, valores, princípios

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de conduta e dispositivos. Sendo assim, a heterossexualidade imposta e cobrada das jovens garotas passa a ser instituída e legitimizada nos corpos como a única possibilidade natural de orientação sexual. (Perucchi; Brandão; Vieira, 2014)

Neste arcabouço teórico, nota-se como as meninas apresentam queixas relacionadas a exigência de demonstrarem comportamentos considerados femininos. Estes representados pela necessidade de se maquiarem e se vestirem de um modo que se acentue suas qualidade físicas. As moças que não apresentavam essa característica acabavam por serem consideradas as “macho-fêmeas”, sendo segregadas de espaços sociais.

Em relação às ideações suicidas, pode-se observar que as moças que relataram ter passado por tal experiência demonstram a ideia de se sentirem sozinhas e marginalizadas. Algumas apontaram que mesmo sem saber se queriam ou não ir a determinados locais, ninguém as chamavam para irem, tendo por pressuposto a orientação sexual homoafetiva. Observava-se, neste ponto, a dor em suas falas, demonstrando um forte sentimento de raiva em relação à situação.

É justamente neste espaço de ódio indiscriminado, indeterminado, ao ambiente acarreta o que Dias (1991, pp. 23-23) “ o indivíduo não consegue expressar sua agressividade, ela se volta contra ele mesmo. Esta atrofia do investimento libidinal em objetos externos causa o retrocesso da libido contra ele próprio. O indivíduo investe, então, seu potencial agressivo contra sua própria pessoa.”

Nessa tomada, a proposta destas palestras, considerando as questões de gênero referentes às formações das identidades femininas e masculinas diante da dinâmica sexual no contemporâneo, orientou a compreensão dos efeitos das normatizações estabelecidas sobre as definições das características que nomeiam as pessoas como mulheres ou homens. Demonstrando como tal construção envolve a maneira como se estabelece as relações de poder entre os sexos e os gêneros.

Tais relações, arbitrariamente, são calcadas no determinismo biológico e não no aspecto relacional das definições normativas de feminilidade e masculinidade. Esta ordenação social, baseada no inatismo, define o gênero como destino do sexo, o que garante a imutabilidade de premissas que oprimem um gênero em detrimento do outro.

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Assim, com essa postura social acarretam padronizações que massacram subjetividades em prol do estabelecimento de rígidas concepções de corpos generificados, dos quais as jovens passam a ser cobradas a desempenhar um papel de subserviência. Aquelas que destoam destas nuances de controle enfrentam posicionamentos de ojeriza e desprezo, fomentando sentimentos depreciativos em relação a si próprias.

No Brasil, estudos referentes à temática de suicídios dentre a população LGBTQ, em específico voltados a investigar os efeitos da lesbofobia, ainda se encontram em número reduzido, demonstrando um vácuo informacional entre as efetivas causas das mortes dessa população. Isto porque, apesar de a relação existente entre o suicídio de jovens e LGBTfobia encontrar repercussões atestadas em estudos (Teixeira Filho & Marretto, 2008; Souza, 2012), que afirmam como a interiorização da LGBTfobia estabelece o cenário propício para o enredo suicida, este fator ainda é pouco teorizado pela psicologia tendo-se em vista as ideações e tentativas de suicídio entre jovens lésbicas.

Tal constatação marca efetivamente a inexistência de uma prática cidadã para com os sujeitos LGBTQ, e em específico as mulheres lésbicas, atentando-se para invisibilidade acerca da sexualidade feminina. Como apontam alguns dados levantados pela plataforma “Lesbocídio –

As histórias que ninguém conta: Registros de casos de lésbicas assassinadas no Brasil”3 só nos

primeiros dois meses de 2018 já são contabilizados 16 suicídios de mulheres lésbicas. O número de suicídios ocorridos entre 2015 e 2018 chega ao total de 31 casos.

Deste modo, diante da ideia da qual a lesbofobia é um fator de risco ao suicídio entre jovens lésbicas, a campanha de palestras pode demonstrar como a construção de performances e performatividades não esperadas para aquilo que se estipula como pertencente a cada um dos gêneros pode ocasionar grande sofrimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: A RELAÇÃO ENTRE LESBOFOBIA E SUICÍDIO

Diante do material apresentado, e tendo-se em vista os apontamentos dos estudos determinados como feministas, encontramos a potencialidade de tais referenciais no trabalho com a psicologia social, isto por meio do emprego da noção de que a distinção entre meninas e

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meninos está diretamente alocada nas dinamicidades sociais (Scott, 1995; Nicholson, 2000). Caso analisemos essas diversidades seguindo a ótica disseminada pela estrutura de poder hegemônica acerca das definições de gênero veremos que o ser homem e ser mulher possuem marcas subjetivantes que delimitam seu campo de existência.

Assim temos que o ideal de mulher corresponde a atitudes submissas, acobertadas pela noção de carinho, dedicação e sensibilidade para com as circunstâncias da vida do lar e, recentemente, do trabalho. Contudo, toda e qualquer marca que se apresente destoante dessa concepção e entendida como desvio, algo a ser criticado e revisto. Como coloca Perrot (2003, p.14) para aquilo que se determinou como espaço feminino, “a própria beleza constitui um capital simbólico”. Assim as garotas tidas como “fora do padrão” sofrem com o acentuado menosprezo masculino, bem como com a competitividade dentre as meninas, tendo-se em vista o título da garota mais popular por sua beleza e “feminilidade”.

Frente estas colocações, a questão das lesbianidades entre jovens, como afirma Lima (2009), torna-se de extrema importância tendo-se em vista como as identidades lésbicas foram silenciadas e culpabilizadas historicamente. Esta sequer recebera um nome frente à definição da prática amorosa entre mulheres, demarcando o total vácuo discursivo e representativo das formas de relacionamento não heterossexuais entre mulheres.

(...) a luta pela visibilidade faz sentido na medida em que as lésbicas são vistas a partir de uma referência que não é a delas. É que elas, em sua maioria, não se veem representadas nas pesquisas, na mídia (...) O que muitas dessas mulheres propõem é poder falar em nome próprio sobre seus desejos, como vivenciam suas experiências amorosas, como é estar com outra mulher, enfim, como é vivenciar algo que foge aos padrões heterossexistas. (LIMA, 2009. p. 48)

Com a constatação da qual a lesbofobia não é pensada como um fator de risco ao suicídio, a falta da percepção acerca de como a construção de subjetividades não esperadas diante do padrão heterossexual machista pode ocasionar grande sofrimento. A interiorização da LGBTfobia, bem como as diversas manifestações de hostilidade contra a comunidade LGBT estabelecem o cenário propício para o enredo suicida, este fator ainda é pouco teorizado tendo-se em vista as ideações e tentativas de suicídio entre jovens lésbicas.

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Como foi possível observar, o processo suicida se constitui como uma problemática complexa, respaldada por fatores de risco pertencentes às esferas bio/psico/socioculturais humanas. Circundada pelo sentimento desesperança, tendo como outros fatores:

(...) baixa autoestima e autoconfiança, um modelo de autoapreciação e de culpabilidade negativamente distorcido, com sentimentos de derrota, aprisionamento, frustração e falta de sentido de pertença (belonging), assim como pobre capacidade de resolução de problemas interpessoais. (CARDOSO, 2016. p.27)

Ainda em relação a estes fatores, os estudos acerca do suicídio já apontam a vulnerabilidade da população LGBTI (Lésbicas, gays, bissexuais, transgênero e intersex) frente esse processo:

Há uma clara relação entre adolescentes LGBTI, o suicídio e uma prevalência elevada de distúrbios do humor, abuso e/ou dependência de substâncias, rejeição familiar e vitimização; porém, mesmo após o controlo destes fatores de risco, o risco acrescido de suicídio persiste. Para além do mais, adolescentes de minorias sexuais possuem menor número de fatores de proteção do que adolescentes heterossexuais. (CARDOSO, 2016. p. 27)

Por fim, mediante este relato, torna-se evidente como a educação e o modo como as escolas se organizam, ocasionam espaços de opressão e violência contra a população LGBT, mas que em relação às garotas essa pressão se acentua pela não fala da sexualidade homossexual feminina. Esta temática, aliada ao processo suicida constitui um tabu engessado de modo contundente na esfera social contemporânea. Cabe a responsabilidade pública orientada por políticas de teor restaurativo a tomada de providências acerca do incentivo a produção de estratégias de promoção de saúde mental a esta população e de combate à homofobia, não somente no âmbito escolar, mas em todas as configurações sociais. Essas vozes precisam ser ouvidas.

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Referências

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